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O documento descreve a história da colônia Santa Izabel em Betim, Minas Gerais, que foi criada no início do século XX para isolar pessoas com hanseníase. A colônia se tornou uma comunidade próspera, mas os moradores sofreram preconceito. Na década de 1980, moradores da comunidade foram eleitos para cargos políticos locais. O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) foi fundado em 1981 para combater o preconceito.
Description originale:
Pesquisa sobre a colonia par leprosos: Santa Isabel
O documento descreve a história da colônia Santa Izabel em Betim, Minas Gerais, que foi criada no início do século XX para isolar pessoas com hanseníase. A colônia se tornou uma comunidade próspera, mas os moradores sofreram preconceito. Na década de 1980, moradores da comunidade foram eleitos para cargos políticos locais. O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) foi fundado em 1981 para combater o preconceito.
O documento descreve a história da colônia Santa Izabel em Betim, Minas Gerais, que foi criada no início do século XX para isolar pessoas com hanseníase. A colônia se tornou uma comunidade próspera, mas os moradores sofreram preconceito. Na década de 1980, moradores da comunidade foram eleitos para cargos políticos locais. O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) foi fundado em 1981 para combater o preconceito.
UMA HISTRIA DE RESISTNCIA Pronunciamento da Deputada Federal Maria do Carmo Lara-PT/MG, na Cmara dos Deputados, Sesso do dia 15/05/2002. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados! Nos anos 80, trabalhei na Escola Estadual Dr. Orestes Diniz, na comunidade de Citrolndia Betim. Essa comunidade surgiu em funo da colnia Santa Izabel. Foi a partir da que conheci melhor a histria da hansenase e das pessoas que foram vtimas do preconceito milenar que cerca a doena. interessante dizer que essas pessoas, que souberam superar o abandono e o preconceito da sociedade, transmitem uma energia positiva a ns que sonhamos com uma sociedade justa, fraterna e igualitria, que sabe conviver com as diferenas. Essa comunidade fruto de uma poltica sanitria excludente e autoritria, onde o ser humano no era o centro de ateno. A poltica sanitria da dcada de 20, que teve Osvaldo Cruz como principal mentor, tinha a finalidade de sanear as cidades, remover as imundices, os focos de infees, recolher e expulsar dos centros urbanos os que eles consideravam inaptos para o convvio social. Dentre essas categorias estigmatizadas estavam os portadores de doenas mentais, portadores de hansenase, mendigos e outros. A deciso poltica de criar hospitais-colnias para o isolamento dos portadores de hansenase nasceu dessa conjuntura. No Brasil, Senhor Presidente, durante as duas dcadas seguintes foram construdas 33 colnias. Em Minas, foram construdas 5 colnias: So Francisco de Assis (Bambu), Santa Izabel (Betim), Santa F (Trs
Coraes), Padre Damio (Ub) e Cristiano Machado (Sabar). Sendo que
j existia, desde 1883, a colnia que posteriormente foi denominada Ernani Agrcola, tambm na cidade de Sabar. A colnia de Santa Izabel foi instituda pela lei 801, de 2 de dezembro de 1921. A pedra fundamental foi lanada em 1922 e a inaugurao foi no dia 23 de dezembro de 1931. Na poca, Santa Izabel pertencia ao Municpio de Santa Quitria, pois Betim s se tornou municpio em 1938. As colnias, na poca, foram construdas em reas geograficamente isoladas. A poltica de segregao dos portadores de hansenase foi completa. O doente foi segregado sob o ponto de vista fsico, social, psicolgico, histrico e geogrfico. Eram auto-suficientes, com toda infraestrutura de uma cidade bem planejada. O objetivo era fazer com que os moradores no necessitassem de contato com o mundo exterior. Assim, Santa Izabel possua gerao prpria de luz, saneamento bsico, campo de futebol, quadras, cinema, praas, comrcios, segurana (policiais e delegados todos internos), prefeitura (intendncia), associaes, cooperativa, entidades beneficentes, escola, oficinas de artes, teatro, salo de bailes, igrejas, academia musical, hospital, ambulatrios, fbricas de tijolos e telhas, serralherias, pocilgas, hortas e pomares. A maioria dos pacientes morava em pavilhes especficos para jovens, adultos, e crianas. Os casados viviam em casas. Havia tambm penses. A poltica de segregao se estendia aos filhos dos pacientes. As crianas eram separadas dos pais e levadas para preventrios. No caso de Santa Izabel, para o Preventrio So Tarcsio, localizado em Mrio Campos. Com o aparecimento da sulfona, na dcada de 50, consolidou-se o tratamento cientfico da hansenase. Antes, as terapias eram alternativas e experimentais, como o uso do leo de chaulmugra para a cura da doena. A partir da sulfona, vrias pessoas passam a receber alta por cura e
