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J4 ALIÁS DOMINGO, 7 DE FEVEREIRO DE 2010


O ESTADO DE S.PAULO

ENTREVISTA MARCELONERI PRIMEIRACLASSE GESTÃOSOCIAL


“Há dez anos, a C “Uma ideia
Economista, chefe do Centro não representava seria distribuir
de Pesquisas Sociais da mais que 40% da serviços sociais e
população. Hoje, é produtivos aos
Fundação Getúlio Vargas (RJ) majoritária: 52%” beneficiários”

Cresceu e veio para ficar


Assim pesquisador define a nova classe média no País. Mérito das políticas sociais, que agora exigem metas
TASSO MARCELO/AE

Ivan Marsiglia
O economista Marcelo Neri faz
questão de avisar que não é tu-
cano nem petista. Esquivo à es-
tridência política que prenun-
cia a disputa ao Planalto, e que o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva gostaria de transformar
em plebiscito entre PSDB e PT,
Neri é partidário das linhas de
continuidade entre os dois últi-
mosgovernos do Brasil. De olho
nosnúmerosdaPesquisaNacio-
nal por Amostra de Domicílio
(Pnad), que radiografa anual-
mente as condições de vida de
norte a sul do País, atribui o mo-
mento promissor da economia
brasileira tanto à herança rotu-
lada de “maldita” do ex-presi-
dente Fernando Henrique Car-
doso quanto à fé propalada por
Lula, todo santo dia, em seus
programas sociais. Em espe-
cial, o Bolsa-Família – segundo
Neri, “uma plataforma que veio
para ficar”, embora possa e de-
va ser aperfeiçoada.
Chefe do Centro de Pesqui-
sas Sociais da Fundação Getú-
lio Vargas, no Rio de Janeiro, o
carioca Marcelo Cortes Neri,
de 47 anos, é um dos mais res-
peitadosespecialistas empolíti-
cas públicas do País. Ph.D pela
Universidade Princeton e pes-
quisador do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada)
na década de 90, foi um dos pri-
meiros a comprovar a diminui-
ção da pobreza pelo Plano Real
– contrariando à época o prog-
nósticodeeconomistas vincula-
dos aos círculos petistas.
Na entrevista a seguir, Neri NERI – ‘Há uma tradição de linha marxista que abomina o crescimento do capital no Brasil como se ele fosse o problema. Precisamos é de um choque de capitalismo para os pobres’
destrincha o que batizou como
“o segundo Real”. Em outros zação do trabalho. De 2003 a efeitoextra. Oqueaconteceu de a chegar ao mercado de traba- ção de levar os filhos à escola,
termos,aoapostarnaestabiliza- 2009, o número de empregos “A agenda fato foi o que já chamei de “o lho mais bem preparados e in- fazer exames médicos, etc. –
ção e dar escala aos programas formais novos foi de 8,5 mi- segundoReal”. Ogrande marco formados, obtendo salários mas na prática elas não têm
sociais de seu antecessor, Lula lhões,oquemostraqueoempre- do próximo dagestãodopresidenteFernan- maiores e com mais chances de grande efeito no Bolsa-Família.
tirou dapobreza 19,3 milhões de sário, que é o símbolo e a força do Henrique Cardoso foi o Pla- obter empregos formais. É por As crianças pobres já estão na
indivíduos e alavancou outros dinâmica do capitalismo, está Bolsa-Família no Real. No Ipea, nós fomos os isso que o aumento da escolari- escola desde FHC. A agenda do
32 milhões na pirâmide social. apostando. Parece que a socie- primeiros a mostrar que o Real dade também influencia na for- próximo Bolsa-Família deveria
Um movimento que trouxe à dade brasileira como um todo, deveria se tinha diminuído a pobreza. Um malizaçãodaeconomia.Oesfor- se concentrar não na chamada
luz essa tão falada nova classe que sempre aceitou a desigual- ganho veio da estabilidade, do ço para se colocar as crianças “porta de saída da pobreza”,
média – uma metade de Brasil dade, agora aceita menos. concentrar fato deo cidadãopoderprever o na escola, na década passada, uma expressão que não acho
que não só deve influenciar a futuro, sair da inflação de 40% foi o segundo grande marco dos boa, mas em uma “porta de en-
economia como pode fazer dife- Porque o senhordiz que aatual dé- não na ao mês. Em certo sentido, isso anos FHC, além do Plano Real – trada” nos mercados. O pobre
rença nas urnas. se repetiu em 2003, quando Lu- e explica em parte o que está não quer sair de nada: ele quer é
