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SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO..........................................................................................2

1.1 – OBJETIVOS............................................................................................2

6– BIBLIOGRAFIA........................................................................................20

1 – INTRODUÇÃO

Em atendimento à instituição colégio CEST, os alunos, Fernando Ferreira, Gilson


Gil, Sonia Maria e Glauber Oliveira do curso Técnico Instrumetação e Automação,
realizaram um trabalho de pesquisa sobre a Reforma Ortográfica , para relatar todo
seu prcesso implementação, mostrando as princiapis alterações introduzidas na
ortografia, expondo suas vantagens e desvatagens e demostrando sua importância
para unifcação ortografia da língua portuguêsa.

1.1 – OBJETIVOS

- Analisar a reforma ortográfica


- Relatar a sua historia
- Identificar as principais mudanças
- Demonstrar seu objetivo
- Analisar suas vantagens e desvantagens
2.1 – DESENVOLVIMENTO

2.1 - Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é um tratado internacional que


tem por objectivo criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos
os países de língua oficial portuguesa. Foi assinado por representantes oficiais de
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e
Príncipe em Lisboa, em 16 de Dezembro de 1990, ao fim de uma negociação entre a
Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras iniciada em 1980.
Depois de obter a sua independência, Timor-Leste aderiu ao Acordo em 2004. O
acordo teve ainda a presença de uma delegação de observadores da Galiza.
O Acordo Ortográfico de 1990 pretende instituir uma ortografia oficial única da língua
portuguesa e com isso aumentar o seu prestígio internacional, dando fim à existência
de duas normas ortográficas oficiais divergentes: uma no Brasil e outra nos restantes
países de língua portuguesa. É dado como exemplo motivador pelos proponentes do
Acordo o castelhano que apresenta bastante variação, quer na pronúncia quer no
vocabulário entre a Espanha e a América hispânica, mas sujeito a uma só forma de
escrita, regulada pela Associação de Academias da Língua Espanhola. Por outro lado,
observa-se que a língua inglesa apresenta variações ortográficas entre os países que a
falam e nunca foi objecto de regulação oficial, porém as diferenças gráficas são muito
menores e menos frequentes do que as da língua portuguesa.
A adopção da nova ortografia, de acordo com os dados da Nota Explicativa do Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (que se baseiam exclusivamente numa lista
de 110 000 palavras da Academia das Ciências de Lisboa), irá acarretar alterações na
grafia de cerca de 1,6% do total de palavras na norma euro-afro-asiático-oceânica (em
Portugal, PALOP, Timor-Leste e Região Administrativa Especial de Macau) e de cerca
de 0,5% na brasileira.
O teor substantivo e o valor jurídico do tratado não alcançaram consenso entre
linguistas, filólogos, académicos, jornalistas, escritores, tradutores e personalidades
dos sectores artístico, universitário, político e empresarial das sociedades dos vários
países de língua portuguesa, de modo que a sua aplicação tem suscitado discordância
por motivos linguísticos (v.g. introdução de facultatividades, supressão de letras
consonânticas mudas, hifenização, maiusculização e remoção do acento diferencial),
políticos, económicos e jurídicos, havendo quem afirme mesmo a inconstitucionalidade
do tratado. Outros ainda afirmam que o Acordo ortográfico serve, acima de tudo, a
interesses geopolíticos e económicos do Brasil.

2.2 - Antecedentes do Acordo Ortográfico

Até ao início do século XX, tanto em Portugal como no Brasil, seguia-se uma ortografia
que, por regra, se baseava nos étimos latino ou grego para escrever cada palavra (ex.:
pharmacia, lyrio, orthographia, phleugma, diccionario, caravella, estylo, prompto, etc.).
Em 1911, no seguimento da implantação da república em Portugal, foi levada a cabo
uma profunda reforma ortográfica que modificou completamente o aspecto da língua
escrita, aproximando-o muito do actual. No entanto, esta reforma foi feita sem qualquer
acordo com o Brasil, ficando os dois países com duas ortografias completamente
diferentes: Portugal com uma ortografia reformada, o Brasil com a ortografia tradicional
(dita pseudo-etimológica).
Ao longo dos anos, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de
Letras foram protagonizando sucessivas tentativas de estabelecimento de uma grafia
comum a ambos os países. Em 1931 foi feito um primeiro acordo, no entanto, como os
vocabulários que se publicaram, em 1940 (em Portugal) e 1943 (no Brasil),
continuavam a conter algumas divergências, realizou-se um novo encontro que deu
origem ao Acordo Ortográfico de 1945. Este acordo tornou-se lei em Portugal, mas no
Brasil não foi ratificado pelo Congresso Nacional, continuando os brasileiros a regular-
se pela ortografia do Formulário Ortográfico de 1943.
Novo entendimento entre Portugal e o Brasil — efectivo em 1971 no Brasil e em 1973
em Portugal — aproximou um pouco mais a ortografia dos dois países, suprimindo-se
os acentos gráficos responsáveis por 70% das divergências entre as duas ortografias
oficiais e aqueles que marcavam a sílaba subtónica nos vocábulos derivados com o
sufixo -mente ou iniciados por -z- (ex.: sòmente, sòzinho). Novas tentativas de acordo
saíram goradas em 1975 — em parte devido ao período de convulsão política que se
vivia em Portugal, o PREC — e em 1986 — devido à reacção que se levantou em
ambos os países, principalmente a propósito da supressão da acentuação gráfica nas
palavras esdrúxulas (ou proparoxítonas).
No entanto, como, segundo os proponentes da unificação, a persistência de duas
ortografias oficiais da língua portuguesa — a luso-africana e a brasileira — impede a
unidade intercontinental do português e diminui o seu prestígio no mundo, foi elaborado
um "Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da Língua Portuguesa"em 1988,
atendendo às críticas feitas à proposta de 1986, que conduziu ao novo Acordo
Ortográfico em 1990.

