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Eduardo Campolina
A Associação Paranaense de Bonsai, na pessoa de seu presidente Elio Nowacki, conduziu uma entrevista
exclusiva para a revista A Arte Bonsai com o bonsaísta Carlos Tramujas, sobre um assunto importante no
desenvolvimento de nossos bonsai que é a desfolha. Profunda e técnica, representa um importante acréscimo ao
conhecimento de bonsaístas de todos os níveis.
O aumento da ramificação dos galhos é resultado do estimulo das gemas dormentes e que estão presentes nas
axilas das folhas. Quando retiramos as folhas, estimulamos diretamente o desenvolvimento destas gemas e
muitas delas se transformam em novos e pequenos galhos. Para aumentar a probabilidade destas gemas
dormentes se desenvolverem, devemos eliminar a extremidade do galho que foi desfolhado, pois desta forma
inibiremos o seu crescimento apical, estimulando o desenvolvimento dos brotos localizados na parte interior.
Do contrário, se não eliminamos a ponta do broto ou do galho, a força de crescimento irá para sua
extremidade fazendo com que cresça em extensão, desenvolvendo desta forma, folhas ainda maiores o que
inibirá a brotação na parte interna. Devemos lembrar que quanto maior a ramificação secundária e terciária da
árvore, maior será a tendência desta planta em produzir folhas menores.
Utilizamos também a desfolha para favorecer o crescimento em algumas zonas da planta, restringindo ao
mesmo tempo o crescimento em outras partes, para desta forma equilibrarmos o desenvolvimento da planta
como um todo. Se por exemplo, queremos engrossar um galho de um Acer, quando realizamos a desfolha,
eliminamos as folhas de toda a planta, menos do galho que queremos engrossar, desta forma, esta região da
planta continuará crescendo continuamente, enquanto o resto da planta, ficará com o crescimento parado, até
que se inicie a nova brotação. É muito comum utilizarmos este tipo de desfolha quando queremos corrigir o
diâmetro do ápice, quando este é demasiado fino em relação ao restante do tronco.
- Troca das folhas em árvores de folhas
perenes, eliminando as folhas velhas,
danificadas, e com o aspecto feio.
Quando desfolhamos as árvores no verão, podemos aramar sem problemas, primeiro porque a ausência total
de folhas facilita muito a colocação do arame principalmente sem danificar brotos jovens e gemas e segundo
porque o crescimento a partir da nova brotação que muitas vezes ocorrerá no final do verão, já não é tão
intensa, o que propiciará que o arame fique muitas vezes até o final do inverno.
APB: Sabemos que muitas espécies não aceitam a desfolha. Poderia nos exemplificar? E porque?
Carlos Tramujas: Existem duas situações básicas em que não realizamos a desfolha, a primeira delas é quando
a espécie não necessita, ou seja, já apresentam folhas com um tamanho bastante reduzido, como é o caso da
Serissa, do Cotoneaster, ou da Lonicera. Nestes casos a aplicação desta técnica é inviável, primeiro pelo
trabalho exaustivo e depois pelo pequeno resultado obtido. A segunda situação está relacionada com a
dificuldade que algumas espécies apresentam em brotarem após a eliminação total das folhas. Como
experiência pessoal posso comentar que, sem dúvida, podemos aplicar esta técnica na grande maioria das
árvores que são trabalhadas como bonsai, principalmente se aplicamos a técnica de uma maneira correta e
respeitando sempre a integridade da árvore.
Ao longo dos meus anos dedicados à arte do
bonsai, posso dizer que já desfolhei quase
todas as espécies que passaram pelas minhas
mãos, com resultados bastante satisfatórios.
Não posso deixar de comentar sobre as
espécies de coníferas em geral, como o caso
dos Juniperus, Pinus e Chamaecyparis entre
tantas outras, que não aceitam a aplicação da
desfolha, com o risco de perdermos a planta.
Por outro lado, a grande maioria das
caducifólias suporta bem esta técnica, com
desenvolver suas gemas dormentes, tenho aplicado a desfolha com muito sucesso.
