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O documento discute a percepção distorcida da CIA no Brasil em comparação com a realidade. A CIA nos EUA trabalha mais para grupos políticos de esquerda do que para o governo e resiste às reformas propostas pelo governo Bush. O autor cita um livro que descreve como a CIA boicotou informações sobre planos terroristas iranianos, ilustrando a discrepância entre a agência e como ela é vista no Brasil.
O documento discute a percepção distorcida da CIA no Brasil em comparação com a realidade. A CIA nos EUA trabalha mais para grupos políticos de esquerda do que para o governo e resiste às reformas propostas pelo governo Bush. O autor cita um livro que descreve como a CIA boicotou informações sobre planos terroristas iranianos, ilustrando a discrepância entre a agência e como ela é vista no Brasil.
O documento discute a percepção distorcida da CIA no Brasil em comparação com a realidade. A CIA nos EUA trabalha mais para grupos políticos de esquerda do que para o governo e resiste às reformas propostas pelo governo Bush. O autor cita um livro que descreve como a CIA boicotou informações sobre planos terroristas iranianos, ilustrando a discrepância entre a agência e como ela é vista no Brasil.
WASHINGTON, DC - Todo mundo no Brasil imagina que a CIA uma espcie
de KGB de direita, um governo invisvel dominando com mo de ferro uma multido inerme. No plano internacional, uma vasta organizao subterrnea empenhada em fomentar golpes de Estado, assassinar intelectuais esquerdistas e implantar por toda parte o imprio do capitalismo ianque. Se essas fantasias imitam to simetricamente o modelo da espionagem sovitica, porque foi ela mesma que as criou sua prpria imagem e semelhana, invertendo apenas o signo ideolgico da sua realidade macabra para formar o desenho de um tipo de organizao que, num pas com eleies e imprensa livre, jamais teria condies de existir. Esse desenho foi espalhado pelo Ocidente atravs de toda uma imensa subcultura editorial e cinematogrfica produzida, sobretudo, entre os anos 60-80. Aps a abertura dos Arquivos de Moscou, ningum mais tem o direito de ignorar, por exemplo, que o enredo conspiratrio do filme de Oliver Stone, JFK, saiu direto dos escritrios da KGB, nem que o ex-agente Philip Agee, badaladssimo pela mdia popular pelas denncias escabrosas que fez contra a CIA no seu livro Inside the Company: CIA Diary (1975), esteve sempre na folha de pagamentos do servio secreto sovitico e hoje um agente full time do governo cubano. Mas no h pas do mundo em que esses fatos tenham sido suprimidos mais sistematicamente da mdia do que o Brasil. Resultado: as balelas mais sonsas postas em circulao por aquela subcultura tornaram-se, a, verdades de evangelho cuja contestao ainda soa, no mnimo, polmica, isto quando no lana sobre o contestador a fama de psictico... ou de agente da CIA . Para avaliar a distncia entre o imaginrio brasileiro e os fatos, basta notar que aqui nos EUA tambm circula uma multido de livros contra a CIA , mas que a maioria deles a acusa de fazer exatamente o contrrio do que os brasileiros imaginam que ela faz. Nenhum americano razoavelmente culto ignora que esse servio de inteligncia, h bastante tempo, trabalha mais para grupos polticos de esquerda em geral do que para o governo do seu pas. Isso comeou na era Reagan. Ronald Reagan foi um grande presidente, mas nas ltimas semanas de mandato fez uma burrada monumental: privatizou uma parcela importante dos servios secretos. Quem podia comprar comprou um pedao e o ps a servio de si prprio. A famlia Clinton, por exemplo, tem l seu feudo particular. Sem saber dessas coisas, o pblico brasileiro entende s avessas acontecimentos importantes como a falsa informao sobre as armas de destruio em massa de Saddam Hussein. O que aos olhos brasileiros pareceu uma desculpa maquiavlica inventada por George W. Bush para legitimar a invaso do Iraque (at hoje isso repetido na mdia nacional como obviedade de senso comum) foi na verdade uma cama-de-gato armada para o presidente por
gente desleal dentro da CIA . Da a limpeza geral que o governo est
