Vous êtes sur la page 1sur 12

IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

IV – pesquisa-ação : formação de jovens


em construção e desenho do ambiente

busca por uma terra firme

Desde o início das atividades deste trabalho final de graduação


buscamos de alguma forma fazer com que pudesse ser
objetivado n´algum canto do mundo. Procurava pessoas com a
qual pudéssemos contar, que se colocariam lado a lado, a fim de
caminharmos, juntos, no sentido da busca de respostas às
questões que aqui levantamos.

Desta forma poderíamos fazer girar o balanço da


problematização. Um contato que permitisse a práxis da questão:

Não seria possível, hoje realizar nada que busque (re)unificar as


práticas cindidas?

Não nos conformávamos de apenas proferir palavras ásperas, permitira a geração de críticas à sociedade, e tal...
cheias de desencanto com o balançar da carruagem, nos potencializando ainda mais a acriatividade dos estudantes,
enchendo de crítica e ‘lucidez’, num olhar cético diante das através de sua negação. Algo que considero hoje equivocado.
coisas. Ainda bem, são partes do processo, as mais importantes, como
já poderamos anteriormente. Foi neste momento que a
Saímos do casulo em busca deste local, desta agremiação de destinação do conjunto endereçou-se para um parque e uma
pessoas, com as quais poderíamos dialogar a fim de coincidir os Fatec, o que nos levaria para longe de nossos objetivos.
rumos de modo organizado, daí, levantar-se e se por a caminhar.
O próximo passo foi acompanhar o movimento em atividades
Encontrando-as iniciar-se-ia a roda do ver, recolher, propor, e com a Prefeitura de São Paulo. Chegamos a participar de
(re)ver, assim talvez pudéssemos ter mais certeza da justeza das algumas reuniões no sentido da criação de uma universidade
coisas, de como agir nessa pouca vergonha. municipal na Zona Leste, em Cidade Tiradentes. Como a
Encontrado o caminho e os parceiros, os limites brotariam como caminhada resultou apenas numa escola de enfermagem,
pedras palpáveis, e perceptíveis não apenas nas idéias, mas nos atualmente em tramites governamentais (aparece atualmente
olhos, nas mãos, a aplicar lições que causassem reações. como bandeira de campanha da prefeita), mudamos novamente
a estratégia.
Para tanto, buscamos inicialmente trabalhar em consonância
com o MSU – Movimento dos Sem Universidade, originário do Resolvemos iniciar trabalhos com jovens dos cursinhos do
primeiro Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Desde então se movimento, no sentido de aferir alguma possibilidade de
organizam nacionalmente em grupos articulados atuantes nas mobilização pela proposta, podendo daí intervir nos debates
periferias das grandes cidades. As bases do movimento apóiam- acerca da nova unidade da Usp, que se localizaria na Zona Leste.
se basicamente em cursinhos populares, normalmente ligados a
grupos de jovens de comunidades católicas. Tais cursinhos são Nos deparamos com novo limite: os cursos que seriam criados
saídas transitórias para a inserção desses jovens nas no novo campus não poderiam ser os mesmos da Usp zona
universidades públicas. Diante do naufrágio da universidade Oeste, segundo o estatuto da universidade. Diga-se de
poucos conseguem se afirmar em algumas bóias, mas nada que passagem, uma regra tacanha, pois se há demanda social pela
significativamente altere o rumo geral: para o fundo. ampliação de vagas de determinada carreira, por quê não?
Quando estudávamos deixar o barco da aplicação mais radical e
Iniciamos os trabalhos comuns com algumas propostas para o O estatuto está aí para ser seguido, e, principalmente alterado se completa da proposta: contribuir para debates que girassem
complexo penitenciário do Carandiru, que passava por intensa em algum momento ferir os desejos da maioria. Conseqüência: entorno de projetos de arquitetura que fossem realmente
disputa de qual destino tomaria, assim que saísse o ‘último cursos com relevância duvidosa e processo de participação com construídos, deparamo-nos com a possibilidade de realizar o
bonde’ de presidiários para debaixo do tapete. Participamos de a comunidade apenas ‘de fachada’, segundo grupos que atuam trabalho que relatamos mais adiante, atuando como estagiário na
alguns atos, atividades do movimento. Imaginava (de maneira no Fórum de Educação da Zona Leste. Resultado: o processo de assessoria técnica aos movimentos populares, Usina – centro de
superficial) que a construção de uma universidade, com um decisão era fechado às já mencionadas instâncias decisórias da trabalhos para o ambiente habitado, em parceria com
curso de construção e desenho do ambiente naquele espaço Usp, apesar do discurso contrário. universidades do interior paulista.

32
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

trabalho com grupo de jovens auxiliares Habis – Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade, “Analisar, sob as múltiplas dimensões (social, econômica, política,
através de mutirão autogestionário EESC/USP ambiental, cultural) do conceito de sustentabilidade, a
Assentamento rural Fazenda Pirituba - Itapeva Incoop – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares implementação de inovações na produção em escala de
FEB – Unesp / Bauru habitação em assentamentos rurais em relação a três aspectos
“Necessitamos de pesquisas sobre a
Esalq – Usp fundamentais: ao processo, contando com a participação das
possibilidade de usar a tecnologia para famílias assentadas nos processos decisórios e a formação e a
criar instituições que sirvam a interação
pessoal, criativa e autônoma e que façam Após algumas tentativas de estabelecimento de parcerias com o capacitação de pessoas nas várias etapas da produção da
emergir valores não passíveis de controle poder público e empresas da região de Itapeva4 é que se revelou habitação; à gestão, articulando os diferentes agentes envolvidos
substancial pelos tecnocratas. a possibilidade de aplicação dos objetivos da pesquisa num na cadeia de produção da habitação e a possibilidade de geração
Necessitamos de pesquisas que se de trabalho e renda nessa produção; ao produto, desenvolvendo
oponham à futurologia em voga”.
assentamento de reforma agrária da região, a partir de uma clara
demanda pelas atividades. componentes e sistemas construtivos que utilizem recursos locais,
(Illich:22)
preferencialmente, renováveis e implementando alternativas de
“No caso dos assentamentos do MST, novas O assentamento onde trabalhamos é um dos primeiros infra-estrutura e de saneamento que proporcionem uma redução
formas de trabalho, educação e cultura estão assentamentos de reforma agrária do país, a agrovila I, onde de custos, com utilização de materiais adequados
sendo experimentadas permanentemente com
atuamos foi conquistada em 1984, e a IV em 1989. ambientalmente”.6
autonomia. Ali, quem sabe, já será possível
vislumbrar uma alternativa mais ampla de
transformação social”(Arantes:222). A Pirituba, como é chamado, é composto por sete agrovilas. O trabalho da Usina, qual contribuo, volta-se para a coordenação
Cada agrovila adota um modelo de assentamento, mas os geral do mutirão, ao lado dos pesquisadores das universidades e
Partindo da hipótese de que a atual conjuntura permite sim a módulos de moradia e produção das agrovilas I e IV são das famílias assentadas. Dentre as diversas atividades que
realização de atividades de formação que busquem a (re)união coincidentes: cada família mora em lotes individuais, de 100 X 100 realizamos, incluem-se as de formação e capacitação dos
dos fazeres de construção e desenho de obras arquitetônicas, é m, um hectare, ou um quarteirão tradicional urbano, e possui de diferentes sujeitos do processo. A que por hora mais nos
que fomos ao campo. seis a oito hectares para o plantio. Há famílias que fazem parte da interessa são as atividades de formação dos ‘jovens auxiliares’.
cooperativa de agricultura familiar e outras que produzem
Atuaríamos na formação de jovens auxiliares do mutirão de individualmente, ou em grupos familiares. Quando identificamos que essas atividades poderiam estabelecer
construção de 49 casas no Assentamento rural Fazenda Pirituba, um integrado diálogo com as questões que abordaríamos em
em Itapeva, região oeste do estado. Essas atividades de formação A relação das famílias com o MST também é variada, algumas nosso trabalho final de graduação, resolvemos inseri-las como
fazem parte do projeto “Inova Rural” realizado através do trabalho participam, outras apenas apóiam, outras apenas criticam. Como atividade de ‘pesquisa-ação’ do presente trabalho, de modo a
coletivo entre as famílias do assentamento, universidades e já estão lá estabelecidas a mais de 20 anos, trata-se de um aferir maior cuidado e um tratamento mais reflexivo e crítico à
assessoria técnica. interessante local de observação e interação acerca das questões formação do auxiliares, ao mesmo tempo em que cumpriria o
diversas que permeiam o campo e a reforma agrária. papel da procurada relação mediada de aplicação de nossa
O projeto Inova Rural teve início nos idos de 1999, a partir de um proposta-pergunta, através de uma ação problematizadora viva.
projeto componente do programa de pesquisa em políticas Após a definição dos atores que viriam a trabalhar conjuntamente
públicas, financiado pela Fapesp, intitulado “Habitação social em com os pesquisadores, é que se inicia a fase atual, com Vale ressaltar que o mesmo vem sendo praticado pelos outros
madeira de reflorestamento como alternativa econômica para usos financiamento da FINEP5 e de uma linha de financiamento da pesquisadores integrantes do projeto Inova Rural, trata-se de
múltiplos da floresta”, realizado por um grupo de CEF – Caixa Econômica Federal, Caixa - pesquisa. uma organizada ‘máfia’ de pesquisa-ação. São diversos trabalhos
aproximadamente 20 pesquisadores das seguintes instituições: Resumidamente, os objetivos gerais do trabalho são: de pesquisa aplicada integrados.

