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POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO AO IDOSO E A CONTRIBUIÇÃO DA


ENFERMAGEM
NATIONAL ELDERLY CARE POLICY AND NURSING’S CONTRIBUTION
POLÍTICA NACIONAL DE ATENCIÓN AL ANCIANO Y LA CONTRIBUCIÓN DE LA ENFERMERÍA

Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues1, Luciana Kusumota2, Sueli Marques2, Suzele Cristina Coelho Fabrício3,
Idiane Rosset-Cruz3, Celmira Lange4

1
Professora Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP)
da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, Brasil.
2
Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da EERP/USP. São Paulo, Brasil.
3
Pós-Graduanda, nível Doutorado do Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da EERP/USP. São
Paulo, Brasil.
4
Professora Doutora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Rio Grande do Sul, Brasil.

P A L A V R A S - C H A V E : RESUMO: Este estudo objetivou descrever e avaliar a Política Nacional de Atenção ao Idoso no Brasil
Enfermagem. Política de e sua relação com a enfermagem. Foi realizada uma revisão bibliográfica do tema, o que permitiu a sua
saúde. Idoso. caracterização sob a forma de leis, decretos, textos e artigos em periódicos e livros. Os atores sociais
envolvidos na Política Nacional de Atenção ao Idoso foram os idosos, as famílias, a comunidade e a equipe
de saúde, com destaque para a enfermagem. Após análise da literatura consultada, concluiu-se que esta
política tem proporcionado, aos atores sociais envolvidos, conscientização para justiça social e garantia
plena dos direitos aos idosos. Concluiu-se, também, que a inserção da enfermagem na Política Nacional de
Atenção ao Idoso envolve o processo de cuidar no ciclo de vida e nos vários níveis de atenção à saúde, onde
se inclui a saúde do idoso, assim como a participação na elaboração e implementação dessa política.

K E Y WO R D S : N u r s i n g . ABSTRACT: This study aimed to describe and evaluate the National Elderly Care Policy in Brazil and
Health policy. Aged. how it relates to nursing. A bibliographic review identified that this policy is published in the form of
laws, decrees, texts, and articles in periodicals and books. The social actors involved in the National
Elderly Care Policy are the elderly, their families, the community, and the health team, especially the
nursing team. We conclude, based on the literature analysis, that this policy has provided the social actors
involved an awareness of social justice and full guarantee of elderly rights. It was also concluded that the
insertion of nursing in the National Elderly Care Policy involves the care process within the life cycle
and in several levels of health care, including the elderly health, and participation in the elaboration and
implementation of this policy as well.

P A L A B R A S C L A V E : RESUMEN: La finalidad de este estudio fue describir y evaluar la Política Nacional de Atención al Anciano
Enfermería. Política de salud. en Brasil y su relación con la enfermería. Se realizó una revisión bibliográfica del tema, que permitió
Anciano. caracterizarlo por ser divulgado en la forma de leyes, decretos, textos y artículos en periódicos y libros.
Los actores sociales involucrados en la Política Nacional de Atención al Anciano fueron los ancianos, las
familias, la comunidad y el equipo de salud, especialmente la enfermería. Se concluyó que esta política ha
proporcionado a los actores sociales concientización sobre justicia social y garantía plena de sus derechos. Se
concluye también que la inserción de la enfermería en la Política Nacional de Atención al Anciano envuelve
el proceso de cuidar en el ciclo de vida y en los varios niveles de atención a la salud, donde se incluye la salud
del anciano, así como la participación en la elaboración e implementación de políticas de salud.

Endereço: Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues Reflexão teórica


Av. Bandeirantes, 3.900 Recebido em: 15 de fevereiro de 2007
14040-902 - Ribeirão Preto, SP, Brasil. Aprovação final em: 10 de agosto de 2007
E-mail: rosalina@eerp.usp.br

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Política nacional de atenção ao idoso e a contribuição da enfermagem - 537 -