retornam s suas origens. O tratamento fora das colnias (ambulatorial)
tambm permitido. Isso faz com que os pacientes de classe mdia saiam das colnias. At a dcada de 50, Senhor Presidente, as pessoas que vinham para Santa Izabel eram de classes sociais e culturais heterogneas. Isso fez com que nesse perodo da histria Santa Izabel tivesse uma vida cultural e social intensa e diversa. Da o aparecimento de muitos artistas plsticos, poetas, msicos e atores. No campo da msica surgiu o Coral da Colnia com o nome de "Coral Santa Ceclia", hoje "Coral Tangar", o qual foi resgatado pelo Frei Chico, franciscano muito conhecido pelas suas pesquisas no campo da cultura popular, quando de sua passagem pela Colnia Santa Isabel. Alm disto, praticavam-se esportes especializados como basquete e vlei, modalidades esportivas pouco praticadas na poca. Contudo, o futebol foi o esporte predominante em todas as colnias, sendo o principal elo de contato entre elas. A partir da dcada de 60, ele se tornou o principal instrumento de combate ao preconceito, integrando os internos com a sociedade. At hoje o esporte destaque na comunidade, pois vrios times conquistaram campeonatos municipais e metropolitanos. Desde o incio, os frades franciscanos holandeses e as irms religiosas da Congregao do Monte Calvrio tiveram um papel importante na vida espiritual dos moradores da colnia. A presena solidria desses freis e de alguns profissionais como o Dr. Orestes Diniz e Dr. Jos Mariano foi fundamental para o bem-estar psicolgico dos pacientes. Apesar de toda estrutura oferecida, o Estado no conseguiu, por causa do preconceito, contratar trabalhadores para fazer o servio interno das colnias. Teve que lanar mo dos prprios pacientes, que assumiram quase todas as funes: enfermagem, limpeza, construes, administrao e segurana. Essas pessoas, que foram responsveis pelo funcionamento da colnia, nunca foram reconhecidas como trabalhadores pelo governo. At
hoje, os cargos que exercem so considerados como laborterapia. A
situao a mesma em todos os Estados. Est na hora dos governos fazerem justia, resolvendo imediatamente essa pendncia trabalhista histrica. um apelo que eu fao a todos os nobres colegas desta Casa no sentido de encontrarmos a soluo adequada para este problema. Em todas as colnias do pas existia uma rea prxima, onde moravam os trabalhadores no-portadores de hansenase. Esse local, em Santa Izabel, chamava-se Sade, em oposio colnia, e abrigava os funcionrios e seus familiares. L tambm ficava a Casa dos Mdicos, Laboratrio, Padaria e Correios. As internaes eram feitas de forma autoritria, no-educativa. A famlia que tivesse um membro internado era discriminada em sua cidade de origem. Alguns dos familiares dos internados queriam ou precisavam ficar prximo destes. Da surgiram os guetos em volta das colnias. A vila que se criou em torno de Santa Izabel chamava-se Limas, que hoje o populoso bairro Citrolndia. Uma das formas de luta da comunidade foi participao poltica. Foram eleitos para a Cmara Municipal, em 1986, dois pacientes: Rafael Barbizan e Paulo Drumond. Contudo, s tomaram posse depois de vrias intervenes, inclusive do Ministrio da Sade. Depois foram eleitos os moradores Manoel Avelar, Adilson de Souza, Juarez do Vale e Wilson de Sousa. A sociedade teve momentos de apoio causa dos hansenianos. Valem citar os nomes do Dr. Orestes Diniz (MG), Dr. Abrao Rothberg (SP), o escritor Malba Tahan (RJ), Eunice Weaver, Alice Tibiri (RJ), exdeputada Conceio da Costa Neves (SP) e outros. O fato mais importante na histria da hansenase no Brasil, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, foi
a mobilizao e
organizao dos pacientes para criar a sua prpria entidade de luta.
