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Jornal da Academia do Porto || Ano XXIII || Publicação Mensal || Distribuição Gratuita || Directores: Filipa Mora e Manuel Ribeiro ||

Director
Jornal da
deAcademia
Fotografia:doJosé Ferreira
Porto Directora
|| Ano||XXIII de paginação:
|| Publicação MensalJoana Koch Ferreira
|| Distribuição || Chefe de Redacção: Mariana Jacob
Gratuita
Directora Filipa Mora || Director de Fotografia Manuel Ribeiro || Directora de paginação Joana Koch Ferreira
Chefe de Redacção Mariana Jacob

MARÇO ‘10

|| Cultura 21 || Críticas 27 || Cardápio 28 || Opinião 29 || Devaneios 31

história(s)
23 anos a contar
Jornalismo
Universitário
Destaque 2 || Educação 6 || Sociedade 10 || JUPBOX 13 || U.Porto 14 || FLASH 16 || Desporto 18
2 || JUP || MARÇO 10

Amador na opção, p
vatização do Palácio de Cristal,
Este é o mês do 23º aniversário do JUP. Via- que “merece atenção pelo
interesse público”, e
jamos pela história do Jornal Universi- o artigo e foto re-
portagem sobre
tário do Porto, onde histórias de luta as Quintas de
Leitura, “pelo
e dedicação o tornam um marco Desporto e Opinião.
A editoria de Internacional
interesse e
qualidade
obrigatório na vida da Universi- morativa
que o JUP
acabou por ser abandonada nes-
ta “reestruturação”, assim como
que des-
pertam
dade e da própria cidade do Porto. dedicou aos 30
anos do 25 de Abril.
Economia e Ambiente, que foram
integradas nas outras editorias. Os
no espec-
tro cul-
Dino Almeida realça temas agora abordados pelo JUP tural”. Já
que “quando alguém queria passaram a ter um enfoque maior Manuel
Era um grupo de alunos da Facul- aconteceu em 1989, dava o JUP os falar sobre um tema mais polémico no Grande Porto e na Academia. R i b e i ro
dade de Ciências da Universidade primeiros passos na sua história. e um pouco mais abertamente ia O livro de estilo do Jornal foi tam- destaca a
do Porto que decidiu reunir-se para Jorge Pedro Sousa refere também ter com o JUP”. bém actualizado. A diferença mais cobertura
criar o Jornal Universitário. “Uma os artigos sobre “as iniciativas estu- O espírito era sempre de expecta- notória, no entanto, registou-se às férias
voz activa, corajosa e determina- dantis europeias, sobre os jovens e tiva, de fazer algo novo, de marcar a nível gráfico: o jornal foi ob- desportivas
da”, capaz de apontar as falhas e os a Europa”, numa altura que come- a diferença. O primeiro editorial do jecto de estudo da tese de (organizadas
êxitos do sistema de ensino. Enfim, çavam os programas de intercâm- Jornal dizia que “ainda estamos lon- mestrado de Joana Koch pela Federa-
capaz de fazer a diferença. Em bre- bio. Anos mais tarde, o projecto A ge... muito longe... de dizer: missão Ferreira, directora de ção Académica
ve, tornar-se-iam independentes da Ponte “acompanhou entre 2000 e cumprida”. E agora, 23 anos depois, Paginação. do Porto - FAP) e
AEFCUP, para “vincar a sua indepen- 2002 as actividades da Porto 2001 será que o JUP continua com o mes- Actualmente, ainda a reportagem
dência e o seu carácter aberto”. Nas- – Capital Europeia da Cultura, apre- mo fôlego para cumprir a missão? O a impres- sobre os Jogos Galaico-
cia assim, no final da década de 80, sentando uma visão reflectiva dos que mudou, afinal, no JUP nas últi- são do Durienses, da edição de
o “Jornal Universitário do Porto”. estudantes sobre o que se passava mas duas décadas? Dezembro de 2009. Para o
Acima de tudo, a criação de um na cidade”, recorda Sara Moreira, actual director, “o “enviado-es-
Jornal de todos os alunos “impu- presidente do Núcleo de Jornalis- Novos tempos pecial” [Francisco Ferreira, editor de
nha-se quando estamos cansados mo Académico (NJAP). O mês de Dezembro de Desporto], que acompanhou a comiti-
de apontar (e de sentir) as falhas do Dino Almeida, jurista e um dos 2008 marcou um JUP va da UP à Galiza, virou de repórter a
nosso sistema de ensino”, conforme fundadores da revista “Águas Fur- novo ciclo na chega atleta e por sinal não desiludiu”. “En-
se podia ler no editorial da edição tadas”, salienta ainda as entrevistas história do aos 10.000 tra seguramente para a história deste
zero, em 1987, assinado por Jorge aos então Reitores Alberto Amaral J U P, exemplares por jornal com 23 anos”, destaca Manuel
Pedro Sousa, actualmente jornalista, e Novais Barbosa. Já Susana Mari- edição. Com cerca de Ribeiro.
professor e investigador na área de nho, antiga directora do NJAP, des- sete publicações por ano, é Dentre os antigos colaboradores, o
Comunicação. taca a reportagem “Deficientes distribuído “em todas as institui- carácter crítico do jornal é uma das
são as Faculdades”, sobre as ções da Academia do Porto”, afirma características que recordam com
Grandes reportagens pessoas com dificuldades que Sara Moreira, presidente do NJAP. mais saudade. “Estou convencido
Os primeiros números do JUP foram de locomoção nas ins- passou Mais recentemente, as reporta- que foi isso que marcou os leitores”,
marcados por reportagens sobre os tituições académicas. nesta altura gens que ficaram na memória dos ressalta Dino Almeida. João Teixeira
principais problemas que afectavam Refere ainda o ar- por uma remo- novos directores tratam de diferen- Lopes considera que o JUP ainda “é
os universitários: condições de alo- tigo sobre a in- delação, a vários ní- tes temas. Filipa Mora salienta o des- um bom exemplo de jornalismo crí-
jamento, as cantinas universitárias, cineradora do veis, a cargo do direc- taque de Novembro de 2009, sobre o tico, de um jornalismo interventivo,
as alterações no Ensino Superior, a hospital de tor Carlos Daniel Rego. fenómeno do Admirável Porto Novo sem deixar de ser rigoroso”. Apesar
Queima das Fitas. Foram várias as re- São João e Foi feita uma nova definição noctívago, “pela diversidade da repor- de considerar que o jornal está mais
portagens polémicas que causaram a edição das editorias presentes no Jor- tagem e pela equipa”. A actual direc- profissional, Jorge Pedro Sousa con-
burburinho no meio académico. come- nal: Sociedade, Educação, Cultura, tora refere ainda o artigo sobre a pri- sidera-o “não tão corrosivo” como o
João Teixeira Lopes lembra-se de foi nos seus tempos de estu-
um artigo de Ana Brandão “em que dante. “Infelizmente, talvez
ela acusava a comissão da Queima não seja tão impertinente e
das Fitas de ter utilizado dinheiro incomodativo, no bom sen-
do seu orçamento para financiar tido, como o foi no final dos
abortos”. Director na altura, confes- anos oitenta e princípios dos
sa que houve tentativas de retalia- noventa”, confessa o investi-
ção após a publicação da notícia. Tal gador. Susana Marinho, antiga
Destaque
JUP || MARÇO 10 || 3