INTRODUÇÃO incluindo o Brasil. Neste fórum foi estabelecido um


Atualmente o aumento da população idosa Plano de Ação para o Envelhecimento, posterior-
constitui tema de debate entre pesquisadores, ges- mente publicado em Nova Iorque, em 1983.5
tores sociais e políticos de vários países do mundo. O Plano de Ação para o Envelhecimento foi
Como evidenciado por diversos estudos, a popula- considerado um importante documento de estra-
ção brasileira, também, vem envelhecendo de forma tégias e recomendações prioritárias nos aspectos
rápida.1-2 Essa mudança na estrutura da população econômicos, sociais e culturais do processo de enve-
é caracterizada pela transição demográfica, ou seja, lhecimento de uma população, e deveria ser baseado
o processo de alteração de uma situação com altas na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
taxas de fecundidade e mortalidade para outra com Estabeleceram-se, então, alguns princípios para a
baixas taxas desses indicadores. Outro fator a inter- implementação de políticas para o envelhecimento
ferir na estrutura da população é o migratório, so- sob responsabilidade de cada país. Destes princípios,
bretudo com a entrada de estrangeiros, no final dos destacam-se os seguintes: a estipulação da família,
séculos XIX e XX, no Brasil. Nesta nova realidade, nas suas diversas formas e estruturas, como a unida-
a redução das taxas de fecundidade e a diminuição de fundamental mantenedora e protetora dos idosos;
da mortalidade geram maior expectativa de vida, e cabe ainda às políticas sociais prepararem as popula-
levam a nova configuração da população no país. ções para os estágios mais tardios da vida, asseguran-
Surge, assim, a transição epidemiológica, definida do assistência integral de ordem física, psicológica,
pelo declínio das doenças infecto-parasitárias e au- cultural, religiosa/espiritual, econômica, de saúde,
mento das doenças crônicas não-transmissíveis.3 entre outros aspectos. Ainda como estabelecido,
Neste sentido, os dados demográficos mos- aos idosos deve ser proporcionada a oportunidade
tram a necessidade urgente dos gestores e políticos de contribuição para o desenvolvimento dos seus
brasileiros observarem o panorama dessa transição, países, bem como a participação ativa na formulação
e, em conjunto com a sociedade, num breve espaço e implementação de políticas, incluindo aquelas a
de tempo, discutirem as políticas públicas de atenção eles direcionadas; os órgãos governamentais, não-
ao idoso. Urge serem estas implementadas em todas governamentais e todos que têm responsabilidades
as esferas sociais, por técnicos e profissionais que com os idosos devem dispensar atenção especial
atendem essa parcela populacional, particularmente aos grupos vulneráveis, particularmente aos mais
os da área de enfermagem. pobres, mulheres e residentes em áreas rurais.
O processo de envelhecimento populacional Este Plano de Ação almejou sensibilizar os go-
tem sido discutido e acompanhado por medidas, vernos e sociedades para a necessidade de direcionar
destinadas a proteger os idosos, como cidadãos políticas públicas voltadas para os idosos, bem como
cada vez mais presentes nas sociedades mundiais. alertar para o desenvolvimento de estudos futuros
Até a década de 70, do século XX, no Brasil, os sobre os aspectos do envelhecimento.
idosos recebiam, principalmente, atenção de cunho Em reconhecimento à importância do enve-
caritativo de instituições não-governamentais, tais lhecimento populacional no Brasil, em 4 de janeiro
como entidades religiosas e filantrópicas. No aspecto de 1994 foi aprovada a Lei Nº 8.842/1994, que esta-
legislativo, os idosos foram mencionados em alguns belece a Política Nacional do Idoso, posteriormente
artigos, decretos-leis, leis, portarias, entre outras. regulamentada pelo Decreto Nº 1.948/96.6 Esta Lei
Sobressaem artigos do Código Civil (1916),4 do tem por finalidade assegurar direitos sociais que
Código Penal (1940),4 do Código Eleitoral (1965),4 garantam a promoção da autonomia, integração e
além da Lei Nº 6.179 de 1974,4 que criou a Renda participação efetiva do idoso na sociedade, de modo
Mensal Vitalícia, e de outros decretos-leis e portarias a exercer sua cidadania. Como previsto nesta lei,
relacionadas, particularmente, com as questões da estipula-se o limite de 60 anos e mais, de idade, para
aposentadoria. Porém, a primeira Assembléia Mun- uma pessoa ser considerada idosa.
dial sobre o Envelhecimento, da Organização das Como parte de suas estratégias, referida polí-
Nações Unidas (ONU), pode ser citada como o mar- tica estabelece, entre suas diretrizes, a descentraliza-
co mundial que iniciou as discussões direcionadas ção de suas ações por intermédio dos órgãos setoriais
aos idosos. Este fórum ocorreu em Viena - Áustria, nos estados e municípios, em parceria com entidades
no período de 26 de julho a 6 de agosto de 1982, governamentais e não-governamentais.
com representação de 124 países de todo o mundo,
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A Lei em discussão rege-se por determinados - implementar o sistema de informações


princípios, tais como: assegurar ao idoso todos os com vistas à divulgação da política, dos serviços
direitos de cidadania, sendo a família, a sociedade e o oferecidos, dos planos e programas em cada nível
Estado os responsáveis em garantir sua participação de governo;
na comunidade, defender sua dignidade, bem-estar - estabelecer mecanismos que favoreçam a di-
e direito à vida. O processo de envelhecimento diz vulgação de informações de caráter educativo sobre
respeito à sociedade de forma geral e o idoso não os aspectos biopsicossociais do envelhecimento;
deve sofrer discriminação de nenhuma natureza,
- priorizar o atendimento ao idoso em órgãos
bem como deve ser o principal agente e o destinatá-
públicos e privados prestadores de serviço;
rio das transformações indicadas por essa política. E,
por fim, cabe aos poderes públicos e à sociedade em - apoiar estudos e pesquisas sobre as questões
geral a aplicação dessa lei, considerando as diferenças do envelhecimento.7
econômicas, sociais, além das regionais. De acordo com o Plano de Ação, os órgãos
De acordo com o estabelecido, a mencionada setoriais, usando de suas atribuições e baseados na
lei determinou a articulação e integração de setores PNI, realizam as ações conforme as demandas da
ministeriais e uma secretaria para a elaboração de população de idosos. Na busca da implementação
um Plano de Ação Governamental para a Integração desta política, têm ocorrido vários fóruns, formais
da Política Nacional do Idoso (PNI). Esse Plano de e informais, de discussão a respeito dos direitos dos
Ação foi composto por nove órgãos: Ministério da idosos de forma a efetivá-la e ampliá-la.
Previdência e Assistência Social; Educação e Des- Como observado, a referida política apresenta
porto; Justiça; Cultura; Trabalho e Emprego; Saúde; ações inovadoras usadas como referência na abor-
Esporte e Turismo; Planejamento, Orçamento e dagem do idoso. Entretanto, a garantia dos direitos
Gestão e Secretaria de Desenvolvimento Urbano. sociais para este ator não tem se concretizado efe-
Para colocar em prática as ações preconizadas tivamente, pois esta vem sendo implementada no
pela PNI, foi elaborado o Plano de Ação Con- Brasil de forma lenta e gradativa. Diante desta situ-
junta, que trata de ações preventivas, curativas e ação, cabe, pois aos idosos, às famílias e à sociedade
promocionais, com vistas à melhor qualidade de em geral a conscientização e participação política
vida do idoso. na busca da justiça social para a garantia plena dos
direitos teoricamente assegurados.
O referido Plano de Ação norteia ações in-
tegradas de forma a viabilizar a implementação da Inserida neste contexto, a enfermagem tem atu-
PNI. Neste sentido, define ações e estratégias para ado efetivamente para mudar esta realidade, sobretu-
cada órgão setorial, negocia recursos financeiros do no referido à saúde e educação. Na área da saúde,
entre as três esferas de governo e acompanha, con- a enfermagem tem contribuído na abordagem do
trola e avalia as ações. Para isto, foram traçadas as cuidado em aspectos do processo de envelhecimento
seguintes diretrizes: (capacidade funcional, independência e autonomia,
fragilidade, avaliação cognitiva, engajamento social,
- viabilizar formas alternativas de participação,
qualidade de vida, promoção de saúde, prevenção de
ocupação e convívio do idoso, proporcionando-lhe
doenças, entre outros); e da senilidade (condições
integração às demais gerações;
crônicas de saúde, situações de urgências e emergên-
- promover a participação e a integração do cias, atenção domiciliar, entre outros).
idoso, por intermédio de suas organizações represen-
Também na área da educação, a enfermagem
tativas na formulação, implementação e avaliação
se destaca. Por exemplo, em cumprimento à PNI,
das políticas, planos, programas e projetos a serem
tem propiciado relevante contribuição sobretudo
desenvolvidos;
em pesquisas científicas. Atualmente os cursos de
- priorizar o atendimento ao idoso por inter- Graduação em Enfermagem abrangem temas sobre
médio de suas próprias famílias, em detrimento do gerontologia e geriatria, com a finalidade de capaci-
atendimento asilar, à exceção dos idosos que não tar e qualificar enfermeiros para atender/cuidar de
possuam condições de garantir sua sobrevivência; idosos. Da mesma forma, cursos de Pós-Graduação
- descentralizar as ações político-administrativas; lato e stricto sensu têm sido direcionados para a área
- capacitar e reciclar os recursos humanos nas de conhecimento na atenção ao idoso, bem como
áreas de geriatria e gerontologia; na realização de pesquisas científicas cada vez mais

