Vous êtes sur la page 1sur 118
JOSE ANTONIO FERREIRA DE ALMEIDA HISTORIA DA ARTE LISBOA JOSE ANTONIO FERREIRA DE ALMEIDA HISTORIA DA ARTE SOLONDE OST LE: 3 CipLioreca ee genkeina O'ALNEI, LIVRARIA BERTRAND tispon rece FERRETA® OE ALAEXER pr FLUP-BIBLIOTECA O nae iene Sted A ARTE PRE-HISTORICA 1—0 PALEOLITICO A ORIGEM DA ARTE Os primeiros homens que viveram sobre a ‘Terra ndo deisaram sinais de actividade criadora, Calcula-se que tivessem surgido Ini eerea de wit anlho de anos, mas por centenas ¢ centenas de séculos arrastariam uma existencia pouco superior & dos outros animais. $b muito mais tarde, talves a partir de quinhentos mil anos antes de Cristo, principiaram a revelar nitidamente as capacidades inventivas pelas quais se tomnariam os Faturos semhores do globo, Pedras rudemente talhadas, que o tempo ‘poupoy, sio o fico testemunho de ttabatho inteligente, embora de infcio fosse tio grosiciro que por vezes nilo sabemos se foi’ homem ou caso 0 verdadeiro criador de tais formas. Estes vestigios pertencem & Era Quaternéria, a titima das fases da Histéria da Terra. E a 6ltima e a menor, pois duraria apenas um escasso nilhdo de anos (1). Em contraste, a Era Terciévia, por sua parte, abran- ‘gon um perfodo de setenta e cinco milhGes de anbs! Estes nitmeros espatt~ tosos zevelam-nos que, em relagto A idade da ‘Terra, o hoinem € wm ser ‘recentissimor... um dos mais novos, é verde, mas possuidor do oére- ‘bro melhor dotado de toda a Criagio, privilégio tinico e incomparivel, ‘50a forga ¢ sua grandeza [No fazemos ideia exacta das condigSes de vida desses selvagens pri- smitivos que, muito antes de descobrirem a maneira de fazer instrumentos Ge pedra, apenas saberiam utilizar os calhaus ¢ seixos em brito, ow galhos ce ramos de irvore, para se defenderem e para cagarem os animais de que se alimentavam. ‘A fisionomia da superficie terrestee, depois de ter sofrido infimeras transformagies, j& era entlo aproximadamente 0 que & hoje, Os continen- tes, as montanhas e os grandes rios apresentavam, mais ow menos, a cot- figurasio actual, ¢ estavam distribaides do modo semelhante ao do nosso ‘tempo, embora de inicio a Franca se encontrasse ligada & Inglaterra e Espanba A Africa, ete, Profundas alteragdes de clime vieram modificar as condigbes de vida em grande parte do mundo. Regides quentes © temperadas transfor- maram-se em zonas frfgidas, eobertas de gelos permanentes: florestas de grandes arvores subtropicais foram substitufdas pela vegetast0 herbfces semelhante & da atundray e da estepe siberiana. Os elefantes, leses © rinocerontes de pélo curto desapareceram da Europa e sucederam-lles outros animais melhor defendides contra o frio: 0 mamute, 0 uso, a rena, ete ‘Numa sequéncia irregular, a tais perfodos de arrefecimento sucede- ram outros, quentes ou temperados. Nas fases glacisrins (quatro, na Eu- ropa), toda a parte norte e central da Europa, América do Norte ¢ Asia, ficou recoberta por espessas camadas de gelo (a calote glacfiria). Nas rregides poupadas pela catistrofe, houve um forte abaixamento de tem peratura; chuvas diluvianas cafrem noutras partes, em cousequéncia desta perturbapio universal. Quando o frio abrandava, os gelos desapa- reciain parcialmente dos continentes ¢ oceanos; abria-se entio, por alguns séculos, uma fase interglacitria, de elima moderado, ‘Tio intensas e duradouras variagdes térmicas deixaram abundantes vestigios no Ieito dos rios, no sole de montanhas ¢ planicies, nas costas aritimas. Como 0 nivel do mar subia ou descia, acompanhando a fusio € a formagio dos gelos, as praias onde os homens primitives buscavam alimento encontram-se na actualidade a grande altura, por vezes a deze- nas ou centenas de metros. Sabemos com relativa seguranga a eronologia das glaciagées e dos fenémenos provocados por elas ¢ assim caleulamos @ data dos objectos fabricados pelo home coutemporfineo desses aconteci- snentos © que se encontrem ainda nos loeais onde foram deixados. Felizmente, a transigie entre estes perfodos, de milhares de anos cada um, fez-se a pouco € ponco, levou séculos. Se tal mio acontecesse, raros seres vivos teriam eseapado 3 morte, pela alteraeio brusca das condipdes da existéncia animal e vegetal em vastas extensces do mundo. Animiais e plantas que no puderam adaptar-se, extinguiram-se ou emi graram para regices onde o ambiente se mantivesse favorivel aos seus organismos, como o elefante, o tigre, ¢ a hiena, ete., que se refugiaram definitivamente nas zonas quentes da Afriea e da Asia © homem foi capaz de adaptar-se & dura sucesso de climas opostos. "A inteligencia deucthe meios eficazes de defesa:: s6 ele saube cobrie-se de 8H vvestufrios de peles ou produsir © conservar o fogo, armas decisivas con- ‘ra o enregelamento mortal. E em tais condigées dificlimas, nas terras poupsdas pelo imenso lengol de gelo, alongendo-se da Espanha até a Riissia meridional, alguns dos habitantes mais antigos da Europa eria- ram as primeiras obras de arte de que hi meméria! Em que quadro se desenvolveram as indvistrias primitivas, as indis- ‘unas que deram ao homem ensejo de escapar 3 selvajaria e langar as bases das civilizagies passadas ¢ presentes, num imenso esforgo de centenas de milhar de anos? ‘Teremos uma idein adequada da duragdo dos tempos pré-histéricas + se pensarmos que do unscimento de Cristo nos afastam apenas sessenta « cinco geragdes, enquanto os primeiros instrumentos humanos bem defi- ‘nidos e 0 avito de jacto ou a homba atémien esto separados por vinte mil seragSes humanas, pelo menes... Chama-se Pré-iistévia ao periodo da vide da Humanidade eajo inf- cio € mareado pelo momento em que aparcceram as primeiras ragas € se alonga (de ztodo aproximado) até & invengio da eserita, a partir da ‘qual principiam os tempos histéricos. ‘A. Préshist6ria esté dividida em idades, correspondentes as grandes fases culturais, as grandes invengdes ¢ as transformagées da vida social: Paledlitico, Neolitico, Idade dos Metais (Cobre, Brouze, Ferro). 0 Paleolitico (de pateo=antigo e lithos=pedra), ow idade da pedra lascada, € a primeira fase; mais longa que todas as restantes juntas, urou cerea de quinhentos mil anos! Caracteriza-se pela indtistria de pedra, pertide ou lascada. Os instrumentos eram fabricados por per cussio directa ¢ indirecta e variaram conforme se iam sucedendo no tem; (forma, seabamento, dimensies, etc.). Nesta idade distinguem-se dois _grupos de culturas: 0 das bifaces ¢ o das lascas. Biface € qualquer ins- ‘rumento obtido pelo desbaste de um cathau ow seixo (nicleo). Contra couira pedra ou com um pereutor de madeira, e por pancadas sucessivas ‘ordenadas, 2 um ¢ outro lado, arrancam-se pedagos a0 mice até se The dar a forma desejada. O mais comum dos bifaces € 0 pico de mio (eomp-de- ‘poing), utenstlio universel, de forma triangular, ov6ide, lanceslada ou amigdaléide, terminando em ponta numa das extremidades e arredondado nna outra, de faces convexas bardos inferiores cortantes. Servia para iiltiplos fins (0 Dontor Leite de Vasconcelos eamou-the por isso efaz- tudo»); era a0 mesmo tempo cutelo, pico, sacho (para escavar armadi- Thas e arrancar raizes e tubéreulos ou desenterrar vermes e outros animais| comestiveis), arma de guerra e de caga, ete., ete. Adaptava-se bem & mio, a snag também o ligaram a cabos de madeira, transformando-o num axtén- ‘ico machado on martelo. ‘As Tascas e ¥iminas sfo fragmentos de pedra, obtidos por varios pro- cessos, € utilizados tal como saltaram ou depois de retocados de um s6 Jado. Nas indistrias deste tipo, as armas ¢ os utensflios correntes fabri- caramae daguilo que pars os artifiree das hifness nao passava, quase sempre, de desperdicio sem valor. © retogue (por pressio ou pereussio) apropriava as laminas a virios usos: raspagem das peles, fabrico de ins- trumentos de madeira, chifre ¢ oss0, ete. Varias rochas serviram de ‘matéria-prima, conforme a constituigda geologica dos terrenos; em regra eram escolhidas as mais duras om aqueles cujos pedacos fossem mais cortantes: calefrias, rochas silitiosas (silex, jaspe, quartzo, quartzite, grts, ete), eruptivas © inetaniérficas (diorite, basalto, jadelte, ete.) (A preferida era o silex, Duro e ffcil de Iascar, permite o fabrico de poses Jongas © nas, com excelentes gumes € pontas agudissimas, qualidades que Ihe deram a primazia entre as matérias-primas ulilizadas até a Idade dos Metais. Também a madeira, ossos e chifres foram aproveitados, mas 5 instrumentos mais antigos fabricados desses materiais tomarait-se raros porque resistem pouco aos agentes destruidores quémicos, Sisicos ¢ Diol6gicos, © Paleolitico foi subdividido em duas épocas desiguais. A inicial € a amais duradoura (cerca de quatrocentos ¢ cinguenta mil anos) © abrange as trés primeiras glacingdes (Paleotitico Inferior). A segunda (Paleoli- ico Superior) corresponde A quarta glaciagio e durou aproximadamente ‘uma andécima paste da primeiza (quarenta mil anos), Entre uma ¢ outra 1hé um periodo quente, interglactfxio. Hm resumo, © segundo o esquema do Prof, Pericot Garcia, 0 Pateolitico Inferior estaria compreendido, fentre 300.000 © 50.000 anos a, C. (antes do nassimento de Cristo) © a Paleolitica Superior entre 50.000 € 10.000 anos a. C. Estas épocas apresentam diferentes aspectos culturais (revelados sobretudo pela forma dos instrumentos e pelos processos usados em fabri clos}, designados por um nome derivado do local onde os vestigios da ‘sua indtria foram encontrades pela primeira vez on onde apareceram pesas mais caracteristicas (estapses epénimas). As fases importantes do Paloolitico Inferior sio a Chebense (de Chelles, Seine et Marne, Franca} 8 Acheulense (de Saint-Acheul, Amiens, Franga), culluras de bifaces, € 8 Clactononse (de Clacton-on-Sea, Inglaterra) e a Taiacense (de Tayac, Les Eysies, Franga), calturas de lascas. Estas culturas oferscem grande semelhanga em afastados pontos do ‘globo, sucederam-se sempre na mesma orem ¢ cruzaram-se entie si, dando origem a culturas mistas. [As formas dos instrumentos modificaram-se com tal lentid®6 que por ‘muitos milbares de anos os progressos foram pouco acentuados © as faculdades inventivas humanas pareciam adormecidas. E niio esquesamos que no Paloolitico Inferior 34 2 padea ora talhada com perfeigio notivel: antes deve ter havido um perfodo em que o homem nem sequer sabia dar forma aos pedregulhos utilizados ou os partia tTo grosseiramente qiie 30 os distinguimos das pedras fragmentadas por causas naturais: alteresio bbrusca de temperatura, pressio dos terrenos, ete. Se realmente foram sujeitas a trabalho intencional, ainda estamos para sabé-lo, porque no apresentam formas tipieas (eélites). Nesse longufssime perfodo, pouea ow nenbuma manifestagio espiritual se conhece. Os povos mais atrasados os tempos modernios (indigenas australinnos, pigmieus, bosquimanos) Go-nos uma pilida ideia da mentalidade das ragas, hf muito extintas, daquelas épocas. $6 um crAnio encontrado em Swascombe (Inglaterra) presenta alguns caracteres semelhantes 2os do homem actual (Homo Sapiens). Nao ha sinais de vida religiosa; no 4 sepulturas, nem qual- ‘quer outro testemunke de preocupagies mais elevadas que as dos selva- ‘gens acima indicados. 'A despeito de possafrem wma inteligéucia radimentar © um baixo nivel mental, em relagfo a outras ragas posteriores, tais sees, mal safdos da enimalidade, triunfaram sobre incontiveis forcas hostis ¢ langaram os alicerces do futuro domfuio do homem sobre a Natureza, porque souberam transmitir parte de experiéneia adquirida (ideias, hibitos e téenicns) aperfeigot-l. ‘Mal protagidos de ascenga, eriaram armas com que zemediassem & insuficiéneia fisica perante animais de maior forga, velocidade e resistén- cia. Nem os dentes, nem as thes, nem a pele, eram comparéveis, em poder ofensivo e defensive, aos das feras de que estavam rodeados, Cox tra os animais ferozes, contra o clima, contra as grandes perturbagies ageoléygicas até, organizaram defesas sucessivamente melhoradas, a custa de esforgos durfssimos e de uma incontével perda de vidas. Nio se Timi- taram @ permanccer ¢ a resistir passivamente, esses homens mesquinbos constantemente ameagados por mil perigos, ‘Tinkam um excepesoual ins trumento de acglo sobre « matéria; as suas préprias mos, as maravilho- sas nilos humanas sem as quais cérebro apenas exerceria uma influén- cia reduzida sobre as coisas exteriores. No fluxo e reflaxo das glaciagées, através de mudangas fotais de ambiente natural, enquanto outras espécies de animais desapareciam ou se sefugiavain em Iugares menos perturbados, ‘© homem ficava por toda a parte «dono senhor do solo e dia apés dia da sua vide de cagador in substituindo pela destrera e pela astécia © que ‘The faltava em forga...» (Obermaier) Criaram alguns tipos especializados de instrumentos de pedra (coup- dedpoing, raspadores, Taegndviras, pontse, ete.) que seriam usador, com smodificagtes superficiais, por poves mumerosissimos até 2 actualidade (ns ‘ransformngées da cultura certas sociedades ficaram atrasadas, nfo acom- panbaram 08 aperfeigormentos de outras, © isso explica que na nossa Epoca, altamente civilizada, ainda haja alguns grupos prititivos e aeivae gens vivendo em condigdes equivalentes &s da pré-histéria) Dispersos em pequenos grupos errantes, sempre em base da capa «que Thes fornecin a parte principal da alimentagio, deslocavamese a0 longo dios curses de Agua, permanecendo em cada sitio enquauto af encontras- sem sustento: caga, vere, raines © frntos slvestes, ete Deles s6 conhecemos bem o progresso notével da sua habilidade no fabrio de instramentos de pedra. ‘Tém exeepcional importincia as pobres fndfistrias primitivas, porque melhoraram as condigies da existéncia © tommacam possfvel © desenvolvimento de culturas mais completes. Pela variagio das formas dos ojectos fabricados ¢ pela maucita como tais formas se combinam (tipologia) conhecemos as relagdes e a influéncia dos dvssos grapes de cultura, eso ea tasformagies dow crate Had 200° & Arte, ue interete nos meres Hons do Po tio 6 compreenderemes a8 manifestagtes artisticas através do mefo om aque clas nascem e se desenvolvem. Sem o esboro sueinto dn épocn Paleo- Utica no seria posstvel explicar o apareeimento da sua arte, a primelra arte que o mundo conhecen, Nas indstrias de Taseas © bifaces jf se revela alguma coisa a que podemos chamar sentido estético das forimas e proporstes. Na verdade, nao se trata ainda de arte: esta apareceria muito mais tarde, em pleno Paletitico Superior. Contudo as formas convencicnsis dos coup-de-poing chelenses © achew- lenses manifesism won sentimento artistic « despontar. Apenas um sentido consticnte das formas se pode atribuir otallte eo retoque de poss como as que reproduzimes, de contortos bem definidos ¢ regulates, ¢ em sve & vive) a Intonedo de dar-lies elegncia ¢ simetia Comparenae 08 primeira tios, grosseitos foscos, om os sens deri- vados: do micleo irregular nasceram numerosos instrumentos ¢ cada um ganharia maior perfeigio no aspects, revelaria uma preocipapio pelo aca- bamento agraddvel & vista, que 80 se explica tnicamente por motivos utilitirios om priticos. A finura e 0 gracioso recorte de certos objectos om nada melhoraram a sua utilidade; uma lamina de sflex no fiea com ‘melhor gume por ter prapargiies mais elegantes, Se houve a intencto de tornar o instrumento simétrico, de Ihe dar formas equilibvadas 6 vegula- 5, & cusla do um trabalho dificimo, nfo € isto prova evidente de um gosto de criar por puro prazer? A pega estava pronta a servir sem tantos retoques, priticamente desnecessérios. Para que haveria de gastar 0 arti- «fice mais tempo ¢ energias? Segundo Max Verworn, este asentido das formasy teria nascido de um entretenimento com a téenica de retoque do silex, de um gosto de brineat, de disteairse, sem ter nenhum fim pritico em vista, apenas elo agrado de fazer alguma coisa com as préprias mos. Ao talhar wiua pedra © a0 retocé-la 0 homem nfo conheceu epenas a apticagio atil da sua forga, Também sentiu o prazer de agir com éxito ao medificar as formas para ajeitar os instramentos aos fins que desejava atingir: caga, tzabalhos diversos, ete. E o prazer da crianga quando consegue fazer umn desenho, reeortar uma figura, modslar um boneco de barro, criar ou mi0di- ficar qualquer coisa, por insignificante que seja. Ba tendéncia natural 6 2 de repetir a acgio que foi realizada com Exito, por gosto de afirmar forge ¢ a capacidade pessoais, de sentir a magia das mios ao dominar a matéria, gosto de exccutar movimentos por distracgie, movimentos crindores ¢ que obedecem as intengdes de um espirito, embora rude ¢ de Jimitada inteligéncia e sensibilidade. E ficil demonstrar que foi o gosto pelo trabalho e nfo o desejo de aperfeigoar a forma til, © motive que levou A elaboragio de algumas bielas formas de instrumentes paleoliticas : os miais «artisticass sio mui tas vezes os de manejo mais incSmodo ¢ diffe... ¢ grande ntimero deles sem sequer foram utilizados... ‘Um seiso zolado pelas Aguas, que seja desbastado ¢ recortado apenas smuma das extremidades, conservando-se em grande parte a superficie sedonda, € mais pritico ¢ adapta-se melhor & palma da mio que mui Assimos coup-de-poing de formas apericigeadas. Tera as quatidades de tum bom percutor, de win machado de mio, de um pico para cavar, de tudo quanto se pode exigir seb o aspecto funcional; os retogues comple~ rmentares melhoraram-the 0 aspecto ¢ sada mais. Que vemos? Formas que se fixam ¢ se regularizam, formas abando- _— nadas, formas novas. Quando os instrumentos sio copiados wns dos outros sentenie preoewpagio de op acabar bem, de obter bales Peras. ‘A principio © homem Hiitowse 2 aproveiter, melhor of por, as for nas que 0 sflex tomava ao ser lascado; of instrumentes variavam de sspecto, conforme of casos da fractura ivegular des pedras. A. partir de certa altura j4 nio se sujeita a essa irregularidade, aprende a talhar de um moo constante e a dar sempre im fetio idéwtico ¢ cada grupo de ‘nstrumentos especializades: pico de mao, furador, raspadeiza, ete, sqeri ficando até a-wildade & forma preferida Pla primeira ver se manifesta, na longa transformagio espirital da Hlumanidade ea intervengio plenamiente conseiente de vn sentido de for- snas bom acentuados, Este sentido nunca mais se perdeu e impos-se mic tas vezes até 2 fualidade pritica, auténtca rnda A qval as formas dts ficaram relativamente subordinades. A proocupasto formal impde-s¢ © 30 pensamento dos homes primitives nasce wa verdadero ieal deforma, de perfeigao consciente, ideal que ele procura exprimir objectivamente por meios inéditos. & a arte que surge? Se nfo é ainda a arte auténtica € algo de muito préximo, algo que foi chio raiz da arte... Ou o sentido das for- suas € j@ verdodeiramente wa expressio de um sentimento attistico, de sma ideia atistican? Na fitima fase do Paloolitico Inferior encontramo-nes perante una notivel cultura de lascas: a snusteriense (Le Moustier, Dordozne, Fran- sa), que marca a txansigio para 0 Paleolitico Superior. Por isso alguns préhistoriadores preferem chamar-Ihe Paleoliiico Médiv. A sua indés- tria apresenta produtos tipicos de pedra: raspagores, pontas (triangula- ses, lanccoladas, de pedinculo), discos ¢ outros instramentos dos perfo- dios anteriores. O asso é utilizado em grande eseala, O clina resiria outra vee © 0 homem procura, mois acentuadamente que até entio, os abri- {gos naturais, at grutas ou cavernas, A medida que a dtima fase inter- iglaciésia temperada ia terminando € a quarta glaciagia se apreximava. Entfo veio para a Europa central e meridional a rena, Referituo-nos espe- ‘eialmente a este animal wtilisimo porque desempeniaria um papel tio acentuado na existéncia das homens do Paleolitico Superior que esta fase também foi designada por Idade de Rena (0 Mustevionse tzouxe uma grande revelasio: pela primeira vex, of -cadéveres umanos foram enterrades euidadosamente, juntamente com oS nutensflios, armas e comida. 