O documento discute a relação entre educação e trabalho ao longo da história e como as novas tecnologias impactam essa relação. O autor argumenta que (1) o trabalho sempre foi fundamental para a educação humana; (2) com a industrialização, a educação escolar se tornou dominante, mas desconectada do mundo real do trabalho; e (3) é preciso repensar como melhor integrar educação e trabalho frente às novas tecnologias.
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O historiador Demerval Saviani contextualiza historicamente o aprimoramento da técnica e seus impactos na educação. A educação do trabalho passa de parte do cotidiano, para fora dele, distante da realidade.
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Fichamento - Saviani, Demerval - o Trabalho Como Príncipio Educativo Frente as Novas Tecnologias
O documento discute a relação entre educação e trabalho ao longo da história e como as novas tecnologias impactam essa relação. O autor argumenta que (1) o trabalho sempre foi fundamental para a educação humana; (2) com a industrialização, a educação escolar se tornou dominante, mas desconectada do mundo real do trabalho; e (3) é preciso repensar como melhor integrar educação e trabalho frente às novas tecnologias.
O documento discute a relação entre educação e trabalho ao longo da história e como as novas tecnologias impactam essa relação. O autor argumenta que (1) o trabalho sempre foi fundamental para a educação humana; (2) com a industrialização, a educação escolar se tornou dominante, mas desconectada do mundo real do trabalho; e (3) é preciso repensar como melhor integrar educação e trabalho frente às novas tecnologias.
O TRABALHO COMO PRINCPIO EDUCATIVO FRENTE AS NOVAS
TECNOLOGIAS SAVIANI, Demerval Sntese: (...)os educadores tem oscilado ao considerar a educao apenas em termos gerais, com ou sem referncias formao vocacional e profissional, ou propondo um sistema dualista com a formao geral desvinculada da formao profissional ou, ainda, concebendo uma escola nica que pretenderia articular a educao geral e formao profissional. Objetivo do autor: (...) gostaria de convidar os colegas a refletirem sobre as origens e o desenvolvimento histrico do problema, como via para compreenso de suas coordenadas atuais. Ou tcnico demais ou muito formalista, na opinio do autor, ou nem uma coisa nem outra, meio hbrido. Em tudo, desconectado do mundo real: As polticas educacionais frente as tecnologias seriam demasiadas tericas. Educao e trabalho: as origens O ato de agir sobre a natureza, adaptando-a s necessidades humanas, o que conhecemos pelo nome de trabalho. Por isso podemos dizer que o trabalho define a essncia humana. Portanto, o homem, para continuar existindo, precisa estar continuamente produzindo sua prpria existncia atravs do trabalho. Isto faz com que a vida do homem seja determinada pelo modo como ele produz sua existncia. Origem da palavra escola: Se antes, no comunismo primitivo, a educao coincidia inteiramente com o prprio processo de trabalho, a partir do advento da sociedade de classes, com o aparecimento de uma classe que no precisa trabalhar para viver, surge uma educao diferenciada. E ai que est localizada a origem da escola. A palavra escola em grego significa lugar do cio. Portanto, a escola era o lugar a que tinham acesso as classes ociosas. A classe dominante, a classe dos proprietrios, tinha uma educao diferenciada que era a educao escolar. Por contraposio, a educao geral, a educao da maioria era o prprio trabalho: o povo se educava no prprio processo de trabalho. Era o aprender fazendo. Aprendia lidando com a realidade, aprendia agindo sobre a matria, transformando-a. Folha 1 at aqui. Idade Mdia escola e produo: Na Idade Mdia, os homens viviam no campo e do campo, ou seja, viviam no meio rural e da atividade agrcola. A forma do trabalho na Idade Mdia se diferenciava da Antiguidade na medida em que no temos mais o trabalho escravo e sim o trabalho servil. Elite + igrejas = primeiras escolas
Ocupar o cio com dignidade ocupa-lo com atividades consideradas
nobres e no com atividades consideradas indignas. Cria aqui tambm uma distino social ou diferena social pela educao: o ensino militar era para classes abastadas o ginsio que condiciona o corpo para o comando das tropas. Nesse momento a educao ainda o no-trabalho, o cio dedicado aos nobres. Muda com o mercantilismo:
(...) o desenvolvimento das atividades artesanais, fortalecendo as
corporaes de ofcios, aliados ao grau de acumulao que a economia feudal pode desenvolver, possibilitou o crescimento de uma atividade mercantil que est na origem da constituio do capital. Esta atividade mercantil foi se concentrando nas cidades, primeiro organizadas periodicamente na forma de feiras de trocas, de grandes mercados de trocas. Esses mercados foram se fixando e dando origem s cidades. A origem do burgus o habitante do burgo, ou seja, o habitante da cidade.
