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Docentes da Escola Básica de Fitares asseguram que o caso de Luís é apenas um exemplo

Na escola do professor que se matou os casos


de violência são constantes
13.03.2010 - 08:49

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Na Escola Básica de Fitares, em Rio de Mouro, Sintra, continua a imperar o silêncio. Mas agora vem acompanhado de
apreensão. De ainda mais medo. Muitos docentes olham para o caso do professor de Música que se suicidou e
revêem-se no seu desespero. Luís atirou-se da Ponte 25 de Abril a 9 de Fevereiro por não aguentar a indisciplina dos
alunos. Não era caso único. Era a ponta de um novelo que, ao ser desenrolado, revela histórias de professores
agredidos por alunos e pais. Insultos verbais. O último caso grave aconteceu na semana passada. Uma professora de
Educação Visual desmaiou depois de ter sido empurrada pelos alunos. Teve um traumatismo craniano.

Carta sobre indisciplina na escola não


passou das mãos da directora (Raquel Esperança)
A família do professor Luís admite que "poucos, perante o mesmo problema, reagiriam desta forma" - o suicídio.
Contudo, a sua irmã, também docente, questiona "quantos professores não se encontram neste momento de atestado
médico ou a leccionar no limite das suas forças, por situações semelhantes?" Descreve o irmão como alguém "solitário,
sensível e psicologicamente frágil" e com "dificuldade em se impor". Mas insiste: "Será que um professor tem que ser
um super-homem? Qualquer um, independentemente das suas características, não tem o direito a ser respeitado?"

Os desabafos fazem parte de uma carta que enviou em Fevereiro ao Conselho Pedagógico da escola, presidido pela
directora da instituição, Cristina Frazão. Não teve resposta. Fez questão de dirigir a carta ao órgão. Queria que a falta
de apoio às participações de alunos feitas por Luís (pelo menos sete) fosse o ponto de partida para uma "reflexão
profunda" sobre a indisciplina. Mas a carta não passou das mãos da directora. Na Inspecção-Geral da Educação estão
também pelo menos três queixas. A família aguarda agora os resultados do inquérito que o Ministério da Educação
decidiu ontem abrir, depois de o director regional de Educação de Lisboa ter visitado a escola. À saída, José Leitão
esclareceu que o objectivo é perceber se o suicídio foi uma consequência do bullying e afirmou que Luís apresentaria
"uma fragilidade psicológica desde há muito tempo". Estava na escola desde Setembro. Não aguentou seis meses de
angústia. Não suportou a ideia de ouvir novamente que era um "cão" ou um "careca". Não queria voltar a ser
empurrado e a cair em público.

"Não foi só ele. Eu já fui empurrado, uma professora já desmaiou duas vezes. É constante e a direcção nada faz com
as queixas e as pessoas têm medo", contou ao PÚBLICO, sob anonimato, um dos docentes da escola. "Há umas
semanas uma funcionária foi empurrada nas escadas por um aluno do 5.º ano. Contamos os dias para a reforma e
quando temos oportunidade mudamos de escola", disse outro docente.

Quando se suicidou, Luís estava há poucos dias de atestado, a conselho do seu psicólogo e da directora.
"Recentemente e em consequência do stress inerente à sua actividade profissional, nomeadamente questões de
indisciplina e mesmo ocorrências sentidas como actos de desrespeito por parte de alguns alunos, verifica-se um claro
agravamento do seu quadro clínico", lê-se num relatório do psicólogo.

A história é de Luís e da escola mas os sindicatos asseguram que traduz a realidade. O secretário-geral da Federação
Nacional de Professores assume que são raros os casos extremos. Mário Nogueira atribui a situação à anterior tutela
do ME por ter ajudado a "denegrir" a profissão de professor. "O pior que pode acontecer neste caso é desvalorizar-se a
situação e dizer-se que só aconteceu porque era frágil. As pessoas não são frágeis. Têm momentos de fragilidade e é
preciso agir preventivamente." Opinião semelhante tem o secretário-geral da Federação Nacional dos Sindicatos da
Educação que diz que o que aconteceu a Luís pode ser vista como "uma doença profissional".

Na escola, Luís pouco falava. Guardava para si o seu sofrimento. Óscar Soares, do grupo de professores contratados
do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, a que Luís também pertencia, recorda-o como alguém que "se
envolvia, entusiasmava e reflectia sobre as coisas". Filomena Serrão trabalha na Câmara de Oeiras (onde o professor
colaborava no boletim) e conheceu-o noutros tempos no Coro de Santo Amaro de Oeiras. "Uma pessoa muda muito
em 20 anos mas recordo-o como um flautista fantástico. Nos últimos tempos cruzei-me pouco com ele, mas nada fazia
prever isto."

Mas Luís deixou avisos. "Em relação ao suicídio só tenho uma coisa a opor: será justo que os bons vão embora e
fiquem cá apenas os medíocres?" Deixou a frase no seu computador.

Fonte: Público de 13/3/2010

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