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Gravidez e evolução: pensar na Medicina Chinesa fora da caixa

Regra geral, as mulheres grávidas sofrem enjoos no início da gravidez. A


medicina ocidental e a medicina chinesa desenvolveram tratamentos de
forma a aliviar estes sintomas e a melhorar a qualidade de vida da grávida.
Mesmo no céptico Ocidente a acupunctura é usada, mesmo pela
acupunctura médica, para alívio desses sintomas em grávidas. Há uns
meses li um livro que me obrigou a olhar para esses sintomas de forma
diferentes.

Qualquer pessoa com formação em medicina ocidental ou chinesa ou


ayurvédica olha para os vómitos como um sintoma. Uma forma do corpo do
paciente comunicar que algo está mal. Que precisa de tratamento. Nós
aplicamos esse pensamento em todas as situações, mesmo durante a
gravidez. No entanto a gravidez não é uma doença. Poderá um sintoma,
como o enjoo, durante a gravidez ser considerado um sintoma de doença?

Para o resto desta viagem peço ao leitor que se dispa dos conhecimentos
médicos que possui e pense fora de qualquer modelo clínico. Façamos
algumas perguntas simples: Porque é que as mulheres grávidas têm enjoos
e vómitos? Se isso é tão mau porque é que a selecção natural não os
eliminou?

Estas foram as questões com que Margie Profet se interrogou antes de


chegar à sua teoria dos enjoos da gravidez que lhe valeu o prémio da
MacArthur Foundation, em 1993. De inicio começou por colocar várias
hipóteses como: (1) as mulheres grávidas podem ser “particularmente
vulneráveis à doença”1 sendo os enjoos uma consequência de um agente
infeccioso; (2) os enjoos podem ser provocados por um qualquer agente
tóxico; (3) uma consequência inevitável de alterações hormonais; (4) podem
ser benéficos para a gravidez, uma vez que o feto não tem capacidade de
aguentar muitos dos produtos tóxicos existentes em vários alimentos.

David Wilson, na sua magistral obra “A Evolução Para Todos”, publicada na


Gradiva mostra-nos o pensamento seguido para testar cada uma destas
hipóteses.
Se os vómitos fossem provocados por um agente bacteriológico, então seria
possível descobri-lo e tratar os sintomas com antibióticos. Se fosse um
agente tóxico então teria de ser algo recente da nossa sociedade e, de
certeza, que existiriam sociedades em que as mulheres não sentiriam
enjoos e se 2os enjoos da gravidez fossem um sub-produto de modificações
hormonais que têm lugar durante a gravidez (como a cauda enrolada do
cão), então devia ser possível descobrir as associações ocultas”.2

Por outro lado a hipótese de ser um mecanismo evolutivo cuja finalidade


consiste em proteger o embrião leva-nos a novas lógicas que permitem
validar ou negar esta hipótese. Neste caso pode-se supor que as náuseas
deveriam ser mais intensas no período em que o embrião é mais vulnerável
e deveriam ser desencadeadas por alimentos com maior probabilidade de
fazerem mal ao embrião”.3

Maggie começou a colocar estas questões e a compará-las com os dados


científicos que dispunha. Se reparar, o leitor é capaz de responder a pelo
menos uma destas questões. Os enjoos são mais frequentes no início da
gravidez, ou seja, no período em que o embrião ainda está a desenvolver os
seus sistemas e órgãos e em que é mais sensível às toxinas presentes nos
alimentos. Por outro lado, sabemos que alimentos mais condimentados e
amargos têm maior probabilidade de provocar o aborto e estes alimentos
também são aqueles que maior probabilidade tem de provocar enjoos
durante a gravidez. Outros dados médicos, como os dados de um
investigador médico que em 1940 mostravam uma maior prevalência de
abortos em mulheres que não sofriam enjoos durante a gravidez, vieram
fortalecer a hipótese evolutiva.

Estes não foram os únicos dados. Maggie conseguiu reunir toda uma vasta
gama de dados que tornaram a teoria válida e coesa a ponto de ser
galardoada com o prémio da Fundação MacArthur. Deixemos, novamente, o
fabuloso David Wilson falar.

“As grávidas não só evitam determinados alimentos, mas os seus corpos


também trabalham mais para eliminar os produtos tóxicos dos alimentos
que elas ingerem. Os alimentos deslocam-se mais lentamente através dos
intestinos. O fluxo sanguíneo para os rins aumenta. O fígado eleva
gradualmente a produção de enzimas. O nariz torna-se mais sensível aos
cheiros. Até o hábito aparentemente bizarro de comer argila se torna
explicável, uma vez que se provou que a argila reduz a absorção de
produtos químicos tóxicos para a corrente sanguínea e é um ingrediente
fundamental do Kaopectate, usado para tratar problemas de estômago e
náuseas. Estas alterações coordenadas têm todas a marca distinctiva de um
importante «plano de guerra» fisiológico que evoluiu ao longo de milhões de
gerações, muito antes do nosso aprecimento como espécie, para resolver
um problema recorrente de sobrevivência e reprodução.”4

Esta descoberta teve grande importância na minha prática clínica, uma vez
que comecei a olhar os enjoos como algo positivo e a sua ausência como
um sintoma pernicioso. A questão de fundo é esta: até que ponto é que
devemos pensar fora da caixa? Independentemente do tipo de medicina que
pratiquemos existem outras áreas do conhecimento humano que nos
podem providenciar novos pontos de vista e permitir novas abordagens aos
pacientes.

Para muitos leitores, uma associação entre Medicina Chinesa e Evolução


pode parecer surrealista. Eu acho-a enriquecedora. Gosto de pensar fora da
caixa. A vida torna-se mais colorida e o nosso conhecimento acerca do
mundo aumenta. Neste caso comecei a aconselhar as minhas doentes
grávidas a não tratarem os enjoos de gravidez. Sendo o leitor um
acupunctor, um médico ou, quem sabe, uma grávida, o que faria com este
conhecimento?
1 David Sloan Wilson; A evolução para todos, pág. 113.

2 Idem, idem, pág. 115. O leitor deve estar a perguntar-se o que são as associações ocultas ou
o que este problema tem a ver com a cauda enrolada do cão. Na realidade coloquei esta
citação propositadamente. Se consegui estimular a curiosidade do leitor, então, aconselho a
comprar o livro. Vale a pena. Palavra de acupunctor.

3 Idem, idem

4 Idem.idem, pág. 116

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