Educao e modo de produo capitalista
A indstria passa a ser o centro comercial, e o meio rural comea a estar
ligado ao meio industrial e urbano; O campo passa a ser regido pelas regras do meio urbano, o que desnaturaliza o trabalho ou o aprendizado diretamente ligado ao trabalho, pois por exemplo, as crianas que aprendiam o oficio dos pais no meio natural, em casa, vo aos centros urbanos e aprendem ainda o meio industrial, em meio as fabricas. Explica o desapego em Oliver Twist e outros contos que mostram a explorao infantil na revoluo industrial.
Esta sociedade rompe as relaes dominantes naturais que
prevaleciam at a Idade Mdia, ou seja, dado que at a a forma de produo dominante era lidar com a terra, as relaes tambm dominantes eram do tipo natural e se constituam comunidades segundo laos de sangue. O que dava o carter estratificado da sociedade, pois o oficio era aprendido de pai para filho, tanto a nobreza quanto o campesinato. Na sociedade moderna, capitalista, as relaes deixam de ser naturais para serem dominantemente sociais. Neste sentido que a sociedade capitalista rompe com a ideia de comunidade para trazer, com toda a fora, a ideia de sociedade. Sendo assim, a sociedade capitalista traz a marca de um rompimento com a estratificao de classes. Rousseau na parada: A sociedade deixa de se organizar pelo direito natural e passa a tomar como base o direito positivo, atravs do contrato social. HEGEL E MARX: importante considerar que a liberdade est estreitamente vinculada a propriedade. E uma sociedade de proprietrios livres. Considera-se
o trabalhador como proprietrio da fora de trabalho e que vende essa fora de
trabalho mediante contrato celebrado com o capitalista. Folha 02 ATE AQUI
A escola da sociedade moderna
Problema trazido pelo autor: A questo da educao e da escola, o que
tem a ver com isso? Tudo isso importante pelo seguinte: a sociedade contratual, baseada nas relaes formais, centrada na cidade e na indstria, vai trazer consigo a exigncia de generalizao da escola. O direito positivo necessita da escrita, diferente do direito natural espontneo...claro que esse direito natural no pe perfeito como demonstra o Foucault, mas a sociedade engajada na ideia de sujeitar a natureza aos desgnios do homem, incorpora a cincia, como potencia material, no processo produtivo atravs da industrializao. A universalizao da escola avana com a expanso da indstria, que necessita a unificao por conta do modelo industrial, mas estratifica o discurso, o aprendizado, para atender as demandas necessrias de cada regio. Intensifica a ideia de cidade como polo de tecnologia e o campo como atraso. Civilizado o habitante da cidade, o cidado formado e habitante dela. o ser poltico da Polis, dos direitos e deveres desta, e para isso, para esse processo se uniformiza a educao que era natural como o direito para positiva, burocrtica, como na indstria: organiza, controla. H!!! A escola est ligada a este processo, como agncia educativa ligada s necessidades do progresso, s necessidades de hbitos civilizados, que corresponde vida nas cidades. E a isto tambm est ligado o papel poltico da educao escolar enquanto formao para a cidadania, formao do cidado. Significa formar para a vida na cidade, para ser sujeito de direitos e deveres na vida da sociedade moderna, centrada na cidade e na indstria. (...) A forma escolar emerge como forma dominante de educao na sociedade atual. Isto a tal ponto que a forma escolar passa a ser confundida com educao propriamente dita. Assim, hoje, quando pensamos em educao, automaticamente pensamos em escola. E por isso que quando se levantam bandeiras em prol da educao, o que est em causa o problema escolar. Com a profissionalizao da educao, o formato escolar vira modelo, os outros, inferiores. Os professores se tornam educadores profissionais, e os pais, hoje em dia chocadeiras: Ocorre aqui com a questo escolar o mesmo fenmeno que Marx descreveu com relao economia, ou seja, trata-se de compreender a formas menos desenvolvidas a partir das mais desenvolvidas e no o contrrio? Nesse
sentido que possvel compreender a educao a partir da escola e no o