2.3 - Historial do processo

Para a elaboração do Acordo Ortográfico, entre os dias 6 e 12 de outubro de 1990,


reuniram-se na Academia das Ciências de Lisboa as seguintes delegações:
Angola: Filipe Silvino de Pina Zau
Brasil: Antônio Houaiss e Nélida Piñon
Cabo Verde: Gabriel Moacyr Rodrigues e Manuel Veiga
Galiza (observadores): António Gil Hernández e José Luís Fontenla
Guiné-Bissau: António Soares Lopes Júnior e João Wilson Barbosa
Moçambique: João Pontífice e Maria Eugénia Cruz
Portugal: Américo da Costa Ramalho, Aníbal Pinto de Castro, Fernando Cristóvão,
Fernando Roldão Dias Agudo, João Malaca Casteleiro, José Tiago de Oliveira, Luís
Filipe Lindley Cintra, Manuel Jacinto Nunes, Maria Helena da Rocha Pereira e
Vasconcelos Marques
São Tomé e Príncipe: Albertino dos Santos Bragança e João Hermínio Pontífice
Para além destes, no Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da Língua
Portuguesa, de 1988, e no Encontro de Unificação Ortográfica da Língua Portuguesa,
realizado na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, entre 6 e 12 de maio de
1986, intervieram ainda: Maria Luísa Dolbeth e Costa (Angola); Abgar Renault, Adriano

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da Gama Kury, Austregésilo de Athayde, Celso Cunha, Eduardo Mattos Portella,
Francisco de Assis Balthar Peixoto de Vasconcellos e José Olympio Rache de Almeida
(Brasil); Corsino Fortes (Cabo Verde); Paulo Pereira (Guiné-Bissau); Luís Filipe Pereira
(Moçambique); Maria de Lourdes Belchior Pontes e Mário Quarin Graça (Portugal).

2.4 - Acordo e protocolos modificativos

O "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)" previa a sua entrada em vigor a 1


de Janeiro de 1994, mediante a ratificação de todos os membros. No entanto, como
apenas Portugal (em 23 de Agosto de 1991), o Brasil (em 18 de abril de 1995) e Cabo
Verde ratificaram o documento, a sua entrada em vigor ficou pendente.
Assim, em 17 de Julho de 1998, na cidade da Praia, Cabo Verde, foi assinado um
"Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa" que retirou do
texto original a data para a sua entrada em vigor, embora continuasse a ser necessária
a ratificação de todos os signatários para o Acordo de 1990 entrar em vigor. Uma vez
mais, apenas os parlamentos do Brasil, Portugal e Cabo Verde aprovaram este
protocolo.
Em Julho de 2004, os chefes de estado e de governo da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP), reunidos em São Tomé e Príncipe, aprovaram um
"Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico"que, para além de permitir a
adesão de Timor-Leste, previa que, em lugar da ratificação por todos os países, fosse
suficiente que três membros da CPLP ratificassem o Acordo Ortográfico para que este
entrasse em vigor nesses paíse.
Vasco Graça Moura, escritor e eurodeputado, o mais conhecido dos detractores
portugueses do Acordo, defende que o Segundo Protocolo Modificativo, como qualquer
outra convenção internacional, só obriga à sua aplicação em cada país se for ratificado
por todos os países signatários, o que ainda não aconteceu. Ou seja, só depois de
todos os países ratificarem este Protocolo é que estes ficam obrigados a implementar o
Acordo internamente caso este seja ratificado por três países. A racionalidade jurídica
dum tratado que obriga um país a aprovar outro tratado caso este seja aprovado por
países terceiros é disputada. Este argumento da ilegalidade da ratificação do Protocolo
modificativo de 2004 é contestado pelo jurista Vital Moreira. No entanto, Graça Moura
discorda dessa contestação.
O Brasil ratificou o "Segundo Protocolo Modificativo" em Outubro de 2004 e, em Abril
de 2005, Cabo Verde também. A 17 de Novembro de 2006, de uma assentada, São
Tomé e Príncipe ratificou o Acordo e os dois protocolos modificativos, cumprindo-se o
estabelecido por este Protocolo.
Apesar de, na prática, as novas normas já poderem ter entrado em vigor nos três
países que ratificaram o Acordo e os protocolos modificativos, considerou-se inviável
avançar sem que Portugal também desse por concluído todo o processo. Após alguns
adiamentos, a Assembleia da República acabou por ratificar o Segundo Protocolo
Modificativo em 16 de Maio de 2008, sendo o texto promulgado pelo presidente da
república Cavaco Silva a 21 de Julho de 2008. Em Angola, o Ministério da Educação
daquele país começou também a preparar a ratificação do Acordo Ortográfico,
afirmando que o mesmo entrará em vigor logo que seja ratificado[].
Entretanto, os chefes de Estado e de governo da CPLP, reunidos em Lisboa no dia 25
de julho de 2008, na Declaração sobre a Língua Portuguesa manifestaram "O seu
regozijo pela futura entrada em vigor do Acordo Ortográfico, reiterando o compromisso
de todos os Estados membros no estabelecimento de mecanismos de cooperação,

