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O Bonsai em Evolução

Eduardo Campolina

Evolução: Desenvolvimento gradual; movimento progressivo; transformação.


Tudo no universo tem como base o desenvolvimento e evolução, mas nada ocorre aos saltos. A
evolução é gradativa, cada melhoria proporciona condições a mais um passo no processo.
Indubitavelmente, é o conceito mais intimamente relacionado à Arte Bonsai, sobre todos os
aspectos. É a base conceitual, pré-requisito e objetivo, agente e resultante.
Em nenhuma outra arte existe tal interdependência na evolução da obra e do criador.
Obra em constante mutação, nunca terminada, obriga um grau de envolvimento e atenção
único por parte do artista. O Bonsai precisa evoluir como ser vivo e como expressão artística
durante toda a sua existência, forçando a evolução do seu criador nas mesmas bases, como
indivíduo e como artista. E quanto maior a evolução do artista, maior a evolução da obra, e
assim sucessivamente.
Todas as formas de expressão artísticas orientais possuem como objetivo principal a evolução
intelectual e espiritual do indivíduo. Através da arte, buscam a elevação e o auto-
conhecimento. Pela representação e compreensão dos elementos naturais e das forças
envolvidas no seu funcionamento, encontram elementos de aprendizado para o crescimento
individual.
O Bonsai carrega uma enorme quantidade de simbolismos e ensinamentos. Enquanto árvore
representa vigor, perseverança, resistência, força e ao mesmo tempo serenidade, tolerância,
flexibilidade, adaptabilidade. Seu cultivo demanda concentração, conhecimento, experiência,
habilidade, paciência, respeito e disciplina. Sua apreciação individualmente ou em conjunto
com outros elementos artísticos relacionados, proporciona beleza e tranqüilidade,
estimulando à meditação.
Nos últimos anos, observamos como fenômeno evolutivo da arte em todo o mundo, uma
preponderância dos elementos técnicos no cultivo do bonsai. A busca pela naturalidade
representativa deu lugar à criatividade artística produzindo obras que, apesar da beleza
inconteste, demonstram claramente a interferência humana. A aplicação de técnicas cada vez
mais elaboradas e o refinamento excessivo resultam muitas vezes numa árvore idealizada, não
representando a real beleza dos exemplares naturais. Isto não quer dizer que para que pareça
natural um bonsai deva crescer com um mínimo de interferência como preconizam alguns sob
o pretexto da naturalidade, mas toda interferência realizada e indispensável no cultivo de
exemplares de qualidade superior, deveria ter ao máximo uma aparência natural.
Felizmente, mais recentemente alguns artistas têm procurado retornar à essência original da
arte. Os bonsai continuam estilizados, mas de forma mais natural especialmente no
refinamento da copa. Novos artistas, principalmente de Taiwan e da Indonésia, mesclam a
orientação filosófica e espiritual do Penjing, com o rebuscamento estético moderno do Bonsai,
produzindo obras de extrema beleza e naturalidade.
No Brasil, notamos uma clara melhoria técnica nos exemplares trabalhados. Gradativamente
tomamos consciência de que o Bonsai representa árvores únicas de beleza ímpar e não
qualquer árvore comum de qualquer esquina. Entretanto nota-se ainda uma inquietante e
prematura preocupação em se criar uma identidade no bonsai nacional. É preciso dar tempo
à evolução natural do artista nacional.
Até por questões culturais, poucos se preocupam com o auto-conhecimento através do bonsai,
preocupando-se apenas com a técnica pura. Como já descrito, o Bonsai provê e depende do
desenvolvimento do artista como tal e como indivíduo.
O Bonsai no Brasil evoluirá quando seu objetivo deixar de ser o abastecimento do ego
individual e tornar-se um meio para a evolução dos indivíduos.
A Desfolha - Uma Entrevista com Carlos Tramujas
Texto: Elio Nowacki - Fotos: Carlos Tramujas

A Associação Paranaense de Bonsai, na pessoa de seu presidente Elio Nowacki, conduziu uma entrevista
exclusiva para a revista A Arte Bonsai com o bonsaísta Carlos Tramujas, sobre um assunto importante no
desenvolvimento de nossos bonsai que é a desfolha. Profunda e técnica, representa um importante acréscimo ao
conhecimento de bonsaístas de todos os níveis.