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ampliadas nos últimos anos. Enfim, a enfermagem Para atuarem devidamente, as políticas de-
desempenha papel determinante na execução e vem ser efetivas. E para que as políticas voltadas
cumprimento das leis direcionadas aos idosos, pro- para o envelhecimento populacional possam ser
movendo a inclusão social indiscriminada (sexo, cor, efetivas, é necessário apresentarem uma aborda-
raça, religião, classe social) dos idosos, respeitando gem integrada em seus diversos setores específicos:
suas capacidades e limitações. Contudo, ainda há saúde, economia, mercado de trabalho, seguridade
muito a conquistar nessa área de conhecimento. social e educação.
Com base nestas considerações, o estudo ora Durante a Assembléia de Madri, a OMS
elaborado busca descrever e avaliar a Política Na- formulou recomendações específicas do PIAE.
cional de Atenção ao Idoso no Brasil e sua relação Complementarmente lançou o documento “En-
com a enfermagem. Para isto procedeu-se a uma velhecimento ativo: um marco para elaboração de
revisão bibliográfica do tema, o que permitiu sua políticas”, que contempla um novo paradigma de
caracterização sob a forma de leis, decretos, textos entender o envelhecimento, e, ao mesmo tempo
e artigos em periódicos e livros. complementa e amplia o plano. Neste documento,
conforme a OMS recomenda, políticas de saúde na
PLANO INTERNACIONAL DE AÇÃO SO- área do envelhecimento devem levar em conside-
ração os determinantes de saúde (sociais, econô-
BRE O ENVELHECIMENTO
micos, comportamentais, pessoais, culturais, além
Após o Primeiro Plano, seguiu-se o Plano In- do ambiente físico e acesso a serviços) ao longo de
ternacional de Ação (PIAE) sobre o Envelhecimento todo o curso de vida.10
resultado da 2ª Assembléia Mundial do Envelhe-
cimento realizada de 8 a 12 de abril de 2002, em
DIREITOS HUMANOS DA PESSOA IDOSA
Madri, promovida pela ONU. A necessidade deste
encontro decorreu das mudanças sociais, culturais A exemplo de outras fases da vida, na velhice
e tecnológicas em todo o mundo.8 estão presentes aspectos biológicos, psicológicos,
Na referida Assembléia, foram aprovados econômicos, sociais e culturais. Nela se convive com
uma nova declaração política e um novo plano de perdas e ganhos. De modo geral, porém, a socieda-
ação. Este deveria servir de orientação às medidas de parece valorizar mais sua associação a perdas,
normativas sobre o envelhecimento no início do reforçando atitudes e comportamentos que levam a
século XXI. Esperava-se alto impacto deste plano perceber a velhice como sinônimo de incapacidade,
nas políticas e programas dirigidos aos idosos, prin- pobreza, desprezo, discriminação, desigualdade e
cipalmente nos países em desenvolvimento.9 abandono. Desse modo, nega aos que envelhecem o
direito de elaborar e concretizar projetos de vida.
Um dos objetivos do Plano de Ação, foi
garantir que em todas as partes do mundo a po- Mas esse direito deve ser preservado como
pulação envelhecesse com segurança e dignidade, mostra a publicação intitulada Direitos Humanos
e que os idosos pudessem continuar participando e Pessoa Idosa, datada de 2005, na qual se discutem,
em suas respectivas sociedades, como cidadãos não apenas a concretização dos direitos à promoção
com plenos direitos. Além disso, seria um instru- de vida e liberdade, mas também a erradicação das
mento prático para ajudar os responsáveis pela desigualdades e da discriminação contra os idosos.
formulação de políticas. É uma contribuição à sensibilização da sociedade
para problemas enfrentados pelos idosos. É um
O PIAE é um documento amplo. Dele cons-
alerta à população para reflexões sobre direitos
tam 35 objetivos e 239 recomendações para a adoção
humanos, cidadania e velhice.11
de medidas dirigidas aos governos nacionais em
parcerias com membros da sociedade civil e setor Outro documento a tratar o assunto é a De-
privado para a sua execução. Fundamentou-se em claração Universal dos Direitos Humanos. Nele,
três princípios básicos: 1) Participação ativa dos segundo consta, todas as pessoas, em todas as idades,
idosos na sociedade, no desenvolvimento, na força possuem direitos civis, sociais e políticos. No referente
de trabalho e erradicação da pobreza; 2) Promoção ao direito dos idosos, esta Declaração dispõe, em seu
da saúde e bem-estar na velhice e 3. Criação de um artigo XXV, que toda pessoa tem direito à segurança
ambiente propício e favorável ao envelhecimento. em caso de doença, invalidez, viuvez e velhice.