1 j4 a preoeupasio pelo «além da vida»; as toseas sepulturas so o simbolo material de erescente chumanizagtion des- tas gentes selvagens, prelidio de transformesdes decisivas da. cultura © homo sapiens féssil, 0 nosso dicecto antepassado, aparece no dwri= hacense; pela inteligéneia © desenvolvimento mental esti incomparivel- mente acima das tapas antecedentes, E bem wna ova humanidade que surge. ‘Diowse grandes inovagtes industriais: aumento © especializaglo dos jnstrumentos, empsego do o8s0 como matéria-prima essencial (até ent%o fora utilieado sem qualquer técnice adequada), desaparceimento dos bifa- ces, ete. © Paleotitico Superior ests subdividido em tr2s grupos de culturas : a aurinkacense (de Aurignec, Haute-Goronne, Franga) ; a solutrenso (de Solutré, Saine-et-Loire, Franca) ea madalononse (de La Madeleine, Dor- aogne, Franca). ‘A. especializagZo industrial ¢ as variedades culturais, mais umero- ‘as € ricas que em todos os perfodos anteriores, cruzam-se ¢ evoluent separ radamente. Novas ragas ligum-se ts do Musteriense ¢ da sua reefproca jnfluéacia vBo irromper formas originais de cultura. A fauna era variada c diferente, conforme o grau de resfriamento de cada regio. Abundavam, além dos animais préprios das zonas frigidas, 0 bisio, o boi almiscarado, © urg0, 0 lobo, 0 veado, 0 javali, a raposa, ete, jumto de espécies hoje Aesaparecidas, A reua era 0 preferido: além da carne saborosa, aprovel- tavam-lhe a-pele, tendées, ossos e chifres, para o fabrico de clevado infimero de artefactos. ‘Também foram utilizedos como matérias-primas o marfim das defe- ‘sas.do maumute ¢ os chifres da rena, do veado, ete., dos quais se fabrica- ‘vam pontas de aragaia, punhais, faradores, alfinetes, espitulas, agulhas, propulsores, basties de comando, © mareas de cag, etc. Os propulsores bastées de comando valem pelo aspecto artftico € sio dignos de men- fio especial © apropulsors, espécie de haste ou vaveta, terminada por mia ponts de axpéo (semelhante & das agulbas de croché), para o langamento de ‘azagaias, reeebia, em geral, ornatos em relevo ¢ incisdes sem qualquer uti- Iidade, Puramente decocatives. Os ebastoes de comandor, feitos de ehifre de rena, cortado junto da ramificagio das hastes, apresentam perfuragdes, ¢ slo ormamentados de virios modos. Deram-ihes este nome porque s¢ ‘supts due fossem insignias de autoridade; & de crer que os utilizassem para outros fins: paus de tenda, cabos de instrumentos, sparelhos de endi- ae reitar setas, ele. As marcas de caga» sio pedagos de osso com incistes peralelas, As téenicas do sflex aleangam superior perfeigio. Extraem-se ltminas regulares de grandes dimensdes; por retoques ewidedesos, de minuciosa regularidade, eriam-se on melhoram-se numerosos instementos : a gom- plexidade dos objectos fabricados traduz 0 avangn ealectiva. Ox wtensflios ‘io uiuito diferentes dos que tinham side usades no Paleolitico Inferior alguns s6 aparccem em determinadas regives, mes a maioria difeudiu-se largamente por toda a parte ¢ constituin um funde industrial que chege via até 2 Tdade dos Metais, Ente os mnais tipicos contam-se as goivas, raspadores, raspadeiras, furadores, Miminas denticuladas ou serras, pontas, punhais, buris (des. tinados a abrir renhuras nos ossos, ¢ a gravar ou eseulpir a pedra). Con- forme as culturas, assim estas pecns apresentam caracteres.especiais, (buris: de angulo, prismiticos, de Noailles, ete.). No Solutrense 0 reto- que do silex € inexcedivel: as liminas so as mais perfeitas ¢ belas de todo. © Paleolitico. As pontas de langa, finfssimas ¢ de contorno perfzitamente regular, retocadas de um ou dos dois Iados, imitam as folhas de diversas, favores: platexo, olmo, flamo, castanheiro, ete., ou so talliadas em losan- 0, em arco quebrado, ete. As mais conhecidas sio as «folhas de loureiro» A provar a hebilidade ¢ pericia dos artifices esto as folhas de silex e de quartzo transparente: chegam a atingir 35 centimetros de eomprimento, por § de largura ¢ 6 a 9 milfmetzos de espessura! Por isso mesmo pide Cheyaier afirmar que o trabalho do sflex fora para o homem musteriense jum fim para 0 aurinhacense um meio e para o solutrense wa atte. No Madalenense o traballio do sflex & menos perfeite, mas 0 do 0ss0 € melhor. Os azpdes de chifre de rena, para eaga © pesca (com ficiras de darbelas simples ou duplas, grossas ou finas) de 4 a x8 om, de com- primento, sio instrumentos originais e de formas mais artisticas, ao lado dos tridentes, pontas de azagaia, anzbis ¢ varetas oradas, ontras pegas Gssens do perfodo. Os utensflios de silex (buril de bico de papagaio, ras- padores, furadores, ete.) de reduzidas dimensbes (3 a 4 em. em geral) receberam por isso 0 nome de micrélilos (do grego milerds=pequena & lithos= peara), ‘Pudy iste wy teria mutta importincia para nos se, a acompanhar estas indfstrias, nio se tivesse revelado uma das aquisigdes mais valiosas para o patriménio da Humanidade; a da Arte propriamente dit © homo sapiens vinha dotado de uma eapacidade artistica muito supe- Flor dos sens antecessores, os quais apenas a revelazam fromxamente na ~ 6 conformagdo de alguns instramentos. Contudo esta admirdvel arte ficow ignorada até hi pouco tempo, pois ainda era totalmente desconhecida hi ‘um século,.. Tio inesperado foi, pela beleza © perfeigtio, 0 conjunte das obras descobertas a poueo © pote, que muitos arquedlogos supuseram que se tratasse de uma falsificagio, que as gravuras ¢ pinturas fossem obra de artistas modernos, amigos de brincar ow de iludir o préximo. Felizmente eram auténticas ¢ tais sio as provas dessa autenticidade que jinguém a poe em davida nos nossos dias. A Idade da Rena on Paleolitico Superior foi o capitulo de abertura du historia da arte universal. Capitulo rico, mais notfivel que muitos capftulos seguintes, deixou-nos obras valiosas © as técnicas art{sticas fun- damentais das artes plésticas. Deseuho, pintura, gravura, escultura, tudo isto surgiu nessa época da pré-hist6ria... sem qualquer precedente, sem qualquer tradigio, sem nada, B, contra o que é de supor da parte de povos selvagens, as suas cria~ es nio foram mesquinhas, pois entre elas contam-se verdadciras obras- -primas, legadas por ignorados artistas, pioneiros da arte, que merecem & hora de enfileirar junto dos verdadeiros mestres de qualquer perfodo de. histéria. Sem qusisquer guias nos diffceis caminhos da expressio artis- tica, eles epartiram de zero» e sdzinhios descobriram os meios de trans- formar artisticamente a matéria, de torné-la intérprete do espirito hu- mano, de eriar formas. As artes decorativas ¢ figurativas nasceram entio © as téenicas inventadas por esses precursores ainda hoje sio correntes... Ficamos aténitos com a qualidade e mestria de tais manifestagées artisticas, compariveis as de quaisqner outros tempos antigos ¢ modernos, Poucos serio enpazes de desenhar ou gravar figuras equivalentes a algu- ‘mas da Arte quaternéria, mesmo depois de terem aprendide desenho © intra... pint eidente que nem todos os homens do Aurithaconse ou do Madale- ‘nense possufram tio notivel capacidade, Os génios iguorados de hi tantos milhares de anos eram poueo numerosos, tal como s3o raros na actuali- Gade os artistas snperiores. O que nos espanta é o aparecimento de alguns desenbadores geniais num meio de si tio primitive, ainda sem os ins- trumentos elementares da técnien ertistien nem qualquer preparagao estética, como se brotassem espontineamente aqui ¢ acolé, Grupos de hébeis gravadores ¢ pintores decoraram paredes de caverna, pedras, ossos, marfim, vivendo 2 existtacia precéria dos pobres cagedores de renas, bisdes e mamutes. Conhecemos muitas centenas de obras ¢ todos os anos s¢ a1 descobrem mais; sto a fufima parte que eseapon as destruigdes do tempo dos homens. Mesmo assim chega para nos maravilhar o poueo que sobre vivew do muito que teria sido feito. A arte paleolitice desenvolven-se sobretudo no ocidente da Europa ‘© em especial na Franca e na Espartha. Noutras regides, sio menos dignos de apreso os trabalhos aparecides. ‘No estado actual dos nossos conhecimentos, tudo nos leva a erer que foi a terra francesa o bergo da arte © um dos seus centros mais fecundos « origina, No ilusteriense, hd sinais evidentes de que o homem procurava cer- tas tetras coloridas (ocres, peréxido de manganésio, ete,), usadas, com toda a probabilidade, para pintar o corpo. Vaidade ou sentimento estético? Hm qualquer caso era gosto de omar e decorar, intengio de embeleza- mento fisico, pressupondo um ideal de forma. As tatuagens ¢ pinturas dda epiderme foram ditedas por um desejo de modificar as formas ¢ aspec- tos naturais do corpo; de transforméclos conforme uma sensiblidade, sgrosseira ainda, as cores © As Iinhas. Por esse Jado a ornamentagio cor- poral & j uma arte, embora secundéria ¢ effmera. A pele humana foi a primeira tela dos mais antigos pintores do mundo, O Auriniacense 6, sem déwida, 0 momento inieial da verdadeize arte plistica, Arte? Artes, diremos melhor, porque surgiram vérias: a escul- tura, a gravara, a pintura, a modelagio. © aparecimento brasco de manifestagdes superiores da actividade humana € dificil de explicar, A nova raga (os homens do Auvinhacense pertencem a uma raga gigentesea, a de Cro-Magnon, de misteriosa ori- gem ¢ diferente das que vaguesram até entio pela Europa) possufa ‘qualidades intelectuais superiores as dos homens sais antigos. ‘Trans- formagio mental, progresso psicol6gico? Ou chegada de povos ja conbie- cedores das técnicas artisticas elementares? Nesse caso, donde viriam eles, onde teriam crindo as ratzes do sentimento artistico? Se no hi resposta satisfatéria para tais perguntas, pelo menos jé existe teorias aceitiveis pare explicar a géuese da arte figurativa, das artes plisticas ‘Os primeiros sinais de actividade artistica so as dedadas eoloridas fe us viscous Uagedos com os dedos ou yeavados cm patedcs de eavennas. Foi a partir de crigens tio modestas que se chegow aos bisdes de Alta- amira, & grande pintura franco-cantibrica, as primeiras estatuetas de vulto redondo, aos baixos-relevos ¢ gravuras de animais, magistralmente exe- cutados. A arte decorativa manifestara-se nas formas de instrumentos 6H do Paleolitico Inferior, nas pinturas corporais e nos ossos, com riscos paralelos, do Musteriense. A arte pléstica viria muito depois A. ginese da arte pré-histérica, o proceso que couduzitt 2 sua apa- 0, s6 podem ser conjecturados. G.-H. Luquet é de opiniao, ¢ os seus argumentos-siio aceitiveis, de que a mais antiga arte figurada nasceu ce mosma manieira que nasce « arte infantil. Tara havet aute figured, ‘sto &, eprodusio intencional de simulacros de objectos reaisn, & necessé. rio existir o desejo dessa produgio e a consciéncia de que & possivel rea- izle. Como podia o bomem saber que era capex de exeeutar obtas de arte figurativa se numca as fizera antes? E, por outro lado, como desco- briu que as suas mos tinham @ possibilidade de representar 0 que os seus -olhos viam? O acaso é eriador, e foi o acaso 0 mestre do homem que pri- miciro desenbou seres on objectos visiveis, gue de uiia semelhanga for- ‘tite pessou 2 um realisme inteneional. A atte decorative e, anteriormente, © sentido das formas, tinham surgido havia muitos milhares de anos antes da arte figurativa, Nao parece que os desenhos figurados tenham derivado das Tinhas orvamen- ais, A sua origem deve buscar-se em linhas tragadas sem qualquer inten- so, feitas pelo gosto de riscar;inicialmente nem eram parn decorer, nem ara representar qualquer coisa Logo no comeso do periodo Aurinkacense, sio nuimerosos esses ris- os ditados pelo prazer infantil de gostar a actividade exuberante, de afirmac-se, de brinear. Na argila que forra as paredes de virias grutas coitio habitadas, aparecem riseadelas feitas com os dedes, ora coufusas, ‘ora cruzadas, em linhas paralelas herizontais ou verticais, Outras vezes formam meandros, ctrvas. (paralelas, serpentinas, em espiral, enteela- -gadas), feitas geralinente com trés devdos on com instrumento semelhante a um garfo, fabricado de algum ramo de drvore, ‘So linhas sem qualquer siguifieaglo figurada, como no a tém os primeizos rabiscos das eriangas, Mas os siscos voluntérios toruam-se eada vez mais complicados © numerosos: os seus autores achavam graga & bbrincadeira, divertirem-se multiplicando-os, até que... Eitio a arte figu- sativa nascen. A comparasio de rabiscos tragndos por erianeas actuais com 0s mais, santigos desenhos» do Aurinhacense permitiy estabeleccr a hipétese indi- cada, pois nuns ¢ noutros hf aspectos semelhantes que nfo podem ser ‘explicados de maneira mais satisfatéria Uma fase em que foram produzidas imagens, or acaso, sem inten- $40, precedeu a execugio voluntévia de imagens de objectos. mH Para se executar intencionalmente uma obra figureda (deseuho, gra- ‘vara, pintura) & necessirio scutir 0 desejo de execnti-la (porque se bém alguma vautagem ow algum prazex) —c ter fein da maueira como fasflo, Desde que o individuo realizou o primeiro trabalho pléstioo « gos- wu de fart-lo, tcadert a xecomegar para repetic © prasor. Kets prazer sf se manifesta durante ou depois da execugto, nunea Ihe € anterior. «0 indi- duo que silo produzin ainda qualquer obra figurada nio pode suspeitar 6 prazer que Ihe causaré esta produslo e portanto nfo pode ter a intengio de faxtln, Dagui resulta que a primeira representaglo figurada nto pode ter sido uma criagdo intencional; ¢ @ primeira exeeusio de una obra figurada prdpriamente dita ou intencional nfo pode ter sido senfo a repe- tigio voluntéria de ums aetividade que, se produzin de facto wma imagen, a produzi por acaro e nio de propésito. © sbmente em seguida a esta produsfo fortuita, se ela se revelon vantajose on agradavel, que pode rascer 0 desejo da eriagio intencionaly (Laquet). Mesmo que mio tomemos em consideragio os elementos afectivos (agrado, prazer, ete.) da produsio figurada e encaremos agenas os ele- aentos intelectisis (iden de poder criar imagens), cheyamos & mesma conclusio. A exeeusio de qualquer obra figurada & um trabalho que, por moti- ficar a forma de deteriainada matéria, se deve considerar uma actividade industrial ctiadora de imagens, «ebjectos ficticios cujo aspecto se asse- rnelne aquele que apresentam naturalmente certos seres ow objectos reais, rio seu conjunto ow por tal das seus tragos earactersticose, As idelas de indistria ¢ de semelhanga combinam-se uo esptrito do artista, que tem tentie a consciéncia do seu poder criador de imagens; € porque tem esta conseidncia que far a execusio voluntéria earacteristica da arte. Citendo ovamente Luguet; 8 intengio de fazer um deseuho fignrado suze figuma coisa mais que a ideia desta indistria determinada que coasiste fem tragar linbas ¢ a ideia de semelhanga. O individuo que quer desenbar, Aleve além disso saber-se ow julgar-se capaz de tragar riscos que fagm roma imager, ter a consciéncia, legitima ou iluséria, de possuir o que chamarei a faculdade geéfics "As eriangas s6 adquizei esta conscitncia depois de terem feito zabis- cos a0 acaso, nos quais descobrem mais tarde seiethangas com cbjectes familiares inicalmente uo tinham « intengio de tragar imagens. ‘A eriauga mese em tudo e um dos seus prazeres € 0 de passat os dedos sujos pelas superticies onde pode deixar vestfgios vishveis oe abisoos desta espécie os mais antigos deseuhios do Aurinhacense; os seus ‘autores 10 08 fizeram com 0 fito de representar fosse o que fosse. As Finhas alongam-se, eonplicam-se e tomam 0 caracteristico aspecto sinnoso ‘que Ihes faz dar a desiguasio de «macaronin. Algumas, por uma seme- Thanga fortuita, fazem Iembrar caberas ou corpos de animais. Tal seme- Thanga de acaso teria despertada a ideia de completi-la intencionalmente © até a de crid-la por completo, Ao descobrir que timha representado unt ‘objecta conhecide, sem dar por isso, o involuntério «artistas julgou-se zapaz de representar outzos ¢ fer 08 primelros desenhos premeditados, ‘grosseinfscimos, mas de formas jé recouhecfveis (grutas de Clotilde de Sania Isabel, de Quintanal, de Hornos, de Gargas, etc.), tragados com ‘um 36 dedo sobre 0 barro mole (© homem couhecera a sua capacidade de represeatar grificamente ‘outro ser; revelava-se a sua vocagio artistica. Os tragades digitsis sto andlogos As incisées (linhas ¢ pontos) riscadas sobre os utensilios com fins decorativos e a téenien do busil foi transplantada da arte ornamental para a arte figurada, Nascera a gravara. Em La Creze (Gontran) estio representadas estas fases: desenhos digitais, —incisOes paralelas (gra- vedas a buril) repetindo os desenhos digitais, ¢ silhuetas de varios ani- mais (de um s6 trago inciso) que parecem eépias das figuras tragadas a dedo. |A passagem dos tragados digitais para verdadeiros desenos revela-se claramente nas figuras pintadas a amarelo sobre a roca, em La Pilela (Mélega), Sio Tinhas parslelas, de comprimento variivel, rectilineas ou ceneutvadas, com ondulagées serpentiformes, TTragos isolados desenbant figuras de serpentes; riseos paralelos juntam-se, quer numa quer nontra das extremidades, em ponta afilada, Noutros casos uma das extremidades cengrossa, divide-se em dois lobos, como se fosse uma cabeca de cobra de boca aberta, por vezes com um risco a meio, correspondendo a lingua, Em Gergas (Altos Pirenéus) estes tragos combinam-se uns com 0s ‘outros, justapsem-se e formam um emaranhado que chega, aqui ali, a tomar o aspeato de vérios animais, Por esta transicZo, 2 tGenica dos ris- cos paralelos levou a execugio de figuras intencionalmente representadas, ‘ora cabesas, ora corpos inteizos, Os tragos paralelos unen-se ualguns pon- tos, foriando uma s6 Hinks, até que us ereacaroni» desaparecem © 0 con toro das figuras (cavalos, bois, corsas) & dado por um 86 trago. A arte principia por uma auto-imitacdo, pela repetigzo voluntiria dos movimentos dda mo que tinkam desenhado imagens por acaso. ‘Se 08 desenhos figurados nasceram dos tragados digitais, como expli- car estes filtimas? Como soube 9 homem que podia fazt-Jos? De mancira involuntivia: bastes vezes reparava nos suleos deixados pelos dedos a0 artancar o induto argiloso das cavernas ¢ ao agarrar-se A parede quando cescorregava, Ou alguma vez limpara A rocha os dedos sujos de barro, & vvira surgir uma imagem impressa das préprias mos. Esses sulcos ¢ dedadas fortuitos causariam prazer quase infantil, amas prazer de uma criacZo que o seu autor involuntério gostou de repetir (como fazem as eriangas a0 rabiscar infindivelmente sobre as paredes, a areia, paptis, barro, ete., com os primeiras objectos que encontrem © com os quais possam desenlar, pintar ot riscar). Sto satestados» de personalidade, afirmagées da vontade, equivalen- ‘es As assinaturas, palavras © desenhos com que certos individuos mer cam a sua passagem pelas paredes dos locais visitados. ‘Nilo esquegamos, por outro lado, que os poves paleoliticas eram caga- Gores, habituados decerto a distinguir e a seguir as pistas de diversos ani- ‘mais; 0 proprio homem ao andar on a0 rastejar nas passagens apertadas das grutas deixava pegadas ¢ outros vestigios de tragado eaprichoso, As imagens impressas sobre o solo mole, pelas patas de animais e pelas mios © pés humanos, despertaram 0 desejo de multiplici-les, Em varios locais foram descobertas marcas de mifos espalmadas, da época aurinhacense, deliberadamente impressas sobre a superficie rochosa. Usaram dois processes para as estampar: ora as aplicavam molhadas num Uquido colorido, ou sujas de terra hrémida, obtendo um decalque a cheia, ‘ora as colocavam sobre a pedra, projectando a cor em pb em torno dela (Gorgas, Altos Pirenéus) ow pintando a superficie cireundante (Cueve Aol Castillo). Foi este © processo mais vitlgar. O decalque (negetivo) ficava da cor uatral da terra ou da pedra que servia de fundo ¢ era limi- tado pela zona pintada, Na Cueva del Castillo hé cinguenta mis, orla- das de vermelho. A reprodugio destas mareas manuais € talvex a primeira forma, ¢ a ‘mais ficil, de desenho intcueional, puramente mesfinico, Assim 0 omem tomo vaga consciéncia da sua faculdade criadera de imagens, pelo menos da imagem da sua mio, tal como acontece entre as eriangas e poves pri- mitivos actuais. Depois 0 processo usou-se para a reprodugio de outras pastes dy op. Estes cuminhos, © outros que descouhecemos, foram provavelmente percarridos pelos artistas do Aurinhacense até 20 momento em que algus eles tiveram eapacidade para criar ontras imagens. «Toda a arte fign- ada estava af em embrido e este embrifo s6 esperava a oportunidade un | | | de desenvolver-se, Bastava que o individu, tendo verificado 0 seu poder de criar imagens de certos objectos, procurasse estender esse poder & produgio de imagens diferentes» (Luquet). ‘Do desenho de decalque se passou para o desenbo propriamente dito a mio estampada completa-se ¢ prolonga-se por um brago, pintado; os ‘ontornor retocamse 4 pincel, Him brove at mor asian copiadas do natural © esquematizeda Certamente a arte plistica nio foi logo de inicio caracterizada pels execugio de figuras inteiras sobre superficies nas. E ffeil © simples completar qualquer imagem fortuita, das muitas que naturalmente apa- roeem nas anfractuosidades rochosas ou em qualquer outra parte. Nas cobras da arte quaterniria bd mumeresos casos de aproveitamento de fiu- ras criadas caprichosamente pela nalureza, 3s quais se juntavam porme- nnores on se faziam correegées. Se os altos e baixos de uma rocha lembra- vam, por exemplo, dorsos ¢ lombos de animais conhecidos, 0 homem juntavalhes as pains ¢ a cabot, # a ntilizagto figurada de superficies {que tenbam parcsengs com as formas de quaisquer seres. Uma fenda on 1m fingulo sugerem silhuetas; bossas e manchas sugerem caberas € foci- hos: basta completé-los com algumas linhas suplementares A acentuagio voluntiria de imagens naturais, quando clas se asse- melham a objectos familiares a0 homem, evidencia-se também no Auri- tuhocense. Aproveitarau-se relevos, linhas, fracturas e manchas da pedra © até estalagmites; outras veves foram as pegadas, ou quaisquer marcas deixadas jnvoluntiriamente pelo homem (ao rastejar ou rogar pelas pare des, nas passagens estreitas, ete.) que serviram de base para o desenhio, Assim, por transigio, se chegou ao desenlio de figuras completas, infbeis e grosseizas a princfpio, mas premeditadas, sobre matérias des- ‘itwfdas de qualquer semelhanca superficial com o objecto representado, cou sobve superficies nuas nas quais nenkuma forma on linha se esbogava, antes do trabalho. ‘Tal acontece com 0 desenhador aprendiz que se exer cita a completar figuras j6 esbegadas mum exderno, para vir depois a dese- nh-las inteiramente sobre © papel em branco. ‘Tragados digitais em paredes de caverna; gravuras e esgrafitos em seixas, ossos ¢ chifre de rena; estatuetas; pinturas © baixos-relevos, cons fituem o patrimbnio artistico do Aurinhacense ‘Des riseos sobre o barro das mos estampadas em grande némero nas paredes de grutns francesas e espankiolas devem ter derivado as pri- amciras © ainda imprecisas silhuetas de animais (pintadas de amarelo, em 1La Pileia, Malaga) e depois as pinturas auténticas (rinoceroute de Fon!- 3H \e-Gawme, Franca). 