fazendo nesse servio de inteligncia, trocando tipos suspeitos por funcionrios concursados. Uma das melhores fontes para estudar o assunto so os artigos de Jack Wheeler, filsofo que abdicou da carreira acadmica para levar uma vida de aventureiro, caador de tigres e estudioso de culturas primitivas, acabando por ser conhecido como o Indiana Jones da direita. Wheeler trabalhou na CIA por algum tempo e no modera as palavras ao dizer o que viu l dentro: um panorama que vai da indolncia anrquica ao antipatriotismo militante de altos funcionrios empenhados em amarrar as mos dos agentes por meio de exigncias politicamente corretas impossveis de cumprir, quando no em sonegar ao governo informaes vitais para a segurana do pas. Wheeler me disse que o empreendimento mais importante do governo Bush era justamente a reforma dos servios de inteligncia, mas que seus resultados seriam muito lentos, tamanhas as resistncias que encontrava entre os marajs remanescentes da era Clinton. Mesmo depois da conversa com Wheeler, porm, eu no imaginava que essas resistncias podiam chegar ao ponto do boicote sistemtico e da rebelio ostensiva. O que me abriu os olhos foi o livro de Curt Weldon, Countdown to Terror(Contagem Regressiva para o Terror), publicado h uns meses pela Regnery e a mais importante dentre as obras sobre a CIA que entraram na lista de bestsellers do New York Times . O autor um deputado pela Pensilvnia, reeleito consecutivamente por vinte anos. Durante sua experincia como vice-presidente de duas comisses parlamentares encarregadas de assuntos de segurana, Weldon obteve informaes confiveis de um dissidente iraniano sobre esquemas terroristas diretamente concebidos pelo governo de Teer. O principal era o plano de atirar avies com pilotos suicidas no sobre um simples prdio comercial como no 11 de setembro, mas sobre o reator nuclear de Seabrook, Massachusetts, ocasionando uma catstrofe do tipo e das dimenses de Chernobyl. O informante dava tambm detalhes sobre a fabricao da bomba atmica iraniana em ntima associao com a Coria do Norte um projeto em estgio muito mais avanado do que se imaginava no Ocidente --, descrevia a rede de agentes iranianos infiltrados no Iraque para espalhar o terror e esmagar no bero a democracia iraquiana, e resumia atas e mais atas do Comit dos Nove, a entidade criada pelo governo do Ir para coordenar a atividade terrorista em escala internacional. Dizia ainda que Osama bin Laden se encontrava refugiado no Ir como hspede de honra e que entre os projetos terroristas em andamento estava o assassinato do ex-presidente George H. W. Bush. Mas a surpresa maior estava por vir. Quando tentou passar essas informaes para a CIA , Weldon se defrontou no s com uma barreira de m-vontade e indolncia, mas com uma hostilidade ativa que tentava por todos os meios inclusive a ameaa de coero fsica bloquear o acesso ao informante e impedir que os dados fornecidos por ele chegassem ao primeiro escalo do governo.
Isso continuou mesmo depois que a mais espetacular das revelaes, a do
ataque a Seabrook, foi integralmente confirmada pela priso, pelo governo canadense, de um grupo de terroristas preparados para realizar a operao o que, segundo Weldon, no significa que o plano tenha sido abandonado e no esteja sendo levado adiante neste preciso momento, em algum outro lugar do mundo. Weldon tentou por todos os meios articular os vrios servios de inteligncia para que fizessem a anlise cruzada dos dados, mas todos os seus esforos foram boicotados de maneira to ostensiva que ele desistiu de buscar a ateno do governo e resolveu apelar diretamente ao povo americano, publicando os relatrios do seu informante clandestino na esperana de que a opinio pblica pressione o governo para levar a fundo a reforma do sistema de segurana. Este livro escreve ele no prefcio um ato de desespero. Trago-o presena do leitor porque no consegui que a comunidade de informaes fizesse nada a respeito, embora minha fonte tenha provado sua credibilidade e embora a informao que ela fornece anuncie um ataque terrorista maior aos Estados Unidos. No possvel ler essas coisas e continuar no enxergando o abismo de diferena entre a realidade da CIA e o que se escreve a respeito dela na nossa mdia. *** O Brasil sempre viveu mais