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É preciso, pois, garantir a todos o direito e a proteger e formar uma base para a reivindicação
cidadania. de atuação de todos (família, sociedade e Estado)
O direito, entendido como a faculdade concedi- para o amparo e respeito aos idosos.
da pela lei de praticar um ato, de possuir, usar, exigir Sancionado em 2003, pelo Presidente da Re-
ou dispor de alguma coisa, e a cidadania, conjunto pública, Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da Lei
das liberdades que se expressa pelos direitos civis: de Nº 1.074, de outubro de 2003, entrou em vigor em
ir e de vir, de ter acesso à informação, de ter direito 1º de janeiro de 2004.12 Conta com 118 artigos sobre
ao trabalho, à fé, à propriedade e à justiça, caminham diversas áreas dos direitos fundamentais, incluídas as
juntos e devem ser parte integrante da vida do idoso.11 necessidades de proteção dos idosos, visando reforçar
Direito e cidadania independem de idade. as diretrizes contidas na PNI. Além de incluir leis e
Portanto, não existe idade definida para ser políticas já aprovadas, incorpora novos elementos
cidadão. O idoso também deve ter seus direitos e enfoques, dando um tratamento integral ao esta-
garantidos e respeitados. A ele deve ser assegurado belecimento de medidas destinadas a proporcionar
o direito de pertencer e participar intensamente de o bem-estar dos idosos, ou seja, pessoas com idade
uma sociedade, direito à inclusão social. cronológica igual ou superior a 60 anos.
Uma das formas de promover a inclusão A discussão deste Estatuto iniciou-se com o
social é conscientizar as pessoas sobre seus direitos Projeto de lei nº 3.561 de 1997,13 de iniciativa do
e, ao mesmo tempo, respeitar estes direitos. Por movimento de aposentados, pensionistas e idosos
sua atuação a enfermagem tem a oportunidade de vinculados à Confederação Brasileira dos aposen-
desempenhar esta tarefa. Diante dos mais de 16 tados e Pensionistas (COBAP). Em 2000, foi ins-
milhões de idosos brasileiros, certamente esta tarefa tituída na Câmara Federal uma Comissão Especial
torna-se mais necessária. A enfermagem tem, pois, para tratar das questões relacionadas ao Estatuto e
o dever de assistir as pessoas nessa fase da vida com ainda em 2000 e 2001 foram realizados Seminários
dignidade, igualdade e respeito, transmitindo e Nacionais para discussões sobre a temática.14
exigindo da sociedade igual atitude. Conforme observado, o Estatuto não apenas
Respeitar o direito humano do idoso é ajudá-lo acrescenta novos dispositivos ao PNI, mas consolida
a exercer sua cidadania, é garantir-lhe autonomia e os direitos já assegurados na Constituição Federal,
independência; é valorizar e desenvolver sua capa- sobretudo na proteção ao idoso em situação de risco
cidade e potencial de decisão e ação. social. É um documento onde são estabelecidas san-
ções penais e administrativas para quem descumpra
Em virtude da sua competência, a enfermagem
os direitos dos idosos, nele estabelecidos.
é uma profissão que despende esforços para prolongar
a vida do ser humano, contribuindo com o aumento Este documento discute os direitos fundamen-
da expectativa de vida. Porém, esta vida precisa de tais do idoso relacionados aos seguintes aspectos:
condições adequadas e de qualidade. Desse modo, não à vida, à liberdade, ao respeito e à dignidade, a
pode haver políticas públicas e sociais efetivas sem alimentos, saúde, educação, cultura, esporte e lazer,
referência aos direitos humanos. Como cidadão e pro- profissionalização do trabalho, previdência social,
fissional, quando o enfermeiro participa ativamente assistência social, habitação e ao transporte. Além
da elaboração dessas políticas, pode contribuir tanto disso, discorre sobre medidas de proteção, política
para o pleno exercício da cidadania do idoso, quanto de atendimento ao idoso, acesso à justiça e crimes.
para a diminuição da exclusão na velhice. Apesar de publicado, o cumprimento e o res-
peito ao Estatuto dependem da cobrança organizada
ESTATUTO DO IDOSO da sociedade civil, com especial destaque ao idoso.
É preciso reivindicá-lo em todos os espaços sociais,
Este é um dos principais instrumentos de com participação ativa do idoso pela melhoria de
direito do idoso. Sua aprovação representou um sua própria condição de vida.
passo importante da legislação brasileira no con- Como integrante da área de saúde, a enferma-
texto de sua adequação às orientações do Plano de gem possui responsabilidade direta no cumprimento
Madri. O Estatuto corrobora os princípios que do item relacionado ao direito à saúde. É, também,
nortearam as discussões sobre os direitos humanos sua responsabilidade assegurar a atenção integral à
da pessoa idosa. Trata-se de uma conquista para a saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único
efetivação de tais direitos, especialmente por tentar
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Política nacional de atenção ao idoso e a contribuição da enfermagem - 541 -