rofissional na acção
directora do NJAP, reforça a impor- a conhecer o próprios estudantes, que
tância do espaço para a opinião no jornalismo aprenderam no jornal uni-
Jornal, “pois penso que uma das a todos os versitário novas formas
obrigações do JUP é defender os in- estudantes de se expressar e compre-
teresses dos estudantes, incluindo a do ensino ender o mundo académico.
crítica a alguns aspectos medíocres superior”, João Teixeira Lopes, professor
que possa haver no seu seio”. e xp l i c a. da FLUP e ex-deputado pelo Blo-
Filipa Mora realça o esforço diá- Não deixa de apontar ainda a falta em 1999 e teve 10 edições semes- co de Esquerda, conta como a
rio do JUP “em despoletar interesse de mais participantes, sendo esta a trais até 2006. Susana Marinho, an- quer participação no jornal lhe deu
nos temas que cobre”, considerando principal dificuldade do Jornal: “Fal- tiga directora do NJAP, considera c o m “uma noção muito mais vasta
que a maior evolução reflectiu-se ta gente ao JUP, com vontade de par- a criação desta revista como textos para das nossas semelhanças e das
“nos temas de teor mais investi- ticipar e manter este projecto”. “O um grande desafio, “não o JUP, quer nossas diferenças”. “Através do
gativo que tentamos publicar”. “É JUP sofre do síndrome Bolonha. Os só por toda a logística com o desenvolvi- JUP consegui aperceber-me de
com um misto de sangue, lágrimas estudantes têm menos tempo para que isso envolveu, mento de outras ac- realidades que me estavam dis-
e suor que cada jornal sai todos os desempenharem actividades em como também tividades e procurando tantes”, conta o docente.
meses”, exalta a directora. paralelo com os cursos que estão a pela qualida- sempre novos associados”. Os antigos colaboradores con-
frequentar”, lamenta o director. de que se A antiga directora fala ainda tinuam a ser leitores assíduos
E os estudantes? Sara Moreira, do NJAP, explica procu- da “resistência a vários tipos de do jornal do qual fizeram parte
É um lugar-comum dizer-se, hoje como é difícil gerir “a dicotomia ra- condicionamento editorial”. no passado. Para Dino Almeida,
em dia, que os alunos estão mais sempre latente no associativismo Sara Moreira está esperançosa “é como regressar a uma publi-
preguiçosos, menos motivados a voluntário versus a necessidade de quanto ao futuro do NJAP: “vejo o cação que sentimos nossa e nos
participar. No entanto, os próprios estabelecer e cumprir compro- Núcleo a despontar como estrutu- faz falta…Quando se trabalhou
alunos não o admitem. Após 23 missos para que a máquina ra viva, local de trabalho e convívio, num projecto sentimo-lo um pou-
anos de existência, o JUP continua continue a mexer”. Filipa ponto de encontro de pessoas, co nosso”. O jurista salienta que
a contar com vários colaboradores Mora corrobora, lembran- interesses e reflexões, após “todo o arquivo do JUP é de um
que têm uma visão nova e diferente do que “o JUP é feito por um período de 3 anos enorme capital cultural e social.
sobre o Jornal. pessoas que se dedicam vo- em que as portas Deu grandes coisas a esta cidade e
Mariana Catarino, aluna do Cur- luntariamente à causa, que é estiveram mais mais do que isso inspirou muitos
so de Ciências da Comunicação, en- o jornalismo amador na op- fechadas”. A outros projectos de jornalismo e
trou no Jornal Universitário “para ção, profissional na acção”. va imprimir à re- actual Pre- não só”. Dino Almeida considera
começar a ganhar alguma experi- vista”. E para Sara Moreira, sidente es- mesmo que o JUP “é um marco
ência” na área do Jornalismo. “Com não está esquecida: “continua a pera que na cidade universitária”.
o JUP sinto-me mais integrada na
UP e conheço melhor o Porto”, O NJAP: um ser um projecto acarinhado e esta-
mos a analisar formas de continuar
“nunca
seja des-
Entre elogios e reclamações,
não faltaram sugestões. João Tei-
confessa. Liliana Pinho, do primei-
ro ano do mesmo curso, acrescen- universo de a sua publicação”.
As Galerias JUP, localizadas na Rua
curada
a ex-
xeira Lopes considera que o jor-
nal tem que “ser capaz de criar
ta que “participar neste projecto é
muito gratificante”.
cooperações Miguel Bombarda, acompanham a
actividade cultural da zona onde se
trema
impor-
as suas próprias notícias, deso-
cultando muitas vezes o que está
Dentro dos outros cursos, o caso
muda um pouco de figura. Maria,
alargadas insere. O próprio edifício do NJAP
recebe debates, palestras e acções
tância
do papel
obscuro, fazendo investigação,
indo para além das fachadas, e
estudante de Ciências Farmacêu- O Núcleo de Jornalismo Académico de formação para os estudantes. do Nú- tendo um papel interveniente na
ticas, confessa que não lê o jornal do Porto (NJAP) reúne um conjun- Susana Marinho aponta os prin- cleo de própria academia”. Jorge Pedro
mais vezes “porque muitas vezes as to de diferentes projectos. A revista cipais desafios do cargo que ocu- Jornalismo Sousa corrobora esta opinião, já
capas não chamam a atenção”. de literatura, música e artes visuais, pou: “criar uma imagem do Nú- Académico que “o JUP volta-se muito para o
Uma colega sua comenta “Águas Furtadas”, tem o objectivo cleo como uma associação do Porto en- exterior, nomeadamente para o
que fazem falta mais ar- principal de divulgar artistas dinâmica, aberta a todos quanto agente campo cultural, o que é bom, mas
tigos sobre todas as promissores com pouca quantos quisessem e plataforma de que tem uma consequência nega-
faculdades, pois “po- visibilidade. Foi lan- contribuir reflexão e de cons- tiva, que é abandonar o olhar so-
diam falar do que çada ciência colectiva”. bre a Academia, a principal razão
se faz em toda a para que foi criado”. Dino Almei-
Universidade”. da também refere a importância
Manuel Ribeiro, di-
rector do JUP, salienta a “Caixinha de da actividade académica, insti-
gando-se ainda sobre os possíveis
necessidade de adaptar o jor-
nal a toda a Universidade, o que recordações” desafios para o JUP no futuro, que
podem passar pela adaptação ao
passa pela variedade de colaborado- Desde a sua fundação, as linhas acordo ortográfico e pela criação
res. “Uma das missões do JUP é dar do JUP foram delineadas pelos de edições electrónicas.
4 || DESTAQUE JUP || MARÇO 10

Em tempo de novas tecnologias, “Por mais obsoleto que possa


ninguém quer ficar atrás quando soar em 2010, falta um site actu-
se fala no salto para a Internet. alizado. Mas só depois do míni-

JUP: uma missão


O meio académico é um meio mo de colaboradores assegurado
privilegiado, em que o contac- é que partimos para o online”,
to com as novas redes são não explica Filipa Mora, directora da
só importantes como essenciais publicação. O que falta? “Tu, eu,
para o enriquecimento dos estu- nós e eles, os estudantes. Falta a

que se cumpre
dantes. Muitos assumem que os equipa!”, pensa Manuel Ribeiro,
jornais universitários, inseridos também director.
neste contexto de inovação, de- Enquanto isso, o jornal traça o
vem acompanhar essa evolução. seu caminho pelas redes sociais.

a cada edição
Mas isso não se passa da mesma Além da cobertura do Fantaspor-
forma em todos os jornais. to através de um blog em parceria
O JUP tenta aliar-se a estas no- com o portal Rascunho.net, está
vas potencialidades a passos cada presente no Twitter (ferramenta
vez maiores. Possui um site e um utilizada para a cobertura das
blog dos Espaços JUP, que destaca Férias Desportivas) e em outros
as actividades do NJAP (Núcleo de blogs, como o que cobriu a Quei-
Outros jornais universitários juntam-se também Jornalismo Académico do Porto). ma das Fitas 2009 além das noites
No entanto, ainda não tem do Queimódromo e outro para
à conversa, mostrando como cada um ultrapassa um espaço fixo para distribuir trabalhos que não são publicados
informação na Internet. A ideia em papel. A pouco e pouco, o ob-
as dificuldades neste (já não tão) novo mundo digital. do site de notícias do JUP ainda jectivo é chegar cada vez mais di-
é um projecto por concretizar. rectamente aos estudantes.
JUP || MARÇO 10 DESTAQUE || 5

josé ferreira
tério. A actualidade das notícias
junta-se ao multimédia, à capaci-
dade de dá-las a conhecer sob vá-
rios formatos, muito além do que
a tinta e o papel permitem. Os tex-
tos mais curtos, as imagens mais
apelativas, o “zapping cibernético”
pelos vários conteúdos disponíveis
podem ser a arma dos jornais para
que os estudantes continuem a
dar-lhes atenção. Para continuar a
fazer parte da sua vida.
Apesar de considerar ser difícil
Uma redacção à espera de mais colaboradores “pensar um jornal universitário
para arrancar com a edição online do JUP como o JUP que não seja (também)
impresso em papel”, Dino Almeida,
antigo colaborador, não deixa de
abordar a importância da adapta-
O meio académico é ção aos novos meios: “não nos po-
demos esquecer que as universida-
um meio privilegiado, des estão sempre na vanguarda e
em que o contacto por isso não me admira que surjam
com as novas redes alterações a esse nível”.
Demos aqui exemplos daqueles
são não só importantes que começam já a acompanhar
como essenciais para este clima de mudança. A Cabra
foi bem sucedida na transição, o
o enriquecimento dos ComUM começou directamente
estudantes. “na crista da onda”. O JUP, apesar
Jornalismo universitário: da falta de um site, encontrou
intervenção continua em força
aqui e ali soluções para informar
na era da Internet? A presença dos com imediatismo na Internet.
jornais na Internet Os jornais universitários são
tornou-se essencial, feitos por estudantes, para estu-
dantes. Abordam questões per-
particularmente os tinentes, como só o pode fazer
“É difícil pensar um jornal
universitário como o JUP que não jornais que têm os quem está por dentro de quais
seja (também) impresso em papel.” são os problemas que afectam o
universitários como seu mundo. Estará o público dos
público-alvo. nossos jornais realmente a migrar
para a Internet – onde teremos
A experiência apenas um semestre porque a hoje. As versões são distintas uma gráficas, reacções mais momentâ- que “armar a tenda” e voltar a ca-
dos bracarenses… equipa directiva, composta, na da outra, mas só desde o início neas”, explica a jornalista. E ainda tivá-los – ou terá mesmo perdido
A ideia de entrar de cabeça na sua grande maioria, por alunos deste ano lectivo é que, com a re- acrescenta: “O online é isso, é o grande parte do interesse sobre o
vida dos estudantes através do que estavam no 4º ano e foram modelação do site, houve maior explanar a realidade no agora”. que se passa no mundo imediata-
meio que mais utilizam – a Inter- estagiar, se desfez.”. Desde então, facilidade para gerir e articular mente à sua volta?
net – foi o que passou pela cabeça o ComUM voltou-se, mais uma os conteúdos da versão impressa Desafios da transição Apesar de a ligação com os jornais
dos fundadores do ComUM, jor- vez em exclusivo, à edição online, com a online. “Desta forma, por A presença dos jornais na Internet não ser a mesma de outros tempos,
nal dos estudantes de Ciências da onde continua de boa saúde. diversas vezes remetemos para tornou-se essencial, particularmen- ainda há quem não desista de procu-
Comunicação da Universidade do As dificuldades em manter a o site entrevistas na íntegra que te os jornais que têm os universitá- rar informação. Para Dino Almeida,
Minho. Nascido no meio online, edição online prendem-se com a saem na edição impressa, assim rios como público-alvo. É um facto é necessário manter algumas carac-
em Dezembro de 2005, sobrevive actualidade que se espera do que como foto-reportagens sobre te- que os jovens lêem cada vez menos. terísticas para continuar a suscitar
até hoje com vários colaborado- é publicado na Internet. “Muitas mas abordados no jornal”, explica O preocupante seria confirmar que o seu interesse e captar novos pú-
res e histórias para contar. vezes perdemos alguma actuali- João Ribeiro, director d’A Cabra. os estudantes perderam interesse blicos: “Bons textos, boa grafia, ac-
A experiência impresso/online é dade quando noticiamos, mas é Vanessa Quitério, coordenadora também por jornais feitos especi- tividade de reportagem intensa que
inversa aos outros congéneres: o complicado exigir mais numa re- do projecto online no ano passa- ficamente para si, como o são os cative leitores”. Na resposta a este
jornal na Internet veio primeiro dacção em que não há nenhum do, explica que existem diferen- jornais universitários. desafio estarão sem dúvida presen-
e, em 2008, lançaram uma versão elemento profissional”, justifica o ças entre a abordagem impressa e A solução passa por aproximar tes as próximas páginas do JUP – no
impressa do jornal... que durou 9 director do ComUM. online. “Ambas se completam. Na os jornais do seu público, apro- papel e na Internet – onde se con-
edições. Primeiro semanalmente, Internet, pelo poder do imediato, veitando o meio onde este passa tinuará a escrever novos capítulos
depois quinzenalmente devido … e a dos conimbricenses do hoje e agora, as informações grande parte do seu tempo – a da História do Jornal que completa
a “dificuldades em angariar fun- O Jornal Universitário de Coimbra antecipavam as reportagens de Internet – e as suas potencialida- hoje 23 anos de existência.
dos”, o projecto acabou por ser A Cabra nasceu em 1991, numa profundidade de campo, levan- des. “No online o objectivo é dar
abandonado. Paulo Paulos, direc- era onde ainda predominava o tavam o véu para o posterior as notícias da cidade e do mundo,
ALINE FLOR E TATIANa HENRIQUES
tor do jornal bracarense, explica analógico. Em 2004, lança a sua esmiuçar do papel. Bem como a do dia, acompanhando a realidade alinerflor@gmail.com,
que “o ComUM impresso durou versão online, que perdura até publicação de reportagens foto- noticiosa”, relembra Vanessa Qui- tatehenriques@gmail.com
Educação