APB: A desfolha é um dos assuntos que


gera informações controversas. Você acha
que este assunto merece uma melhor
atenção por parte dos bonsaístas?
1 - Desfolhador utilizado para cortar o pecíolo das folhas.
Carlos Tramujas: Acho importante num
primeiro momento definir o termo
“desfolha”, que nada mais é do que a
retirada das folhas de uma árvore através
de métodos mecânicos e manuais ou
químicos. Este processo poderá ser total ou
parcial conforme a necessidade ou o
objetivo que queremos alcançar. O método
manual consiste na eliminação das folhas
com tesouras, pinças desfolhadoras ou até
mesmo as mãos e é o método que
utilizamos usualmente no cultivo do
bonsai. No caso da desfolha química,
utilizam-se certos produtos como, por 2 - Tesoura de cabo longo.
exemplo, a própria uréia em altas
concentrações. É um método para se
trabalhar com um grande volume de
plantas e que deverá ser aplicado sempre
com muito cuidado, dependendo do
produto utilizado e da espécie em questão.
A desfolha sem dúvida é uma das técnicas utilizadas no bonsai que merece muita atenção. Normalmente as
pessoas que estão iniciando na arte, têm um certo receio em realizá-la, até por ainda não terem muita intimidade
com as plantas. Para quem não está familiarizado com o assunto, arrancar todas as folhas de uma árvore pode
parecer um tanto agressivo, além de gerar dúvidas com relação à integridade da planta. Espero poder esclarecer
aqui os principais pontos relacionados com a desfolha.
APB: Quais os principais motivos que devem levar alguém a fazer desfolha?
Carlos Tramujas: Realizamos a desfolha
com as seguintes finalidades:

- Reduzir o tamanho das folhas da árvore.

Um dos objetivos principais da desfolha é


a redução do tamanho das folhas, com a
finalidade de obtermos resultados mais
harmônicos e proporcionais,
principalmente quando trabalhamos com
bonsai de pequeno e médio porte. Como
normalmente a desfolha é feita no verão
onde o vigor da brotação é inferior ao que
ocorre na primavera, as folhas se
desenvolvem naturalmente menores.
Após alguns anos consecutivos utilizando
o método da desfolha é possível
conseguirmos folhas com um tamanho
até vinte vezes inferior ao tamanho das 3 - Uso correto do desfolhador em Acer palmatum. O peciólo da folha deve
folhas de plantas cultivadas no campo, sempre ser cortado pela metade.
por exemplo.

- Aumentar a ramificação dos galhos.

O aumento da ramificação dos galhos é resultado do estimulo das gemas dormentes e que estão presentes nas
axilas das folhas. Quando retiramos as folhas, estimulamos diretamente o desenvolvimento destas gemas e
muitas delas se transformam em novos e pequenos galhos. Para aumentar a probabilidade destas gemas
dormentes se desenvolverem, devemos eliminar a extremidade do galho que foi desfolhado, pois desta forma
inibiremos o seu crescimento apical, estimulando o desenvolvimento dos brotos localizados na parte interior.
Do contrário, se não eliminamos a ponta do broto ou do galho, a força de crescimento irá para sua
extremidade fazendo com que cresça em extensão, desenvolvendo desta forma, folhas ainda maiores o que
inibirá a brotação na parte interna. Devemos lembrar que quanto maior a ramificação secundária e terciária da
árvore, maior será a tendência desta planta em produzir folhas menores.

- Estimular o crescimento de certas regiões da planta, inibindo o desenvolvimento de outras.

Utilizamos também a desfolha para favorecer o crescimento em algumas zonas da planta, restringindo ao
mesmo tempo o crescimento em outras partes, para desta forma equilibrarmos o desenvolvimento da planta
como um todo. Se por exemplo, queremos engrossar um galho de um Acer, quando realizamos a desfolha,
eliminamos as folhas de toda a planta, menos do galho que queremos engrossar, desta forma, esta região da
planta continuará crescendo continuamente, enquanto o resto da planta, ficará com o crescimento parado, até
que se inicie a nova brotação. É muito comum utilizarmos este tipo de desfolha quando queremos corrigir o
diâmetro do ápice, quando este é demasiado fino em relação ao restante do tronco.
- Troca das folhas em árvores de folhas
perenes, eliminando as folhas velhas,
danificadas, e com o aspecto feio.

A desfolha neste caso serve para melhorar a


estética da árvore, e é utilizada no caso de
árvores com folhas perenes, ou seja, que não
perdem as folhas no outono. Os ficus em
geral são um bom exemplo, já que não
perdem as folhas e normalmente no final do
inverno, estas, apresentam um aspecto feito
e amarelado. Nestes casos, é muito
conveniente trocarmos as folhas todas da
árvore, para obtermos uma folhagem nova.

