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O documento descreve a vida e carreira de Mário Adnet, músico nascido no Rio de Janeiro em 1957. Fala sobre como o período da Era JK, com seu otimismo e ambiente favorável, influenciou positivamente a música brasileira e o surgimento da Bossa Nova. Também traça perfis biográficos de figuras-chave como Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes, mostrando como suas vidas se desenvolveram paralelamente ao governo JK.
O documento descreve a vida e carreira de Mário Adnet, músico nascido no Rio de Janeiro em 1957. Fala sobre como o período da Era JK, com seu otimismo e ambiente favorável, influenciou positivamente a música brasileira e o surgimento da Bossa Nova. Também traça perfis biográficos de figuras-chave como Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes, mostrando como suas vidas se desenvolveram paralelamente ao governo JK.
O documento descreve a vida e carreira de Mário Adnet, músico nascido no Rio de Janeiro em 1957. Fala sobre como o período da Era JK, com seu otimismo e ambiente favorável, influenciou positivamente a música brasileira e o surgimento da Bossa Nova. Também traça perfis biográficos de figuras-chave como Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Moraes, mostrando como suas vidas se desenvolveram paralelamente ao governo JK.
Sou um msico gerado e nascido no Rio de Janeiro em
1957, durante os anos dourados do governo de Juscelino Kubitchek, e fui certamente contagiado, e ainda continuo at hoje, pelo otimismo desse perodo que muitos descrevem como um dos mais felizes da histria do pas, sobretudo para a msica brasileira. No se pode falar em Bossa Nova sem se falar, obviamente, em Joo Gilberto, Antnio Carlos Jobim e Vincius de Moraes, mas de fundamental importncia o ambiente favorvel criado por Juscelino Kubitschek. E logicamente a contribuio de nossos grandes heris irrequietos, entre compositores, arranjadores, msicos e intrpretes que j vinham modernizando a msica brasileira apesar dos tempos menos azuis (a lista interminvel). Quando ouvimos falar em Bossa Nova, associamos imediatamente o rtulo a um movimento musical feito por uma pequena elite da zona sul do Rio de Janeiro. Alguns crticos puristas diziam que era a msica popular que passava das casas para os apartamentos, minimizando, talvez sem se dar conta, a extenso do que realmente aconteceu. Na verdade essa novidade no foi de ltima hora mas fruto de um processo de incubao que levou anos se manifestando isoladamente durante um longo inverno, at a chegada daquela primavera, o ambiente perfeito com jeito de Shangri-l, que foi a Era JK. Tom Jobim, Joo Gilberto e Vincius de Moraes foram, portanto, a ponta de um iceberg. E se pensar-
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Foto: Mario Thompson
Era JK: ensaios de uma utopia
Joo Gilberto
mos bem, a obra que fizeram to utpica e desbravadora
quanto a de JK. Vai muito alm da zona sul do Rio e maior do que o Brasil, tanto que atravessou as fronteiras. No incio dos anos 50, Tom Jobim dava duro nas noites do Rio para sustentar a famlia mas j mostrava a que veio, com suas melodias e harmonias avanadas. Joo Gilberto ainda no havia tido o estalo daquela batida sinttica do violo e Vincius de Moraes era um diplomata que fazia uma poesia ainda um tanto erudita. Juscelino era governador de Minas e j tinha feito alguns ensaios para o futuro prximo, com a ampliao da cidade (planejada) de Belo Horizonte, incluindo a a criao de um novo bairro inteiro, a Pampulha, projetada por um jovem arquiteto, Oscar Niemeyer. V-se que JK j tinha um faro fino para perceber e estimular novos talentos. interessante observar, sob o ponto de vista artstico musical claro, esses personagens a comear pelo o ento presidente da repblica, cuja a afinidade com artistas e literatos fez com que aquele perodo fosse to generoso com a msica. Juscelino nasceu em Diamantina em 1902, teve infncia e juventude pobre, ficou rfo de pai aos dois anos de idade e foi alfabetizado e educado pela me, a professora primria Jlia Kubitschek de Oliveira. O pai, Joo Csar de Oliveira era um homem inteligente, bomio e, como todos os habitantes da cidade, gostava de serenata. Era tambm excelente danarino e bom violonista. Em todas as festas, ele era convocado;
mame tinha um temperamento exatamente contrrio ao