6 || JUP || MARÇO 10

liliana pinho
no estudante a percepção de que
aquilo que se conhece hoje não é
um conhecimento sólido, mas algo
que está em “constante mutação” e
prepará-lo assim “para acompanhar
melhor as evoluções desse conheci-
mento”. Não deixa de referir tam-
bém o “papel nuclear deste projecto
na universidade”, que se constrói
com “muito trabalho”, afirma.
A interdisciplinaridade e a inter-
nacionalização são as palavras de
ordem, uma vez que “a Universida-
de do Porto pretende, cada vez mais,
O Vice-reitor da UP, Jorge motivar os estudantes e atrair estu-
Gonçalves é um dos mais dantes estrangeiros”. Encontravam-
entusiastas a esta iniciativa
se presentes na sessão delegações
da Universidade de São Paulo (USP)
e da Universidade Estadual Paulista
(UNESP), com quem a UP tem acor-
dos de investigação. Os responsáveis
das comitivas fizeram questão de
sublinhar a importância e a excelên-
cia do projecto. Segundo Jorge Gon-
çalves, são colaborações que ultra-
passam o IJUP. “A parceria com estas
universidades faz com que os jovens
conheçam como esse conhecimento
se cria em outros contextos, noutra
realidade” precisamente para adqui-
rirem a confiança no seu trabalho.
Quanto a possíveis acordos com ou-
tras universidades, Jorge Gonçalves

Investigação ganha
referiu que “nós [Universidade do
Porto] já estamos em diálogo com
algumas universidades espanholas
para os convidar a vir cá e obvia-
mente estamos abertos a esse tipo

destaque no IJUP
de colaborações, de experiências en-
riquecedoras para ambas as partes”.
Quer “para descobrir novas vocações
e termos em breve novos jovens a
engrossar o grupo de investigação
da Universidade”, quer pela “possi-
bilidade de abrir novos contactos
A Reitoria da Universidade do Porto foi palco de mais uma edição entre a Universidade e a Sociedade.”

do Encontro de Jovens Investigadores. O evento decorreu entre os dias Iniciativa promove diferentes
áreas de investigação
17 e 19 de Fevereiro e contou com a participação de mais de 700 jovens. Durante estes três dias foram apre-
sentados diversos trabalhos de in-
vestigação realizados por alunos de
todas as faculdades em sessões orais
Promovido por uma vasta equipa “a UP tem tido uma contribuição a de hoje, tão exigente em termos buição importante. É um exemplo simultâneas em todo o edifício, des-
de organização da Universidade do considerável”. Destacou ainda a im- de conhecimento, isto é uma men- que nós esperamos que possa vir a tacando mais uma vez o espírito
Porto (UP), o encontro de jovens portância das novas competências sagem e uma lição, que eu acho que marcar a evolução da universidade empreendedor da Universidade do
investigadores tem “a investigação que os jovens adquirem com este está a ser apreendida por um grande para o futuro”, salienta. Porto. Os alunos participantes no
como pilar fundamental do conhe- tipo de eventos, uma vez que este é número de jovens”, exalta. Este tipo Além de que incute nos partici- IJUP parecem estar de acordo quan-
cimento”. Foi o Reitor da Academia dirigido a alunos do 1º e 2º ciclos das de iniciativas “vai permitir descobrir pantes valores como auto-confian- do à importância deste tipo de ini-
do Porto, Marques dos Santos, que diferentes unidades orgânicas. novos talentos” e promover “a for- ça, auto-estima e segurança que ciativas para a sua formação e para
procedeu à abertura da 3ª edição do Jorge Gonçalves, vice-reitor, con- mação nas empresas”, mas, acima para o vice-reitor são fundamen- a Academia do Porto. Sandra Soares
evento no Salão Nobre da Reitoria. sidera o IJUP uma “iniciativa funda- de tudo, contrariar a teoria do estu- tais para preparar os jovens quer está no 4º ano de Ciências Farma-
Para o Reitor, o IJUP pretende “entu- mental”, já que a “universidade é dante passivo. “Ao envolver o estu- para enfrentar o futuro com mais cêuticas e é a terceira vez que par-
siasmar novos actores e promover como o membro de um ecossiste- dante, passamos todos a fazer parte confiança, mas também com mais ticipa no IJUP: “comecei o primeiro
novos investigadores” no plano na- ma – precisa do conhecimento para de uma comunidade de criação do humildade, “para ouvir as críticas trabalho e foram surgindo novas
cional de investigação, para o qual sobreviver”.“Numa sociedade como conhecimento. E isto é uma contri- que outros lhe vão apresentar”. Cria oportunidades, por isso fui continu-
JUP || MARÇO 10 EDUCAÇÃO || 7

ando”. Considera que este tipo de Yuri Prado, aluno da delegação e porque divulga um espaço onde pações em cada edição é um sinal
iniciativas são “óptimas pelo conví- da Universidade de S. Paulo, apre- se pode trocar ideias”. No Brasil optimista e que permite que o
vio e pelas ideias que podem surgir sentou uma investigação na área o número de eventos deste géne- projecto cresça na Universidade.
para aplicar nos nossos projectos. É da música, sobre o Samba-enredo. ro é muito maior, mas para Yuri Quanto ao futuro, este é risonho.
uma mais-valia para todos”. Optou pela cidade do Porto pois Prado “aqui a tendência também Já a pensar em futuras edições, o
Tiago Garcia, aluno de Línguas, “era o sítio ideal para a pesqui- é para crescer cada vez mais”. vice-reitor da UP espera que este
Literaturas e Culturas da Faculdade sa que estava a desenvolver, tem Para Jorge Gonçalves, o balanço número continue a crescer e que
de Letras, participou no IJUP com o ligações com a cultura brasileira. da 3ª edição do IJUP é positivo. crie uma “nova geração de investi-
trabalho “Arte da repetição: sobre Eu sabia que o povo português já “Houve muita participação, inte- gadores nas diferentes áreas”. Por-
a possibilidade de reprodução do tinha uma ligação com a música racção, trabalhos de qualidade e, tanto, há todas as garantias de que
stencil graffiti”. Para o participante, brasileira, mas não pensei que fos- portanto, sob esse ponto de vista “o projecto vai correr e crescer. Va-
a principal vantagem do IJUP (no o IJUP contribui se tanta”. O jovem brasileiro in- os objectivos foram atingidos”. mos ter aqui uma sementeira de
qual já participa pela segnda vez) é
que este “permite que, ao estarmos
em muito para centivou ainda a participação dos
jovens na investigação científica,
Além disso, “se pensarmos que a
maior parte dos estudantes que
uma nova geração de investigado-
res em Portugal”, conclui.
seguros da nossa investigação, que
esta ganhe visibilidade”. O nervosis-
a confiança dos algo que para este “não é uma
coisa maçante, mas que dá real-
estão cá desempenham estas ac-
tividades sem qualquer incentivo Ana Rocha, Júlia Rocha, Liliana
mo é inegável, “mas depois de estar estudantes” mente prazer”. Yuri Prado exaltou financeiro, então, o balanço é mais Pinho, Sofia Cristino
ana.rocha93@gmail.com, julia_margari-
em frente à audiência, a única pre- a importância destas iniciativas, que positivo”. Considera ainda que da@hotmail.com, eahlan@hotmail.com,
ocupação é a de manter o público Tiago Garcia já que “incentiva quem não faz, o aumento do número de partici- sofia.cristino.90@gmail.com
interessado”. Tiago Garcia salienta
que “o IJUP contribui em muito
para a confiança dos estudantes”.
Todavia, não deixa de referir que
“as sessões são pouco mais povo-

Festa no Passos Manuel


adas do que pelos próprios orado-
res”. De qualquer forma, considera
que “a investigação científica deve-
ria ser experimentada por todos os

marca início de Close-Up


estudantes”.
O dia de encerramento deu espe-
cial atenção às artes. Teresa Santos
e Liliana Pinto, alunas de História
da Arte da Faculdade de Letras,
apresentaram o trabalho “Porto:
Património Mundial – da Classifi- miguel rodrigues
cação à Intervenção”. Ambas viram Uma exposição no final de um
no IJUP uma nova experiência a curso de artes representa um
que não podiam faltar. Liliana Pinto momento marcante na vida do
realça que “houve trabalhos muito recém-licenciado. É neste âmbito
interessantes e que alcançaram que surge o projecto “Close-Up”.
as minhas expectativas”. Já Teresa A iniciativa pretende dar a co-
Santos referiu a importância de nhecer os trabalhos de alunos
iniciativas deste género, pois “além finalistas da Faculdade de Belas
de nos permitir praticar e divulgar Artes da Universidade do Porto
os trabalhos, pode ser uma porta (FBAUP) e será complementada
aberta para experiências futuras a por um ciclo de conferências e Cavalheiro foi um dos artistas
convidados na apresentação
nível profissional”. A cidade do Por- pela apresentação de um catálogo
to foi a escolhida para o projecto sobre o projecto.
das duas jovens. Teresa Santos faz A sua orientação ficará a cargo
um balanço positivo da apresenta- do Professor João Cruz, docen-
ção: “acho que as pessoas se inte- te da FBAUP. A apresentação irá
ressaram, porque também tem a decorrer entre 1 e 11 de Julho de
ver com o Porto e portanto muitas 2010, na antiga sede na RDP, na
pessoas senão vivem, trabalham ou Rua Cândido dos Reis.
estudam nesta cidade, o que faz Márcia Novais, finalista de De-
com que se relacionem bem com o sign de Comunicação da Facul-
tema”. O IJUP reuniu muitos inte- dade de Belas Artes e responsá-
ressados e, para a próxima edição, vel pela criação deste projecto,
Liliana Pinto apelou a uma melhor afirma que o Close-Up surgiu
divulgação: “uma vez que isto é só devido à “falta de plataformas
divulgado na Internet”. Teresa San- que dêem a possibilidade das de”, assegura Guilherme Blanc, vereiro. A festa teve início com a o catálogo final. Segundo Guilher-
tos acrescentou ainda que “havia pessoas verem o trabalho de re- responsável pela gestão e plane- actuação de Cavalheiro, seguindo- me Blanc, o principal objectivo da
uma adesão superior se houvesse cém-licenciados” Assim, para os amento curatorial do projecto. se Labrador + PMA e, mais tarde, o festa era “tornar o projecto públi-
um contacto mais directo e se fos- finalistas, este projecto deve ser A apresentação formal do Dj Set de Concorrência. O dinhei- co”, dando a conhecer ao Porto a
se explicada a vertente prática e encarado como “um momento “Close-Up” teve lugar no Passos ro arrecadado com a venda dos iniciativa que dá agora os primei-
utilitária destes eventos”. de reflexão e uma oportunida- Manuel, no passado dia 6 de Fe- bilhetes vai custear a exposição e ros passos. Teresa Castro Viana
8 || EDUCAÇÃO JUP || MARÇO 10