33
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

proposta de programa para as atividades


de formação dos auxiliares

A presente proposta tem como objetivo ponderar e lançar


possíveis caminhos de organização das atividades de formação
dos jovens auxiliares do processo de construção de 49 unidades
habitacionais por mutirão autogerido do Assentamento Rural
Fazenda Pirituba, Itapeva – SP, financiadas pelo programa PSH –
Rural / Incra.

Os jovens auxiliares “tem o papel de ESTUDAR, AJUDAR,


TRABALHAR. Receberão uma ajuda de custo e serão indicados
pelos grupos e, depois, escolhidos por critérios técnicos
estabelecidos pelas Universidades”(regimento de obras).

No início da obra (março de 2004) contávamos com 11 auxiliares,


agora contamos com 7. Eles repartem, segundo critérios por eles
mesmos estabelecidos, seis bolsas-auxílio financiadas pela Finep
e CEF – pesquisa. portar-se diante da possibilidade criadora de modo mais
coerente, verdadeiro e econômico. Talvez daí, na possível futura
Objetivos gerais das atividades de formação atuação destes jovens, poderiam contribuir para a diminuição das
De modo geral, o que se pretende é formar os jovens auxiliares contradições hoje muito presentes nas obras em geral, levando
como sujeitos ativos e críticos de processos de idealização e inclusive a uma maior eficiência, devido à possibilidade da
construção do ambiente, de modo integrado e unificado. liberdade de experimentação direta, através da realização de
Formando-os tanto como criadores, como construtores de pesquisas aplicadas constantes. O que permitiria o
espaços físicos. desenvolvimento de práticas-técnicas construtivas que
respondam as necessidades reais das diferentes edificações que
método geral de trabalho poderão vir a desenvolver, segundo a disponibilidade dos
A busca destes objetivos terá como espinha dorsal a participação insumos disponíveis.
direta na construção de 49 casas em sistema de mutirão para
famílias do próprio assentamento que habitam. Através do Pretende-se ao mesmo tempo trabalhar os aspectos culturais
acompanhamento e intervenção na gestão, edificação, estéticos das edificações, a partir do repertório plástico local, bem
concepção, planejamento, documentação e avaliação da maior como através do conhecimento de alternativas diversas das
parte possível do processo construtivo. As atividades de adotadas no assentamento, em outros assentamentos, cidades,
formação não serão aqui compreendidas como estanques, mas regiões, países, que seguem outras concepções, funções e
Voltando aos ‘jovens auxiliares’, com quem trabalharemos em integradas de modo a percorrer as mais diversas atividades de apropriações.
conjunto para sua (e nossa) formação, seu papel é de extrema construção das casas.
importância para o desenvolvimento dos trabalhos do mutirão de
construção das casas, pois eles têm a responsabilidade não duração das atividades de formação
apenas de assessorar o mutirão na ausência dos pesquisadores Pretende-se inicialmente trabalhar a formação destes jovens ao
e assessores técnicos7 , mas de trabalhar na obra, por a ‘mão na longo de todo o processo de produção das casas (um ano),
massa’. Algo novo não apenas na cadeia produtiva da estendendo-se durante todo o ano consecutivo, quando se dará
construção civil, mas também nos mutirões autogestionários já o período de análise do processo, totalizando basicamente dois
muito realizados pelo país. Daí, para que pudessem anos. A continuidade dessas atividades (após o término dos dois
desempenhar e criar esse novo ‘como fazer’ é que iniciamos os anos) deve ser ainda estudada, além do fato de a formação
debates de formulação do processo de formação que viria a se normalmente ocorrer por toda uma vida.
desenrolar.
objetivos específicos
Creio que a disponibilização da ‘proposta de programa para a Pretende-se desenvolver uma prática de idealização-projetação
formação dos jovens auxiliares’ realizada como atividade de edifícios de modo harmônico com as questões enfrentadas
integrante deste trabalho final de graduação pode contribuir para em sua construção no canteiro de obras. A partir do
melhor inseri-los na conversa. Conhecer esta proposta como um conhecimento da prática-técnica construtiva de modo direto e
todo é de extrema relevância para a compreensão de um dos corporal, realizando as atividades de construção (escavação,
processos geradores da proposta-pergunta de projeto preparação de argamassa, assentamento de tijolos, corte de
arquitetônico dos espaços de (re)união. canos, de ferro... todas as atividades) espera-se que possam

34
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

Outro conhecimento que se pretende pesquisar é a de construção das casas segundo metas, normas e cronogramas
representação das concepções arquitetônicas. Seja as por eles acordados com a CEF, e o acordo inicial é de seu cumprimento,
elaboradas, bem como a leitura de representações outras, de e não primeiramente segundo o tempo necessário para a
modo que possam realizar uma crítica sistêmica, segundo as formação dos auxiliares, devemos também atentar para o não
experiências adquiridas-desenvolvidas-criadas no construir das comprometimento da formação dos jovens, levando apenas ao
casas. aprendizado de atividades de forma mecânica, naturalizada,
cumprindo tarefas já anteriormente programadas. Afirmamos isso
Pretende-se ainda que possam adquirir a visualização de um pois acreditamos que só um processo de formação que os
controle geral sobre os diferentes materiais construtivos, segundo coloque como agentes autônomos de seu próprio aprendizado
suas características físicas de performance estrutural (resistência terá condições de permitir que sejam, depois, no cotidiano de
dos materiais), também de modo direto e aplicado, na obra, no suas vidas, conscientes da importância de agir e viver do mesmo
canteiro. modo: autônomo, buscando e lutando para manterem-se assim.