0 melhor conjunto de pintura aurinbacense foi des- coberto em 1940, na gruta de Lascoux (Montignes, Dordogne, Franca) Embora alguns pré-historiadores julguem que as representagées no sejam. desta €poea, o abade Breuil, autoridade indiseutivel no campo do Paleo- Iitico, entende que se trata em grande parte de wm trabslho aurinhacense, executado durante um longo periodo (lembremoz que at diversas fasen do Paleoltico Superior duraram muitos séeulos) ¢ cujo estilo varion por- tanto através dos. tempos. Foram pintadas virias espécies de mamiferos: eabrasmonteses, cavalo, touros, veados, etc., a trago simples, para marcar os contoros, ot ss cheio (a uma s6 cor). As mais autigas figuras estio parcialmente reco- bertas por outras a ocre vermelho. Os animais encontramse isolados ou em grupos. Esta representagio de witias figuras combinadas mama cena de conjunto, marca o mascimento das mais antigas composicdes. No dade estética importante, porque nos mostra nto s6 a eapacidade de repre- sentar formas mas também a de combiné-las mum verdadeiro quadro, cembora simples e rudimentar. ‘A pintura aurinhacense de Lascaue €, sob muitos aspectos, superior is gravaras do mesmo periodo, Dai naseen a suposigio de que se tra fasse de ume obra mais recente. Hé pormenores (cascos, uarinas, pile pebras, ete.) que nfo aparecem nos animais gravados; estes, além disso, #€m um aspecto rfgido em contraste com © movimento dos que foram pintados na gruta. O artista abandonoa a pouco ¢ pouco alguns dos caracteres primitivos da representacio figurada: quadrtipedes 36 com daas patas (correspondentes 20 lado visto pelo observador), cabesas de frente em corpos de perfil, etc., ¢ deixou-nos belos desenhos em que as proporgées © a posigo dos membros ¢ da cabeca esto bem reproduzi- das. AS cores usedas foram 0 vermelho € © negro (mangenésio € cere) ‘Da gravura aurinhaccnse fiearam poucos vestigios. Na grutn de Pair-non-Pair (Gironde, Franga) bit animais gravalos sobre 2s rochasy 86 com os contornos marcados, mas reproduzidos com exactidtio; como cima dizemos notam-se virios anacronismos na representasio das patas € da cabegs. Noutros pontos (cavernas da Espanha meridional e de Baume de Latrone, Gard, em Franga, ete.) apareceram sithnetas isoladas ou entrecruzadas, sendo por veres dificil distinguir na confusio das Jinhas enoveladas wm contorno bem definido. Além desta arte rupestre cu parietal (assim chamada por desorar as paredes das grutas) bi gra- ‘yuras em pequenas pedras, 0550 ¢ marfim. A arte mobiliéris (aguels exjos produtos sio ficilmente transportiveis ou de redwridas dimensies), além ue | de alguns seixos e placas de wisto gravados, legownos bastdes de mar- fim, com decoragio geométrica, aderegos (colares, pingentes, cte., de natfim, osso, chifre, dentes, conchas « at€ vértebras de pelxes) que serviviam de edorno corporal, 20 lado da pinture epidérmica a ocr e mar ganésio. Mas o grupo de maior importineia na arte mobiliéia aurinha- ccnse 2 dar ortatnetas om valle redondo, Jé ac descobrisumn cxrca de sessenta, em varios pontos da Busopa muito dstanciados entre i, © sio fe materiais diversos: marfim de mamute, calirio, oseo, esteatite, ser pentina. Em Brassempouy (Londes, Eranga), Willondorf (Baise Aus- tria), Laussel (Dordogne, Franca), Grimaldi (Mentone, Itdlia}, Les- pague (Hante-Grronne, Prange), Linsenbere (Mogiincis, Alemanba), Kostionki (Réssia meional) e até em Malia (Irkutsk, Sibéria) apa. receram notiveis representagdes plsticas bumanas, de caricter rea- lista; ca arte eurinhacense’ fai sobretudo uma arte de eccultoress Cantir) AAs estatuetas, quase todas femininas, apresentamse mas om com ligeias indicagées' de aderesos; o8 membros e 3 figdes sto esbosados ssumiriamente, sem a preocupagte de indicar os tragos individunis. Os corpes de’ mulher aprescutam sinais de gravider on um acentmads exagero dos caracterestipieamente sesiais. Por este motivo tnis escuta ras foram tides por fdolos, imagens de wnia «deusa-mien, feitigo da fecundidade. Obesas, de volumosos scios ¢ exttaondinirio.deseavole- mento adiposo das nédegas (esteatopigia), parecem mulheres de raga bosauimane-hotentote. Por assim as considerarem, alguns antropologis- tas viram nelas miais uma prova da presenge de popmlagdes nogras: na Europa do Paleoitico Nesse caso o5 escultores no exagerarat os caracteres anatimicos, nem 0s estilizaram A sua manera, para representar 0 feitigo favorivel propagagio da espéie: limitaram-se a*eopiae os modelos que tinham A vatiedade dos corpos reprodusidos e as diferengas ontre as virias representagées do Aurinhacense seriam wna prova da fideidade obser vada peles artistas ao esculpirem e gravarem as formas e volumes pré- prios dos seus irmios de vaca. Assim as chamadas «Vénus hotentotes» desta época seriam seépias» fis de compos femmininos (Pittara) (© abade Breuil ¢ a maioria dos présistoriadores so doutra opinio, suptem que tas figuras no correspondem a tipos reais, sio sidealiza- dase: ter-seia cviado uma tradigio artistca Higada «a pensomentes rel tivos ao culto da feeundidaden, c as estatuetas esteatopigias, de resto em nitmero reduzido, seriam «deformagies» de caricter religioso primitivo, 5 imagens simbilicas da maternidede fecunda, nao representavam caructe- Tistiens racinis. Os aurinhaceases, como alguns primitivos actuals, ari bbuiriam um sentido especial as formas opulentas tpicamente femi- ‘Nao se limitaram 2 egenttura em sateriais duros. Tambésn modela- rain figuras de berro. Em Wisternitz (Morvia) foi descents jr Abso- fon mais de wma centena de pequenas figurinhas de homens © & aniamas. Para fabricar a massa de modelar reduziram a pb ossos queimados e mis- travamno com loess» (terra fina amarcloacastanhada, geralmente dlepositada pelo vento). Amassavam tudo até obterem uma pasta de con- sisténcia suficiente para a modslagio; as estatuetas cram depois endure: cides 20 lume, Sio muito grosseiras, mas distinguem-se perfeitamente as espécies auimais representadas: cavalos, manmtes, rinocerontes, wr 0s, ete, No Paleolitico, fora do Aurikacense, slo rarissimas as cscul- turas em vullo redondo e nunca mais se manifeston o mesmo interesse ela reprodugio, em relevo, das formas humanas. Os beixos-relevos, de pedza e de barro, constituem outra manifesta- io de actividade artistica inédita, Em Loussel (Dordogne) encostcaran- “Se relevos de pedra de gue os mais cflebres 0 os da Fennme d la corns @-0 do Tireur d’Are. Estavam pintados, inialmente, a ocre vermelho. © primeiro, de q6 cm. de altura, representa uma amuther mua de ancas larguissimas, de frente e de pé, com um chifre de bisio na mio direite. (0 segundo, de 47 em. de altura, caja parte superior desapareceu, € o de tum Homem de perfil, parecendo langar um dardo; as formas sto bem proporeionadas, sem moassas adiposas. "As pesas gravadas abundam na iiltima fase do Aurinhacense: places de sisto com gravaras de animais (bisdes, corsas, cavelos, rivocerontes, © até um urso atscando um homem, enquanto outro acode a socorr®- slo, ete.) encontraram-se em Gargas, Brise (Corrése, Frausa); Sergeac (Dordogne, Bransa), Porpallé (Volncia, Espanba) © noutros locis Foi assombrosa a perfeigio atingida por estes artistas € por outros de todo 0 Paleoitico Superior, pela simplicidade dos meios de que dis- phan para trabalhar os diversos materiais utilizados. ‘Tanto para fazer fe eetatuetas em vnlto redondo, coma para exesutar os baixos-relevos € a8 decoragies geométzieas, em pedra, marfim, asso, chifre, ee., dispanham Simplesiente de Itminas e buris de slex, com os quais eseulpiam, potiam fe gravavam. As dificuldades opostas pelas matérins duras foram veuci- ‘das com o snfaimo instrumental artistico que € possfvel imaginar. Da caltura Solutvense, euja fren € reduzide, sto pouco numerosas ee as obras de arte. As suas estagdes encontram-se dispersas desde a Hun- gria até 8 Espenha, ¢ julga.se que vieram do oriente da Europa 03 povos que com «prodigiosa habilidades fizeram os melhores trabalhos de silex: as too 0 Paleolttico. Jé nos referimos as célebres folhas de loureiron ¢ outras Iéminas, que pela espessura extrema e finura de contornos so verdadeitas obras de arte abtidne por wma téenioa paciente ¢ difiefima. Quanto as artes plisticss, a sua contribuieto & inferior & de aurinhacen= ses c madalenenses, Blocos,esculpidos, em alto ¢ baixo-releve, gravuras patietais ¢ em cso © chifse, 80 até je an abraspliticas onhesdas he Solon, Em Solutré (Branca), Roc (Charente, Franga), Fourneau du Diable (Dordogne, Franca), foram encontrados altos-relevos © gravuras: cer~ videos, cavalos, bisdes, um homem perseguido por um boi almiscerado, touros. Na gruta de a Gréze (Dordogne) hf gravures parietais cujo estilo parece aurinhacense; em Lacave, Lespuigue © Laugerie-Haute (Pranga) aparcceram pegas de arte mobiliéria: gravuras em 0390, chi- fre ¢ pedra (caboga de antilope, peixe, ete.). Estes artistas sentiram-se atrafdos pelos relevos (no se interessaram pela pintura) e os tipos ani- ‘mais apresentam boas qualidades de movimento e de forea, esto bem observades. 0 animal que dai em diate ccupari o primeiro lugar na atengio dos gravadores ¢ pintores. A obra-prima da arte plistica solu- trense, compardvel 4s boas obras madalexenses, foi descuberta no sai ‘twirio-oficina de Le Roc, enjo fundo em hemicielo tinha um friso de bovi- cos, cabras monteses © outros mamiferos isolados, combatendo, corrende ‘ou pastando (cabega de bisio e pequeno cavalo) A terceira das grandes culturas do Paleolttico Superior foi, sob mui- tos aspectos, a mais notivel pela actividade artistica. Sem divida & do ‘Madalenense, 0 melhor, o mais caracterfstieo © o mais variado da arte quaterniria; embora aparegam trabalhos medioeres, abundam os de cate- goria superior © que merecem sem restrigées o nome de obras-primas, Raramente se encontrot tal certera e precisio a0 graver contornos, tal seguranga de mio em artistas plisticos, sobretudo nas primeiras fases deste petiodo, no qual demoustraram igual mestria tanto 11a arte mobi- lifria como na arte rupestre. Na gravura continueram ¢ excederam 0 4que fora criado anteriormente. Os eavalos ¢ cisues do bastio de Teyfat (Derdoge) sind apes eta sge,tenperda pele inten de marear os tragos significativos do animal, mas os veados atravessando um rincho onde nadam salmées, da placa de Lorthet (Allos Pirenéus, Franga) tm a flexibilidade e a elegincia préprins da sua espScie, Em a ‘qvupo ott isolados, parados on em movimento, estes animais foram repro diazides com preciso quase fotogritfica, Conforme a sua natureza técnica on artistica, as obras da arte mobi- Iiéria podent classifiear-se nos seguintes grupos (Breuil): a) esculturas Iumanas, em valto edondo; b) esculturas animais: em vulto redondos de couluruuy secortados; em alto-relevo; em baino-relewo; ¢) grawmras a ‘irago: em pedra, em osses nfo trabalhados; em objectos mamufacturados; 4) gravuras decorativas derivadas, no todo ou em parte, de figuras; ‘¢) esculturas ou gravuras decorativas de origem t€enica, directa ou indi- recta. “sta classificagio aplica-se em especial ao Madalenense porque foi ‘a €poca sta qual as manifestagses artisticas ofereceram maior variedade. ‘A escultura de vulto redondo 6 rara e os melhores trabalhos sio os relevos de algons punkais e propulsores, cabecas de cavalo ¢ de cavalo telinchando de Mas-d’Acil (Aritge, Franga); vitora de Lortet © cavalo de Les Espélugues, ete., pegas que E, Pittard considera realizadas ape- nias por finalidade artfstica, para criar belera ¢ conservar «a atitude de tum momentos, paras manifestagies estéticas, como tantas outras do Madalenense. Diferengas nitidas sepsram esta arte das precedentes: a3 ‘representagdes humanas ¢ sexuais do Aurinlacense sio substitufdas por cenas migicas decorando 05 abjectos ¢ os locais do culto. ‘Transformagies fqne correspondem a mudangas profundas na statureza © nos costumes das populagies quaternfrias, Entre as esculturas do Madafenense encon- teanvse estatuetas femininas simplificadas (Alemanha Ocidental) cabe- ges bumanas, interpretagdes fGlieas, etc. A estatwéria animal deixou-nos fuitissimas obras de maefim, pedra, 0590, chilre, Ambar. As renas de Bruniguel (macho perseguindo a {6mea), esculpidas na ponte de wina defesa de mamute, 0 bisio voltando a cabeca, de le Madeleine, sto pesas notiveis. (Os baixos-rcleves esto bem representados. O friso dos cavalos de Cap Blanc (Les Eysies) € um trabalho monumental (alguns animais em mais de dois metres) realizado sobre uma falésia caleéria; os corps foram escuipidos euidadosamente, as proporgtes © volumes sito exactos. Na gruta de Tuc @’Audoubert (Aridge, Pranga), a 700 metros da ‘entrada, numa eimara quase completamente fechada por stalactites, foram encontrados dois bisses, macho e femea, em relevo, de 63 centi- ‘metros, modelades em barro e apoiados a una laje. O pescogo do bisto femea & muito saliente, os chifres e a cauda, perfeitamente destacados do fundo. Junto estava a estatueta (1x3 em.) de outro bisto. Em Montes- aos paw (Saint-Geudens, Hente-Garonne) descobriram-se cinco esculturas de animais, também modeladas em argila. Um felino (2%,60%0%,70) encos- tado a parede; um cavalo selvagem, um urso (1%,r0%0",60), ete. O atime tinka uma cabega auténtica, mumifieada decerto, © 0 corpo era coberto por uma pele desse animal, para dar maior veracidade 2 representacto. “Fodos mostram aumerosoe orificios os corpos, parecendo que foram crivedos de azaguias. Provivelmente as escultures destinavam-se a ceri- auénias de matansa simolada, de caricter mégico © simbélico. Outros relevos zoomérficos aparecem em lajes de peda, em roches soltas, ete AAs figuras de homens sto zaras e de qualidade artistica inferior. A escul- tra de contornos recortados (Bisio de Isturits) & afinal gravura, mais que escultura achatada, Bisées, cabesas de cavalo, peixes, talhavam-se ageralmente em fragmentos de omoplatas ¢ de ossas da bacia, «mostrando sro mfnimo de espessura um méximo de beleza» (Lantier). Os baixos- -relevos so pouco acentuades: depois da imagem gravada por completo, raspava-se a periferia. As obras monumentais, como o friso de cavalos de Cap Blanc, sio relativamente raras no Madatenense: a maioria dos baixos- -relevos ¢ imagens & de pequenas dimensées. ‘A gravura em osco apresenta-se mais ficil e mais diffell que a gra- vora em pedra. Mais ffeil porque o material € menos duro; mais dificil; argue hi poncos assos planos e quase todos oferecem estreitas superfi- cies cilindricas ou semicilindricas onde o desenko se toma impreciso ¢ confuso, exigindo esforeos prolongados ¢ uma adaptagio difieil do tragaéo. ‘ara as gravuras em 03308 nfo trabalhados usaram-se em regra ossas ela tos ¢ lisos de grandes mamiferos : omoplatas, oss0s ilfacos, frontais, cos- telas e até hastes de rena e defesas de mamute (esenhos de cavalos, renas, ceabegas de corgas, mamutes, ete.) A colecgho mais interessante de ossos gravados encontron-se em Mas-d’Azil, onde num pequeno espago apare- ceram auumeroses omoplatas gravadas que, segundo 0 ebade Breuil, for- mariam um depésito seunido voluntiriamente, espésie de abiblioteca de artes, de escola de artista ou de pequeno saatuirio portitil Abundam mais as grayuras em objectos manufacturados (armas, vensios, aderegas). A maioria deles apresenta superficies estreitus slongadas, cilindricas ou rectangulares:: bastdes, propulsores, pontas de dardo, cinztis, aleapremas, etc. Os objectos espalmados, de superficie relativamente larga, sio reduzidos: espitulas, alisadores, botées, ete. Para se adapiar a esses espagos apertades e de contornos variados, o desenho ou se tornou mindsculo ow sofren grandes deformagées; as figu- ras chegam a ser fragmentadas para caberem nesses limites (grava-ce 9 apenas a cabega, as patas om wma parte da silltueta dos animais, etc.). ‘A reprodugdo naturalista degenerou pela acgio de dois factores: « esque ratizagio ¢ a estiligago (R. Lantier). A esquematizagio & provecada por ssrcunstincias acidentais: execugio apressada ¢ falta de jeito, 2 junta- remse As dificuldades oferecidas pelas superficies a decorar. As linhas du modelo figuredo foram simplificadas ¢ deformadas. A. estilizasdo obe- dece a intengées estéticas: gosto pela simetria e pelo ritmo, ou por efeitos considerados mais agradéveis & vista ‘A alteragio ou degeneresctncia das formas naturais reproduzidas cada vez maior e mais répida & medida que se perde de vista 0 motivo original. Bste pode ser completamente esquecido ¢ os decoradores, sem conhecerem a signifieagio das formas modificedas, copiam-nas por roti- nna, e alteram-nas por sua conta, Deste modo se explica que um veado fique redusido a uma meia clipse (os chifres) ligade a um traco hori- zontal (0 tronco) sobre quatro riscos verticais (as pernas)... Vérias eabe- gas de animais, Indo a lado, acabaram por formar wm motivo ondulante. Os clementos da arte realista despersonalizam-se (Breuil) na arte oria- rental ¢ torsam-se motivas que se acomodam is formas do cbjecto (cabe- sas de cervideos chegaram, em instrumentos afilados, a estirar-se ¢ sim- lificar-se até parecerem cenouras ou beterrabas) se combinane extze si Tiveemente, Partes do corpo de animais (olhos, tufos de péles, manchas -da pele, orelhas, chifres, patas, etc.) deram temas independentes enjos desenos, degenerados e interpretados de todas as maneiras, vém a for- nar pues conjontos geométriens, Os derivados oraamentais e estilizados da arte realista (Breuil) dominario a arte do Madalenense final. ‘A.arte decorativa, muito rica, é de origem figurada ¢ de origem tée- nica, Até agora referimosnos a arte naturalista, em que os seres se repre seatam segundo certas convenes de um realismo visual, para fiearem de aparéncia semelhante & que possuem a nossos olhos. Os animais eram pin- tados e gravados para daremt a ilusio de auténticos e vives. O homem ‘ido se limita porém a este tipo de representagdes. No Paleolitico Supe- rior, e sobretudo no Madalenense, surgem outros elementos gréficos, Figurados conforme uma representagao abstracta, de realismo Anllectual. ©) artista no representa os ebjectos tais como eles aparecem & sua vista ras como 05 conhece no seu espitite: simplifica-os ¢ redu-los a poucos ‘ragos adescvitivoss, segundo um «modelo interno», a representagio espi- ritual. Bsses tragos tomam depois earfcter ornamental © agrupastse ‘em decoragées ricas e complexas de aparéneia geométriea (Breuil). As figuras csquemétiens sio irreconheciveis quase sempre: apetias 0 autor a | poderia dizer 0 que elas representam, $6 recouhecemes os originais quando descobrimos as echavess das formas enigmsticas, isto & as formas a meio caminho entre o realismo e o esquematismo absolute, Por ‘ex.: Mf dbjectos com trés cabegas de touro: uma bem reproduzida, outra simplificada ¢ outra reduzida a alguns riscos. Se a filtima nto estivesse Junto das primeiras nio a compreeuderiamos. Os simbolos erificos so impenetriveis sem o conhecimento de desenhos menos abstracts que per- ‘mitam interpreti-los. So sfmbolas ideogréficos de véxia sigaificagto: ‘um fuso com riscos longitudinais ou ponteado, tanto pode ser um olho, como um peixe, como o simbolo de uma ferida, ete. © abade Breuil chamou a ateneio para uma forma de arte decorativa -de origem técnica e na qual esto compreendidas duas eategorias de objec- tos: agueles enja decorayio derivou directamente da prépria técnica do trabalho do marfim © do oss0, ¢ outros cujos motivos figuram objectos ‘manufacturados ou sio inspirados pela imitagio gréfiea de técnicas dife rentes: cordoaria, cestaria, tecelagem, ete. Para fabricar utensflios de osso, erion-se uma técnica enjos processos cessenciais foram resumidos por Breuil: corte transversal; corte longi- tudinal; sbertura de orificios; modifieagtes das extremidades (pontas, arbelas, ete.); formacio de saliéncias Iaterais; escultura a buril (bar. belas dos arpaes). Cada operagdo de fabrico deixava vestigios de aspecto diferente ua superficie da matéria fssen (riseos Jongitndinais, efreulos, linhas que- bradas, obliquas, em ziguezague, etc., ete.). O artifice aproveiton e modi- ficou tais linhas © incisdes, para fins decoratives, tornando-as regula ves, combinado-as € introduzindo nos tragos acidentais uma ordem © um sitmo. E assim do movimento regular dos instrumentos de trabalho toda, uma série de efeitos artistices viria a nascer sentimento artfstieo despertado durante o trabalho de execusio de utensilios € idéntico ao que levara os homens do Paleolftico Inferior talhar 0s coup-de-poing © Itminas de formas harmoniosas e contorsios simétricos. «Hi sempre um elemento de arte que desperta em todo 0 tra- ‘balho t€enico feito com gosto por um hom artifices. (Breuil) Os objectos utilitarios ganharam carcter artistico © os jogos e com- Dinagdes de links passaram para os aderegos: pingentes, colares, pul- seiras, ete. Foi uma arte geométriea de longa @uragdo: iria man- terse par muitos séenlos depois do Paleolitico, em virias regites da Europa. Ontras formas decorativas derivaram, on da imitagto grifiea de —3r— séenicas alheias a0 trabalho das matéri manufacturados. No Paleolitico Superior, com toda a probabilidade, fabricavam-se correias, cordas, sacos, cestos ¢ até reds, de cabelos e fibras vegetais ou ontras, Em muitos instrumentos do Awrinhacense e do Madalenense estio, gravadas, em eleva ou em vazado, riscos «fingindos os eordéis e linhas que deviam enrolar-se & sua volta, Dal, ¢ da imitagio de costuras, de mathas de redes e sobretudo de virios tipos de atecidov da cestaria, deri- varam decoragdes geométricas que se desenvolveram livremente © por largo tempo. Entre a3 decoragies provenientes da oGpia de objectos manufactu- rados so mais vulgares as de flechas (geralmente esquematizadas por wm V deitado ou por um V com um trago inediano), de dardos, de ar ppées, de arcos (para disparar as flechas), de cabanas, de aderegos, ete. ‘Mas estes motives ndo tiveram a importincia decorativa dos anteriores. A arte mobiliria esquemftica do Paleotitico esteve de inicio dominada pelos esquemas primitivos de um realismo intelectual, criador de imagens simplificadas, reduzidas a poucos tragos, ¢ cujos elementos dispersos se confundiriam na decoragio geométrica. Nas ‘iltimas fases do Madale- sense predomina a arte. decorativa oriunda da lenta degenereseéncia de ‘motives naturalistas; esquemas de antigas representagdes realistas defor- madas no decorrer dos tempos até se tornarem irreconhectveis. Os dois ‘ipos de esquematisme tiveram origens diversas e desenvolveram-se em Epocas diferentes; mais tarde cruzaram-se € combinaram-se até ao ponto de ser 10 couhecer a origem provivel da decoraeo de mmmerosas esas. Os desenhos tornam-se rotinciros, as figuras realistas transfor- imam-se ein simples ornamentos incompreensfveis, sem nenbum eontetdo, ou funda ideogrifico (Obermaier) ‘A otuamentagio nio era aplicada indiferentemente a quaisquer objectos. Todos os que se perdessem com facilidade (pontas de seta, ele.) fon se deteriorassem em pouco tempo (instrumentos para traballios vio- Jentos) ficaram exclufdos, a nfo