Vous êtes sur la page 1sur 18
‘eeoor: Lela também: Brasil: Conceitos e Temas organizagio Ind E. Castro/Paulo Cesar C. Gomes Roberto L. Coréa Geografia e Modernidade Paulo Cesar C. Gomes Trajetirias Geogrificas Roberto Lobato Coréa O Mito da Necessidade Ina Elias de Castro ‘Seografia Urbana do Ind Elias de Castro Paulo Cesar da Costa Gomes Roberto Lobato Corréa organizadores BRASIL: QuEsTOES ATUAIS DA REORGANIZACAO DO TERRITORIO BERTRAND BRASIL = (RAMEN ARID RAE OOO TEPC: [EMBRATEL. Rede Trnsola — crs cmc por rotate. ‘dae Ri de ane, 1988, 24, [ERBERF-5.e AMARAL, LU. Oxcontos de pesquisa dae empress ‘stata um etude do ts css. In Setwartzman, § (ooord). itn een no Bras poli dst, moreno de © toe insinaces de ao 2. Ko de Janse, Fundagio Gataio, Vargas 199 pp. 390971, HARVEY, D. The contion of pstmalerity. Oxford, Basi Blake 199,376. LHOBDAY, M. The Brain tesmmenictons indestry: acumen “of rca echt tthe mafeurng a eee for Huo deanete, UFR)/1E, mimeo, 198, 6p. TOGE. Ani Esai d Bras 1971965, Rode Janel, 198, 729, TBE. Amubo Estate do Bras 198. io de Janeiro, 194,832 LOJKINE: J Stratis des gre engi et pltiqes uae: ss langue sre. Pars Centre dtd des mouse ‘ments seen 1976 115 p. MACHADO, LO. 8 Amazinia brasileira como exemplo de uma combinagao geoestrategieae cronoertratepics. Tubinger Grgraphitche Shut 95 16920419857. MACULAN, A. M. Process daca 9o str detects, Ria 4 Jane, [UPER, Tese de Mestrado 1981 196 p DMAGNIEN, M. Hise de tri 1890-1980, un site crit dns e monde. Pal, Actes du premier collogueintrmationl Aisle de Flac 1965, 9p. | MARQUES, N. Fda 8. A cotcentriio boris brsira no perils i195, Sto Paulo, USP, Tee de Doutorad, 1982 146. [MINISTERIO das ComuniagSes. Cmuniaes no Bras $7. Rlo de Tale, 1987, 67 p. | [RATTNER, H, Indstriliznioeconcentrago sconce Sto Pal. | Rio deancire, Fundasso Geto Varga, 1972215 p BREICHSTUL, H.P.e COUTINHO,L-Invstimentoeataal 1974-1980; ‘do eerie Ir Beluzs, LG « Coutinho, Beda). Deseret ‘iment captain no Braemar sobre rise, 2 Sto Paulo, Beasiene, 1983, pp. 3858 SANTOS, M Pasodoe presente das lass entre sociedad erp2- 0 loclizagho pontual da indistia maderoa no Estado da Bahia. Blin Pls de Gori. 65.528, 1997, SANTOS, M. Modeenidade, meio tenio-denticoe ubanizagio no Brat Caernos IPPURVUFRL, VI (1 922 1992 PeNSANDO A CIDADENO BRASII. DO PaSsabo! ‘Mauricio de Almeida Abreu Em contraposigio aos iltimos cingdenta anos, que clevaram a cidade a uma posigio cada vez mais desta- cada na estrutura econdmica, politica e cultural do Brasil, ransformando-a, inclusive, em tema privilegiado de estudo da Geografia, no longo perfodo que antecede 1 essa fase de urbanizacio acelerada, a importancia da cidade, enquanto objeto de reflexdo, foi, obviamente, muito menor. Isto nio quer dizer, entretanto, que a cidade e as quest6es urbanas estivessem ausentes do temério colonial ou daquele do Brasil do século XIX. ‘ho contrario, o que se verifca é a existencia de uma rflexio continua e crescente sobre a cidade brasileira, ainda que tenham variado, ao longo desse perfodo, tanto os agentes quanto 03 objetivos e a fundamentacio desse pensamento, Este trabalho pretende resgatar, {cha ated com ast doce da PINE «spread no dle noventro de 1991 «erganzado peo Proremne Interdicpire de Recherche sr la Vile do Cente Nana! dels Recherche Seige (CNG) Ein seul fl tem pesado wo Simp Nocona de ‘Grogatia itor, slndo om forse Cette 16020 deel de {9m sob oeauepces ds Renan dor Cogn Baars. we ‘BRAS: QUESTOES ATUAISDA REORGANTZACAO DO TERROR ainda que sumarlamente, quem pensou a cidade bast Tera do passadoe quals foram esas reflexes ‘Antes de Inidar a andlce€ necesséio,enretant, aye © tema a ser disclido sejaclaramente recorads, ‘Afada que otulo deste trabalho poss dara entender aque prtendemos anaisro “Bra urbano do passed, sta tarefa seria, obviamente, ambiciosa demats, Nao nos paree inclusive, que sea possvel a um tnico pes uisedor desvendar todas as dimensbes (econdmicas, Soci, ultras e terior) que envelveram o pase do urbano do pas ainda que se conhecam raballos de grande envergadura nessa direcso (MORSE 1975, Rls Fo, 1968). Muito mais modestamente,o que pret. demos discus aqul€ como a dade, enquanto materia: lidade social claramente diferente do campo, destacou. se como objeto especiio de refleio no Bra do pass do, tentando relacionar, na medida do possivel, esc pensamento utbano que surga com o processo maior de evolugto da socedade (das cidade) braless, Pensando a Cidade no Perfodo Colonial comum afirmar-se que a cidade teve um papel pouco importante na colonizacio brasileira. Com efit, se adotarmos um ponto de vista estritamente quantita vo, 6 visivel o contraste que se estabelece entre a imensi- 4430 do territério conquistado pelos portugueses na ‘América — que ultrapassou em muito a linha demarcar toria de Tordesthas —e © pequeno ndmero de cidades ¢ vilas fundadas durante a época colonial. Conforme emonstrou Aroldo de Azevedo, 2 obter sua indepen- <éncia politica em 1822, 0 pais contava com 219 nacleos turbanos, a grande maioria de tamanho quase insignifi- ecb: FBEANDOACDADE NORA, co ‘ante, trés quartos dos quals estabelecidos nos timos 100 anos (AZEVEDO, 1956), Essa base urbana modesta, que contrastava com a rede de cidades muito mais complexa implantada na ‘América Espanhola, tem sido explicada a partir das diferencas que se estabuleceram entre os processos de colonizagio adotados pelos dois paises ibéricos no Novo Mundo. Por um lado, 0s espanhsis nio apenas encontraram na América civilizagdes que js possulam tuma base urbana, como tiveram na mineracio a sua base de apoio mais importante, que exigit o estabele- climento de uma série de nécleos de controle da prod- so ecreulagio dos metais preciosos. Ademais, a con- uista espanholaalicergou-se, desde 0 inicio, na fanda- fo de cidades, uma pritica que acabou sendo ofcali- zada pela metr6pole a partir de 1573, quando foram promulgadas as Ordenacaes de Descobrimenta e de Povoamento de Felipe Il, também conhecides como “Leis das Indias", um verdadeiro guia orientador de todo 0 procesio de colonizasSo espankola eque tem sido apon- tado como o primeiro cédigo de urbanismo da idade smodera (SALCEDO, 1990) A colonizagéo portuguesa da América seguiu outros caminhos. Nao encontrando no Brasil, de ime- dato, as riquezas minerais que tanto almejavamy os por- tugueses deram ao territrio recém-conquistado uma atengio apenas secundaria, garantindo sua presenga af pelo estabelecimento de feitorias, onde o pau-brasil ccomerciado com os indfgenas era embarcado para a Europa. A ameaca crescente de outras nages européias, notadamente