Finalmente, pretende-se também que os jovens possam portar-se Quando não for possível a intervenção direta dos auxiliares na
diante da possibilidade de criação e edificação de espaços concepção de determinada atividade-desenho, buscaremos fazer
construídos de modo autônomo, a fim de não mais depender de com que eles compreendam o processo decisório que levou à
arquitetos ou engenheiros de outras localidades para conduzir tomada daquela opção específica (por exemplo, a adoção de
atividades tais, partindo para uma concepção espacial segundo sapatas corridas na fundação das casas, devido a características
as demandas locais, gerando respostas, soluções, desenhos do solo do assentamento e da necessidade de padronização das
mais próximos de sua dimensão cultural. atividades). Desta forma o problema da realização de atividades
alienadas, devido a separação entre tomada de decisão e
métodos específicos realização poderá aflorar, assim que lhes for passado o caminho
As atividades de formação serão compreendidas como todas as percorrido para a adoção daquela solução. Desta vez
atividades realizadas em canteiro, reuniões, apoio ao compreenderão por que estão a cavar durante dias a fio buracos
gerenciamento da obra (compras e distribuição dos materiais) e daquela profundidade, e largura. Por quê os tijolos da fundação
organização do trabalho das famílias. Durante o decorrer da são de tais dimensões na parte de baixo, e depois menores na
semana estarão nos canteiros trabalhando e reconhecendo a parte de cima e etc. Mas da próxima vez poderão buscar
própria estratégia de apreensão de conhecimento com mestres compreender o por quê das coisas antes de realizá-las, e daí,
de obra e famílias, sendo que, contarão com a atenção específica gerar algum tipo de (re)ação no sentido de participar mais do
de educadores da universidade e assessoria técnica, com carga processo.
horária de 4 horas semanais.
A condução das atividades de formação deverá sempre buscar
Ademais, para a geração desta ‘outra forma de abordagem’9 das um relacionamento direto com situações-conhecimentos
atividades de construção e desenho, deve-se buscar no limite da advindos da própria experiência vivida pelos jovens. Um exemplo
possibilidade exeqüível, que estas atividades se realizem ao disso: numa atividade que pretenda abordar a fundação das
mesmo tempo, e no mesmo lugar. Assim, unificadas espacial e unidades, poderemos percorrer o assentamento analisando as
temporalmente, sem a necessidade de utilização de mediações, fundações ali adotadas, realizando experimentos com a terra
esperasse o desenvolvimento de outras capacidades de local, ensaios e experiências práticas, como construção de um
objetivação de suas idéias, daí mais comprometidas com a “banco de faquir” que permita a vivência do efeito de aumento de
materialidade potencial e limite do fazer físico, do executar com as área de contato entre dois corpos, e como isso interfere na
mãos, ferramentas ou máquinas. pressão ali presente, em seus corpos.

Como o projeto, a concepção das unidades que estão sendo por Para a aprendizagem dos meios de representação bi e
eles construídas10 não contou com sua participação direta, tridimensional dos objetos em construção ou em debate, serão
buscaremos (no limite do possível) inseri-los em processos de realizadas atividades diversas que desenvolvam essas aptidões de
revisão e adequação das diferentes soluções já anteriormente modo também integrado com a obra. Inicialmente a de maior
programadas, segundo um consenso entre suas propostas e as importância seria a constante documentação através do desenho
das famílias. Assim, poderão experimentar o resultado da de observação das mais diferentes realizações nos canteiros. Ao
interferência de sua ação no sentido de humanização das casas. mesmo tempo, deverão tomar contato com as diferentes técnicas
Essas alterações (desejadas) das unidades não poderão interferir de desenho, dos diferentes meios de expressão gráfica de modo
no cronograma de obras, pois metas foram acordadas com os sensível e livre.
órgãos financiadores, há prazos que devem ser cumpridos.
Deverá também ser trabalhada a confecção (e daí, posterior
Aqui, como se trata de um processo de formação diretamente leitura) de diferentes formas de representação como planta, corte,
inserido numa operação que demanda um resultado concreto: a elevação, perspectiva... diferentes espessuras de linha, códigos

35
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

gráficos, enfim, a linguagem do desenho de arquitetura. Daí, tema gerador: janelas trabalham as janelas em arco romano? e as ogivais? Pode-se
muito cuidado deverá ser tomado para que não se limitem realizar modelinhos e fazer testes de carregamento e observar
apenas às técnicas já consagradas de representação. Outras A partir da identificação de que, dentro do atual projeto em suas rachaduras. Onde e como aparecem as rachaduras? Como
formas, e meios que lhes sejam mais convenientes devem ser andamento, com os contrapisos já concretados, há a isso influencia no custo? Pode-se ainda entrar nos caixilhos, de
incentivados, buscando sua livre, mas conseqüente, possibilidade de variação do projeto, casa a casa, que permite madeira, de alumínio... até de PVC tem! Daí, quais as janelas mais
experimentação. A apresentação de um repertório dessas gerar transformações substanciais em sua qualidade fáceis de construir? Quais mais difíceis, quais as mais comuns?
diferentes possibilidades deve lhes ser disponibilizado: livros, arquitetônica, a partir da riqueza das diferentes situações criadas Por quê? Quais os maiores distribuidores de janelas?
slides, transparências, na tela do computador... pintores, obras, pelas variadas implantações de cada lote. Com isso não
outras épocas, outras artes... queremos, de modo algum, desmerecer o extenso e importante - Conversa sobre as diferentes janelas, a partir do repertório dos
trabalho já empregado na discussão do projeto das casas com as jovens. Como são as janelas de sua casa? Tem caixilho, com
Ademais, o uso dos computadores disponibilizados na sala de famílias, que resultou em 14 diferentes projetos de arquitetura. vidros ou têm escuros? Os estábulos têm janelas? e os galpões
reuniões reservada para as atividades relacionadas ao mutirão Trata-se apenas de um refinamento, a ser dado num ambiente de armazenamento de grãos? Após sua saturação, como são as
deverá, sempre que possível, ser incentivado, minimamente específico de cada lote, segundo cada implantação, que gera janelas em São Paulo? Tem as mini da Cohab, tem aquelas toda
lançando mão de programas variados de organização de dados, diferentes vistas, luminosidade, sol, ventos, altura dos moradores de vidro (custo)? E em cuba, por que são apenas venezianas? E
texto e desenho. e gostos pessoais. nos lugares de frio? De calor? E as antigas catedrais, com seus
vitrais coloridos, como eram executadas? E janelas no teto, como
O tema das atividades será organizado segundo o cronograma A atividade de abordagem das janelas como tema gerador se chamam e para quê, como funcionam? Visitar de tudo um
de obras, sempre buscando antecipá-los. Por exemplo: antes de permitirá trabalhar quase todos os aspectos que nos interessam pouco, não como uma salada, mas tentando organizar as coisas.
subir as paredes devemos ter ‘trabalhado’ com os tijolos e na formação dos jovens enquanto construtores e desenhistas do Levar imagens e questões outras (tem uma foto do centro de São
argamassa de assentamento nos seus mais variados aspectos. ambiente, a saber: Paulo, de um edifício modernoso que loucamente mostra as
janelas, cada uma de uma cor, modo, cortinas... é
Apresentamos abaixo um exemplo de possível caminho a - conversa sobre resistência dos materiais. Por quê há vergas e impressionante!), como: Por quê padronizar as janelas de um
percorrer segundo um “tema gerador” que deverá percorrer de contra vergas quando a janela é quadrada? Porquê os ferros edifício? Por que não se faz cada uma do gosto do morador em
modo diagonal variados aspectos da construção e do desenho. desta vez se encontram na parte de baixo? Debate sobre tração e vez de se optar por uma linha de produção impessoal e
Desta forma pretende-se permitir a abordagem de “tudo junto, ao compressão, e como trabalham os diferentes materiais. Pode-se eficientemente padronizante? Se os operários tivessem liberdade
mesmo tempo no mesmo lugar”: fazer modelinhos com aduelas e até protendê-las... Como os prédios seriam como mosaicos... mostra janelas do Gaudí e
do HundertWasser. Mas como agir diante da busca por eficiência
e rapidez? Há também o déficit habitacional a ser vencido,
questões difíceis...