ser que estivessem destinados a fins ndgicos. ‘Nos objector de maior valor estimativo (amuletos, pegas de cardcter Aecorative, aderegos, etc.) ow usados para trabalhos ligeiros, se exerceu de preferBncia a gctividade dos decoradores mmadalenenses. A beleza © a virtude magica interessaram de igual modo ao homem, neste momento da arte pré-histérica. Causa estranhoza 0 facto de se encontrar emt pedagos a maior parte Gsseas, ou da cbpia de objectos re as obras da arte mobiliéria, tanto as gravuras como as esculturas. ‘A destruigio foi volantézia eos fragmentos encontram-se dispersos. Admi- te-se que tenbam sido destruigdes situais, ligadas a crengas primitivas, efeetuadas logo a seguir 2 morte do proprieticio, ‘A rea de reparticio da arte pr&histérica corresponde ao Sudoeste da Europa. As obras da arte mobiligria aparecem desde a Bélgica & Suiga; s arte rupestre eat Jocalizada no Sudoeste da Franga e na Espanka ‘A arte rupestre ou parictal do Paleolitico Superior foi durante muito tempo negada pelos maiores pré-historiadares. Quando se descobriram as primeiras cavernas decorates, a beleza invulgar de algumas pinturas ‘provecout unt movimento de descrenga. Poucos admitiam que j@ existissem pintores tio excepcionais, algumas dezenas de milhar de anos antes de Cristo. Como poderiam homens selvagens e primitivos desenhar tio bem? Eira decerto uma falsficagio! Porém as provas de autenticidade acum Jaranise: surgiam mais ¢ mais paredes com figuras, cobertas por depé- silos geolégicos quaternérios ou debaixo de estrates intactos da époea paleolitica, ete. Em 1875, Marcelino de Santuola comepara algumas esca- vagées na gruta de ditamira; quatro anos mais tarde, quando brincava dentro da caverna, @ sua filha Maria, ainda pequenita, ao olbar para a abobada, descobria as grandes pinturas da «Capela Sistina da arte qua- ‘ernirian, como Ihes chamou Décheletts. Mas s6 em 1901 05 sibios reco- nheceram untnimemente a antiguidade destas manifestagdes artisticas as atribusram a0 Poleoitico. Foi a descoberta das grutas de Combacelles ¢ de Font-de-Gaume (Les Eysies) que decidin a questio. Os achados amultiplicam-se: até 1951 J s¢ coulteciam 73 grutas e abrigas ornados de inturas, no contanda 06 sitios abertos. Sao todas gratas caleirias {excepto uma) ¢ encontram-se, ua maioria, no Norte da Espanha ¢ Sudoeste da Franga. Basta dizer que, enquanto nos Pirenéus Centébricos ha a4, na Dordogne, 18 e na regido do Arige, 7, nouteas regiées nunca ‘se encontram mais de 4, 2 om 1. Estes sio os locais explorados; outros se vio descobrindo, além de restos e vestigios de muites mais pinturas _gravuras que, por se excontrarem em cavernas de humidade varidvel, ow ao ar livre, foram destruidas quase totalmente (Lo Ferrassie, Lougerie- Haute, Loussel, ete.). ima secautes profundos das cavernas, oo artistes gravasans, com aii ces ¢ ossos pontiagudos, figuras de animais, on esculpiram-nas, na roche, no solo ou no barro, Outras vezes modelaram a axgila ou pintaram as paredes e tectos das suas easas subterrfneas (talvez temples primitivos?). Por comparagio com objectos da arte mobiliéria euja época seja a conhecida, © ainda por outros provessos que sto da competéncia dos pré- -historiadores, foi possivel datar as pinturas e relevos rupestres, com varios estilos ¢ vérios centros de difusio, cada wm com as suas préprias téenicas picturais e concepgies de desenbo. abade Breuil divide a arte rupestre paleolitica em dois ciclos dife- renles: um até a0 Soluirense, outro desde o apogen do Solutrense até ao final do Madalenense. A selativa uniformidade das decoragdes explicar-se-ia por razdes de ordem social, religiosa e artistica. Como poderia haver tanta semelhanga nia evolugdo da pintura em regites afastadissimas umas das outras (cet- tuo da Frauga, Pizenéus, Montes Cantibricos, Andalusia, etc.), s¢ 10 hhouvesse uma certa unidade espiritual? A arte do Paleolttico € essencialmente a de povos primitives que apenas sio capazes de estabelecer legos mentais entre um objecto © una reprodugdo quase fotogrifica dele. Esta arte «naturalist» criow autén- ticos sinstantineos+ de animais, desde os mais perfeitos, de auténticos artistas, até aos mais triviais, a lembrar a produgfo em série © eomer~ cializada da nossa época. Posteriormente pintusn toma feigio simbélica; a arte deixa de estar dizigida para a representagio quase fologrifica, volta-se para a cringio de imagens significativas, esqueméticas, abstractas por vezes, verdadeiros conjuntos de desenhos geométricos, © desenvolvimento intelectual tornou possivel este passo: os proces- 505 mentais tornam-se mais complicados, as imagens verbais (relagio palavra-objecto) multiplicam-se e a rario ir vagarosamente dominando alguns sectores do comportamento irracional. Os traballos artfsticos revelam grande mestria; € inegiivel que muitos agrupamentos paleo- liticos possuiram artistas talentosos ¢ exercitados. A tendéncia para o desenho convencional manifesta-se mais tarde na Europa oriental © 1a Espanha; noutros pontos © naturalismo dominou até ao fim do Plis- toceno € depois dete. Quando a floresta invadiu a estepe, no fim da Idade Clacifvia, a magia dos cagadores tornow-se intil: © hisfio, a xena ¢ 0 mamute desa- pareceram e, com eles, os Madalenenses e a sua arte Besta foi o aspecto usin importuute da cullass espisitusd do Palco Mtico Superior. A beleza de grande mimero de obras foi louvada por exi- -gentes eriticos contemporineos e parece que ao lado das manifestagtes artisticas plésticas também surgiram outras de caricter musical, dado aparecimento de pequenos instrumentos de sopro, feitos de osso. ve | | | | | © fim migico, utilitirio € prosaico da arte das cavernas, nfo excluia © prazer de executar esses primitives trabalhas com o sentimento agra divel, # satisfagIo de eembelezar» a obra que caracteriza a eriagdo esté- tica. © euidado posto na execugio 6 revelador de verdadeito interesse, indica alguma coisa semelhante Aguilo que se chamaré, muitos séeulos nis tarde, 9 gosto da arte pela arte. ‘Tal arte mégica prova indirectamente o apreso em que foi tida nes- tas sociedades primitivas, para as quais o artista possuia uma capacidade criadora maravilhosa, ao fazer surgir, pela feitigaria das suas imios, os animais de que dependia a subsisténcia de todos. O animal desenhado ere o eduplon de um animal verdadeiro que ficava assim 506 0 dominio de quem o fizera, para dar a came, para se tornar inofensivo, para ser casado mais ficilmente on, simplesmente, afugentado. A perfcia revelada na perfeigao de grande mimero de obras 96 podia aleaugar-se por longa pritica, por um exercicio constaute de habitidades excepeionais, por uma especializagfo, numa palavra, En- quanto pintavam, outros homens cagavam para eles; 0 quinhiio dos des- ojos era o prémio de uma actividade cuja utilidade era reconhecida pela tribe, pois os ritos migicos garantiam © sustento colectivo, O artista -feiticeiro era personagem importante ¢ euja acgio todos temiam; por ‘muito tempo se conservaria entregue as suas tarefas absorventes nos ecessos mais ocultos das grutas, sem que Ihe faltassem porventure os ‘melhores pedagos das presas tio duramente abatidas pelos companheizos. As magistrais pinturas © gravuras exigiam uma longa e lenta prepa- ragio, além da capacidade artistica indispensivel; em Limewil (Dor- dogne) apareceram lascas € seixos com rabiscos, que parecem estudos de uma aula de desenho, por vezes até corrigidos por mio diferente, como de professor emendando o trabalho dos ahinos, folhas de um «ca. dernos de exerefeios escolares. Assim discernimos obscuramente © aparecimente dos primeiros cspecialistas—dos primeiros homens 2 serem sustentados com 0 exte- dente social dos géneros alimenticios, para obter os quis nfo deram con- Aribuigio directa. Mas decerto os Madalenenses consideravam a sta contvibuigie nuigiea tio importante como a agadeza viswal do que segue ‘uma pista, como a pontaria do arqueito ¢ a intrepidez do eagadors. (G. Childe). E para explicar o fim repentino desta arte exeepcional o notivel arquedlogo continua: «As prerrogativas exondmicas do feiticeizo especializado assentam em superstig2o socialmente sancionada. Mas © cexcedente de gue © magico assim se apropriava 6 se conseguia porque a ne esse tempo as terras e os rios regurgitavam, de maneira excepcional, de caga e de pescarias, A perfeigio excepcional de virias obras testemunha, por um lado, que o ator seutia um verdadeiro prazer estético em exe- cuté-las e, por outro, que o meio social em que vivia era favoravel a tais trabalhos, assegurando @ subsisténcia aos artistas, dando-Ihes um papel iuiportante no grupo, lbertando-oa da preocupasio « dos periges de bn caren alimento. © homem tinha desenvolvido belas faculdades de obser~ vvagio e de meméria, exercitadas pelas actividades da caga primitive que exigiam uma acco rapida e uma visto ainda mais répida, sem as quais do poieria sobreviver. Bm contacto difrio com os animais viw-lhes bem as formas, edecorou-as» por assim dizer, até nas variagSes mais fagazes, nos movimentos mais velozes; se nfo tivesse uma tio rica coleesio de imagens visuais como poderia ter pintado com tal verdade que alguns ‘isdes ¢ cavalos parecem ter sido fotografados por wm aperelho de fil- mat? Poucos homens dos nossos dias possuem uma visio capaz de veap- turare tio hem as fases sucessivas e as diversas posigées relativas dos membros ¢ do corpo de um animal a galope ou em luta viotenta Breuil admite a existéncia de auténticos seminitios de artistas— iticeiros decerto— que teriam criado e mantido uma verdadeira ortodoxia artistica, A arte tinha um papel predominante na vida social dos povos tagadores. Jé falémos da origem provivel da arte figurativa. Mas ‘nfo foi apenas pela satisfagio pessoal de pintar ow gravar animais que p artista deooroa as cavernas. Aproveitando o gosto da «arte pela arten, manifestam-se plisticamente as preocapagtes migicas. Arte e magia no se contradizem mas completam-se. Se nem todas as figuras cram ditadas pela intensio de exercer priticas de feitigaria, € bem evidente, ‘por outro lado, que certas trabalhos levaram nnuito tempo a realizar, foram obra de eespecialistass, sustentados pelos seus companheiros, exe- ceutando obras de interesse colectivo. Ora o interesse fundamental pare tais homens residia na caga, de qual dependiam 0 sustento colectivo © destruigdo dos animais malfazejos. Mas quais as relagies entre 2 arte € a feitigaria? As figurages inicialmente desinteressadas passaram mais tarde a ter um destino mégico. Os homens descobriram que possuiam = caps cidade de criar simulacros dos seres, de fazer imagens ¢ foi como se de repente sentissem a revelagto de um poder desconhecido, eriador € milegroso, Para os primitives a imagem artificial confunde-se com o objecto real comrespoudente (Luguet)- Quando pintava um animal, 6 artista paleoltico julgava poder dominar o animal de carne © 08503 20 —36— vepresentar um hislo trespassado de sotas, acreditava que um bisto ver~ dadeizo, corespondente ao simulacro, seria ferido por setas, nos locais do corpo onde as desenhara. Sempre os povos cagadores praticaram ceriménias magicas para tor- nar abundantes as espécies de que se alimentam e cagilas sem dificul- dade, como os indigenas australianos dos nossos dias, pintando nas paredes das cavernas figuras de animais ¢ sinais migicos adequados fe xealizando cerim6nias complicadas (exorcismos, bruxedos, daugas ri- tuais, ete), em cuja eficdcin acreditavam cegamente, Mas para cem- bruxare tim animal,., era necessirio em primeiro lugar saber pintéclo.., ‘A magia adaptou a arte aos seus fins, mas nfo a criou; ajudou-a a desen- volver-se, facilito a sua existncia, forneceu-the temas. Os pintores © cescultores do Paleolitico wencontraram, gragas ds crengas na magia da ‘aga, magia de reprodugio e de destruigio, a raato sovial de exercer, de desenvolver ¢ de ensinar a sua artes. (Breuil). A cigncia e a técnica do desenko exigem uma longa pritics, adguirida certamente durante muitas horas roubadas as exigéncias da vida material, horas em que 0 artista nifo ia & caga com os homens da sua tribo, mas se alimentava da que outros jam buscar com perigo de vida, Nas sociedades primitivas a arte nto podria subsistir ¢ desenvolver-se se nia estivesse ligada As preocupagoes essenciais desses selvagens. Pelas épocas de forsada inactividade, quandé 0 frio era mais rude e a casa se tornava impraticével, os membros de tribo reuniam-se nas caver- nas © nelas praticavam ceriménias diversas durante longos dias, para tomar propleins as forgas misteriosas que os ameacavam, para iniciar os jovens nos mistérios das actividades do adulto, para organizar as dancas ‘colectivas rituais e tudo quanto a convivéneia fizesse despertar no espi- ito rude desses primitives. «Enfim, interviuha 0 feiticeizo, 0 artista gravando e pintando as figuras de animais euja multiplicagio, posse ou destruigdo cram desejadas. Por vezes, sob aspectos anélogos, seres meio Inumanos, meio-animais, 0 espfrito que rege a sucessiio das geragies ani- sais ¢ 0 sucesso das cacadas, eram eles préprios representados, e 88 ots. ges clevavam-se para ele, cuja benévola criagio podia dar a fartura a existéncia dos grapos af reunidoss (Breuil) ‘As obras de arte rupestre ou parietal de Putevittico Superior foxmam. viries conjuntos, correspondentes a épacas ¢ a estilos sucessives. Certos conjuntos so homogéneos, enquanto outros se opdem entre si pelas com cepsses diferentes do desenho e da técnica pieturial. LH, Breuil distingue dois ciclos, abareando a totalidade das produsdes, aS artisticas rupestres. O primeio abrange todos os tempos até a0 Solu tense, e 0 segundo principia no Solutrense Superior e termina no Mada- lenense Final. ‘Em ambos se desenvolvem a par ea arte pictural em que as imagens siio executadas a cores, e a arte das figuras incisas ou esculpidase. No ‘clo inicial as duas técnicas raramente aparecem associndas na execucdo da mesima imagem, mas no segundo esse processo misto torna-se comuin ea gravura unese a pintura Seguiremos o esquema de Brewil e Lanier, porque nos 45 0 mais actualizado panorama geral da arte quaternéia. No primeico ciclo as realizagées plésticas comesam no Aurinhacense: rabiscos € entrelagados digitais em barro, donde vieram a derivar as pri- nitivas silletas de animais, tragadas com mo certa. Ao mesmo tempo sgravaram-se figuragées dos érgios sexuais masculinos ¢ femininos, ehome- nagens ingénuas aos elementos procriadores da ragax. Aparecem blocas de pedra com gravuras a trago e representagées livres de quadrépedes, mum estilo de simplicidade extrema. Os contornos natureis © as marcas fortuitas oferecendo qualquer semellianga com animais couhecides, foram aproveitades para figuragies plésticas, mercé de um trabalho da adapta- so (riseos e incisdes) A arte de gravar a siles na roche viva desenvolve-se: as inhas em ‘tragado de «arames (finas ¢ continuas) tornam-se mais fundas ¢ largas. Os processos empregados 1a gravura eu osso e marfim aproveitaram-se para gravar na rocba, mas o tragado de «arames eedeu perante 0 trace- jado, cujo uso permitia reproduzir com relativa fidelidade © corpo de Yvisios mamfferos de pélo comprido (mamute, rinoceronte Inzudo, etc.) Generalizam-se algumas convengées do desenhio: quase sempre as pelas dos quadrtipedes ficaram, além de rigidas, reduzidas a um s6 pari 48 hhastes dos luerbivoros aparecem de frente, num corpo de perfil; nos bisdes suprimiram-lhes um chifte, como, em regra, ao bode bravo, mas 1s do touzo sto gravados ambos e a ts quattos. A convensio varia segundo as espécies animais. ‘As extremidades nio despertaram atengio por longo tempo ¢, quando apareceram, figuraram-nss como se fossem vistas num angulo diferente daquele sob o qual viam o resto do corpo (perspectiva storcidas). Os eas cos do cavalo sio representadas por ovais € os dos bovfieos (e do sao bissulco, em geral), por ovais fendides a0 meio, Conforme se adiantava a arte aurinhacense, o8 chifres ¢ 0s cascos ten- deram & aproximar-se do perfil, mas a perspectiva etorcidas, a trés quar- So | | | | tos, manteve-se. Numa época avangada jf aperecem normalmente 0s qua- ‘tro membros, independentes entre si, como sera de regra no segundo cielo. A evolueto ¢ as convengées da pintura aproximam-se das percorridas pela gravura. As figures primitivas foram tragadas a amarclo © depois 1 vermelho (trago fino). Posteriormente dominaram o vermelho e 0 negro. As linhas, de espessure variével, ora a cheio, ora quase desvanccidas, tendendo @ engrossar, sio também ponteadas’(ponteados confluentes), como a bieo de lépis ou a ponta de pincel e acabadas com uma espécie de sbonecar, como as que se usam agora para polvilhar um desenho. Jé no Awrinhacense Superior se desenham silhwetas grossciras, de uma 6 Gor (vermelho, negro, bistre) ou de coutornos avivados a negro, alter- aude com tragados a negro, esfregado a seco na roca, ¢ eeabando por tornar-se mais largos com o emprego das tintas Iiguidas. Em Lascoue, a cflebre gruta da Dordogne, onde se abriga o melhor conjunto de arte rupestre aurinhacense, as ty85 cores indicadas aplica- ram-se, com frequéncia, por meio do «acrégralon, tubo por onde cram expelidas a sopro, ‘As filtinas fases desta arte pictural estio documentadas por silhue- tas a cores uniforms: vermelho (primeiramente) e negro; a perspectiva dos chifres aproxima-se ainda mais da representagto de perfil e certos tracados lineares a negro assemelham-se a obras sadatoncnses. Na gruta de Lescases, sprimeiro ponto culminante da arte pictural, pode seguir-se a evolusio répida de tenicas variadas; a diversidade de expressio ¢ 0 nivel artistico sto notiveis; nem sempre Altamira e Font- de-Goume, as mais célebres grutas pintadas paleolticas, decoradas mitha~ res de anos mais tarde, apresentariam figuragées estética e técnicamente superiores, Hi evidentes relagdes desta arte com a dos pimtores animalistas da Espanha Oriental, ¢ uma das mais flagrantes € 0 agrupamento (eaqui, exceptional, na Espanta, regtlar») das imagens em eenas (homem mori entre um bisio estripado © um rinoceronte, em Laseat). ( segundo ciclo das cavernas omadas & muito posterior, Houve win Gemorado eclipse da arte decorativa parietal, entre o Awrinlaconse © 0 Madalenense. Dos dois primeiros tergos do Solutrense sido se encoutrou nenhuma obra do género. As representagées plésticas s6 voltam a apare- cer no Solutrense Superior avangado. Primero hi um baixe-relevo acentuado, de eclevado estilo e de con- vengdes completamente modernas (Abri Reverdit, Sergeac, Franga; Les aS Jean-Blanc, Laugerie-Basse et Haute, Dordogne, Prauga), formando fgrandes frises de cavalos, renas, bis6es, ete. (Cave Louis Taillebourg, Vienne, Franga) ¢ que noutros lugares se alenua mum trago inciso eavado (champ-levé) ou uma gravura funda (Comarquc, Combareltes) Os processes adaptam-se as qualidades fisicas das rochas, ou outras uperficies, que servinm de suporte 3 decoragso, Como era quece impos sivel exeeutar altos-relevos na pedra durfssima des Pirenéus ¢ da Can- ‘brie, sem instrumentes de ago ou de qualquer metal duro, af o artista limitou-se a gravar sillmetas a trago inciso superficial, enchendo o espago do corpo dos animais com wm trecejado de linhas peralelas (semelhantes As das gravuras em omoplatas do Solutrense Final ¢ do Madatenense Antigo, de Altamira e del Castillo (Santander, Espanta) ‘A t€enica da modelagio em barro atinge grande perfeicio no Mada- lenonse pirensico {bisdes de Tuc d?Audoubert; ursos, cavalos e felinos de Montespor, Avidge) ea gravura escapeu As deformagées da perspec- ‘iva etorcidan, chegando até as convengies do desenho moderno na repre- seutagio de algumas partes do corpo dos animais (chifres, patas, eascos), conforme o abade Breuil observou na gruta ades Trois Fréresn (Aridge, Franga). Processo novo foi a gravura em xcamafeus. Consiste em aproveitar (para wma reprodugio mais «parcciday com a superficie dos corpos repre- sentades), nfo 96 a5 releves ¢ as linhas naturais da rocha, mas também as suas caves (amarelo‘oere das camadas argilosas finas, braneo de roches decompostas, negro da rocha viva subjacente, ete.) Pouco a pouco, ¢ quase por completo, a gravura foi substituida pela pintura, da qual se tornou wma ausiliar, quer para esbogar a siliueta das imagens que iam ser pintadas, quer para obter claros nas tintas. Ainda hd gravuras prOpriamente ditas, mas ocupam posisfo secundaria: sillme- tas ligeiras (Marsoulas, Teyjat, Font-ds-Gaumns), de desenho muito pro; gravnra no solo de arcia compacta (ruta de Niaux, Aritge, cujas paredes sio apenas pintadas) on em blocos pequenos (Limeuil, Doro. ge), ee. ‘A tradiglo dos progressos superiores da pintura aurinhacense per- era-se e os artistas recomesaram a cultivar esta arte, paralelamente 2 gravara ¢ 4 escultura, pelos esgrafitos simples a negro, como riscos & carvlo, pouco euidados. Cedo o trago se torna firme ¢ espesso; diferen- se 05 grossos € fines, mais cheies ou mais delidos ; um tracejado incipiente reaparece na reprodugio da pelagem dos animais (Madale- iense TIE, aona Cant&brica). Ensaiam:se, indbilmente, enchimentos parciais a negro, de tinta ruite uniforme, acompauhados de um ou outro trago gravado (Le Portal, dridgs). O trecejado deseuvolve-se, para marcar a curvatura dos volumes (flancos, ete.). O negro, modelade cowo um trabalho a earvao (fusoin) « esfuminho, genecaliza-se, O pardo-escuro & empregado em tint uni- forme eobre fundos gravadee « eshoganse inn enchimenta a pontenda negro ou vermelbo (Marsoulas, Laugorie-Basse). «Entio, nas fases iniciais do Madelenonse IV, estabelece-se a verdadeira policromia, primeito por toques egros disexttos nos oltos, nos cascag, nas orelhas, depois vigo- osamenle, cereando as figuras com um poderoso trago negro, contor- nando campos modelados a diversas tintes, indo do bistre ao vermelhao através de tons violiccos ¢ alaranjadese (Brouil) Nas gravuras e pinturae madalenenses hi por vezes wma facilidade de excougio que raramente foi atingida mesmo nos noss0s dias: nalguns casos o perfil