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Temas que acontecem:

operações entre jornalismo


de revista e qualidade de vida

Frederico de Mello Brandão Tavares

OS JORNALISMOS E SUAS CO-INCIDÊNCIAS


Quando se fala em jornalismo recorre-se, frequentemente, à associação de duas
noções: atualidade e periodicidade. Ambas são responsáveis pela existência de uma definição
corrente para a prática jornalística que é a de cobertura e vigilância regular sobre os acontecimentos
do mundo. Diz-se por jornalismo como o “fazer notícias” e, por jornalistas, como aqueles que
olham para o mundo em busca do novo, da novidade.
No âmbito do jornalismo diário e semanal, podemos falar mais usualmente em notícias. Não só pela
dimensão e repercussão que se propõe para a cobertura cotidiana dos fatos, mas pela própria
dinâmica espaço-temporal que envolve a sua produção. Tanto no que diz respeito às características
dos veículos que a realizam, quanto ao teor e ao tipo de assuntos a serem tratados.
No entanto, quando avançamos sobre outras formas concretas (materiais e
discursivas) de atuação jornalística, é preciso entender o jornalismo para além das notícias. Não no
que estas estruturam, desvelando-as, mas naquilo que é jornalístico sem ser “propriamente
noticioso”. Além de ser uma “uma palavra especializada sobre o mundo”, como nos ressalta França
(1998)1, por estar inserido num dispositivo institucional e discursivo, o jornalismo é também
segmentado. Tanto tematicamente (por voltar-se para campos distintos de conteúdo, organizando
através deles a vida social), quanto tecnologicamente (variando e singularizando-se de um veículo
para o outro).
Baseado neste contexto, este artigo pergunta sobre as especificidades que marcam o
encontro do jornalismo especializado de revista com a temática da qualidade de vida na sociedade.
Dirigimos nosso foco para a revista Vida Simples, representante hoje, na mídia impressa nacional,
de um “sofisticado” tipo de jornalismo voltado para o bem-viver.
Partimos da ideia de que a qualidade de vida, tema muito presente no contexto da
mídia contemporânea, ao ser trabalhada pelo jornalismo especializado de revista, conduz este

1
Outra autora que lida com essa noção é Mar de Fontcuberta (1993: 123): “La especificidad de la profesión de
periodista pasa asimismo por convertirse en un verdadero especialista con capacidad para seleccionar, valorar y
comunicar con rapidez el contingente de informaciones generadas en las diferentes áreas de conocimiento de la realidad
social que configuran hoy la información periodística”.

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jornalismo para uma apropriação de temporalidades mais extensas, de grandes conjunturas sociais e
subjetivas, alterando e configurando uma outra relação do jornalismo com o principal referente da
produção noticiosa: o acontecimento.
Em Vida Simples, a temática da qualidade de vida aparece “temporalizada” como
algo que acontece, que não é um assunto estático do qual se elege um aspecto para o relato
jornalístico. Nesse sentido, os relatos (visuais e textuais) produzidos pela cobertura do bem-estar na
sociedade parecem não estar apenas enquadrados jornalisticamente, mas revestir o próprio
jornalismo de outros enquadramentos. Um incidindo sobre o outro.

O JORNALISMO E A QUALIDADE DE VIDA NA SOCIEDADE:


UM CIRCUITO MIDIÁTICO
A preocupação com a qualidade de vida não é algo novo na história humana e social.
Desde as antigas civilizações estabeleceram-se formas e padrões de vida cujos enfoques tinham,
entre muitos objetivos, formatar um padrão de vida condizente com valores e questões materiais
ligadas a determinados contextos e culturas. De um ponto vista antropológico, podemos dizer que o
bem-viver está diretamente relacionado ao ethos de uma sociedade (Geertz, 1989).
No âmbito científico, as Ciências Humanas e Sociais em geral têm revelado, ao
longo do tempo, como hábitos, manifestações simbólicas e discursivas são reveladores de anseios
sobre o bem-estar coletivo e individual, marcando o “espírito do tempo” de certa época e local,
deixando à mostra suas temporalidades e espacialidades.
Nesse sentido, compreender a qualidade de vida na atualidade significa saber
contextualizá-la de acordo com aspectos espaciais e temporais que constituem a sociabilidade
contemporânea. Segundo Michel Maffesoli (2003), haveria hoje uma inversão na polaridade
temporal que confere presença à vida, valorizando-se o presente. Estaríamos na “passagem de um
tempo monocromático, linear, seguro, o do projeto, a um tempo policromático, trágico por essência,
presenteísta e que escapa ao utilitarismo do cômputo burguês” (Maffesoli, 2003, p.9). Um tempo de
uma mudança cultural, cujo eixo encontra-se na valorização do instante, fazendo deste,
paradoxalmente, um instante eterno.
Neste cenário, como lembram outros autores2, passam a atuar, a partir das
instituições, uma série de discursos terapêuticos que visam a intermediar a busca pelo
restabelecimento de certa normalidade para os indivíduos e a coletividade em geral.3 Como se

2
Bauman, 1998, 2001, 2007a, 2007b; Giddens, 1991, 2002; Lipovetsky, 2004; Rüdiger, 1996.
3
Berger e Luckmann (2004) relembram o conceito de “instituições intermediárias” de Durkheim e dizem caber a estas o
papel de mitigar os aspectos negativos da modernização (alienação, anomia) ou de colaborar na superação das crises de
sentido que possam surgir. Exemplos desses atores seriam: uma comunidade eclesial, um grupo psicoterapêutico, ou
uma Secretaria de Estado de Bem-Estar.

