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PÓS-LULA OU PÓS-CRISE ECONÔMICA E CRISE AMBIENTAL?

O ano de 1929 foi de crise econômica. Ali os alicerces da economia


foram seriamente abalados. Diferentemente de 1929, a atual crise
vem casada com outra crise: A ambiental. E, certamente,
interagirão mutuamente.
A crise ambiental cobra investimentos em escala jamais vista, mas
cobra também uma mudança de paradigmas que afetará
profundamente a economia real. Todo um modelo de “bem-estar
econômico e social” precisará ser revisto, indústrias tradicionais e
todo o seu entorno terão que ser postas em cheque, redirecionadas
ou, mesmo, superadas.
A crise econômica cobra despesas que mantenham o ritmo de
demanda agregada. Despesas que geram dívida pública e reduzem
o espaço dos investimentos.
Meio-ambiente e economia parecem estar em campos opostos,
principalmente nos países desenvolvidos. Qual gestor escolheria
nesse momento sacrificar a indústria de automóvel e todo o seu
séquito de indústrias e prestação de serviços acessórios, estradas e
empreiteiras, lanchonetes e postos de gasolina?
Seja como for esse novo mundo que se anuncia só será possível e
viável se houver orientação nos investimentos, no caso brasileiro,
se houver investimentos, se o papel do Estado ficar mais bem
delimitado, se o gestor, apoiado pela sociedade, entender que há
riscos novos a correr, mas com resultados que poderão ser
acelerados pela pactuação social de um Estado democrático e
democratizado. Da mesma forma temos que responder como esse
movo mundo poderá se dar com mais justiça social e menos
desigualdades.
A economia internacional está em rápida mudança abrindo
armadilhas perigosas para países como o nosso, sem formação
mais sólida de mercado interno e dependente da exportação de
commodities, mas também está abrindo janelas de oportunidades.
Trata-se da construção de propostas que possam satisfazer as
condições e contradições desse novo contexto. A solução vai estar
na capacidade de articular esses três elementos numa saída que só
será possível mediante um modelo de desenvolvimento diferente do
que nos trouxe até aqui. O modelo atual não responderá às
contradições do processo. Apenas as aprofundará.
O debate no estilo “Pós-Lula” não constrói as condições
necessárias porque apenas olha para trás, não lida com o presente
e muito menos com o futuro.
O Correio Braziliense(1), citando o jornal espanhol El País:
“qualquer que seja o vencedor das eleições de outubro, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva sairá, simbolicamente, vencedor
da disputa. Segundo o texto, assinado pelo correspondente do
jornal no Brasil, Juan Árias, mesmo na hipótese de vitória do
governador de São Paulo, José Serra (PSDB), as conquistas
sociais da gestão petista seriam mantidas, e, com isso, Lula estaria,
de certa forma, presente no próximo governo.”
Na realidade o articulista compra a proposta do embate plebiscitário
e já dá seu voto ao assumir que tudo que temos hoje na área social
é fruto único da era Lula. Digamos que é uma construção
interessada.

Nessa lógica de construção tem sentido falar em Pós-Lula. Essa


mesma tese já foi discutida em outros fóruns e há muita gente no
campo da oposição disposta a comprá-la, como forma de suavizar o
embate com uma gestão recordista de avaliações positivas. Seria,
ainda nessa lógica, uma estratégia válida se não houver uma
apresentação programática capaz de contrapor com clareza o que é
e do que se sustenta esse governo.