- Acentuar a coloração outonal em árvores de


folhas caducas.
4 - Acer palmatum parcialmente desfolhado.
Um dos motivos pelo qual desfolhamos as árvores de folhas caducas é para acentuar a coloração outonal,
assim como para garantir uma permanência maior das folhas na planta. Se mantivermos as folhas do
crescimento primaveril, muitas vezes ao passar pelo verão as folhas ficam levemente queimadas e quando
chegam no outono, elas secam parcialmente ao invés de assumirem a coloração outonal. Do contrario, se
fazemos a desfolha no verão, as folhas chegam no outono, muito mais bonitas e vigorosas, tendo mais
condições de assimilarem os açucares necessários para a mudança de cor.

- Realizar aramações durante o verão com a finalidade de refinar a estrutura da árvore.

Quando desfolhamos as árvores no verão, podemos aramar sem problemas, primeiro porque a ausência total
de folhas facilita muito a colocação do arame principalmente sem danificar brotos jovens e gemas e segundo
porque o crescimento a partir da nova brotação que muitas vezes ocorrerá no final do verão, já não é tão
intensa, o que propiciará que o arame fique muitas vezes até o final do inverno.

APB: Sabemos que muitas espécies não aceitam a desfolha. Poderia nos exemplificar? E porque?

Carlos Tramujas: Existem duas situações básicas em que não realizamos a desfolha, a primeira delas é quando
a espécie não necessita, ou seja, já apresentam folhas com um tamanho bastante reduzido, como é o caso da
Serissa, do Cotoneaster, ou da Lonicera. Nestes casos a aplicação desta técnica é inviável, primeiro pelo
trabalho exaustivo e depois pelo pequeno resultado obtido. A segunda situação está relacionada com a
dificuldade que algumas espécies apresentam em brotarem após a eliminação total das folhas. Como
experiência pessoal posso comentar que, sem dúvida, podemos aplicar esta técnica na grande maioria das
árvores que são trabalhadas como bonsai, principalmente se aplicamos a técnica de uma maneira correta e
respeitando sempre a integridade da árvore.
Ao longo dos meus anos dedicados à arte do
bonsai, posso dizer que já desfolhei quase
todas as espécies que passaram pelas minhas
mãos, com resultados bastante satisfatórios.
Não posso deixar de comentar sobre as
espécies de coníferas em geral, como o caso
dos Juniperus, Pinus e Chamaecyparis entre
tantas outras, que não aceitam a aplicação da
desfolha, com o risco de perdermos a planta.
Por outro lado, a grande maioria das
caducifólias suporta bem esta técnica, com
desenvolver suas gemas dormentes, tenho aplicado a desfolha com muito sucesso.
Já as pitangas, jabuticabas, e outras mirtáceas toleram perfeitamente a aplicação desta técnica. A conclusão a
que chegamos com relação a esta técnica é que a medida em que adquirimos mais experiência dentro da arte e
desejamos cultivar bonsai com mais intensidade, a desfolha se torna indispensável.

APB: No caso das caducifólias, devemos fazer a desfolha se elas por si próprias não se desfolharem na época
propícia?

Carlos Tramujas: Este já é outro caso. Como comentei anteriormente, podemos ter como referência de melhor
época para realizarmos a desfolha, meados do verão, ou seja, Janeiro e Fevereiro, pois nesta época as árvores
têm reservas suficientes para brotarem, mas não com o mesmo vigor da primavera. Na realidade quando
fazemos a desfolha no verão, induzimos a planta a pensar que está diante de uma nova primavera. No caso da
sua pergunta em específico, realizaremos a desfolha, só que na época de perda normal das folhas, ou seja, na
entrada ou entre o outono. Isto se faz necessário quando cultivamos árvores caducas em regiões onde o inverno
não é rigoroso o suficiente para fazer as plantas entrarem em dormência. Em alguns casos as árvores cultivadas
nestas condições perdem apenas parte das folhas, e o restante deve ser eliminado manualmente. Este processo
ajuda um pouco na adaptação da árvore, mas sem as horas de frio suficientes, dificilmente esta planta se
desenvolverá em sua plenitude, como, por exemplo, apresentando as bonitas colorações outonais.

APB: E a desfolha parcial para incentivar a brotação. Poderia nos esclarecer?

Carlos Tramujas: A desfolha parcial já foi comentada anteriormente, e é uma das maneiras de estabelecermos
um equilíbrio na harmonia entre todas as zonas da árvore. Podemos utilizá-la para engrossar um primeiro galho,
por exemplo, deixando-o crescer a medida em que desfolhamos o restante da planta, ou mesmo para engrossar
o ápice no caso de uma poda radical com a substituição do líder. O importante a entendermos no caso da
desfolha parcial, é que o elemento da planta que continuar com folhas, seja o galho, o ápice ou mesmo um
pequeno broto, ele será privilegiado em crescimento, em relação ao restante dos elementos que formam a
estrutura da árvore e que foram desfolhados.

