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Famlias dilaceradas
Pai ou me que joga baixo para afastar o filho do ex-cnjuge pode perder a
guarda da criana por "alienao parental"
Claudia Jordo
Fazia seis anos que Karla, de oito, no via o pai. Nem mesmo por foto. Sua
irm mais nova,
Daniela, nem sequer o conhecia. Quando seus pais se separaram, ela
ainda estava na barriga de sua me. Aquela noite de 1978, portanto, era
muito especial para as duas irms. Scrates havia deixado o Rio de
Janeiro, onde morava, e desembarcado em So Lus do Maranho, onde
elas viviam com a me, para tentar uma reaproximao. Minha me disse
que nosso pai iria nos pegar para jantar, conta Karla Mendes, hoje com
38 anos. As garotas, animadas e ansiosas, tomaram banho, se
perfumaram e vestiram suas melhores roupas. Acontece que meu pai
nunca chegou, ficamos l, horas e horas, at meia-noite, diz. Enquanto as
meninas tentavam superar a decepo, a me repetia sem parar: T
vendo? O pai de vocs no presta! Ele no d a mnima!
Naquele dia, Karla viveu sua primeira grande frustrao. Mas o maior
baque aconteceu 11 anos depois, quando recebeu uma ligao inesperada
do pai, que at ento estava sumido. Karla comeou a entender que sua
me havia armado contra todos naquela noite e em outras incontveis
vezes. Ela descobriu que o pai esteve mesmo em So Lus. Para ele, minha
me prometeu que iramos praia em sua companhia, mas sumiu com a
gente quando ele passou para nos pegar. Para ns, inventou o jantar,
conta Karla. De to desorientada com a descoberta, trancou a faculdade
por um ano para digerir a histria. O mais difcil foi descobrir que meu pai
no era um monstro, diz Karla, que h 20 anos tem uma relao prxima
com o pai, mas no fala com a me desde que descobriu que ela manipula
da mesma forma seus dois outros filhos de outro casamento.
A histria de Karla e sua famlia to triste quanto antiga e corriqueira.
Pais e mes que mentem, caluniam e tramam com o objetivo de afastar o
filho do ex-parceiro sempre existiram. A diferena que, agora, h um
termo que d nome a essa prtica: alienao parental. Cunhada em 1985,
nos Estados Unidos, pelo psicanalista Richard Gardner, a expresso
comum nos consultrios de psicologia e psiquiatria e, h quatro anos,
comeou a aparecer em processos de disputa de guarda nos tribunais
brasileiros. Inspirados em decises tomadas nos EUA, advogados e juzes
comeam a usar o termo como argumento para regulamentar visitas e