- conversa sobre conforto e janelas. Umas janelas abrem mais...


passa ar, outras menos... levantando questões de conforto
térmico: abordar formulinhas de ventilação. Uma janela em cima
ventila mais, que uma embaixo, por quê? Questões de
iluminação: donde nasce o sol? há cartas solares para isso,
máscaras da abóbada celeste podem ser construídas a partir da
janela de suas casas. Quanto de luz é bom para cada atividade?
Podemos assim economizar energia... quais relações que existem
entre a área das janelas e a profundidade dos cômodos?

- Conversa sobre a janela e a vida. Como seriam casas sem


janelas? Para onde voltam-se as janelas de sua casa? Dá para ver
a escola? Quê vês? Por que as casas têm janelas? Não poderiam
ser todas abertas, e pronto? Quais janelas são mais bonitas? O
que é bonito? Qual a beleza do arquiteto e a do construtor? Essa
conversa pode ser construída a partir do trabalho deles com as
famílias: eles poderiam ir entrevistando as famílias, já servindo de
base para que depois possamos “personalizar” a posição e
orientação das janelas.

- Criado o repertório base (que certamente não se esgota acima,


pensemos em outros, ainda), poderemos passar a criação de
janelas (exercício de desenhos de janelas a partir da observação
de quadros de Mondriam, por exemplo, e transposição disso
para janelas de algum lugar... libertar um pouco as mentes), para

36
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

daí intervir diretamente nas janelas que serão construídas nas


casas: Com planta e maquete em mãos, os auxiliares de cada
grupo poderão, durante uma semana passar em cada casa de
seu grupo, e extrair de cada família os desejos sobre suas janelas:
onde ficarão e olhando para onde? (Vale lembrar que a forma e o
tamanho das janelas não poderá ser alterado, pois sua produção
na marcenaria já foi iniciada. Há diferentes níveis de
individualização: o trabalho coletivo exige consensos mínimos
sobre algumas coisas). Como eles mesmos, auxiliares, estarão
presentes na obra, as possibilidades da diminuição da repetição
dos projetos das casas de diferentes famílias pode ser
explorada11 . Pois controlar a localização de janelas de oito casas
(um grupo de famílias) não é tarefa difícil, se bem os formarmos
para tal. Que precisa? elevações de cada face da casa, daí medir
bem na hora de subir os tijolos, cuidando para não abalar as
estruturas (ajudamos nessa análise).

A importância desse caminho mora na inserção dos auxiliares


como sujeitos do processo de concepção e humanização das
casas. Inseridos no processo e contribuindo para isso, podem
perceber a importância de seu trabalho diante das famílias. Farão,
em contato com as famílias, o papel do desenho (arquitetura) e,
posteriormente de construção (operários), ao lado dos
mutirantes. Como farão ambas as coisas, e o arquiteto não é isso,
e o operário não é isso, serão outra coisa, bem no meio e,
possivelmente mais completos. Daí, como chamá-los?

Acabado o ciclo das janelas, por que não partir para a próxima
etapa: elétrica...
Quando se sentirem inseridos “na roda”, talvez seu trabalho
ganhe outro sentido, daí, portando um saber criar e saber fazer,
poderemos partir para a posterior elocubração de debates acerca
de outras obras no assentamento, se de vontade deles, e dos
assentados. Como seriam?

parênteses importante
As atividades de formação encontram-se no vigésimo segundo
encontro, de aproximadamente cem encontros, com os
educadores da universidade e assessoria técnica, estando esta
proposta em aberto, em constante revisão, inclusive pelos jovens
auxiliares.

Educadores
Habis - Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade
EESC/USP
engenheiro Civil Fernando da Silva, arquiteta Marina Viana
Usina – centro de trabalhos para o ambiente habitado
arquiteta Andréa Arruda, estagiário de arquitetura e urbanismo
Francisco Barros

37
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

escolas país afora também não é das melhores, notas e notas e acontecendo no presente, mais que só isto não basta, ao mesmo
notas. Creio que critérios para isso não são fáceis de encontrar, tempo tenho que pensar no futuro, antecipando e preparando
certo é que aquele que adotarmos, vai sempre gerar distorções para enfrentar futuras dificuldades.
para algum dos lados. Mas seguimos questionando-os, e a nós Diante as dificuldades que encontro, sempre tento encontrar
mesmos. soluções, ouvindo novas idéias, conversando e sempre dar
continuidade.
Para melhor vivenciá-los das atividades realizadas com os Pois se trata de um grupo 49 famílias.
auxiliares, deixemos que eles lhes contem antes, através de O grupo que acompanho é um grupo que trabalha no coletivo e
alguns trechos extraídos de seu relatório trimestral: aprendi que no trabalho coletivo as idéias amadurecem e da
neblina da dúvida aparente emergem as pistas que aponta para
Camila Pereira, 16 anos, auxiliar do grupo Nova Esperança: soluções.
Esta capacitação não só ensina a transmitir habilidades às famílias,
“Eu ajudei a fazer gabaritos, eu nunca tinha visto fazer nenhum como também diversas situações de minha própria vida,
gabarito. Eu aprendi e ajudei a fazer a marcação das casas (...) eu transformando a minha maneira de trabalhar e conversar com as
não sabia fazer nenhum tipo de estrutura de casa, mas eu aprendi. pessoas.
Eu nemm imaginava que precisava fazer tantas fiadas que ficam A organização de minhas idéias e a capacidade de levar a sério o
enterradas debaixo da casa para depois subir as paredes (...). trabalho de ter mais responsabilidade e como agir em certas
Achei difícil lidar com as pessoas. Tem muitos pontos positivos no situações.
trabalho, pois nós temos a oportunidade de aprender muitas Trata-se de um método dinâmico de aprendizagem, de aprender
Acredito que agora podemos partir para uma breve avaliação coisas, no canteiro, nas reuniões, no computador (...). fazendo a importância de ser complementada por ação concreta,
parcial do processo de formação com o auxiliares, visto que as Para melhorar temos que ser responsáveis para não desorganizar onde posso aprender através de um processo de acerto e erro e
atividades encontram-se em andamento (estamos no sexto mês, esse trabalho que agora está indo bem. Acho que com o tempo que posso contar com a orientação de alguém com mais
havendo ainda mais dezoito meses pela frente). Desta forma nós vamos nos acostumando, e aprendendo cada vez mais a experiência.
buscaremos estabelecer algumas pontes entre as questões achar soluções para os nossos problemas”. A importância da avaliação, não avaliar é deixar de crescer, sem
enfrentadas, e sua contribuição para a construção de nossa avaliar estamos condenados a cometer os mesmos erros.
proposta-pergunta. Paulo Giovanni, 18 anos, auxiliar do grupo Cerâmico I: A falta de continuidade entre as reuniões, não se registram idéias e
decisões tomadas, o que acaba criando problema de
De início podemos dizer que ainda é cedo para termos maior “Aprendi muita coisa, montar um gabarito, assentar bloco, assentar credibilidade no grupo, o que se torna sendo um ponto negativo
certeza da efetividade da proposta, e como ela será canaleta, passar o vedacit, esquadrejar a casa, deixar no nível. no meu ponto de vista.
posteriormente tratada pelos jovens, se tivemos avanços reais, ou Bem, destas atividades realizadas foi uma aprendizagem que teve Mas o que torna pontos positivos são a aprendizagem que tive
não. O que temos já como certo é que há sim ‘conjuntura’ para o por que eu não sabia nada disso espero aprender muito mais. (...) conhecimento:
desenvolvimento de tais trabalhos. A atual prática cindida de O grupo sempre trabalhou junto e muito unidos, aprendemos - como fazer gabarito e a sua importância
concepção e construção trata-se sim de um problema que pode coisas que não sabíamos, etc.” - fundação direta X superficial
ser enfrentado e alterado, hoje e agora, mas ainda cheio de - concreto magro
limites e em sua pequena escala. Trata-se de um trabalho quase Márcia Aparecida Ribeiro, 16 anos, auxiliar do grupo área IV: - traços
que ‘artesanal’, mas que pode vir a se desenvolver em escala - amarração de ferro
mais geral, se realizado com critério. “O que eu aprendi foi marcação dos eixos, escavação, distribuir - preencher canaletas
materiais, assentar canaleta, também a mexer na máquina, - instrumento de projeto (desenhos)
O processo de avaliação das atividades de formação com os empilhar madeira na marcenaria, fabricar adobe... (...) Algumas - a importância da cotação para as compras
auxiliares ocorrem a cada três meses, e é realizado pelas famílias, dificuldades foram a falta de materiais, descer na área 4 e não - assentar bloco
em reunião específica para isso, pelos mestres de obra, pelos encontrar ninguém na casa trabalhando. Os pontos positivos é ver - planejamento e distribuição de materiais
educadores e por eles mesmos, através de relatório, conversas as pessoas trabalhando com muita força de vontade para ter sua - montagem de kits hidráulicos
em grupo, observação do caderno de reuniões e de obras, e pela casa pronta. E também é que estou aprendendo a fazer muitas - centralização de materiais
assiduidade nas atividades (apontadoria). coisas que posso utilizar para meu futuro (...) Como pontos - capacitação de adobe
Essas avaliações resultam em pontuações, que são inseridas negativos é ver as pessoas se separando do seu grupo (...) Eu - estratégias para montar projeto
numa tabela construída por eles mesmos, para daí chegarem aos acho que a conversa pode melhorar essas dificuldades”. - a necessidade do impermeabilizante
valores de pagamento das bolsas-auxílio. O restante dos recursos - instalação hidráulica
vão para um fundo dos auxiliares, para gastos diversos. Luciene Paranhos, 19 anos, auxiliar do grupo União da Terra: - capacitação em informática
- aterro
Estamos ainda avaliando com eles quais as implicações de se “Acredito que encontrei elementos nesta experiência que estou Através deste conhecimento que posso dizer que agora tenho, é
adotar um mecanismo que unifique quantidade de trabalho, com participando, que abriu perspectivas e caminho para minha através das famílias que dão força para que eu possa aprender,
aprendizado e pagamento de bolsas. Como essa alternativa realidade, nas diferentes etapas, na medida que se vão através do mestre de obra que passa que ele aprendeu um dia e
partiu deles mesmo, pois sentiam uma diferença de dedicação ao fortalecendo novos conhecimentos, novas aprendizagem, tenho principalmente todos do Habis e da Usina que nos deram esta
trabalho, resolveram criar mecanismos de compensação para claro a importância. oportunidade de aprendizagem e também aos demais auxiliares
aqueles que estavam se esforçando mais. Não temos ainda certo Aprendi entre eles, a necessidade de prestar atenção no que está que de várias formas também me ajudam”.
se essa saída foi a melhor, bem como a saída adotada pelas