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com vista a partilhar metodologias para a sua aplicação prática". Na declaração final da
reunião dos ministros da Cultura e Educação havida em Lisboa em 15 de novembro de
2008 apelou-se "aos Estados Membros que ainda o não fizeram para que ratifiquem os
protocolos modificativos e implementem o Acordo Ortográfico e aos que já ratificaram
os protocolos modificativos para que estabeleçam no mais curto espaço de tempo uma
data comum para implementar a sua utilização nos documentos e publicações oficiais.
Paralelamente, o ministro português José António Pinto Ribeiro afirmou que "assim que
tivermos o Acordo ratificado por todos os membros da CPLP, temos o instrumento
necessário para avançar na ONU e fazer com que o Português seja uma das línguas
de trabalho".

2.5 - Texto do Acordo Ortográfico

O texto do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) é composto por duas


partes:
Bases do Acordo: onde são discriminados exaustivamente todos os 21 pontos (bases)
que são objeto de abordagem.
Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: onde são explicadas e
justificadas as opções tomadas.

2.5.1 - Bases do Acordo

Base I - Do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados:


Descreve o alfabeto com a designação que usualmente é dada a cada letra,
restaurando as letras k, w e y que haviam sido proscritas do alfabeto português desde
1911 em Portugal e desde 1943 no Brasil. Mantêm-se, no entanto, as regras fixadas
anteriormente que restringem o seu uso às abreviaturas, palavras de origem
estrangeira ou seus derivados.
Base II - Do h inicial e final: Aborda o uso do h no início e no final das palavras.
Aparentemente não apresenta alterações em relação às normas anteriores. No
entanto, o facto de não fazer referência expressa à palavra húmido como tendo h
inicial, ao contrário do que acontecia no texto do Acordo Ortográfico de 1945, levou a
que se aventasse a hipótese dessa palavra passar a ser grafada exclusivamente
úmido, como é uso no Brasil. No entanto, os dicionários publicados até ao momento
(agosto de 2008) incluem ambas as grafias - húmido e úmido – como válidas. Haverá
que esperar pela publicação da nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa para dissipar dúvidas.
Base III - Da homofonia de certos grafemas consonânticos: Aborda a homofonia
existente entre certos grafemas consonânticos consequência, fundamentalmente, da
história das palavras. Especificamente, dá-se atenção à distinção gráfica entre ch e x;
entre g, com valor de fricativa palatal, e j; entre as letras s, ss, c, ç e x, que
representam sibilantes surdas; entre s de fim de sílaba (inicial, interior e final) e x e z
com idêntico valor fónico; e entre as letras interiores s, x e z, que representam
sibilantes sonoras. Não estão previstos nesta base os casos em que a tradição
lexicográfica portuguesa e a brasileira divergem no uso de ch/x (por exemplo:
champô/xampu, chichi/xixi); no uso de g/j (por exemplo: alforge/alforje,
beringela/berinjela); no uso de ss/ç (por exemplo: missanga/miçanga); e em certas
designações toponímicas (por exemplo: Singapura/Cingapura; Sintra/Cintra).

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Base IV - Das sequências consonânticas: É nesta base que é definida a
supressão das chamadas consoantes mudas, ainda em uso em Portugal, e os casos
de dupla grafia. Aborda o uso do c, com valor de oclusiva velar, das sequências
interiores cc (segundo c com valor de sibilante), cç e ct, e o p das sequências interiores
pc (c com valor de sibilante), pç e pt, que ora se conservam, ora se eliminam. Define,
também, a facultatividade do uso, quando há oscilação entre a prolação e o
emudecimento, do b da sequência bd; (em súbdito); do b da sequência bt (em subtil e
seus derivados); do g da sequência gd (em amígdala, amigdalite, etc.); do m da
sequência mn (em amnistia, indemnizar, omnipotente, omnisciente, etc.); do t da
sequência tm (em aritmética e aritmético).
Base V - Das vogais átonas: Regula o emprego do e e do i e do o e do u, em
sílaba átona, estabelecidos fundamentalmente por razões etimológicas e histórico-
fonéticas.
Base VI - Das vogais nasais: Aborda a representação das vogais nasais, se
representam por til, por m ou por n.
Base VII - Dos ditongos: Define os ditongos orais, tónicos ou átonos, distribuídos
por dois grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é
representado por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou; ditongos representados por
vogal com til e semivogal; ditongos representados por uma vogal seguida da consoante
nasal m.
Base VIII - Da acentuação gráfica das palavras oxítonas: Regula-se o uso do
acento agudo e do acento circunflexo, bem como os casos em que se prescinde de
acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas, mas heterofónicas, e as
exceções. Definem-se, também, os casos de dupla acentuação, atendendo às
diferenças de pronúncia entre o português europeu e o português brasileiro, já que o
sistema de acentuação gráfica do português não se limita, em geral, a assinalar
apenas a tonicidade das vogais sobre as quais recaem os acentos gráficos, mas
distingue também o timbre destas.
Base IX - Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas: Definem-se as
palavras que recebem acento agudo e circunflexo; bem como as que não são
acentuadas graficamente. Também aqui se prevêem algumas facultatividades e casos
de dupla acentuação.
Base X - Da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras
oxítonas e paroxítonas: Abordam-se os casos em que levam acentuação gráfica as
vogais tónicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas e os casos em que
ela não se aplica.
Base XI - Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas: Definem-se os
casos em que nas palavras proparoxítonas, reais ou aparentes se aplica o acento
agudo; os casos em que se aplica o acento circunflexo; e os casos em que tanto
podem levar acento agudo como acento circunflexo, dependendo do timbre,
respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua das vogais tónicas
e ou o em final de sílaba, quando seguidas de consoantes nasais grafadas com m ou
n.
Base XII - Do emprego do acento grave: Aborda os casos em que o acento grave
deve ser utilizado.
Base XIII - Da supressão dos acentos em palavras derivadas: Refere-se
especificamente aos casos dos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com
acento agudo ou circunflexo e às palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z
e cujas formas de base apresentam vogal tónica com acento agudo ou circunflexo.