Porto Poliglota
Testing System), um sistema que
mede através de exames extensivos
(versando todas as partes do em-
prego da língua falada – compreen-
são oral e escrita, uso da gramática,
expressão oral e escrita) o Inglês do
examinado e o classifica em rela-
ção a um quadro de competências

Numa época em que falar mais de que uma língua é natural até para reconhecido universalmente. No
Porto, este tipo de avaliação está

os mais pequenos, dar uns toques no Inglês já não basta. disponível no British Council, que
aceita candidaturas de alunos ex-
ternos que queiram fazer o teste.
Sempre que possível, há que op-
tar por credenciais facilmente reco-
E se ‘de pequenino é que se torce Os cursos disponibilizados pelo locação no nível apropriado. tradicional, mas um dos mais esco- nhecíveis no mundo do trabalho ou
o pepino’, a verdade é que nunca gabinete de Formação Contínua De apontar que certas línguas são lhidos no formato intensivo. mesmo no mundo académico, caso
é tarde demais para aprender uma da FLUP, que vem em vários for- próprias ou tradicionais, em certos Para aqueles que vêem no inglês esteja aberta a opção de estudar no
nova língua. Os estudos confirmam: matos, é um dos exemplos. campos profissionais e académicos. uma aposta segura, talvez seja me- estrangeiro. O Quadro Europeu Co-
aprender e dominar uma língua que O formato mais tradicional, com É preciso ter em conta, para além lhor reconsiderar – alguns sugerem mum de referência para as Línguas
não a materna traz confiança, versa- duração de um ano, ronda entre os do sempre obrigatório prazer em que o inglês está banalizado hoje é a alternativa europeia e foi criado
tilidade, além de uma nova sensibili- 300 e os 600 euros (para alunos ex- aprender uma língua nova, as futu- em dia. De facto, o Inglês é hoje como parte do projecto ’Aprendiza-
dade para as subtilezas do falar. ternos) e os 200 e 500 euros para ras aplicações e a real relevância no mais uma exigência que uma mais- gem de Línguas para a Cidadania Eu-
Confrontado com uma cultura alunos da UP. Oferece desde os mais seu dia-a-dia. Por exemplo, apesar valia. Mas se a aposta for mesmo ropeia’, entre 1989 e 1996. Descreve
multilingual que produz conhe- tradicionais, como o Inglês, Alemão, de o Mandarim estar na moda, não essa, convém investir na aprendiza- 6 níveis, baseados no domínio das
cimento em quantidades - e qua- Espanhol e Francês, até ao Romeno, será a língua mais útil para o traba- gem de um inglês técnico. Vale a competências orais e escritas, desde
lidades - diferentes, e na qual a Sueco, Húngaro, Hindi, Japonês e lhador comum. pena recorrer aos chamados IELTS o utilizador elementar ao utilizador
tradução é ainda deficiente, o es- mesmo Persa. São vários os níveis Quanto as línguas da moda e às (International English Language proficiente, a ser avaliadas por um
tudante vê-se constantemente na para cada Língua. Em alternativa, apostas seguras, não é fácil distin- Instituto ou pelo próprio utilizador
necessidade de compreender e ex- existe ainda o formato intensivo que guir o rumo que se toma. Olhando que verifique as suas competências.
plorar conhecimento em línguas oferece os cursos de Inglês, Alemão, para os dados fornecidos pelos cur- o Inglês continua É esta grelha que serve de base ao
que não o português. As soluções Francês, Espanhol e Italiano, com 2 sos de línguas da FLUP, o Inglês con- preenchimento do modelo de Curri-
por vezes não são as melhores: os níveis de dificuldade, entre os 100 e tinua a ser o curso mais procurado,
a ser o curso mais culum Vitae proposto pela União Eu-
tradutores online falham e a tra- os 200 euros. Por norma, o período seguido pelo Alemão e Espanhol, procurado, seguido ropeia. Tanto os IELTS, como outros
dução palavra a palavra pelo dicio- de inscrição dos primeiros é logo no que nos últimos anos revelou um pelo Alemão e métodos de classificação usados nos
nário nem sempre é concordante início do ano, entre Julho e Setem- crescimento exponencial. Segue-se, grandes institutos, como o Alliance
com o sentido original. Entre o es- bro. Os cursos intensivos têm datas surpreendentemente, o Mandarim, Espanhol, que nos Française e o Goethe Institut (que
forço exigido pelo descortinar de específicas que convém consultar o Japonês e o Russo. O Francês, nor- últimos anos revelou oferece adicionalmente Cursos à
um texto complexo ou técnico e o com antecedência para a candida- malmente no grupo das línguas tra- Distância), estão equiparados com
ignorar de uma potencial fonte de tura. Alguns destes cursos pedem dicionais, é um dos cursos menos
um crescimento a classificação do Quadro Europeu.
conhecimento, muitos optam pela uma prova de diagnóstico, para co- escolhidos dentro deste formato exponencial Ana Pelaez e Inês Antunes
segunda opção. As consequências inês antunes
são francamente nefastas.
A prova da importância crescen-
te da capacidade de dominar uma
Para consultar
língua estrangeira e do seu peso na
educação e formação dos jovens es- 1. O quadro Europeu
tudantes, reflecte-se, por exemplo, Comum de Referências
nos vários cursos ligados às línguas para as Línguas
disponíveis na Universidade do Por- Link: http://europass.cedefop.
to. Apesar de, para os leigos, poder europa.eu/LanguageSelfAssess-
soar tudo à mesma coisa, os cursos mentGrid/pt
de Línguas Aplicadas, Línguas e Re-
lações Internacionais, e de Línguas, 2. British Council
Literaturas e Culturas – já para não Sede: Rua do Breiner, 155. 4050-
mencionar os cursos de Ciências da 126 Porto. Tlf.: 222 073 060
Linguagem - versam aspectos dife- Link: http://www.britishcouncil.
rentes da Língua, sempre assente org/pt/portugal
na aprendizagem de uma ou mais
línguas estrangeiras. 3. Goethe Institut
Link: http://www.goethe.de/ins/
Oferta para todos Falar fluentemente mais que uma pt/lis/
língua continua a ser uma mais-
os gostos no Porto valia no mercado de trabalho
Para os menos dedicados, existem 4. Alliance Française
muitas opções para quem quer Link: http://www.alliancefr.pt/
aprender línguas no Porto.
JUP || MARÇO 10 EDUCAÇÃO || 9

Mariana Catarino

Um novo olhar sobre a


A Educação
docência universitária como protagonista
em Ciclo de Cinema
artur costa

Kátia Ramos, docente na Uni-


versidade Federal de Pernam-
buco, apresentou o resultado
da sua tese de doutoramento,
em que conclui que o nível
de ensino da Universidade do A Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Porto está próximo do nível
mundial. A autora alerta para Universidade do Porto promoveu o ciclo de “ Cinema e
o facto de o docente univer-
sitário não ter formação para Educação”, nos dias 22, 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro.
ensinar, tal como os restantes
docentes. Kátia Ramos afirma
que o docente universitário direitos reservados
“aprende a sê-lo com a prá- Nos dias 22, 29 de Janeiro e 5 de
tica e com a experiência que buco dá um “Excelente” aos Fevereiro o ciclo contou com a
teve enquanto estudante”. professores pela sua vonta- apresentação de três filmes, se-
A autora contou com a de em melhorar e conclui guidos de um debate entre o pú-
colaboração do Grupo de afirmando que os docentes blico e o convidado.
Investigação e Intervenção devem ter assente a sua O JUP esteve presente na exi-
Pedagógica da Universida- responsabilidade de ensinar bição do último filme do ciclo –
de do Porto (GIIPUP) na correctamente para que os “A Turma”, de Laurent Cantent.
sua investigação que durou alunos aprendam todos os O filme, que ganhou a Palma de
cerca de quatro anos. No seu conhecimentos importantes Ouro do Festival de Cannes, teve
para a sua por base o livro do escritor, jor-
formação nalista, professor e também actor
o docente universitário profissional.
Carlinda Leite,
principal François Bégaudeau. “A
Turma” reproduz um ano lec-
“aprende a sê-lo com presidente
do Conselho
tivo na vida de um complicado
liceu de Paris, onde Bégaudeau
a prática e com a ex- Directivo da
Faculdade de
leccionou. Segundo a professora
convidada, Isabel Batista, o filme
O filme “A Turma” foi o último
a ser apresentado no Ciclo