Já as pitangas, jabuticabas, e outras mirtáceas toleram perfeitamente a aplicação desta técnica. A conclusão a
que chegamos com relação a esta técnica é que a medida em que adquirimos mais experiência dentro da arte e
desejamos cultivar bonsai com mais intensidade, a desfolha se torna indispensável.
APB: No caso das caducifólias, devemos fazer a desfolha se elas por si próprias não se desfolharem na época
propícia?
Carlos Tramujas: Este já é outro caso. Como comentei anteriormente, podemos ter como referência de melhor
época para realizarmos a desfolha, meados do verão, ou seja, Janeiro e Fevereiro, pois nesta época as árvores
têm reservas suficientes para brotarem, mas não com o mesmo vigor da primavera. Na realidade quando
fazemos a desfolha no verão, induzimos a planta a pensar que está diante de uma nova primavera. No caso da
sua pergunta em específico, realizaremos a desfolha, só que na época de perda normal das folhas, ou seja, na
entrada ou entre o outono. Isto se faz necessário quando cultivamos árvores caducas em regiões onde o inverno
não é rigoroso o suficiente para fazer as plantas entrarem em dormência. Em alguns casos as árvores cultivadas
nestas condições perdem apenas parte das folhas, e o restante deve ser eliminado manualmente. Este processo
ajuda um pouco na adaptação da árvore, mas sem as horas de frio suficientes, dificilmente esta planta se
desenvolverá em sua plenitude, como, por exemplo, apresentando as bonitas colorações outonais.
Carlos Tramujas: A desfolha parcial já foi comentada anteriormente, e é uma das maneiras de estabelecermos
um equilíbrio na harmonia entre todas as zonas da árvore. Podemos utilizá-la para engrossar um primeiro galho,
por exemplo, deixando-o crescer a medida em que desfolhamos o restante da planta, ou mesmo para engrossar
o ápice no caso de uma poda radical com a substituição do líder. O importante a entendermos no caso da
desfolha parcial, é que o elemento da planta que continuar com folhas, seja o galho, o ápice ou mesmo um
pequeno broto, ele será privilegiado em crescimento, em relação ao restante dos elementos que formam a
estrutura da árvore e que foram desfolhados.
Quando falamos em desfolha parcial total da planta, nos referimos na eliminação de uma certa porcentagem da
massa verde, para facilitarmos a ventilação e a entrada do sol, como no caso das Bougainvilleas (Primaveras)
que brotam com muito vigor, formando massas de folhas demasiadamente densas e compactadas. É importante
nestes casos eliminarmos as folhas velhas e grandes e tentarmos fazer com que a copa da árvore respire melhor.
Desta forma também prevenimos que os pequenos brotos situados no interior da árvore não sequem por falta
de luz. Esta operação é considerada mais uma limpeza do que propriamente uma desfolha.
APB: Mesmo considerando que nosso país tem dimensões continentais, Carlos, dá para formular uma regrinha
sobre desfolha com relação às épocas?
Carlos Tramujas: Se entendermos o
processo, podemos realizar a desfolha,
mesmo sem olharmos para o calendário. O
primeiro que devemos observar é que as
folhas estejam realmente maduras, ou seja, no
máximo do seu tamanho natural e
desenvolvimento. O segundo ponto está em
observarmos o crescimento geral da planta. O
momento da desfolha é justamente entre uma
fase de crescimento e outra. Isto pode parecer
confuso, mas é fácil de entendermos se
observamos, por exemplo, o crescimento de
um Acer que começa a se desenvolver com
vigor na primavera, onde os brotos podem
atingir mais de um metro se deixados
crescerem livres.
6 - Maneira correta de cortar as folhas de um Ficus.
Após este período de brotação intensa, a planta para de crescer por um período, como se estivesse descansando,
isto ocorre normalmente no final da primavera e continua até praticamente a metade do verão, onde reinicia seu
crescimento, só que desta vez com menos vigor e intensidade.