da Franca, que no aceitavam a doutrina do mare clausum contida no pacto de Tordesilhas, logo alterou,entretanto, essa estratégia inical. Objetvando 1s [BRAS QUESTOESATUAI DA REORCANIZAGAO DO TBITORUD consolidar seu dominio sobre a terra conquistada, Portugal deu entio inicio, a partir de 1522, a politica de colonizacio efetiva do Brasil, que assumiu, entretanto, ‘um contorno diverso daquele verificado na maior parte dda América Espanola, notadamente no que diz respe toao papel das cidades. {A produgio de conhecimento sobre o perfodo colo- nial ver sendo enriquecida, nos Glkimos 50 anos, por andlises de peso, que tem combatido a explicagio tradi- ional de que o Brasil se explicaria apenas pela sucessio de ciclos econdmicos, cada um voltado para um produ to de exportagio. Caio Prado Junior, Celso Furtado € Femando Novais, por exemplo, tim apontado pata uma determinagao estrutural da economia colonial, que seria 4 sua definigio mesmo como o lacus de producio e de transferencia de excedentes para a metr6pole (PRADO JUNIOR, 1942; FURTADO, 1970; NOVAIS, 1988). Para enten der 0 Brasil colonial seria necessério, entdo, compreen- der primeiro a hist6ria comercial européia. Jacob Goren- der e Ciro Cardoso, por outro lado, sem tirar a impor- tincia fundamental da vinculagao externa, defendem ‘que haveria também uma certa autonomia da economia colonial, chegando mesmo a sugerir a existéncia de um ‘modo de produgio escravista colonial (GORENDER, 19785 ‘CARDOSO, 1980). Divergentes nesses termos, ambas as pposigdes apontam, entretanto, para a mesma direcio: © Brasil colonial centra-se fundamentalmente no campo. Definida assim a economia colonial, qual teria sido fentao o papel da cidade nesse sistema? Seria mesmo a cidade, nessa época, um objeto digno de interesse e de atencio? Se esse for 0 caso, quem pensaria entso a cida- de ede que mancira? FORANDO A CDADENOBASE., co A interpretagio usual que se d& sobre a cidade colonial brasileira & a de que ela néo foi mais do que um ponto de controle do terrtério. Caracterizada pela auto- suficigncia, por seu cardter “autirquico", a grande pro- priedade rural escravista prescinditia inclusive da exise téncia material dos niicleos urbanos, isto s6 nio ocor- rendo totalmente porque ai estava localizado o poder local, principal elo de intermediagdo entre 0 colono e © Rei, € sobre o qual os grandes proprietarios tinham nio 56 influéncia como controle (LO80, 1962; DUARTE, 1966; ‘OLIVEIRA, 1982; ZANCHETH, 1986). Mesmo assim, dados 5 Iongos trajetos a percorrer e a precariedade das ‘comunicag6es internas, era somente em ocasibes espe- dais, e muito especialmente nas festas cfvicas ou religio- sas, que a classe proprietiria se dirigia aos poucos niicleos urbanos existentes, que definhavam o restante do ano em insuportével e insignficante monotonia. ‘Uma das grandes qualidades da producio acadé- ‘mica recente sobre o Brasil colonial tem sido a sua insis- téncia em recolocar em debate uma série de explicagées sobre a historia do pais. Aliando 0 rigor teérico a preo- ‘cupacio com a procura de bases empiricas até agora pouco utilizadas ou desconhecidas, intimeros trabalhos ‘vem, por um lado, confirmando antigas certezas ¢, por outro, oferecendo também novas (e surpreendentes) rovelagées. Dentre essas revelagbes destaca-se a com provagio de que a economia colonial era muito mais complexa do que se pensava anteriormente, 0 que colo- ca em xeque (ou relativiza) uma série de afirmagoes consagradas. £ 0 caso, por exemplo, das teses que sus- tentam a total autarquizacio do mundo rural face a0 turbano, ou que pregam a impossibilidade de realizagio de acumulagées endégenas a colénia, que vém sendo 0 ‘RAS: QUESTOR ATU D4 REORCANEACAODO TERROR crescentemente rejitadas por trabalhos que comprovam a existincia, principalmente a partir do séeulo XVI, de tuma extensa rede de abastecimento do mercado interno, ‘comandada sobretudo pelos grandes comerciantes turbanos da colOnia (os chamados “negociantes de gros- 0 trato”). E mais: as estratégias de acumulagao desses negociantes nao se constituiram em mero reflexo dos interesses comerciais metropolitanos (VERGER, 1987; SCHWARTZ, 1985; FRAGOSO, 1992; FRAGOSO e FLOREN- ‘TINO, 1993), ‘A afitmagio de que as cidades brasileiras foram ‘obra do acaso e da imprevidéncia também vem sendo posta a prova. E ao contririo do que sustentam certas, cexplicagdes consagradas, 0 que vem aflorando dessas analises € que o Estado Portugues teve um papel muito ‘mais importante na organizagio territorial e urbana da colonia do que aquele que € geralmente admitido. A fundagdo de niicleos urbanos nas freas de fronteira com 1 América Espanhola durante o século XVIII, por exem- plo, sempre foi explicada pela historiogratia brasileira como evidéncia da adogio de crtérios ntidamente geo- politicos na orientaao do processo de ocupasio do ter- it6rio. O que s6 se ficou sabendo mais recentemente, ceniretanto, & que essa estratégia foi muito mais planeja- dda do que se pensava. Nela estiveram envolvidos diver- 508 engenheiros militares, que pensaram a cidade no ‘86 em termos de logistica militar, mas como elementos dde um sistema urbano maior (MACHADO, 1989; DELSON, 1979; FLEXOR, 1988), confirmando assim © que Nestor Goulart Reis j havia indicado hé algum tempo, ou seja, de que tanto a criagao de cidades e vilas no Brasil colo- nial, como a elevagio de vilas & categoria de cidade, obedeceram a um projeto de politica territorial muito ‘PESANDO A CADE NOBRAI.. a mais abrangente do que aquele que ¢ geralmente admi- tido (REI FILHO, 1968). A atuacio dos engenbeiros ml tares néo se restringiu, ademals, as éreas de fronteir Ela se fee sentir também no planejamento e embeleza- mento de outras cidades vila, o que nos permite earac- terizé-los como grandes pensadores urbanos do Brasil colonial (UNDERWOOD, 1888; DAL BRENNA, 1990). E entretanto no que diz respeito & organizagio interna dos nicleos urbanos que as revelagbes tém sido ‘als contundentes. Durante muitos anes tornou-se um axioma repetir a afirmacio de Sérgio Buarque de Ho- Tanda de que “a cidade que os portuguesesconstraram na América nao produto mental, no chge a cantradizer 0 qua- dro da nature, e sua sidhueta se ena na linha da paisa ‘ger. Nenhure rigor, nenhure métod, neni previdénca, Sempre esse significativo abandono que exprime a paleora ‘desleixo..” (HOLANDA, 1984: 76).. Vistas assim como produto da imprevidéncia, as cidades brasileiras con- trastariam flagrantemente com aquelas da América Espanola, onde a implantacio de nicleos urbanos fot prevista rigorosamente pela