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Esta supressão já era prática no Brasil desde 1971 e nos restantes países lusófonos
desde 1973.
Base XIV - Do trema: Estipula a supressão completa do trema, sinal de diérese,
em palavras portuguesas ou aportuguesadas, excetuando-se em palavras derivadas de
nomes próprios estrangeiros (por exemplo: mülleriano, de Müller).
Base XV - Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares:
Define o emprego do hífen nas palavras compostas por justaposição; nos topónimos
compostos; nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas;
nos compostos com os advérbios bem, mal, além, aquém, recém e sem; nas locuções
de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais,
prepositivas ou conjuncionais; na ligação de duas ou mais palavras que
ocasionalmente se combinam, formando encadeamentos vocabulares ou combinações
históricas ou ocasionais de topónimos.
Base XVI - Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação:
Especifica os casos em que se emprega o hífen nas formações com prefixos e em
formações por recomposição; os casos em que inequivocamente se não emprega; e o
seu uso nos vocábulos de origem tupi-guarani.
Base XVII - Do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver: Aborda o
emprego do hífen na ênclise e na tmese; o seu não uso nas ligações da preposição de
às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver.
Base XVIII - Do apóstrofo: Estipula os casos em que o apóstrofo é indicado e os
casos em que ele não é admissível.
Base XIX - Das minúsculas e maiúsculas: Define os casos em que as letras
maiúscula e minúscula iniciais devem ser usadas. É ressalvada a possibilidade de que
obras especializadas possam observar outras regras, provindas de códigos ou
normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica,
botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras
reconhecidas internacionalmente.
Base XX - Da divisão silábica: Aborda a divisão silábica, designadamente os
casos em que as sucessões de duas consoantes podem ou não ser divididas; a divisão
de vogais; e dos digramas.
Base XXI - Das assinaturas e firmas: Assegura a possibilidade de indivíduos,
firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos com registo público possam
manter a escrita presentemente adotada.

2.5.2 - Nota Explicativa


A Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, redigida pelo grupo
proponente do texto do Acordo, acompanha o Acordo Ortográfico, sendo o documento
onde são explicitadas as diversas alterações em relação às grafias anteriores e se
justificam as opções tomadas. De forma abreviada, tem a seguinte estrutura:
1. Memória breve dos acordos ortográficos
2. Razões do fracasso dos acordos ortográficos
3. Forma e substância do novo texto
4. Conservação ou supressão das consoantes c, p, b, g, m e t em certas
sequências consonânticas (base IV)

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5. Sistema de acentuação gráfica (bases VIII a XIII)
6. Emprego do hífen (bases XV a XVII)
7. Outras alterações de conteúdo: inserção do alfabeto (base I) e abolição do
trema (base XIV)
8. Estrutura do novo texto.
2.6 - Objetivo do Acordo Ortográfico

O texto original do Acordo Ortográfico de 1990 previa a elaboração de um Vocabulário


Ortográfico Comum tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível,
no que se refere às terminologias científicas e técnicas» até 1 de Janeiro de 1993.
Para que haja uma ortografia oficial comum é necessária a existência de um
Vocabulário Comum que inclua as grafias consideradas correctas para todos os povos
da lusofonia. É, por exemplo, necessário que esse vocabulário tenha duplas entradas
nos casos de dupla grafia (ex.: académico e acadêmico, facto e fato, receção e
recepção, etc.), bem como delibere sobre o aportuguesamento de palavras
estrangeiras, a adopção de neologismos e as terminologias científicas e técnicas.
O Vocabulário Ortográfico Comum, a elaborar conjuntamente pela Academia Brasileira
de Letras e pela Academia das Ciências de Lisboa, deveria preceder a entrada em
vigor das normas do Acordo Ortográfico. Como este trabalho prévio ainda está por
fazer, há sérias dúvidas sobre se o acordo deveria avançar para a entrada em vigor
imediatamente ou se, pelo contrário, só deveria ser considerado após a elaboração e a
publicação deste Vocabulário.]
Entretanto, a Academia Brasileira de Letras anunciou a publicação de uma nova edição
do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa com 370 mil entradas, a sair em
março de 2009, obedecendo às regras do Acordo Ortográfico. Este VOLP não contará
com a colaboração de instituições portuguesas, alegadamente porque a entrada em
vigor do Acordo em Portugal tem um prazo mais dilatado do que no Brasil.Num parecer
elaborado em 2005, a Academia das Ciências de Lisboa manifestou-se preparada e
disponível para efectuar, num prazo de seis meses, uma primeira versão do
Vocabulário, com cerca de 400 mil entradas lexicais[31]. No entanto, desde essa altura,
não houve mais notícias sobre o assunto.
No entanto, apesar das ambiguidades do texto do Acordo Ortográfico e das dúvidas
que levanta em diversos pontos, tanto em Portugal], como no Brasil já se deram à
estampa diversos dicionários de língua portuguesa observando as normas do Acordo
Ortográfico.

