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A POESIA DE EMILY DICKINSON: NOVOS INSIGHTS

“Imperceptível como a mágoa”

Abstract

Este artigo analisa, mediante uma abordagem lingüística,


(Geofrey Leech), o poema de ED “Imperceptível como a mágoa”,
no qual o tema se desenvolve nos primeiros doze versos, e
resume-se num microcosmo, nos quatro últimos.

“Imperceptível como a mágoa” é classificado entre os poemas da natureza de ED. É


um poema no qual, nas palavras de Yvor Winters, as mudanças de estação são
usadas como símbolo concreto para as mudanças morais, o que ele considera uma
legítima e tradicional forma de alegoria. Eu gostaria de apresentar uma leitura que
difere um pouco da opinião de Winters, na qual vejo a “luz” em primeiro plano, no
processo de mudança, e em que a imperceptibilidade desse processo, enquanto o
verão se esvai, torna-se o motivo (tópos) do poema. Esse tema se desenvolve nos
primeiros doze versos, para resumir-se num microcosmo nos quatro últimos.

O poema apresenta-se num bloco compacto de dezesseis versos (embora as


primeiras versões viessem em estrofes), e esse bloco compacto amplia o tema e o
reforça no final. Além disso, os travessões e as vírgulas que perpassam os versos,
seriam muito mais visíveis se o poema fosse segmentado em estrofes.

A imperceptível fuga de luz envolta numa calma respingada (verso cinco), aparece,
antes de tudo, no ritmo, à medida que os versos se tornam mais e mais
fragmentados pelas pausas. Porque, embora o padrão iâmbico do poema se
mantenha com precisão quase matemática no sempre crescente número de pausas,
diminuindo o ritmo: verso 2 travessão; verso 4 travessão; verso 6 virgula; verso 8
travessão; verso 9 travessão; verso 10 travessão; verso 11 vírgula e travessão;
verso 12 vírgula e travessão. Esse rallentando, realçando o silêncio que acompanha
os estágios da mudança alcança seu clímax em “gone” (ido) e nos lembra o efeito de
uma música que vai morrendo aos poucos.

Mas outra interpretação parece igualmente válida quanto a essa oscilação do ritmo:
considerando que a luz do verão em seu processo de fuga e a luz do outono que se
esboça no ao entardecer, a luz da manhã associada ao verão cada vez mais reluta
em brilhar e é esta relutância que se expressa no ritmo quebrado dos versos 11 e
12. A ênfase retórica recorta a regularidade métrica, pois o verso 11 ficaria muito
mais expressivo, se, além das pausas, o padrão iâmbico fosse lido “uma graça
cortês e dolorosa” (um iambo seguido de um anapeste), para então atingir seu
desfecho no verso 12.

Destarte, depois de uma última pausa no começo do verso 13, como se o silêncio
reverberasse e lentamente se fundisse na luz do verão, o ritmo outra vez corrobora o
tema da luz fugidia como um coda reassumindo uma regularidade que não é mais
perturbada até o final. O ritmo poderia ser levemente acelerado no último verso se o
padrão iâmbico tivesse, uma vez mais, objetivos retóricos, tais como um pírrico
seguido de um iambo e outro pírrico realçando, pela remoção de duas tônicas, a
luminosidade da fuga e, simultaneamente, a própria fuga, pela aceleração do ritmo.
Mais uma vez, são apenas sugestões apontando onde a tensão pode levar ao
significado porque, como se vê, o peso do verso recai na palavra que é o destino
final da luz fugidia: “dentro da beleza”.

A imperceptibilidade da luz é também privilegiada em relação à métrica, pois o


contraste entre os primeiros quatro versos em metro comum (8-6-8-6), ajuda a
colocar em primeiro plano a primeira estrofe, já que contém a palavras mais longa e
mais significativa do poema – imperceptível –, que caracteriza o modo como a luz se
vai. No entanto, Winters dá uma interpretação diferente a este primeiro plano, ao
dizer que “a alternância do metro comum (6-6-8-8) e 6 na segunda estrofe (...)
resulta numa súbita e bela suavização, tanto do metro quanto da melodia” e
considera isso uma técnica brilhante. A imperceptibilidade da experiência também
sugere um distanciamento pelo fato de que, o que está sendo recontado está no
passado, e as palavras em melodia descendente corroboram isto mais adiante.