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aponta, no complexo quadro de crise daí formado, surgem novas variáveis que demandam ações de
diversos atores institucionais. Estes passam a veicular e publicizar “opiniões bem pensantes”, “[...]
todas tingidas de um moralismo distinto que indica o que se tem de pensar, dizer ou fazer [...]”
(Maffesoli, 2003, p.14).
Um destes atores – relevante em representatividade e poderio político, econômico e
simbólico – é justamente a mídia. Procurando atuar na orientação do comportamento e na
formatação de maneiras “corretas e saudáveis” de viver o presente, os meios de comunicação
parecem adquirir uma força centrípeta no que diz respeito à abordagem crível de uma quantidade
relativa de assuntos sobre comportamento, consumo etc.
Neste contexto, no entanto, se nos voltamos para o jornalismo, esmiuçando suas
particularidades e seus diferentes tipos de materializações, bem como suas relações com audiências
específicas, este viés terapêutico torna-se uma ferramenta insuficiente para pensarmos a relação que
a mídia assume com discursos sobre o bem-viver na sociedade. Isto porque, além de dizer e pontuar
certas normatizações, o próprio contexto midiático formado nesta relação sugere novas
compreensões. Mais que olhar (apenas) para os significados de qualidade de vida estampados e
construídos no/pelo jornalismo, torna-se necessário observar como este último encontra-se acionado
pela temática por ele abordada, ao mesmo tempo em que se dirige a ela. Um circuito que denota, de
certa forma, a complexidade do processo de midiatização aí envolvido, apontando para maneiras
específicas de se pensá-lo.

O JORNALISMO ESPECIALIZADO DE REVISTA


E A QUALIDADE DE VIDA
A partir do cenário acima traçado, se nos voltamos para o jornalismo especializado
de revista, uma questão central do fazer jornalístico coloca-se em cheque. Por voltar-se
principalmente para uma cobertura temático-especializada sobre a vida social, este jornalismo
desvincula-se do extra-ordinário da vida social e elabora outras formas de leitura sobre o cotidiano.
O fazer “revistativo” (Tavares, 2008) das publicações de periodicidade mais ampla muda a lógica
“propriamente noticiosa” e inaugura outros processos. O que não quer dizer, entretanto, que seu
eixo jornalístico se perca do seu referente principal, o acontecimento. Este passa a ser visto e
constituído de outra forma.
As revistas (principalmente aquelas que direta ou indiretamente tratam do
comportamento humano), por elegerem temas e nichos de mercado para sua atuação, tentando
abarcar certos padrões culturais que permeiam a sociedade (Mira, 2001, 2004), mapeiam aspectos
de temporalidades e espacialidades sociais que correspondem não a questões propriamente factuais,
mas a uma conjuntura.

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Neste contexto, entre as publicações brasileiras, destacamos um periódico específico:
a revista Vida Simples (Editora Abril). Diferentemente de outras publicações que tratam da temática
da qualidade de vida, sua temporalidade diz, explicitamente, muito mais de um “espírito do tempo”
do que de um fato isolado, algo corrente no jornalismo. Mais que “matérias frias” ou “de gaveta” –
para usar o jargão jornalístico –, suas formas discursivas lidam (de forma mais explícita) com
tópicos que permeiam temporalidades sociais e individuais mais extensas que, para além do assunto
propriamente dito, dizem respeito também à interpretação de questões intersubjetivas e, muitas
vezes, mais abstratas.
No caso desta publicação, os “acontecimentos” referem-se a contextos muito mais
amplos, cujos tempos e espaços se constituem por situações e conceitos que são enquadrados
jornalisticamente de acordo com parâmetros de público, circulação e de entretenimento. Todos estes
direcionadores do perfil da revista. Em Vida Simples, a qualidade de vida encontra-se materializada
em textos e construções gráficas norteados por “grandes temas” (Amor, Tranquilidade, Maturidade,
Confiança, Amizade, Religiosidade etc)4 que se configuram como os grandes referentes da
publicação, “acontecendo” na realidade social e “fazendo acontecer” uma cobertura jornalística
diferenciada.