contrrio. As formas no escolares de educao tm que ser compreendidas a partir da escola, que a forma desenvolvida de educao. Este o fenmeno que observamos hoje em dia, a tal ponto que, quando falamos em escola, no necessrio adjetivar; todos entendem do que se est falando. A educao se torna positiva, modelo, enquanto as formas no educacionais, negativa. Vide os pais que querem que os filhos aprendam em casa, brigam na justia para ter o direito de ensina-los e tem de ter o mnio exigido por lei, e ainda assim, sem garantias de aceitao, podendo ser preso. (...) tende-se a considerar e a atribuir a escola tudo aquilo que educativo; a escola tem que absorver todas as funes educativas que antes eram desenvolvidas fora da escola, j que hoje h uma tendncia a esperar que as mesmas sejam desenvolvidas dentro da escola. Folha 03 at aqui A escola na opinio do autor, assume ainda encargos no pedaggicos, pois ela um meio necessrio ao tipo de sociedade atual. Esta tendncia compreensvel no quadro histrico esboado. Se se trata de um tipo de sociedade onde a forma escolar dominante e ela que define a educao, as demais formas so aferidas a partir dela. Ento, compreensvel que se reivindique que a forma escolar assuma, na prtica, toda aquela extenso que o tipo de sociedade est exigindo dela. Se ns prestarmos ateno, vamos verificar que, concomitantemente a esta tendncia que descrevi, ocorre tambm hoje em dia a tendncia oposta. E mesmo com esse respeito todo, a educao ainda secundarizada e desvalorizada, sendo apontado a educao por meio de sindicatos, partidos, associaes, ongs...por que a contradio? Hoje se coloca dentro da escola toda uma srie de atividades que acabam descaracterizando-a. Parece que a escola cuida de tudo, menos de ensinar, de instruir. Exemplo das festas juninas em So Paulo, que j no cabem como tradio, por estar descaracterizada das igrejas de bairro, mas mesmo assim, h uma resistncia dentro da escola pela sua manuteno, da tradio. Coloquei como diferente de Cuba, devido ao que li: A contradio entre as classes marca a questo educacional e o papel da escola. Quando a sociedade capitalista tende a generalizar a escola, esta generalizao aparece de forma contraditria, porque a sociedade burguesa preconizou a generalizao da educao escolar bsica. Sobre esta base comum, ela reconstituiu a diferena entre as escolas de elite, destinadas predominantemente formao intelectual, e as escolas para as massas, que ou se limitam escolaridade bsica ou, na medida que tem prosseguimento, ficam restritas a determinadas habilitaes profissionais.
A ideia de escola universal da burguesia no respeita a to aclamada
hoje demandas sociais do entorno da escola, pq universaliza um conhecimento, uma escrita, um padro considerado necessrio para insero desse cidado na sociedade urbana-burguesa. Folha 04 at aqui poltica educacional funciona como meio de dar a instruo homeoptica as massas, de forma a trein-las para o trabalho, mas no instrulas ao direitos de cidado por exemplo, ou melhor capacit-las a leitura crtica. Educa, mas retira o poder que o conhecimento fornece, focando na tcnica aguada para algum trabalho ou funo especfica. Com profundas aferies: Analisando as formas do processo de produo cujo saber os trabalhadores dominavam, o que fez Taylor? Elaborou, sistematizou essas formas. Com esse procedimento, ele desapropriou os trabalhadores daquele saber, elaborou-o e desenvolveu-o na forma parcelada. (...) E dessa forma que se contorna a contradio. O trabalhador domina algum tipo de saber, mas no aquele saber que fora produtiva, porque a produo moderna coletivizou o trabalho e isso implica em conhecimento do conjunto do processo, conhecimento esse que privativo dos grupos dirigentes. Cada trabalhador s domina aquela parcela que ele opera no processo de produo coletiva. Este processo atinge um ponto mais avanado na fase atual do capitalismo, que a fase monopolista. Surgem as escolas tcnicas, para especializar o meio produtivo, atender demandas de mercado, as vezes momentneas. A escola, o lugar do ofcio deixa ento de ser o