Quando falamos em desfolha parcial total da planta, nos referimos na eliminação de uma certa porcentagem da
massa verde, para facilitarmos a ventilação e a entrada do sol, como no caso das Bougainvilleas (Primaveras)
que brotam com muito vigor, formando massas de folhas demasiadamente densas e compactadas. É importante
nestes casos eliminarmos as folhas velhas e grandes e tentarmos fazer com que a copa da árvore respire melhor.
Desta forma também prevenimos que os pequenos brotos situados no interior da árvore não sequem por falta
de luz. Esta operação é considerada mais uma limpeza do que propriamente uma desfolha.

APB: Mesmo considerando que nosso país tem dimensões continentais, Carlos, dá para formular uma regrinha
sobre desfolha com relação às épocas?
Carlos Tramujas: Se entendermos o
processo, podemos realizar a desfolha,
mesmo sem olharmos para o calendário. O
primeiro que devemos observar é que as
folhas estejam realmente maduras, ou seja, no
máximo do seu tamanho natural e
desenvolvimento. O segundo ponto está em
observarmos o crescimento geral da planta. O
momento da desfolha é justamente entre uma
fase de crescimento e outra. Isto pode parecer
confuso, mas é fácil de entendermos se
observamos, por exemplo, o crescimento de
um Acer que começa a se desenvolver com
vigor na primavera, onde os brotos podem
atingir mais de um metro se deixados
crescerem livres.
6 - Maneira correta de cortar as folhas de um Ficus.
Após este período de brotação intensa, a planta para de crescer por um período, como se estivesse descansando,
isto ocorre normalmente no final da primavera e continua até praticamente a metade do verão, onde reinicia seu
crescimento, só que desta vez com menos vigor e intensidade.
O ponto correto para realizarmos a desfolha é momentos antes da planta reiniciar esta segunda fase de
crescimento. No caso do Acer e das caducifólias em geral é mais fácil identificarmos esta situação, mas com
um pouco de prática passaremos também a identificar nas demais espécies. Estes “melhores momentos” é que
definem a quantidade de desfolhas que podem ser realizadas durante o ano, sem estressar demasiadamente as
plantas. As bougainvilleas, por exemplo, podem facilmente ser desfolhadas duas ou até três vezes ao longo do
ano, principalmente em regiões com climas favoráveis e sem invernos definidos. Como regra básica para quem
esta começando, a metade do verão sem dúvida, é o melhor momento. Outro conselho é que comecem apenas
com uma desfolha por ano independente da planta, até conhecerem melhor as espécies com que estão
trabalhando no momento.

APB: Planta debilitada ou doente, pode ser desfolhada?

Carlos Tramujas: Este é um dos principais comentários a ser feito nesta entrevista. Não adianta de nada
conhecermos as técnicas em profundidade, aplicá-las corretamente, se nossas árvores não tem condições de
suportá-las. A desfolha jamais deverá ser aplicada em plantas debilitadas, fracas ou mesmo doentes, com risco
de perdermos galhos inteiros e até mesmo a planta toda. A recuperação da planta após a eliminação total das
folhas requer uma energia muito grande, portanto devemos antes de fazer a desfolha estarmos atentos para três
pontos importantes:

O primeiro está relacionado com a adubação, pois se adubarmos a planta no momento da desfolha, existe a
probabilidade das folhas novas virem ainda maiores que as anteriores. Para evitarmos esta surpresa é
conveniente realizarmos a ultima adubação duas ou três semanas antes de desfolharmos, sendo que voltaremos
a adubar se for necessário, somente depois do amadurecimento completo das folhas novas.

O segundo ponto diz respeito à aplicação da desfolha na época mais adequada, principalmente em regiões com
estações definidas, com é o caso do sul do Brasil. Se desfolharmos muito tarde nestas regiões, a planta não terá
capacidade de brotar antes de entrar no outono e enfraquecerá bastante.