Coroa, que impurha a ado- {4 do plano em grelha, do tabuleiro de xadrez,€ que Chegava a detalhar 0s locas onde seram construtdos os edifcios da administragdo, as igreas, os conventos, € ‘mesmo as residéncias da elite da terra. Um autor che- ‘gou mesmo a afirmar que “os portuguess etabeleceram to Brasil, quase intacto, 0 mundo que haviam eriado na Europa... ordem era ignareda pelos portugueses. Suas rua, ironicamente chamadas de “diretas" eram torias € ches de altos ebaizs, as pags eram geralmente iregula- ‘en Nada inventarant os portuguess em rego &planifca- 0 de cidades em pases novos” (SMITH, 1954; apud P.O ‘AZEVEDO, 1990306), = BEASK: QUESTDES ATUAS DA REORCANIZAGAO DO TERRTONO. Que essas afirmagées foram precipitadas, ou pelo ‘menos mal formuladas, nao ha qualquer divida hoje. Se ‘a comparacio de planos de cidades revela, sem davida, dliferengas marcantes quanto a forma urbana implanta- dda por espanhéis e portugueses na América, ela nao é suficiente para que se conclua que as cidades brasileiras surgiram e se estruturaram avessas a qualquer preceito de ordem. Hi evidente exagero na formulacio dessas teses. Se a afirmagdo consagrada de Sérgio Buarque de Holanda pode servir para explicar 0 padrio que se desenvolveu a partir do erescimento de antigos arraiais povoados, ou mesmo de algumas vilas fundadas por donatérios, ela certamente nao se aplica a todos os icleos urbanos fundados no periodo colonial, e muito ‘menos as cidades reais, ou seja, Aqueles ntcleos urbanos ue foram fundados diretamente pela Coroa. Com efei- to, mapas antigos de Salvador, do Rio de Janeiro, de Joio Pessoa, de Sa0 Crist6vao e de Cabo Frio indicam {que nas cidaes reais fot geralmente adotado um plano geométrico, cujas irregularidades, como bem lembrou Morse, sao compardveis aquelas que a topografia e a8 fortficagdes impuseram a diversas cidades portuérias |hispano-americanas (MORSE, 1975: 156). Sabe-se que a fundagio da primeira capital brasi- leira, em 1549, foi detalhadamente planejada pelo governo portugues, que enviou & Baia de Todos os ‘Santos o “arquiteto” Luiz Dias com a incumbéncia espe- cifica de dirigir a construgao da cidade do Salvador, segundo um plano geral elaborado diretamente pela Coroa e que, infelizmente, nao chegou aos noss0s dias. A presenca de um mestre-de-obras, responsivel pela ‘medigho de terrenos e pela construgio de edificos e for- tificagoes, também é confirmada no Rio de Janeiro FOSINDO ACDADENORRASE. 1s desde 1567, data em que a cidade foi transferida do arraial inicial fundlado por Estécio de Sé para o seu sitio definitive no Morro do Castelo (REIS FILHO, 1968: 68; Treslado de... E 0 que falar da despreocupacio com a arruacio, que segundo tantos autores comprovaria o “desleixo” portugués no que toca & fundagio de cidades no Brasil? Se o caso do Rio de Janeiro pode servir de exemplo, 0 {que verificamos é que ai ocorreu justamente o contrério. [As decisdes relativas & medigio e & arruacio das sesma- vias de chios, ou seja, dos lotes urbanos doados para a formacio da cidade, aparecem desde os primeiros tem- pos e prolongam-se por todo o periodo colonial. O que rio pde ser encontrado — ou nio existiu — foi um oo digo especifico sobre esse assunto. Vigiam ai as tradicées, ‘€08 costumes do Reino, que nem sempre se materializa- ‘vam em posturas urbanas formas, mas que nao deiea- vvam de ser seguidos. A documentagio existente sobre fesse assunto comprova plenamente esta afirmacSo. Em 1573, por exemplo, quando a cidade do Rio de Janeiro jé comecava a abandonar o seu sitio em acrépole (G=RNARDES, 1960) e a expandir-se em diregio a vrzea ircundante, 0 Governador Cristévao de Barros conce- ‘deu uma sesmaria de chéo “na virzea e praia desta cidade” com a ressalva de que entre 0 chao dado e um. ‘outzo jf concedidlo deveria ser reservado um espago de trinta palmos para a abertura de uma rua (AGCR)). Outro documento, este de 1595 e sobre uma lienga para, ‘a construgio de casas em érea onde o mar havia recua- do, registra um despacho explicto da Cémara ordenan- do ao mestre-de-obras da cidade que fosse “arruar 20 Suplicante como pede, deizando& rua o que se costuma”. ‘Cumprida a exigéncia, foi entio redigido um auto de 7 ‘BASIL QUESTOESATUAS DA REORGANTZACAODOTEACTOND -medigéo em que se informa que ficaram “trinta¢ cinco pms de rua gue o dito arruador the deisa por ser rua prin- ‘ipa (Petigio de...) Escrituras de venda de iméveis dos séculos XVII e XVIII também fazem indimeras mengbes a obrigatoriedade de arruacio dos lotes, e muito espe- cialmente daqueles que estavam localizados em trechos ainda nio cordeados de artérias ja existentes, garantindo- se assim o perfeito alinhamento das ruas quando estas fossem prolongadas? ‘Murillo Marx afirmou que a “questio crucial” a respeito das cidaces brasileiras € saber 0 que weio antes, 0 larruamento ou a concessio de seguidas ou sucessivas datas? (MARX, 1991: 77). Se a documentagio historia referente 20 Rio de Janeiro pode ser chamada a dar alguma res- posta, concluimos que o arruamento e a concessio de datas ndo se sucederam mas foram concomitantes, 0 que vem reforcar a tese de que a cidade que os port- agueses criaram na América, a0 invés de ser 0 puro fruto do deus-daré, foi muito mais planejada do que € geral- ‘mente admitido. Ao contrério do que afitmou Sérgio Buarque de Holanda, muitas cidades brasileiras, entre elas 0 Rio de Janeiro, foram decididamente um “produ to mental” dos portugueses. A pouca expressividade que teve 0 modelo em tabuleiro de xadrez no Brasil colonial nao pode, pois, ser vista como auséncia de rigor, de método ou de previdencia no planejamento de ‘iicleos urbanos. E muito menos como desleixo, A simples comparagio de planos urbanos nio diz muita coisa sobre © proceso histérico da urbanizagio brasileira. Conforme afirmou Nestor Goulart Reis, as 3 Diver ats de wraps se enconrdos a revit Acido utr Fda Rio de Janta, vlumes 1 HOUND. Enmore ‘am desde noice da Cara Nonpln cidacles brasileiras responderam a outra tatica colonial (REIS FILHO, 1968: passim). Murillo Marx, por sew lado, avancou mais recentemente a tese de que “as cidades coloniais espetharam uma outra forma de organizagio do poder metropolitano, distinta das weeidades e necessidades inperiis hispsicas..