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Design para a inovagao social e sustentabilidade | Comunidades criativas, organiza¢ées colaborativas e novas redes projetuais Ezio Manzini 1. Sustentabilidade | Descontinuidades sistémicas e processos de aprendizagem social Asustentabilidade requer uma descontinuidade sistémica: de uma sociedade que considera o crescimento continuo de seus niveis de produco e consumo material como uma condicao normal e sa- lutar, devemos nos mover na direcao de uma sociedade capaz de se desenvolver a partir da reducao destes niveis, simultaneamente melhorando a qualidade de todo o ambiente social e fisico. E di- ficil prever hoje como isto poder acontecer. De qualquer forma, alguns pontos jé estao suficientemente claros. Em primeiro lugar, é dbvio que esta descontinuidade ocor- rerd, que se realizar4 mediante um longo periodo de transicao e que tal mudanga se dard por meio de um processo de aprendi- zagem social largamente difuso. E claro também que esta pro- funda transformacao atingird todas as dimensées do sistema sociotécnico no qual vivemos: a fisica (fluxos materiais e ener- géticos), a econémica e institucional (a relacao entre os atores sociais) e a ética, estética e cultural (os valores e juizos de quali- dade que lhe darao legitimidade social). Atingiré também as va- rias escalas do tempo (0 que pode ser feito brevemente e 0 que requerera um perfodo de tempo maior) e do espaco (da “micro- escala” de um tinico produto e servigo a “macroescala’” dos sis- temas sociotécnicos globais). Finalmente, na perspectiva que veio & luz a partir da teoria da evolugao dos sistemas comple- xos, € altamente provavel que esta descontinuidade sistémica em escala macro seja precedida por muitas descontinuidades locais, isto 6, mudangas radicais em escala local. 1. Sustentabitidade | 19 1.1 Os limites do Planeta Hoje, um profundo e poderoso fator de transformacao é 0 fato de que os limites de nosso planeta tornaram-se evidentes. Na percepcao desses limites deve-se olhar nao apenas para 0 que, em geral, é designado com 0 termo “problemas ambientais”. Na realidade, o foco exclusivo no tema ambiental tem dependido de fatores contingentes: do espaco dedicado pela midia (algum novo problema que vem & tona ou alguma séria catastrofe que aconte¢a) e da competi¢ao com outros assuntos que pesam na consciéncia ptiblica (por essa razao, se hé uma crise econémica ou politica em curso nao se discute o meio ambiente, pois ou- tros assuntos parecem ser de interesse mais imediato). Todavia, o problema continua a existir mesmo quando nao é enunciado de modo explicito na agenda politica ou mi- didtica. A deterioragao ambiental avanca mesmo quando nao a discutimos e se manifesta em muitas outras formas: saturacao do mercado (demanda limitada), desemprego (oportunidades de trabalho limitadas), proliferacao de guerras regionais para o controle dos recursos naturais (recursos limitados), emigracao e conseqiientes problemas raciais (limites demogrficos e so- ciais), dificuldade de imaginar o futuro (porque a consciéncia do limite impede de ver o futuro simplesmente como a conti- nuagao do passado, ou seja, como a reproposicéo de um mo- delo de desenvolvimento baseado em um crescente consumo material). Portanto, o tema dos limites nao estd relacionado simples- mente a “questao ambiental” da forma como esse tema foi tra- tado no passado (isto 6, como uma série de problemas que ten- tamos resolver separadamente). Se considerarmos o sistema cultural e operacional da sociedade industrial como um todo, até 0 momento, estaremos diante de questdes enormes como, por exemplo, o que a expressdo “bem-estar” significa atual- mente. Mais explicitamente: que forma de desenvolvimento nao comprometeria o bem-estar, ou todas as vidas, das futuras gerag6es no nosso planeta? E nessa perspectiva que o tema dos limites esta relacionado com o tema do desenvolvimento sus- tentavel e das sociedades sustentaveis. Objetivando justificar 20 | 1. Sustentabilidade tais afirmagoes, tracaremos certos aspectos da sustentabilidade ambiental de acordo com os mais recentes estudos no setor. Desenvolvimento sustentavel. A expressdo “desenvolvimento sustentavel” foi introduzida no debate internacional pela pri- meira vez em um documento da Comissao Mundial para o Am- biente e 0 Desenvolvimento chamado “Nosso futuro comum” (Our Common Future), coordenado por Gro Harlem Brundland. A partir de entao, a expressao foi cada vez mais usada, até tor- nar-se a palavra-chave em uma conferéncia fundamental sobre o tema, a Conferéncia das Nagdes Unidas sobre Ambiente e De- senvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro. O que torna a Conferéncia e os documentos