O terceiro ponto está diretamente relacionado com os cuidados básicos após a desfolha. Não devemos esquecer
que a absorção de água pelas plantas com a ausência total de folhas é muito pequena ou quase nula, portanto é
conveniente também controlarmos a freqüência da rega, deixando que o substrato seque levemente entre uma
rega e outra. Após a brotação, voltaremos a regar de forma normal. O excesso de água no momento da brotação
também poderá aumentar significativamente o tamanho das folhas. O sol é um redutor natural do tamanho das
folhas, portanto o melhor após a desfolha é colocarmos a planta a pleno sol, se por acaso for uma espécie mais
sensível, deveremos protegê-la apenas nas horas mais quentes do dia. Plantas cultivadas em ambientes
sombreados têm naturalmente as folhas maiores do que aquelas cultivadas a pleno sol. Se por acaso temos uma
planta doente ou debilitada, deveremos sempre em primeiro lugar recuperar esta planta, antes de aplicarmos
qualquer tipo de técnica de poda ou de modelagem.

APB: Cronologicamente, desfolha,


aramação, poda de raízes e transplante
podem ser feitos num mesmo momento?

Carlos Tramujas: Podem em algumas


espécies, desde que sejam previamente
preparadas para agüentar isso tudo de
uma só vez. Como a maioria das
desfolhas são realizadas em pleno verão,
este sem dúvida não seria o melhor
momento para transplantarmos, mas o
que podemos fazer sem dúvida é passar
um bom arame. As espécies de Ficus em
geral toleram a aplicação destas
operações simultaneamente. Na Espanha,
onde trabalhei, os Ficus eram
desfolhados, aramados e transplantados
de uma só vez e durante o pleno verão.
Os motivos principais são, que a
brotação da primavera como é mais
intensa resultava em brotações muito 7 - Galho de Ficus desfolhado. A extremidade dos ramos deverá sempre ser
vigorosas e, portanto com folhas muito eliminada para estimular a brotação nas zonas internas dos galhos.
grandes.
Outra coisa é que ajudava também a aliviar um pouco o excesso de tarefas com as demais espécies na entrada
da primavera. As técnicas de desfolha e aramação quase sempre devem caminhar juntas, uma complementando
a outra.

APB: Carlos, muito se fala em desfolha manual ou cortando a folha com tesoura preservando o pecíolo. Poderia
nos esclarecer esse assunto?

Carlos Tramujas: A desfolha com a pinça desfolhadora ou mesmo com a tesoura é muito trabalhosa,
principalmente em árvores grandes e frondosas e muitas vezes durante o processo dá vontade de arrancarmos as
folhas com as mãos para terminarmos de uma vez.

Antes de comentarmos sobre plantas específicas, devemos entender o que nos leva a optar por um método ou
por outro. Sempre o método manual, arrancando as folhas com os dedos será o mais fácil e o mais rápido, mas
para aplicá-lo com segurança, antes devemos observar as gemas dormentes nas axilas das folhas (ponto de
inserção do pecíolo no galho) e fazermos um teste.

Arrancamos algumas folhas isoladamente e observamos o estado em que ficou a gema dormente. Em algumas
situações quando arrancamos uma folha, a gema se destaca do galho e acaba saindo junto com ela, presa ao
pecíolo, em outros casos, apesar da gema permanecer no galho fica muito danificada. Um dos fatores de
extrema importância que ajuda a minimizar estas dificuldades é que sempre devemos levar em conta o sentido
em que arrancamos as folhas e este deverá ser sempre no sentido da extremidade do galho.O Acer palmatum é
uma espécie que devemos desfolhar sempre utilizando a tesoura, pois suas gemas são muito sensíveis. A
maneira correta de fazermos é cortarmos os pecíolos das folhas pela metade, sendo que depois de alguns dias,
estes cairão sozinhos.

No Acer buergerianum, por exemplo, a desfolha pode ser manual, e o que fazemos é fecharmos a mão na base
do galho com uma leve pressão e puxamos em direção a sua extremidade, arrancando desta forma todas as
folhas. Se por acaso não saírem todas, no final do processo repassamos galho por galho eliminando as que
permaneceram, mas sempre prestando a atenção no sentido em que as arrancamos. Com os ficus em geral
podemos proceder da mesma forma, assim como com as jabuticabeiras, pitangueiras, ulmus e muitas outras
espécies.

APB: Bem, acho que tivemos uma verdadeira


aula sobre desfolha que, com certeza, estará
ajudando em muito a todos nós praticantes
dessa nobre arte. Muito obrigado Carlos.

Carlos Tramujas: Gostaria de aproveitar a


oportunidade para dar os parabéns ao
Eduardo Campolina pela belíssima iniciativa
de divulgar a arte do bonsai através desta
revista digital. Espero em outros momentos
poder voltar a dar a minha contribuição.

8 - Acer palmatum. A desfolha ajuda a acentuar o coloração outonal.


9 - Exemplar de Acer palmatum no final do verão após a desfolha. 10 - Mesmo exemplar de Acer palmatum no final do outono.