Nosso ponto é que o debate principal não tem que tratar do Pós-
Lula e sim do Pós-Crise Econômica e a Crise Ambiental .
Assumir um Pós-Lula significa um debate sobre gestão eficiente.
Claro, Dilma-a-mãe-do-PAC, não é o melhor exemplo de eficiência
em gestão pública, por mais que a propaganda oficial e seus tietes
profissionais se esmerem em dizer o contrário. Nesse sentido o
Serra tem mais currículo. Se formos para os possíveis vices a
comparação entre Temer e Aécio também não é muito favorável
para o governismo.
Nesse sentido o Pós-Lula seria um governo que “melhorasse” a
atual gestão, propondo ajustes talvez na estrutura de gastos
públicos, maior controle sobre o uso e aplicação de recursos,
melhorando a eficiência da máquina, tocando os programas sociais
com maior controle e avaliação de resultados, privilegiando o
mercado interno via empregos, mas mantendo a política de
expansão via crédito, apenas feita com mais cautela. Uma mexida
nos juros outra no câmbio etc...De fato é meio parecido com o que
vai saindo na mídia como expectativa para um governo Serra. Esse
momento ainda é coerente com essa estratégia, embora já vá
ficando mais evidente a necessidade de um debate programático.
Aqui é conveniente registrar que os avanços sociais se deram
fundamentalmente na eliminação parcial da pobreza. Parcial, pois
ainda somos uma das populações onde há mais famílias abaixo da
faixa de pobreza. Esse fato é que transformou a classe C na classe
com maior contingente populacional em nosso país, ao viabilizar a
mudança de faixa de renda dessas famílias via programas de
transferência de renda. Famílias migraram da classe D para a C.
Outro registro que deve ser feito: Proporcionalmente as famílias
mais pobres são elas mesmas as maiores contribuintes para a
manutenção dos programas de transferência. Metade de sua renda
retorna para o Estado via impostos indiretos.

O grande problema com o Pós-Lula é que não se assume que


houve uma mudança de qualidade no processo e ela não vem
apenas das induções forçadas pelo atual governo ao apagar das
luzes dessa gestão: Pré-Sal, Copa, Olimpíadas, Consolidação das
Leis Sociais, PNDH 3. As verdadeiras mudanças que se fazem
necessárias vêm das duas crises (econômica e ambiental) e dos
cenários que vão se desenhando.

Gostemos ou não o Brasil está longe de ter um mercado interno


capaz, por si só, de manter um ritmo de crescimento de médio e
longo prazo. Da mesma forma ainda não temos estrutura de
poupança interna capaz de financiar esse crescimento. Ambas as
questões apontam para o exterior. Se a solução da primeira,
exportações, encontra alguma dificuldade num mundo onde nossos
mercados finais ainda estão em crise, a segunda encontra muita
facilidade justamente por isso. São as contradições dessa
complexidade. O que nos nega demanda gera recursos.

Certamente o atual quadro de excepcional liquidez não terá duração


infinita. Tanto a ampliação da crise nos países desenvolvidos, como
sua recuperação podem significar queda de fluxo ou mesmo
reversão. Seria, digamos, uma janela de oportunidades. É nesse
contexto que a indução feita por esse governo deve ser discutida ao
estabelecer uma linha de demanda concorrente de investimentos.

Vamos esquecer o debate sobre a estabilidade e pensar nele como


ponto mais ou menos pacífico. Apenas registremos que nenhuma
das conquistas econômicas de viés social, obtidas a partir da
Constituição de 1988 (a atenção à questão social não é atributo de
Lula ela é dada pela CF. Não há uma “escolha” a ser feita pelos
futuros governantes. A sociedade brasileira já fez esse trade off lá
trás.), seriam possíveis num regime de inflação alta, onde,
sabidamente, são as classes mais pobres as principais perdedoras
do sistema de transferência indireta de rendas que se estabelece.
Todos os debatedores de mais faixa de variação de meta de
inflação ou de metas de variação de câmbio ou da Selic por decreto
deveriam estar de olho nessa questão.