A REVISTA VIDA SIMPLES


“Nosso lema é ‘Para quem quer viver mais e melhor’. O que significa isso?” A frase
e a pergunta do redator-chefe de Vida Simples presentes na carta enviada aos assinantes da revista
junto à edição extra de dezembro de 2007 (nº 61) – cuja matéria de capa diz “Não deixe a peteca
cair” – são simbólicas para se pensar a questão que perpassa este artigo. Se para a revista o
significado do bem-viver aparece, mensalmente, construído em suas páginas, para nós, e de outra
forma, este mesmo significado, aquele que se pode buscar, presentifica-se na “construção do que é
construído”. Ou seja, nos processos midiáticos e jornalísticos que são enredados por (e em) Vida
Simples a partir de sua temática-chave, a qualidade de vida.
Nesse sentido, e relevando “o que significa isso” (essa qualidade de vida...), cabe
uma outra pergunta: como pensar a “grande temática” de Vida Simples no que nela há de operador?
Melhor dizendo: como pensá-la a partir de suas operações e seus arranjos no que diz respeito ao
jornalismo que para ela é feito e “por ela” engendrado?
Avançando sobre estas questões, uma trama conceitual e investigativa parece se
formar. Se observamos a revista e tomamos a qualidade de vida como o resultado da justaposição de
uma série de eventos presentes no cotidiano da sociedade contemporânea5, temas e acontecimentos

4
Ver http://vidasimples.abril.com.br.
5
Sobre o conceito de qualidade de vida, ver Coimbra (1972).

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parecem “promover”, em sua junção (tema + acontecimento) e materialização (na revista), a
“fundação” de um certo bem-viver que, além de referente jornalístico – da publicação que tomamos
por objeto –, se torna articulador de várias de suas operações.
Os temas6 elencados pelo redator-chefe na carta ao assinante – acima citada –
parecem configurar um conjunto de fragmentos que fazem emergir, em sua precipitação sobre a
superfície da publicação, a leitura de uma “conjuntura acontecimental” de nosso mundo hodierno,
urbano e diverso. É como se na fala da revista (e de seu redator-chefe) despontassem valores e
hábitos que compõem um sentido para uma simplicidade a ser vivida (o viver bem, “em resumo”),
mas em seu conjunto, ou pela lógica que envolve o mesmo, houvesse algo “maior”, “menos
simples”, jornalisticamente complexo.
Em entrevista realizada em setembro de 2008 com Leandro Sarmatz, redator-chefe
da publicação7, este afirmou que se observamos a trajetória editorial de Vida Simples, os “grandes
temas” da revista8 – correspondentes às suas matérias de capa – são indicativos de uma
compreensão de cerca de 50% de seu conteúdo. Segundo Sarmatz, as matérias das outras seções,
como a seção “Comer”, por exemplo (uma seção que embora “esporádica”, está presente em 86%
das edições já publicadas), focam também temas que compõem, de forma significativa, a “qualidade
de vida” proposta pelo periódico.
Como aponta o redator-chefe, os “grandes temas” tinham por propósito original (nas
primeiras edições da revista8) “explicar o que era um assunto, um comportamento”. Posteriormente,
mais que explicar, dizendo apenas o que é, a revista passou a “desconstruir algumas questões,
tentando entendê-las de forma mais elaborada”.9 Segundo Sarmatz, adotou-se um viés de cobertura
orientado para a problematização sobre um certo tema. O amor, por exemplo (edição nº 24, janeiro
de 2005), foi assim “desconstruído”: existe amor, e se existe o que é, e se não existe, por quê? O
que é paixão, quando o amor é paixão? Quando que a paixão vira amor?10
Dessa fase “desconstrutiva”, diz Sarmatz, a revista caminhou para um certo
equilíbrio entre a “informação útil” e a “desconstrução”. O que significaria, a nosso ver (e de fato),
uma maior definição entre o que cabe às suas seções (antes e hoje): mais serviço ou mais
comportamento, respectivamente. Além disso, um outro fator acrescentou a esse binômio (utilidade
– desconstrução) uma melhor definição editorial (o que, segundo Sarmatz, marca a atual 3ª fase da
6
A “saúde mental e física”, os “relacionamentos genuínos entre todos os seres”, o “cultivo à amizade”, “o respeito à
cidade e à natureza, em qualquer momento, seja no inverno, seja no verão”.
7
Entrevista realizada em setembro de 2008 em Porto Alegre (RS).
8
A denominação “Grandes Temas” é dada pela própria revista. Ver: http://vidasimples.abril.com.br/.
9
Vida Simples surgiu como edição especial da revista SuperInteressante. Publicada pela primeira vez em agosto de
2002, desde setembro de 2003 circula mensalmente como publicação autônoma, com perfil editorial e equipe de
redação própria. A edição de abril de 2009, que corresponde ao período de finalização deste artigo, é a de nº 78.
10
Sarmatz atribui, como marco dessa mudança, a fase iniciada com a entrada do jornalista Rodrigo Vergara como
supervisor de redação. O que acontece, se observamos o histórico da publicação, a partir da edição de fevereiro de 2004
(nº 14).

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revista). Desde a edição de nº 40 (abril de 2006), cuja capa se referia a “como viver bem na cidade”,
há uma forte ligação do “serviço” com a gentileza urbana. O redator explica essa configuração:

O nosso leitor é urbano. Quem já vive na roça não precisa ler Vida
Simples! É o leitor urbano quem geralmente fica sonhando: ‘Ah!
Quando eu tiver uma casinha no campo...’ [...] É bom ter uma casa no
campo, mas se você vive numa cidade, então tente transformar esse
lugar onde você vive num lugar mais potável, mais sociável; ajude a
transformar seu condomínio, o seu bairro, suas redondezas. A gente
aposta cada vez mais nesse binômio: de desconstruir os grandes
temas, tentar entender o que está acontecendo, e dar dicas de como
viver melhor na cidade [Grifos nossos].