Substrato do Bonsai - O Artigo Definitivo


Eduardo Campolina

Um assunto recorrente e sempre cercado de divergências e mistérios, o substrato ideal representa o mais
importante elemento de todas as variáveis relacionadas ao cultivo do bonsai. Em qualquer local onde se agrupem
duas pessoas para conversar sobre bonsai de forma geral ou comentar sobre um indivíduo em especial,
impreterivelmente o assunto virá à tona: “Que solo está usando?”.
Matéria cercada de mistérios e mistificações, volta e meia vemos reclamações e cobranças sobre um consenso,
uma posição definitiva, um ponto final no que se refere ao substrato ideal para o cultivo do bonsai.
Por todo o mundo foram e são publicados verdadeiros tratados com as mais diversas abordagens sobre o tema e
nenhum deles teve, e muito menos este artigo terá a pretensão de ser a publicação definitiva, que revelará o
utópico substrato ideal que poderá ser utilizado com sucesso no cultivo do bonsai em qualquer lugar do mundo.

O assunto será objeto de diversos artigos


futuros que discorrerão de forma objetiva e
desmistificada sobre as principais
características desejadas em um substrato
adequado ao cultivo do bonsai, baseado em
informações obtidas de diversas publicações,
algumas de caráter cientifico, outras
especializadas, como também na troca de
experiências adquiridas em alguns anos de
erros e acertos na busca não de um substrato
ideal, mas de elementos para a formação de
substratos adequados, com ótimas respostas
nas diversas fases do cultivo e de fácil
obtenção. Amoreira em substrato 100% caqueira (telha e tijolos triturados).

Um dos primeiros pontos a ser observado num artigo como este é que num país com as dimensões do nosso,
seria no mínimo ingenuidade considerar qualquer relação de solos e substratos baseado unicamente nas
características individuais das espécies vegetais. Qualquer formulação baseada neste conceito se tornará um
problema bastando apenas uma relativa diferença de altitude ou ocorrência de variações microclimáticas entre
regiões surpreendentemente próximas. Maior será a incoerência se considerarmos as diferenças climáticas
existentes entre cada uma das regiões do país.

Todo entusiasta que pretenda ingressar no


cultivo do bonsai, independente do número de
exemplares escolhidos, deve buscar desde o
princípio de sua instrução adquirir
conhecimentos que o habilitem a produzir de
forma satisfatória o substrato adequado à sua
condição climática e principalmente à sua
disponibilidade no cuidado diário de suas
plantas.

Logicamente não é o mais indicado ao


principiante, sob pena de cometer erros fatais
Celtis cultivada em composto predominatemente de caqueira, com pouco
pela falta de experiência, produzir seu pedrisco e um mínimo de matéria orgânica.
primeiro substrato sem nenhuma orientação
ou conhecimento prático prévio. Mas apoiado
principalmente na experiência de bonsaístas
mais experientes da mesma região, deverá o
quanto antes procurar compreender pelo
menos o comportamento físico dos elementos
constituintes dos substratos disponíveis.

Os solos de origem japonesa são tidos como os solos ideais para o cultivo do bonsai em todo o mundo pois são
tradicionalmente utilizados naquele país para este fim. No entanto são apenas os solos de melhores
características disponíveis no Japão e de forma alguma devem ser considerados os melhores solos para o
cultivo do bonsai em qualquer outro lugar do mundo em que sejam utilizados. Mesmo no Japão alguns
cultivadores não os utilizam, preferindo utilizar exclusivamente areia granulada como substrato. Com isso
pretendemos demonstrar que o substrato adequado pode e deverá ser extremamente variável, sendo composto
de elementos únicos ou diversos que cumprirão as funções adequadas para a sua região e forma de cultivo, pela
combinação das características físicas e químicas necessárias.

As funções

O substrato precisa cumprir diversas funções no vaso


de bonsai. Fornecer sustentação às raízes,
proporcionar a retenção de água e nutrientes,
promover aeração e drenagem adequadas e,
dependendo do objetivo, acelerar ou retardar o
crescimento das raízes. Algumas destas funções que
são aparentemente contraditórias como a retenção de
água e aeração, poderão ser cumpridas pela
associação de diversas propriedades físicas num
mesmo elemento.
Composto formado por pedrisco de granito e cerâmica triturados
Assim, um elemento que possui boa capacidade de retenção de água em sua estrutura fornecerá a adequada
retenção de água e nutrientes para a utilização pelas raízes ao longo do dia. Se este mesmo elemento for
utilizado em uma granulometria específica, o espaço formado entre os grãos eliminará a água rapidamente,
sendo preenchido por ar, fornecendo oxigênio para estas mesmas raízes.

