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Parte I
CLUDIA LINHARES SANZ[15.abr.2014]
Jo Ainley, Vigilncia.
ltima chance para que o culpado se entregasse por conta prpria, que
confessasse uma explicao no um esclarecimento de si (porque isso
no parecia importar) mas do mau comportamento. Alguns dias depois, o
silncio foi quebrado por um bilhete escrito com pssima caligrafia
(segundo a professora), sem assinatura, declarando: roubei o dinheiro,
mas desculpa no tenho dinheiro para pagar. A professora reconheceu a
letra do aluno, chamou os responsveis por ele, e o mau indivduo (que,
na verdade, era rfo e morava h alguns meses na cidade com uma tia)
foi enviado, devolvido, novamente ao Piau. A cmera imaginria, no
entanto, permaneceu na sala de aula, em Braslia.
No sabemos ao certo quantos acreditaram ou ainda acreditam em sua
existncia dentro de um espao to ntimo quanto a escola pode parecer
para as crianas. Tambm difcil seria dizer quantas das crianas j
procuraram averiguar sua materialidade nos cantos da escola ou o que a
imaginao infantil foi capaz de produzir a partir da existncia dessas
cmeras invisveis no local em que passam grande parte de seus dias.
Teria alguma criana levado as cmeras que tudo veem tambm para os
seus sonhos?
A professora no pode desmentir-se, sob pena de perder a autoridade
que ainda lhe resta. Assim resguarda, protege, acoberta, com o apoio de
sua diretora, a perversa fbula da cmera total, perdendo a
oportunidade de transformar o fato em algo verdadeiramente
pedaggico, desperdiando a chance de verter o infortnio em
um acontecimento comum. Trata-se aqui de um pedido de clemncia: o
regime disciplinar implorando ajuda s tecnologias contemporneas de
vigilncia para se manter minimamente moribundo.
Imaginemos, ento, o que est acontecendo exatamente agora nessa
sala de aula, mediada por uma cmera que tudo v e nunca vista.
Numa espcie de pique-esconde eterno, os pegos nunca finalizam sua
contagem, nunca surgem de nenhum pique; sem rosto, esto
continuamente em todos os lugares, simultaneamente, funcionando no
modo TOTAL. Por outro lado, nesse jogo involuntrio as crianas no
so capazes, de fato, de se esconder em nenhum canto de parede,
debaixo de nenhuma mesa, atrs de nenhuma cortina. Como no
panptico, se o olho est escondido, ele me olha, ainda quando no me
esteja vendo.
Denis Beaubois, In the event of Amnesia the city will recall 1996 1997 (Instalao).
Bansky