dele uma mulher severa, rigorosa, filha de um alemo muito disciplinado.A cidade de Diamantina, assim como as outras cidades de Minas daquele tempo, eram muito isoladas e tinham que se bastar em termos de cultura. Criavam seus prprios clubes literrios e as escolas eram tambm ncleos culturais. Durante quase 200 anos, oito ou nove estabelecimentos de ensino, distribudos por Diamantina, Mariana, Ouro Preto, Serro, concentraram a cultura de Minas Gerais. De modo que todos ns que ali vivamos, tnhamos orgulho dos diamantinenses que j haviam passado por ali, e que, saindo de Diamantina, tinham conquistado, em outros pontos do pas, glria ou fama. Sobretudo a poltica ensejava estas oportunidades; e tambm a literatura. Joo Nepomuceno Kubitschek, tio-av de Juscelino, um dos primeiros dolos do menino Non, chegou a vice-governador do estado, mas se tornou famoso pela sua poesia, que gostava de declamar nas histricas noites de luar de Diamantina. Ele estudava em So Paulo, juntamente com a pliade de outros brasileiros muito ilustres na literatura, entre os quais o grande, o imenso Castro Alves, que cuidavam s de escrever ou de produzir versos. Aos seis anos de idade teve, pela primeira vez, a sensao de contato com uma pessoa importante com a visita do presidente de Minas (como era chamado um governador de estado na poca), Joo Pinheiro Diamantina, que chegou a cavalo depois de vrios dias de viagem e foi recebido por sua me. O presidente, na sala de visitas de sua casa, prometeu que fundaria o primeiro grupo escolar de Diamantina, o que foi cumprido risca ainda no mesmo ano. Com isso D. Jlia foi a primeira professora nomeada e passou a receber um salrio do estado, o que melhorou um pouco a vida da famlia. Juscelino foi um menino extremamente estudioso. Devorou os trezentos livros da biblioteca, alm de todos os outros da cidade, sobre qualquer assunto, que pedia emprestado. Estudou francs com uma francesa que tinha vindo de Paris com o marido, no incio do sculo passado, um minerador de diamante, que depois de explorar as minas exausto e aumentar os estragos nas encostas da cidade, voltou terra natal abandonando a mulher no Brasil. Com ela, Juscelino traduziu todo o teatro clssico francs: Molire, Voltaire e Racine.
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Esses dados sobre sua infncia e adolescncia parecem
suficientes para dar a pista da importncia que teriam a msica, a literatura, a poesia, a cultura de maneira geral, na formao do futuro presidente. E com certeza a herana dos exemplos de disciplina e rigidez da me, do tio polticopoeta, da promessa cumprida do presidentede Minas, alm da simpatia, a alegria de viver e a bomia, provavelmente herdadas do pai. Mas sua trajetria no foi s alegria e bomia. Num ltimo depoimento em 1976, pouco antes de sua morte, ele mesmo admitiria: - muito difcil um homem sair de Diamantina, filho de uma viva, pobre, chegar presidncia da Repblica. preciso ter um feitio muito especial de comunicao, seno no vence as dificuldades que eu tive que vencer. Primeiro, tive que vencer as dificuldades de baixo, depois as mdias, e, finalmente, as de cima. Eu tive que enfrentar todas, porque enfrentei as dificuldades decorrentes da situao poltica municipal, estadual, federal, militar; tudo foi um conjunto. Ou ter sido uma orquestra? De volta ao incio dos anos 50, esse feitio muito especial de comunicaoj havia levado Juscelino duas vezes cmara dos deputados, prefeitura de Belo Horizonte e ao governo de Minas. Enquanto isso no Rio de Janeiro, Antnio Carlos Jobim continuava tentando resolver as dificuldades de baixo, Joo Gilberto nem isso e Vincius de Moraes, bem mais velho, talvez estivesse passando pelas mdias. Tambm para Jobim a vida no era s boemia. Descobriu em pouco tempo que como pianista da noite no chegaria a lugar algum e que ainda poderia ficar doente. Havia estudado com grandes mestres como Koellreuter, Toms Teran e Lcia Branco e para ser algum, precisaria trocar a noite pelo dia. Com o incentivo da famlia, ele saiu do cubo das trevas, como se referia s boates, e passou aos trabalhos diurnos. Primeiramente arrumou um emprego na editora Euterpe e, pouco depois, na gravadora Continental, onde se tornou arranjador da casa, com a ajuda do maestro e compositor Radams Gnattali, um de seus dolos. A partir de 1953 comeou a ter suas msicas gravadas, alm de fazer arranjos para artistas como Orlando Silva e Dalva de Oliveira em final de carreira. Em 54, veio o primeiro sucesso,Tereza da Praia, com Billy Blanco, nas vozes sem firulas de Dick Farney e Lcio Alves. Seu talento tambm