[Dai) ao contrrio de obediéncie a um pido estipulado por le, tivemos 0 prosseguimento de uma ‘maneira habitual de organizar o espago urtano do reino, cal- cada na sua legislagao, no seu controle e no seu costume.” (MARX, 1991: 60). E prossegue o mesmo autor“. nao se ‘adotow um padrdo urbuntstico a se repetir indefinidamente, on E quando, perantesituagdes ou momentesespeciais,euidouse ide ber tragar ou traar com elareza 0s micleos coloniais, fadotarar-seplanas regulaes sia, porém completamente dis- tintos daguele padrao eleito pelos espanhsis e feito lei” (ane, 1991: 60-61). (Os controles exercidos pelo Estado Portugués no se limitaram, eptretanto, as questbes do plano da cida- de. les fizeram-se sentir também em outras dimensoes da vida urbana, ainda que isto ndo seja muito aparente a primeira vista Com efeito, se as Ordenagbes do Reino, que reglam asociedade portuguesa daquém e dalém mar, eram menos detalhadas do que as OrdenagSes espanholas, {sto ndo significa que elas eram mais permissivas o ‘menos controladoras. Na verdade, o Estado Portugués se insinuava por todas as dimensoes da vida urbana, ¢ ruito especialmente nas cidades reais. Se a autonomia ‘municipal, conquistada nos tempos medievais e transfe- rida para o Brasil, assegurava &s cidades evilas 0 direito de fazer justica em nome do rei e de legislar sobre 0 que cera de seu “peculiar interesse", os limites impostos a esse direito sempre se fizeram sentir, e ainda cresceram ~ as quests Tun oa ReoncaNzaghopO Tea ‘com 0 tempo. A centralizagio da administragdo colonial materializava-se, por exemplo, na intervengao direta, ‘que 0s ouvidores da Coroa faziam sobre os assuntos locais em suas correigées (auditorias) anuais, anwlando decisdes dos vereadores, exigindo a adogio de determi rnadas posturas urbanisticas por parte da Cémara, e che- sgando mesmo a interferir nos minimos aspectos do quo- tidiano urbano (TOURINHO, 1929-1931). Os controles materializavam-se também na delegacio de poderes Igreja, que era entio umbilicalmente ligada a0 Estado, para que esta legislasse sobre aspectos da vida religi fe mesmo mundana, como bem demonstram as Cons- tituicoens Primeyras do Arcebispado da Bahia, cujos efeitos se fizeram sentir por todo 0 pais ¢ atingiram o século| fem curso (MARX, 1991: Capitulo 1) Coneretizavam-se, por fim, na intervengio direta do monarca em assuntos verdadeiramente paroquiais, © que ocorreu sobretudo nas cidades reais. Hii que se relativizar, portanto, as afirmagoes que pregam a inexistencia de controles e planejamentos hs ees ene Estado tein re ome erase fo ‘srt amiga socedde prtasuss(COUINO 19) Aerts Se una ilo em sade de spaan for exemplo, va moc ie improrts Segundo a tuo ramanoitetes setae recat er Drips nto nti, ono, a Cala slo ana mate a ‘Go epirtal de Orem Se Co larvae apreindne quan dah Silane lo bepae so eae da Grd do Cote Le pose Sento nes de primer grands te br smn pod el tesla, be 6m fans qu shoe TO 108), * Dicordames, neste senido, d ps de Murillo Mare que fea (an 1st 5697 que foram tx nas aon inltrncs do [tpi enor estos munich aque shen 8 spe es ‘cidade O exemple do Re ns mts qs nerve fa ‘oatafe ¢mubiaetads, lin de de amp ep se eee ime cso vp at oo ls odor sna [ENSANDO ACDADENO BRASIL w urbanos no Brasil colonial. Mesmo que nos limitemos 120 Ambito da forma fisica das cidades, essa conclusso também nao se sustenta plenamente. E embora isto ppossa parecer paradoxal, parece que foi a existencia de controles metropolitans rigidos, e nao a sua auséncia, a grande responsavel pela menor regularidade de muitas cidadles brasileira. A autoridade das Camaras Municl- pais, sob o regime colonial, era bastante restringida pela ‘exigéncia de obtencio de permissdes, de licencas e de autorizagdes régias para intimeras iniciativas locais, sobretudo quando estas envolviam despesas. Os gover- antes municipais viviam sob um permanente regime de tutela, sendo abundantes os exemplos de obras pie blicas necessarias, muitas das quais urgentes, que eram adiadas ou procrastinadas, com graves prejuizos para a populacio e para a propria administracio, por causa da demora de Lisboa em dar solugio as consultas enviadas pelos governos locais (COARACY, 1944: 75-76). Conse- quentemente, muitas “solugbes provisérias", adotadas cenquanto as ordens da metrépole eram esperadas, aca- baram por se impor na paisagem, conferindo-the uma feigio muito menos rigida do que aquela que predomi- nou nos paises vizinhos. E isto nio foi necessariamente tio mau. Hé autores que acreditam, inclusive, que essa ‘maior “flexbilidade” da forma urbana acabou se const tuindo em qualidade, e nfo em defeito. Ao contririo de termos cidades exasperadamente iguais, que se repetem monotonamente pelo territério nacional, o "desleixo"” portugués acabou eriando cidades muito mais autént as, mais personalizadas, mais “sujitas aos principios nnaturais da biologiae da sociologia” (SANTOS, 1968; apud ‘AZEVEDO, 1990: 306). J (RASL:QUESTOES ATUAISDA REDRCANZAGAO DO TERROR Inicio do Século XIX: Novas Dimensées da Reflexéo Urbana {A past do século XVI a coldnia brasileira come- «na apresentar sinais de muidanga. O desenvolvimento dda mineragio, na primeira metade do século, nto s6 estimulou © coméreio interno, como fez surgi na cole hia um padrio de ocupacio territorial que dava desta- Aue aoe nicleos urbanos (RIS FILHO, 1968, MaxWeLt, 1973). Ainda que postas sob suspeigio pelo Governo Portugués e sendo mesmo proibidas postriorment, ag ieias do tlaminismo também comecaram a chegar, et mulando reflexdese discusses, e dando origem a revol- tas que foram reprimidas com mao-de-ferro (MAXWELL, 1973, santos, 1992) Por sua vez, a Revolugto Industrial ingles, ao fortalecer 0 modo de produsio que surgia, € a Revolusio Francesa, ao aftntardietamente 0 Antigo Regime imprimiram mudaneas profundas na Europa, que acabaram por atingitndo apenas Portugal, como toda uma estrutura econdmica e social que ji durava alguns séulos equ se convencionou chamar de “ant- 40 sistema colonial” (NOVAIS, 1995). & esa conjuntura tumultuada, que se explcava pelo desenrolar de proces: sos que $6 posiam ser idenicados naquela esala que Braudel chamow de longa draco, que um evento teve Jugar (0RAUDEL, 1990, Um acontecimento que veo alte- rar defiitivamente o rumo da sociedade brasileira: a transferencia da sede do governo portugués para Rio de Janeiro. A corte portuguesa demorow-se em terras cris de margo de 1808 a sbril de 1621. Foram teze anos de transformasées politicas,econdmicaseclturais, qu em, alguns casos modificaram as esruturas soins conso- lidadas da coldnia, e em outros adaptaram-se a elas ot acabaram por reforgé-las, num verdadeiro choque de temporalidades (ABREU, 1996). Acompanhando essas transformagoes, a reflexio sobre a cidade brasileira tam- ‘bém sofreu mudangas profundas. A ascensio repentina do Rio de Janeiro — uma cidade urbanisticamente pobre, habitada por uma maioria de populagio