periência que teve en- Psicologia


(FPCEUP),
“consegue um efeito do real bas-
tante poderoso. Está muito bem al e o profissional. Isabel Batista O ciclo decorreu no auditório 1
quanto estudante” afirma que o
livro “além de
feito e é um excelente recurso
didáctico”. Os actores do filme
questionou ainda até que ponto
o docente deve envolver-se e re-
da Faculdade de Psicologia e Ciên-
cias da Educação da Universidade
produzir co- são os alunos a quem o escritor lacionar-se com os alunos e res- do Porto e foi assistido sobretudo
nhecimento, deu aulas na realidade e sobre os pectivos problemas. por professores e profissionais da
estudo, Kátia Ramos analisou gera intervenção”. A presiden- quais escreveu, o que confere um Segundo a sua experiência pro- educação, que participaram de
nove das 14 faculdades da te ressalva o apoio da reitoria realismo fora do comum ao filme fissional e pessoal, a professora forma activa nos debates. Os pro-
Universidade do Porto. da Universidade do Porto, exibido. fala do stress da profissão de fissionais partilharam experiên-
Kátia Ramos agradeceu o já que todo o apoio da UP é Partindo do nome do filme em docente, considerando-a “impos- cias e vivências, numa conversa
apoio de todos os docentes indispensável para este tipo francês “ Entre Muros”, Isabel sível”, mas também “a mais bela quase informal, sempre orientada
e do GIIPUP no seu trabalho, de projectos. Batista começou a discussão. “A profissão do mundo”. A escola, para temas relevantes a nível es-
referindo que o livro não foi Na cerimónia de lançamento escola é uma instituição que tem como afirma a docente, “precisa colar e educacional.
somente escrito por ela, “mas do livro, António Marques, que ter muros e faz falta um olhar de uma mudança de cultura tre- No dia 22 de Janeiro o filme exi-
por muitas outras mãos e representante da U. Porto diferente e trabalhar entre estes menda e de uma mudança de sis- bido foi “A Língua das Borboletas”,
corações”. A autora sente-se editorial, elogiou a obra e muros”, afirma. “É um espaço de tema, já que a escola é um espaço de José Luís Cuerda, com a pre-
realizada com o resultado louvou o esforço da editora vida fundamental, é a partir daí de vida fundamental e um lugar sença de Teresa Medina. No dia
final, não apenas por produ- no seu desenvolvimento e que começa muita coisa... A esco- de hospitalidade e cortesia”. 29 do mesmo mês, os filmes em
zir conhecimento, mas por afirmação em Portugal. Cen- la permite o acesso à sociedade, Por fim, debateram-se o isola- destaque foram “Zero em Com-
marcar a história da docência trada na qualidade das suas à democracia e é onde os alunos mento e separatismo sociais e as portamento”, de Jean Vigo e “En
universitária. “Trata-se de um obras, António Marques de- aprendem outros sistemas e mo- relações culturais dentro da esco- Rachâchant”, de Danièle Huillet e
obra em que os actores são fende que a U.Porto Editorial delos para além dos aprendidos la e da sala de aula. Isabel Batista Jean-Marie Straub. Os debates fo-
também autores da história”, preocupa-se com o “carinho e em casa”, acrescenta. A professo- conclui que “a escola é, hoje, uma ram conduzidos pelos convidados
declara a autora. A professora tratamento que deve ser dado ra fez uma reflexão sobre a ética organização em sofrimento”. O Regina Guimarães e Saguenail,
da Universidade de Pernam- aos livros”. profissional, discutindo-se onde caminho é “encarar as coisas de respectivamente. Eliana Macedo
acaba a fronteira entre o pesso- uma maneira diferente”. e Diana Ferreira
Sociedade

10 || JUP || MARÇO 10

A vida de
um Jovem
Investigador
Numa actividade exigente e de desgaste, existem
jovens investigadores que esquecem as dificuldades
e os poucos apoios para prosseguirem o seu sonho.

O que é um Jovem vestigação resume-se a localizar para as expectativas um cientista.


Investigador? um problema, planear algo inova- A vida de um Jovem Investiga-
De uma forma filosófica, é alguém dor respondendo a esse problema, dor, na minha visão de Jovem In-
que tem como objectivo uma busca obter dados, através de testes, que vestigador da área de Ambiente,
incessante de descobrir, desvendar, comprovem a hipótese e apresen- de uma forma pragmática cos-
inovar, alguma teoria que não foi tá-los à comunidade científica. tuma ter um horário fléxivel, de-
provada ou optimizada em diversas A introdução à Investigação pe- pendendo dos objectivos do dia
áreas. Áreas essas tão díspares como rante os estudantes de licenciatura, tanto podem trabalhar 5 como 12
a Biologia, Medicina, Ambiente, Ma- mestrado ou até mesmo recém- horas. Dependendo das responsa-
temática, Tecnologia, Economia, licenciados faz-se geralmente por bilidades de cada pessoa as horas
Gestão, História, Literatura, Filoso- “obrigação”: projectos de final de tendem a aumentar até que se
fia, Psicologia, Comunicação e em curso, tese de mestrado, estágios, tornem workaholics. O quotidiano
todas que assumam uma vertente etc. As instituições que acolhem está repleto de processos de puro
de investigação dos seus próprios estes estudantes por norma des- tédio de movimentos tal é o seu novas ideias, tem um efeito persua- na procura de uma vida estável e
conhecimentos e paradigmas. tinam-lhes pequenos trabalhos carácter repetitivo. Apesar de se sivo pela procura de conhecimento, monetáriamente justa.
O lado juvenil desta busca, ligados a projectos de forma a am- vivenciar momentos de extrema pelo estudo constante que, de uma Mariana Leão, 23 anos e licencia-
pode significar o ínicio da acti- bientar e testar as capacidades de dinâmica de acções, por vezes forma constante , exige um grande da em Microbiologia dá-nos conta
vidade como Investigador mas determinado Jovem Investigador. acaba-se encalhado num pcr de empenho tanto a nível intectual dos seus pensamentos: “no nosso
também mostra que esta é a par- Quando obtêm “tempo de casa” su- 2 horas com electrofere a seguir, como a nível laboratorial (operário País, por norma, para seguirmos
te mais activa do processo, mais ficiente ou avaliações excelentes as contagem de colónias, micronú- por vezes). uma carreira de investigação não
prática, mais sonhadora, mais ex- responsabilidades incrementam. cleos ou dáfnias, HPLC com 30 Como Michel Foucault disse um podemos ficar só com uma licen-
pectante e a mais visionária de A responsabilidade já não é amostras com tempos de corrida dia “saber é poder”. Poder de criar ciatura. Temos que optar por tirar
uma investigação. aquele processo chato e repetitivo de meia hora, repicagens às pale- novas ideias, capacidade de cons- um mestrado e um doutoramen-
O Jovem Investigador geralmen- que se fez durante meses, passan- tes de báctérias, fungos ou outros truir obra nunca antes vista, reali- to. Ser licenciado não é suficien-
te está inserido num projecto, seja do a ser novos processos chatos espécimes e outros tantos nomes zar o impensável, estando na linha te para muitos laboratórios de
de que natureza fôr, onde tem a e repetitivos, acompanhamento técnicos possíveis para definir um da frente do progresso, do futuro, investigação. Por saber isto, mal
seu cargo determinados objecti- (leia-se guia turístico dentro da processo entediante. antevendo toda a panóplia de pos- terminei a minha licenciatura de-
vos a cumprir com um deadline instituição) daquele estudante es- Semelhantes episódios deprimen- sibilidades. O Investigador é parte cidi tirar doutoramento, porque
definido (mas nem sempre). Esses trangeiro de ERASMUS ou de dou- tes são as situações de falta de um integrante da inovação da nossa só assim poderia fazer o que mais
objectivos podem ser traduzidos toramento, ou a trabalhar com produto específico que nunca mais sociedade, da nossa vida, da nossa gostava. Como tinha uma média
como processos fundamentais da os produtos mais nocivos para a chega, meses de trabalho intenso espécie e do nosso mundo. razoável e já algum trabalho cien-
investigação, como a pesquisa bi- saúde porque toda a gente se re- para um programa de estatística No entanto persistem grandes tífico publicado, decidi candida-
bliográfica; a realização de testes cusa a fazê-lo. É apenas uma forma contradizer a teoria em causa ou obstáculos na sociedade para o re- tar-me a doutoramento. Contudo,
para obter, processar e discutir irónica de caracterizar as novas aquele reagente que arruinou umas conhecimento pleno do trabalho tirar um doutoramento hoje em
dados; a inovação de novos testes, tarefas que vão sendo delegadas. quantas amostras porque não esta- de um Jovem Investigador. Uma dia não sai barato e é impossível
materiais ou teorias e, por fim, a Apesar disso, a cada fase superada, va em bom estado. forma de exemplificar esses mes- pagá-lo por conta própria. Can-
apresentação dos resultados con- o respeito e crédito pelo trabalho Contundo a vida de um Investiga- mos entraves são os testemunhos didatei-me então a uma bolsa de
seguidos. Um pouco como o mé- conseguido vai sendo justamente dor, jovem ou não, é extremamente de Jovens Investigadores, fascina- doutoramento da Fundação para
todo científico, o percurso da in- reconhecido como um bálsamo aliciante. O testar novas hipóteses, dos e dedicados pela ciência, lutam a Ciência e Tecnologia, pois é a
JUP || MARÇO 10 SOCIEDADE || 11

miguel ramos publicidade


publicar artigos em revistas cien-
tíficas, o que poderá implicar um
ou mais anos de trabalho, sem
quaisquer certezas de o conseguir.
Normalmente nestes casos, existe
a remota possibilidade de a insti-
tuição acolhedora conseguir uma
bolsa de um ano (renovável até
três) e de financiamento inferior.”
Toda esta realidade torna-se por
vezes num ciclo vicioso onde o
investigador pode cair na “indus-
trialização da actividade bolseira”.
Francisco realça ainda a necessi-
dade para uma “urgente reflexão
e uma atitude no sentido de mu-
dar o rumo das coisas” propondo
uma nova política de atribuição de
financiamento onde “as verbas dis-
ponibilizadas pelo estado ou pelas
entidades privadas para este efeito,
fossem atribuídas directamente às
Investigação cientifica em instituições acolhedoras, reservan-
curso num laboratório da U.P.
do-se a estes o direito de avaliar o
mérito do trabalho proposto...”.
São os desabafos de quem vive as
dificuldades de um Jovem Investi-
gador que mostram, uma vez mais,
que ainda se faz ciência em Portu-
gal por muito “amor à camisola”,
pela ciência e pela esperança de
que um dia tudo será melhor. Com
a mesma dedicação e paixão pelo
conhecimento muitos se mantêm,
cultivando os sonhos de um futuro
nesta profissão.
Sonhos esses que podem passar
por fazer Doutoramento e poste-
rior Pós-Doutoramento idealizan-
do subir a pirâmide hierárquica
única instituição que financia a O Investigador ambicionando um dia chegar a
todos os níveis o aluno de douto- Professor Universitário ou chefe
ramento. Todavia, não quer dizer é parte integrante de Laboratório.
que esses financiamentos sejam da inovação Uma outra visão dos sonhos é
muito bons”. ganhar experiência para mais tarde
Este último reparo de Mariana
da nossa sociedade, concorrer ao sector privado, sendo
refere-se ao facto do estado desac- da nossa vida, que não raras as vezes o currículo
tualizado do regime de bolsas da académico não é reconhecido pelas
Fundação para a Ciência e Tecno-
da nossa espécie empresas ou instituições privadas.
logia, sem direito a descontos (po- e do nosso mundo. Não esquecendo a alternativa mais
dendo sempre optar pelo desconto sonhadora, o de ser contagiado
voluntário), sem direito a 13º mês, e científicas. O plano de trabalho, o pela onda do empreendorismo,
outras vantagens que num mundo local onde é realizado e os orien- criando um empresa a partir de
empresarial são pedras basilares de tadores também são avaliados, no uma ideia fantástica que sempre
um contrato de trabalho. entanto com um peso menor. Su- teve em mente.
Outro obstáculo frequente são cede por isso que qualquer candi- Não se deixem enganar pelo
os critérios de avaliação das candi- dato que tenha terminado o seu discurso pesado, pessimista com
daturas às bolsas. Francisco Fontes curso com média superior a 15 va- predominância do queixume.
de Carvalho, 24 anos, Investigador, lores mas sem qualquer conheci- Apesar das contrariedades, há for-
descreve esse mesmo facto: “para mento ou contacto com o mundo ça para continuar, há motivação
aceder a este tipo de bolsas é efec- da investigação científica, à parti- para inovar, há energia para des-
tuada uma candidatura a nível da não terá quaisquer dificuldades cobrir mais além, há dedicação
nacional cujos critérios de selec- em aceder a um doutoramento pelo conhecimento.
ção se baseiam, essencialmente, financiado com estes critérios. Se
na média do candidato e número a média do candidato for inferior, Miguel Ramos
de artigos publicados em revistas resta-lhe a hipótese de conseguir ramos_146@msn.com
12 || sociedade JUP || MARÇO 10