No nível do som, quietness/twilight entram em assonância, enquanto que a


aliteração imperceptibly/summer liga-se muito mais à imperceptibilidade da fuga do
verão. Esta característica é expressa no poema por uma série de paralelismos
sonoros, resumindo essa aliteração, quer em posição inicial, intermediária ou final,
tal como em spendind/seqüestered/service/summer/herself/dusk/lapsed/last
/quest/grace/thus/escape. “Lapsed” está, na verdade, contido em imperceptível
como se “lapsing away” emergisse de “imperceptibly”.
As consoantes nasais e líquidas em long/begun/ prolongam a impressão de
crepúsculo como havendo começado no passado, reverberando nas nasais de
/afternoon/ como também na sonância morning/foreign. Estas duas últimas palavras,
a exemplo de quietness/twilight, também formam um quiasmo imperfeito, isto é, as
letras da segunda palavra, em ordem inversa, aumentando dessa forma a
semelhança sonora entre elas e sua similaridade de significado: /twilight/ em
associação com /quietness/ e /motning/ com /foreign/, enquanto a manhã é um
hóspede relutante. Essa idéia é depois corroborada, na aliteração guest/gone, com
ênfase no começo no fim do verso, como se o fato de ser um hóspede
pressupusesse sua partida.

A dureza das consoantes plosivas /k/g no grupo consonantal grace/courteous nos


remete a sua sinonímia, enquanto a abertura de “harrowing”, depois realçada por
uma consoante aspirada que a precede, enfatiza esse contraste de significados em
“grace”.

A imperceptibilidade da luz adiante é sugerida na aliteração “without/wing”, átona na


primeira e sua fuga para dentro da beleza também são visualmente sugeridas por
estas duas palavras, cujas letras formam outro quiasmo, “light/beautiful”, como se a
luz se escondesse dentro da beleza, pois as letras de “light” estão contidas em
ordem inversa em “beautiful”, e também estão contidas no termo “imperceptíbly”.

Na verdade, essa última estrofe em termos de paralelismo sonoro, de forma e de


sentido, resulta naquilo que Samuel Levin chama “junção poética”, e, mais uma vez,
faz sobressair o topos do poema (Obs.; inserir esq. p. 44).
The summer lapsed away imperceptiby
Our summer made (her light) escape without wings
Without service of keel
Into the beautiful

FRASE NOMINAL FRASE VERBAL FRASE ADVERBIAL

Desta forma, embora o poema se desenvolva em termos de ampliação do tema, da


linha 1 a 12, e os quatro últimos versos apresentem o tema de forma “condensada”
(12 a 4 versos), na verdade é nos detalhes adicionais da conclusão que percebemos
o que estava se escondendo: a imperceptibilidade da luz desaparecendo, pois
mesmo nos últimos 2 versos “luz” é apresentada indiretamente, num trocadilho com
o adjetivo “lume”. Na verdade o trocadilho funde a imagem sensorial de uma “luz
fugidia” com a imagem visual da “fuga de luz”. E quando nos damos conta disso, a
luz já nos “ludibriou” e está noutro lugar. Também por isso é que o poema termina
num “clima mais iluminado” do que começou, em que a “mágoa”, embora ausente,
colore as imagens de luz se esvaecendo com nuances silenciosas. Não há nenhuma
presença real de luz no poema, mas apenas matizes, semitons, “twlight” (duplicidade
luminosa) duas meias-presenças como o ocaso, e a tarde seqüestrada e a manhã
estrangeira confirmam isso. Não há atmosfera edênica, tampouco, pois o verão se
esvai com a luz, e a graça que permanece é “angustiante”, porque enganadora.

O próprio significado de “imperceptible” também se confirma pela abstração do


termo latino, que mais adiante é reforçado pela latinidade de grief/gravis (dor,
mágoa); quietness (quies = rest); perfidy (fides + faith) e distilled (cair em gotas),
todas elas sugerindo a inefabilidade e imperceptibilidade da experiência. Mesmo a
Natureza (nascis = be born) é abstrata, pois não há nenhum detalhe no poema que
remeta a um cenário natural, portanto centrando a partida de luz projetada no tempo,
e não no espaço. (Isto se confirma qdo ED remove quatro estrofes da versão
anterior, que justamente traziam detalhes da natureza). O caráter a abstrato das
palavras continua em “seqüestrada” (sequestrare + remove), que, juntamente com
“lapsed” (labi = to slip) e “escape” (ex+cappa = out of cloak), corrobora novamente a
imperceptibilidade da retirada da luz, além disso essas palavras sendo relatadas em
som (escape e lapsed away formando outro quiasma, apontando para a sinonímia, e
ao mesmo tempo o mais lento movemento de lapsed aaway e o movimento mais
rápido de escape são corroborados, como se viu, pelo aumento do ritmo nos 4
últimos versos).