de Saúde (SUS), garantindo-lhe acesso universal e do Ministério da Saúde (MS) e dela é parte integran-
igualitário. Conforme previsto, suas ações devem te. Esta política visa à promoção do envelhecimento
ser pautadas na prevenção de doenças, promoção, saudável, à prevenção de doenças, à recuperação
proteção e recuperação da saúde, incluindo atenção da saúde, à preservação/melhoria/reabilitação da
especial às doenças que afetam a vida longeva.12,14 capacidade funcional dos idosos com a finalidade de
Entre os direitos à saúde, assegurados aos idosos, nos assegurar-lhes sua permanência no meio e sociedade
quais a enfermagem pode atuar estão os seguintes: em que vivem, desempenhando suas atividades de
cadastramento em base territorial; atendimento em maneira independente.15
domicílios, unidades de saúde, unidades geriátricas Nesta política estão definidas as diretrizes
e gerontológicas de referência com profissionais norteadoras de todas as ações no setor saúde, e
capacitados para trabalhar em tal área, garantir indicadas as responsabilidades institucionais para o
a aquisição e informar o direito do recebimento alcance da proposta. Além disso, ela orienta o pro-
gratuito de medicamentos, especialmente os de uso cesso contínuo de avaliação que deve acompanhar
continuado, assim como próteses, órteses e outros seu desenvolvimento, considerando possíveis ajustes
recursos relativos ao tratamento, habilitação ou determinados pela prática.
reabilitação, dentre outros.
Sua implementação compreende a definição
Ainda, cabe ao enfermeiro, em muitas unida- e/ou readequação de planos, programas, projetos e
des de internação, a decisão sobre o direito a acom- atividades do setor saúde, direta ou indiretamente
panhante. A lei é clara quando dispõe que ao idoso relacionados com seu objeto.
internado ou em observação é assegurado o direito a
Na PNSI foram definidas as seguintes diretri-
acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcio-
zes essenciais:16
nar as condições adequadas para a sua permanência
em tempo integral, segundo o critério médico. - promoção do envelhecimento saudável vol-
tado ao desenvolvimento de ações que orientem os
Em corroboração ao Estatuto, cabe à enfer-
idosos e as pessoas que estão envelhecendo em relação
magem consultar o idoso, que esteja no domínio de
à importância da melhoria de suas habilidades funcio-
suas faculdades mentais, sobre assistência planejada,
nais, mediante a adoção precoce de hábitos saudáveis
este deve ter voz ativa na tomada de decisão sobre
de vida, a eliminação de comportamentos nocivos à
seu tratamento.
saúde, além de orientação aos idosos e seus familiares
Para desempenhar devidamente suas atribui- quanto aos riscos ambientais favoráveis a quedas;
ções, o enfermeiro precisa se capacitar. Entre suas
- manutenção da capacidade funcional refe-
atividades de capacitação ele deve incluir o cuidado
rente às ações com vistas à prevenção de perdas
ao idoso. Deve, também, assegurar à equipe treina-
funcionais em dois níveis específicos: 1) prevenção
mento e conhecimentos sobre as necessidades da
de agravos à saúde, que determinam ações voltadas
pessoa idosa e a melhor forma de assisti-la e ainda
para a imunização dos idosos; 2) reforço de ações di-
relacionar-se e orientar cuidadores familiares. O
rigidas para a detecção precoce de enfermidades não-
treinamento da equipe para atenção ao idoso deve
transmissíveis, com a introdução de novas medidas,
voltar-se, principalmente, para avaliar e denunciar
como a antecipação de danos sensoriais, utilização
abusos e maus-tratos contra ele.
de protocolos para situações de risco de quedas, al-
Neste contexto, o enfermeiro deve participar, teração de humor e perdas cognitivas, prevenção de
não apenas colocando em prática os artigos do Es- perdas dentárias e outras afecções da cavidade bucal,
tatuto, mas também informando à população idosa prevenção de deficiências nutricionais, avaliação das
a existência deste documento, garantindo-lhe o co- capacidades e perdas funcionais no ambiente domi-
nhecimento de seus direitos nele reafirmados. Cabe ciliar e prevenção do isolamento social;
ainda ao enfermeiro ser um agente intermediador
- assistência às necessidades de saúde do idoso,
entre a legislação, o idoso e a sociedade.
extensiva aos âmbitos ambulatorial, hospitalar e
domiciliar. No âmbito ambulatorial a assistência
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO será embasada na consulta geriátrica fundamentada
IDOSO na coleta e no registro de informações. Para tanto,
serão utilizadas escalas de rastreamento para a de-
A Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI)
pressão, perda cognitiva e avaliação da capacidade
consta na íntegra do anexo da Portaria 1.395/1999
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funcional, assim como o encaminhamento correto O trabalho articulado com o Ministério da