Empreender: a arte de
dar forma ao sonho?
manuel ribeiro
pelas leis da eficiência económi- aponta são “o cuidado em esco-
ca, mas vive-se com a leitura de lher a equipa e em tratar as pes-
poesia e lançamento de livros, soas que trabalham na empresa
a projecção de documentários, como se fossem da família”. Isto
o debate e o exercício de uma porque, “os primeiros colabora-
cidadania que gera movimentos dores que se contratam são os
de intervenção social (exemplo que fazem a empresa” e, conti-
da plataforma pela Economia nua, afirmando que “as pessoas
Social e Solidária). para serem criativas têm de ser
Mesmo os princípios de orga- estimuladas intelectualmente e
nização laboral do Gato Vadio de estar num ambiente caseiro
desafiam os canônes tradicio- e agradável”.
nais da sociedade capitalista: No último ano e meio, a Jump
existe igualdade salarial entre Willy executou projectos para
todos os que trabalham e não empresas como a SAAB, BMW,
há lugar para a distinção entre Sony Ericsson, KIA, Stella Artois,
trabalho intelectual e manual. focando-se essencialmente no
Ou seja, a todos cabe limpar as mercado Escandinavo, mas tam-
teias de aranha. bém nos principais países da
Europa e nos EUA. Não apostam
Do Porto para o mundo tanto no mercado nacional, por-
Juntaram-se dois amigos, João que “ir a Londres a partir do Por-
Seabra e Pedro Marques, o mes- to é mais rápido agora do que ir
No Gato Vadio “o que se empreende mo é dizer imagem e som, com o a Lisboa”. “A existência de ferra-
é a vitalidade da existência”
objectivo de produzir animação mentas de trabalho colaborativo
para publicidade e cinema e criar como o Skype que nos permitem
um projecto em nome próprio. dirigir uma orquestra a partir de
A Jump Willy, uma empresa de um local distante e a excelente

O dicionário diz-nos que empreender é agir, é dar os animação 3D, efeitos visuais e
composição musical, nasceu na
rede de internet que o país pos-
sui abrem caminho para o traba-

primeiros passos para realizar um objectivo. Procurámos incubadora de empresas de som


e imagem da Universidade Cató-
lho à distância”, explica-nos João
Seabra.“Esta empresa há dez anos

casos de jovens empreendedores na cidade do Porto. lica, e é composta por diversos


alunos desta universidade.
seria inviável”, conclui.

Já lá vão dois anos e meio Procuram-se “Jovens


desde que João Seabra, o artis- Empreendedores”
Ser jovem e empreendedor é a o mentor do Gato Vadio, espaço vemos abdicar de fazer aquilo ta de animação 3D e VFX (efei- O Clube de Empreendedorismo da
receita mágica para o sucesso na Rua do Rosário que é Livra- que gostamos”. Outro dos pro- tos visuais), decide que é tempo Universidade do Porto (CEdUP) e
profissional no mundo em que ria e Café-Bar e muito mais. Tal- pósitos do Gato Vadio é “comba- de aceitar o desafio de Pedro a Universidade do Porto Inovação
vivemos. Esta é uma expressão vez pelo estereóptipo de “jovem ter a cultura dominante que não Marques, compositor musical a (UPIN) promovem o iUP25k - Con-
que encontramos vezes sem empreendedor” ser demasiado valoriza o questionamento”. trabalhar na Suécia na área de curso de ideias de negócio, que
conta no discurso dos políticos ortodoxo para a “filosofia de va- Numa casa onde “o que se em- publicidade. Depois de alguns está neste momento aberto a can-
e dos empresários, nos media e diagem” e “personalidade felina” preende é a vitalidade da exis- anos de experiência profissional, didaturas dos estudantes e antigos
nos programas de acção das ins- da casa que Júlio, um jornalista tência”, o tempo não se rege os dois amigos, que receberam o alunos com idade até 35 anos.
tituições governamentais. Exis- que estudou na Universidade do Prémio Jovem Criativo Europeu, Este concurso, que decorre até
tem concursos e prémios que Minho, abriu junto com a sua decidem criar a Jump Willy. No ao próximo dia 8 de Março, irá
apoiam jovens talentosos na companheira Maja Marek, uma
“as pessoas para primeiro ano mantêm os seus premiar a melhor ideia de negó-
realização de ideias de negócio designer gráfica e ilustradora. serem criativas têm empregos investindo o dinheiro cio com 15000 euros e atribuirá
empreendedoras. Júlio já não consegue lembrar- de ser estimuladas que conseguem juntar no arran- os Prémios “Empreendorismo
se do momento exacto em que que do novo projecto. Feminino”, “Empreendedorismo
Sonhos Vadios o “sonho de querer viver entre intelectualmente “É preciso antes de tudo cora- Jovem”e ainda o “Prémio do Pú-
“Não sei se o Gato se enquadra os livros” surgiu. No entanto, e de estar num gem para dar o primeiro passo”, blico” (o mais votado no website
bem nesse artigo sobre empre- diz-nos que a inspiração de criar explica João Seabra em conver- oficial). Marisa Gonçalves
endedorismo”, começa assim a o Gato Vadio está ligada a uma
ambiente caseiro sa com o JUP. Outros “segredos
nossa conversa com Júlio Gomes, convicção forte de que “não de- e agradável” de sucesso” deste projecto que Mais informações em http://iup25k.up.pt
JUPBOX
JUP || MARÇO 10 || 13

rita gouveia
“Estados”
de Sítio
entanto, após vários anos de um mente diferente, cheia de movi- vez uma situação mais precária. da em mobiliário vintage aberta
Rua do Almada
gradual abandono de comercian- mento e prosperando em riqueza. Manuel Fernandes, dono da FZ, desde 2007, Susana Beirão refere
Com a mutação constante da ci- tes, a rua revitaliza-se com a aber- Vinham até compradores de fora, acrescenta que muitas lojas e que se considera satisfeita com
dade do Porto, o JUP vem reservar tura de novos espaços comerciais. de Trás-os-Montes e Minho. armazéns desertaram porque já as vendas no caso da sua loja,
o espaço desta rubrica para dar a O JUP através dos depoimentos Considera também que há muitos não tinham condições de traba- isto porque têm um nicho de
conhecer o que os moradores e de vários comerciantes dará a co- problemas legais a serem resolvi- lho, manifestando grandes difi- compradores muito específico.
comerciantes de um sítio em par- nhecer o estado de espírito da rua dos para que se possa melhorar culdades nas cargas e descargas Contudo esperavam mais apoio
ticular da cidade do Porto, pensa, através de quem da vida ao sítio. as condições de vida e trabalho na da mercadoria, situação que se por parte da Câmara Municipal,
sente e como pretende melhorar o O amontoar de caixas nas estantes rua. Acredita que a rua não vai vol- intensificou com as alterações no que respeita ao tratamento da
seu local. Como ponto de partida e o expositor de maçanetas nas tar a ser o que era, pelo contrário, feitas nos passeios da rua há uns rua. Escolheram a Rua do Almada
escolhemos a Rua do Almada. paredes que forram a sala dão for- a tendência é que desapareça o atrás. As únicas lojas de ferragens para estabelecerem o seu negó-
Foi aberta entre 1761 e 1768 no ma e cor ao ambiente que sempre comércio tradicional das ferragens. que permanecem são aquelas mais cio “devido à sua carga histórica
seguimento da reestruturação caracterizou a mais antiga casa de O depoimento de José Baptista, pequenas de venda a retalho e que, ligada ao comércio” e porque
urbanística da cidade do Porto pela ferragens ainda em actividade da empregado da Raul Santos, Lda como diz “se vão aguentando”. Na garantem que “a nossa loja tinha
Junta de Obras Públicas, adminis- rua, a Viúva Victória. confirma o que se ouviu na Viúva sua opinião a abertura de novas de estar na Baixa”, portanto de-
trada por João de Almada e Melo, Activa e intocável desde 1876, Victória. Acredita que a Rua do lojas, concentradas sobretudo na cidiram unir estes factores a um
grande reformista que doou o carregada de história é a única Almada já não é o que era. “Sofreu parte superior da rua junto à Praça bom preço de compra do imóvel.
nome a rua. Durante muitos anos casa que permanece dos tempos uma transformação brutal nos da República, é um factor positivo Como aspectos negativos, assinala
o comércio sempre foi a principal gloriosos do Almada. Em conversa últimos vinte anos. Os comercian- porque vai mantendo a rua viva. também a falta de estacionamen-
actividade e a burguesia o principal com o responsável da loja que não tes tradicionais desapareceram Em relação às pinturas de streetart to, a falta de limpeza e acrescenta
grupo dinamizador, fazendo com se quis identificar refere que os em grande parte, restando apenas manifesta desagrado dizendo que o perigo de derrocada a qualquer
que fosse uma rua repleta de lojas problemas da rua são a desertifica- meia dúzia das lojas originais ou dão uma má imagem à rua. Como momento, assim como acredita
de ferragens e outras actividades. ção dos comerciantes, o desapare- de lojas de ferragens”. A falta de alternativa para o melhoramento que por detrás do melhoramen-
Hoje em dia, descendo a rua cimento dos grandes armazéns, a estacionamento e de condições de da rua, quer a nível comercial quer to da rua estão questões sociais
desde a Praça da República até falta de estacionamento e a falta de trabalho são apontadas como o a nível social, aponta a recuperação ligadas aos habitantes.
a Rua dos Clérigos, podemos ver condições de trabalho. “Cada porta principal factor de desertificação dos prédios, de modo a melhorar
que muitas lojas se encontram da rua era uma loja de ferragens; dos comerciantes.Acrescenta ainda as condições de vida dos poucos
Leandro Rodrigues E Rita Gouveia
abandonadas e larga parte dos era a rua mais rica da cidade”! Há que na rua habitam maioritaria- habitantes e dos comerciantes. leandro_rodrigues1982@hotmail.com,
edifícios estão degradados. No 40 anos atrás a rua era completa- mente idosos, e que esta é cada Na Casa Almada, loja especializa- ritagram2@gmail.com
UPorto