elaborados naquela ocasiao tao importantes é que, pela primeira vez, foi oficialmente reconhecido 0 que por muito tempo fora evidente para alguns — mas, com certeza, nao esteve em nenhuma agen- da politica internacional, programa de intervencao ou mesmo nos pensamentos da maioria dos cidadaos deste planeta -, ou seja, que o “desenvolvimento”, como entendido até entao, re- presentava uma perspectiva objetivamente impraticavel. A introdugao do termo “desenvolvimento sustentavel” evi- denciou que a promessa de um bem-estar baseado na conti- nuidade do modelo de desenvolvimento dos paises ricos (cha- mados “desenvolvidos”) e na emulagao desse modelo para os paises menos ricos (chamados “subdesenvolvidos’, ou mais otimisticamente, “em desenvolvimento”) nao poderia mais ser mantida, pois o funcionamento desse modelo extrapolava a capacidade de recuperacao dos ecossistemas e estava rapida- mente consumindo o capital natural. O uso insensato dos recursos renovaveis (superexploracao de alguns, como, por exemplo, os recursos da pesca, e subem- prego de outros, como a energia solar); um igualmente insensato uso dos recursos nao renovaveis (com rapida diminuicao das re- servas de alguns deles e a correspondente acumulagao de lixo); a emissao de um ntimero crescente de novas e potencialmente nocivas substancias sintéticas no meio ambiente (substancias estranhas 4 natureza e que, conseqiientemente, nao sao mais 1, Sustentabilidade | 21 possiveis renaturalizar) — apenas para mencionar alguns dos problemas mais evidentes -, tudo mostrou sem equivocos que a estrada que estdvamos percorrendo, com a perspectiva de uma populacao quase duplicada nas préximas poucas décadas, nao conduvziria de forma alguma ao desenvolvimento com 0 qual so- nhavamos. De outro lado, o conceito de “desenvolvimento sustentd- vel” nao fornecia nenhuma indicagao a respeito de como esse novo modelo de desenvolvimento deveria ser. Apenas afirmava que 0 modelo como foi inicialmente proposto (que, em poucas palavras, dizia “faga como nés ocidentais fizemos”) nao era uma proposta praticdvel. Outro modelo deveria ser fundado, coeren- te com alguns principios basicos (os principios fisicos e éticos da sustentabilidade): uma definicao ainda muito vaga, que, sem dtivida, abriu espaco para intimeras interpretacées, as quais, to- davia, foram suficientes para mudar 0 curso da histéria. Sustentabilidade ambiental (e social). A expressao “sustentabi- lidade ambiental” refere-se as condig6es sistémicas a partir das quais as atividades humanas, em escala mundial ou em escala local, nao perturbem os ciclos naturais além dos limites de re- siliéncia dos ecossistemas nos quais sao baseados e, ao mesmo tempo, nao empobrecam o capital natural que sera herdado pelas geracées futuras. Nossa sociedade, e, conseqiientemente, nossas vidas e as das geragGes futuras, dependem em longo prazo do funciona- mento daquele “mix” de ecossistemas que, por simplicidade, chamamos de natureza; dependem de suas varias qualidades (principalmente, mas nao somente, biofisicas) e de sua capaci- dade produtiva (sua capacidade de produzir alimento, insumos e energia). Neste quadro, as pesquisas rumo a sustentabilidade am- biental devem se referir a dois conceitos fundamentais: resilién- cia e capital natural. A resiliéncia de um ecossistema é sua ca- pacidade de tolerar uma atividade que o perturba sem perder irreversivelmente seu equilibrio. Quando estendido ao planeta inteiro esse conceito introduz a idéia de que o sistema natural, 22 | 1. Sustentabilidade sobre o qual a atividade humana esta baseada, tem limites de capacidade e recuperacao além dos quais um fenémeno irre- versivel de deteriora¢ao ter4 inicio. Por outro lado, capital na- tural sao os recursos nao renovaveis, que conjuntamente com a capacidade sistémica do ambiente de reproduzir recursos renovaveis, devem ser levados em conta como um todo. O ter- mo refere-se também a riqueza genética, ou seja, a variedade de espécies habitantes no planeta. Estes preceitos fundamen- tais, baseados principalmente em consideracées fisicas, devem ser complementados por outros, de natureza social e ética, aos quais nos referimos através do termo sustentabilidade social. A expressao sustentabilidade social refere-se as condicées sistémicas através das quais, seja em escala mundial ou regional, as atividades humanas nao contradizem os principios da justica e da responsabilidade em relacao ao futuro, considerando a atual distribuigao e a futura disponibilidade de “espaco ambiental”. 