de um animal foi dado de um s6 traso, sem hesitagies ow ‘emendas ; com seguranga de malo reveladora de uma capacidade de obser~ vagio ¢ de tim «sentido» de formas, extraordinérios. A habilidade técnica corsesponde a uma representasio interior, a uma imagem exacta ¢ bem cafinadan, amadwrecida conseieneiosamente ‘A gravura tem marcadas diferencas regionais: € ligelra nos Pire- nas, € forte e profunda na Dordogne, formando até baixos-relevos. Coon cla se prepara a sillucia a pintar © se xetocam ou reforgam pormenores (oltos, hastes, ete.) Quando atingin 6 ponto eulminante, @ arte madalenense encontea- vase prestes a desaparecer por completo. As pinturas policromadas de Font-de-Gaume de Marsoulas vio ceder o lugar a esgrafites, a faixas vermelhas, a sinais sewelhantes a pentes (pectiniformes) ou a cabanas (scctiformes). Em Niaux, « transigio paca uma outza época, artistica- mente inferior, esti mascada por alguns pequenos tragados “vermethos lineares, de bistes, de cavalos, de bodes bravos, a0 lado de sinais em faixas compridas, sfiltimos sobressaltos de uma arte que morre retomando formas cafdas ex desuso desde 0 Aurinhacenses. ‘Niko foram apenas estas as tinicas manifestagdes plésticas do Paleo- Meico Superior. Contemporinea das representagées naturalistas, desen- volvese uma arte esquemtica original, tonto mobiligria como rupestre. Em Laseauss aparesom sectingulos ¢ enxadrezados polieromiticos ; ue Dordogne, sinais tectiformes (cabanas), ao longo do Madalenense; nos Pirengus (AMadaloncnso TV), figuras de clavas e gréficos derivados do fosinho do lelo das eavernas, e sixais parecidos eam morcegos ; em Nieuws 4 (Aridge) (Medstensnse V1), pouteados, geralmente a vermelho, agea- pados, com sinais claviformes (em forma de clava ou moca), tectiformes « ramiformes (fiechas emplomadas) e pontas de flecha esquematizadas; ‘em Marsoulas (Haute-Garonne), sobrepostas a0s anizais policromiticos 0 Madaionense V1, hi duas camadas sucessivas de ponteados agrupa- dos'¢ de esquemas, pestiformes (mfos exqueméticas) tectiformes depois ramiforines, So elementos que nao devem pertencer j a fase paleoltica, pois numerosos seixos pintades do Mosolitico (Mas-d’Asil) costentam ponteados, listas ¢ sinais do mesmo tipo. Os esquemas muitiplicam-se ne regito canttbsica, aumentando para © Sul. Desde 0 Awrinhacense até ao Madalenense Final, abundam vazia- dos sinais tectiformes, ramiformes, riscos emplumades, ete. Na grata ‘de La Pilots (Mlaga), junto das figuras pintadas, pululam os esqueraas, em proporgio eonsiderivel: tectiformes, serpentiformes, etc., os rextin- agilos de cantos radiantes (armadihas, insfgnias?) e até figuras humanas, negro, inteiramente esquenaiticns ‘As pintaras eram feitas com os dedos, pontas ou «lapis» de ocre, « pinotis (de erina, de penas ou de ervas, e até de finas Taseas de madei- 1a). Utilizavam 0’ carvlo, diversos ocres, © manganésio, earbonato de cfleio © varias terras. A’ paleta era redizida, mas conseguiram obter efeitos magnffieos com 0 amarele, © vermelho, 0 vermelho-vieliceo, 0 negro ¢ o negro-azalado, © pardo, 0 brasteo © 0 bistre, ‘As terras e outras matérias corantes eram raspadas ou atofdas, bem remexidas em escudelas e misturadas com gordura, soro sangusneo, ces vegelais, clara de ovo, numa espécie de pires ou em ossos ovos. Estas substincias serviam simult@neamente de fixative e para tornar fluida 4 cor. Para a pintura aderir bem, untavam priviamente a superficie da rocha com gordura ou resina, Nalguns casos a pintura ¢ a gravure coMi- pletavam-se mituamente, Em dltaniva até as saligncias dos rochedos foram aproveitadas para causar maior impressio de vide: os artistas coloriram certas protuberfncias (semelhantes a troncos ¢ ventres de animais) acrescentando-Ihes as patas, a exbega © eauda: o corpo saliente parecia eseulpido e a pintura ficava a te@s dimensdes. Para pintar também foi empregado o eaexégrafor, isto é um tubo por onde a matéria corante era assoprada, Him Lascauy os aurinhaeenses ‘usaram esse instrumento pare aplicagte do vermelbo, do negro e do bistre Os pintores mipesires do Levante espanhol expregaram 9 negro, 0 pando, o vermelho de ocre (de vérios matizes), 0 amatelo-pardo, barra de vinho», vermelho, sépia e, excepeionalmente, 0 branco. As silhuetas a | | pintadas 56 poucas vezes foram preparadas por um trago gravado, fino. Algumas cores nfo s¢ fixeram ¢ deseparecem com & lavagem, mas na maioria incorporaram-se ns rocha, penetrando por imbibigso capilar das matérias gordas misturadas com os pigmentos coloridos. A cor s6 1i0 penetrou nas rochas impermeabilizadas por qualquer motivo (induto esta- agmitico, superficie betuminosa natural) (Brouil). ‘Que seres aparecem gravados ¢ pintados nas grutas? Predominam, de modo absoluto, as figuras de animais cuja captura fosse especialmente desejada essa Epcca ¢ nesse Ingar, mas em cada sftio decorado sempre uma determinada espécie ultrapassa em mimero quaisquer outras. Assim, na gruta des Combarelles (Dordogne) ha zonas dedicedas ao cavalo, ao mamuts, ao bisio, 2 rena, ao bodequim ou bode dos Alpes, e ao veado, enquanto as imagens de outros animais sio pouco frequentes ¢ até raras lobo, urso, leo das cavernas, rinoceronte Tézu- do). Em Font-de-Gaume encontram-se bisdes ao lado de renas, come em Trois Frives (Aridge). © primeizo lugar € ccupado em cada local por uu animal diferente, ‘macho ou fémea, nunca por ambos. Nio € pessivel, por enquanto, distinguir as pinturas feitas em épo- cas frias, das que se realizaram em épocas temperadas, em saber se a5, preferéncias dos artistas se explicam por modas de origem humana, pela ‘estagfo do ano em que a obra se realizou, ou pela distribuigio natural dos animais pelas virias regies (Lantior). ‘Alguns seres representados na arte mobiliéria nfo se encontram, ow quase nunca, na arte parietal. Assim acontece com os peixes, 20 abun~ dantes em objectos madalenenses e de que hé pouco mais de meia dia cem todas as grutas reunidas... Por sua ver varios animais, euja exis- ‘€ncia esti provada nestas regides © nessa Epoca, nunca interessaram 05 pintores ¢ gravadores do Paleotitico. Um easo & parte da arte quaternivia € o das rochas pintadas da Pe- insula Théica, Desde 0 Ebro até Almetia, a0 longo das cadeias montanhosas cost ras, uma arte rupestre, ao ar livre ¢ 2 Tuz do dia, exibe-se sob recin- cavos rochosos e parece evitar cuidadosamente as cavernas obscures. 1 waste oriental espanhole, comtempordnea de tudo 0 yue, ma regide elds sica, & posterior ao Aurinhacense tipicon. Sao conhecidos actnalmente, ais de meia centena de locais com obras caracteristicas. As mais impor- tantes esto em Cogul (Lérida); Chareo del Agua Amarga, Albarracén, EL Tormon (Teruel); La Avaha, Morelia de ta Vella (Tarragoua); a Cantos de la Visera (Murcia), ete,, ete., onde ficou euma erénica pine tadax, finica pelo seu valor cientffieo. ‘A que podem atribuirse as diferengas de estilo entre 2 arte agui- tano-cantébrica ea do Levante espanhol? Aqui a sucessio cultural do Paleolitico Superior & identien & das regites agnitanaoantéhrioas Asrinhacense, com o fficies Perigordense (de Périgord, Pranga), Solutrense © Madalenense. Parece que tribos oriundes da Franga perderam o contacto com as regides de origem © de- senvolveram uma arte original, «segundo uma concepeio diferente e apa- rentada ao mesmo tempos. (Arte de excepcional importancia, que se cconservost meret da sua fossilizagio: uma durfssima pelfcula caleiria pro- tegeu algumas pinturas como se fosse uma camada de verniz). (© parenteseo nota-se nas figuras isoladas de animais: na perspec: tiva ctorcida» (veados e touros), ua elegincia das silbuetas na agilidade © precisio do comtorno: wos veados de Lascawxs e do bloco de Sergeac (Dordogne), assim como os de La Pasiega (Santander), parecem ter sido pintados na Hspanha Orientals. A fauna representada é diferente porque o clima cra mais quente na zona espanhola; dois ou trés bisbes, imperfeitamente pintados, poucos equideos, alguns alces, muitos javalis ¢ bodes selvagens, lobes, chacais, peixes, pissaros, coctlios e pouguis- simos insectos (abelhas, aranhas, moseas (?)), mal reproduzidos, te ‘A escala das figuras € pequena, por vezes mintiscula, ¢ s6 excepcio~ nalmente atinge a dos desenlios de dimensées menores nas cavernas francesas, que, por sua vez, apenas em Portel (Aridge), Lascaux Mas- @'Aeil apresentam raras figurinhas, tio reduzidas como as cspaaholas. tA grande diferense entre esta arte ea arte franco-centibrica esti na abundiucia da representagio humana anedética © na miultiplicagio das cenas com figuragées, mais ou menos mumerosas, de caga, de guerra, de vida social ou familiars (Lantier). A cena do homem morto, entre 6 fo © 0 rinoceronte (Lascaux), a que nos referimos, ¢ mais trés ou quatro camposigses, em pequenos objectos madalenenses, eis no que se sesume quanto existe deste género na arte paleolitica da Franga © da Canthbria. Outras diferengas avultem ainda. As figuras humanas mascaradas {mscara de ceriménias migicas?) sGo incertas ou ndo aparccem na Espanha Oriental e a concepgfo da representagio humana é totalmente ‘posta. «Pesadas ou esquemiticas na arte da Aquitinia, as figuras huma- nas tornam-se, na arte orjental espanhola, apesar da sua ineorrecgio, ccheias de vide e por veses trenshordantes de movimento. A reprodugao an deste movimento pode, na sua expresso, atingir uma espécie de expres- sionismo, muites vezes ainda respeitoso da realidade das formas, apesar do sex alongumento, ficando, por outro lado, eseravizadas a0 descjo de tradusir a augf0, caindo mais de uma ver no esquematisio de certas partes, quando nfo so aplicadas a ume actividade interessando ao artista. (© torso € lincar, estreito, os bragos simplifieadosy. O rosto munca € reproduzido, ‘A arte aguitano-cantébrice (& preferfvel esta designagio & de franco- -cantabrica, porque 0 foco artistic intenso se limita & zona francesa da ‘Aquitfnia) nunca figurow uma pega de vestuério, uma arma, ou um orna~ mento, Mas no Levante os figuras femininas usam saias curtas € 0s homens, geralmente aus ow seminus, andam enfeitados com plumas ¢ tama espécie de ligas onamentais abaixo do joetho; trazem armas (areos, fechas, carcases, wma ou outra langa), etc. Na Aguitinia 6 0 dardo ¢ © propalsor foram representades. ‘A arte de Altamira e Font-de-Gaume «busca 0 seu ideal na beleza das formas tranquilas, muitas vezes em repouso, enquanto, pelo contré rio, a arte levanting, incomparivelmente mais livre e mais vasta, tende para a reprodupio genial da vida e do movimento, reflectindo assim wm atrevido e assombroso expressionismo, que enuucia ao puramente real para servi a expressio viva do sentimento e até sem retroceder sequer perante as desfiguragdes irreais dos pormenores, se 0 exige o aumento da forga expressiva do conjunto da composigior (Obermaier). Qual a origem da arte rupestre do Levante? ‘Num periodo antigo do Paleotitico Superior, estes regides estavam inclufdas 0 grupo das culturas capsenses meditertanices ¢ outras, de arte puramente geométriea. Nesse fndo veio penetrar a influéneia natu- salista aquiteno-contdbrica, com as tipicas imagens animais ourinhocon- sesporigordenses, que formariam o fundo desta arte provineial até quase ‘0 dectinio, «a preciso reconhecer, estas figuras humanas, tio plenas de huaour de movimento, wm desenvolvimento espontinco, devido & iniciativa des- ses ousados cagadores, que esculpiram Laussel, pintaram Lescause € gravaram Casafes? Nio se teria exercido uma outra influtncia?s (Os quadzes dos cagndores ibérieos estto aparentados as piutures du cngadores pré-hist6ricos subafricanos. Influéncia da Europa na Africa, ou da Africa na Europa? Brouil v8 no Saarh a regio intermedifrie entre esses dois pélos. Nos abrigos do Tibesti, do Hoggar, do Fezto, nos ofsis da Libia, ete., ae ‘hg uma arte animalista e caper de formar quadros de ceuas complexas (pastares do Neolitico autigo?). Os bois doméstices ai representados st0 anlogos aos bovideos selvageus da Espanha Oriental: «uns © outros mostra 0 mesmio tratamento das hestes em perspectiva torcida, processo ‘que se encontra nas gravuras das mastabas egipcias» (Lantior) Além desta analogia If outras que estreitam ainda mais os legos hipotéticos entre os dois grupos, represontados, ana Africa, pela abun- ‘dincin das representagées humanas, associadas a cenas pastorais, fami- Jiares e sociais; pela vivacidade das atitudes expressivas; pelo arco de que estdo armadas as personagens, tanto como pelo tipo do vestuirio de cettas mulheress A questio ainda no pode ser resolvida no estado actual dos nossos sonhecimentos, Pontas de flechas solutrenses da zona espanhole aase- melham-se a outras, nooiiticas, de Ouargla, © hi relagio entre os arpies de Tassilie 08 do Madalenense da Europe ecidental. Seria uma migragio para 0 Sul, que poria trihos ibéricas em contacto com outros povos do Norte de Africa, mais atrasedos ¢ aos quais Jevariam wma arte supetior? Por sua vez 08 poves pastores poderiam ter emigrado até A zona meridional africana ¢, perdenda os seus rebanhos (devastagio causada pela mosea 45é-1sé), voltaram a praticay a caga, como os seus antepassa- dos, ¢ difundiram a sua arte entre os indfgenas, Estas sfo 2s hipéteses ‘ousndas do abade Breuil Os pintores destes frescos tiveram mau hibito de restawrar as pine uras anteriores, difieultendo 0 conhecimento da sueessio das t€enicas até a interpretagio das figuras: uma cabra montés xestaurada passow 4a ser um alee... algens bois que tinham sido veados... antes do restau. foram restaurados outra vez... em veados... por alongamentos das has- tes (Cucva de la Viefa). Algumas cenas eram sucessivamente acrescenta- das: a3 figuras foram pintadas em épocas afastadas umas das outras, € 08 artistas nfo hesitavant em sobrepor as vepresentagses. Daf uma con usa mistura de fases artisticas, de tendéncias diferentes, nm mesmo conjunte Em Minaieda (Albacete), Brewil, que fet © melhor estudo do con- junto desta arte, distingnia treze camadas, representando outras tentas fases tipieas (houve ainda ontras que nfo estio representadas nese Ii gar), Bm resumo, caracterizar-se-inm desta mancira Primeira série: pequenas figuras (vermelho-pilido), predominando as bumanas (60, para 20 animais) ¢ nelas as masculinas, Desenho sim piles, oseilando entre o esquema puro ¢ um infeio de vivo realismo. Ani= ae | | anais identificiveis: veado, eavelo, Iebre, cogonha, Numeroses archeiros, fom pequenos areos ¢ fechas elementares; alguns trazem um objecto curvo (boomerong?). Grupos pequenos e uma fnica cena (justa ou com bate?) Segunda strie (vara): grandes figuras; a largos tagos vermelhos on pintadas em toda a superficie, Figuras humanas raramente completas ‘Terecira série: figuras negras muito pequenas (onze homens catorze animais: cabras monteses, cavalo, corga, vendo). Mulher nua, de nidegas votumosas trangas, armada com um grande arco. Usa archeie ro, de cabesa emplumada, tem 0 arco em posigie de tito; outro trax sim chapéa com peguenes chifres, Quarta série: desenhos de Tinluas finas, vermelhas, com alguns gros ss ¢finos, e como enchimento a trsesjado. Uma nica mulher e quatro grandes animais (eavalo de crina erguida e tsés veados). Um deles, com as pontas em perspectiva atorcidas, & semelhante, em tudo, aos aninaais ‘porigordenses da costa cantSbrica (La Pasioga). Quinta série: figuras mito pequenas, a trago negro fino; algumas vezes os corpos dos animais apresentain wm enehimento parcial a traejado. Apenas cinco figuras humanas {sb uma completa), das quais trés sho archeiros. Vinte e oito animais (eabras monteses, javali, cavalos, vear dos, congas, lobo) Sexta série: figuras maiores (pardo-escuro), geralnente a trago fino « enchimento de traccjado, 20 compride ou de través, por wezes comple: tamente pintadas, ‘Treze snimais (cabras mouteses, cavalos, boi, veados, com hastes em perspectiva storcidas) ¢ vinte e ts figuras himanas (dois homens avultam pela estatura), assisting na saioria a um come bate em que alguns archeiros, de corpo estriado © de grades arcos, er vam de flechas um grupo desarmado, Sétima série: figuras a vermelho-pardo, de trago mais espesso clieias de traccjados mais grosseiros, por veres pintadss a tintas lisa Deranove auimais (cabras monteses, veados, boi), menos artstions « nuit convencionsis, Sete pessoas: ciuco mulheres vestidas, oim archeiro eum rapaz. Citava série (predominio das figuras de animais): seis veados, uma cory, unt lke, qu gam, Lalvez a eabega de uma rena, quatzo ois (@ois com as hastes de frente), um cavalo « pastar, sete eabras monteses, wm felino, um grou, ete As figuras humanas, num estilo pesado, compreendem trés mulhe- -£05 vestidas © outra nua, © quatro hones (trés frecheitos, com a Tiga a omamental ¢ © arco pequeno simples). Aparecem numerosos elementos esquemiticos. Absixamento da arte realista. ‘Nona série {policromética): incerta, devido @ numerosos restatros. $6 nove animais: cabra montés, veedo, alee, bois, um peixe, ete. Décima série: pinturas a negro-pardo (tinta lisa) ow com lergas faixas ¢ traccjados, Ouze animais (quatro de grandes dimensdes: vaca equideos, sem crina; ¢ sete pequenos: veados, boi, etc.). Sete pessoas ‘wma mulher, vestida, pnsseia uma erianga pela mio, formando talver © sais antigo grupo de mic ¢ filho de toda a arte universal Undécima série: figuras pequenas (a tinta negra, lisa ou cheias a tracejado), de mé qualidade, Os animais tomam-se diffceis de identifi- cear (lobo ow raposa, cabras, corgas, veados) ; as figuras humsmas sto mumerosas (dezasseis on dezassete) ¢ mis, Entre clas hf uma linear © wm hermafrodita com pés de ra. ‘Décima segunda série: figuras mel desenhadas, a vermelho, pardo- -uegeo. Os animais s20 quase indeterminiveis. Apareeem duas figuras compésitas (elementos animais © humanos misturados). Décima terecira strie: figuras negrss, exclusivamente esquemiticas (personagens de pé on sentadas, de frente) sem quaisguer trayos do naturalismo proprio doutros perfodos da arte do. Levante. Em Minaieda faltam, entre outros, os aspectes ropresentados pelas seguintes obras de arte: os belos veados realistas, a vermelho-claro, de Calapaia e Cogul (correspondentes is séries quatro a sete de Minateda): as figuras humauas, vatiadas e complexas, com outros pormenores de estilo, de vestuirio © de armamento, de Borranco de Valltorta (sévies sete ¢ oito); as figuras brancas ou rosadas, avivadas, ou nilo, a cor, de Albarvacts e Tormon (Aitadas talvez pela necessidade de utilizar tintas claras para as figuras se destacarem sobre as rochas escurns); 28 cas tem que 0 cagador persegue a caga, com 2 representagio da pista, de Vallioria, La Arana © Gazutla (Eq0ea tardia, eorrespondente aproxima- damente & série duodécima) ¢ Finalmente as einses de degencrescéncia da arie realist, em semi-realista, depois semiesquemética e enfim esque- saticay das pinturas de Cantos de La Visera (séries finais de Mina- teda?). ‘A maior parte dentes estidios pertence ao Paleolitico Superior (a partir do Aurinhacense-Perigordense); na tase de degenerescEncia pene- tram na poca miesolitica e vém a ligar-se & arte esquemttica posterior mesolitica © neo-encolitica (Gpoca de transigio para a Idade dos Mctais).. 4A roche de Minateda precede a eclosfo de uma arte nova pele. pre a senga do esquema, ¢ assiste-se, nesses quadros, ao abastardamento pro- gressivo da arte realista. Os auimais slo tragados com preciosismo, cali- ‘grafados, se pode dizerse, conforme modelos convencionais e que m0 foram seavivades pelo exame da forma vive. O desenho do hemem deixa de ser realist, tora a ser mais on menos esquenético, ¢ os animais, por sua vez, seguem esta tendfncian (Brouil). Surge wna nova sociedade de pastores © de agricultores, desinteressados pelas formas artistcas. Tnvasores,talver de distante ascendéncia asitica, trazem outras con- cepgles de um esquematismo fecundo, ¢ a alleragio € intense em todos fs aspectos da vida e da cultura colectiva. Os elementos neolticas do Oriente mediterrinico misturam-se e sobreptent-se aos elementos ind gens Anda outros conjuntos de rochas pintadas apareceram no Oeste da Eopanha ¢ na floreste de Fontainebleau, cujos caracteres as aproximam dos lampejes Finais da arte do Paleolitico Superior ‘arte Jevantina nfo desapareceu repentinamente com a Era Glaciar, como acontecen i arte aguitonoucantébvica; persstiu, embora inferiori- sada. Na época cpipaleolitics desnatualizase, degenerando afinal por completo numa esquematizagio sigida, desprovida do seu antigo sentido (Obermaier). Comeca um perlodo novo da vida da Humanidade: gran- des transformagées caracterizam a nova fase que veio abrir o camino para a civilizagio Esquems cronolégico do Paleotitico, segundo Luis Pericot Gracia Chelense De seco aC. Acheulense, La Il... } PE $0000 * AMusteriense, 13 Aurihacense, 12 Me-+ | De so.c00 a: | a 20000 2. C. Solutrense, Ua IML De 20.000 aC. 1 10000 2. C. (As datas sto aprosimadas € sujeitas a correcrt0, O esquema foi simplificado) =-»- GRAVURA I © jinstrumento tfpico representado na parte superior da gta- vara (1, 14, 1b) € um ecoup-de-poinge chelense (Pateolitico Infe- rior). Esta designacio, de origem francesa, est muito espalhada sas & pouco feliz: melhor the chamaremos «pico de mio». © wm dos mais antigos instrumentos usados pela humanidade e, a par- tir de wm fipo original grosseiramente piriforme, veio a ser talhado em forma de améndoa, de amigdala, etc. De dimensées varifveis, ‘© comprimento normal oscila entre 10 © 15 centinetros, Embora © homem jé houvesse fabricado outros instrumentos de madeira, ‘ssa e pedra, € nestes objectos que se manifesta pela primeira vee tum trabalho inteligente bem definido. Era talhado por percussdo desbastava-se wm micleo (seixo rolado, calhau, ete.) até ficar com a forma requerida. Este biface primitive (05 bifaces so afeigoados de ambos os lados) tem wma extremidade pontiaguda (a parte cactivan, servindo para execular o trabalho) © outta mais ou menos arredondada, de faces abauladas, para melhor se adaptar & polma da mfo fechada. ‘Também se usow ligado com resina, fibras vegetais, tiras de couro, elc., a um punbo os cabo, para se adaptar a miéltiplos fins: martelo, machado, sacho, ‘arma de caga ¢ de guerra, ete., conforme o seu tattaubo © @ forma da empunhadura, Apesar da imperfeiet0 das superficies, presenta relativo interesse artistico, porque nele se zevela am gosto pronunciado pela simetria ¢ ‘pela regularidade dos con- tornos ¢ das faces. 