14 || JUP || MARÇO 10

Mar e Indústrias AGENDA


4, 11 E 18 DE MARÇO
5ª EDIÇÃO
Concurso
Criativas em destaque SCREENLABS – A CIÊNCIA
NO CINEMA
Passos Manuel
dia 4: “I am a Legend”, de Francis
para monitores
da U.Júnior
8ª Mostra da U.Porto: 25 a 28 de Março para “quatros
Lawrence; dia 11: Selecção
U.FRAME – vídeo universitário; Dia abre em Abril
18:“Mary Shelley´s Frankenstein”,

dias de informação, experimentação e descoberta” de Kenneth Branagh A primeira fase do concurso para
monitores da Universidade Júnior
18 DE MARÇO decorrerá entre 5 e 16 de Abril. Os
direitos reservados A 27 DE MAIO concorrentes deverão ter conclu-
dústrias criativas e o mar. CENTENÁRIO DA REPÚBLICA – ído, no mínimo, o segundo ano
CICLO DE CONFERÊNCIAS lectivo do ensino superior e pos-
Novo mapa da Universidade Dia 18: Salão Nobre da Reitoria, suir formação adequada aos pro-
As competências transversais reque- 18h: Fátima Marinho (FLUP); Dia jectos a que concorrem.
ridas por cada área e a conjugação 25: Anfiteatro Nobre da FLUP, 18h: Os interessados deverão con-
do know how extistente em direc- António Ventura (FLUL). sultar o portal desta iniciativa da
ções que surgem da intersecção de Universidade do Porto, em http://
interesses, meios, agentes e tecno- 12 DE MARÇO universidadejunior.up.pt, procu-
logias, constituem uma mais valia A 17 DE ABRIL rar os projectos com concurso
para a produção de conhecimento e EXPOSIÇÃO “IMAGENS PARA A aberto para monitores e reunir
criam oportunidades de negócio. DIGNIDADE” os elementos pedidos. Caso as
Certo é que a concentração de Antigo átrio de Química, Reitoria vagas não tenham sido preenchi-
esforços se concretizou em espaços da Universidade do Porto das, está prevista uma segunda
A Mostra da U.Porto físicos: o centro da cidade para o fase de concurso.
decorrerá no Palácio de Cristal
PINC (pólo de Indústrias Criativas) ATÉ 15 DE MARÇO As funções de monitor desem-
que reúne a formação, produção CONCURSO DE IDEIAS PARA penhar-se-ão no tempo corres-
Esta é a oitava edição deste even- de conteúdos, tecnologias e equi- ARRANJO EXTERIOR E DESENHO pondente à duração do projecto.
to anual no qual a Universidade
do Porto se apresenta à cidade e
22 de Março pamentos, albergando na Praça Co-
ronel Pacheco o curso de Ciências
DE COBERTURA EXTERIOR NO
JARDIM DO E-LEARNING CAFÉ
Os candidatos seleccionados par-
ticiparão num curso de formação
aos seus potenciais estudantes. Em da Comunicação, o Jornal Público, a Equipas de 5 elementos, incluindo pedagógica de um dia, a decorrer
2009 a mostra foi visitada por mais Viriato Soromenho Marques (Pro- Rádio Nova e a agência Lusa, e que pelo menos: 1 da FAUP; 1 do na Faculdade de Psicologia e Ci-
de 14.000 pessoas. fessor da Faculdade de Letras da vai acolher uma delegação da em- Mestrado em Arte e Design para ências da Educação da U.Porto e
A aposta da Universidade é a de UL), responsável pelo Programa presa Produções Fictícias; uma zona o Espaço Público da FBAUP e 1 de receberão 187,5 euros por sema-
se mostrar no seu melhor dando Ambiente da Gulbenkian é o relevante do Porto de Leixões para o Arquitectura Paisagista da FCUP. nas de actividade.
a conhecer as suas actividades de orador convidado para a sessão pólo do mar, com espaços destina- O período de inscrições na Uni-
ensino, investigação, inovação e in- solene de comemoração do 99º dos ao CIIMAR no novo terminal de 22 DE MARÇO versidade Júnior, para os jovens
teracção com a comunidade. Esse o aniversário da Universidade do cruzeiros (a sul) e, junto do antigo DIA DA UNIVERSIDADE DO em idade escolar, abre dia 25 de
motivo que tem deslocado para a Porto. Fala sobre “Ambiente, edifício sanidade (a norte), uma ex- PORTO Março, segundo dia da Mostra da
Mostra professores e investigadores Energia e Sustentabilidade”. tensão da UPTEC para o sector do Reitoria da Universidade do Porto, U.Porto.
de renome, concentrando no Pavi- Programa: abertura - Luís Portela, mar, com incubação de empresas 9h30.
lhão Rosa Mota parte significativa presidente do CG da U.Porto; (quatro já instaladas) e serviços à
da “massa crítica” da instituição, o Sérgio Joaquim Guedes da Silva comunidade. 23 A 25 DE MARÇO
que por si só seria razão suficiente (antigo aluno da FEUP, consultor Para antecipar o que poderá vir “FEUP FIRST JOB”
para uma visita atenta e com tem- da ONU para o Programa Mun- a ser o seu alcance, foi privilegiada Faculdade de Engenharia da
po para o diálogo com profissionais dial de Alimentação); entrega do a vertente experimental. Via Labo- Universidade do Porto (FEUP)
que habitualmente só poderia acon- Prémio Incentivo; Rui Ferreira ratório de Sistemas e Tecnologias
tecer na sala de aula, no laboratório e Reis, em representação dos Subaquáticas (FEUP), diversos sen- 25 A 28 DE MARÇO
ou em conferências especializadas estudantes; Felicidade Lourenço sores irão monitorizar o estado do 8ª MOSTRA DA U.PORTO
e com estudantes que acolhem os (FMDUP), em representação ambiente no Pavilhão e na cidade. Pavilhão Rosa Mota
interessados no espaço próprio de dos funcionários não docentes; Do lado das Indústrias Criativas um Quinta e sexta-feira, das 10h
cada faculdade e unidade de inves- entrega do Prémio Excelência video wall promete passar continu- às 19h; sábado, das 11h às 23h,
tigação e podem dar conta da sua e-Learning U.Porto; Proclama- amente conteúdos produzidos para domingo, das 11h às 19h.
experiência. ção dos Professores Eméritos da o local e, durante o evento, as mui-
Sem fronteiras, como o conheci- Universidade; encerramento pelo to mediáticas Produções Fictícias, ATÉ 26 DE MARÇO
mento, a instituição vive também Reitor da Universidade. deslocam para a Mostra a marato- EXPOSIÇÃO “ARTISTAS DO JOGO
das transversalidades que cria. Essa na de 24h de produção e edição de – A ARTE COMO LUGAR DE
é a temática principal da edição des- vídeo “Faz-me um bídeo”. Também PASSAGEM ENTRE DESPORTO E
te ano, que se assinala pela apresen- a partir de sinergias entre investiga- ligado ao PINC e na vertente ligação CIÊNCIA”
tação à cidade de dois pólos criados ção e inovação, e que cobrem duas da electrónica ao movimento, está FADEUP
recentemente pelo Parque de Ciên- grandes áreas de desenvolvimento a ser produzido um espectáculo de http://nomadic.up.pt U.Junior: concurso para
monitores de 5 a 16 de Abril
cia e Tecnologia da U.Porto (UPTEC) estratégico da Universidade: as in- ginástica rítmica e multimédia.
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JUP || MARÇO 10
16 || JUP || MARÇO 10

31 de janeiro:
no passado e no presente

No dia 31 de Janeiro de 1891, no Porto,


deu-se um levantamento militar
contra as cedências do Governo e da
Coroa ao ultimato britânico de 1890
por causa do Mapa Cor-de-Rosa.
De madrugada o Batalhão de Caça-
dores nº9, liderados por sargentos, diri-
gem-se para o Campo de Santo Ovídio,
hoje Praça da República. Descem a
Rua do Almada, até à Praça de D. Pe-
dro, (hoje Praça da Liberdade), onde,
em frente ao antigo edifício da Câ-
mara Municipal do Porto, ouvem Alves
da Veiga proclamar da varanda a Im-
plantação da República. Depois sobem
a Rua de Santo António, em direcção à
Praça da Batalha, para tomar a esta-
ção de Correios e Telégrafos. São barra-
dos por um destacamento da Guarda
Municipal, posicionada na escadaria
da igreja de Santo Ildefonso, no topo
da rua. Em resposta a dois tiros que
se crê terem partido da multidão, a
Guarda solta uma descarga de fuzilar-
ia vitimando indistintamente militares
revoltosos e simpatizantes civis. Os
civis entram em debandada e com eles
alguns soldados. Terão sido mortos 12
revoltosos e feridos 40.
2
FLASH
JUP || MARÇO 10 || 17

1 4
Revive-se os combates entre Imortalizada nesta fotografia temos texto de josé ferreira
republicanos e monárquicos o momento em que militares e pop- fotos de manuel ribeiro
ulares se reúnem na actual Praça da hermesmarana@hotmail.com,
jozeribeiro@gmail.com
2 República para avançar para a luta
Na recriação os populares avançam
juntamente com os militares 5
e aclamam a república Nesta maqueta podemos ver
o percurso seguido pelos militares
3 e os locais defendidos pela guarda
Os revoltosos fogem à fuzilaria leal à monarquia
monárquica

3
18 || JUP || MARÇO 10

Stefanie Harzbecher

Portugal já tem um forte


palmarés na modalidade

O Mundial de Rugby Sevens é a


grande aposta da UP para 2010, na
área do desporto. Quando faltam

Rugby Sevens 2010:


cerca de 5 meses para o início da
competição, a organização conti-
nua a trabalhar a todo o gás para
preparar o Mundial. Já terminou o
prazo das inscrições, e, no total, fo-
ram 40 as selecções (masculinas e

tudo a postos para


femininas) que apresentaram a sua
candidatura à prova. Entretanto, a
UP ultima alguns pormenores, para
que tudo esteja a postos a 21 de Ju-
lho, data de início do Mundial.