0 conceito de espago ambiental e os principios de justiga e respon- sabilidade em relagdo ao futuro, sobre 0 qual essa definicao esté baseada, requerem uma concisa definigao: 0 espaco ambiental € a extensao territorial necessdria para manter um sistema so- ciotécnico neste mesmo espaco de uma forma sustentavel, isto 6, indica quanto “ambiente” uma pessoa, cidade ou nacao deve dispor para viver, produzir e consumir sem desencadear fend- menos irreversiveis de deterioracao. Dada a definigao acima, o principio de justiga declara que cada pessoa tem direito ao mesmo espaco ambiental. O princé- pio de responsabilidade em relacao ao futuro declara que deve- mos garantir as gerages futuras pelo menos 0 mesmo espaco ambiental - ou seja, a mesma quantidade e qualidade de recur- sos ambientais ~ que temos atualmente a nossa disposi¢ao. A dimenséo da mudanga. Sucintamente: para ser sustentavel, um sistema de produgao, uso e consumo tem que ir ao encon- tro das demandas da sociedade por produtos e servicos sem perturbar os ciclos naturais e sem empobrecer 0 capital natu- ral. Isto significa em primeiro lugar reduzir drasticamente o uso dos recursos ambientais (deve ser fundamentalmente baseado 1. Sustentabilidade | 23 em recursos renovaveis, minimizando a utilizacao daqueles nao renovaveis — inclusive o ar, a 4gua e a terra — e evitando a acumulacao de lixo e residuos). Porém, énecessdrio quantificar a expresso “reduzir drasti- camente”: qual o tamanho da reducao necessdria? Obviamente tal questo nao pode ser respondida de maneira simples. En- tretanto, uma avaliagao muito geral e aproximada nos permite dizer, tomando como referéncia o atual metabolismo de uma sociedade industrial adulta, que as condigdes para sua susten- tabilidade somente podem ser alcancadas através do aumento de sua ecoeficiéncia em pelo menos 10 vezes. Em outras pa- lavras: somente aqueles sistemas de produgao e consumo que utilizam menos de 90% de recursos ambientais por unidade de servigo fornecido em relagao ao que é atualmente utilizado numa sociedade industrial adulta pode ser considerado susten- tavel (Ehelich, Erlich, 1991, Meadows et al., 1992). Essa impressionante afirmacdo requer algumas explica- des. Seu pano de fundo ¢ baseado na seguinte consideracao: 0 impacto das atividades humanas sobre o ambiente depende de trés varidveis fundamentais, interligadas por uma relacéio que pode ser expressa dessa forma: Impacto ambiental = populacao x demanda por bem-estar x ecoeficiéncia do sistema sociotécnico Onde: a populagdo 6 o numero de pessoas que pesa sobre um dado ecossistema e a demanda por bem-estar correspon- de as expectativas, em termos de produtos, servicos e bens co- muns, que as pessoas expressam em um dado contexto social (e que consideram como uma dotacao necesséria para conside- rar satisfat6ria a qualidade do seu contexto de vida e 0 acesso potencial que ele oferece). Por fim, a ecoeficiéncia do sistema sociotécnico é um indicador da eficiéncia do metabolismo de um sistema de producao. Em outras palavras: como esse siste- ma é capaz de transformar recursos ambientais no bem-estar almejado. Levando em conta as previsdes de aumento da populacao e considerando um crescimento justo na demanda por bem- estar nos paises atualmente menos desenvolvidos, parece evi- 24 | 1. Sustentabilidade dente que as condigées para a sustentabilidade somente po- dem ser alcancadas, como jé dissemos, através de um aumento na eficiéncia do sistema sociotécnico de, pelo menos, “fator 10” — isto 6, aumentando-a pelo menos 10 vezes (Schmidt-Bleek, 1993; WBCSD, 1993, 1995). Essa é uma estimativa aproximada; € valida, apesar de tudo, para indicar a medida da mudanca necessaria. 0 quadro de uma sociedade onde ser necessario viver ~ e, esperamos, viver bem — utilizando 10% dos recursos consumidos hoje em uma sociedade industrializada. 1.2 Descontinuidade sistémica Est claro que o sistema de produgao e consumo de uma socie- dade sustentavel seré profundamente diferente daquele que co- nhecemos até hoje. Tao diferente que nenhuma alteracao par- cial, nenhum melhoramento na tecnologia atualmente em uso enenhuma operagao de redesign ser suficiente (Hawken, 1994; Pauli, 1997; Sthael, 1977; Vezzoli, Manzini, 2007). Partindo da quantificagao do aumento necessario na eco- eficiéncia, geramos uma considera¢ao qualitativa: 0 desenvol- vimento sustentdvel necessita de todos nds — das sociedades mais industrializadas aquelas de mais recente industrializagao ou ainda nao industrializadas ~ para focalizar e gerar idéias de desenvolvimento tao diferentes daquelas que dominaram a cena até hoje, que nao podemos imaginé-las sem questionar 0 inteiro complexo econdmico e sociocultural sobre 0 qual 0 sistema existente de producao, uso e consumo esta baseado. O que tem de acontecer, e, na pratica, jé esta acontecendo, é uma descontinuidade sistémica: uma forma de mudanga em cujo final o sistema em questao - em nosso caso, 0 complexo sistema sociotécnico no qual as sociedades industriais estado baseadas — sera diferente, estruturalmente diferente, daquilo que tivemos conhecimento até hoje. Um processo de aprendizagem social. A transicao rumo a sus- tentabilidade requer uma descontinuidade: de uma sociedade onde o crescimento continuo dos niveis de produgao e de con- 1. Sustentabilidade | 25 sumo material é considerada uma condicao normal e salutar, devemos nos mover para uma sociedade capaz de desenvol- ver-se a partir de uma redugao destes niveis, incrementando a qualidade do ambiente global. £ dificil prever hoje como isso poderd acontecer. De qualquer forma, é certo que essa descon- tinuidade aconteceré e que sera baseada em um longo periodo de transicao. Diante desta necessidade, o quadro que emerge é contra- dit6rio: de um lado, a gravidade do problema ambiental 6, a esta altura, universalmente reconhecido, e as devidas medidas comegam a ser adotadas. De outro lado, considerando a enor- midade das transformagées que devem acontecer, todas essas medidas sao ainda insuficientes e, na realidade, o consumo de recursos ambientais e o nivel de deterioracao do planeta esto ainda (em média) crescendo. O problema é que 0 que foi feito até agora, na realidade, nao colocou em discussao os atuais paradigmas econémicos e sociais. Conseqiientemente, as linhas basicas da economia po- Iitica e social ainda direcionam o sistema na direcao oposta a sustentabilidade. Uma nova idéia de bem-estar. Enquanto esse direcionamento nao ¢ invertido, em outras palavras, até que a descontinuidade seja reconhecida como inevitdvel, levando-nos a lidar ampla- mente com 0 processo de transi¢ao, a pressao do problema am- biental continuard a se manifestar em multiplas e incontrol4- veis diregGes (tensao social e confrontos abertos, guerras, crises econémicas). Na realidade, pensar e promover a descontinui- dade nao é uma questao somente de politica ambiental, mas sim a tinica maneira de imaginar um futuro que seja, na medida do possivel, pacifico, tolerante e democritico. Ainda que a transicao seja longa, pelas razées antes men- cionadas, ela jd teve infcio. Portanto, de agora em diante, sera uma questao de direcionamento, ou seja, maneja-la enquan- to se procura minimizar os riscos e incrementar oportunida- des em um amplo, longo, inevitavel e contraditério processo de aprendizagem social. Nesse processo, uma das questées funda- 26 | 1. Sustentabilidade mentais a serem discutidas é relativa 4 qualidade do bem-estar desejado e percebido pelas pessoas: as idéias de bem-estar que a sociedade formula e socializa constituem um formidavel guia de ago. Sao idéias que operam como atrativos sociais capa- zes de estimular e direcionar agGes tanto do lado da demanda quanto da oferta de produtos e servicos. A fim de minimizar ris- cos e incrementar oportunidades intrinsecas a transigao para a sustentabilidade, devemos considerar e mudar profundamente as idéias dominantes nesse campo. 1.3 Design e sustentabilidade A transigaéo rumo a sustentabilidade seré um processo de aprendizagem social no qual os seres humanos aprenderao gradualmente, através de erros e contradigdes — como sempre acontece em qualquer processo de aprendizagem -, a viver me- lhor consumindo (muito) menos e regenerando a qualidade do ambiente, ou seja, do ecossistema global e dos contextos locais ondem vivem. Essa afirmacao, que resume experiéncias - e erros — adqui- ridos ao longo de décadas, contém, em sua aparente simpli- cidade, um ntimero considerdvel de importantes implicacées estratégicas. Em primeiro lugar, declara a necessidade de diminuir 0 consumo de recursos ambientais e de regenerar o ambiente fi- sico e social. Entretanto, diz também que essa mudanca deve acontecer como resultado de uma escolha positiva, endo como reac¢ao a eventos desastrosos ou imposigoes autoritarias. Em outras palavras, deve basear-se em uma transformacao capaz de ser entendida por aqueles que a vivem como uma melhoria nas condi¢ées de vida (seja individual ou coletiva). E claro também que, mesmo que a afirmacao acima nao o diga explicitamente, a luz das idéias e das praticas atuais, a possibilidade de uma drdstica redugdo no consumo deve ser entendida como uma melhoria na qualidade de vida pelos in- dividuos e pelas comunidades, o que nao se caracteriza de for- ma alguma como uma possibilidade Gbvia segundo as atuais referéncias culturais e comportamentais. E evidente que tal 1. Sustentabilidade | 27 possibilidade requer, sobretudo, uma completa redefinigao do significado que cada individuo ou grupo atribui ao conceito de qualidade de vida e, em ultima andlise, a idéia de bem-estar. Isso posto, enquanto para os cientistas