O ponto correto para realizarmos a desfolha é momentos antes da planta reiniciar esta segunda fase de
crescimento. No caso do Acer e das caducifólias em geral é mais fácil identificarmos esta situação, mas com
um pouco de prática passaremos também a identificar nas demais espécies. Estes “melhores momentos” é que
definem a quantidade de desfolhas que podem ser realizadas durante o ano, sem estressar demasiadamente as
plantas. As bougainvilleas, por exemplo, podem facilmente ser desfolhadas duas ou até três vezes ao longo do
ano, principalmente em regiões com climas favoráveis e sem invernos definidos. Como regra básica para quem
esta começando, a metade do verão sem dúvida, é o melhor momento. Outro conselho é que comecem apenas
com uma desfolha por ano independente da planta, até conhecerem melhor as espécies com que estão
trabalhando no momento.
Carlos Tramujas: Este é um dos principais comentários a ser feito nesta entrevista. Não adianta de nada
conhecermos as técnicas em profundidade, aplicá-las corretamente, se nossas árvores não tem condições de
suportá-las. A desfolha jamais deverá ser aplicada em plantas debilitadas, fracas ou mesmo doentes, com risco
de perdermos galhos inteiros e até mesmo a planta toda. A recuperação da planta após a eliminação total das
folhas requer uma energia muito grande, portanto devemos antes de fazer a desfolha estarmos atentos para três
pontos importantes:
O primeiro está relacionado com a adubação, pois se adubarmos a planta no momento da desfolha, existe a
probabilidade das folhas novas virem ainda maiores que as anteriores. Para evitarmos esta surpresa é
conveniente realizarmos a ultima adubação duas ou três semanas antes de desfolharmos, sendo que voltaremos
a adubar se for necessário, somente depois do amadurecimento completo das folhas novas.
O segundo ponto diz respeito à aplicação da desfolha na época mais adequada, principalmente em regiões com
estações definidas, com é o caso do sul do Brasil. Se desfolharmos muito tarde nestas regiões, a planta não terá
capacidade de brotar antes de entrar no outono e enfraquecerá bastante.
O terceiro ponto está diretamente relacionado com os cuidados básicos após a desfolha. Não devemos esquecer
que a absorção de água pelas plantas com a ausência total de folhas é muito pequena ou quase nula, portanto é
conveniente também controlarmos a freqüência da rega, deixando que o substrato seque levemente entre uma
rega e outra. Após a brotação, voltaremos a regar de forma normal. O excesso de água no momento da brotação
também poderá aumentar significativamente o tamanho das folhas. O sol é um redutor natural do tamanho das
folhas, portanto o melhor após a desfolha é colocarmos a planta a pleno sol, se por acaso for uma espécie mais
sensível, deveremos protegê-la apenas nas horas mais quentes do dia. Plantas cultivadas em ambientes
sombreados têm naturalmente as folhas maiores do que aquelas cultivadas a pleno sol. Se por acaso temos uma
planta doente ou debilitada, deveremos sempre em primeiro lugar recuperar esta planta, antes de aplicarmos
qualquer tipo de técnica de poda ou de modelagem.
APB: Carlos, muito se fala em desfolha manual ou cortando a folha com tesoura preservando o pecíolo. Poderia
nos esclarecer esse assunto?
Carlos Tramujas: A desfolha com a pinça desfolhadora ou mesmo com a tesoura é muito trabalhosa,
principalmente em árvores grandes e frondosas e muitas vezes durante o processo dá vontade de arrancarmos as
folhas com as mãos para terminarmos de uma vez.
Antes de comentarmos sobre plantas específicas, devemos entender o que nos leva a optar por um método ou
por outro. Sempre o método manual, arrancando as folhas com os dedos será o mais fácil e o mais rápido, mas
para aplicá-lo com segurança, antes devemos observar as gemas dormentes nas axilas das folhas (ponto de
inserção do pecíolo no galho) e fazermos um teste.
Arrancamos algumas folhas isoladamente e observamos o estado em que ficou a gema dormente. Em algumas
situações quando arrancamos uma folha, a gema se destaca do galho e acaba saindo junto com ela, presa ao
pecíolo, em outros casos, apesar da gema permanecer no galho fica muito danificada. Um dos fatores de
extrema importância que ajuda a minimizar estas dificuldades é que sempre devemos levar em conta o sentido
em que arrancamos as folhas e este deverá ser sempre no sentido da extremidade do galho.O Acer palmatum é
uma espécie que devemos desfolhar sempre utilizando a tesoura, pois suas gemas são muito sensíveis. A
maneira correta de fazermos é cortarmos os pecíolos das folhas pela metade, sendo que depois de alguns dias,
estes cairão sozinhos.