1 a mais antiga manifestagio da tendéncia para eriar formas equilibradas, com feigio estética. Este exem- plat foi encontrado na estagio pré-hist6riea de Chelies (Teanga) Os instrumentos da parte inferior (1, 2, 3), também bifaces, rostram uma acentuada melhoria das grosseiras formas chelonses donde derivaram. A finura e a regularidade dos retoques do cou- torne tomnam as pesas mais elegantes © melhor proporcionadas, prova indiseutivel de que 0 hiomem, so fabrici-ins, no se preo- ‘eupava apenas com a utilidade mas também com o aspecto agra: divel dos seus utensflies. O acabamento «obedecen a uma ideia, a um elemento intelectual, que faz parte da esséucia da Arter (Lanter) a GRAVURA 1 Tssmewestos no Pabiceftiey Isao, Picos de mor chelenses (2, 24 © +) ¢ instrumentos de tipo astenense (Gy 23h encontrados feapecivemente eat Cheliey St chen! ~st— GRAVURA IL A ponta musteriense (parte superior da gravura) tem 0 con tome harmonioeo de uma janela gétien, com o mesmo clegante arco quebrado, Na sua face inferior (1a), em Baixo, vése o balbo de percussion, saliéncia arvedondada da face de laseamento, correspondente A zona onde foi dada a paneada que arrancou a Tamina ao micleo de peéra. Os instramentos qurinhacenses, poco elegantes, revelam maior variedade de formas iteis, mas um seutido menos promun- cindo das formas estéticas, On? re ra € uma «raspadeira de cerenan (assim chamada porque tem 0 perfil semelhante 2 carena de um barco). A extremidade que servia para a raspagem é a que tem os retoques, e foi arredondada (parte inferior). O n° 2 tam- bem € uma raspadeiva, ede ponta de Mminas (grattoir sur bout te lame), porque foi preparada na extremidade de uma lamina de sflex. O n.° 3 6 uma ponta, Hamina estreita retocada 20s lados fa extremidade foi agugada, Os». 4 e 5 sio Himinas destinadas fs cortar, como os nossoe eanivetes; a parte onde se apoiava 0 dedo tao Tongo da pepa, para que esta no se partisse, foi zetocada para fo cortar as maos (Idminas de adorso rebaixadon) © ne 6 € wma ponta de osso polido, com a base fendida, tfpica do Aurinhacense Médio (0 polimento do osso precedex 0 da pera) O ne 7 € um butil, snstrumento destinado 9 trabalhar os mate- Fiais ducos: pedra, marfim, chifre, cte., para riscar, gravar ow ceseulpir. Como a raspadeira de carena, parece que foi inventado para o tyabalho do osso ¢ do chifr. Os 1." § © 9 sto furadores: a ponta foi afiada mas o resto dda lémine ficou com a largura original para se segurar entre os dedos com mais facilidade. Estes sflices curinhacenses revelam ‘um sentido puramente utilitério © servem para estabelecer 0 con traste com os objectos da gravura Ie a pouta da gravura TT, em que hha um sentido constiente de formas regulares e de simetria. Ezam_ preparedes por retoque, com materiais macios (madeira, 0550, etc.), sobre liminas de aflex de dimensdes variadas. oravora Alguns instrumentos do Paleoliuen aréaio © Superior Ponta sniteriae (2) ra © £h) ¢ alee talindos do sturuacense sa ee GRAVURA UL A. téonica solutrense do trabalho de silex é a mais perfeita do Paleolitica. Os instrumentos sio fabricados de laminas retoca das com grande perfeia, numa ou nas duas faces (retoque plano longo). O n° x 6a célebre ponta tipica do Solutronse, a afolha de loureiro», ponta de dardo, lanceolada—de que existem muitos cexemplares, alguns de inexcedivel acabamento. Mostra o adianta- mento da indiistria manual da pedra e obtinha-se por retoques por pressio: com 0 compressor, pega de madeira, osso ou peda, asia-se uma pressio lenta e de forga varifvel sobre os bordos da Timina de sflex, arrancando-se pequenas esquirolas de cada ver até que ganhasse a forma desejada. A compressio pode ser manual (a mio dircita segura o compressor ¢ a esquerda a limina a reto- car) ou peitoral (o objecto & fixado fortemente ¢ o compressor, longo, € empurrado pelo peito: a compressito ¢ mais firme ¢ con- ‘inua) Os a 2, 5 ¢ 4 sio pontas de seta (0 arco e a flecha j& eran usados na Auvinacense) em que se mostra a formagio do pedi culos, incipionte no 2.” 2 ¢ j6 formado totalmente no n.* 3. Servia para fixar melhor a ponta a haste de madeira. One 5 uma ponta: as reteques sio bem visiveis na base © sos bordos. Os n.*" 6 e 7 s80 pontas tipicas do Solutrense (pointe & crau). Os a" § e 9 sta furadores (0 dtimo 6 duplo) eos 2° 10, 11 ‘slo raspadeiras. A parte com retoques & a que servia para a rase pager. Nestes abjectos, principalmente nos a.“ 1, 4, 7 € 11, abser- vva-se mais uma vex 0 sentido da forma que @ homem da Tdade da Pedra jf possula © onde transparece o lado artistico das téenicas industriais que Ihe proporcionavam instrumentos para traballiar madeira, o 0980, a pera, o chifre, ete., para o arvanjo das pelea, para a costura, para a ornamentagio corporal, para a gravura, escultura e pintura, e ainda as armias para a cage © para a guerra, tude aguilo que o homem moderno fabriea de metal oxavura mr Drineipis tpos de instrumontos sointrenses aa GRAVURA IV Dos objectos de sflex jf couhecemes alguns que sio idénticos aos da cultura solutrense. Mas como os homens do Madalenense se dedicaram especialmente so trabalho do marfim, do osso e do chifre, nfo se limitaram a usar os instrumentos anteriores mas nventaram outros especialmente adaptados a esse género de in- tri A primeira pega, a partic da esquerda, é um buril, para gra- ‘var 0 osso ou o marfim. A segunda & uma ponta e raspadeira cbn- cava, par preparar ossos redondos ou hastes de marfim, chi- fre, ete. A terceira € um furador; a quarta e a quinta sio laminas @ encockes ow laminas denticuladas; serviam de pequenas serra. As duas raspadeiras sto de tipo idéntico as u." ro © 11 da gra- ‘vara IIT (solutrenses). Com estes instrumentos foram fabricados fe decorados os abjectos de arte mobilifzia. Era o rude ¢ primitivo instrumental dos artistas gravadores. ‘Mais interesse artistico apresentam as pontas ¢ arples de osso ¢ marfim, instrumentos caracteristicos da indfstria mada- Tenense. Os n." ra 9 sto pontas de azagaia ou de dardo, sins quais apa- recem estrias ¢ linhas erindas em parte pelo préprio trabalho de vai e vem do buril durante a fabricasio do instrumento, © depois aproveitadas decorativamente (ranhuras circulares, vn." 1; estrias paralelas ma base, n.° 2; base de bisel com estrias ascendentes, no? 3; nos a" 4.€ 5, a prépria superficie do chifre nao foi polida intencionaimente senio na ponta € na base; ziguezague sobre base de bisel, 2.” 75 ranhuras esquemiticas, n.° 8; estrias em espiral, ne 9). (Os arpties silo de seceio redonda ¢ posstem farpas ou bar- belas de dimensées varidveis (numa fiada simples ou dupla) con- Torme as espécies de animals a caja cage © pesca se destinavam. O ne rq servia para armar uma flecha, como as poutas solutven- ses n° 2 a 7, da figura IIT, Todos so exemplos de uma arte industrial adiantads, GRAVURA IV Algans tpms de sce tales ¢ i to Biadstonsase ae GRAVURA Vv A omamentagio geométrica nfo € auuito abundaute € ape- rece quase exelusivamente gravada em objectos da arte mobilis- ria (de osso ¢ chifre de rena). J. de Morgan admite a probabil dade de a terem usado na tatuegem ¢ na pintura corporal, nos sderegos; talvez sobre as préprias peles de animal com que se protegiam do friointenso estivessem pintadas crnamentagtes deste énero. Estio aqui representados alguns motivos decorativos geomé- tricas do Paleolitico Superior. Quanto & proveniéacia, os objectos, todos encontrados em Franga, distribuem-se do seguinte modo: No" 1, 2 ¢ 5 de Lourdes; 3 ¢ 4 de Les Espllugues d’Arudy (11. Pyrénées); 6 a 9, de Laugerie Basse (Dordogne); 20, de Marsoulas (FI. Garonne); 11, de Saint-Marcel (Indra) ‘Os motives geométrieos da arte quaternétia surgiram a0 lado dos motivos realistas. Na grata de Porpallé. (Espanha) aparece- ram placas com desenhos de snimais e decoragia geométrica, a0 ‘mesmo tempo, Quase todos sectilineas, foram linkas erazadss, zonas paralelas com tracejado interior vamiforme, ete; aa Tinhas ccurvas sfo serpentiformes, em espiral, e mistas. Esta arte repre- senta um mundo de ideias diferente de mundo das representacdes nataralistas, e parece ligar-se & cultura capsonse (de Gafsa) do Norte de Africa e a alguimas estagies madelencnses francesas ex aque domina a decoragio esquemitica. Os exemplares reprodusides formam uma pequena smostra da variedade de desenhos que por entdo jf tinham sido imaginados e alguns deles sio tio felizes que continvasiam a aparecer snces- sivamente, nas mais variadas culturas, e até aos dias de hoje. Quadrifiies, circulos, évulos, espirais, volutas, ensadrezado, Tou sangos, rectas © curvas paralelas, ponteado, ziguezague, denti- cnlado, ete., aparecem com feigdo equilibrada. As origens destes motives decoratives foram estudadas por Breuil ¢ Lantier, entre outros. Uns derivam de formas naturais, outros da téeniea de certos trabalhos ou da imitagio grifiea de objectos manufacturades {eordas, tecidos, redes, cestos, aderegos, etc.) GRavuna Vv Descnhos stadatenensis, de tipo generico ~s8— 5 GRAVURA VI © Madalononse IV & grande época dos escultores anima- listas (Lantior). Bom exemplo disso € a escultura n.° x (marfim), de-um macho de rena seguindo a fémea, A representagio & zealista co artista soube aproveitar habilmente a forma alongada do pedaso de marfim, colocando os animais numa posisio tal que, sem defor- indelos, conservon a liberdade de movimentos requerida para sa- sgerir @ acglo. © plo e os miisculos foram estilizados sem exagero. © propulsor de Mas-d’Azil (u.* 2 © 28) representa um caso em que 2 forma do objecto imps uma deformagio notéria do corpo do animal. Em 2 vemos o animal de frente (bode selvagem) : as proporgies estiio respeitadas em altura {hastes, cabega, peito patas dianteiras) ¢ deformadas necessiriamente no sentido da Targura (estreitamento geral do corpo). No entanto o artista re- solven a dificuldade com inteligencia ¢ bom gosto: 0 gaucho do propulsor ficou enguadrado pelos chifres On. 3 representa uma rena eafda sobre os quartos diauleiros « soerguida nas patas posteriores, de eabepa levantada, Depois do Madalenense V 0 baixo-relevo reaparece, mas possui jfia clegéncia nem a veracidade das representagées anime- listas do Madalenense IV (na mesma époea pré-istéries houve fases com caracteres discordantes ou opostos). ‘As proporgies esto mal observadas (fig. 4) ¢ o trabalho parece ede sérien: os animais sucedentse, num desfile monétono Esta disposigio é representada pelos cavales do bastito de La Ma- delcine. A execusio, mais rude e grosseira, & a de uma gravura funda a marcar os contornos de wm baixo-relevo, Os trabathos de escultura da arte mobilifria sio em marfim, sso, haste de rena, Ambar, etc. A estatutria animal aparece pri meiro na Enropa Central. Rareiam no Ocidente as estatuetas Au- rinhacenses (maréins; rinoceronte, mamute, felino), ¢ estas apa rcceram na regio de Wurtemberg (Aiewaul). Na Fraga 56 10 Soluivense Médio iriam surgir, multiplicando-se por todo © Mada- Tenense, enquanto a escultura de figuras humanas degenera desaparece, GRAVURA vr GRAVURA Vir A cabega de cavalo relinchando, de Mas-d’slsil, € impres- sionante; pesas de tio alte categoria esfo auténticas obras de arte, realizadas para este Gaico fim, sem outro fito que nto seja © de erinr heloza, 9 de dar alegria, 0 de rectituir para scsapre a atitude observada de um momento de vida, Sao puras manifes- ‘agGes estéticasn (E. Pittard). As estatuetas eutropombrficas aurinhaconses ndo atingem craveira artlstica desta obra-prima da eseultura madalenense. An! 1 éa cflebre Venus» de Willendorf (Austria). De caled- rio, representa o tipo geral das representagées femiuines do Paleo- Lisico Superior, com o excessive deseavolvimento sdiposo dos seios, das coxas © das nfdegas (esteatopigia). Segundo ML"* Pas- semard, tratar-seia, quase sempre, de um alargamento das ancas (esteatomeria), feito com intensies estéticas on sexuais. Nio se pode saber se 2 deformagio estilfstioa & deste on daquele carfcter em especial: magia, arte pura, simbolismo da fecundi- dade, ete. © artista preecupou-se sobretudo com a representapo do tronco, em especial a do ventre, snctificando a cabepa © as extremidades dos membros, facto que um argumento decisive 1 favor da tese da atepresentagio estlizadas, contra a da «repre- senlagio realistas. Se dominasse a tendéncia. para o realismo, 0 escultar também tentaria reprodusir com fidelidade as linhas volumes do rosto, de cabega, das mios e dos pés, nfo acentuaria apenas algumas pertes do corpo, para sactificar ontras A cabesa de rapariga (marfim), encontrada em Brassempouy (andes, Branca) obedece a outra concepeio, invilgar nia arte paleoltica (x. 2 © 24). Tem a cabeleira estilizada; o perfil e a linha do pescogo © do queixo sto um caso tinico de sensibilidade Aelicads e graciosa na escultura pré-histéries; as linkas estio sim- pilifcadas, mas os caracteres essenciais da face foram respeitedos, As estatuelas de Grimaldi (Menton, Franca), (3 ¢ 3a) 830 do tipo vulgar aurinkaconse, cuja estilizacto culminaria iia eba- mada «Venus de Lespucues. As figuras masculinas sfo raras ¢ io apresentam defornagies anatmicas (q ¢ 42, Brassenspouy)) A eabesa de Rochebertier (Charente, Eeange) € um eshogo gros- seito © incompleto, de tipo filo, an ORAVURA VIL eeovess geareaxiens 5 GRAVURA VII © cavalo madalanonte, de Bspéluguss (maxim), foi copiado do natural. O mesme dom de observagio préprio dos pintores ani- mulistas da zona francccantibrice se manifesta nesta pequena escultura. A eabeca € bem proporcionada, o pescogo alonga-se correctamente, © 08 voltmes, simplifieades, nfo sofreram com a _gravagio de tragos sobre o corpo, trugos destinados a representar fs pelagem, As bandas regulares de pontos e as ondulagses talvez possuissem um sentido que no entendemes. ‘Os ramos e folhas gravades (n.°* 1 a 4) s80 muito raros. Os vegetais estio pobremente representados na arte quaterniria; xem todos os povos primitivos se uniram fauna idelas artisticas, porém, muito raramente & flora, gue, mio prestando sendo servi 08 sccundivies, ndo exigindo luta para apoderar-se dela, atrafa menos as atengies que es animais...» (J. de Morgan). © animal tinha muito maior importincia para os povos cagadares do Paleo- tic. Entre as numerosas representagdes (esculpidas, gravadas ot pintadas) da zena, no Madalenense, ¢ bem conhecida a de Alta- Qualquer que seja s posipfo em que se encontre © animal, © artista soabe sempre captar-the a vida e as atitudes caracteristi- ‘eas; s6 um prolongado sontacto com estas espécies deu ensejo a ‘uma tal fidelidade de reprodugio. Lembremos que a rena den o nome a uma fase do Paleolitico Superior... © lobo, raramente representado, mo deixa por isso de ser visto com exactidao, como nesta pintura policromada de Font-de- Gaune (castanho, vermelho, combinados em vérias cambiantes). ‘Nesta pigina encontram-se representadas a escultura de vulto redondo, a gravura da arte mobiliéria, a gravara e a pintura da arte rupestee, formando uma sfntese das principais manifestactes arlisticas plésticas da mais antiga arte do Mundo, oRaveRA VIL Anse quarmaeas aval da Grote des Espélugues (Lourdes, France), Madatenense.— 1, 5,4) Rantos e Vollas-gravadln. Ren (Caren: claps), de Altanita, "To, 4 fore, de Foutie-Gaune GRAVURA 1x ‘As obras de arte paleolitica sto mais abundantes na Frauga cena Expanha que em quaisquer antras regines da memdo. A maine a das produgdes phisticas pertonce 2 dois tipos regionais; 0 pri- sneiro € 0 da arte franco-ccnidbrica (sudoeste da Franga ¢ zona dos Pirenéas e Montes Cantébrices, da Espanha), essencialmente ani ralista (gravuras VI, VIL, IX, Xe XI), prépria da Idade da Rena, que entra em franca degenerescéncia © se esquenatiza. nos tempos mesoliticos. O segundo tipo & 0 de arle rupesive da Espa- ‘nha Oviontal ¢ Meridional (gravara XII) em que as represents- es humanas so nomerotas e que se nlantém produtiva por muito tempo depois de acabado 0 Paleolitico. (© mamute, hoje desiparecido da Terra, viveu no Ocidente nos periodos glaciévios e embora de caga diftll (os povos do Palev- litico Superior sabia construir armadilhas para capturé-lo) era ruite apreciado, Aparece em esculturas, gravuras e pinturas, com a espessa pelagem, e as poderosas defesas bem mareadas; a8 for~ sas atarracadas zessaltam mere® da hibil modelacio pelo trace- jado, de modo a causar wma impressio de massa volumosa e pesada ‘© disso & outro dos animals favoritos na arte frenco-camti- brica, Chegeram a pintilo de tamauho natural yas paredes das cavernas, isolado ou em nanadas. A forga da cabega contrasta com 4 agilidade dos membros: para vinear esses dois aspectos essen- ciais do ruminante, o8 artistas afinaram-he as patas (sugerindo f rapidez de movimentos) e eneaixaranrhe 0 fosinho por entre as espiduas. Mais um exompla de uma «deformagiow intencional, caracteritien do trabalhe artfstico Os aximais encontram-se dispostes isoladamente, ¢ as figa- ras, de grandes dimensées, cheyam a ser maiores que o natura. Entre as cavernas mais edlebres deste grupo de arte rupestre Sigu- ram as de La Mouthe, Conbavelles, Fontte-Gaume, Tuc @Aww- doubert, Niaus, Istuits, Pair-non-Pair, Gargas, ete, em Franga, le Pasiegs, Pindal, Horas de Pena, Castillo, Altamira, Clotilde de Senta Isabel, etc, em Espana. GRAVURA 1 Mamate—Fontde-Ganmie (Frog), —Disto—.itaninn (apoio Cantabsis} 6 oe GRAVURA X © rinoceronte, de Font-de-Gaume, esté pintado a vermelho- -sanguineo e deve ser obra do Aurinhacense Final. A cor foi apli- cada como se faz hoje con 0 pastel ot com o lapis de cor. & uma silhwets, mas na’gual se esboga uma tentativa de modelagio pelo tracejado distribufdo no sentido dos volumes do animal. © javali, de Allamiva, 6 admirivel pela intensidade do movi- mento, abservado com rigor.-Emibora a gravura no nos a€ s poli ‘romia do original (cinsento-escuro, vermelho ¢ ocre), so cla- ramente visiveis os esbatides nos quartas trasciros ¢ dianteiros, xo focinho € no cachagc, com os quais 0 pintor den volute 30 seu modelo, As pinturas principais (ceria de cem) encontram-se io tecto da grande sala, situada a 30" da entrada, com 38" d comprimento © 9" de largura; a altura média é de 2",20 0 2 ‘Ontras figuras encontran-se ao longo de uma galeria que chega 270° de profundidade. © cavalo negro, de Font-de-Gaume, esti perfeitamente m0- delado © € win bom exersplo da tendéncia realista da arte made- loncnse. Mas que € 0 matelado pietural? Se 0 pintor aplicar as cores lisas, isto €, uniformes, sobre uma superficie, 0 objceto pintado apresenta & vista apenas duas dimensdes (comprimente e altura), parecendo espalmado, sem cepessura. Para representar o volume dos corpos (a terceira dimeusio) os artistas quaterndrios descobriram um processo que veio a perder-se ¢ s6 10s tempos historicos seria redescoberte ‘As cores eram espalhadss designalmente sobre um fondo (roch, barro, ete.) mais claro, de modo que a superficie transparecesse sgradvalmente nam ¢ seatro ponto, gauhando volume nas zomas menos cobertas de pintura : 0 cavalo foi coutornedo a trago simples, limitando a sithneta, depois pintado, com a cor earregada junto do contorno ¢ esba- tide gradualmente para o centro: parece esculpido na. parede r0- chosa: € um belo exempio de modelado monocromético. 1O mode- lado do dorso & de uma seguransa ¢ de uma delicadeza extremas. Manifesta-se af uma sublilidade incomparivel, na fuga de certos planosy (Morin-Jean) GRAVURA x. = 6) — GRAVURA XI + € 2) Langer Basse (Dordogne, Franea), em chee d (fridge, eanse}y rocha, 4) La Medeleine feocka). 