ou menos margem do mundo, descompassado com o tempo histrico, incapaz de absorver as idias vivas mas pronto a recolher e cultuar com devoo necrfila os resduos da sua decomposio to logo o restante da humanidade as tivesse esquecido por completo. No digo isso, claro, com base no preconceito historicista de que as idias so apenas expresses do seu tempo, sem valor permanente. No disso que estou falando. O que quero dizer que idias no so seno reaes da mente humana a determinadas situaes vividas. Quando as situaes mudam, as idias criadas em resposta a elas mudam tambm de significao e tm de ser reinterpretadas luz do tempo histrico transcorrido. Quando elas chegam com atraso, desacompanhadas do respectivo upgrade cronolgico, o risco que isso implica no o de estar fora da moda coisa que, em si, pode ser at saudvel. que essas idias ento adquirem uma espcie de fora autnoma, deixando de funcionar como interpretaes da realidade e sendo tomadas como se fossem elas prprias a realidade. Pior: como os seres humanos que as absorvem acabam agindo em funo delas, elas criam mesmo uma espcie de realidade substitutiva, feita s de palavras e smbolos, que para quem vive dentro dela a realidade tout court . Vidas inteiras podem transcorrer dentro desse cenrio de fico sem jamais dar-se conta de que no viveram realmente, apenas pensaram e falaram. A histria da cultura brasileira e da poltica brasileira no passa, nesse sentido, da histria de uma prodigiosa alienao, de um divrcio completo entre experincia vivida e pensamento. A vacuidade, o sem-sentido, a impotncia de lidar com a realidade condenam o pas a uma sucesso de
fracassos aparentemente sem explicao, que, de quando em quando, num
paroxismo de revolta contra o destino incompreensvel, ele tenta superar por meio de sobre-esforos de transformao ainda mais deslocados e inteis. A ltima dessas cclicas convulses pseudo-libertadoras foi a onda de entusiasmo nacional pela tica. Sob a inspirao desse fetiche verbal, a nao inteira se mobilizou para destituir um presidente supostamente corrupto, que depois de derrubado acabou sendo totalmente inocentado na justia, bem como para elevar ao poder um partido tico que veio a se revelar uma mquina de corrupo incomparavelmente mais vasta e daninha do que todos os Anes do Oramento, PCs Farias, Cacciolas e Juzes Lalaus somados. Esse resultado era previsvel, mas para prev-lo era preciso saber que a expresso mesma partido tico se originara na Itlia, nos anos 30, com o idelogo Antonio Gramsci, como expresso tcnica do vocabulrio comunista destinada a designar a habilidade que o partido revolucionrio deveria ter de amoldar a moral social s exigncias da sua prpria luta pelo poder. Como ningum sabia disso, a palavra tica foi comprada pelo seu valor nominal, deslocado do contexto originrio e preenchido de conotaes morais sublimes, de tal modo que a nao inteira colaborou alegremente na acumulao de lixo petista no instante mesmo em que imaginava passar o Brasil a limpo. Transformadas em cmplices de seu prprio ludbrio, coautoras do seu prprio escrnio, no de estranhar que agora as classes falantes deste pas se sintam inibidas de dar situao presente as suas dimenses reais e no aceitem denunci-la seno com toda sorte de ressalvas eufemsticas destinadas a salvar pelo menos um pouquinho da reputao dos acusados preocupao que ningum teve diante de casos de gravidade incomparavelmente menor, onde os suspeitos, no raro objetivamente inocentes, foram entregues s feras sem d nem piedade, entre urros de sadismo tico. Na poca, o PT usava e abusava de uma oratria hiperbolicamente alarmista, na qual qualquer grupelho de suspeitos era imediatamente ampliado s dimenses de um sistema paralelo e qualquer indcio de safadeza vulgar se tornava um iminente golpe de Estado, um risco apocalptico para a segurana nacional. O observador atento notaria de imediato, no descompasso mesmo entre a retrica e os fatos, a presena do intuito de camuflagem. Hoje tornou-se evidente que o nico sistema paralelo em formao na poca era o prprio PT, que, seguindo o velho conselho de Lnin, acusava os outros de fazer o que ele prprio, assim, podia fazer com toda a tranqilidade, a salvo de qualquer suspeita.