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de orquestrador o levaria a projetos ousados como a
Sinfonia do Rio de Janeiro, que talvez tenha sido um ensaio para Orfeu do Conceio, o primeiro trabalho com Vincius, que conheceu j nos anos JK, e, mais tarde,Braslia, Sinfonia da Alvorada. Vincius parecia estar descobrindo que a simplicidade da poesia era o grande segredo da expresso da msica popular. Aos poucos foi rompendo os laos com os meios acadmicos para se tornar o nosso poetinha. Musicalmente Tom Jobim j era moderno e tinha todas as caractersticas musicais que o tornariam o maestro soberano, na feliz expresso cunhada por Chico Buarque. Como me disse uma vez, numa entrevista gravada para o rdio, existia uma necessidade de se limpar a msica, seja nos arranjos, na forma, faltava uma linguagem mais sinttica. Meu piano econmico. Sempre tentei ser conciso com as notas, usando poucas e boas, numa tentativa de fazer algo que significasse alguma coisa. Acho que essa minha preocupao deu resultado. Essa coisa que eu fiz, voc v hoje em dia na msica, os msicos procurando dizer muito com poucas notas. Antigamente o pianista, o virtuoso, era aquele cara que fazia um monte de arpejos e escalas. Os msicos de sopro, muitos ainda tocam muitas notas no saxofone, no clarinete e assim havia essa tentativa
Foto: Mario Thompson
de dizer o essencial. O samba tinha mil percussionistas, os
espaos estavam todos ocupados, a bateria mais parecia um mar durante uma tempestade. Era muita coisa tocando ao mesmo tempo, da a necessidade de ir limpando... O detalhe que faltava para a mudana a que Tom se referia foi, com certeza, a batida tambm econmica do violo de Joo Gilberto. Joo Gilberto chegou ao Rio de Janeiro em 1950, vindo de Salvador, onde era crooner da Rdio Sociedade da Bahia,
para integrar o grupo vocal Garotos da Lua, contratado da
Rdio Tupi, a convite de Alvinho, seu amigo e integrante do conjunto. Naquele tempo ele soltava a voz la Orlando Silva, um de seus maiores dolos. Chegou a gravar dois discos de 78 rotaes cantando assim. Um detalhe curioso que uma das caractersticas das interpretaes de Orlando Silva a brincadeira que ele fazia com as melodias, adiantando e atrasando, em relao ao acompanhamento, o que se tornou mais tarde a marca registrada de Joo Gilberto. A diferena que como Joo tocava bem violo e era antes de tudo um msico, tinha maior controle rtmico sobre a brincadeira, pois era o responsvel pelo prprio acompanhamento. Pode parecer mentira mas esse achado de Joo teria sido gestado justamente em Diamantina, durante os oito meses em que passou confinado na casa de sua irm Dadainha, enquanto Juscelino estava em plena campanha para presidente. Estaria tudo planejado e ensaiado ?
Mrio Adnet Compositor, violonista, arranjador e produtor
carioca, Mario Adnet atua como profissional desde 1977. Em 1980 lanou seu primeiro disco, em duo com o compositor e pianista Alberto Rosenblit, e passou a atuar tambm como arranjador. Em 1984 lanou seu primeiro disco solo,Planeta Azul. Nos anos 90 passou a ser gravado no exterior por intrpretes como Lisa Ono, Joyce, Charlie Byrd, Chuck Mangione e outros. Ao mesmo tempo, produziu e apresentou programas de msica nas rdios MEC e Alvorada, com entrevistas de artistas da MPB. Em 1994 Tom Jobim incluiu em seu ltimo disco (Antnio Brasileiro) o arranjo de Maracangalha (Dorival Caymmi) feito por Adnet, o que projetou seu trabalho como arranjador. Em seguida lanou seu CD Pedra Bonita, com participao de Tom Jobim, e excursionou pelo Japo ao lado de Lisa Ono. Em 98 passou a escrever perfis de artistas da MPB para o Segundo Caderno do jornal O Globo. Em 1999 lanou o CD Para Gershwin e Jobim que foi gravado entre o Rio e Nova Iorque. Depois vieram Villa-Lobos-Corao Popular no final de 2000, com canes do maestro em arranjos populares, Para Gershwin e Jobim-Two Kites em 2001, alm de produzir ao lado do saxofonista Z Nogueira, o lbum duplo Ouro-Negro, dedicado obra do maestro Moacir Santos. Entre 2001 e o primeiro semestre de 2002 esteve por duas vezes no Japo como arranjador dos ltimos CDs da cantora Lisa
Antnio Carlos Jobim
e Vincius de Moraes
Ono. Lanou no incio de 2002 Rio Carioca, em homenagem cidade