escrava, € destituida de confortos materiais — a sede da Coroa, Portuguesa, logo exigiu, por exemplo, que decisses ime- datas fossem tomadas, visando a adequat a forma fisica da antiga capital colonial as novas fungoes que ela agora deveria desempenhar. No bojo das agoes empreendidas pelo governo absolutista para atingir esses objetivos, ‘surgiram entao no pafs as primeiras reflexdes voltadas prioritariamente para a intervencio no espaco urbano, {ue se orientaram para a andlise de situagbes especiticas dda nova sede da monarquia. A independéncia politica do pais $6 veio reforcar essa posicio privilegiada da ‘capital. Ser, pois, no Rio de Janciro,ea partir da andlise de seus problemas urbanos, que a reflexio sobre a cida- de vai se desenvolver no Brasil do século XIX, atingindo ‘depois outras partes do pais De maneira geral, podem ser identificados no Brasil, a partir do inicio do século XIX, dois tipos de zeflexo urbana, ambos voltados para a intervengio sobre 0 espaco construfdo, O primeiro deu continuidade 20 pensamento dos engenheiros militares e viu a cidade ‘como espago fisico a defender, a prover de comodidades de infra-estrutura, Diferia, entretanto, do pensamento predominante até o século XVIII por identiticar cada ‘vez mais a cidade como um tertt6rio perigoso, onde a dissensio e a revolta se escondiam ou estavam latentes, ‘um espaco que precisava, antes de tudo, ser vigiado & CJ (RAS: QUESTOES ATUAISDA RBDRGANIZACAODO TERITORI. controlado pela policia. © segundo tipo de reflexio urbana preconizou também 0 controle e a necessidade de policia, mas inseriu-se em outra matriz epistemolégi- cca. Seguindo a tradigdo que vinha dos fisiocratas, de que a populagio (ou “corpo social”) era um recurso que deveria ser zelosamente preservada, e que cabia a0 E5- tado assegurar 0 seu bem-estar e segutanca, 0 pensamer- 4 higieniste, que J& se projetava na Europa ha algum tempo, veio também fincar as suas bases no Brasil a par- tir dessa época, preconizando a adogao de uma policia ‘médica para as reas urbanas, ou seja, de uma politica de sade destinada a colocar 03 interesses coletivos acima ddos individuais (SINGER et al,, 1988: 21; DAMASCENO, 1993: 19, 27), Esses dois tipos de pensamento ram grande parte da reflexio urbana do Brasil oitocen- tista, confundindo-se, muitas vezes, um com 0 outro. A Emergéncia do Pensamento Higienista O higienismo tem suas origens na obra de Hipécra- tes, intitulada Sobre os ares, as fguas eos lugares, ¢ teve no ‘médico inglés Thomas Syndenham (1624-1689) 0 seu ‘grande sistematizador moderno (STASZAK, 1995; URTEA. GA, 1980). Tendo estudado a pandemia que afetou Lon- dires na década de 1660, este autor ressuscitou 0 antigo conceito grego de hatastais, ou constituicio epidémica, © sugeriu que haveria uma relacio fatima entre certas doencas e o meio natural. Para Syndenham algumas enfermidades eram “epidémicas”, isto é, “determinadas or wma alteracto secreta e inexplicével da atmosfera", fenguanto outras seriam “estacionérias” e produzidas por “uma oculta e inexplctvelalteragto ocorrida nas entranhas ‘mesmas da Tera” (URTEAGA, 1980: 9), PENSANDO ACTDADENORASE. “ A doterioragio da qualidade de vida de grande parte da populacio européia, a partir da Revolugdo Industrial, veio reforgar bastante © pensamento higie- nista. Tentando dar uma resposta as epidemias que assolavam as grandes cidades, os médicos no hesita- ram em associi-las a diversos elementos do quadro natural crcundante, que seriam os principals causado- res das doencas. Dentre os grandes viloes do meio ambiente destacavam-se os pantanos, elo de ligagio entre as “entranhas da Terra” e a “atmosfera”, os quai, sendo locals de putrefacéo de matéria organica, acaba ‘vam por produzir uma série de “vapores” prejudiciais a satide, que seriam depois disseminades pelos ventos para outros ocais. Esses vapores, chamados de miasmas, ‘eram 0s verdadeiros causadores das epidemias, mas sua aco patolégica era também facilitada pelas péssimas condligies de higiene verificadas nas cidades. ‘Com efeito, no se devia imputar © papel de vilio apenas & Natureza. Havia também “causas sociais” da Insalubridade, que se evidenclavam na superlotagio, na insuficigncia de ventilag3o e na pouca insolagdo das habitagées; na sujeira dos logradouros pablicos; € mesmo, segundo alguns médicos, no excesso de traba. Iho e na mi alimentacdo. Como esses “fatores sociais” reforgavam a acio dos “fatores naturais” de infecgio, era preciso combater tanto uns quanto outros, raz40 pela qual difundia-se, a partir dessa época, um tipo de reflexdo médica de cariter nitidamente “ecol6gico”, que buscava identificar toda a cadeia de fatores responsa- vveis pela insalubridade dos lugares, e que se materali- zou na elaboracio das chamadas gevgrafias e topagrafias médias. ‘As grografias e topografias médicas representaram cS (RRS: QUESTOESATUAESDA REDRCAMEAGAODO TERRORS ‘© exemplo mais bem acabado do pensamento higienista. Trata-se de trabalhos que pretendiam estudar as intera- ‘Goes entre © meio fisico e social eo estado de satide de uma determinada populagio, procurando identificar, ademais, suas relagbes de causa e efeitos Esses estudos geralmente de carter monogrifico, tiveram uma im. pportincia que ultrapassou em muito os limites do pen- samento médico. Segundo bem lembrou Urteaga, eles se inscreveram no movimento maior de emergéncia de ‘uma politica de satide na sociedade européia do século XVIII, uma politica que, segundo Foucault, transcendia (5 limites da medicina e se integrava, na realidad, a toda uma gestao politica e econdmiea direcionada & racionalizacio da sociedade. Buscava-se com isso com- ater a doenca e a elevada mortalidade, que afetavam diretamente a produtividade do trabalho (FOUCAULT, 1979), Um passo adiante nessa direcéo foi a fundacio dos servicos de sade publica, que tiveram papel importante na difusio dos habitos considerados compa- tiveis com 0 novo estigio de sociabilidade que se havia atingido, e a criagio das academias de medicina. Essas lltimas no apenas contribuiram para a formagio de ‘uma consciéncia médica, como permitiram a difusio de conhecimentos “cientificos” que justificavam o controle © coacio, mesclando, portanto, o saber médico com poder de policia (FOUCAULT, 1980; DAMASCENO, 1993). Foi, pois, a partir do saber médico que a cidade se 5 Uraga asada cm tes pos, aia gue havin apenas uma “eres de esata cree geopatinesfopoicia medica reese ‘doaeo temo “grr prs om talon de exter supra pe. $s ou nacional denominandose de “opopafie” medhas age. tes anaes de uidader menres, mo, for crempla ma ce (Wertstincn ib 3 cae ‘ERSANDO A CDADENO MASE. 1 transformou, na Europa e no final do século XVIII, em objeto privilegiado de andlise e de reflexao. Ser tam- bbém baseado nesse saber que o pensamento urbanistico moderno vai se estruturar no decorrer do século XIX, justificando, em nome das teorias higienistas, as inme- ris intervengdes que serio realizadas nos mais diversos| contextos urbanos. A “revolugio bacteriol6gica”, que sacuditi a pesquisa médica a partir de 1880, acabaré por desacreditar 05 principais postulados do higlenismo, e fem especial a chamada “teoria dos miasmas". Ela nio ‘conseguiu, entretanto, fazer desaparecer a influéncia dessas idéias, que continuaram a se fazer sentir pelo século XX adentzo, especialmente no que diz respeito 3 forma das cidades e as priticas de higiene coletiva, Saber Médico e Reflexéo Urbans no Brasil do Século XIX [No hé noticia da realizagio de topografias médi «as no Brasil colonial. Hi indicios, entretanto, de que o pensamento higienistajé havia desembarcado nos tr6pi- cos desde o final do século XVII, como provam, por ‘exemplo, as respostas dadas por trés médicos a uma consulta realizada pela Cimara do Rio de Janeiro em 1798. Solicitados a opinar sobre quals seriam as causas principais da insalubridade da cidade, os médicos apontaram para a agio prejudicial dos pantanos, que produziam miasmas; das montanhas que circundavam a cidade, que impediam a acio purificadora dos ventos; dla proximidade do lencol d’agua, que dificultava a dre- nagem das aguas plaviais e tornava 0 solo sempre ‘imido; © da imundicie das vias pablicas, que infeccio- ava 0 ar. Indicaram também a existéncia de diversos RAIL QUESTOES ATUAS DA REORCANIZAGAO DO ERATED “fatores sociais" que contribuiam para a insalubridade da cidade, tais como a diregio errada das ruas em rela- ‘G40 a0s ventos predominantes, a superiotacio das habi- tages, 0 costume de enterrar os mortos nas igrejas, a dieta inadequada, a auséncia de exercicios fisicos (certa- _mente por parte da populagio livre), a prostituigao ete Apesar de chegarem a minticias sobre como deveria ser melhorada a salubridade da cidade, nenhuma das sugesties apresentadas pelos médicos foi adotada, € ‘tudo continuou como antes. Foi preciso aguardar a chegada da Familia Real Portuguesa a essa cidade insalubre para que 0 pensa- ‘mento higienistafineasse um pouco mals firmemente 05 seus pés no pals. E significative, nesse sentido, que 0 primeiro livro publicado pela recém-instalada Imprensa ‘Regia tenha sido exatamente uma obra de topografia médica, escrita por ninguém menos do que o Fisico- Mor do Reino. Seguindo ordens recebidas do Principe Regente, que indagava “quais eran as causcs préimas ou remolas das doengas deste pas; que opines tinhara obtido sobre esse objeto os médicos, que por diversas vezes tinham sido consults: e por que meios poderiam ser removidas, ou ‘20 menos diminuidas a maior parte dessas mesmas causes”, 0 doutor Manoel Vieira da Silva, ainda que conhecendo oUco o lugar, apressou-se a sugerit solugies destinadas| 4 “melhorar o clima da cidade do Rio de Janeiro” { Quinze aos mais tarde, quando a imprnsa hava sido autora 8 funconar no Bra esos reapers sam publicadan spree fans eat o Retr» lance gue pnd par das ss tnt as como moras que ox mado em apoio s¢ {Gm desvanecido depois ue esta Cae ton a hone deer 2 Cone eo Nowe ue bro, om te epcciae mwas mona Ver O Patron, janet de 1812 1 twee de nt3,manode tea . EEANTOA CADENO HU. (SILVA, 1808)7 Dente essas,destacava-se, como sem- pre o combate aos pntanos. Ao contraro dos médicos do século XVII, entretanto 0 Fisico-Mor ira denunciar sobretudo as “causas socials" do “elima” carioca, apon- tando para o maleico causado pelos entrramtentos nas igreas, para a urgéncia da fundagdo de um lazarto des- Uinado 3 quarentena dos escravos recémchegados da Arica, para a necessidade de se ter maior contiote sobre ‘0s génctosalimenticiospostos a venda et. © pensamento higlenistateve, de inicio, pouca res- sonata, A excegio de ater de pintanos, as sugestOes feta pelos médicos colonais e pelo Fisco-Mor foram ‘em grande parte postas de lado, ainda que algumas delas tenham reaparecido em outros trabalhos da epoca, como € 0 caso da_proposta de intervengio no sistema de drenagem urbana e da condenagSo aos enterramen- tos dentro dos templos (SANTA ANNA, 1815; PICANGO, 1812) Na verdade, as imensas earéncias materais da cidade, a incerteza quanto a0 tempo de permanncia da Corte no Rio, e a pouca importancia que ainda tinha 0 Pensamento médico no Brasil fizeram com que 0 trato das questoes urbanas deste periodo assumisse uma ver- sio nitidamente milita,revelando ume estratégia que 7 Brnmoressamtenotr quo Fisico-Mr relat a xine de lei de Seaue putea em Portugal acescentando,entrelanta, que "a dstin- ‘in ims ene a Sede do Trono Portugues, © om seus vasalos do Bros mpossbiaram ot agoraa foun exceugSo~” GLYN, EOS. 5) * Viera Fazenda informa que a obra de Plcango era tradugao de futrade Vick Az que por sua ver era amb tradugao de waba Ths orginal Raan, de utoria de Spin Patol (Aten, Tom U'1910 419, E importante observar que as sepslturas dentro dos ‘plas havi sido prfbidas a colonia desde 14/1/1801, ordem {fee rio fo compra nem meso quand para als rnateiu 8 Sede do govern portguéa Essa pein 50 sea totalmente aboTida fim meades do sal, «em decorrenca da clos de vena ep ‘emia de ebre amare, we "RAT: QUESTS ATUAS OA RERCANzAGAODOTERTURD privlegiou 0 conhecimento do terttorio (elaboragdo de carlas geogrificas detalhadas da cidade e da Baia de Gvanabara; abertura de estradas), que deu destaque a construgio de infra-estrutueas, especialmente 0 abaste- cimento 'égua (ABREU, 1992), € que valorizow as solu- ses que pudlessem ser obtdas a curto prazo. Ni € de se estranhar, portanto, que tenha sido a recém-eriada Intendéncia Geral de Policia (e nao a Camara Muni ipal) 0 6rgao escolhido pelo governa portugues para, em conjunto com os engenheitos militares, “pensar a cidade", uma atribuigio que deu lugar a intervengées variadas sobre o espago e a economia urbanos, e a uma vigilincia constante sobre 6 modo de vida da popula- <0, notadamente sobre os eseravos ‘Ainda que pouco influente no inicio, o pensamento higienista foi aos poueos adquirindo forga no Brasil € Para isso teve importincia fundamental ainstituigto do tensino médico no pats, autoizado a funcionar no Rio de Janeiro em 1809 e na Bahia em 1815. Igual importancia teve a Sociedade de Medicina do Rio de Janeio, criada em 1629 segundo o modelo de sua congénere parisien- se que assumin 0 papel de 6g assessor do Governo ‘em questdes de saride pibliea a parte de 1835, transfor. ‘mando-se entio em Academia Imperial de Medicina a partir dessas instituigbes que o pensamento bigienista val se lfundir pelo Brasil do século XIX. Seré enlretanto no Rio de Janeiro, maior idade e capital do Pate que ele vai mostrar toda a sua forga. Devastada a Partr de 1850 por epidemias quase que anuals de febre ‘mateo, e vistada também periodicamente pela eblera iepois de 1855, a cidade, com suas alas tas de mortai- dade e seu meio ambiente decdidamente “miasmatico”, segndo as teorias vigentes, tomar-se uin laborat6rio Privilgiedo de aplieagio do saber médico de entao. FSHNDO ACDADENOBEAS.. w Uma andlise, que nao se pretende exaustiva, das teses defendidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro de 1840 a 189, indica claramente isso. Como era atribuicio do corpo docente dessa instituigia, composto de médicos que integravam também os quadros da ‘Academia Imperial de Medicina, indicar os temas que deveriam ser tratados pelos formanidos em suas teses, a dlstribuigSo temporal dos ttulos desses trabalhos indica bem a evolugio das preocupagées higienistas no Rio de Janeiro do século XIX? Até 0 inicio da década de 1850, por exemplo, as teses ditas “higienistas” tratam prefe- runcialmente de temas que poderiamos classificar de “tedricos”, tais como a definigio do que seriam febres, intermitentes (NOGUEIRA, 1834; QUEIROS, 1835; MAYER, 1838; apud SIGAUD, 1844), ou discussoes sobre a “atmos fera” (FLORES, 1840; apud SIGAUD, 1844), as qualidades higignicas dos banhos de mar (OURAO, 1845; 54, 1850; PAIVA, 1851; MOTTA, 1852), a prostituigio (CUNHA, 1845; SA, 1845), a questo da mendicidade (VALLE, 1846), a ‘qualidade da alimentacio das “classes pobres” (SOUZA, 1851; papi, 1853), a higiene das manufaturas (MEN. DONGA, 1850; SILVA, 1852; LACE, 1853), ou o problema dos enterros intramuras (PASSOS, 1846). A partir dos anos cinguenta, entretanto, e ja sob o efeito da “era das ‘epidemias”, surgem os primeiros trabalhos dedicados & anilise da salubridade de diversas partes da cidade * Eimportane obseevar qu ess tees era, em sun meio, abe ios que rcompiavan oconfecimeno aig clio ersten penton do dtergeneis de opiiso entre or grander meres", Seu ote Ao empitica era em feral, ac, hmitando-se as tests dscuso de tbservagies ealzadas it lc e 3 anive de dadon tides sem Imuito igor metedologice. Sendo trabalhos reozados antes que @ Iloilo pase revluonsew mundo da Pesta ‘tas em outras partes do mundo, « ‘ASL: QUESTS ATUASDA REORCANEAGAODOTERTORD (AZEVEDO, 1850; FORIAZ, 1852; GUERRA, 1852; LAGOA, 1853; VIANNA, 1854). Com o agravamento progressive do quadro sanitério da cidade, a discussio passa a ser mais agressiva, tratando explictamente dos tipos de “fe- bres’ que afligiam 0 Rio ea melhor maneira de combaté- las (ARACJO, 1867; XAVIER JONIOR, 1868; RAMOS, 1874; fie BEIKO, 1877; FONSECA, 1878; ARAUJO, 1873; STOCKLER, 1881, CORDEIRO, 1883), e dos “melhoramentos materiais” «que poderiam ser executados para tornar a eidade mais higitnica (BACKER, 1864; FAZENDA, 1871; BUENO, 1875; FPARINITA FILHO, 1875; SANTOS, 1882; PIMENTEL, 1884). ‘A criagao, em 1850, da Junta Central de Higiene, instituigio fundada_ para coordenar os esforgos gover= rhamentais no combate as epidemias, iré realgar ainda mais a posicéo de destaque do saber médico. A partir dessa data todas as inicativas do Governo Imperial no campo do urbano terio que passar pelo nihil obstat da Junta, que comecaré a intervir também, ainda que sem 0 ‘mesmo sucesso, nos governos municipais, exigindo a adosdo e cumprimento de normas rigidas de higiene iblica. A vida privada dos cidadaos também nao ser poupada pela Junta, que combateré ativamente 05 ¢os- fumes, habitos e “vicios” considerados anti-higiénicos. Algado a uma posicio de destaque no Rio de Janeiro por causa das epidemias, também seré af que 0 saber higienista vai mostrar as suas maiores fraquezas & incongruéncias. Apesar de todo o intervencionistno ur- bano feito em seu nome, que se materializou sobretudo no aterro de pantanos, na construcio do sistema de cesgotos sanitérios,0 na melhoria considerdvel do abas- tecimento d'agua, na condenacio das habitagbes coleti- ‘0 Rio de Janeiro fo a quints cidade do mundo conta com esse servi vas, ¢ no apoio a um urbanismo que promovia a cons- tugio de ruas largas e de “casas higiénicas”, o saber ‘médico nfo conseguiré dar resposta 3s constantes epi demias que assolavam o Rio de Janeiro, Pior que isso, rnio conseguir impedir que 0 quadro sanitério da cida- de se deteriore cada vez mais, 0 que passou a compro- meter nio apenas a credibilidade da teoria dos mias- mas, mas também todo o projeto de modernizagio da ‘economia entio em andamento. A insalubridade da ‘capital do pafs nao podia ser vista entdo como um pro- blema localizado. Fla solapava a politica de atracio de ‘mao-de-obra européla (que se tornara uma alternativa, vlvel a escravidao}, obstaculizava os esforcos de indus- Uwializagio e corroia a imagem do pais no exterior. (s anos finais do século XIX no Rio de Janeiro sia analitcamente ricos, pois revelam claramente a diversi- dade e a complexidade das forcas sociais que o processo de modernizacio da economia colocou em marcha, Nao € 0 caso de discutir aqui a rica producio que veio & luz nesse periodo, bastando apontar para o ponto de confluéncia de todas as analises realizadas, qual sej, a ‘existéncia, no final do século XIX, de uma tensdo cres- cente entre a proposta de sociedade burguesa que se impunha rapidamente e es interesses dos grupos e clas- ses sociais que se sentiam ameacados pelo projeto ‘modernizador, e que portanto the ofereciam resisten- cia.!t A modernizagao saird vitoriosa desse embate, € para tanto contara com o apoto nao apenas dos interes- ses politicos e econdmicos que a sustentavam, como 1A prods recente ¢ bastante grande ediversseads compron endo vrs tests artigos comunicagies em congress eA te lo de usagi, vjese, por exemple, AERE, 986 1967, HENCH Mot, 199; eARVALIN, 198 cARVAL TPH (AMARA, 19: Pete MAN evs 1984-1985; bin 19H Rocha, 1986x1985. m ‘BRASIL: QUESTOES ATUASSDA REORGANIZACAO DO TERRETORRD também da ciéncia e da técnica, ¢ é a partir desse con- texto que pode-se compreender melhor a crise do saber higienista e a ascensSo ripida dos engenheiros a0 posto de grandes pensadores urbanos do pais. {A Valorizacio da Técnica ea Ascensio da Engenharia Embora fossem criadas “Aulas de Fortificagso e de Artitharia” no Rio de Janeiro e na Bahia, no comeco do século XVII, 0 ensino regular de engenharia s6 teve co em 1792, coma instituigio