Tal “atitude”, segundo Sarmatz, não seria algo somente de Vida Simples, podendo ser
encontrada também em revistas semanais como Época, Veja, IstoÉ. Hoje, aponta, o clima cultural
está “muito favorável” ao que a revista já dizia desde o seu surgimento (em 2002). No entanto,
complementa, a diferença de Vida Simples frente a tais publicações (e frente à própria publicidade
em geral) estaria em sua postura “mais guerrilheira”, mais explícita. E a questão da “urbanidade”,
nos dias atuais, mais que os próprios grandes temas, seria um fator decisivo para este diferencial.
No entanto, se a “urbanidade” coloca a revista numa espécie de prestação de serviço
sobre a qualidade de vida, resvalando aí, muitas vezes, em padrões de comportamento, pensamos
que é na manutenção dos grandes temas uma cobertura como os grandes referentes da publicação e
na maneira como os mesmos são tratados pela publicação é que se encontra um de seus diferenciais.
Já que, muito mais do que o conteúdo (pois várias publicações lidam com este novo “filão” do bem-
viver, como aponta Sarmatz), enxergamos na construção do mesmo na revista – e nas afetações
sobre ela – uma singularidade. Na variedade das matérias de capa 11 e no que se pode mapear a partir
delas, mais que o serviço e o comportamento (explicação e a desconstrução), existem elementos que
tangenciam questões conceituais que atravessam a prática jornalística. Aspectos do que seria o
acontecimento (jornalístico ou não) e das lógicas do temário e da tematização periodísticos são
tensionados. Assim, antes de apontarmos faces da materialidade desses processos em Vida Simples,
retomaremos brevemente a seguir algumas destas noções.

SOBRE TEMAS E ACONTECIMENTOS


Na relação entre jornalismo e realidade, essa última encontra-se, tradicionalmente,
dividida em dois possíveis referentes jornalísticos, o tema e o acontecimento, com destaque para
este último. Jorge Pedro Sousa (2002) reconhece essa relação e diz que os principais referentes dos

11
As matérias de capa de Vida Simples, vale reafirmar, são norteadoras dos conteúdos de cada edição, bem como podem
ser tomadas como exemplares para se pensar a revista como um todo em termos editoriais e temáticos.

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discursos jornalísticos são além de acontecimentos, também ideias e temáticas. Mas, como afirma o
autor, sobre estes dois últimos, sobre os processos que os mesmos passam a envolver quando
inseridos no jornalismo, pouco se tem explorado (o que não significa a inexistência de alguns
estudos). Os acontecimentos, pela sua notoriedade, são a base para a produção noticiosa (e, por isso,
também, para a reflexão sobre o jornalismo), gerando-a ou, inclusive, sendo gerados por ela.

O TEMA ENTRE O TEMÁRIO


E A TEMATIZAÇÃO
A noção de tema no jornalismo, menos que tratada pelo significado que envolve o
mesmo (o sentido do tema em questão), é vista pela ótica da relação que tal tema possui com o
público para o qual ele se volta.12 “Predominantemente la teoría de la construcción del temario se
basa en la investigación de las relaciones entre los temas que han sido enfatizados como destacados
por los mass media y los temas que son importantes para el público” (Alsina, 2005: 98).
Originada na ideia da agenda-setting, tal visada baseia-se na perspectiva de que se
não é possível dizer às pessoas como pensar, os meios podem dizer sobre o que pensar. Os meios de
comunicação exerceriam, segundo a teoria da agenda, como aponta Traquina (1995), o
“enquadramento” de assuntos que devem circular em uma determinada sociedade, mapeando e
constituindo uma pauta de temas que deveriam estar na “ordem do dia”.
Nas últimas décadas (pós-anos 1970), muitos dos aspectos apontados por essa
perspectiva “sofreram” uma série de revisões13, ganhando mais complexidade; principalmente dos
pontos de vista social e cultural, que buscam apontar para elementos outros da relação mídia e
sociedade. No entanto, independentemente de tais críticas, como aponta Alsina (2005), a “teoria da
construção do temário midiático” está constituída de três grandes componentes – o temário dos
meios (media agenda), o temário do público (public agenda), o temário político (policy agenda) – e
o vínculo entre os três. E muito do que se discorreu sobre estes nos últimos anos faz com que a
“teoria da construção do temário midiático” siga sendo um instrumento útil no estudo da influência
dos meios de comunicação.
No caso de nosso trabalho, menos que pensar essa influência, desponta a necessidade
de pensar como um tema e sua relação com um tipo de jornalismo específico modificam
(engendrando e redimensionando) a relação entre jornalismo e sociedade a partir de certas
temáticas. Nesse sentido, um aspecto levantado por Alsina (2005), sobre o “temário dos meios”,
torna-se bastante importante para se pensar a problematização aqui realizada.
Como diz o autor, ao se estudar os temas na ótica da relação mídia e sociedade

12
Sobre um aprofundamento reflexivo da noção de tema no jornalismo, ver também Tavares; Schwaab, 2009.
13
Ver Sousa (2002).