2.7 - Principais alterações

2.7 - Mudanças no Brasil

No Brasil, aproximadamente 0,5% das palavras sofrerão modificações. Estas


alterações incidem, nomeadamente, na eliminação dos acentos em terminações -éia e

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-ôo, como em assembléia e enjôo, passando a escrever-se assembleia e enjoo,
respectivamente.
Outra regra consiste na completa eliminação da diérese (mais conhecida por trema) em
palavras formadas por qü e gü em que o u é pronunciado, como em freqüência e
lingüiça, passando a escrever-se frequência e linguiça respectivamente.

2.7.1 - Alfabeto

O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto


completo passa a ser: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V WX Y Z.
As letras k, w e y, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicionários
da nossa língua, são usadas em várias situações. Por
exemplo:

a) na escrita de símbolos de unidades


de medida: km (quilômetro), kg (quilograma),
W (watt);

b) na escrita de palavras estrangeiras (e


seus derivados): show, playboy, playground,
windsurf, kung fu, yin, yang,
William, kaiser, Kafka, kafkiano.

2.7.2 - Trema

Não se usa mais o trema, sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser
pronunciada nos gruposgue, gui, que, qui.
Ex: Agüentar – agüentar, Argüir - argüir, Bilíngüe - bilíngüe Cinqüenta - cinqüenta.

2.7.3 - Acento

Ditongos

Não se usa mais acento dos ditongos o abertos éi e ói das palavras paroxítonas
(palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).
Ex: Alcalóide – alcalóide, Alcatéia – alcatéia, Andróide – andróide, apóia (verbo apoiar)
– apóia.

Paroxítonas

Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem
depois de um ditongo.
Ex:Baiúca – baiúca, Bocaiúva – bocaiúva, Cauíla – cauila, Feiúra – feiúra.

Palavras terminadas em êem e ôo(s)

Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).


Como era Como fica:

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Ex: Abençôo – abençôo, crêem (verbo crer) – crêem, dêem (verbo dar) – dêem dôo
(verbo doar) – dôo.

2.7.4 - Acento diferencial

Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s),


pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.

Pôr/por
Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é prepo sição. Exemplo:
Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.

Singular do plura

Permanecem os acentos que diferenciam singular do plural dos verbos ter e vir, assim
como de seus derivados manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
Exemplos: Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros, Ele vem de Sorocaba. / Eles
vêm de Sorocaba., Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.

Circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma

É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em


alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a
forma da fôrma do bolo?

Acento agudo no (u) tônico

Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles)
arguem, do presente do indicativo dos verbos arguir e redarguir.

Variação na pronúncia dos verbos

Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir, como
aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos
admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente
do subjuntivo e também do imperativo.

(a) ou (i) tônicos

Se forem pronunciadas com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas.


Exemplos:enxaguar: enxáguo, enxá- • guas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues,
enxáguem.

(u) tônico.

Essas formas deixam de ser acentuadas. Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é,
deve ser pronunciada mais fortemente que as outras): enxag • uo, enxaguas, enxagua,
enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem.

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2.7.5 - Hífen

Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. Mas, como se trata
ainda de matéria controvertida em muitos aspectos. As observações a seguir referem-
se ao uso do hífen em palavras formadasb por prefixos ou por elementos que podem
funcionar como prefixos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum,
co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini,

Palavra iniciada por h

Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h . Exemplos: anti-
herói, anti-higiênico, anti-histórico, macro-história, mini-hotel, proto-história.

Vogal diferente

Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se
inicia o segundo elemento. Exemplos: aeroespacial, agroindustrial, anteontem,
antiaéreo, antieducativo,autoaprendizagem.

Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando


este se inicia por o: coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, coo peração, cooptar,
coocupante etc.

Segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s

Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa
por consoante diferente de r ou s. Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, autopeça,
autoproteção, coprodução, geopolítica, microcomputador, pseudoprofessor.

Prefixo vice

Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante etc. Não
se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r
ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Exemplos: antirrábico, antirracismo,
antirreligioso, antirrugas, antissocial, biorritmo.

Segundo elemento começar pela mesma vogal

Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar
pela mesma vogal. Exemplos: anti-ibérico, anti-imperialista, anti-inflacionário, anti-
inflamatório, auto-observação, contra-almirante, contra-atacar.

Segundo elemento começar pela mesma consoante

Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento


começar pela mesma consoante. Exemplos: hiper-requintado, inter-racial, inter-regional
sub-bibliotecário, super-racista, super-reacionário, super-resistente, super-romântico

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Prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró

Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen.
Exemplos: além-mar, além-túmulo, aquém-mar, ex-aluno, ex-diretor, ex-hospedeiro, ex-
prefeito, ex-presidente, pós-graduação, pré-história.

Origem tupi-guarani

Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim.
Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu. Deve-se usar o hífen para ligar duas
ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente
vocábulos, mas encadeamentos vocabulares. Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-
São Paulo.

Final da linha a partição

Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de


palavras coincidir como hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos: Na
cidade, conta-se que ele foi viajar. O diretor recebeu os ex- -alunos.