cada se caracteriza ‘menos pelo
crescimento generalizado da ren- chamada la assumiu a Presidência e mos- havendo nesta década. FHC entrar. Falta criar dispositivos
trou aos mercados que mante- criou o Bolsa-Escola, Lula deu para distribuir serviços sociais
Na pesquisa ‘A Nova Classe Mé-
dia’, o senhor afirma que a catego-
daparatodososestratosdapopula-
ção, do que pela redução da desi- ‘porta de ria as regras e contratos. De- escala a ele. Primeiro, com um e produtivos aos beneficiários.
pois vieram os programas so- passo atrás, no Fome Zero. De-
riarepresentahoje52%dasocieda-
de brasileira. Essa classe C tem
gualdadeobservada’?
Nos números da Pnad de 2001 a saída da ciais em grande escala e a volta pois,comdoisà frente,noBolsa- O governo anunciou esta semana
2008, se observa uma queda do crescimento econômico. A Família – que é um Bolsa-Esco-
uma base de renda achatada?
Claro que a classe média brasi- muito forte na desigualdade. pobreza’, classe C no Brasil aumentou de la 2.0, mais evoluído. Seeu fosse
que vai enviar ao Congresso até
março o projeto de consolidação
leira que ascendeu nos últimos Ela só tinha se alterado signifi- 32% para 37% com o Plano Real. tucano, estaria pensando no
anos não é igual à americana ou cativamente no Brasil uma vez: expressão Com o “segundo Real”, agora, Bolsa-Escola 3.0 para a eleição
das leis sociais. Pela sua experiên-
cia com o tema, que aspectos dos
à europeia. Mas a renda média nos anos 60, e paracima. A desi- passou de 37% para 52%. de 2010. E se fosse petista, no
no Brasil é muito próxima da gualdade aumentou na época que não Bolsa-Família2.0.OPaísnãopo-
atuais programas sociais merece-
riam status de lei no País?
rendamédia mundial.Sãofamí- do milagre econômico. Por isso de ficar sentado nos louros. Ainda não conheço o projeto
lias que recebem mensalmente o (economista) Edmar Bacha considero Por que o senhor diz que a renda
dos mais pobres teve ‘crescimento em detalhes. Sou francamente
entre R$ 1.115 a R$ 4.808. Como cunhou o termo “Belíndia” (se- favorável ao estabelecimento
definimosessa“novaclasse mé- gundooqual,emtermossócio-eco- boa, mas chinês’ no País?
O crescimento da renda per ca-
Oque contribuiumais paraaqueda
da desigualdade: o Bolsa-Família de metas sociais para aumen-
dia”? Na virada da década, ela nômicos,oBrasilseriaumamistu- pita dos pobres de 2001 a 2008 tarodesempenhoedartranspa-
sesituavaentreos 50%maispo- ra de Bélgica e Índia). Apenas de em uma foi de 72%. Fazendo uma conta
ouosaumentosnosaláriomínimo?
No estudo sobre o Real em 1996, rência a esses programas. O
bres, das classes D e E, e os 10% 2004paracá, 32 milhões de bra- simples, dá quase 10% ao ano – notamos que boa parte da redu- que a Constituição de 1988 fez?
mais ricos, da classes A e B. Re- sileiros subiram para a classe ‘porta de semelhante aos índices chine- ção da pobreza se deu em maio Estabeleceu direitos e definiu
presentava 40% da população. ABC. Em cinco anos, 19,3 mi- ses. Com uma diferença. O (eco- de1995,quandohouveforte rea- em que áreas o município, o Es-
Hoje, ela é majoritária: 52%. lhões saíram da pobreza. En- entrada’ nos nomista Carlos Geraldo) Lango- juste do salário mínimo. Já os tado e a União deveriam inves-
tão, a boa notícia é que dá para ni (diretor do Centro de Econo- aumentos ocorridos sob Lula, tir – mas não exigiu que eles
Quesignificadotemessamudança? transformar o País rapidamen- mercados. mia Mundial da FGV), que este- de2005para2006,tiveramefei- mostrassem que gastam bem.
A primeira importância é eco- te, aos saltos. A má é que a desi- ve na China recentemente, me tos menores no combate à desi- Fixar metas significa não ape-
nômica. Ela passou a ser a gualdade continua grande: ela O pobre não disse queela parece o Brasil dos gualdade.Foi oaumentoda ren- nas dar um choque de gestão
maior concentradora de poder aindaprecisa cairtrêsvezes pa- anos 60: crescendo muito, mas da do trabalho o responsável nos projetos sociais, mas tam-
de compra. A classe C é respon- raconvergiraonívelnorte-ame- quer sair de com a desigualdade aumentan- por quase 1/3 da melhora obser- bém uma oportunidade de co-