da ecologia 0 pro- blema é focalizar sobre aqueles aspectos fisicos do metabolis- mo da sociedade que evitam uma catéstrofe ambiental, para todos os outros atores sociais o problema é como facilitar uma transigao que consiga este mesmo resultado sem provocar uma catdstrofe social (e, portanto, cultural, politica e econémica). Mais especificamente, se 0 papel dos politicos e das insti- tuicdes é criar um ambiente favordvel a orientagao da inovagao rumo a sustentabilidade, para os designers, empresas e também para os cidadaos comuns em suas comunidades e organizacées, a possibilidade de acao recai na sua capacidade de dar uma orientagdo estratégica as prdprias atividades, em outras palavras, na sua habilidade em definir objetivos que combinem suas pré- prias necessidades e exigéncias com os critérios da sustentabili- dade que esto gradualmente vindo a tona. Colocar juntas estas diferentes exigéncias, como jé disse- mos, implica uma considerdvel habilidade de design: a habi- lidade de gerar visdes de um sistema sociotécnico sustentavel: organizé-las num sistema coerente de produtos e servicos re- generativos, as solugdes sustentdveis; e comunicar tais visées e sistemas adequadamente para que sejam reconhecidos e ava- liados por um puiblico suficientemente amplo, capaz de aplica- las efetivamente. Comecando pelos resultados. J4 sugerimos que, a fim de con- duzir a sustentabilidade, uma descontinuidade sistémica deve acontecer. Dada a “microescala” discutida aqui, esta desconti- nuidade apareceré como uma descontinuidade local: uma mu- danga radical tanto nos resultados requeridos como nos meios para alcangé-los. Ou seja, novas (e sustentaveis) solugées devem ser concebidas e desenvolvidas (Mont, 2002). O sentido dessa afirmagao pode ser entendido melhor se considerarmos brevemente os passos a serem realizados no projeto (design) de uma nova solucdo. Sao eles: 28 | 1. Sustentabilidade Mudar a perspectiva—mudar 0 centro de interesse das coi- sas (por exemplo, geladeiras e fogdes, carros e maquinas de lavar roupa) para os resultados, focalizando 0 processo de projeto nas atividades a serem realizadas (preparar a comi- da, mover-se pela cidade, lavar roupa). Imaginar solugées alternativas — planejar diferentes com- binagées possiveis de produtos, servicos, conhecimento, habilidades organizativas e papéis desempenhados pelos atores envolvidos de forma que esses resultados possam, em principio, ser obtidos. Avaliar e comparar varias solugdes alternativas — utilizar um conjunto apropriado de critérios para avaliar a efetiva conveniéncia econdémica, social e ambiental das alternati- vas identificadas. Desenvolver as solucées mais adequadas ~ planejar um pro- cesso que contenha dois movimentos: promover conver- géncia entre as empresas e os atores sociais envolvidos na realizacao da solucao escolhida e conecté-los aos produtos, servicos e conhecimento que irao compor a solucao. A partir desses pontos, podemos afirmar que pensar em termos de solugdes 6 uma precondi¢ao para conceber e realizar sistemas sustentaveis. De fato: Pensar em termos de solucdes promove uma abordagem sistémica, ou seja, encoraja os designers e, de forma geral, 0 grupo de atores envolvidos no planejamento, producao, execucao, uso e descarte final (dos componentes mate- tiais) da solugao a pensarem em termos de sistema, o que, potencialmente, traz numerosas vantagens do ponto de vista social e ambiental. Pensar em termos de solug6es abre a discussdo sobre o atual sistema de produtos e servicos, ou seja, considera possiveis alternativas as solugdes atualmente difusas (que sao am- plamente insustentaveis). Fazer isso oferece a possibili- dade de introduzir critérios e diretrizes coerentes com os requisitos da sustentabilidade. De outro lado, a radical transformacao de produtos em so- lugées (ou seja, dos atuais sistemas orientados ao produto aos novos sistemas orientados as solugdes) é apenas uma precon- 1. Sustentabitidade | 29 dicao (e nao uma garantia) para a sustentabilidade. Isto por- que novas solugées podem ser ainda mais insustentaveis que as anteriores. Muito depende das escolhas de design que sao efetivamente adotadas. Critérios para a sustentabilidade. Uma solugao sustentdvel é 0 processo por meio do qual produtos, servigos e conhecimento sao articulados em um sistema que objetiva facilitar ao usud- rio a obtengao de um resultado coerente com os critérios da sustentabilidade. Sendo mais claro: um resultado que tenha também 0 efeito de transformar um sistema dado e gerar um novo que seja coerente com os fundamentais princtpios da sus- tentabilidade. Significa que é caracterizado pela coeréncia com os princtpios fundamentais da sustentabilidade através de uma baixa