As características

Dentre todas as características físicas e


químicas necessárias a um bom substrato, as
características físicas são as que teremos maior
dificuldade em alterar rapidamente, sem a
necessidade de grandes intervenções. Na
verdade isto só será possível pela troca parcial
ou total do substrato. Assim cuidaremos
primeiro das propriedades físicas.

A primeira característica a ser observada num


componente do substrato para bonsai é a
Pinus em cascalho de minério de ferro
dureza ou resistência à degradação física. O
substrato do bonsai é mantido no vaso por um
período relativamente longo, freqüentemente
por no mínimo um ano.
Pela ação principalmente da rega, as partículas do solo são gradativamente fragmentadas, reduzindo assim sua
granulometria inicial. A redução da granulometria reduz o espaço formado entre as partículas aumentando a
retenção de água, e como conseqüência diminuindo o oxigênio disponível para as raízes. Utilizando um
substrato resistente à degradação, minimizamos ou eliminamos a ocorrência deste problema no decorrer dos
anos e aumentamos o tempo de permanência do substrato sem a necessidade de transplante.

O elemento de maior resistência mais utilizado


em nossos compostos é a areia granulada.
Virtualmente indestrutível pela ação normal
dos elementos atuantes em nossos vasos, pode
ser utilizada pura, fornecendo até mesmo uma
retenção ideal de água, de acordo com a
granulometria utilizada. Na outra ponta o solo
comum deve ser utilizado com cautela pois
dependendo de sua constituição, fragmentam-
se rapidamente, compactando o solo. Esta
compactação, além de reduzir a aeração e
conseqüentemente o oxigênio disponível,
impede a adequada penetração de água no
solo, provocando a morte das raízes e
Composto formado em 100% por pedrisco triturado conseqüente perda de galhos.

Um outro elemento perigoso especialmente ao


iniciante e que é indiscriminadamente
disseminado pelo Brasil é a utilização da terra
de cupim. A sua resistência é extremamente
variável, e apesar de funcional em alguns
casos, depende da composição do solo em que
foi construído, idade do cupinzeiro e do
tratamento dado antes da utilização.

Aqui ainda devemos chamar a atenção para um


outro elemento bastante utilizado e que pode
ser extremamente danoso no vaso de bonsai. À
primeira vista a argila expandida, natural ou
fragmentada, pode parecer o elemento ideal. A
experiência demonstra e foi comprovado
cientificamente que a argila expandida é
Substrato compactado
prejudicial ao desenvolvimento das raízes, fato
que será explicado com detalhes
posteriormente.
O composto formado pela fragmentação de tijolos e telhas cerâmicas, comumente chamada caqueira ou tijolito,
vem sendo considerado um dos melhores elementos para utilização como substrato de bonsai. No composto
praticamente não sofre degradação, mantendo sua granulometria estável por muitos anos.
A cacidade de retenção de líquidos é outra característica buscada nos nossos compostos.
Apesar da possibilidade desta propriedade ser contornada
pela adequação da granulometria das partículas mesmo
em compostos sem nenhuma capacidade de
armazenamento de líquidos, como no caso da areia e
pedriscos, em alguns casos é desejado um composto de
partículas maiores favorecendo o desenvolvimento das
raízes e acelerando o desenvolvimento do bonsai. Neste
caso um composto formado por pedriscos grossos
tenderia a secar rapidamente, podendo representar um
problema adicional. Idealmente a partícula deveria
possuir de forma equilibrada a afinidade por líquidos,
absorvendo e saturando-se rapidamente quando o meio
estiver com líquidos disponíveis, e liberando com
facilidade para o interstício (espaços entre as partículas) a
medida que o mesmo perde umidade. Os compostos
orgânicos como a compostagem, esterco e turfa possuem
a maior capacidade de absorção e retenção de líquidos
mas falham na habilidade em liberar o mesmo, retendo a
umidade por longos períodos. A terra argilosa possui de
forma razoavelmente equilibrada as duas propriedades de
armazenamento e liberação de líquidos mas a medida que
vai se degradando, tende a reter mais líquido pela
redução do espaço intersticial, favorecendo o efeito de
Pinus plantado na areia para a recuperação das raízes
capilaridade.
Além disso as finas partículas formadas pela degradação agregam-se novamente em partículas maiores e
compactas que dificultam a penetração da água. Mais uma vez a caqueira cerâmica apresenta a maior facilidade
tanto na retenção quanto na liberação de líquidos de acordo com a variação da umidade do meio.