sável hoje por 46,5% do bolo de ricano, que já é muito alto. do. O crescimento geral da eco- vada. Em seguida, 17% se de- brança para a população.
renda do País, enquanto a clas- nada: ele nomia brasileira é menor em vem ao Bolsa-Família e 15% à
se AB tem 43%. Então a classe C quantidade, mas melhor em previdência, aí incluído o salá-
passa a ser estratégica para as
EconomistascomoClaudioDedec-
ca, da Unicamp, afirmam que não quer é entrar” qualidade, em relação à China. rio mínimo. Os resultados são
Como isso pode ser feito?
Por exemplo, vinculando parte
empresasemsuasdecisões.Ou- sepodefalaremquedadedesigual- Somos uma democracia – e vi- atéequilibrados, só queoBolsa- da distribuição de verbas a ga-
tra importância é política: se to- dade, uma vez que a diferença en- mos ao longo da década de 80 o Família custa bem menos: 0,4% nhosde eficiência.Ou como São
da ela votasse em um só candi- tre a renda do capital e do trabalho quanto aprender a ser uma de- do PIB, enquanto as aposenta- Paulo e Pernambuco estão fa-
dato, a classe C decidiria sozi- continua crescendo no País... da família ganha de pensão, do mocracia gera custos econômi- dorias representam 12% do zendo com os professores esta-
nha a eleição. Evidentemente Discordo. Primeiro porque a valor recebido dos programas cos–,nossotratamentoambien- PIB. A cada real gasto com o duais. Se o aluno progride,
que isso é improvável, pois seu gente não sabe bem o que houve sociais. Para o cidadão comum, talé melhor, ainda quecom pro- Bolsa-Família, a pobreza cai quem ensinou tem direito a bô-
perfil não é homogêneo. Mas se com a desigualdade entre capi- é isso o que importa: o conforto blemas,eocaráterdessecresci- três vezes e meia mais do que o nus. Premiar, com critérios de
na maioria dos países a classe tal e trabalho: há problemas de que ele leva para a casa da famí- mento é outro, distributivo. equivalente investido no salá- mercado, as boas ações. Já que
média costuma ser o fiel da ba- medição, é muito difícil captá- lia. E você nota que o bolso do rio mínimo. Além disso, o pro- exigir frequência à escola no
lança de uma eleição, aqui ela la. E existe toda uma tradição pobre cresceu mais, proporcio- A educação continua crítica? grama beneficia mais a classe Bolsa-Família é uma condicio-
passou a ser mais do que isso. de linha marxista com esse fo- nalmente, que o do rico. O índice Gini mostra que a desi- E, enquanto é a classe B que ga- nalidade fraca, por que não
co, que abomina o crescimento gualdade de educação também nha nos reajustes de salário mí- criar metas de proficiência, que
É um fenômeno sustentável, que do capital no Brasil como se ele Outra vertente de críticas afirma caiu ao longo das duas últimas nimo e a classe AB nas aposen- envolvam tanto o estudante co-
veio para ficar? fosse o problema. Minha linha é que teria havido não propriamente décadas e o nível dessa educa- tadorias acima dele. Para fins mo sua família? Vários upgra-
Oquecresceusignificativamen- outra: precisamos de um “cho- melhorianarenda,masmaiorcapa- ção começa a melhorar – embo- de redução da desigualdade, o des podem ser dados ao Bolsa-
te no País foi renda do trabalho, que de capitalismo” para os po- cidade de consumo pelo endivida- rasejamuitobaixoainda.Noco- Bolsa-Família dá de goleada. Família, que é uma plataforma
nãoaquelaprovenientedospro- bres. A pergunta da Pnad é sim- mento, por causa do crédito. E aí? meçodosanos90,15%dascrian- que veio para ficar. Nos últimos
gramas sociais – o que já garan- ples: Quanto dinheiro você tem O crédito pode ter feito a roda ças brasileiras estavam fora da Como ele pode ser aperfeiçoado? anos a gente deu os pobres ao
te certa sustentabilidade. Ou- no bolso? É a soma da renda do da economia girar mais, geran- escola. Hoje, são menos de Muitagenteexalta muito astais mercado.Faltaagoradaromer-
trofatoréoaumentodaformali- trabalho, do que o aposentado do mais renda. Mas esse é um 2,5%. Esses jovens começaram condicionalidades – a obriga- cado aos pobres. ●
DOMINGO, 7 DE FEVEREIRO DE 2010
O ESTADO DE S. PAULO ALIÁS J5