5 66). (Hexle‘Geroone, Pranga), voc. Pees (Lorbiel, Haiios Pyréndes, Prange), ‘hnstio We comaadoe ea’ ehive de rena, Uren (eshxo rod, da grate’ de Masua!. ridge, Manca). Veda, de" Font-de-Goume. em (Ceres ele: ‘hij de Lorthets ent chive de 3) Masa Nesta gravura pode vetificarse, comparativamente, a habili- dade dos artistas franco-cantibricos para a reprodugto plastica das formas dos animais, e a imperfeigio das suas representagtes hhumanas, © homem, por raxées desconhecidas, no interessava como modelo de figuracées. Sto rarissimas as obras em que ele ape- rece ¢, na maioria dos zases, esti masearado, coberto de peles de animais (figs. 1 ¢ 3), nalguma ceriménia de magia (Feiticeizo dangando?) Por contraste, cites pintores © gravadores foram extraordi- nivios animalistes. Qualeuer dos animais apresentadas aqui ¢ nas gravuras anteriores (peixes, urso, lobe, veado, rena, manute, Disio, rinoceronte, javali, cavalo, cxbra), € outros que no repro- dazimos (lef das caverras, felinos, bovideos, ete.) revelam, por gual, mestria do trabalho e visio aguda. Os movimentos esto vem observados ¢ as caracteres préprios de cada espécie foram reproduzidos de meneira realists. Um s6 ponto iraco nos sur- preende nesta arte: a austncia quase total de composigses. Soube- ram colocar os animais nos melhores pontos da superficie que Aecoravamn, animaram predigiosamente as figuras, mas nio foram capares de agrnpiclas numa romposigio harmoniosa, Lacuna inex- plicivel, atribuida a indiZerenga, a incapacidade, a reeeio, a proi- Digges religiosas, ete. As graviras e pintuias sto feitas no tecto ou nas paredes das cavernas, sempre m0 interior e, de modo geral, a grande distincia da entrada (dezenas e att muitas centenss de metros), em locais esensos ¢ de acesso diffe, A luz de arcliotes ox de ISeapadas gros- seiras de pedra, em gue a mecha de musgo ardia embebida ex gordurs, conseguiram os pintores paleoliticos realizar as suas obras-primas, em condigées a gue nenhum pintor actual seria ca- paz de sujeitarse. CRAVURA xT [REMRISESYIGDES GRAUIDAS & DESESHADNS DE HOM 9 asAns (ate feancoenntibekea) Se GRAVURA XII No conjunto das estagses da arte rupestre tipiea do Su- oeste espanol ou do Levente avalta a da Cueva de la Arana (Bicorp, Vetducia), embera ns pinturas estejam nial conservadas A ceng que escolhemes (cagada 8s cabras monteses) ocupa apenas uma parte da parede rochosa, na qual estio figurados (emboca aqui ndo estejan reproduzides) grandes veados, eagadores, um cavalo ferido © a eélebre apanha do mel silvestre: um homem, no alto de uma escada de cardu e com um cesto de vime na mfo es ‘querda, colhe o mel que se encontra numa cavidade habitada pelas abelhas, enguanto estas voam em torno dele. B uma das raras representacdes de insectos, de toda a arte paleolitica espanhola A cocada tem a asinagio e vide de uma snarrativas, € una histévia contada por imagens. “Trata-se da tltima fase de uma espera as eabras acossadas por batedores. Cafes ne emboscada, onde se eruzam as flechas, uase todas estio mortas ou feridas: apenas uma parece indemne, mas um caador isolouse do grupo ¢ alveja-a (parte inferior) Observe-se que o vigor 2 o movimento da composicio nada pe: deram com a esquematizagio dos corpos ¢ estes aparecei nas posicces mais diversas, mas todas bem observadas. Os atiradores quase esgotaram a sua provisio de setas; um deles ainda conserva algumas, porque entrou mais tarde 1m matanga, talver por ocupar f fltima eportan da espera (figura central da\dreita) Entre as representasies mais notivels desta arte contam-se 0 javali feido, perseguide pelo cagador, de Charco del Agus Arar 10; um frecheiro dirigindo-se para o veado que abate (Tormon) os javalis surpreendides por cagadores que os crivam de flechas Gasulis); as cabras monteses perseguidas por uma aleateia de Lobos (Aipera); a mac teazendo o filho pela mio e 0 rapaz namorando (Minateda); os bailarinos de Alpera; a batalha dos fecheizos (Morelia da Ta Vella); 0 massaere de sim grupo de ind vidos. desarmados, por um grupo de irecheires (Minateda) ; além de muitas ontras que nto 6 possivel mencionar por falta de espace. Ravens saz I—A CRISE DO MESOLITICO Entre 12.000 ¢ 8.000 anos antes de Cristo, estore os etlelos, aca- tou a dtima fase do Poleotiice Supsrior (Madalenense), por grandes smodificapies climéticas e uma alteragio geral da fauna e da flora euro- peias: entrowse em plena actualidade geolégia Os gelos foram recuando definitivamente para 0 Norte e as espécies de caga préprias das terras geladas desapareceram da totalidade das regiges ocidentais € centrais da Europa, que passaram do intenso frio seco para um clima temperedo-himido. © hiomem seguiu a'migragio dos animais para 0 Biltico ¢ para a Escandindvia, Norte da Rissia ¢ Sibéria, agora jé habitiveis, oa permaneceu nos mesmos Tngares, adaptande-se as novas condigdes de existéncia ‘A este perfodo de transigio lenta, que termina cerca de 5.000 2. C. 110 Ocidente da Europa, foi dado o nome de Mesolitice (do grego mises, rmédio,e lithos, pedra) om Tdade Interméaia da Pedra, por separar uma da outea as fases faleoliticn e neottica, esta (tina easacterizada por win grande ndmero de invencdes extraordinirias ¢ par um clima, fauna e flora jt semellantes aos de hoje. ‘As pertorbagdes causadas pelas mudaugas limétieas provecaram por algum tempo a decadéncia das autigas téeniews, enquanto © homem sifo readaptou of seus instrumentos ox iaventow outros aprapriades & defesa © miamrienedo da vida num ambiente transieemada Yio hé qualquer comparagio entre a riqueza da pintura ow gravara smadalenenses e as débeis manifestagies artisticas do Mesolitizo, inspira- as can prinefpios diferentes. Aparccem mumeroses eultras, gorge a3 variedades climiticas aumentarans e cada zona exige formas diversas de adaptagio, dependentes das espécies de aninisis e de plantas af fixedas, da temperatura, da imidade, etc. Povos de origem asiitica ¢ africana invader 0 Ocidente, expulsando os antigos hubitantes ou fandinde-se com eles. Porguc a temperatura média cumentou, a8 cavernas slo gra- ne ‘dualuente abandonadas ¢ preferem-se as habitagées ao at livre, Os costae mes, a vida evonémica ¢ social sofrem alteragtes vasifiveis, conforme _grau em que foram afectadas as diversas reas googrifices, Por exemplo, vse Espanta, Sul da Franga ¢ terras med‘terrinieas, desde 0 Paleottico, -dominava wm clima temperado ¢ a transformagio cultural comesara antes. ‘As mmudangas foram répides mums poutos, lentes, quase impercepti- vis, noutros. Ainda alguns grupos faziam a vida dos cagadores paleoli- ticos e continuavam apegados as indGstrias da pedra Jaseada, enquanto certns sociedades comesavam a praticar a agricultuza ot a eriasio de gado, origem de uma revoluglo econGuica incaleuléve Os pows mesoliticos deseendem de tribos paleolticas, quer emi- _grassem para regides que s: iam tomando habitiveis (Inglaterra, Bsean- 4inivia, Norte da Alemanha, ete.) quer invadissem terres de outros paleo- lisicos indigenas (Espanba, Franga), Com o novo lima, poptlasses inteiras viram-se obrigadas « absndo- iar a eaga de certas espécies (rena, bisfo, mamute, ee.) que rarearam ot até desapareceram, buscando outras fontes de alimentagio (peixe, molus- os, ete.). Him toda a parte se verifiea uma evelugo paralela, de empobse- cimento e degeneracio das indistrias do sflex, do oso, do marfim © do chifre. As tribos fortes e florescentes de cagadores madalenenses, 0 perderem as smanados selvagens de eaga grossa, passam por uma crise de adaptasio, notéria na pobreza dos vestigios que nos deisaram, sem qual- quer trapo das eapacidades industrinis ¢ artisticas dos seus antecessores. Entra-se mma €Poea «mortar na histéria da Arte ¢ num dos periodos pior conievides da Pré-hisidrie. Os homens dispersam-se em pequenos serupos, estabelucidos nas clareiras das florestas, no litoral, nas margens dos legos, ao longo dos baxcos fluvias. As técnicas ¢ of instrementos so, na guase totalidade, de origem paleoitica. Por isso 0 abade Brenil prefere chamar, a esta fase de tran- sigd0, Epipaleolitica (do grego epi, sobre, depois, © peleolitico). Os agrupamentos humanos aparecem isolados, ¢ por isso as indGstrias apre- sentam caracteres especiis em cada regio ‘Na Europa meridional avultam sobretudo dois eonjastos industriais © Asilense e © Tardenoisense. © Aailonse (de Mased’Acil, Avidge, Poauga) teu ralves puteotiicas < desenvolve-se por todo 0 Ocidente (até 20s Alpes e ao Reno), a partir do Noroeste da Espaul. As suas indtstrias correspondem a ua degene- sagio das téenicas madalenenses, cyjos instrumentos (caspadeiras, bu- sis, ete.) se conservam deutro dos mesmos tipes, ao lado de ui novo ae arpio, achatado ¢ de base perfurada, ¢ das pegas microliticas (do grego. sibrés, pequeno, ¢ lithos, pedra) ‘eitas de fragmentos de pequenas mtinas ou de lamelas finas ¢ estreitas. A.gumas eram tio pequenas que nao podiam ser usadas com os dedos: destinavani-se a armar 0 game de facas, foices © arpies, de madeira ow osso, nos quais eram implantadas (em ranhuras e alvéoles) como dentes muma maxila. Outros. rierélitos serviam de canivetes mimisculos, de furadores das agulhas de sso, ete. As formas variam: trifnguls, trapizi, erescente. A indtstria do esso decain porque desapareceram os grandes manmiferos. (mamute, ete.), embora aparecessem outros de menor eorpuléneia: veado, gato, 1u1s0 pardo, javali, gato bravo, ete. Sob o aspecto artistico 0 Asilense deixou-nos apenas as pinturas a vermelho em pequenos seivos rolados. Sio pedras do rio, bem Tisas, com decoragio de faixas de bordos denteados, cfrculos, linhas, pontos em série, eruzes, ete., ete. (V. gravora XIII). Estao pintedos muma das faces, com peréxido de ferro, aplicado a edo ou e pincel. Qual fosse a intenedo de tais pinturas ainda se mio sabe ao certo, Alguns chegaram mesino aproximé-las de um dos pri- aneiras alfabetos do mundo, o de Creta e do Egeu; se tals representapses fossem letras terfamos que recuar extraordinariamente a invengio das ais antigas eseritas, e nenhum slide argumento nos pode levar a tanto. Aeontece que parte dos sinais se parece com caracteres egeacretenses, mas trata-se de um caso de pura convergéncia de formas: a analogia sb existe no desenho, nfo na intengio que the dew origem. Bergouaioux ¢ Clory interpretam as pinturas como wuma estili levada a0 extreme, de temas humanos © aninalistass. Em dois seixos de Mas-d’Azil aparccem figurados um quadripele ¢, talvez, uma mio. Ea esquematizagio € um trago caracterfstico da, époea: no Maglemosense (arpaes, hastes de cervideos polidas, etc.), hi décoragdes de elementos Tineares, em losango ou em trifngule, nos qusis ase pode reconhecer um peixe, um veado, homens © mulheres, tratades a pontos e tragos “Prata-se de séries de sepresentagies inteiramente convencionais. © artista j& nfo provera setratar, nem seqner sugerir, um veado vive individvalmente considerado; eontenta-se con © menor simero possivel de tragos para sndicar os atributos essenciais por que pode reconhecer-se 1um weado. Por um Jado, descobriu que um esboco esquemiitico & tio efec- tivo coma um retrato vivo para multiplicar os veados comestiveis no mundo real, Por outro lado, labituow-se ao pensamento abstracto. Apre dew a ideia do veado em contraste com este ou aquele veado, sintboli- so, ae zousa na sua forma mais generalizada, omitindo todas as pecttiaridades individuais que distinguem um veado de outro ou 0 mesito veado em datas diferentess (G. Chilée). O sentido das pinturas é ritual on migico? Créeu certos arqueélogos aque elas cbedecem a motivos religioses, ligados ao cult dos antepassados, por oferecerem semelhaaga com os churingas da Anstrlia e da Tasmania, (Os virios clas dos Arunta, enstralianos, tinbasa depositos onde guardavan rrepresentasbes de cada um dos membras do grupo. Hm madeira ou pedra dcsenhavam sfunbolos especais ou figuras lumanas esquemiticas (cli ‘ingas), para representar as almas dos antepassados herdadas pelos ment- Jos actuais do cla, que as guardavam € veueravam mas ceriménias de cculto aos morte: A confirmar o destino miigico e religioso destes objectos, cujos moti- vos decoratives esquemeticos ¢ simétrices tambéu aparecein em pinturas supestres ibériens, esté 0 achado de 133 seixos partidos intencionalmente, em Birseck-Arleshcim (Basileia, Sufga). sto denuncia, cou toda a probabilidads, win acto de vingangs levado a eabo por inimigos, com @ fim de privar aquela tribo do seu mais santo patrimbuio, das «pedras de slmas ¢, com elas, da proieesio dos seus antepassadoss (Obermaier) Contudo vitios préchistoriaiores nao se pronuncian, ficam ua dévida acerca da finalidade das representaeses. Segundo Obermaier, baseado em trabalhos etuoligioos recentes, estas ppinturas no sto briucadeins imaginativas, mas represeutagties meditae dag, sem grande valor estéicoartistico, formas criadas por um rigid simbotismo e com significagio ideogrfia. Imagens onde se exprime win alma coleetivs, sem tragos individuais, Os desenkios repetem-se na mesina forma, dentro de um mesmo efreulo de watiantes. Bram esquemas aeste- eotipadoss, provivelmente ao servigo de ideias religioses, ligadas 20 culto dos mortos ¢ antepassados, As figuras humanas so fantasmas 1a abstraegio mais simples ¢ os animais iam suprirthe a3 necessidades da vida aléu-tiwlo, eram também representados em formas altraterre nas. Os sfimbolos ¢ atributos eram de caricter avigieo. As rochas pintadas cram erochas de expiritoss, &s quais se levavam oferendas e otde se faziam ccriménias e reveréncins, como na actualidade o praticam sinda algunas tribos da Austlis, Polinésa e América do Sit Os seixas pintados encantram-se, com diverio colorido (do vermelho vivo até ao violetaescuro), na zona pirenaien, onde sia abundantes, mas rraramente aparecem fora dessa regio ‘Ao mesino tenspo outzos homens, na Afriea do Norte, na Wilia © na oe Espanha, seguiam diroogées culturais diferentes, inclufdas na designagio genérica de Capsense Final. © Capsense (de Gafsa oa Copsa, a0 sul de ‘Ténis) foi uma cultura africana derivada do Auréuhacense € contempo- rhea do Solutvense e Madalenense europeus, com indiistrias de pequenas Timines © slices retocados geométricas (segmento de efreulo, trapezoi- dais, triangulares, romb6ides, ete.) para armay flechas, anzbis ¢ arpies. Segundo alguns arquedlogos estes clementos africanos teriam penetredo na Europa por invasie, ganhando 0 aspecto Tardenoisense (de Fére-en- ‘Tardenois, Aisne, Franca); segundo outros, o Tardenoisense seria de corigem curopeia. Persistin até aquém do Neolitico a sua tradigio indus- trial, com ou sem feigio geométrica “Tanto o Asilense como o Tardensisense se difundiram por zonas cextensas, sobretnde o filtimo. Em Portugal 0 Afesolitico encontra-se repre- senlado 105 concheiros de Mugen (vale inferior do Tejo), onde foram encontrados cerea de 200 esqueletos © mumerosos objectos fabricados (actualmente no «Museu dos Servigos Geolégicose, a Academia das Citnciss). Os instramentos usados so, em regra, de pequenas dimen- ses; pela primeira vez a pesea e a apanha de mariscos se tornam as actividades fundamentais para garantir a subsisténcia. Perto dos abri- gos onde o homem vivia eno acumularam-se grandes montées de con chas dos moluscos alimenticios. Nem 08 azilonses nem os tardenoisenses estavam preparados para enfrentar as condigdes de vida florestal e dat veio 2 preferéucia pelas orlas litorais, zomas abertas onde encontram ffeil alimentagio quando a fauna glacial desaparece, Entre as varias culturas do Mesolitico destacaremos ainda: a Magle- ise (de Maglenose ot «Grande turfeiras, Seelond, Dinamarca), Asturiense (das Astivias, Norte de Espanha) ¢ a Campinhionse {de Le Campigny, Seine Iuféricure, Franga), todas dc transigio para 0 Neolftico ou neoliticas uns Wtimas fase (© Maglemosense, além dos instrumentos de pedra de tipo tardenoi- -sonse, Lem wma notivel indistria de osso e de chilre, de caricter madale- ‘nense, axpées longos, com protuberfineias ¢ unia ou duas fiadas de bar- belas, anzdis, agulhas, etc. O seu gosto artistico & superior ao das demais culturas epipulcotiticas © revela-se por desenkes naturalistas de gamos © desenlios lineares € geométricos, geavades nos utenslios. Este Madalenense degenerado, do Baltico, estendeu-se desde a Tngla- terra, Bélgica e Franga até 2 Sibéria: os homens chegaram af pela pri- meira ver, seguindo os animais selvagens frctioos (renas, ete.), fogindo cada vez mais para o norte A medida que o elinn da Europa ia aquecendo. a © Asturiense possui uma indtistria pobre, arcaizante, posterior a0 Azilense e que chegaré 8 €poca nedlitica, Em conchciros situados 2 entrada de grutas do litoral ao Norte de Espanha apareceram 0s conjuntos mais hhomogéneos, com os earacterfsticos picos asturienses, seixos rolados, de tamanho médio, de forma oval e achatads, trabalhades em ponta apenas ‘numa das extremidades (por arraneamento de Taseas), enquanto a extre- ‘midade oposta conserva 0 arredondado naturel, formando wm talAo por ‘onde a pedra era empunheda para arrancar 0s mariscos das rochas. Em Portugal o Asturiense encontrasse representado em virias praias da costa ‘ccidental. Além dos pices, acharam-se laminas de sflex atipicas ¢ agulhas dde madeira e de asso, para extrair © molusco da concha. Estes parece que cram cozidos em recipientes de madeira ou em adres de coiro, em cuje gua se deitavam pedras aguecidas até ao rubro. ‘© Campinkiense, cajos centros mais conhecidos estavam localizados a0 norte da Franga ¢ ma Itélia, estenden-se até 2 Belgica, & Inglaterra, A Alemanha, & Polénia, & Riisia, ete. E uma cultura estrana, talver originfria da Asia Anterior (Obermaier), que corresponde 2 transicio do Mesotttico para o Noolitico ocidental. As estagces sfc, quase todas, fundos de cabana» (0 sho térreo das pelhotas cireulares, aprofundado no local onde faziam a lercira, espécie de cova para o lume}, nos quais s= scumularam detritos, © numerosos objectos inteiros om fragmentadas; as sdonas de casa» nfo tina ainda o exidado de varser as einzas ¢ 0 liso. para bem dos arqueslogas futuros. ‘Aos antigos instramentos de stlex (folhas, raspadores, faces, ete.) vieram junter-se movidedess, eriadas pelas circunstincias: 08 picos-euxa- das bifaces, os trinchetes (Hranchets) parcisluente polidos © de gume transversal, vasos de barr ¢ més bragais. Estes achados permitem-nos concluir gue os campiniienses praticavam inicialmente uma agriculiura radimentar (cultura da cevade) e conheciam a cerfmica. A nova indfis- ‘ia, cuja importincia ar:istica vird a ser extraordiniria nas épecas sequin tes, era ainda grosseirfssima. Os vasos, redondos ¢ baixos, de um arto cieio de impureras (arcias, pequenos fragmentos de conchas) e feites & imo, eram decorados (rombos, linhas cruzadas, enxadrezado, ete.). Tre- sos ver quio rica se tomaré a variedade de motivos decorativos na cer’ riea de outros povus no Neolfico © na dade dos Metais; estes primeires censaios so dignos de mengio porque representam o alvorecer, na Europa, de outra arte industrial ‘Ao Norte da Europa, e em relagfio com 0 Maglemosense © 0 Campi- niense, desenvolven-se outra cultura de transigéo para o Neolttio: a = 80 — ‘cultura dos bjdkkonmdddings (palavra dinamarquesa que signifiea ares- tos de cozinhas) ou concheiros nérdicos. Sio montées de residuos deixa- dos por populagées costeiras (os hjikkenméddings aparecem em muitas épocas ¢ em muitos lugares, mas aqui s6 nos -eferimos aos do Mesoltico Final), onde se acamularam os restos que no serviam para comer: eon- chas de maviseos (mais de 19 variedades), oscos de mamferan (wendos, gamos, javalis,ursos, castores, lines, gatos bravos, raposas, lobos, focas, lees, ee,), de aves (cisne selvagem, ete.) ¢ espinhas de peixe (arenques, enguias, linguados, ete.), prova de que esses homens viviam da casa, da pesca e da apanba de mariscos. A eles se deve a invengio do tren6, veiculo de tanta utilidade que desde entio renhum outro se deseobri, capez de adaptar-se melhor aos pereursos em terrenos gelados. (© sparecimento de ossos de fies, preciosos auxiliares na caga aos vveados, is Iebres ¢ outros mamfferos, revela-uos um facto de excepcional slonnce: a domesticagio de animais. No Mescitio, pela primeira vez, 0 animal colabora com o homem, éé-lhe ajuda em troca de protecgio e de alimento, Os concheiros alcansam o comprimento d= 20 8 400 metros, por 3 a a7 de largura e 2 a 12 de altura, e entre os detritos (rico filao para os pré-historiadores!) encontram-se pbjectos de bda a espécie: picos e mar- telos perfurados, de chifre de veado; machados fusiformes, de pedra; panhais, agulhas, furadores, anzbis e pentes, de oss0; além dos instru smeatos de pedsa, de tipo campinhiense. Também fabricaram cerfuniea: 10s vases muito grossas ¢ bojudes, eram formados de largos anéis de barr0, sobrepostos, ¢ tinham o fundo em bieo cénico para se enterrar no borts- Tho, entre as cinzas ¢ carvees Quanto & arte, apenas fireram decoraedes pobres em 0380, de feisio maglemosense ¢ de estilo geométrico puro, como nas representagées azi- lenses e guiadas pela mesma intengfo decorativa ow mégica. ‘Nao citaremos outras indistrias mesoliticas da zona setentrional © meridional, mas porque foi apontada como um dos proviveis focos da sevolugio neolticn, ainda nos referiremos ao Mosoltico da Patestina, des- coberto no Ouddi-en-Natouf (donde the veio 9 nome de Natufiense), AS aapareceram escultaras de valto redondo: gazelss (caleévie), gamos (0580), cabegas humanas (calcite), revelando um sentido artfstico semelhante 10 do Poleolitico Superior ocidental. Esta indistria teria comesado cerca de 10.000 a. C., ¢ apresenta micrélitos ¢ silices de tipo eapsense. Mas 0 aais importante, sob 0 aspecto ecenémico-cultural, foi o aparecimento de hrastes de oss0, outrora armadas com Iamelas de sflex, cujo desgaste ¢ =r patinado, ineonfundiveis, zevelam que se tratava de um instramento usado para cortar caules de gramineas: sio as mais antigas foices coubecides. ‘Como também apareceram na regido més bragais para reduzir os gros silvestres @ farinha (j4 ne Paleotitico Final) © a Palestina € uma das rouas (com 2 Pérsia, a Mesopotimia © a Siria) em que eresce esponta- nneamente © antepasaade silvestre do triga eultivade, 0 Triticum dicoceum, assim como a cevada brave, tal conjunto de circunstincias leva supor que sio de accitar as conclusées de Vavilof, que colocow 0 centro primi- tivo da cultura do trigo na visinhanga do Afeganistdo, indicando a Pales- fing como um dos provévels bergos de agricultura. As foices direitas hatufionses vio aparecer mais tarde no Egipto neolitico (em Fayn, cerea de 5.000 4. C.), (© Mesolitico, apesar de fase transitéria, teve um papel muito impor- tante na vida da Humanidade, porque nele se preparow a grande trans- Tormagio econéinica ¢ cultural que caracteriza 0 Neotilies. A arte esque- ‘matiza-se; © homem ocupa pela primeira vez vastos espagos do mundo Age-se migragses e cruzamentos de povos que contribuem para o apare- cimento de numerosas inovasdes ¢ transformagies de carcter téenico, econbmico © social. «Durante alguns milhares de anos, véem-se nascer, com efeite, entre os natufenses 0 uso da foice ¢ a cultura dos ceveais; entre os maglemosenses, © pico de sflex engastedo muma bainha per- furada de chifre de veado, a cerfmica, 2 domesticagio do cio, o fabrico dos primeiros machados... de gume polido e dos primeiros batcos (remos de madeira).» (Bergouniocx e Glory) [As sociedades de cagaiores palvoliticos tinham atingido © mais alto _gran possfvel da sua cultura material, dado o meio precério emt que viviam. Embora melhorassem as aguisigdes dos antepassados, continuavam esera- vvizados ao clima e & vida vegetal e animal de que dependiam parasitar mente, © elima foi madando: os glaciares reduziram-se ou derreteram-se, 0 mantute, © rinoceronte Iaaudo, a rena, vio deixar de ser vistos na Europa Ocidental, tanto mais que a acgio destruidora do homem vintia aerescentar-se a0s efeitos da mutagio climitica, ‘Desaparecem a tundra, a estepe ¢ as pradarias com matas de bétn- las ¢ salgueiros andes; a floresta invade os terrenos de caca, a floresta com outra fauna menos abundante: o veado, @ boi urs (aurogue) co porco bravo, ete, A fuga 02 0 extermfnio das grandes manadas de mam- feros da zona fria deslocon a base cconémica dos grupos de cagadores, ea sua cultura, bem adaptada ao género de vida de tantas gerades, foisse extinguindo ¢ transformando porque néo servia para resolver 05 a novos probleias da subsisténcia moma terra gue mudara de clitaa, numa paisagem nova, povoada por seres diferentes. Hsta adaptagio corresponde 44 eum dos momentos em que o omem primitivo foi capaz de provar & van tagem total do equipamento por si proprio fabricado, sobre a especisliza- 80 biolégiea dos animais,..0 (Hawkes), Estes emigraram on extingui- ram so, mas o hemem permanccet. resultado de tais trabalhos foram as ealturas mesoliticas. Os ins ‘trumentos sofreram modificacées:: os sflices aio redusidos a uma escala microlitica ¢ a madeira, agora fécil de obter ¢ de melhor qualidade, & vseda para um ntimero erescente de «iustrumentos compostos» (pontas ‘com lamelas engastadas, etc.). uma invengio de amplas consequéncias, uma ideia de que viriam a ser fruto as nossas ferramentas manuais, Noutra direeeao e por outros homens, eriaram-se instrumentos pesa- dos para o corte © preparagio de madeira; a carpintaria é outeo legedo do Mesolitico © zesolven o problema eriado jelo novo factor, a floresta, dominando-a ¢ aproveitando-a, Com o3 machedos e enxés de pedra, gra pos de colonizadores puderam instalar-se em regides cuja cobertura de elo dera lugar a uma cobertura de Grvores, ¢ af deseuvelveran cultures ajustadas as condigdies da vida florestal. evidente que a Buropa io ficou wniformemente recoberta de matas florestais, porque a distribuigio das vores obedece a factores de virin ordem: clima, latitude, altitude, natureza geolégica do solo, afastamento do mar, fauna, acgio humana, ete. Mas a floresta predominou em extensissimas regides ou em frees Jimitadas, e as espécies vegetsis que tinbam emigrado para o Sul durante as glaciagpes, ou se tinham refugiado nas zovas menos frias, voltaram a surgit por toda a parte: pinheiros, flamos, choupos, eavvalhos, eastanhei- os, ete., distribuem-se naturalmente pelas montanhas ¢ planuras, 30 sabor das condigies do terreno e do clima, da altitude e da latitude. Se os padres téenicos e artisticas softer mm dectinio (transforma: ‘fo, ditemos melhor), pelo menos permitiran a sobrevivéneia das anti- -ga8 racas Innmanas da Eutopa © a conservacao de um importante conjunto ra montés, vendo), rareando os bovide avalos, felinos ¢ aves. A esquematizagio € rfgida © as formas afastam-se tanto do modelo inicial que parecem fantésticas. Raras sio as composigées © os grupos representam quase sempre cenas de caga; em regra as figuras estfo iscladas. Sinais virios (pou tos, eftenlos, linhas em aiguezague e onduladas, faixas, estre- las, ete.) aparecem isolades ou formando conjustos ORAVURA Xl tb tH Ht Ke < ee 4 << Ee HX a PP: D Lo +O Le el TNI—A REVOLUCAO NEOLITICA © Neolttico (do grego néos, nov, e Vthes, pedra), também chamado Nova Idade da Pedra on Bpoce da Pedra Polite, & a tltima fase da Pre- histéria © a mais importante, porque eriow alguinas das bases essenciais da vida civilizada. 