Pacientes de hansenase e pessoas interessadas pela causa fundaram, em 6
de junho de 1981, o Movimento de Reintegrao das Pessoas Atingidas
pela Hansenase MORHAN, cuja finalidade levar para a sociedade informaes corretas sobre a doena e combater o preconceito. O movimento tem tambm como tarefa organizar as pessoas atingidas no Brasil inteiro. O principal idealizador do Movimento foi o acreano Francisco Augusto Nunes Bacurau, Andr Luiz de Paula (RJ), Dr. Jos Rubens de Alcntara Bonfim (SP), entre outros, foram pessoas que contriburam muito para a transformar o Morhan no principal instrumento de combate ao preconceito com relao doena. Durante o perodo em que estive frente da Prefeitura Municipal de Betim, Senhor Presidente, municipalizamos a Escola Frei Rogatto, em Santa Izabel; em Citrolndia, uma das minhas primeiras aes foi a reforma do prdio da Escola Dr. Orestes Diniz. Criamos, tambm, a Escola Frei Edgard Groot. No segundo mandato da Frente Betim Popular, criamos a Escola Vereador Rafael Barbizan e construmos em parceria com o Estado a Escola Gramont Gontijo. Neste mandato os secretrios de Educao e da Administrao foram, Carlos Roberto de Souza e Adilson de Souza. Dois filhos de Citrolndia. Na rea da sade tivemos o orgulho de construir um novo prdio para a Unidade de Sade Anlia Rodrigues, criada na dcada de 60, fruto da luta dos moradores de Citrolndia. A conquista foi smbolo da resistncia e perseverana dos moradores. Na poca, havia uma poltica oficial contrria expanso de Citrolndia. Ainda durante nosso governo, Senhor Presidente, consolidamos politicamente a Regional Citrolndia, que abrange as regies de Citrolndia, Santa Izabel, Casa Amarela, Charneca, Aroeiras, Parque Ipiranga, Monte Calvrio, e So Marcos, Jardim Paulista e Paquet. Criamos, em 1993, juntamente com o Morhan, o Concerto Contra o Preconceito, realizado todos os anos, em Santa Izabel, na ltima semana de
janeiro. O evento parte das comemoraes do Dia Mundial de Combate
Hansenase. Com o objetivo de ajudar a combater o preconceito, lanamos na poca uma campanha de esclarecimento populao cujo lema minha mensagem
final:
HANSENASE
TEM
CURA.
PRECONCEITO
TAMBM. E neste sentido importante ressaltar, Senhor Presidente, a
necessidade da continuidade de campanhas contra o preconceito em relao aos hansenianos no s em nvel local, como tambm nacionalmente, vez que doenas como essas que estavam erradicadas ou controladas voltaram a existir em razo da falta de investimento na sade e saneamento. Por fim, Senhor Presidente, solicito que este pronunciamento seja publicado, na ntegra, nos anais desta Casa e que seja divulgado atravs dos meios de comunicao da Cmara dos Deputados. Era o que tinha a dizer! Muito Obrigada!