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Nosso ponto é que o debate principal não tem que tratar do Pós-
Lula e sim do Pós-Crise Econômica e a Crise Ambiental .
Assumir um Pós-Lula significa um debate sobre gestão eficiente.
Claro, Dilma-a-mãe-do-PAC, não é o melhor exemplo de eficiência
em gestão pública, por mais que a propaganda oficial e seus tietes
profissionais se esmerem em dizer o contrário. Nesse sentido o
Serra tem mais currículo. Se formos para os possíveis vices a
comparação entre Temer e Aécio também não é muito favorável
para o governismo.
Nesse sentido o Pós-Lula seria um governo que “melhorasse” a
atual gestão, propondo ajustes talvez na estrutura de gastos
públicos, maior controle sobre o uso e aplicação de recursos,
melhorando a eficiência da máquina, tocando os programas sociais
com maior controle e avaliação de resultados, privilegiando o
mercado interno via empregos, mas mantendo a política de
expansão via crédito, apenas feita com mais cautela. Uma mexida
nos juros outra no câmbio etc...De fato é meio parecido com o que
vai saindo na mídia como expectativa para um governo Serra. Esse
momento ainda é coerente com essa estratégia, embora já vá
ficando mais evidente a necessidade de um debate programático.
Aqui é conveniente registrar que os avanços sociais se deram
fundamentalmente na eliminação parcial da pobreza. Parcial, pois
ainda somos uma das populações onde há mais famílias abaixo da
faixa de pobreza. Esse fato é que transformou a classe C na classe
com maior contingente populacional em nosso país, ao viabilizar a
mudança de faixa de renda dessas famílias via programas de
transferência de renda. Famílias migraram da classe D para a C.
Outro registro que deve ser feito: Proporcionalmente as famílias
mais pobres são elas mesmas as maiores contribuintes para a
manutenção dos programas de transferência. Metade de sua renda
retorna para o Estado via impostos indiretos.
Seja lá como for o debate real terá que ser aquele que trate de um
modelo capaz de apresentar:
a) Uma geoestratégia que resposta à inversão dos ciclos
poupança/investimento entre os blocos de países
desenvolvidos e países em desenvolvimento, a inserção do
Brasil num bloco e a sua linha de relacionamento com o outro.
Nesse último caso com políticas de exportação de capital,
inclusive, mudanças relativas de perfil exportador procurando
agregar valor às commodities mais tradicionais e entendendo
que a biotecnologia e alimentação orgânica e natural são o
nicho mais promissor na economia mundial, tendo em vista
nossas características territoriais. Em termos de América
Latina precisamos acelerar a integração regional, mas
estarmos cientes que essa integração não depende apenas
de acertos tributários, mas também de uma estratégia comum
frente ao resto do mundo. Para que isso se torne possível
devemos considerar como prioritária a integração operacional
e logística entre nossas indústrias;
b) Uma proposta de modelo de desenvolvimento atento à nova
economia do conhecimento, com uma visão de investimentos
públicos e privados e formação de poupança interna
coerentes com as demandas que esse novo modelo nos trás,
principalmente na indústria de energia alternativa. A
construção de um rol de prioridades para uma visão seletiva
sobre estímulos para os investimentos diretos estrangeiros;
c) Um modelo de gestão pública onde o Estado não é indutor
pelo gasto, mas pelo estímulo e pela condução de estratégias
que possam ser vitoriosas como a do investimento inovatório
com foco regional, trazendo para as regiões e micro-regiões a
soma dos investimentos dos três entes federativos e da
iniciativa privada, somando ações que atraiam para o projeto
o capital social;
d) Um novo modelo de gestão econômica que considere a
estabilidade, mas que olhe para o
crescimento/desenvolvimento econômico e social como meta
e que crie uma estrutura institucional para o seu debate e
controle social. Que de dê ao Senado Federal maior
capacidade de cumprir sua missão institucional de
acompanhamento do Banco Central do Brasil;
e) Esse Estado que se abre para o desenvolvimento não pode
ser o Estado do aparelhamento orientado para o poder de
grupos e para isso terá que ser o Estado da construção da
cidadania. Não Estado democrático possível sem formação de
cidadania. Esse desafio terá que ser vencido nos três níveis
federativos, mas principalmente na gestão municipal;
f) Esse projeto de desenvolvimento só será pleno se for capaz
de questionar o centralismo executivo e propor alternativas de
gestão pública com equilíbrio republicano, o que não se
tornará possível se não se realizar uma profunda reforma do
conceito republicano que principie pelos municípios,
invertendo a estratégia que privilegia o Poder Executivo
Central;
g) No campo social será preciso romper a leitura conservadora
que vem privilegiando as políticas sociais voltadas para a
promoção da igualdade. É evidente que há uma
responsabilidade para a sociedade em geral e, como já
afirmamos, a escolha já foi feita. A cidadania brasileira aceita
abrir mão de sua renda para que seja transferida e promova
as famílias que se encontram abaixo da linha de pobreza. Mas
é conservadora a política que se limita a retirar famílias da
linha de pobreza e promove sua melhor qualidade de vida
melhorando o consumo via expansão de prazo de pagamento
de prestações ou facilitação na obtenção de crédito. É ilusório
achar que é a política de estabilidade econômica o entrave
para a promoção social, quando é a inexistência de emprego
qualificado o entrave. Emprego qualificado que não se dá sem
educação qualificada que começa no ensino básico.
Municípios não deixam de produzir educação qualificada
apenas por falta de recursos suplementares em decorrência
de seu baixo desempenho econômico, mas por falta de
vontade política da sociedade também. A questão do emprego
qualificado e seus pré-requisitos não são tarefa burocrática de
um ministério e não são apenas questão de recursos. São
questões de um modelo de desenvolvimento que seja capaz
de gerar esses empregos em qualidade e quantidade
suficientes.
Como se vê nesta pequena lista acima todas essas questões estão
indissoluvelmente ligadas umas às outras. Não existe uma solução
de partes. Ou a solução forma um todo coerente ou teremos à
frente outros anos e décadas perdidas pela fragilidade da
capacidade de resposta.
O debate se for sério e se for para nos levar à frente, rumo a um
futuro melhor para todos e todas terá que ir muito além do Pós-Lula.
Demetrio Carneiro
(1)http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/02/16/p
olitica,i=173887/SERRA+E+POS+LULA+ANALISA+EL+PAIS.shtml