Seja lá como for o debate real terá que ser aquele que trate de um
modelo capaz de apresentar:
a) Uma geoestratégia que resposta à inversão dos ciclos
poupança/investimento entre os blocos de países
desenvolvidos e países em desenvolvimento, a inserção do
Brasil num bloco e a sua linha de relacionamento com o outro.
Nesse último caso com políticas de exportação de capital,
inclusive, mudanças relativas de perfil exportador procurando
agregar valor às commodities mais tradicionais e entendendo
que a biotecnologia e alimentação orgânica e natural são o
nicho mais promissor na economia mundial, tendo em vista
nossas características territoriais. Em termos de América
Latina precisamos acelerar a integração regional, mas
estarmos cientes que essa integração não depende apenas
de acertos tributários, mas também de uma estratégia comum
frente ao resto do mundo. Para que isso se torne possível
devemos considerar como prioritária a integração operacional
e logística entre nossas indústrias;
b) Uma proposta de modelo de desenvolvimento atento à nova
economia do conhecimento, com uma visão de investimentos
públicos e privados e formação de poupança interna
coerentes com as demandas que esse novo modelo nos trás,
principalmente na indústria de energia alternativa. A
construção de um rol de prioridades para uma visão seletiva
sobre estímulos para os investimentos diretos estrangeiros;
c) Um modelo de gestão pública onde o Estado não é indutor
pelo gasto, mas pelo estímulo e pela condução de estratégias
que possam ser vitoriosas como a do investimento inovatório
com foco regional, trazendo para as regiões e micro-regiões a
soma dos investimentos dos três entes federativos e da
iniciativa privada, somando ações que atraiam para o projeto
o capital social;
d) Um novo modelo de gestão econômica que considere a
estabilidade, mas que olhe para o
crescimento/desenvolvimento econômico e social como meta
e que crie uma estrutura institucional para o seu debate e
controle social. Que de dê ao Senado Federal maior
capacidade de cumprir sua missão institucional de
acompanhamento do Banco Central do Brasil;
e) Esse Estado que se abre para o desenvolvimento não pode
ser o Estado do aparelhamento orientado para o poder de
grupos e para isso terá que ser o Estado da construção da
cidadania. Não Estado democrático possível sem formação de
cidadania. Esse desafio terá que ser vencido nos três níveis
federativos, mas principalmente na gestão municipal;
f) Esse projeto de desenvolvimento só será pleno se for capaz
de questionar o centralismo executivo e propor alternativas de
gestão pública com equilíbrio republicano, o que não se
tornará possível se não se realizar uma profunda reforma do
conceito republicano que principie pelos municípios,
invertendo a estratégia que privilegia o Poder Executivo
Central;
g) No campo social será preciso romper a leitura conservadora
que vem privilegiando as políticas sociais voltadas para a
promoção da igualdade. É evidente que há uma
responsabilidade para a sociedade em geral e, como já
afirmamos, a escolha já foi feita. A cidadania brasileira aceita
abrir mão de sua renda para que seja transferida e promova
as famílias que se encontram abaixo da linha de pobreza. Mas
é conservadora a política que se limita a retirar famílias da
linha de pobreza e promove sua melhor qualidade de vida
melhorando o consumo via expansão de prazo de pagamento
de prestações ou facilitação na obtenção de crédito. É ilusório
achar que é a política de estabilidade econômica o entrave
para a promoção social, quando é a inexistência de emprego
qualificado o entrave. Emprego qualificado que não se dá sem
educação qualificada que começa no ensino básico.
Municípios não deixam de produzir educação qualificada
apenas por falta de recursos suplementares em decorrência
de seu baixo desempenho econômico, mas por falta de
vontade política da sociedade também. A questão do emprego
qualificado e seus pré-requisitos não são tarefa burocrática de
um ministério e não são apenas questão de recursos. São
questões de um modelo de desenvolvimento que seja capaz
de gerar esses empregos em qualidade e quantidade
suficientes.
Como se vê nesta pequena lista acima todas essas questões estão
indissoluvelmente ligadas umas às outras. Não existe uma solução
de partes. Ou a solução forma um todo coerente ou teremos à
frente outros anos e décadas perdidas pela fragilidade da
capacidade de resposta.
O debate se for sério e se for para nos levar à frente, rumo a um
futuro melhor para todos e todas terá que ir muito além do Pós-Lula.

Demetrio Carneiro

(1)http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/02/16/p
olitica,i=173887/SERRA+E+POS+LULA+ANALISA+EL+PAIS.shtml

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