A notável sinonímia entre twilight e dusk, realçada pela tarde “removida e a


estrangeirice de “morning”, tem sua relação adiante privilegiada por serem todas de
origem anglo-saxônica, como summer e light, dessa forma apontando a
“concretude” de sua presença e para a abstração ou imperceptibilidade de sua fuga,
como visto acima. Essa mesma idéia é de novo perceptível nos “meios” que a luz do
verão não precisa usar para fugir, pois além de asas e keel serem precedidas de
without, sugerindo q não estão lá, sua concretude anglo-saxônica outra vez está
subentendida sublinhada pela latinidade de service (servus= slave), e toserve vem
de service = ação de ajudar) que está explicita em relação a keel, e também em
relação a wing.

Isso nos conduz apenas à discussão dos “climáticos” versos 11 e 12, nos quais a
diminuição do ritmo alcança sua maior ênfase, confirmada pela tensão entre as
tônicas retórica e métrica. Se a latinidade de foreign (foras = out of doors) já faz a
luz da mulher estar em outro lugar, em outro país, com a sugestão de não brilhar
peculiar, mas de modo estranhamente – um hospede forasteiro, e não uma
presença familiar – esta idéia alcança seu clímax na símile que segue. A latinidade
de courteous (cohors = enclosure) e grace (gratus=pleasing) em relação ao
“Hospede que deveria partir – todos termos anglo-saxões, apontando para esta
“familiar” cortesia – o comportamento devido numa corte então está undermined pela
realidade esmagadora do nórdico antigo harrowing (angustiante), atuando como um
harrow para destruir as raízes latina de courteous grace, e revelando assim a
falsidade da perfidy do hóspede, que, sob uma fachada de cortesia, na realidade
quer mesmo é ir embora.
O oximoro que combina harrowing grace portanto nos lembra que a grace ( o
amor e a boa vontade de deus para com o homem) recai sobre o poeta através da
luz que permanece no outono, angustiante, dolorosa, opressora; por outro lado, nos
lembra também a “peça” que a luz nos prega, pois a perfídia de sua graça (como
comportamento agradável, charme) em ficar revela-se em angustiante
(esmagadora). Assim, a luz brilhando nessa manhã incomum é igualada, até
metaforizada na contraditória e enganadora graça de um hospede condescendente;
e essa traição, que é traição mesmo, e não somente aparenta (ou sente, como na
outra versão), parece ser perdoada pelo poeta, quando o hóspede – a luz do verão –
se retira imperceptivelmente. A interpretação de Paul Ferlazzo para a símile na
verdade não demonstra a revelação chocante dessa traição em harrowing grace, já
que ele se concentra mais no hóspede se tornando cada vez mais esquivo e
impaciente, enquanto seu comportamento continua cortês, do que no verdadeiro
tema, a metáfora. Como mostra o paralelismo, o estranho brilho da manhã (luz) é a
graça angustiada do hóspede, pois ambos querem partir.

Assim, é no imperceptível processo da luz do verão indo embora que esse poema se
concentra. Realçada pelo silencio que acompanha esse processo – como se o
silencio fosse uma pomposa cerimônia, abrangendo grandes eventos como um
prelúdio para a revelação – a luz do verão gradualmente se transforma em ocaso e
entardecer, o “instante suspenso”; essa imagem e nostalgia é colocada em contraste
com a pura e paradisíaca luz da manhã, que caracteriza a luz da primavera. E a asa
e o mastro/quilha (o primeiro símbolo de vôo, libertação da matéria e relacionado ao
movimento do ar, e o segundo é símbolo de viagem e de espiritualização); mesmo
se não é usado pela luz em sua fuga, esses termos lembram da airiness e do
movimento da viagem da luz; e a beleza visual das asas e do mastro nos prepara
para o reino inefável da Beleza, para o qual a beleza fugiu. Como o verso sugere, o
verão é nosso, mas a luz é sua (da beleza), e é por isso que o verão pode escapar
imperceptivelmente, confirmando a inefabilidade do substantivo Beleza (do latim
bell(us)) itat) como um conceito ou ideal de beleza conotando prazer estético, que
está sempre além do nosso alcance.

ED certa vez disse a Higginson que a mudança das estações “ferem quase como a
Musica – mudando quando mais nos agradam”. Acho que o mesmo se poderia dizer
dos seus profundos sentimentos em relação à luz neste poema: ela não apenas
seqüestrou a luz e se apoderou de sua essência nesse imperceptível processo de
partida no fim do verão. Através de sua maestria em adotar palavras com propósitos
expressivos e depois redefini-las, ela também foi capaz de redefinir para nós o
significado da luz.

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