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Universidade de So Paulo
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O texto por isso constri uma imagem da realidade antagnica represso. Uma imagem em que a conversa com o presidente incluindo a palavra
crime pode ser sugerida, e em que a passeata de protesto dos estudantes
acontece, sem o impedimento da represso policial. Essa imagem, no sem
contradio, no quer apresentar a realidade social tal como ela de fato . Ela
encena condies de debate e polemizao, interditas pelo regime autoritrio.
A relao do texto com o seu contexto no identificatria, negativa. Trata-se de crtica cultural no sentido adorniano: examinar o processo histrico
conflitivo com distanciamento, mas tambm com insero, assumindo ser
parte integrante do processo.
Os estudantes so descritos como dotados de impulso de ir s ruas. O
texto prope que o ministro ou presidente veja em sua janela uma multido
de rapazes e moas esperando seu veredicto. So imagens de expectativa
social de mudana poltica. A cena da multido no pode ser vista como documental ou realista, ela pede interpretao alegrica.
O texto escolhe refletir no apenas sobre a realidade j dada, mas sobre
uma realidade em processo, em construo, em que as expectativas de mudana so centrais. A leitura alegrica oportuna, pensando com Jeanne-Marie Gagnebin, para salientar o que h na experincia de fragmentrio, destrudo, inorgnico e inconsistente.
A imagem do Brasil construda no a de uma nao totalizada, integrada e
harmoniosa, mas de um espao conflituoso, em que as lideranas polticas esto
em descompasso com a sociedade que deveriam representar. O texto de Clarice
Lispector prope ser lido como crtica desse descompasso. Faz isso no apenas
em terceira pessoa, mas utilizando a primeira e segunda pessoas discursivas. Tomando como interlocutor a autoridade do Estado e como referncia metonmica
as vozes silenciadas dos estudantes que no podem sair em protesto, o texto se
torna espao constitudo dentro do descompasso, manifestao de inconformidade construda ambiguamente, entre o que pode ser dito e o que est interdito.
Referncias Bibliogrficas
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Cortez/Autores Associados, 1983.
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