2.8 - Mudanças nos restantes países lusófonos

Segundo os promotores do Acordo, nos países lusófonos que não o Brasil, as


mudanças afectarão cerca de 1,6% do vocabulário total, não tendo sido quantificada a
frequência das palavras cuja grafia é alterada, as quais são bastante frequentes. As
alterações mais significativas consistem na eliminação sistemática das consoantes c e
p em palavras em que estas letras sejam invariavelmente não-articuladas nas variantes
cultas da língua, como óptimo e correcto, passando a escrever-se ótimo e correto,
respectivamente. Elimina-se também o hífen nas formas verbais hão-de e há-de.
É frequentemente dada como exemplo a eliminação do h em certas palavras como
humidade e húmido passando a escrever-se como no Brasil, umidade e úmido
respectivamente. No entanto, o texto do Acordo é omisso nestes casos. No texto vem
que é suprimido o h inicial "quando, apesar da etimologia, a sua supressão está
inteiramente consagrada pelo uso" (Base II, art. 2, al. a). Como os usos diferem de país
para país, haverá de facto dupla grafia no caso destas palavras.

Exemplo:
Acção – ação, acto – ato, óptimo – ótimo, intersecção – interseção, recepção –
receção, respectivo – respetivo.

2.10 - Argumentos a favor do Acordo

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Na situação atual, há um enorme custo económico e financeiro na produção de edições
diferentes de dicionários, livros didáticos e literários para o Brasil e para Portugal. Tal
deve-se às diferenças entre as duas variantes do Português no que concerne ao
vocabulário, à sintaxe e aos diversos usos e preferências linguísticos, mas também se
deve, salientam os defensores do Acordo, às divergências ortográficas. A demora na
edição de obras lexicográficas comuns contribui, alegam, para que o português se
insira no conjunto de línguas de pouca difusão, pouco conhecimento e pequena
repercussão no universo da comunicação multilingue, apesar de ser uma das mais
faladas do mundo, quer em número de falantes quer em número de países.
O Acordo Ortográfico prevê a preparação de um vocabulário técnico-científico comum,
ainda não concretizado, que seria de grande utilidade para a difusão bibliográfica e de
novas tecnologias que recorrem a terminologia científica e técnica, beneficiando os
educandos e os utilizadores da língua em geral.
Com a adoção por todos do Acordo Ortográfico, Brasil e Portugal poderão somar
esforços na cooperação com os PALOP e Timor-Leste, em ações de difusão e
fortalecimento da língua portuguesa. Os livros e outros materiais educativos, os
programas de educação à distância e outros materiais didáticos adoptados em
qualquer país lusófono poderão ser mais facilmente reproduzidos noutro país. Os
programas de formação e aperfeiçoamento para professores de português como
segunda língua, por exemplo, poderão passar a ser comuns, em vez de Portugal e
Brasil desenvolverem separadamente as suas iniciativas.
Com o Acordo Ortográfico em vigor, fica aberto o caminho para um entendimento entre
Portugal e o Brasil sobre a certificação comum de proficiência em língua portuguesa
para estrangeiros, pois o Brasil emite hoje o certificado CELPE-Bras, enquanto que em
Portugal o único diploma válido é o emitido pelo Instituto Camões.
Além da expansão e do fortalecimento da cooperação educacional em língua
portuguesa, a aprovação do Acordo Ortográfico é condição essencial, alegam os seus
defensores, para a definição de uma política linguística de bases comuns na CPLP e,
portanto, para o bom funcionamento do Instituto Internacional da Língua Portuguesa,
entidade criada em 1989 e sediada em Cabo Verde.

2.10 - Argumentos contra o Acordo

Acordo Ortográfico de 1990 tem sido alvo de crítica e enfrenta a oposição de diversos
escritores, linguistas, políticos, deputados e profissionais da língua.

2.10.1 - Conceito de reforma ortográfica em geral

Alguns lingüistas defendem a ortografia etimológica em detrimento da ortografia


puramente fonética das palavras, a que o Acordo Ortográfico pretende instaurar como
exemplificado na Nota Explicativa do Tratado, alegando que as progressivas reformas
ortográficas cortaram o elo entre os praticantes atuais da língua portuguesa e os
manuscritos deixados pelos seus antepassados. Outras pessoas resistem à mudança,
seja por receio de não saberem escrever pelas novas regras, seja por elo emocional ou
intelectual à forma corrente da escrita. Esse sentimento já foi despertado em reformas

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anteriores, como mostra este trecho de Alexandre Fontes, escrito nas vésperas da
reforma ortográfica de 1911:
"Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra,
parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos
que haveriamos de ser obrigados a escrever assim!" (respeitando-se a escrita original
do autor).
E Teixeira de Pascoaes: "Na palavra lagryma, (...) a forma da y é lacrymal; estabelece
(...) a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a sua expressão
psicológica; substituindo-lhe o y pelo i é ofender as regras da Estética. Na palavra
abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mistério... Escrevê-la com
i latino é fechar a boca do abysmo, é transformá-lo numa superfície banal."

2.10.2 - Insuficiência da proposta

Parte dos críticos acredita que a proposta, em sua encarnação atual, é insuficiente
para atingir seus propósitos, uma vez que muitas palavras continuarão apresentando
possíveis variantes ortográficas. O professor de português Pasquale Cipro Neto afirma
que "é uma reforma meia-sola, que não unifica a escrita de fato", enquanto que o
escritor João Ubaldo Ribeiro afirma que "é uma reforma tímida, que não faz grandes
inovações".