para a equipe multiprofissional e interdisciplinar. Educação e as Instituições de Ensino Superior (IES)
Dessa forma, espera-se alcançar um impacto expressi- deverá ser viabilizado por intermédio dos Centros
vo na assistência, em particular na redução das taxas Colaboradores de Geriatria e Gerontologia, tendo
de internação hospitalar e em clínicas de repouso, em vista a capacitação de recursos humanos em
bem como a diminuição da demanda aos serviços de saúde, de acordo com as diretrizes aqui fixadas.
emergência e aos ambulatórios de especialidades. Estes Centros serão, preferencialmente, localizados
Na assistência hospitalar, a idade será conside- em IES e terão atribuições específicas, conforme as
rada um indicador na determinação da assistência ao características de cada instituição. A indicação dos
idoso enfermo, e o estado funcional será o parâme- centros deverá ser estabelecida pelo MS de acordo
tro mais fidedigno no estabelecimento de critérios com as necessidades identificadas no processo de
específicos de atendimento. Idosos classificados implantação desta política nacional.
como totalmente dependentes constituirão o grupo A capacitação tentará preparar os recursos
enquadrado no conceito de vulnerabilidade. Os humanos para a operacionalização de um conjun-
serviços de saúde deverão estar preparados para iden- to básico de atividades, tais como a prevenção de
tificá-los e promover-lhes assistência diferenciada e perdas, a manutenção e a recuperação da capacidade
pautada na participação de diferentes profissionais funcional e o controle dos fatores que interferem no
da área da saúde. A tentativa de reabilitação desses estado de saúde da população idosa, entre outras;
pacientes deve ser privilegiada antes e durante a - apoio do desenvolvimento de cuidados in-
hospitalização, para evitar internações prolongadas formais, que busca o desenvolvimento de parcerias
que aumentam a carga de sofrimento do idoso, bem entre os profissionais da saúde e as pessoas próximas
como oneram os custos dos serviços de saúde. aos idosos responsáveis pelos cuidados diretos,
A assistência domiciliar constituirá estratégia necessários à manutenção das atividades da vida
importante para diminuir o custo da internação, diária e pelo seguimento das orientações emitidas
pois é menos onerosa do que a internação hospi- pelos profissionais. Tal parceria, como mostram
talar. O atendimento ao idoso enfermo, residente estudos e pesquisas sobre o envelhecimento com
em instituições, terá as mesmas características da dependência, configura a estratégia mais atual e
assistência domiciliar. A implantação do hospital- menos onerosa para manter e promover a melhoria
dia geriátrico deverá ser estimulada, e terá como da capacidade funcional dos idosos.
objetivo viabilizar a assistência técnica adequada Para o desempenho das atividades de cuidado
para pacientes cuja necessidade terapêutica e de ao idoso dependente, as pessoas envolvidas deverão
orientação para cuidadores não justifique a perma- receber dos profissionais de saúde os esclarecimentos
nência em hospital. e as orientações necessárias, inclusive em relação à
Ainda como diretrizes da PNSI mencionam-se doença crônico-degenerativa com a qual está even-
as seguintes: tualmente lidando, bem como informações sobre
- reabilitação da capacidade funcional com- como acompanhar o tratamento prescrito. Neste
prometida com foco especial na reabilitação pre- sentido, o modelo de cuidados domiciliares, antes
coce, ou seja, prevenir a evolução e recuperar a restrito à esfera privada e à intimidade das famílias,
perda funcional incipiente, de forma a evitar que não poderá ter como única finalidade baratear cus-
as limitações da capacidade funcional avancem e tos ou transferir responsabilidades, mas, também,
fazer com que essas limitações sejam amenizadas. atender às demandas de orientação, informação e
Para tanto, será necessário o envolvimento de uma assessoria de especialistas;
equipe multiprofissional; - apoio a estudos e pesquisa, que será de respon-
- capacitação de recursos humanos especializa- sabilidade dos Centros Colaboradores de Geriatria
dos, os quais constituem diretrizes que perpassarão e Gerontologia, assegurando-se as áreas de conheci-
todas as demais definidas nesta política, configurando mento de suas especialidades. Com apoio financeiro
mecanismos de articulação intersetorial, de forma das agências de Ciência e Tecnologia regionais e/ou
que o setor saúde possa dispor de pessoal em quali- federais, estes centros deverão organizar seu corpo
dade e quantidade adequadas, e cujo provimento é de pesquisadores e atuar em uma ou mais linha de
de responsabilidade das três esferas de governo. pesquisa com o objetivo de gerar informações para

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Política nacional de atenção ao idoso e a contribuição da enfermagem - 543 -

subsidiar as ações de saúde dirigidas à população de Ao abordar o cuidado à saúde é importante