Em busca da melhoria sustentável


Estudo inédito mostra como novos padrões de vida ainda não fazem frente à desigualdade brasileira
JF DIORIO/AE REPRODUÇÃO

Amaury de Souza e lores sociopolíticos. preenderismo esbarra em obs-


Bolívar Lamounier* Defato,ocrescimentoeconô- táculos reais. O Brasil, como em
mico dos últimosanos traduziu- geralnospaísesemergentes,ca-
Nos anos 90, o Brasil estabili- seem forte expansãoda deman- racteriza-se ainda pela coexis-
zou sua economia e deslanchou da por bens e serviços. Mas as tência de empresas modernas e
um importante processo de re- oscilações da renda familiar ge- de um vasto setor informal no
formas estruturais, com o forte radaspor empregos poucoestá- qual são escassos os ativos es-
impulso dado à privatização e à veisouatividades porcontapró- senciais do empreendedoris-
reorientação da política social. pria sinalizam dificuldades pa- mo: crédito, conhecimento téc-
Taismudanças,nãoéprecisore- ra as faixas de renda mais baixa nico e capacitação para a ges-
petir, deram-se como resposta manterem o perfil de consumo tão do negócio. O ambiente de
aoprecedentemodelodecresci- ambicionado. Endividando-se negócios é pouco propício ao
mento via substituição de im- além do que lhes permitem os empreendedorismo,comexces-
portações, por um lado, e à ace- recursos de que dispõem, as fa- sivas exigências legais e traba-
leração da globalização, por ou- mílias situadas nesse patamar lhistas. Restrições de crédito e
tro. Esse conjunto de transfor- defrontam-se com um risco de exigências burocráticas penali-
mações alterouprofundamente inadimplência que passa ao lar- zam as pequenas e médias em-
as percepções e estratégias go das famílias da classe média presas e empurram inúmeros Noque se refere à política em
“normais” de ascensão social, estabelecida. trabalhadores por conta pró- sentido mais estrito, constata-
cujo horizonte deixa de ser ape- Nosso estudo revela ser alta, pria para a informalidade. Fa- mos que a classe média inclina-
nasindividualparatornar-seco- por qualquer critério, a propor- tor que também afeta negativa- se pela democracia como a me-
letivo. De fato, milhões de brasi- ção da classe C que teme perder mente o ambiente de negócios é lhorforma de governo, mas par-
leiros passam a experimentar a opadrãode vida atual ounão ter a forte presença governamen- tilha com os demais segmentos
mobilidade social em um con- dinheiro suficiente para se apo- tal, a qual se faz sentir, sobretu- da sociedade um sentimento de
texto de mudança no plano das sentar, preocupações que com- do,pela carga tributária que pe- aversão à política. Em grande
identidades coletivas; de mu- partilhacompelomenosameta- sa sobre a economia. parte, esse sentimento deriva
danças que dizem respeito não de das famílias de menor renda. Outro entrave ao empreen- da percepção de um padrão ge-
apenas a taxas ou padrões indi- Ver-seprivadoderendapelafal- dedorismoéamentalidadeesta- neralizado de corrupção.
viduais de mobilidade, mas ao tadetrabalho,pela perdadoem- tista. Dependentes de iniciati- Existe ampla concordância
próprio sistema de estratifica- prego ou pela liquidação do ne- vas governamentais, os entre- no julgamento sobre a incidên-
ção social. A classe C deixa de gócio próprio constitui preocu- vistados acreditam que o poder cia de corrupção e incompetên-
ser “baixa” e começa a ser “mé- paçãodominanteentreosentre- público deve intervir na econo- cia no governo, com as avalia-