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(meios e públicos), há que se relevar que cada meio desempenha uma função própria dentro do
“ecossistema comunicativo”.14 Tais funções, mais que simples aforismos (como “o rádio informa”,
“a televisão ilustra” e “a imprensa explica”), devem ser tomadas em consideração a partir de três
grandes elementos fortemente relacionados: a natureza tecnológica dos meios, a morfologia e a
tipologia da informação por eles engendrada, e os modelos de uso dos meios; todos associados à
credibilidade dos mesmos (relacionada a seu contrato enunciativo, sua enunciação e seu enunciado).
Assim, se voltamos nosso olhar para a qualidade de vida, menos que considerar o temário dos meios
em relação ao temário do público e o temário político (tríade original da teoria do agendamento
apontada por Alsina), é válido pensar como, em Vida Simples, tema e meio inauguram e fazem
emergir uma série de processos e sentidos.
A relação dos meios com o público a partir dos temas também encontra-se apontada
em outra corrente teórica, a da chamada “teoria da tematização”. Como aponta Sousa (2002), a
teoria da tematização é significativamente próxima à teoria do agenda-setting, embora apresente
algumas diferenças em seus aspectos centrais: a divergência de sua fundamentação teórica, a
contextualização mais abrangente do processo de inscrição dos temas na agenda pública, a
vinculação com as transformações tecnológicas e políticas e uma metodologia mais qualitativa
(dada sua natureza mais especulativa e menos aplicada). Da revisão bibliográfica realizada por
Sousa (2002) sobre as reflexões de Enric Saperas e Niklas Luhmann, uma ideia “luhmanniana”
merece destaque. Em síntese, a de que, ao atuar como mecanismo de formação da opinião pública, a
tematização “opera sentidos” sobre os “temas da e na sociedade”.
Uma última perspectiva sobre o tema – talvez a que mais o pense em termos de
“conteúdo” – apresenta-se na reflexão de Mar de Fontcuberta (2006), que se refere ao temário como
o conjunto de pautas (ou a pauta ela mesma) dos meios de comunicação jornalísticos diários.
Segundo a autora, dois eixos sustentam a formulação da pauta de um diário ao mesmo tempo em
que nos ajudam a refletir sobre a complexidade de sua lógica: um eixo geográfico e um eixo
temático. O primeiro deles, configurado pela proximidade com a audiência; e o segundo eixo,
configurado principalmente pela especialização.15
Assim, observando do ponto de vista das demandas do público, bem como da
14
Alsina (2005) chama a atenção para os aspectos do temário dos meios num tom de crítica às formulações de
McCombs e Shaw em sua teoria do agendamento e também em suas revisões sobre a mesma. Para o autor, os dois
pesquisadores estadunidenses não formulam elementos convincentes que deem conta de apontar para a diferenciação
entre os meios e a influência de tais diferenças no que diz respeito aos “efeitos dos media” sobre o público. A professora
Mar de Fontcuberta também relembra este papel conformador dos meios dizendo que o produto jornalístico
“proporciona la forma y la lógica a través de la cual el contenido se organiza y se presenta. [...] Los distintos formatos
que imperan en los medios, son un tipo de código reconocido por el público que identifica determinadas señales con
determinados contenidos” (Fontcuberta, 2006, p.65). Sousa (2002).
15
Fontcuberta (2006) associa a especialização jornalística às áreas ou seções (sistemas e subsistemas, segundo a autora)
de cada periódico, dizendo que nelas se encontra o sentido de seus conteúdos, ou melhor, “la calidad y la coherencia del
temario”.

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organização de um meio por uma pauta (e para ela) é que podemos voltar (tendo também como
referência as reflexões sobre as noções de tematização e agenda) nossa atenção para o
acontecimento jornalístico. Olhando brevemente para tal referente, que também é matéria-prima
para as teorias acima citadas, será possível trazer alguns aspectos para pensarmos o conteúdo de
“nossa revista”. Seja pela qualidade de vida (enquanto pauta e referente social) e por suas operações
temáticas e midiáticas (em relação à revista como meio de comunicação), seja pelo tensionamento
das mesmas junto ao acontecimento (sua natureza e temporalidade).