2.10.3 - Necessidade e custo da proposta

Muitos críticos acreditam que a proposta está tentando resolver um não-problema, uma
vez que, apesar das diferenças ortográficas, as variantes escritas da língua portuguesa
são perfeita e confortavelmente inteligíveis pelos seus leitores. O sucesso de vendas
dos escritores portugueses José Saramago e Miguel Sousa Tavares, entre outros, no
Brasil, cujos livros usam a grafia lusitana do português por exigência dos autores, é
apontado como uma evidência de que não é por falta do Acordo que não há mais
intercâmbio literário dentro do espaço lusófono. Esses críticos apontam que as
dificuldades de compreensão escrita, quando ocorrem, são devidas às diferenças de
vocabulário ou gramaticais, as quais não são possíveis de se eliminar por imposição
duma ortografia comum. Além disso, as dificuldades de compreensão são mais
relevantes na língua oral, sobre as quais o Acordo não pretende ter influência. Miguel
Sousa Tavares afirma ter conseguido vender no Brasil 50 mil exemplares de um livro
seu, mantendo a ortografia original (do português europeu), apesar dos "agoiros de
desastres e da teimosia" do autor. Salienta também "o orgulho em ter feito bem mais
pela nossa língua no Brasil do que todos esses [os promotores do Acordo] que se
dispõem a vendê-la como coisa velha e descartável."
Outros críticos apontam para os custos da unificação, que incluem:
• Adaptação do corpo literário já existente pelas editoras. O custo médio de
preparação e revisão de um único livro é, no Brasil, de cinco mil reais.
• Súbita obsolescência de dicionários, gramáticas e livros escolares, que terão
que ser substituídos.
• Reaprendizagem ortográfica por parte de uma grande massa de pessoas,
incluindo crianças.
Pasquale Cipro Neto alerta que "vamos enterrar dinheiro em uma mudança que não
trará efeitos positivos", enquanto que o professor Cláudio Moreno sustenta a opinião de

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que "essa idéia messiânica, utópica de que a unificação vai transformar o português
em uma língua de relações internacionais é uma tolice"].
Em Portugal, alguns editores e livreiros têm sido particularmente cépticos quanto ao
Acordo Ortográfico, salientando os elevados custos para a adaptação de dicionários e
outros livros às novas regras.

2.10.4 - Projecção internacional e abrasileiramento da língua

Muita gente aponta que é falsa a idéia de que a união ortográfica fortalecerá a língua
portuguesa no cenário internacional, uma vez que a projecção duma língua depende
de muitos factores, o menor dos quais será a existência de divergências ortográficas.
Por exemplo, o inglês não tem ortografia oficial e apresenta variadas divergências quer
gráficas quer não-gráficas entre os países onde é falado e tal não impede que seja a
língua internacional por excelência. Aliás, pode alegar-se que o facto de não haver uma
academia regulando a língua constitui um factor de dinamismo, facilitando desse modo
a inclusão de milhares de novas palavras no léxico inglês anualmente.
Os editores e livreiros têm afirmado que o acordo é "um facilitismo para as editoras
brasileiras entrarem nos países africanos", ameaçando os importantes interesses das
editoras portuguesas nesses países. Algumas chegaram mesmo a afirmar que não irão
adoptar nos seus livros as alterações previstas. Na mesma linha, alguns linguistas
portugueses afirmaram que a adopção deste tratado acarretará um "abrasileiramento"
da escrita da variante lusitana da língua.
O comentador político e escritor Miguel Sousa Tavares critica o acordo como sendo
apenas uma "ameaça por parte dos políticos e dos membros das Academias" cujo
objectivo é "pôr-nos [os portugueses] a escrever como os brasileiros, assim lhes
facilitando a sua penetração e influência nos países de expressão portuguesa" que, ao
concordar com Vasco Graça Moura, trata-se de "'diktat' neo-colonial, em que o mais
forte (o Brasil) determina a sua vontade ao mais fraco (Portugal)" deixando a dúvida se
"Alguém imagina os Estados Unidos a ditarem à Inglaterra as regras ortográficas da
língua inglesa? Ou o Canadá a ditar as do francês à França ou a Venezuela as do
espanhol a Espanha?"

2.10.5 - Possibilidade de múltiplas grafias (facultatividades)

De forma a contemplar as diferenças fonéticas entre Portugal e o Brasil, o Acordo


Ortográfico prevê a existência de abundantes casos de palavras com duas ou mais
grafias possíveis. Exemplos: fenómeno/fenômeno, aritmética/arimética,
amnistia/anistia, amígdalas/amídalas, dactiloscopia/datiloscopia, eletrónica/eletrônica,
súbdito/súdito, visitamos (ontem) / visitámos (ontem), recepção/receção,
espectador/espetador, intersecção (de conjuntos) / interseção (de conjuntos), (o) cacto
(secou) / (o) cato (secou), (o Tejo) desagua (em Lisboa) / (o Tejo) deságua (em Lisboa)
/ (a Polícia) averigua (o crime) / (a Polícia) averígua (o crime), entre muitos outros.
Este é um dos aspectos mais criticados no texto do Acordo. Segundo Vasco Graça
Moura, o reconhecimento oficial de grafias duplas e múltiplas enfraquece seriamente a
unidade da língua portuguesa escrita e "vai mesmo contra o conceito de ortografia".
Ainda segundo o eurodeputado, as facultatividades permitem "pôr num saco todos os