mais de 60 anos de idade. Os MS e o Ministério da retomar as políticas do país sobretudo no referente
Ciência e Tecnologia serão os articuladores, com à Atenção Básica à Saúde. Este “[...] caracteriza-se
vistas a garantir a efetividade de ações programadas por um conjunto de ações de saúde, no âmbito
de estudos e pesquisas desta PNSI. individual e coletivo, que abrangem a promoção
Entende-se que a operacionalização dessa e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o
política compreende um processo sistematizado e diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a ma-
contínuo de seguimento e avaliação para a obser- nutenção da saúde. É desenvolvida por meio do
vação dos resultados e seu impacto na saúde dos exercício de práticas gerenciais e sanitárias demo-
idosos, possibilitando o desenvolvimento de ade- cráticas e participativas, sob forma de trabalho em
quações necessárias. Para tanto, será indispensável equipe, dirigidas a populações de territórios bem
a definição de metodologia, critérios, parâmetros e delimitados, pelas quais assume a responsabilidade
indicadores específicos, com vistas a se evidenciar sanitária, considerando a dinamicidade existente no
a repercussão das medidas adotadas, inclusive, por território em que vivem essas populações. Utiliza
outros órgãos, que resultaram da ação articulada e tecnologias de elevada complexidade e baixa densi-
estabelecida nesta política, bem como a observância dade, que devem resolver os problemas de saúde de
dos compromissos internacionais assumidos pelo maior freqüência e relevância em seu território. É o
país em relação à atenção aos idosos. contato preferencial dos usuários com os sistemas de
saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade,
Para o alcance dos propósitos do PNSI,
da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do
compete aos gestores do SUS viabilizar de maneira
vínculo e continuidade, da integralidade, da res-
articulada os recursos necessários, pois, embora a
ponsabilização, da humanização, da equidade e da
referida proposta seja inovadora, cabe aos órgãos
participação social”.17:10 A Atenção Básica considera
governamentais e não-governamentais a tarefa de
o sujeito em sua singularidade, na complexidade, na
implementá-la. Em especial, na Enfermagem grupos
integralidade e na inserção social cultural e busca a
de docentes e pesquisadores de várias Universidades
promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento
brasileiras estão se articulando. Entre estas, men-
de doenças e a redução de danos ou de sofrimentos
cionam-se as seguintes: Universidade de São Paulo,
que possam comprometer suas possibilidades de
Universidade Federal de Santa Catarina, Pontifícia
viver de modo saudável. Tem a Saúde da Família
Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
como estratégia prioritária para sua organização de
Universidade Estadual de Campinas, Universida-
acordo com os preceitos do SUS.17
de Federal de São Paulo, Universidade Federal da
Bahia, Universidade Estadual do Ceará, Universi- Em 2005, o MS definiu a Agenda de Compro-
dade de Passo Fundo. As articulações ocorrem por misso pela Saúde, a qual agrega três eixos: o Pacto em
intermédio das atividades desenvolvidas na Jornada Defesa do SUS, o Pacto em Defesa da Vida e o Pacto
Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológi- de Gestão. O Pacto em Defesa da Vida traz como
ca, realizada a cada dois anos, para debater temas de uma das prioridades a atenção à saúde do idoso. A
prioridade do envelhecimento e da enfermagem, para PNSPI, Portaria GM nº. 2.528, de 19 de outubro de
serem implementados tanto no ensino quanto na 2006, define que a atenção à saúde do idoso terá como
pesquisa. Conforme Edital do Envelhecimento, do porta de entrada a Atenção Básica/Saúde da Família.
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Cabe destacar ainda as referências às redes de serviços
e Tecnológico (CNPq) e Ministério da Saúde, alguns especializados de média e alta complexidade.
membros do grupo elaboraram projeto de pesquisa Como definido, a Política Nacional de Aten-
sobre Instituição de Longa Permanência, o que foi ção Básica, regulamentada pela Portaria GM Nº 648,
aprovado pelo CNPq. O projeto multicêntrico será de 28 de março de 2006, “caracteriza-se por desen-
desenvolvido em seis universidades brasileiras, com a volver um conjunto de ações de saúde, no âmbito
participação de docentes pesquisadores da Enferma- individual e coletivo, que abrangem a promoção e
gem em Geriatria e Gerontologia. Tal iniciativa dará a proteção à saúde, a prevenção de agravos, o diag-
impulso nessa área de conhecimento, ainda carente nóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção
de pesquisas para o processo de ensinar a cuidar de da saúde”.17:10 O trabalho deve ser desenvolvido em
pessoas que estão vivenciando a velhice e vivem em equipe para atender populações específicas, num
instituições de longa permanência. determinado território. A finalidade é atender a

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- 544 - Rodrigues RAP, Kusumota L, Marques S, Fabrício SCC, Cruz IR, Lange C