local que formava os mestres-de-oficio, com usa formao integrada a preparao de futuros dirigentes ou de militares que comandariam (como no filme de Confcio). O advento da indstria moderna conduziu a crescente simplificao dos ofcios, com a consequente reduo (tendente a supresso) da qualificao especfica. E a, comea o chaveco da necessidade da interdisciplinariedade, multidisciplinariedade e transdisciplinariedade, onde deve atender a uma flexibilidade na formao do trabalhador para o trabalho que no mais pontual, especfico. Folha 05 at aqui ESCOLA HOJE: O fenmeno da objetivao e simplificao do trabalho coincide, pois com o processo de transferncia para as mquinas das funes prprias do trabalho manual. Assim, os ingredientes intelectuais antes indissociveis do trabalho manual humano, como ocorria no artesanato, dele se destacam, indo incorporar-se as mquina, o que viabiliza a mecanizao das operaes manuais, sejam elas executadas pelas prprias mquinas ou pelos homens, os quais passam a operar manualmente como sucedneos das maquinas, no necessitando, nessa condio, de fazer intervir as suas faculdades intelectuais.
A mquina materializou as funes naturais no meio produtivo, ou seja,
tornou prtico um aprendizado que era natural, que vinha com uma reflexo natural do tempo e das coisas; a escola teve esse papel nessa materializao da sociedade e destruio das comunidades, pois a educao se d atravs da escola, a escola deve se tornar o meio de divulgao, o polo educacional, o meio em que os alunos pensam e retira do dia-a-dia, do cotidano, do aprendizado natural: da comunidade que essa mesma TENTA resgatar, a que ela mesma matou. A universalizao retira a formao especfica, mas exige uma mnima: a comea a peneira dos trabalhadores, os que resistem a estar na escola mesmo com os problemas, ou ainda as pessoas que possuem mais condies e podem se manter nessa escola ou em outra que atenda as regras do mercado, como os particulares. H ainda, a especializao em dadas tecnologias, que atendem a um mercado especfico, que o foco do texto, mas claro que o Saviani, faz uma contextualizao histrica magnfica primeiro da educao para chegar nesse ponto especfico das novas tecnologias para educao.
Novas tecnologias e educativo
Seguindo a uma lgica mercadolgica, as qualificaes intelectuais
especficas tendem a desaparecer, o que traz como contrapartida a elevao do patamar de qualificao geral. Parece, pois, que estamos atingindo o limiar da consumao do processo de constituio da escola como forma principal, dominante e generalizada de educao. Se assim for, a universalizao de uma escola unitria que desenvolva ao mximo as potencialidades dos indivduos (formao omnilalteral conduzindo-os ao desabrochar pelo de suas faculdades espirituais-intelectuais, estaria deixando o terreno da utopia e da mera aspirao ideolgica, moral ou romntica para se converter numa exigncia posta pelo prprio desenvolvimento do processo produtivo. Folha 06 at aqui Cai na contradio da estrutura, pois na educao prtica fica a ideia jogada no ar em que os professores devem adequar a prtica nessas estruturas educacionais, que no comporta nem a ideia positivista da educao mais. Mas o autor pontua o problema da transferncia do trabalho intelectual para as mquinas, o que deixa o ser humano como mera pea necessria ao consumo, indo um pouco alm do texto. Mas mesmo na fbrica, o trabalho consiste agora em comandar e controlar todo o complexo das suas prprias criaturas, mantendo-as ajustadas s suas necessidades e desenvolvendo-as na medida das novas necessidades que forem se manifestando. E disso lembrei do episdio dos Simpsons em que o Homer fica s com as mquinas e comea a tentar ser amigo delas.
No fim, h uma comparao com a situao do Brasil na poca (1996) e
um comentrio de Carlos Eduardo Moreira Ferreira, empresrio, preocupado com os rumos da industrializao e da instruo para essa industrializao no Brasil. Ao que tudo indica, desde l houve investimentos maiores, mas pontuais e centralizados em especializaes ainda, no em matrias to onilaterais ou que levem em considerao a multidisciplinariedade e a trans.