O ACONTECIMENTO E O JORNALISMO
Pode-se dizer que a noção de acontecimentos jornalísticos atribui a estes, como ponto
comum, um caráter “notável”. E, por isso, pela sua notoriedade, tais acontecimentos seriam a base
para a produção noticiosa, gerando-a ou, inclusive, sendo gerados por ela. Como aponta Adriano
Rodrigues (1993), a notícia seria um meta-acontecimento discursivo que se dedica a falar sobre um
outro acontecimento, um acontecimento extra-ordinário, singular e concreto que irrompe na
tessitura da realidade. Assim, com base em tal lógica, os acontecimentos são transformados em
notícia pelo sistema jornalístico, sendo a notícia a unidade discursiva desse sistema.
Maurice Mouillaud (2002), ao relembrar a atuação do jornalista como interlocutor
entre a sociedade e ela mesma, mediando o mundo, aponta para a presença deste numa cadeia ampla
de sentidos. Segundo o autor, o profissional da redação olha para o que está a sua volta (e para
quem está sua volta) sabendo que sua ação, mais que iniciar um processo, insere-se em uma rede da
qual o produto impresso é apenas um componente. E o mesmo vale para os referentes jornalísticos,
os fatos e acontecimentos. “Os acontecimentos explodem na superfície da mídia sobre a qual se
inscrevem como sobre uma membrana sensível. Mas põem em ressonância os sentidos que nela são
inscritos” (Mouillaud, 2002, p.50).
Como aponta o autor, os acontecimentos devem ser vistos como pertencentes a
processos de informação anteriores a eles, existentes na dinâmica espaço-temporal da sociedade,
sendo, uma vez na mídia, componentes de um ciclo ininterrupto de transformações. Por isso, para a
sua apreensão, o acontecimento é enquadrado, jornalisticamente, por meio de uma série de
fragmentos, pequenas “cenas jornalísticas” que apontam, no caso da mídia, para a não sujeição da
mesma (uma não passividade) frente às formas e lógicas dos acontecimentos que lhe seriam
prévios. Ocorrendo, do resultado dessa operação, pela dupla face da informação (o visível e o
oculto), uma construção de sentido que não se esgotaria também na materialidade do jornal e de
seus conteúdos informativos.
As ideias acima são condensadoras de dois aspectos importantes da “complexidade”

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do acontecimento jornalístico. 1) Além de uma ideia de construção social da realidade promovida
pelo jornalismo, o que incluiria a ideia de uma construção jornalística de acontecimento (ou de
acontecimento como construção jornalística, revestido de sentidos), 2) devemos pensar o
acontecimento como algo ligado a um tempo social, a um contexto mais amplo que, quando
mediado (pela mídia), assume graus distintos de visibilidade, de sentido e de importância.
Muniz Sodré e Raquel Paiva (2005, p.100), ao refletirem sobre o fato e o
acontecimento no jornalismo, afirmam que “um jornalismo que não consiga ultrapassar, ainda que
minimamente, a aparência das coisas, não possui outro papel além da tão criticada ratificação
declaratória da realidade”. Para tal operação vale pensarmos que, para além da elevação midiática
de um acontecimento, operação comum da mídia que lança um certo fato para um espaço de
notoriedade, o mais relevante é caracterizar o próprio acontecimento e sua relação com a
contemporaneidade. Nesse viés, como afirma Marialva Barbosa (2002), o acontecimento, deve-se
lembrar, é “[...] resultado de uma lenta estruturação cultural e de fatos sociais reais”.
A perspectiva da autora, que tem grande influência dos estudos da História, nos faz
lembrar, metodologicamente, a compreensão de tempo que permeia o acontecimento. Como aponta
Peter Burke (1992) ao refletir sobre o “retorno da narrativa” na História, caberia a essa disciplina,
hoje, saber “mesclar” a primeira ideia de narrativa (ligada a um “momento historiográfico” que
valorizava as descrições sobre os acontecimentos) àquela que, em vez de fatos, buscou as estruturas
(segundo momento). Desta “mistura” alcançar-se-ia uma nova narrativa, uma “descrição densa” do
tempo e dos acontecimentos nele “espalhados”.16
Essa “densidade” temporal que entrecruza os acontecimentos também encontra-se
presente, de outra forma, nas reflexões do sociólogo francês Louis Quéré (2005). Este autor, ao
refletir de maneira filosófica sobre o poder hermenêutico do acontecimento, aponta para o papel
revelador que o mesmo possui. O acontecimento, sublinha Quéré, diz respeito ao mundo, à
experiência, à campos problemáticos (temas e âmbitos sociais); situando-se na trama e na intriga
formada por estes aspectos. Sua característica é de passibilidade, sempre acontece a alguém, e faz,
por este acontecer, a atualização de uma série de sentidos que irrigam a vida social. Por tal motivo,
o acontecimento não pode ser pensado somente como apenas atrelado a um tempo presente, nem
como atrelado a relações de causalidade. No acontecimento estaria “o tempo que se dá a ver”, um
enredamento de temporalidades, significados e ações sociais. E, nesse sentido, o acontecimento
jornalístico pode ser visto também como aquele que permite reconhecer o tempo presente em suas
dimensões e camadas.17 Não apenas na superficialidade presenteísta que lhe é sugerida e muitas
16
A reflexão de Burke baseia-se numa ideia importante que diz, no campo da História, de uma valorização das
ambivalências, uma quebra com os dualismos teórico e metodológicos.
17
Para Quéré, uma vez na mídia, o poder de esclarecimento do acontecimento coloca em evidência os campos
problemáticos dos quais ele faz parte, podendo contribuir para sua análise e para fomentar o debate público. O que não

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vezes praticada pela mídia.
O cruzamento das perspectivas de Burke e Quéré, associadas a uma reflexão mais
jornalística presente no pensamento de Barbosa, Mouillaud, Rodrigues, Sodré e Paiva, pode ser
indicativo de alguns mecanismos que permitam pensar, de forma crítica e tensionada, sobre outras
manifestações jornalísticas que se propõem a realizar uma leitura “mais completa” sobre o real,
elegendo temas e trazendo para eles, ao mesmo tempo, uma mistura de fatos, contextos e
interpretações.18 O que se verifica, com destaque, nas revistas especializadas e de periodicidade
mais ampla, como Vida Simples.