população, incluindo os idosos, detectar agravos essa comprometida com a produção de cuidados,
mais precoces, realizar buscas ativas e educação à defendida pela Enfermagem brasileira.
saúde para resolver os problemas de saúde, porém,
com tecnologias simples e apropriadas.17 CONSIDERAÇÕES
Cabe destacar aqui que os enfermeiros
ocupam papel fundamental na atenção à saúde A transição demográfica e epidemiológica são
do idoso, seguindo os princípios do SUS,18 a nor- dois eventos integrantes da sociedade brasileira e
matização do município de atenção e os deveres, contam com propostas específicas. Como eviden-
segundo preconiza o Conselho Federal de Enfer- ciado, as diversas propostas de Políticas de Atenção
magem tais como: O Primeiro Contato que atende estão bem delineadas e traçadas. Cabe, porém, aos
o idoso nos serviços de saúde quando há ocorrência gestores dos serviços e a equipe de saúde debaterem
de problema(s) de saúde. Nesse atendimento cabe, as prioridades de atenção. De modo geral, os idosos
também, ao enfermeiro, comunicar-se efetivamen- brasileiros vivem, na sua maioria, na comunidade e
te com o idoso e sua família, realizar a avaliação a Atenção Básica à Saúde é uma das estratégias dis-
multidimensional do idoso, conforme proposta do ponível para ser utilizada. Vale ressaltar, entretanto,
documento de Cadernos de Atenção Básica, Enve- que a formação da equipe de saúde para esta área de
lhecimento e Saúde da Pessoa Idosa, do MS,19 além conhecimento é urgente, em virtude da demanda
de outros documentos, livros e textos científicos de atenção a essa população, no sistema de saúde.
que abordam a avaliação do idoso, para a elabora- Contudo, não se pode esquecer que o principal
ção do plano de cuidado integral a ele, envolvendo desafio é o de retomar a luta dos direitos sociais e
a participação de todos os membros da equipe de humanos do idoso, para a construção da sua cidada-
saúde, do idoso e da família. A Logitudinalidade, nia. Como parte deste desafio destaca-se o trabalho
que se relaciona ao acompanhamento dos cuidados da Enfermagem junto à população idosa, sobretudo
prestados pela equipe, ao idoso, no decorrer da ao analisar a Política de Atenção ao Idoso no Brasil,
atenção à saúde. Neste momento é que se estabelece identificando problemas do idoso dentro do con-
vínculo e outras relações entre a família e a equipe. texto familiar e social e efetivando intervenções no
A Integralidade, que é a prestação de cuidados, de ensino, na pesquisa e na assistência, respeitando suas
acordo com as necessidades identificadas no idoso potencialidades e diferenças individuais.
em suas múltiplas dimensões diante da diversidade
e complexidade de sua existência, para planejar e REFERÊNCIAS
implementar o plano de cuidado, no domicílio e, 1 Kalache A, Veras RP, Ramos LR. Envelhecimento
também, a partir do reconhecimento do tipo de da população mundial: um desafio novo. Rev. Saúde
intervenção necessária, acionar os serviços dispo- Pública. 1987 Jun; 21 (3): 200-10.
níveis em seus vários níveis primário, secundário 2 Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros
e terciário e de forma integrada. A Coordenação, às vésperas do século XXI: problemas, projeções
ou seja, capacidade da garantia de continuidade e alternativas. Rev. Saúde Pública 1997 Abr; 31
da atenção ao idoso, mediante discussão dos casos (2):184-200.
das famílias, com a participação de todos os mem- 3 Paschoal S, Franco RP, Salles RFN. Epidemiologia
bros da equipe, intra e extra-equipe, uma vez que do envelhecimento. In: Papaléo Neto M. Tratado de
a diversidade, multiplicidade e complexidade das Gerontologia. 2a ed. rev. ampl. São Paulo (SP): Ed.
situações exigem que informações a respeito do Atheneu; 2007. p.39-56.
paciente e sua família sejam apropriadas por vários 4 Rodrigues NC. Política Nacional do Idoso:
profissionais e serviços envolvidos no atendimento. retrospectiva histórica. Estudos Interdiscipl. Envelhec.
Focalização na Família, considerando-a como su- 2001; 3:149-58.
jeito ativo do processo de cuidar do idoso e educá-la 5 Organização das Nações Unidas. Relatório da I
para tal. Orientação Comunitária pelo reconheci- Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento, Plano
mento das necessidades segundo o contexto (físico de Ação Internacional. Viena (AT): ONU;1982.
e psicológico) em que o idoso está inserido. 6 Brasil. Lei No 8.842 de 4 de janeiro de 1994. Dispõe
sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho
Esses princípios da Atenção Básica á Saúde
Nacional do Idoso e dá outras providências [acesso em
são norteadores para a implementação da prática de 2007 Maio 01]. Disponível em: https://www.planalto.
saúde, com ênfase na multidisciplinaridade, prática gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2007 Jul-Set; 16(3): 536-45.
Política nacional de atenção ao idoso e a contribuição da enfermagem - 545 -

7 Ministério da Previdência Social (BR). Plano de Atenção à Pessoa Idosa no Brasil. In: Freitas EV, Py
Integrado de Ação Governamental para o L, Nery AL, Cançado FAX, Gorzoni ML, Rocha SM,
Desenvolvimento da Política Nacional do Idoso. organizadores. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio
Brasília (BR): MPAS; 1997. de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2002. p.1077-82.
8 Organização das Nações Unidas. Plano de ação 15 Brasil Gabinete do Ministro de Estado da Saúde (BR).
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de Arlene Santos. Brasília (DF): Secretaria Especial dos a Política Nacional de Saúde do Idoso e dá outras
Direitos Humanos; 2003. providências. Diário Oficial [da] República Federativa
9 Camarano AA, Pasinato MT. O envelhecimento do Brasil, 13 Dez 1999. Seção I, n.237-E, p.20-4.
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Arq_16_Cap_08.pdf ao idoso. Rio de Janeiro (RJ): UNATI; 2000.
10 World Health Organization. Envelhecimento ativo: 17 Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à
uma política de saúde. Brasília (DF): OPAS; 2005. Saúde, Departamento de Atenção Básica. Portaria
11 Almeida VLV, Gonçalves MP, Lima TG. Direitos No 648/GM de 28 de março de 2006: aprova a
humanos e pessoa idosa [publicação de apoio ao curso Política Nacional de atenção Básica, estabelecendo
de Capacitação para a Cidadania: atenção e garantia a revisão de diretrizes e normas para a organização
dos direitos da pessoa idosa]. Brasília (DF): Secretaria da Atenção Básica para o Programa de Saúde da
Especial dos Direitos Humanos; 2005. Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários
de Saúde (PACS). Política Nacional de Atenção
12 Ministério da Saúde (BR). Estatuto do Idoso. Brasília
Básica. Brasília (DF): MS; 2006.
(DF): MS; 2003.
18 Ministério da Saúde (BR). Portaria No 2.203 de 5 de
13 Paim P. Projeto de Lei No 3561 de 1997, PLC 57
novembro de 1996: dispõe sobre a Norma Operacional
de 2003: Projeto de Lei da Câmara. Dispõe sobre o
Básica do SUS 01/96. Brasília (DF): MS; 1996.
Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília
(DF): Câmara dos Deputados; 2003. 19 Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e
14 Costa NE, Mendonça JM, Abigalil A. Políticas de
saúde da pessoa idosa. Brasília (DF): MS; 2006 [acesso
assistência ao idoso: a construção da Política Nacional
em 2007 Maio 1]. Disponível em: www.saúde.gov.br

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2007 Jul-Set; 16(3): 536-45.

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