intensidade de energia e material e de um alto potencial regenerativo. = Consisténcia com os principios fundamentais. Refere-se aos principios éticos relacionados as pessoas e a sociedade (tais como justica entre as geragées e justiga internacional), bem. como principios relacionados a nossa relacao com a natu- reza e o meio ambiente (conservagao da biodiversidade, residuos nao perigosos etc.). Esto também associados a questdes sociais e econdmicas tais como o tema da justa distribuigao da riqueza e do poder, do envolvimento indivi- dual e coletivo, do empoderamento comunitdrio, em sinte- se, do fortalecimento da democracia. = Baixa intensidade de energia e material. Metaforicamente falando, se refere a “leveza” da solugao e de seus efeitos. E avaliada em termos de ecoeficiéncia sistémica, isto é, se baseia na qualidade e quantidade de recursos utilizados para obter um resultado. Expressa portanto as dimensdes técnicas de uma solugao e a sua capacidade de obter um determinado resultado da melhor maneira possivel. Cons- titui o mais tradicional conjunto de critérios e permanece fundamental: qualquer sistema, para ser definido como ‘sustentavel”, tem que ser altamente ecoeficiente, levando 30 | 1. Sustentabilidade em consideragao 0 completo ciclo de vida dos artefatos re- lacionados. = Alto potencial regenerativo. Refere-se 4 capacidade da so- luco em obter uma integracdo com seu contexto de uso, aumentando os recursos ambientais e sociais disponiveis. Expressa a dimensao positiva de uma solugao, sua capaci- dade de melhorar o estado de coisas. Esse terceiro critério resume uma série de consideragoes a respeito da qualidade dos contextos de vida e é avaliado através de uma série de parametros sociais, culturais e econémicos. Em contraparti- da, estes parametros sao a expressao do conhecimento e das expectativas sociais em relacdo ao bem-estar sustentavel. Ainda que os critérios para a avaliagao da qualidade contex- tual, a partir de uma perspectiva sustentavel, estejam ainda hoje em discussao, certamente alguns aspectos ja sao bas- tante claros e aceitos. Em particular, a opiniao largamente compartilhada é que o sistema deve ser altamente integrado com seu contexto a fim de ser definido como sustentavel e que deve aumentar e, onde necessario, regenerar 0 ambien- te local e os recursos sociais disponiveis. 1.4 Orientacées e diretrizes O critério para a sustentabilidade proposto aqui fornece indica- dores titeis por meio dos quais é possivel mensurar a qualidade dos resultados. Em outras palavras, para avaliar se, e com que extenso, o sistema que emerge da integracao da nova solucao com o estado de coisas existentes (ou seja, suas implicacées ambientais, sociais, econdmicas e culturais como um todo) é sustentdvel. Todavia, os parametros de avaliagdo que provém diretamente destes critérios nos permitem avaliar as escolhas feitas, mas nao guid-las, quando ainda nao foram concebidas. (Braungart, McDonough, 1998; Brezet, Hemel, 1997; Charter, Tischner, 2001; Manzini, Jegou, 2003; Vezzoli, Manzini, 2007). A elaboracao da resposta a essa questdo deve comecar por esses mesmos critérios e contar com as experiéncias concretas para desenvolver orientagées e diretrizes de design: indicagdes ge- rais e sugest6es especificas capazes de guiar escolhas de design 4. Sustentabitidade | 31 rumo a solugdes que, com base no conhecimento e na expe- riéncia obtidos até agora, paregam ter maior chance de sucesso, ou seja, que muito provavelmente revelar-se-do solugées sus- tentaveis. Assim, estas orientacdes e diretrizes sio uma expres- so do estado da arte desses assuntos e deveriam ser considera- das como diretrizes dinamicas, em continua evolugao. Principios gerais. Numa perspectiva de sustentabilidade, certas considerag6es fundamentais devem ser feitas antes de comecar um adequado proceso de design. Sao alguns principios gerais aos quais se deve dar atencao antes de iniciar um projet * Pensar antes de fazer. Considerar os objetivos. Visto que al- gumas propostas de design sao, em si, eticamente inaceitd- veis, antes de comegar um projeto pense sobre suas impli- cages gerais. Nao use, por exemplo, produtos que foram declarados prejudiciais ou organismos geneticamente mo- dificados. Nao projete armas. Nao colabore com empresas que utilizam trabalho infantil. = Promover a variedade. Proteger e desenvolver a diversidade bioldgica, sociocultural e tecnologica. Visto que sustentabili- dade é praticamente sinénimo de diversidade, planeje res- peitando a diversidade existente (bioldgica, cultural, orga- nizacional e tecnoldgica) e, se possivel, gere novas formas: dé maior importancia aos produtos artesanais locais, desen- volva sistemas de energia baseados em