dia”, disputando espaço com os vistados mais pobres. mia, controlando os aumentos ções mais duras originando-se,
estratossituadosimediatamen- de preços e gerindo as ativida- de novo, na classe média. As
te acima dela – ou seja, às clas- des associadas à aposentado- Forças Armadas, o governo, o
ses médias tradicionais. DEMANDA POR BENS ria, à saúde, à educação funda- Judiciário, o Congresso e a polí-
Na análise da ascensão da mental, às universidades e ao CADASTRO – Oscilação da renda familiar entre os mais pobres persiste cia despertam a confiança de
classe C, a questão central é a
E SERVIÇOS PASSOU abastecimento de água. No en- pouco mais de um terço dos en-
da sustentabilidade. Se a “no- A SER TRADUZIDA tanto, mostram-se mais favorá- Peloladodasociedade,arefe- pouco significativo. A maior trevistados.A exceção é o presi-
va” classe média resulta, em COMO CRESCIMENTO veis à iniciativa privada em rida fragilidade ou anomia pode parte dos entrevistados não dente da República, Lula, que
grandeparte, do encurtamento áreas nas quais ela demonstrou serapreendidapormeio do con- participade qualquer organiza- recebe a confiança de mais da
de distâncias sociais em função desempenho superior, como ceito de capital social. O capital ção; entre os que o fazem, a metade dos eleitores menos es-
da difusão do consumo, como No que se refere à educação, bancos e telefonia celular. social da classe média é obvia- maioria limita-se a participar colarizados.
irão seus integrantes gerar a nossosresultados assemelham- Outra dimensão analisada mente superior ao das classes de uma única organização, em Podemos, pois, concluir que
renda necessária para susten- se aos de outras pesquisas na no estudo é a da formação de C, D e E, mas não a ponto de geral de natureza religiosa. a ineficácia do Judiciário e da
tar os novos padrões? Serão medidaemquemostramumele- novos valores e projetos de vi- aproveitaremseuprópriobene- Sobram,portanto,asinstitui- polícia funciona como uma es-
sustentáveis – ou antes, sob que vado índice de valorização da da e sua tradução (ou não) na fício determinadas sinergias há ções públicas na luta contra a pécie de catalisador de elemen-
condições serão sustentáveis – educação formal. Tudo leva a esfera política. De fato, é rele- muitoconhecidasnos paísesde- escalada da transgressão. O tos socioculturais malfazejos,
os índices de expansão do que crer que tal valorização ocorre vante indagar se a classe média senvolvidos. No Brasil, o capital problema é que tais instituições autodestrutivos, anulando em
se tem denominado a “nova emrazãotantode antigasconsi- poderá ser um agente funda- social reside em larga medida – polícia e Judiciário – são alvo grande parte o potencial das fa-
classe média”? derações de status – a herança mental na desejada revisão de nas famílias e no restrito círculo de profunda desconfiança por mílias, comunidades e organi-
Dadaaextremadesigualdade bacharelista – como de fatores valores sociais e fonte de apoio de amigos pessoais. Um ciclo parte dos cidadãos. A descren- zações religiosas na luta contra
no perfil brasileiro de distribui- realistas que atuam em nossa político para frear, quem sabe, possivelmente virtuoso de rela- çanapolíciaencontrainquietan- a transgressão e a criminalida-
ção de renda, os bons e os maus sociedade: a alta taxa de retor- a escalada da transgressão, aí ções em círculos mais amplos te paralelo na percepção de um de. Em outras palavras: a ano-