EM VIDA SIMPLES,
TEMAS QUE ACONTECEM

Figura 1 – Vida Simples, Capa (Ed. 37, Jan/2006)


SAIA DE CENA.
Um afastamento temporário da rotina ajuda a abrir caminhos, resgatar planos e descobrir aonde
queremos chegar (Vida Simples, Ed. 37, Jan. 2006, p. 28)

EU SOU VOCÊ AMANHÃ.


Os mais velhos advertem: aproveite a vida, não leve tudo tão a sério e busque mais o prazer. Eles
sabem o que falam (Vida Simples, Ed. 37, Jan. 2006, p. 39)

Os dois trechos acima referem-se aos títulos e subtítulos da matéria de capa e da

significa, relembra o autor, que isso seja efetivamente alcançado pelos meios de comunicação.
18
Uma ideia interessante nesse sentido, relacionada à história do presente, mas ligada também a um fazer jornalístico –
que de certa forma ajuda também a tensionar o viés interpretativo – é a do papel, na sociedade, do intelectual, tal como
pensava Michel Foucault (2008).

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seção Vida Simples da edição de janeiro de 2006, cuja capa dizia: “DÊ UM TEMPO. Vale a pena
dar uma pausa para rever sua rotina e colocar em prática seu projeto de vida. Saiba como usar esse
período para sair do piloto automático – e voar mais longe”. A página, toda em azul, um “azul anil”
de céu, com efeito de profundidade, tem como única imagem o desenho de um “teco-teco”
estilizado (Figura 1).
Essa “voz jornalística” é complementada pelas palavras do Editorial e pelas cartas
dos leitores, da edição seguinte. No editorial, “voz oficial da revista”, explica-se, do ponto de vista
da “mudança interior”, a necessidade de “darmos um tempo para nós mesmos”, de termos um
período sabático:
[...] na capa desta edição resolvemos estampar este conceito com um
aviãozinho, daqueles que povoam nossas lembranças de infância. Ao
viajarmos para um país distante ou para uma cidadezinha perdida em algum
rincão do país, é natural que a gente se sinta livre do cotidiano e comece a
enxergar o nosso próprio mundo sob a ótica do viajante (Vida Simples, Ed.
37, Jan. 2006, Carta ao Leitor, p. 14).

Nas cartas dos leitores da edição de número 38, de fevereiro de 2006, a fala de uma
“nova assinante” da revista, enviada por email é estampada:
DÊ UM TEMPO. Vida Simples me caiu no colo como sugestão de um
amigo e não consegui resistir, fiz uma assinatura. Acredito que a
edição 37 está completamente voltada para o que eu quero: ‘Dar um
tempo’. Fui dispensada há poucos meses do meu trabalho e foi aí que
resolvi tirar um tempo para mim e fazer um sabático. Estive por conta
desse emprego longe da família, e agora estou de volta ao lar (Adriana
Manczak, Vida Simples, Ed. 38, Fev. 2006, Cartas, p. 10).

Este três exemplos (títulos, editorial e mensagem do leitor) formam um circuito que,
de forma bastante significativa, contempla uma série de elementos que sustentam a revista e que
dizem de sua forma (processos que incidem sobre temas) e conteúdo (temas que incidem sobre
processos). Tal circuito explicita, de forma exemplar, como, ao longo de suas 78 edições já
publicadas, a revista fragmenta a qualidade de vida em uma série de subtemas (construindo pautas e
agendando certos assuntos a seus leitores) e, sobre os mesmos, mais que dizer “o que foi” ou de
explicar “como são”, assume uma postura indicativa sobre um “como pode/deve ser”.
No entanto, por operar jornalisticamente, a publicação “foge” à lógica dos
tradicionais manuais, guias e obras terapêuticas de auto-ajuda, engendrando uma série de recursos
outros para falar da temporalidade contemporânea. Ao falar deste momento de “crise” subjetiva e
social, a revista parece tratar da qualidade de vida “desconstruindo” seu caráter presenteísta,
tentando ultrapassar, de alguma forma, aquilo que lhe seria superficial. Assim, mesmo assumindo
uma postura “manualista”, dizendo ao seu leitor sobre maneiras de se lidar com a realidade que o