da Real Academia de Art- Iara, Fortificagso e Desenho no Rio de Jancito,transfor- mada em 1810 em Academia Real Militar do Rio de Janeiro. Foi s6 a partir da década de 1850, entretanto, que fesse saber comesou a se destacar no Brasil, no rastro da introdugdo das estradas de ferro no pats (TELLES, 1984) De inicio dependentes dos servicos de profissionais| estrangeiros, as ferrovias, logo consideradas como sim- bolos do progresso, transformadas em “fetiches da ‘modernidade” (HARDMAN, 1988), tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da engenharia nacio- nal. Por um lado, o advento da era das ferrovias exigit ‘mudangas imediatas no ensino, esultando dai a separa- ‘0 inicial (1858) das formacées civil e militar, passo importante para a autonomizacio total da engenharia civil em 1874, quando foi criada a Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Por outro, fol a partir da chegada das estradas de ferro que as profissoes técnicas comecaram ser valorizadas no pais, paso importante para 0 com- bate & mentalidade entéo predominante de que “as pes soas mais bem-dotadas € mais capazes deveriam ser advnga- dos, eclesisticos, militares, ou quando muito médicos" (THLLES, 1984: 467), Importantes como vetores iniciais de moderniza- ‘lo, as ferrovias inscreveram-se num processo muito ‘mais amplo de transformacio da sociedade brasileira, ‘um processo que visava remover os iltimos absticulos: 2 consolidagio do modo de producio capitalista no pais, e a partir do conjunto de forgas entso de deadas que pode-se entender melhor a valorizacio da engenharia no Brasil do final do século XIX. Com efeito, 4 integragio cada vez maior do pais na divisao interna ional do trabalho impos a necessidade da diminuicio constante do tempo e custo da circulagio de mercado- as, objetivo que foi facilitado pela abundancia de cay fais estrangeiros que procuravam fontes adicionais de reproducio, e que financiaram nio apenas a construcao de ferrovias por todo o pais, como também a execucao de melhoramentos portusrios diversos. Nem todos os capitais que chegaram ao Brasil direcionaram-se, entre- tanto, para o setor de exportacio. Muitos dirigiram-se [para o entao lucrative setor dos servicos urbanos (ilumi- nagio piblica, transportes coletivos, esgotamento sani- tério), 0 que resultou na transformacio acelerada da paisagem de muitas cidades brasileras. Finalmente, © surgimento da indastria veio também dar a sua contr buisio, abrindo novas perspectivas para 0 setor de pro- dugio e acelerando a transicéo do regime de trabalho servil para o assalariado. E nessa conjuntura de transformagio estrutural, fem que a cigncia, a téenica e a organizacio do trabalho passam a ser vistas como bases fundamentais do pro- ‘gresso, que a engenharia veio ampliar a sua influéncia no Brasil (TURAZZI, 1989). Sendo o profissional que dominava esses saberes novos, saberes que 0 avanco tecnolégico impunha e o crescimento econdmico do pais m ‘BRASIL: QUESTOES ATUAISDA REORGANTZAGAO D0 TERITORI exigia, o engenheiro foi entio chamado a participar cada vez mais da discussio das “grandes questoes nacionais", para o que contribusram tambsém a fundagao, do “Clube de Engenharia”, érgao de defesa dos interes ses da classe, em 1880, ea criag3o do Instituto Politéoni= co Brasileiro, precursor da atual Academia Brasileira de Ciencias, em 1884, ambos no Rio de Janeiro. Mais do ue tudo, entretanto, foi através das solugdes que ofere- ‘ceu aos problemas que afetavam a economia, ou que perturbavam a vida quotidiana das cidades, que a enge- nnharia consolidou rapidamente o seu prestigio e in- fluéncia no final do século XIX, Segundo Telles, as estradas de ferro absorviam, em 1880, 75% dos engenheiros do pais (TELLES, 1984: 471), Embora sem apresentar cifras comparatives, o mesmo autor afirma que, na virada do século, o mercado de tra- batho dos engenheiros jé se encontrava muito mais ampliado, para o que teria contribufdo a “formacao cenciclopédica” obtida na Academia aquela época, que "permit que os engenheiros abordassem e resouessem com sficiéncia problemas de virios campos da engentaria:ferro- vias, porto, obras priblicas, indstrias et” (TELLES, 1984 475). Seguindo uma matriz. de pensamento diferente, ‘Hardman sugere que a rapidez.com que a engenharia se projetou no cendrio nacional deveu-se ao fato de que “a ‘abeca dos engenteires brsileiros da segunda metade do sécu- Jo XIX. combinaza exemplarmente elementas do postvis- ‘mo edo literalismo,disciplna do trabalho e visto transforma dora da paisagem, parcimdnia de gastos e mevernidade urba- ‘ovindustrial” (HAROMAN, 1988: 93). Turazi, por sua vez, que estudou a relagio entre 6 surgimento da indastia € a difusdo da engenharia no Rio de Janeiro, confirma que “a figura do engenheio..[tomnow-se] onda vez mas freqien- PENSANDO A CIDADE NO BRASIL. o te a parti de fins do sSculo pasado, na dieptoe administra- (0 de empresas industriaise de servigos” (TURAZZ1, 1989: 88). Trata-se, em suma, de um saber que se afirmou € que se difundiu rapidamente no Brasil do final do sécu- Io XIX, € que acabaria por se impor também sobre saber médico no trato das grandes questoes urbanas, algando entio os engenheiros & qualidade de grandes € incontestados pensadores da cidacte brasileira ‘Ainda que tenham dado contribuigies anteriores, fol s6.a partir da década de 1870 que os engenheiros comecaram a pensar a cidade de forma mais holistica, fu seja, segundo uma visio que transcendia os limites do simples equacionamento de um problema técnica. asso importante nessa direcao fol a decisao tomada pelo Governo Imperial de intervir diretamente na forma urbana do Rio de Janeiro, tentando com isso enfrentar a marcha das epidemias. Foi nomeada entSo uma “Comissio de Melhoramentos do Rio de Janeiro”, cuja atribuigdo principal era a de elaborar um plano de remodelagio da cidade, e que ndo contou, surpreenden- temente, com a participacio de médicos, sendo integra- da apenas por engenheiros. Embora essa comiss4o tenha apresentado suas conclusées em dois relatérios (GRASIL, 1875 e 1876), 0 alto custo das ebras sugeridas acabou inviabilizando, aquela época, a sua materializa- 80. Isso nao impediu, entretanto, que a questio da “remodelacio da cidade” passasse a ser amplamente ddobatida por outros profssionais da érea (SOUTO, 1875 € 1876), iniciando-se af uma pratica que irla ganhar momentum rapidamente (e nao apenas no Rio), © que fez ‘Note, por exemplo, que Teresina e Arar nov cepts das provincia bo Paste de Serpe, maim ido panne conta Ess porengenheros em 6S eS, epucvamente

Vous aimerez peut-être aussi