caminhos bifurcam-se logo no e a necessidade cada vez incluídos tanto os pequenos de- não se realiza, em larga medida, sistema deficiente na aplicação mia que fustiga grande parte
adiante. Por um lado, por si só a maior da educação para o aces- litos e infrações como os cri- pela falta de confiança nos ou- das leis. A maioria dos entrevis- da sociedade brasileira é agra-
megamobilidadesocialaquefize- so a posições mais qualificadas mes hediondos e a corrupção. tros, traço cultural dissemina- tados expressa dúvidas quanto vada e reproduzida pela ane-
mos referência implica redução no mercado de trabalho. Nesse Ideologicamente heterogênea, do e, semdúvida,reforçado pela à imparcialidade do Judiciário, miadas instituiçõesnos três po-
das desigualdades de renda. Por sentido, não é difícil compreen- mas possuidora de recursos po- escalada da criminalidade. por entender que ele tende a be- deres da República. ●
outro, o risco de fracasso é alto, o der o sentimento surpreenden- líticos apreciáveis, poderá ela Participar de organizações é neficiar apenas alguns setores
que significa estagnação e, no li- temente generalizado de insa- vira exercerreal influência nes- uma forma de consolidar capi- da sociedade. A percepção de *Amaury de Souza é doutor em
mite,dependendodecircunstân- tisfação com o nível ou com a se sentido? taissociaiseenriqueceroreper- que os cidadãos não são trata- ciência política pelo
cias macroeconômicas, até re- qualidade da educação, que Para bem compreender es- tóriorelevante para odebate e a dos como iguais perante a lei é Massachusetts Institute
gressão na tendência de melho- atinge 40% das pessoas com ta dimensão, é conveniente vi- ação na esfera pública. Quanto maior na classe média do que of Technology (MIT).
ra na distribuição de renda. curso superior; 59% daquelas sualizá-la como uma série de maior o número de organiza- entrepessoasderendamaisbai- Bolívar Lamounier é doutor em
Deixando de lado a dinâmica com ensino médio; 63% das com pontos de contato entre uma ções em que alguém participa, xa. Decorre daí uma demanda ciência política pela
macroeconômica, que obvia- ensino fundamental; e 69% dos sociedade frágil, desorganiza- maior a confiança nas pessoas generalizada por menor tole- Universidade da Califórnia.
mente transcende os objetivos semiescolarizados. da, em muitos aspectos até anô- (capital social), o que se traduz rância e punições mais severas, O trecho acima foi extraído de
do estudo, concentramos nossa Outro ponto-chave para nos- mica, com um sistema institu- em redes sociais mais extensas a qual está associada à percep- A Classe Média Brasileira –
atençãoemfatoresligadosàmo- sa análise é a questão do em- cional público e privado tam- e mais densas – mais um recur- çãodequeasmencionadasinsti- Ambições, Valores e
tivaçãoeà autocapacitação (de- preendedorismo. Embora a dis- bém eivado de debilidades, que so depoder da classe média.En- tuições não cumprem adequa- Projetos de Sociedade
nominados fatores “weberia- posição a empreender esteja podemos qualificar, sem gran- tre nós, porém, a “arte de asso- damente os papéis de que se (Campus), a ser lançado
nos”)enaformaçãodenovos va- disseminadanasociedade,oem- de exagero, como anêmico. ciar-se” permanece em nível acham investidas. na próxima terça-feira

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