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casos duvidosos, a pretexto de que pode haver diferenças entre a pronúncia
portuguesa e brasileira, abrindo inaceitavelmente a porta a todas as diferenças de
grafia e mesmo, no limite, à opção individual por determinada maneira de escrever (...)
chegando ao ponto da lei do menor esforço e do facilitismo"].
Na mesma linha segue a Associação Portuguesa de Linguística, em parecer de 2005
solicitado pelo Instituto Camões e elaborado por Inês Duarte, professora catedrática de
Linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa: "os negociadores do
Acordo autorizam duplas ou múltiplas grafias no interior de cada país, com base num
critério da pronúncia, que em nenhuma língua pode ser tomado como propriedade
identificadora dum sistema linguístico e da(s) sua(s) respectiva(s) norma(s) nacionais,
mas sempre e apenas de uma sua variedade dialectal ou social". João Andrade Peres,
também professor catedrático de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa, num parecer de 2008 sobre as facultatividades, escreveu: "O Acordo em
análise admite grafias facultativas para a língua portuguesa em toda a sua extensão,
sem quaisquer restrições além da existência (onde quer que seja) de uma pronúncia
culta que as sancione. Segundo a sua letra (...), dois alunos portugueses, em Portugal
(ou brasileiros, no Brasil, etc.), sentados lado a lado, ou dois professores em salas
contíguas seriam livres de usar a seu bel-prazer as grafias alternativas. Em última
análise, é deixada ao livre arbítrio de cada cidadão a escolha da grafia, pondo-se em
causa a função da língua escrita como factor de coesão social".
Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura do governo português, professora
catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e deputada do Partido
Socialista, apontou como uma das principais fragilidades do Acordo Ortográfico "o facto
de acabar por nem sequer se revelar uma versão fraca de unificação ortográfica, como
se pretendia, mas antes uma versão permissiva, erigindo o princípio da facultatividade
excessiva, o qual vai contra o próprio conceito normativo de ortografia, originando
nomeadamente a possibilidade do uso de duplas grafias dentro do mesmo país, isto é,
abrindo a porta à heterografia"[50]. António Emiliano, professor de Linguística da
Universidade Nova de Lisboa, acentuando a linha de argumentação de Pires de Lima,
afirmou que "o estabelecimento generalizado da grafia dupla nos domínios da
acentuação, das consoantes mudas e da maiusculização, minará a estabilidade do
ensino da Língua Portuguesa (ferramenta que abre a porta a todas as outras
disciplinas) e porá em causa a integridade do uso e da difusão internacional da língua
portuguesa, valores que a Constituição consagra (Art.º 9.º. al. f). A possibilidade de se
escrever de forma alternativa uma quantidade enorme de palavras e de expressões
complexas deixa ao arbítrio de cada utilizador individual a estrutura da 'sua' ortografia
pessoal — imagine-se o que seria cada um de nós poder pôr em vigor a sua versão
personalizada do Código de Processo Penal ou do Código da Estrada!".

2.10.6 - Interesses políticos

Além dos argumentos linguísticos que detractam o Acordo Ortográfico, o tratado é


muitas vezes considerado como um acordo político ao invés de um acordo linguístico.
Segundo a antiga ministra da cultura portuguesa Isabel Pires de Lima, o Acordo teve
real destaque apenas passado um ano da ratificação pelos três primeiros países:
Brasil, Cabo-Verde e São Tomé e Príncipe. Durante esse intervalo, todos os países da
CPLP já deviam ter adoptado o Acordo a nível jurídico, tal como estipulado pelo II
Protocolo Modificativo, o qual não aconteceu. Salienta a ministra que "o Brasil
procurou, a partir de um certo momento e por interesses de diversa natureza, entre os

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quais está o domínio do mercado editorial da CPLP, que até agora Portugal detém,
liderar o processo acompanhado daqueles dois países".
O euro-deputado Vasco Graça Moura afirma que a ideia do Acordo partiu do presidente
brasileiro José Sarney, tendo na altura enviado um emissário aos PALOP com esta
finalidade, e salienta que "para o Brasil, mais realista e mais pragmático, tudo era,
desde o início, uma pura questão de mercado". Na assembleia da República, o euro-
deputado afirmou que, apesar das intenções do Acordo Ortográfico, "o tratado serve
interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses
inalienáveis dos demais falantes de português no mundo", em especial de Portugal, e
representa "uma lesão inaceitável de um capital simbólico acumulado e de projecção
planetária".

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5 – CONCLUSÃO

O português, segundo estudos, é a quinta língua mais falada no mundo – cerca de 210
milhões de pessoas – e tem duas grafias oficiais, o que dificulta o estabelecimento da
língua como um dos idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) . A
ortografia-padrão facilitará o intercâmbio cultural entre os países que falam português.
Livros, inclusive os científicos, e materiais didáticos poderão circular livremente entre
os países, sem necessidade de revisão, como já acontece em países que falam
espanhol. Além disso, haverá padronização do ensino de português ao redor do
mundo.
Uma vez unificado, o português auxiliará a inserção dos países que falam a língua na
comunidade das nações desenvolvidas, pois algumas publicações deixam de circular
internacionalmente porque dependem de "versão". Um dos principais problemas que as
novas regras vão acarretar, no entanto, será o custo da reimpressão de livros.

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6– Bibliografia

http://pt.wikipedia.org/wiki/ Acesso 28-03-2009


http://www.livrariamelhoramentos.com.br/Acesso 29- 03-2009
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ 2008/29-03-2009
http://www.tudoemfoco.com.br/Acesso 30-03 -2009
http://www.reformaortografica.com/ Acesso 30-03-2009

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