38
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

Diogo Souto, 14 anos, auxiliar na marcenaria: Não esquecendo que estamos nos capacitando em informática e Josinalva
dessa capacitação já estamos monitorando outras pessoas do 16 anos, 3º colegial, sobrinha de Zé Baiano.
“Aprendi a mexer em todas as máquinas, a serrar a madeira, saber assentamento interessadas em informática. Estou muito
olhar se está seca ou molhada, torta ou rachada, engraxar as agradecida a todos das universidades, assessoria, os mestres e as Juliano
máquinas, a desengrossar a madeira, desempenar, também a fazer famílias. Não esquecendo os demais auxiliares”. 15 anos, 1º colegial, sobrinho de Doraci.
batentes e etc... Filho de carpinteiro/pedreiro ajudou seu pai algumas vezes e
As dificuldades foram nos primeiros dias, que estava trabalhando Esses depoimentos, avaliações, dialogam com Paulo Freire: “Na quer aprender a profissão.
nas máquinas, e trabalhando com a leitura. medida em que o compromisso não pode ser um ato passivo, mas
Como positivo foi aprender a trabalhar com a madeira. práxis – ação e reflexão sobre a realidade – inserção nela, ele Lucieine
Uma das dificuldades foi ver que a madeira doada não está implica indubitavelmente um conhecimento da realidade”.(1979:21) 19 anos, 3º colegial, filha de Terezinha.
ajudando, de 100%, apenas 40% está aproveitando. Faz parte do setor de educação do MST há seis anos e está aqui
Para melhorar, eu sozinho não posso melhorar, mais com a ajuda Ademais, observemos abaixo três relatórios de atividades para descobrir uma profissão, através do “união faz a força”.
de todos da para ir para frente”. realizadas com os auxiliares. Em anexo ao caderno Ajudou a construir algumas casas.
disponibilizaremos o total dos relatórios realizados até o
Adriano, 16 anos, auxiliar grupo União da Terra. momento. Márcia
16 anos, 1º colegial, filha de Camilo.
“No canteiro nenhuma dificuldade, nem com os familiares todos. RELATO DE CAPACITAÇÃO I Está aqui para “aprender novos caminhos”.
Nós nos relacionamos bem. O problema é a distância, por quê tem GRUPO DE AUXILIARES
dia que está muito frio, e tem que levantar cedo para ir para o Paulo Giovane
pastão de trator. Ainda bem que tem trator se não seria pior!”. Data 26.03.2004 18 anos, 3º colegial, sem relações de parentesco.
“O bom é que eu estou aprendendo, o grupo inteiro se dá bem, Local escola estadual de segundo grau Franco Montoro Tem interesse em trabalhar na área de construção, já foi ajudante
todos trabalham com alegria. O mestre tem paciência para Presentes em outras construções.
ensinar”. Educador – Chico
“Até o momento está ótimo tudo, tudo está ocorrendo bem. Então Alunos – Adriano, Angélica, Camila, Diogo, Josinalva, Juliano, Thiago
até agora por incrível que pareça não tem o que melhorar”. Lucieine, Márcia Paulo Giovane, Thiago e Vanessa. 16 anos, 2º colegial, filho de Sebastiana.
Relator – Chico “Não quero trabalhar na roça, esse negócio abre as portas para o
Maria Angélica Duarte, 16 anos, auxiliar grupo Unidos pela força. mundo exterior”. Trabalhou por três semanas na construção da
atividade 01 - apresentação casa modelo.
“Bom podemos começar falando das atividades que realizei desde
o começo da obra. Começamos como todo começo de Chico pede que cada um se apresente, dizendo nome, idade, Vanessa
construção, fomos na casa de cada família, que já tinha definido o onde mora e relação de parentesco com as famílias que estão no 16 anos, 3º colegial, sobrinha de Zé Baiano.
lugar onde seria a sua maneira, marcamos o lugar, e junto com o PSH. Depois, dizer os porquês que lhes trouxeram à sala, quais Está neste trabalho, pois no assentamento é raro aparecerem
grupo começamos a montar o gabarito. Como esse projeto não é seus objetivos, sonhos, expectativas, e qual experiência já tiveram oportunidades como essa.
só para uma família, mas para a construção de 49 casas esse com construção civil:
grupão foi dividido em vários grupos e a construção é feita por O educador também se apresenta, com seus dados e responde
etapas (todas as casas devem estar igual na construção, na Adriano às mesmas perguntas:
mesma etapa).Depois do gabarito fizemos a marcação de eixos e 16 anos, 1º colegial, sem relações de parentesco com as famílias
começamos a escavação (...) E teve também a capacitação para a do programa. Francisco
produção do adobe, que por sinal as duas casas que serão Tem interesse em conhecer melhor a área de construção. Ajudou 25 anos, último ano de arquitetura e urbanismo, assessor técnico
construídas de adobe são do grupo que estou auxiliando. Todas em algumas obras. da Usina centro de trabalhos para o ambiente habitado.
as atividades citadas acima eu aprendi, pois não fazia idéia de Está neste trabalho para aprender a construir coletivamente uma
como eram feitas, alias alguma delas nunca tinha visto antes. Angélica forma de construção e projeto que respeite as relações entre as
Eu, particularmente, não tive dificuldade nenhuma, as pessoas do 16 anos, 2º colegial, filha de Benedito. pessoas, de modo que se relacionem de “igual para igual” e com
grupo são muito legais e ajudam bastante na minha aprendizagem Está neste processo por considerar uma “oportunidade” de autonomia. Foi educador em outras circunstâncias, mas é a
e estão dando a maior força para que eu possa aprender. aprender algo novo. primeira vez no âmbito da construção e do desenho.
Os pontos positivos são todos até o momento, não tenho que
reclamar errar às vezes é humano e não há nada que não Camila atividade 02 – apresentação, debate e aprovação dos objetivos e
podemos concertar (...) 16 anos, 3º colegial, filha de Adonil e Claudete. do conteúdo do “curso” em inicio
Como eu disso, não tive dificuldades e se eu tenho ainda não as Está aqui, pois é um aprendizado e uma oportunidade de
descobri, mas com certeza vou tê-las e tentarei superá-las da emprego. Já ajudou em algumas outras construções. Chico apresenta, de modo geral, as questões que nortearão as
melhor maneira possível (é claro, se elas chegarem). atividades no próximo ano, comparando-as às práticas
Alem das coisas que aprendi na obra, aprendi também a como Diogo tradicionais da construção civil: construção em autogestão x
escrever um projeto, relatar reuniões, fazer distribuição de 14 anos, 1º colegial, neto de Camilo. empreiteira. Apresenta a estrutura das relações de produção do
materiais e o por que as coisas são do jeito que estão sendo feitas Está aqui para “começar um futuro”. Já trabalhou duas semanas modelo tradicional de uma empresa capitalista com fins lucrativos
na obra. como servente de pedreiro com seu avô. e compara-a ao mutirão que estão dando início. Na primeira