diferentes recursos, estimule a utilizagdo de muiltiplos meios de transporte etc. " Usar o que ja existe. Reduzir a necessidade do novo. Visto que nés necessitamos minimizar a intervengao no que jd existe, antes de pensar algo novo, melhore o existente. Recupere infra-estrutura, prédios e produtos nao usados; aperfeigoe o uso do que foi pouco utilizado; proteja e/ou atualize 0 conhecimento e as formas existentes de organi- zacao. Qualidade dos contextos. Com isso, explicamos a tendéncia rumo ao desenvolvimento de solugdes que promovam uma qualidade global dos contextos. Em particular, tendéncias rumo 32 | 1, Sustentabilidade &s solugGes que implicam a requalificacao dos bens comuns ea promogao de uma ecologia do tempo. Isto nos leva a enfrentar questées complexas, tais como nossa relagao com a natureza e a comida em contextos urbanos altamente artificiais, ou a orga- nizagao do espago nas atividades cotidianas e 0 uso comparti- lhado e flexivel dos bens comuns e a infra-estrutura de servico. Dar espaco @ natureza. Proteger o ambiente natural e pro- mover a “natureza simbiética’. Um ambiente densamente povoado e altamente artificial requer 0 planejamento de “espagos naturais”. Devemos planejar sistemas que respei- tem as dreas naturais restantes e que integrem, de forma inovadora, componentes naturais no tecido urbano, por exemplo, parques naturais, parques urbanos e jardins, mas também hortas e fazendas urbanas. Telhados e fachadas verdes ajudam, também, a manter uma temperatura est4- vel dentro dos edificios. Renaturalizar a comida. Cultivar naturalmente. Desenvol- ver avangados sistemas de producao de comida organica capazes de reduzir a artificialidade de nosso sistema de ali- mentacao; criar sistemas de distribuicao diretos e transpa- rentes e sistemas de rastreamento do produto. Aproximar pessoas e coisas. Reduzir a demanda por trans- porte. Desenvolver sistemas de transportes de baixa inten- sidade, para reduzir 0 impacto da mobilidade e fortalecer o tecido social local, por exemplo, servicos descentralizados. Ponto-de-venda de produgao e/ou consumo. Escritérios de bairro ao invés de lugares de trabalho longe. Instrumentos e equipamentos compartilhados. Reduzir a demanda de produtos. Desenvolver sistemas que oti- mizem a utilizacao de produtos e sistemas, e ao mesmo tempo, estimulem novas formas de socializacao como, por exemplo, a carona solidaria, as lavanderias condominiais, a jardinagem compartilhada e as ferramentas “faca-vocé- mesmo”. Inteligéncia de sistema. Esta orientacao tende a um gerencia- mento inteligente e sensivel dos recursos renovaveis, dos flu- 1, Sustentabilidade | 33 xos de energia, materiais, de produtos e de pessoas. Além disso, na estrutura da transi¢ao rumo A sustentabilidade, entendida como um processo de aprendizagem social, esta orientagao for- talece a busca de uma melhor ecoeficiéncia sistémica por meio do desenvolvimento de uma capacidade de aprender a partir da experiéncia e corrigir qualquer erro que porventura seja per- cebido. De fato, essa capacidade de aprendizagem ¢ 0 aspecto mais caracteristico dessa particular forma de inteligéncia. " Fortalecer pessoas. Incrementar a participacao. Desenvolva sistemas habilitantes e de socializacao para estimular as capacidades pessoais e reforcar o tecido social. Exemplo: sistemas de “faga-vocé-mesmo’; sistemas para o intercam- bio de bens, tempo e habilidades; sistemas de informacgao interativa; promocao de grupos de compra inteligentes. "= Desenvolver redes. Promover formas de organizagao descen- tralizadas e flextveis. Desenvolva sistemas capazes de apren- der a partir da experiéncia, ampliando as possibilidades de ‘feedback (avaliagao e comentarios), bem como desenvol- vendo solugées “reorientaveis’. Exemplos: sistemas basea- dos em formas de organizacao “de baixo para cima” (bottom- up); produgao e pontos-de-venda descentralizados. = Use o sol, 0 vento e a biomassa. Reduza a dependéncia da gasolina. Desenvolva sistemas de energia alternativa, mini- mizando a producao de CO,. Exemplo: arquitetura biocli- mitica; uso sustentavel de biomassa e geradores de vento; sistemas fotovoltaicos integrados; células combustiveis. "= Produza com restduo zero. Promova formas de ecologia in- dustrial. Desenvolva ecossistemas industriais que tendam a “fechar o circulo dos materiais” e a energia em cascata. Exemplo: sistemas industriais simbiéticos; total emprego do residuo e recorte; co-produgao de calor e eletricidade; redes descentralizadas de energia. Solugées promissoras. Uma solucao que siga tais orientacdes e que tenha sido desenvolvida adotando uma ou mais das diretri- zes correspondentes pode ser chamada de solucéo promissora: 34 | 1. Sustentabilidade aquela