No Acer buergerianum, por exemplo, a desfolha pode ser manual, e o que fazemos é fecharmos a mão na base
do galho com uma leve pressão e puxamos em direção a sua extremidade, arrancando desta forma todas as
folhas. Se por acaso não saírem todas, no final do processo repassamos galho por galho eliminando as que
permaneceram, mas sempre prestando a atenção no sentido em que as arrancamos. Com os ficus em geral
podemos proceder da mesma forma, assim como com as jabuticabeiras, pitangueiras, ulmus e muitas outras
espécies.
Um assunto recorrente e sempre cercado de divergências e mistérios, o substrato ideal representa o mais
importante elemento de todas as variáveis relacionadas ao cultivo do bonsai. Em qualquer local onde se agrupem
duas pessoas para conversar sobre bonsai de forma geral ou comentar sobre um indivíduo em especial,
impreterivelmente o assunto virá à tona: “Que solo está usando?”.
Matéria cercada de mistérios e mistificações, volta e meia vemos reclamações e cobranças sobre um consenso,
uma posição definitiva, um ponto final no que se refere ao substrato ideal para o cultivo do bonsai.
Por todo o mundo foram e são publicados verdadeiros tratados com as mais diversas abordagens sobre o tema e
nenhum deles teve, e muito menos este artigo terá a pretensão de ser a publicação definitiva, que revelará o
utópico substrato ideal que poderá ser utilizado com sucesso no cultivo do bonsai em qualquer lugar do mundo.
Um dos primeiros pontos a ser observado num artigo como este é que num país com as dimensões do nosso,
seria no mínimo ingenuidade considerar qualquer relação de solos e substratos baseado unicamente nas
características individuais das espécies vegetais. Qualquer formulação baseada neste conceito se tornará um
problema bastando apenas uma relativa diferença de altitude ou ocorrência de variações microclimáticas entre
regiões surpreendentemente próximas. Maior será a incoerência se considerarmos as diferenças climáticas
existentes entre cada uma das regiões do país.
Os solos de origem japonesa são tidos como os solos ideais para o cultivo do bonsai em todo o mundo pois são
tradicionalmente utilizados naquele país para este fim. No entanto são apenas os solos de melhores
características disponíveis no Japão e de forma alguma devem ser considerados os melhores solos para o
cultivo do bonsai em qualquer outro lugar do mundo em que sejam utilizados. Mesmo no Japão alguns
cultivadores não os utilizam, preferindo utilizar exclusivamente areia granulada como substrato. Com isso
pretendemos demonstrar que o substrato adequado pode e deverá ser extremamente variável, sendo composto
de elementos únicos ou diversos que cumprirão as funções adequadas para a sua região e forma de cultivo, pela
combinação das características físicas e químicas necessárias.
As funções
As características
Podemos concluir desta forma que ao utilizarmos um substrato homogênio de granulometria média em um vaso
de bonsai, as camadas superficiais do substrato, após o escoamento do excesso de água após a rega, secarão
mais rapidamente sob o efeito da evaporação. As partes mais profundas menos expostas ao ar exterior e sem os
efeitos da exposição solar ficarão úmidas por um período maior.
A estratificação objetiva aumentar a perda de líquidos nas camadas mais profundas, onde sua retenção está
privilegiada, e reduzir a desidratação das camadas superficiais, contrapondo os efeitos da desidratação. Só
ocorrerá desidratação das raízes nas camadas profundas quando ocorrer a compactação das camadas
superficiais que impediriam a correta penetração dos líquidos no solo durante a rega, ou pela rega realizada de
forma inadequada. Este último assunto será abordado posteriormente de forma mais profunda.
Existem também os aspectos relacionados ao formato das partículas. Teoricamente, partículas de formato
irregular teriam um melhor efeito na obtenção de ramificação mais fina e sinuosa, pois forçariam por obstrução
física uma mudança mais acentuada na direção de crescimento das raízes e até mesmo sua ramificação que
refletiriam no desenvolvimento dos galhos.