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cerca – o que traz implicações críticas para a análise do conteúdo aí elaborado –, do ponto de vista
jornalístico um processo outro também ganha relevância.
Se a qualidade de vida, ao incorporar e ser incorporada pela lógica jornalística da
revista, faz esta, simultaneamente, se revestir de uma outra especialização (a que pede uma
intervenção no mundo); faz também, ao mesmo tempo, com que um tema específico assuma um
caráter temporal. De um ponto de vista jornalístico, é como se temas passassem a “acontecer”,
enquadrando-se, dada a necessidade que se tem de explicá-los, em lógicas temporais, evocando,
assim, algumas lógicas “originariamente acontecimentais”.
Sob essa ótica, o acontecimento vem à tona, na revista, pelos próprios temas,
assumindo, no entanto, uma outra dinâmica jornalística, que difere da sua presença “extraordinária”
habitual e que se faz notável por (e de) outra maneira. É como se disséssemos que, em Vida Simples,
no escopo do que se diz e se pretende dizer (a partir do mapeamento das seções e de seus
conteúdos) tivéssemos um misto de “acontecimentos visíveis” (uma vez que a revista mantém seu
vínculo com o atual e releva também um “gancho” jornalístico) 19 e “acontecimentos invisíveis”
(relativos à experiência do e no mundo)20, formando, a nosso ver, a cobertura de “acontecimentos
sensíveis”21, diretamente ligados e constituídos por um misto de conteúdos (fontes, temas, textos e
imagens) e práticas (jornalísticas e pessoais) que objetivam aspectos subjetivos e intersubjetivos da
contemporaneidade (tanto do ponto de vista de uma experiência individual, quanto coletiva).
É nesse sentido que a temática da qualidade de vida “resgatada” de seu devir social,
quando materializada na revista, parece contribuir para a formação de algumas singularidades
jornalísticas. Em outras palavras, o processo de “educação e entretenimento” (Scalzo, 2004) por ela
formado, transcende seu nicho temático, dando a ver, de um ponto de vista investigativo, aquilo que
lhe é anterior: o seu próprio processo jornalístico (sua “revistação” sobre o bem-viver). 22 O que se
relaciona, em muito, às afetações originárias de sua natureza temática, complexificadas numa
dinâmica que condensa uma dimensão jornalisticamente “temária” à dimensão socialmente
“acontecimental”, dando aos conteúdos “estáticos” uma certa temporalização. Assim, estes “temas
que acontecem” configuram uma lógica associativa entre assuntos e temporalidades e, ao mesmo
tempo, configuram um “acontecer jornalístico especializado” que, nos termos de Quéré (2005),
podemos dizer, aciona (à sua maneira) uma “hermenêutica” específica, tematizando e fazendo
emergir, de forma interpretativa, certos “campos problemáticos” da sociedade.23
19
Denotados principalmente pelas seções e matérias de serviços (seções fixas).
20
Denotados principalmente nas reportagens e em seus conteúdos (capa e seções esporádicas).
21
A construção dessa ideia está sendo realizada em nossa pesquisa a partir das contribuições teóricas fomentadas por
teorias e estudos que, na Comunicação, têm pensado em conjunto sobre questões estéticas e interacionais (relevando a
dimensão relacional da experiência cotidiana).
22
Sobre a ideia de “revistação”, ver Tavares (2008).
23
Sobre os acontecimentos e campos problemáticos, diz Queré: “Muitas vezes, porém, um problema é formado de uma
multiplicidade de elementos constitutivos, dispostos numa relação de integração, ao mesmo tempo que se entrelaça com

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Isso se dá tanto no que diz respeito às reportagens interpretativas – objeto central de
uma revista especializada24 –, quanto no que diz respeito à materialidade (as maneiras como o meio
relaciona-se com o tema na paginação, layout e na forma do texto, assim como na configuração de
suas seções fixas e esporádicas) e aos leitores da publicação. E é na compreensão da reunião de
todos estes processos (“temários” e “acontecimentais”), na globalidade comunicativa da revista
(interna e externa), que se percebe a dinâmica acionada pelo tema e condicionada por Vida Simples.
No desenvolvimento de nossa pesquisa, será da observação sistemática sobre a
natureza da publicação e do reconhecimento do jornalismo que nela se faz que buscaremos o
significado do que seria, hoje, “viver mais e melhor” para o jornalismo de revista aqui contemplado.
Mais que isso, verificando as operações e incidências existentes entre a 1) qualidade de vida e o 2)
jornalismo de Vida Simples,25 buscaremos alcançar não só o significado da primeira, mas as
operações que envolvem e constituem, jornalisticamente, o segundo. Uma produção de sentidos
cujo processo vale ser pensado, também, para outras investigações.

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outros problemas conexos. Podemos falar, então, de um campo problemático. Diversos campos problemáticos
constituem, assim, a trama da vida de um indivíduo num dado momento (problemas de saúde, de trabalho, de casal, de
filhos, de dinheiro, etc.. Problemas ligados aos diversos empenhamentos e às iniciativas lançadas. O mesmo para a vida
de uma coletividade, qualquer que seja a sua extensão (uma família, um laboratório de investigação, uma universidade,
uma coletividade territorial ou nacional, uma comunidade religiosa, etc.). Tal como se integram nas intrigas,
contribuindo para o seu desenvolvimento, os acontecimentos ganham um lugar em campos problemáticos e servem,
pelo seu poder de esclarecimento e de discriminação, de pivots dos inquéritos que procuram e elaboram soluções”
(Quéré, 2005, p.72).
24
No caso de Vida Simples, um fator atuante em tal característica diz respeito à sua periodicidade mensal. Sobre isso ver
Tavares (2008).
25
O que diz do caminho investigativo indicado neste texto.

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FREDERICO DE MELLO BRANDÃO TAVARES é doutorando em Ciências da Comunicação


pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), onde integra o Grupo de Pesquisa
“Estudos em Jornalismo”. É bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq – Brasil. É jornalista e mestre em Comunicação Social pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: fredericombtavares@yahoo.com.br.

Submetido: 04/04/2009.
Aceito: 18/06/2009.

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