que, baseando-se em prévias experiéncias no setor, tem. uma boa probabilidade de ser sustentavel. O conceito de solugdo promissora requer uma explicagao mais detalhada, porque é um conceito freqiientemente enun- ciado quando se fala a respeito de propostas para uma vida cotidiana sustentavel. Comecaremos com trés consideracées basicas: = Consisténcia com uma ou mais diretrizes nao garante, por sis6, a efetiva sustentabilidade da proposta, a qual s6 pode ser realmente verificada adotando-se adequadas metodo- logias de avaliagao. « Se todos os artefatos que constituem a solucao sao levados em consideracao e seus inteiros ciclos de vida sao analisa- dos, metodologias de avaliacao s6 podem ser rigorosamen- te aplicadas quando 0 projeto tenha tomado forma e todos seus componentes tenham sido desenvolvidos. * Metodologias de avaliagao sao tao complexas que sua apli- cacao é impensavel enquanto existirem muitas alternati- vas diferentes em discussao. Frente a complexidade das rigorosas metodologias de ava- liagdo quantitativa (e, conseqiientemente, do tempo e do com- promisso financeiro requeridos para sua aplicacdo), vém sen- do desenvolvidas metodologias simplificadas e diretrizes que, como dito anteriormente, permitem que solugées promissoras sejam concebidas e desenvolvidas. Devemos deixar claro que estas metodologias e as solu- g0es promissoras que elas originam sao relativamente incertas, © que nao deve, porém, nos causar excessiva preocupagao. A experiéncia nos ensina que cada ado humana, na realidade, origina conseqiiéncias inesperadas. Isto é verdadeiro também no caso das solugdes promissoras. Algumas vezes, no momento de teste, essas solug6es mostraram-se consideravelmente me- nos promissoras do que o esperado, ou provaram ser definitiva- mente escolhas erréneas. Apesar disso, a partir dessas escolhas erradas, foi possivel aprender algo: se nada tivesse sido feito, no terfamos aprendido. De fato, é justamente a partir destes erros que nos tornamos habeis em desenvolver novas diretrizes capazes de levé-los em conta. 1. Sustentabitidade | 35 Em outras palavras: frente aos problemas de grande com- plexidade, é melhor realizar testes detalhados e observar os resultados (e assim sermos capazes de aprender com a expe- riéncia) do que nao fazer nada. E por isso que 0 conceito de solugao promissora é tao importante. Porque tenta utilizar 0 melhor do que conhecemos, mas, ao mesmo tempo, aceita ex- plicitamente a possibilidade de cometer um erro (e, assim, a necessidade de aprender com a experiéncia). Design estratégico para a sustentabilidade. Concluindo, proje- tar solugGes sustentaveis significa definir um resultado e con- ceber e desenvolver os sistemas de artefatos necessérios para atingi-lo. Significa concebé-los e desenvolvé-los de tal forma que 0 consumo dos recursos ambientais seja reduzido e que as qualidades dos contextos de vida sejam regeneradas. Além disso, como foi apresentado anteriormente, cada passo rumo a sustentabilidade exige uma mudanga radical. Os casos que sao mais interessantes para nés aqui requerem uma mudanga radical a nivel local, ou seja, descontinuidades locais ou, mais precisamente, descontinuidades locais coerentes com a pers- pectiva da sustentabilidade. Resulta, portanto, que para nos movermos da concep¢ao de design largamente dominante em dire¢ao ao design para a sustentabilidade, dois passos principais tem que ser tomados: em primeiro lugar, buscar uma abordagem estratégica do de- sign; em segundo lugar, levar seriamente em consideracdo os critérios da sustentabilidade. A partir dessas afirmacoes, a expressao Design para a Sus- tentabilidade (Design for Sustainability, DfS) deve ser interpre- tada como uma atividade de design cujo objetivo é encorajar a inovagéo radical orientada para a sustentabilidade, ou seja, con- duzir 0 desenvolvimento dos sistemas sociotécnicos em direcao ao baixo uso dos materiais e da energia e a um alto potencial regenerativo. Efetivamente, para tomar esse rumo, precisamos usar uma abordagem de design estratégico (e ferramentas de de- sign estratégico). Dessa forma, a fim de chegar ao design para a sustentabilidade, entendido como design estratégico para a sus- 36 | 1. Sustentabilidade tentabilidade, 6 necessario trabalhar através do design estratégi- co e de suas caracteristicas, objetivos e modos de operacao. Ou seja: conceber e desenvolver novas (e sustentaveis) solugdes e, a fim de implementé-las, colaborar na construgao das apropriadas parcerias (ou seja, criar as condicées para a reuniaio dos varios atores necessarios para a obtencao dos resultados desejados) (Manzini, Collina, Evans, 2004). 1, Sustentabilidade | 37

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