39
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

delas, o objetivo inicial é o lucro que será absorvido pelos exeqüibilidade, e se concordam, daí, o educador apresentou pessoas, foi realizada a escolha dos grupos de produção em que
proprietários, que também centralizam as decisões fundantes dos essas atividades aos auxiliares iniciantes e quais suas atribuições cada auxiliar deverá trabalhar. Como não foi possível o
empreendimentos, ou seja, tudo de relevante deve ser a eles de modo a aferir se estas lhes pareciam cabíveis. Segundo a preenchimento de todas as vagas dos grupos, por livre interesse
submetido. Já na autogestão, as assembléias são o centro apreensão dos jovens auxiliares, me pareceu que se trabalhada dos auxiliares, segundo afinidades próprias, teve de ser realizado
decisório das atividades e seu objetivo é construir as casas da cuidadosamente cada uma das atividades e suas um sorteio para o preenchimento (saída apresentada por eles),
melhor forma possível. responsabilidades, de acordo com o caminhar de cada etapa de como se vê abaixo:
obra, é bem possível que alcancemos os resultados esperados.
As atividades que pretendemos começar deverão acontecer entre Inicialmente parece que as atribuições dispensadas aos auxiliares grupo auxiliar
os campos do conhecimento da construção, da prática do fazer são muitas, de que lhes rogamos tarefas em demasiado, mas se
a casa, com as próprias mãos e do campo do projeto, da observadas no decorrer de todo o cronograma de obra, vê-se união da terra Lucieine e Adriano
idealização, da criação, da proposição dos edifícios ou coisas que haverá tempo suficiente para o conhecer e trabalhar cada
quaisquer de uso humano, de modo conjunto e integrador. Uma uma das atividades. São elas (de modo breve): nova esperança Camila
abordagem da construção e do desenho desta forma é rara, e
servirá como parte integrante do trabalho de conclusão de curso no dia a dia do canteiro, marcenaria e área de pré fabricação Bela Vista Angélica
do educador. de componentes:
2 quartos Josinalva
Foi também debatida a possibilidade de realização de outros - apoio aos mestres e construtores disponibilizando informações
projetos, que não apenas as casas em construção, a se pensar de como e quais atividades podem ser realizadas, à partir das cerâmico 1 Paulo e Juliano
posteriormente com o restante da comunidade. atividades desenvolvidas com os educadores da universidade, de
modo a difundir as informações e as técnicas empregadas na unidos pela força Márcia
Os alunos demonstraram-se interessados em participar destas obra.
atividades, concordando com seu caráter, mas ficou combinado - relatar as atividades realizadas no canteiro no “diário de obra”, PSH 4 Vanessa e Thiago
que deverá ser elaborada uma proposta mais completa do identificando as famílias presentes, o tempo necessário para a
programa das atividades de formação em construção e desenho, realização das atividades, quais e quantos serviços foram Ficou também estabelecido que o trabalho nestes grupos será
e será daí apresentada para debate, sugestões... realizados, bem como as dificuldades enfrentadas. rotativo, e assim que identificado o interesse de alteração de
- contribuir como mão de obra aprendiz nas atividades em curso, grupo, será então reavaliado.
atividade 03 - conversa sobre o caráter do programa PSH – Rural de modo que possam também apreender a prática direta da
e as especifidades da pesquisa aplicada pela Universidade construção. atividade 07 – proposição de exercício de desenho para a próxima
capacitação
O educador inicialmente pediu que os alunos lhe contassem o nas atividades semanais de formação:
que sabiam a respeito do programa e da presença da Chico propôs que cada um trouxesse para a próxima semana um
universidade no assentamento. - participar ativa e criticamente na sala de aula, nos canteiros de desenho de sua casa. Não foi especificado se em planta,
obra ou em outros locais do assentamento do desenvolvimento elevação ou perspectiva, de modo a subsidiar conversas sobre as
A devolutiva dos alunos limitou-se a descrever fatos (relatados de uma postura autônoma de proposição e criação através do diferentes formas de representação.
com profundidade) do processo, como os momentos de desenho e de sua materialização de espaços – edifícios –
discussão do projeto das casas, mas quando questionados “o utensílios de uso geral do assentamento ou até mesmo de outros
por quê” da presença da universidade, resposta alguma foi assentamentos de reforma agrária. RELATO DE FORMAÇÃO IX
obtida. GRUPO DE AUXILIARES
atividade 05 – conversa sobre a forma de remuneração dos
Daí, de modo breve lhes foi relatado os objetivos da pesquisa e auxiliares Data 21.05.2004
sua relevância no âmbito da construção civil, destacados alguns Local Canteiro de obras casa Sebastião
pontos, como a aplicação de métodos de abordagem Chico apresentou o total de bolsas disponíveis para remuneração Presentes
diferenciados seja nas técnicas construtivas, bem como no dos trabalhos e a diferença existente entre a quantidade de Educador – Andréa e Chico
processo de gestão das atividades de construção e idealização auxiliares. Diante do problema, foram apresentados pelo grupo Alunos – (ver lista com habis)
das casas. Daí, por exemplo, a existência da marcenaria (madeira duas alternativas: excluir os auxiliares que estão “à mais” ou Relator – Chico
da região) e a construção de uma cooperativa de marceneiros - dividir os recursos por igual entre todos os 11 interessados. Foi
quiçá de construção (produção cooperativada). realizado um debate sobre os prós e contras de cada proposta e atividade 01 – breve encontro do canteiro com o desenho
os princípios do trabalho. Foi aprovado por unanimidade a
atividade 04 - conversa sobre a inserção do trabalho do auxiliar, e divisão por igual das bolsas e a não exclusão de interessados nos Manhã de frio cortante em vento, apenas quatro auxiliares a
suas responsabilidades nas atividades de construção das casas trabalhos, pois todos afirmaram ser interessados. postos (segundo posteriores explicações, como haveria
assembléia extraordinária marcada emergencialmente para as
A partir de debates com o restante da equipe de assessoria atividade 06 – escolha dos grupos de trabalho pelos auxiliares nove horas, entenderam (quiseram assim entender) que não
técnica, foram desenhadas algumas funções para os auxiliares haveria formação, a partir das sete e meia). De qualquer modo
no decorrer das atividades de construção das casas, que Á partir do esclarecimento das atividades a serem desenvolvidas fomos à obra, pela estrada até o canteiro da casa de Sebastião,
deveriam ser conversadas com os próprios auxiliares de sua pelos auxiliares na atividade 04 e o princípio da não exclusão de grupo Bela Vista.