Outra característica física importante mas


relacionada ao composto como um todo e não
apenas aos elementos individuais utilizados em
sua composição é a granulometria das
partículas. Em termos gerais são utilizadas
partículas de granulometria entre 1 e 5 mm de
diâmetro. Esta grande variação apresenta
objetivos diversos tanto na retenção de
líquidos do composto quanto na taxa de
crescimento das raízes. Um composto de grãos
mais finos entre 1 e 2 mm, apresenta menores
espaços intersticiais, favorecendo a retenção de
líquidos no interstício pelo maior efeito capilar
entre as partículas e vice versa. Em relação ao
crescimento das raízes, um substrato composto
por partículas mais grossas possui
conseqüentemente maior espaço entre as
Prunus em substrato de cerâmica triturada grossa
partículas para um crescimento mais livre
das raízes, resultando num desenvolvimento mais rápido da árvore como um todo. Assim partículas grossas são
utilizadas em árvores jovens ou nas que necessitamos de um desenvolvimento mais acelerado. De forma oposta
um substrato de partículas finas fornece uma barreira mecânica ao desenvolvimento das raízes, retardando o seu
crescimento.
Estratificação do Substrato.

Estratificação do substrato consiste na formação de camadas de diferentes granulometrias de substrato no vaso


de bonsai. Esta estratificação segue um padrão em que o substrato mais grosso fique no fundo do vaso, o
intermediário no meio e o fino próximo à superfície. Nunca é demais lembrar que partículas menores que 1mm
(pó) não são utilizadas. Este padrão é utilizado por muitos anos nos mais antigos bonsai do mundo, com ótimos
resultados. Recentemente este padrão vem sido questionado. Uma das alegações que justificariam este
questionamento seria de que o substrato grosso do fundo do vaso secaria rapidamente, provocando a
desidratação das raízes nesta região. Outra alegação seria de que o efeito capilar formado pela estratificação
teria efeito contrário ao favorecimento da drenagem desejada no vaso do bonsai, mantendo o substrato mais
úmido que o desejado. Utilizando duas propriedades presentes no substrato estratificado, apontam causas
diferentes e contraditórias para justificar a sua não utilização.Vamos então analisar estas propriedades levando
em consideração algumas peculiaridades do cultivo do bonsai.

O vaso do bonsai tem um formato característico que interfere


fortemente no comportamento dos líquidos no substrato que
contém. A altura do vaso em relação às suas demais
dimensões reduz a influenciada da gravidade no
favorecimento da drenagem, especialmente quando optamos
por um substrato de granulometria menor, proporcionando
uma maior homogeneidade na distribuição vertical dos
líquidos. Em contrapartida, a maior área de exposição na
Formato tradicional do vaso de bonsai superfície do vaso, faz com que a região superficial perca
líquidos de forma acelerada, secando primeiro que as camadas
inferiores.

Podemos concluir desta forma que ao utilizarmos um substrato homogênio de granulometria média em um vaso
de bonsai, as camadas superficiais do substrato, após o escoamento do excesso de água após a rega, secarão
mais rapidamente sob o efeito da evaporação. As partes mais profundas menos expostas ao ar exterior e sem os
efeitos da exposição solar ficarão úmidas por um período maior.

Como nos baseamos no aspecto visual do


substrato na superfície para determinar o
importante momento da rega, as camadas
profundas serão mantidas constantemente
encharcadas num substrato como este.

A granulometria utilizada para favorecer a


drenagem e consequente aeração do substrato,
não permite a formação de um efeito capilar
eficiente a ponto de contrapor a ação
gravitacional e criar um fluxo de líquidos das
camadas mais profundas em direção às
camadas mais superficiais, fluxo esse que
poderia manter a homogeneidade da umidade
Formação de raízes em solo estratificado nas diferentes camadas.

A estratificação objetiva aumentar a perda de líquidos nas camadas mais profundas, onde sua retenção está
privilegiada, e reduzir a desidratação das camadas superficiais, contrapondo os efeitos da desidratação. Só
ocorrerá desidratação das raízes nas camadas profundas quando ocorrer a compactação das camadas
superficiais que impediriam a correta penetração dos líquidos no solo durante a rega, ou pela rega realizada de
forma inadequada. Este último assunto será abordado posteriormente de forma mais profunda.

Existem também os aspectos relacionados ao formato das partículas. Teoricamente, partículas de formato
irregular teriam um melhor efeito na obtenção de ramificação mais fina e sinuosa, pois forçariam por obstrução
física uma mudança mais acentuada na direção de crescimento das raízes e até mesmo sua ramificação que
refletiriam no desenvolvimento dos galhos.

Aguardem os artigos subseqüentes complementares em edições futuras.

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