L'OSSERVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL EM PORTUGUÊS

Unicuique suum Non praevalebunt

Ano XLI, número 11 (2.099), sábado 13 de Março de 2010 Cidade do Vaticano Preço ; 1,00. Número atrasado ; 2,00

Audiência geral de quarta-feira 10 de Março dedicada à obra literária e à doutrina de São Boaventura

A Igreja progride entre novidade e continuidade

Caros irmãos e irmãs
Na semana passada falei da vida e da personalida-
de de São Boaventura de Bagnoregio. Esta manhã
gostaria de continuar a apresentação, reflectindo so-
bre €uma €parte €da €sua €obra €literária €e €da €sua
doutrina.
Como já disse São Boaventura, entre os vários mé-
ritos, teve o de interpretar autêntica e fielmente a fi-
gura de São Francisco de Assis, por ele venerado e
estudado com grande amor. Em particular, na época
de São Boaventura uma corrente de Frades Menores,
chamados «espirituais», afirmava que com São Fran-
cisco fora inaugurada uma fase totalmente nova da
história, aparecera o «Evangelho eterno» de que fala
o Apocalipse, que substituía o Novo Testamento. Es-
te grupo afirmava que a Igreja já tinha esgotado o
seu papel histórico e seria substituída por uma comu-
nidade carismática de homens livres guiados interior-
mente pelo Espírio, isto é pelos «Franciscanos espiri-
tuais». Na base das ideias de tal grupo havia os escri-
tos de um abade cisterciense, Joaquim de Fiore, fale-
cido em 1202. Nas suas obras, ele afirmava um ritmo
trinitário da história. Considerava o Antigo Testa-
mento como era do Pai, seguido pelo tempo do Fi-
lho, o tempo da Igreja. Haveria que esperar ainda a
terceira era, a do Espírito Santo. Assim, toda a histó-
ria devia ser interpretada como uma história de pro-
gresso: da severidade do Antigo Testamento à relati-
va liberdade do tempo do Filho, na Igreja, até à
plena liberdade dos Filhos de Deus, no período do
Espírito Santo, que enfim seria inclusive o período
da paz entre os homens, da reconciliação dos povos e
das religiões. Joaquim de Fiore suscitou a esperança
de que o início do novo tempo hierárquica, para começar a nova Igreja do Espírito,
viria de um novo monaquismo. desligada das velhas estruturas.
Assim, é compreensível que Portanto, havia o risco de um gravíssimo mal-en-
um grupo de Franciscanos tendido da mensagem de São Francisco, da sua fide-
julgasse reconhecer em São lidade humilde ao Evangelho e à Igreja, e tal equí-
Francisco de Assis o ini- voco incluía uma visão errónea do Cristianismo no
seu conjunto.
ciador do novo tempo e,
São Boaventura, que em 1257 se tornou Ministro-
na sua Ordem, a co-
munidade da nova Geral da Ordem Franciscana, encontrou-se diante de
época – a comuni- uma grave tensão no interior da sua própria Ordem
dade do tempo precisamente por causa de quem defendia a mencio-
do Espíri- nada corrente dos «Franciscanos espirituais», que se
to Santo, inspirava em Joaquim de Fiore. Exactamente para
que deixa- responder a este grupo e dar nova unidade à Ordem,
va atrás de São Boaventura estudou com atenção os escritos au-
si a Igreja tênticos de Joaquim de Fiore e os que lhe eram atri-
buídos e, tendo em consideração a necessidade de
apresentar correctamente a figura e a mensagem do
seu amado São Francisco, quis expor uma justa visão
da teologia da história. São Boaventura enfrentou o
problema na sua última obra, uma colectânea de
conferências aos monges do estúdio parisiense, que fi-
cou incompleta e chegou até nós através das transcri-
ções dos auditores, intitulada Hexaëmeron, isto é uma
explicação alegórica dos seis dias da criação. Os Pa-
dres da Igreja consideravam os seis ou sete dias da
narração sobre a criação como profecia da história
do mundo, da humanidade. Os sete dias representa-
vam para eles sete períodos da história, mais tarde
interpretados também como sete milénios. Com Cris-
to teríamos entrado no último, ou seja no sexto pe-
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O Sumo Pontífice recebeu O Papa exortou à rapidez e generosidade no socorro à Turquia atingida pelo sismo
em visita «ad limina Apostolorum»
os Bispos de Uganda

Apoio a quantos Segurança e reconciliação para a Nigéria

cuidam de refugiados
órfãos e doentes
Após oitenta anos da morte
do Cardeal Merry del Val
Secretário de Estado de Pio
A política da recta via
Visita à paróquia romana
de São João da Cruz
e Angelus de 7 de Março
Não é suficiente
ser baptizado se não
se vive como cristão
PÁGINAS 6-7
Em diálogo com D. Adoukonou, Secretário
do Pontifício Conselho para a Cultura
Teologia e cultura da África
ao serviço da Igreja
Rapidez e generosidade nos socorros à
Turquia atingida pelo terramoto,
segurança e reconciliação para a
PÁGINA 3 Nigéria ensanguentada pela violência:
exortou o Papa durante a audiência
geral de quarta-feira, 10 de Março.
Primeiro o Pontífice encontrou-se na
Basílica Vaticana com uma
peregrinação realizada pela fundação
X Padre Gnocchi, em seguida na Sala
Paulo VI saudou outros fiéis, entre os
quais um grupo de língua portuguesa.
Eis o apelo pela Turquia e pela
Nigéria e a saudação em português.
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Sinto-me profundamente próximo
das pessoas atingidas pelo recente
terramoto na Turquia e das suas fa-
mílias. A cada um garanto a minha
oração, enquanto peço à comunida-
de internacional que contribua com
rapidez e generosidade para os so-
corros.
O meu sentido pesar dirige-se veemência que a violência não resolve segurança e pela convivência pacífica
também às vítimas da atroz violên- os conflitos, mas só aumenta as trágicas de toda a população. Por fim, expresso
cia, que ensanguenta a Nigéria e consequências. Faço apelo a quantos no a minha proximidade aos Pastores e aos
que não poupou sequer as crianças país têm responsabilidades civis e reli- fiéis nigerianos e rezo a fim de que, for-
indefesas. Mais uma vez repito com giosas, para que se comprometam pela tes e firmes na esperança, sejam teste-
munhas autênticas de reconciliação.
Saúdo os peregrinos vindos do Brasil
Sobre um artigo publicado Carta da Congregação e demais participantes de língua portu-
em «la Repubblica» para as Igrejas Orientais guesa, cujos passos e intenções confio à
Virgem Mãe com votos de que esta vi-
Pio XII defendido Apoio de toda a Igreja sita em todos fortaleça uma maior reno-
vação do espírito. Com afecto, concedo-
pelos arquivos aos cristãos da Terra Santa vos, a vós e aos vossos familiares, a mi-
nha Bênção Apostólica.
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