40
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

A obra encontrava-se na etapa da fundação, com as valas estavam. Dos onze, seis desenharam. Paramos as conversas,
cavadas e base da sapata corrida concretada. Dentro do espaço pois é melhor ter todos nessas atividades, mas já foi importante
delimitado pelo gabarito, havia algumas ferramentas e blocos no para motivar, ou dar um retorno aos que já tanto desenharam, e
espaço, ladeado pela casa atual da família, árvores frutíferas, daí continuar em outro dia.
chiqueiro com dois porcos a comer sabugos de milho, fogão a
lenha ao ar livre aquecendo bule de café, galinhas ao léu, com Antes de passar para a próxima atividade, conversamos sobre o
uma delas em cesto de palha à meia altura, areia, pedras e que foi feito. O significado da tal da (re)união do canteiro com o
pedrisco de canto, flores, e o vento, cortante. desenho. Partimos de momentos mais remotos, nas catedrais
(como não tinha planejado falar disso naquele dia, estava sem
Lá chegados, conversamos um pouco, relembrando aquilo imagens, pena, mas voltaremos com as figuras) góticas, erguidas
exercitado na semana anterior, com desenhos de observação: por “desenhistas em um pra um”, passamos por Brunelesqui,
como vou representar o quê vejo? vou desenhar “tudo” ? Todas que simbolicamente aponta a cisão definitiva e radical entre
as sombras, texturas, profundidades, todas as coisas? Ou vou programar e executar, com o episódio da despedida dos
escolher algumas e desenvolvê-las e depois repensar... e se operários em greve. Falamos sobre o curso de arquitetura, que
depois resolver desenhar mais... ou seja, desenho não é uma compreende mais de sua metade (uns 80%) de desenhar e
foto, é uma decisão humana, com um objetivo x para um leitor y ! escrever (ficaram chocados), caracterizando o trabalho do
não tem certo, nem errado, é um momento de liberdade, e que arquiteto, utilizando a própria escola que nos abrigava como
necessariamente é de cada um... mas que pode fazer parte de exemplo, certamente idealizada com distância do canteiro.
um grupo... apenas algumas coisas que iremos sempre Falamos que isso é regra nas cidades, apesar de poucos terem
conversar. ido a uma cidade maior que Itapeva... Falamos então sobre a
formação do pedreiro, do marceneiro, que muitas vezes
Sem mais falar, sentamos cada um em seu bloco-cadeira e acontece na própria obra, e quando muito em cursos técnicos,
pusemos-nos a desenhar. Também participou Chico das que daí inserem um pouco de desenho, mas com o objetivo de
atividades (ver imagens dos desenhos em anexo) desenhando e instruí-los a ler as plantas, de entender o pré-programado pelo
fotografando (fotos em processo de revelação). desenhista distante, e não de dar-lhes vida e imaginação criativa e
propositiva. Identificamos a cisão. Cada qual em seu canto, cada
Findado o tempo, e chamados a comparecer à assembléia, qual com seu canto: uma ouvir cd no computador pela Internet
fomo-nos, para depois conversar sobre o que foi feito e de banda larga que toca músicas de qualquer parte, o outro
experimentado. assobiar aquilo que lhe vem à mente, guardado do rádio de pilha,
ou do som levado da promoção de loja de departamento
popular. Falamos de que essa divisão tem acontecido
nas proporções, os traços são finos, com apenas os contornos, normalmente em classes sociais, com salários diferentes...
poderiam também documentar as sombras, a textura das coisas, Lembramos da pirâmide já antes desenhada: sistema de obras
RELATO DE FORMAÇÃO X de que é feito isso? madeira? vidro? este ficou também muito jóia, capitalistas, todos refém do dono da empreiteira...
GRUPO DE AUXILIARES mas poderia ocupar a folha com mais vontade, não precisa
economizar espaço, este ficou cuidadoso, mas um pouco fraco, Quando perguntado sobre o que acharam sobre o que fizemos,
Data 28.05.2004 tem que chegar bem perto para ver, mas também pode ser o talvez uma das raras vezes em se para desenhar e refletir sobre o
Local E. M. Professora Terezinha de Moura Rodrigues Gomes lápis, vamos trazer semana que vem uns lápis mais fortes, que se fez, disseram que gostaram, mas também não soltaram
Presentes poderiam também ser coloridos, podemos fazer uma vaquinha rojões. Essa “viagem” é uma coisa mais presente em nossas
Educador – Chico e Dário para comprar canetinhas, esse está em planta e em perspectiva... vidas de faculdade e trabalho em escritório que para eles,
Alunos – (ver lista com habis) “é eu subi no telhado de casa, e imaginei a planta assim, quase estudantes de colegial, moradores em um assentamento de
Relator – Chico que caí...”, “eu desenhei com mais cuidado o pano e a textura, reforma agrária. Talvez, certamente, não tem idéia da
mas não deu tempo de fazer o resto...”, esse foi o cego né? está “barbaridade que fizeram”, talvez nunca saibam, mas alguns, ali,
atividade 01 – conversa sobre os desenhos realizados: muito jóia, deu para ver o cuidado de entender e ler como é o gostaram, e quando perguntados se queriam mais: “Ô !!!”.
observação em sala de aula, em casa e canteiro balde, e aquele das ferramentas, sem elas não construímos nada,
e como foi fazer isso tudo, já tinham feito antes? atividade 02 – princípios gerais para a realização de projetos de
Iniciamos o dia (chuva no assentamento, impossível ir ao canteiro instalações de esgoto
desenhar) colando os desenhos todos na lousa, de modo que “tenho aulas de desenho na escola, gosto de desenhar...”, “mas
todos pudessem ver o que foi feito por todos. Alguns não assim aqui no assentamento não...”, “este eu fiz aquele dia, tem Com o objetivo de preparar os auxiliares a lidar com as
quiseram fazê-lo, envergonhados, mas após um leve incentivo uma galinha no cesto da árvore, e as marcações no gabarito, eu instalações de esgoto, que será iniciada na semana próxima,
não se tornou problema. Antes, um passeio geral de todos sobre que fiz, lá naquele canteiro mesmo...”. iniciamos (após um intervalo regado de café com leite e pão com
os desenhos, animados, comentavam os traços na lousa. Com salsicha ao molho de tomate) uma conversa (sem ter em mãos o
todos próximos à lousa, passamos desenho por desenho, Conversa boa, que deve ainda ser retomada, infelizmente não projeto definitivo em maturação com o estudante de engenharia
comentando algumas coisas como: “que bacana, este relacionou foram todos à atividade do canteiro na semana passada, outros Lio – habis) sobre noções básicas de alguns princípios a serem
bem as dimensões, pode-se ver que tudo está mais ou menos dois desenharam a partir de conversas com os outros quatro que observados no planejamento/projeto de instalações de esgoto.

41
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

coisa, propor barateamentos, de modo construtivo, a participar


da cousa.