4B Sicil definiclo mas, sob a apazente simplicidade da sua contribuisho cultural, estava contida, em embrizo, wma formidivel série de transfor. magées econémicas, sociais e téenicas, ao conjunto das quais os arquet- Jogos deram 0 nome de Revolugio Neoltica © folero do grande movimento residiu uo deseobrimento da agrieu! tara, © howem paleolitico era apenas um agente destraidor, um ser parasténio incapae de eriae o que consmmia. Como qualquer outro animal, cagava e calhia o que a Natureza Ihe oferecesse, mama atitude negativa peraute 0 ambiente; a sus alimentagio era precéria, dificil de obter, contingente. Mas hi cerea de sete mil anos, una ou duas soeiedades viersm revolicionar a atitude do homem perante o ateia, descobrinds o modo de dominar algumas forsas criadoras naturais. Quando comegot a semear ea plantar, a coltivar, e a melhorar por selecsio, algumas gramfens e, posteriormente, tubérevlos e frvores, pela pemeira vee obteve o dominio Alo seu abastecimento alimentar. E quase ao mesmo tempo consegue, depois de longas e iguoradas tentativas, domesticar e criar certas espéeies de animals, ligandoas a cle tio fortemente como se desde sempre Ihe estivessem submetidas, Néo interessi saber se foi a agricultura ou a eriagio de gado o primeiro passo para 0 dominio econémico do mundo ox se foram dados ambos pelos mesos grups suviais, Howe tibus de cultivadares que nio criavam zebanhos, e de pastores que no eultivavam a terra, enquanto outras praticavam a lavoura mista, isto €, dedicaram-se simultineamente As duas actividades Na Asia Anterior, segundo parece, prindipiou esta revolugio, que se 87 estenden # pouco ¢ pouco A Europa e & Africa ¢ transformou radicalmente a miaioria das culturas mesotiticas. ‘Uma inovago veio somtr-se as téenicas paleoliticas do trabalho da pedra: o polimento, com o cual se produziu uma série de instrumentos originals e se aperieigoaram alguns dos antigos. : ( novo processo predominoy, sem ter destronada de todo 0 anterior: ainda continuaram a fabricas-se armas e outros abjectos de pera lascada até 8 €poca dos metais, e alguns forana os mais belos e perfeitos que jamais, se fizeram Maiores consequéncias, prticas e artsticas, teve a invengio da cerd- mica, Durante centenas de séeulos © homem apenas soubera aproveitar recipientes aaturais para guardar ou trausportar os alimentos e @ gua: cabagas, cascas de frutos rijos, conchas, calotes crancanas, ete. Depois aprenden a fabricar vasilhas de madeira, de pedra, de eouro e a entretecer fibras vegetais, vimes oa osiras, para fazse castes. Alguns povos primi fivos sevestem-nos de basso para os tornar impermefveis e talves de tal uso tivesse nascide a arte do oleizo. Bastaria que, por descuido on aci- dente, um destes costes ficasse queimado para se constatar ume série de odificagdes inesperadas: 0 vime arde mas 0 barro ganba uma rijeza somelhante & da pedra, muda de cor e de contextura e, se perde a plasti- cidade, conserva a forina inicial. «A esstncia da arte do oleiro consiste fem poder modelar um pedago de argila na forma que desejar, qualquer que seja, e garantir a permanéncia a esta forma, por meio do clumes, (isto 6, do aquecimento a uma temperatura superior 2 Goo graus cent grades) (G. Childe). Assim se ulilizow pela primeira vex uma (ransformagio quimice para fins industriais, De qualquer maneita, surgin alguces no Mosolitico © deseavolven-se plenamente curante o Neolitico, wma das téenieas essen- ciais da humanidade, uma arte industrial que variadfssimos povos trans- formariam ais preciosa arte decorativa Fabricar vases de argile néo 6 tio fil como parece. As posas ceri. smicas mais primitives j4 so 0 frnto de intimeros ensaios variados. «Como todas as invengies, asa aplicagio prition envalve outrasn (G. C.) 1 preciso eseollier ¢ impar c barro. Se estiver earregado de areias grosses om de impureras, & difiell de modelar os reelplentes flearto deteltuosos cox inaproveitiveis, Torna-seindispensivel qualquer processo de lavagem Depois € amassado com Sigua, em proporsao calculada, até se obler uma pasta com certa consist@ncia, nem mito mole, mem mito dura e & qual overs juntar-se dada quantidade de alguma substincie granulosa (areia ae miéda, pedras ow conchas mofdas, palha fimmente cortada, etc.) para stemperary a argila. Sem tal cuidado, a massa pega-se As mios e a mode- Jago torna-se diffcil; além disso os vasos es-alaro durante a cozedura nna fogueira ou no forno, desastre que tambéin acontecerd se 0 vaso no for préviamente posto a secar até se evaporar a fygua com que foi amas- ssado. A argila Inimida fende-se as altas temperaturas ¢ por isso os oleiros péem a louga ao Sol ou perto do Teme antes de a meterem no forno, © trabalho de modelagia, isto 6, de dar forma aos vasos, mesino toseos, fon @ quaisquer outros objectos, exige grande habilidade manual. Nao ficam por aqui os problemas a resolver. Depois de a louga estar a0 fogo, outros factores importantissimes entram em cena. As substfncias qui- ‘micas natural on aztificialmente misturadas com a argila e 0 processo de cozer a certmica, slo 03 agentes da sua colocasio: eastanha, vermella, negra, cinzenta, etc. Quase sempre o barre contém éxido de ferro, Se 0 ‘vaso estiver exposto a0 ar enquanto € cozido, “icaré avermelhado (0 ferro oxidase ¢ forma-se 6xido fErrico vermelho). Mas se ficar rodeado de carves incandescentes, ¢ se 0 ar e 05 gazes da combustio nao entrarem fem contacto permanente com ele, forma-se 6xido ferroso negro e ganharé ‘um fom cinzento. Para escurecer os vasos usot-se também misturar impu- rezas vegetais ou orgfinicas ao barro; expé-los ap famo enquanto cozem, cobriv-Ihes a superficie, enquanto estiver a alla temperatura, com gordu- ras ow estrume, etc. «0 homem teve de aprender a dominar transformagdes como estas 0 ulilizélas, para aumentar a beleza da pega de cerdmicas (G. Childe). Segundo este arquedloga: «a principio, as condigées locais, a quali- dade de argila e de combustivel que se encomrava nas redondezas & que determinariam a cor do vaso. Os barros correntes, cozidos a0 fogo cheio de fumo da lenka dos matagais das regides com forte pluviosidade, dio ‘vasos negros ou cinzentos sujos. Em climas um pouco mais secos podem produsir-se vasos vermelhos e castanhos, Os fogos @ altas tempernturas das plantas espinhosas mediterrineas ou desérticas do louga amarela lida, cor de rosa ou esverdeada, Subsequentemente a oleira aprende a produzir tais efeitos a sua vontade ou a realeé-los para embelezar 0 vaso. Pode, por exemplo, cobrir a superficie do vas> com uma fina eamada de argila escolhida, rica em Gxidos de ferro, a fim de produzit louga de magnifico vermelho. Podia at6 aplicar com um pincel tais argilas espe- cialmente preparadas, de snaneira a delinear desenhos pintades. Devemo- os lembrar de que o efsito das cores pintadas mum vaso por cozer & inteiramente diferente do efeito do produto fital. A pintura de vasos néo ae uma arte simples; o artista tem de prever o aspecto que apresentard o barro cozido... Longo tempo decorren até que a cerdmica pintada pudesse ser manufacturada nas cegides temperadas onde 0 combustivel natural produzia uma chama com fumo. ‘Nestas regives, o engove brilhante, necessirio para fazer salientar a Aevoragin pintada, 26 podia conseguir-se com o auxtlio de nova invengio ‘unt forno em que se pudesse elevar a temperatura a goo ou zo0c" C, mantendo, eontudo, os vases fora do contacto com as chamas. Tal arti- ficio nao é atestado nas primeiras comunidades ncoliticas; ufo aleanga a Europe central ou Ocidental antes da Tdade do Ferro» (G. C.). Foi na Asia Ocidental e no Egipto que cerdmica atingin mais eedo a perfeisio. O homtem descobrira uma matéria perseitamente plistica que era capa de modelar 2 vontade, mas, apesar disso, as formas que criow de inicio foram simples edpias de outras jé existentes. O oleiro pode ruodelar a massa como quizzx, acrescenti-le, corticla, uni-la, seus as limi= tagdes impostas aos artefactos pelo volume ¢ forma das matérias primas até entzo usadas: madeira, oss0 e petra. Porque nfo hove um floresci- mento de formas uovas, assim que 2 eeréinica surgi? Tal novidade 1a criagio no € fécil, nem vulgar. «A fantasia ndo pode trabalhar no véeuo (0 que cria tem de ser parecido com algo do que jf se couliece. Atém disso, a lousa era fabricada geralmente pelas mulheres e para uso das mulheres, € 0 sexo feminine € particularmente desconfiado de inovagdes radicais. Deste mado, os primeiros vasas so imitagdes Sbvias de reeipientes fanni- Tiazes, feitos de outros materinis—de cabacas, de hexigas, membranas ¢ couros, de cestaria e de vime, ou mesito de erfineos lhumanos. Para vincar a semelhanga, ag tiras vegetais que, como nas modernas garrafas de Chianti, envolviam a cabaga para se transportar on dependurar, as cos- ‘turas dos odres ou as fibras entrelagadas da cestaria foram, com frequén- cia, imitadas por desenhos :ncisos ou pintados no vaso, Assim o recipiente feito da nova matéria-prima conseguiu parecer menos revolucionirio © estranbo A prudente dona de easal» (G. Childe). ‘A cerimica devia ter side couhecida por todas as comunidades neo Iiticas: as estegdes arqueolégicas desta fase estio sempre juncadas de Fragmentos de vasos. Cada regifo, cada localidade, apresenta um facies judustrial proprio, com um desenvolvimento local destas ou daquelas formas de reeipientes, dests ou daquela decoracdo, acompanhando 03 tipos, também locais, de instrumentos de pedra, de osso ou de madeira. Cada agrupamento constitu um centro lecalizado em que a evolucio industrial seguin ramos préprios. ao Yao menos importante foi a eriagio da indstria téxtil. Para se protegerem contra o frio, 0 Sol, o vento, a ebiva, o quais~ quer intempéries, os paleoitizos tinham fabricado vestudtios de folhagens ou de pele, cujos inconvenientes & desuecessirio indicar. No Bgipte e na Asia Ocidental se descobri a maneiea de fazer os primeiros tecidas de Tinko ¢, mais tarde, de 12; assim se vinha resolver satisfatSriamente a proteosio do corpo contra as incleméneias do tempo, além de serem mais cémodas e decorativas a3 novas vestimentas, Desta tecelagem primitiva de panos, nasceriam depois outras indstrias de carfeter artfstico: a das tapesariag, tapetes, ete Até se ter chegado a fiar © « tecer 05 fios de linko © de lf houve necessiriamente complicados deseobrimentos > invengées. O eonliecinento das matérias primas essenciais (Gibras flexiveis, resisteutes ¢ finas, tanto de origem vegeta! como animal) foi o passo decisive, Os neolttices do Regipto, da Asia, e da Suiga caltivaram ¢ wtilizaram o linho. O algedao cra jf aproveitado no vale do Indo depois do co 3.000 a. C. e pelo mesino fempo fiava-se a Il un Mesopotimia. Os pélos das cabres © carneiros bbravos, embora sejam nmito curtes, jt servem para tecer. Mas foi por eringio de exemplares selecciouade que se abtiveram og carneitos lant eros. «Un indistria txt requer, assim, nfo 5 0 conhecimento de ‘nbstincias especiais, como o linho, o algolio ¢ Ji, mas também a cringio de animais especiais o cultivo de plantas especiis» (G. C.) ‘Som 2 invenglo do fuso de fiar (com os respectivos discos de pera ot de barro corido que servem de pequenos volutes para ajudat @ enrola- 1ento do fio) 0 aproveitamento dos texteis era impossivel. Quanto a0 fabrieo dos tecidos, 0 processo mais ffeil é » do entrangamento simples 4das linhas am bustidor, como se usa para o fabrico das esteiras. Mas ‘© instrumento essencial da fiagéo € 0 tear, fruto de uma inteligeacia superior ¢ de mil experiacias, complicado mecanismo cujo manejo zo era menos eomplexo, «A invengio do tear foi um dos grands triuafos do fengenho do homem. Os seus inventores sio anénimes, mas deram wna contribuigio essencial para o capital de conhzcimentos hsttanos, realiza- ram una aplicacto da cigncia que s6 aos que mlo pensam se afigura demasiado trivial para merecer atengion (G. C.). A luteligéucia humana alcangon, em pous séeutos, resultados infin tamente superiores a tudo quanto eriara antes, durante centenas de milé- nios. Ao marasmo inicial do Mesolitico, causado pelas inesperadas per- Surbagdes elimaticas, sucede uma époea de progresso técnico evidente que ‘ultrapasson todas a realizages do Paleolitice. Estas grandes transfor- os ‘uagdes culturais foram reilizadas em diversas partes do mundo, em resal- tada de ignoradas experiéncias feitas por homens de vérias ragas, expe- rigncias donde resultaram conbecimentos que se difundiram e entraram fem contacto uns com os outros, através das migragSes, do movimento comercial, da expansio pacffiea ou guerzeira, aperfeigoando-se nesse sinituo contacto ¢ provocaude, por sua vez, novos descobrimentos, multi- plicando as invengoes. Cade grupo destes «produtores de subsisténcias» distingue-se dos ‘outros por diferengas nftidas, constitui uma «culturas. As culturas pre- hist6rieas caracterizam-se pelos seus stipes prbprios de instrumentos, armas ¢ adornos, a sua arte © o8 seus sitos funerdsios peculiares» (G. C.). Como se fizeram todas estas invengses? Néo o sabemos e s6 a8 con Jjecturamos. Foram apresentadas numerosas hipéteses para explici-las. io nos deteremos nesse sampo. Decerto ee conjugaram ao mesmo tempo as necessidades humanas, 0 acaso, as circunstfincias favor‘veis, a inteli- géncia ¢ 0 trabalho de geragtes sucessivas ou de homens excepeional ‘A cerfmica aparecen, segundo parece mais provével, numa regido de clima sub-tropical, a partir da cestaria recoberta de barro; nas encostas das montanhes da Asia Anterior os cordeiros capturados durante a cass formaram 0 niicleo dos primeizos rebanhos domesticados (o efo 36 ajudava 5 tardenoisenses © muglemosenses do Mesolitico); 0 porco, 0 boi e 0 cavalo, também na Asia viriam a ser amansados, constituindo uma reserva riquissimo de care viva, da qual se aprenden a extrair o leite, a Ta ¢ a aproveitar o trabalho. Da agricultura e da tecelagem 3é diseémos © sufi- cietite quanto &s condigdes e loeais da sua aparigha Nes regides sem vias naturais de acesso, ou isoladas dos maiores centros da cultura noolitica pelas difieuldades de comuniensio oferecidas por barreiras naturais (montanhas escarpadas, grandes florestas, deser- tos, etc,), mantiveram-se grupos afastados destes progressas, conservando as suas formas primitivas de vide eonémica eas suas téenicas ru mentates durante milhares de anos, pois alguns chegaram até ao s& ceulo 30x. © Neoittico de cada zegifo uo apresenta 9 mesmo desenvolvimento ‘em todos os elementos constituitives da sua cultura: ung adiantaram-se ripidamente, outros permaneceram cou pacalisades, O polismento da pedra, a tecelagem, a cerfmica, a criagio de gado e a agricultura, desen- volveram-se ei relasio com as correntes culturais asiiticas, africanas ¢ ‘europeias que vieram pér sm contacto invengées oriundas de toda a parte, provocando intrincados cruzamentos de influéncias ¢ amélgramas de ne vatidissimas Uécnicas, como acouteceu uo ocidente da Europa, onde se encoutraram ¢ fundiram tradigées paleoliticas, mesoliticas ¢ neoliticas dos trés continentes. Segundo Gordon Childe, conhecem-se, pslo menos, quarenta regides da Europa e da Asia onde se desenvolveran. importantes mticleos neoli- Hos relacionadas com as eulteas prota-histé-iens ocidentais. O selvagen do Paleolitico transformou-se a pouco e pouco nowtro homem, birbaro finda, mas de eapacidades mentais mais descnvolvidas, melhor estimuls- das pelas novas condigées de vida. Os melhorimentos materiais sio acom- panhados por uma clevagio espiritual indiscutivel, revelada por um ‘sem-niimero de indfcios: euidados com os mortos, desenvolvimento das ideias religiosas, primeiras organizagées politieas ¢ urbanas, aperfeigon- ‘mentos téenicos, ete., ete. Em qualquer destes progressos se pode distin- aguir uma fase de elaboragio e de eclosdo das invengdes; uma fase extei- siva, maccada pela persisténcia da invensio e pelo acolhimento que receben nas regides limitrofes do local onde mascen e, finalmente, uma jase evolutiva, que corresponde ao seu encaminlamento ou disseminacto. através da Terra (Bergounioux, Glory). Porque veio contribuir para a formaga> de ambientes sociais que serviram de quadro a transformagies artisticas, também aos deteremos outro fendmeno: o aumento de densidade populacional, a multiplicagao ripida do homem, depois do desenvelvimento da agricaltura ‘As comunidades de cagadores eram compostas em regea por dez a vvinte pessoas ¢ dificilmente ultrapassariam este limite, devido Is fracas isponibilidades alimentares (caga, peixe, tubérculos, graos e frutos sil- vestres, ete.) de qualquer territério que pevcorressem. Se eagassem ott colessem para além de determinado limite, fariam diminuir gravemente as subsisténcias, pelo exterminio progressive dos animais comestiveis © estruigio das reservas de origem vegetal. Com a agricultura 0 abasie- cimento de comida pode aumentar 2 medida das necessidades do grupo: asta semear mais, para produsir mais ¢ se as bocas a sustentar eumen- tam, também aumentard o mimero de bragos ‘iteis para cultivar o sol. As criangas tornam-se ccondmicamente stds, podem contribuir muito ccedo para o sustento familiar, arrancando as ervas daniubas, expulsando os animais malfazejos, guardando o gado. A mortalidade infantil diminui porque a existéncia s¢ torna menos rade e perigosa ¢ a alimentag3o mais farta, Daf 0 surto ripido da populagio: em toda parte parecem brotar do cho as comunidades de camponeses, em regides anteriormente desa~ Ditadas of mal povoadas por grupos dispersos e raros de cagadores. O a Paleoltico europe duro pelo menos cem vezes mais tempo que o Neolt- co, mas os esqueletos detiveis desta época sio centenas de vezes mais nnumerosos que 0s do perfedo da peda Inscada. Segundo os cileulos resu: ridos por Bergouuioux e Glory, a Gila prehistérica, nama superiieie Ae 542.264 quilémetros quadredos, sustentaria no Paleolitico Superior, ‘com uma fenna glaciéria muito abundante, eeren de 2o.oc0 individuos, dispersos em grupos, cua média, a avaliar pelos achados feitos nas estastes arqueol6gicas, andaria por dex pesseas... Depois do aparecimento da agricultura, i mes Siren podia sustentar milhdes de hebitantes. © bomen multiplea-se, como se 2 sua fecundidade aumentasse inespers. dlamente, ¢ tende a fisar-se ao solo, erabora, ao contrisio do que se jtlgay 4 vida sedentéria nfo acompanhe logo a exploragio agricola da terra, No Paleolitico certas grutas serviram de habitagio quase permanente durante muitos séculos; os seus ocupantes percorriam grandes zonas do territério cireunvisinho, explorando, por erotagios, ofa a Agua, or a Floresta, ora a estepe, ora a staigas, muma economia esgotadora que exi- ssa, para a manutensio de uma comunidade de poncas dezenas de mesn- bros, terrenos de caga © de apanha de frutos silvestres com uma Area siédia de mil quilémetros quadrados Na estagio alsaciana de Focgtlinshoffen, verificowse que a caga

Vous aimerez peut-être aussi