Entramos também, novamente em questões sobre saneamento,


caixa de gordura, e suas funções, relembrando a necessidade da
manutenção sadia dos ciclos da água. Chegamos a fazer “uma
viagem” às dimensões estratosféricas das tubulações de esgoto
em São Paulo, pela qual pode rodar uma Kombi, ou nos
apartamentos, onde há tubos de queda e pequenas piscinas de
armazenamento de água de chuva, a pressão da água com as
caixas d´água nas alturas... ficaram animados de “entrar pelos
canos”, e descobrir um pouco disso, sempre com um riso no
rosto ao teatralizarmos a curva do “lodo fresco” nos cálculos
matemáticos dos engenheiros sanitaristas.

ponderações

Iniciamos desenhando na lousa (bem grande) as paredes do Voltando a nossa conversa, creio que podemos agora, iniciar um De início, uma das questões que enfrentamos é necessidade de
banheiro que estaremos logo mais a erguer. Começamos com muito breve debate sobre nossa pesquisa em Itapeva. Como o ponderar acerca da situação de incerteza dos auxiliares sobre
uma hipótese de organização espacial dos equipamentos do trabalho encontra-se em andamento, não temos conclusões mais seu futuro (não que qualquer um de nós aqui saibamos o que vai
banheiro, mas colocando em paredes opostas pia e privada, pois fechadas, mas temos avaliações do processo que até agora tem ser de nós amanhã), a partir de sua faixa etária. Segundo
“achava bonito, ou bom sentar e poder lavar as mãos”. se ancaminhado. conversas diversas notamos que até agora apenas metade deles
Indagando-os se isso era bom, os jovens disseram que sim, mas tem interesse em continuar a trabalhar posteriormente com
quando desenhei os canos de água fria que teriam de percorrer Apesar das dificuldades todas de organização de um grande atividades de construção e desenho.
alguns metros para a distribuição da água, não tiveram dúvidas e grupo de pesquisadores, e de questões das mais diversas, algo já São coisas do trabalho com formação, incontroláveis, mas é algo
propuseram de colocar todos em apenas uma parede. pode ser colhido. Partiremos apenas para uma avaliação que a se pensar para nossa proposta-pergunta, pois em sua idade
subsidie nossa proposta-pergunta final. Outros aspectos serão escolar, e na escala da comunidade que trabalhamos, ‘capitalizar’
Pronto o Lay out dos pontos de saída de esgoto e localizada uma tratados nos relatórios da pesquisa que pretende, no segundo quase todos os jovens dessa idade para um ramo único
suposta fossa séptica, pusemo-nos traçar possíveis caminhos de ano de atividades, após o término das casas, ser sistematizados profissional, primeiro que não é bom para a comunidade,
saída para a tubulação, a partir da orientação dos jovens, foram numa publicação. Sua distribuição se dará pela Finep e Caixa segundo que segundo as estatísticas, é difícil, pois dentre eles há
diversas soluções, sempre confrontadas com questões físicas e Econômica Federal, de modo a difundir este “como fazer” em também interesses em ser advogado, médico, professor,
financeiras das instalações: as conexões são sempre em 45º, pois Itapeva: cada processo é iniciado por um caminho e deve ser por agrônomo...
curvas mais acentuadas podem causar refluxo ou entupimentos, ele conduzido. Um “como fazer” diferente para cada lugar e
há a necessidade de sempre se passar por sifões (seja nos ralos situação. Não vai se tratar de um manual. Outra questão, que me parece central, pois tem sido debatida
ou nas tubulações) devido mau cheiro... efeito chaminé, desde o início do presente trabalho, trata-se do relacionamento
tubulações de ventilação, cortes, desenhos e esquemas das dos estudantes com o tempo necessário para um aprendizado
peças... necessidade de se economizar com conexões, tem de crítico e transformador. Durante o processo de formação
comparar o que custa mais, X de cano ou uma conexão Y ? precisamos buscar o ponto de equilíbrio entre o fazer reflexo e a
reflexão. O balanço problematizador antes já mencionado.
Diversos desenhos foram feitos, até chegarmos numa solução
melhor (até então), sempre com a possível participação deles, Vejamos rapidamente, de modo extremamente simplificado e
que certa vez (acho que olhando de longe é melhor...) “deram polarizador para ver se avançamos (depois acertamos as arestas):
um tapa” e economizaram um joelinho colocando o ralo sifonado na universidade há uma tendência de distância das questões
um pouco mais para lá. Desta vez percebi sua participação e imediatas (apesar das fundações, e tal, mas continuemos), vive-
compreensão bastante avançada da necessidade de se pensar se a reflexão constante, critica, mas aérea. Poucas vezes de fato
as coisas com um rabisco na mão... eles falaram isso (Diogo) somos obrigados a dar respostas para o agora, o hoje, já! (e
felizes de poderem economizar e tudo mais. quando damos é através de fundações de mimetização com o
mercado, como já muito falado).
Com estas conversas, quando Lio (habis) vier semana que vem
com Andréa apresentar os diferentes “kits” para os diferentes Já no trabalho no assentamento há uma tendência de ter de
banheiros a serem produzidos na central de pré-produção/ responder às questões diretas, imediatas. Por exemplo, duas
montagem de componentes no galpão central da cooperativa, vezes paramos nossas atividades de reflexão (desenho) no
eles já saberão do que se trata, podendo, até questionar alguma canteiro para ir ajudar a descarregar tijolos para as fundações.

42
IV - pesquisa-ação: formação de jovens em construção e desenho do ambiente

Parece que os dois caminhos, se radicalizados cada um para seu


‘lado’, negando a existência do ‘outro lado’, levam ao mesmo
resultado. Vejamos. Na fau com a tendência ‘aérea’ da reflexão,
seu aprendizado ocorre desconecto da necessidade de
respostas. Quando um estudante da usp se forma e é inserido no
mundo do mercado de pára-quedas, tem dificuldade de aplicar
sua reflexão, pois não criou mecanismos de mediação para suas
questões (mediação poderia ser um desenho carregado de
construção). No assentamento, se não cuidarmos, os auxiliares,
quando acabarem seu ‘curso’ vão sair por aí fazendo casas para
deus e o mundo, mas seguindo projetos já prontos,
respondendo eficientemente à demanda do déficit habitacional
rural, também sem mediação (construções sem a reflexão do
projeto).

Em ambos os casos acabamos na mesma praia: ações imediatas,


respostas imediatas que não se afastam para a reflexão. A
primeira por desconhecimento das questões imediatas no
processo de aprendizado, e a segunda por desconhecimento de
métodos de análise críticos. Desta forma, ambas, não possuiriam
experiência que possam levá-las a práticas conjuntas, coligadas,
de práxis, com dificuldades em intervir na lógica de
funcionamento e reprodução das coisas, a partir da
problematização constante do pensar e do fazer, pensar e refazer.

Parece-me desnecessário dizer que se trata de um exemplo


redutor, as coisas são mais complexas, cheias de meandros, mas
é até onde permite o ‘tíquete’ dessa viagem, é até onde podemos
por hora chegar. Temos mais um ano e meio de atividades no
assentamento pela frente, e quiçá outros mais.

Bem, isso deve ser elementar para os mais escolados no assunto.


Mas é pena que não é muito bem compreendido pela sociedade,
pois não é o que tem ocorrido mundo afora. Talvez esteja aí mais
uma das causas de nosso ‘patinar’ histórico. Seguimos então, o
mundo da construção construindo sem pensar (o mesmo talvez
pode ser dito das outras profissões). Isso parece grave. Pois até
onde temos conhecimento, os espaços reservados para a
formação desse modo de pensar não estão cumprindo seu
papel, ou seja, a já abordada universidade operacional.

Voltando ao assentamento, devemos talvez buscar a todo custo


preservar e integrar os dois momentos, os dois tempos. E cuidar
com a tendência da alienação das atividades na obra, pois já é
riquíssimo poder aprender construindo casas para 49 famílias de
sua comunidade. E apenas isso pode deixar os auxiliares
suficientemente contentes, fazendo-os passar desapercebidos da
necessidade da reflexão do desenho, do planejamento.

Talvez assim possamos chegar mais próximos de nossos


objetivos: cada vez mais gente a bailar no salão donde toca a
banda do capital, para lá e para cá, na balada da
problematização. Um ritmo que se bem tocado pode até
contribuir para a “revolução dos sólidos”.

43

Vous aimerez peut-être aussi