receber os melhores África do Sul e Espanha de-


fendem o título
Ao todo, são já 40 selecções que,
ao que tudo indica, vão viajar até
ao Porto para jogarem na 4ª Edi-

O Porto vai receber pela primeira vez o Campeonato do Mundo de Rugby ção do Mundial de Rugby Sevens
(26 masculinas e 17 femininas). Na

Sevens Universitário, de 21 a 24 de Julho. Já há 40 selecções inscritas. competição masculina, o favoritis-


mo vai, naturalmente, para a Áfri-
ca do Sul, actual campeã em títu-
Desporto
JUP || MARÇO 10 || 19

Pedro Janeirinho
Campeonato Mundial de Rugby
Universitário. A proposta da Gil-
bert foi aprovada pela Federação
Rugby Sevens
Portuguesa de Rugby.
Fora do campo, a competição
também ganha forma. O palco do
Mundial já está confirmado há al-
gum tempo: o Estádio do Bessa Sé-
culo XXI vai acolher todos os jogos
da prova, graças a uma parceria
entre o Comité de Organização do
Mundial, a Câmara Municipal do
Porto e o Boavista FC. O Bessa, re-
modelado totalmente em 2003, é
O Rugby de 7 ganha um Estádio de grande dimensão,
cada vez mais adeptos
que pode receber cerca de 30 mil
espectadores. Segundo os respon-
sáveis pelo Mundial Rugby Sevens
2010, o Estádio do Bessa oferece
excelentes condições para a reali-
zação da prova.
As parcerias estendem-se ainda
a outras áreas. A UP e a Organi-
zação do Mundial já anunciou
que existe um protocolo entre o
Campeonato Mundial 2010 e os O rugby de sete surgiu em
dois maiores hospitais da cidade 1883, na Escócia, mas foi
do Porto, o Hospital S. João e o apenas na década de 70 que
Hospital Sto. António. Estes dois se espalhou pelo mundo. As
hospitais estarão preparados para principais competições são o
receber qualquer atleta que sofra Campeonato Mundial de Rugby
alguma lesão gravidade, ou para Sevens, disputado desde 1993,
responder a qualquer acidente e a IRB Sevens World Series,
que ocorra durante a competição. criada em 1999. A modalidade
Ao mesmo tempo, no site oficial será incluída, pela primeira vez,
da prova, pode-se ainda ler que nos Jogos Olímpicos em 2016.
estão a ser finalizados protocolos O rugby sevens distingue-se
com os Bombeiros, médicos de da modalidade tradicional pelo
emergência (INEM) e outro pesso- menor número de jogadores –
al médico. Por fim, já foram esta- sete, em vez de quinze – e por
belecidas parcerias com os STCP, regras que tornam o jogo mais
lo. No entanto, a luta deverá ser Tomaz Morais é importante para Metro do Porto e CP, para asse- rápido e fluído. Os jogos têm
intensa. É que os africanos terão esse objectivo, porque é muito
África do Sul gurar o transporte dos atletas, e duas partes de sete minutos,
pela frente equipas de grande va- respeitado e conhece muito bem (Masculinos) com um hotel em Gaia, que de- em vez de 40, pelo que as com-
lor. A Espanha, actual vice-campeã os jogadores”, acrescenta.Vários e Espanha (Feminino) verá assegurar o alojamento das petições costumam fazer-se
mundial universitária, surge tam- jogadores da Selecção Nacional de comitivas presentes no Porto. em poucos dias. As equipas são
bém como forte candidata. Já a Rugby são ainda estudantes uni- levantaram o troféu Neste momento ainda decorre formadas por três avançados e
Rússia e a Austrália partem no lote versitários, e portanto poderão re- na última edição uma campanha de recrutamen- quatro defesas (um dos quais
dos favoritos, mas sem a pressão presentar a Selecção Universitária to de voluntários para colaborar faz a ligação entre as duas
das outras duas selecções. Portu- de Rugby Sevens neste Mundial.
da prova na organização do Rugby Sevens partes, o scrum-half). O sistema
gal ficou em 7º na última edição Portugal tem um historial forte no 2010. O programa de voluntariado de pontos é igual ao do rugby
do Mundial Universitário, mas o Rugby Sevens, com as seis vitórias do Sul. Portugal vai-se estrear no foi lançado pela própria Universi- tradicional. Muitos jogadores de
factor casa pode ajudar os portu- no European Sevens, ou o segundo Rugby Sevens Universitário Femini- dade do Porto. sevens pertencem também a
gueses a melhorar essa prestação. lugar nos World Games. A prova no, e há alguma expectativa para Recentemente, o Professor Ma- equipas de rugby de 15.
De resto, a aposta é forte: Tomaz masculina contará ainda com a ver até onde podem chegar as jo- nuel Janeira, um dos principais
Morais está confirmado como trei- presença de várias selecções mais gadoras portuguesas. promotores do Rugby Sevens
nador da selecção universitária, e “exóticas”, como o Cazaquistão, o 2010, referiu, numa entrevista, que gumas empresas”. No entanto, o
o bom momento que os “Lobos” Uganda ou o Guam. Protocolos e parcerias con- esta competição poderá lançar as grande obstáculo, segundo Janei-
atravessam pode ajudar a conse- Na prova feminina, a Espanha é a firmados bases para a UP conseguir orga- ra, poderá ser o Mundial de Fute-
guir maior apoio do público. Bru- principal candidata, entre as 17 se- Nos últimos dias, a organização do nizar outros eventos desportivos bol, que acaba apnas 15 dias antes
no Almeida, Director do Gabinete lecções presentes. Na última edição Rugby Sevens 2010 anunciou que desta dimensão. Ao mesmo tem- do início do Rugby Sevens 2010,
de Desporto da UP, refere que Por- do Mundial Universitário, foram as já está escolhida a bola oficial para po, o académico refere que existe o que pode relegar o campeonato
tugal tentará chegar mais longe. “nuestras hermanas” a subir ao lu- a competição. A escolha recaiu a possibilidade de a competição universitário para segundo plano.
“Como anfitrião, Portugal tem que gar mais alto do pódio. A rivalizar sobre a bola Gilbert (da empresa ser transmitida em directo na te-
fazer boa figura!”, afirma o respon- com as espanholas deverão estar com o mesmo nome), que já foi levisão, o que seria “uma grande francisco ferreira
sável do GADUP. “A presença do países como a Austrália ou a África utilizada nas últimas edições do oportunidade de negócio para al- fd.francisco@gmail.com
20 || DESPORTO JUP || MARÇO 10

Desafio Seat
nacional, 2 de cada Instituição de
Ensino Superior. Estes 40 pilotos
breves
vão competir pela vitória final,
atribuída à Universidade que fizer
UP domina Campeonatos
já arrancou
mais pontos no Estoril.
Neste momento, estão ainda 20
concorrentes por apurar. A última
prova de selecção vai-se realizar no
Nacionais de Pista Coberta
Circuito de Palmela, no dia 3 de Mar- Com 7 primeiros lugares, a Uni- IP Leiria (62 pontos).
ço. Assim que estiverem conhecidos versidade do Porto foi a grande No total, foram 180 atletas que
os 40 apurados, começa o Curso de vencedora dos Campeonatos Na- marcaram presença na prova que
A 4ª edição do Desafio Seat conta Pilotagem, no Circuito do Estoril (14
de Abril). Por fim, no dia 17 de Abril,
cionais Universitários de Atletis-
mo em Pista Coberta.
abriu o calendário de provas de
2010. De entre as 17 Universidades
com novidades no formato dos testes os alunos vão competir na corrida
final, a última fase do desafio.
A Universidade do Porto partia
como favorita nos Campeonatos
em competição, a UP foi a que
teve mais atletas presentes (29).
de selecção e na prova final. Algumas novidades em 2010
Nacionais de Atletismo em Pista
Coberta, disputados em Pombal, e
Já o IPP (Instituto Politécnico do
Porto), contou com a presença de
Mónica Anjos, responsável pela di- cumpriu as expectativas. Com uma 17 atletas.
direitos reservados
vulgação e promoção do evento, pontuação final de 129 pontos, os De referir ainda que, graças
Duarte Sá Mota (FEUP) e Roberto revelou que a edição deste ano con- portuenses foram os mais fortes à parceria entre Federação Aca-
Manuel Silva (FEUP) vão ser os re- tou com um “recorde de mais de 5 em quase todas as provas. Os atle- démica de Desporto Universitá-
presentantes da Universidade do mil inscritos”. Além disso, a respon- tas portuenses conquistaram sete rio e a Federação Portuguesa de
Porto no Desafio Seat by Vodafone. sável da Publiracing sublinhou que primeiros lugares, com destaque Desporto para Pessoas com De-
Os dois pilotos vão agora frequen- as fases de testes vão “continuar a para os triunfos nas estafetas de ficiência (FPDD), 12 atletas com
tar um pequeno curso no Cirucito ser feitas em Kartódromos”, ao con- 4x200 (Masculinos e Femininos), e deficiência também competiram
do Estoril, para depois disputar a trário do que acontecia em anos para o Salto em Altura (Feminino), neste Campeonato de Atletismo
corrida final, também na pista do anteriores. Também na fase final em que o pódio foi todo composto em Pista Coberta. Os desportistas
Estoril. A final da prova está mar- há uma novidade: nas edições an- por atletas da UP. Na classificação inscritos na FPDD disputaram 3
cada para 17 de Abril. teriores, existiam duas corridas dife- final, a UP surge no primeiro pos- provas: 60 metros planos, Salto
Os dois estudantes da FEUP fa- rentes para os dois alunos de cada to (129 pontos), seguida da Univer- em Comprimento e 200 metros
zem parte de um grupo de 20 apu- universidade. No entanto, este ano, sidade de Lisboa (110 pontos) e do planos. Francisco Ferreira
rados após uma série de testes no vai haver apenas uma única corrida,
Kartódromo de Braga, que contou com troca de pilotos a meio, para
com mais de 200 participantes, no “criar mais espírito de equipa en-
dia 3 de Fevereiro. No total, serão
seleccionados 40 alunos a nível
tre os alunos”, refere Mónica Anjos.
Sara Sousa e Diana Ferreira
UP vira-se para o mar
JP Rocha
Surf e Kitesurf são as novas apos-
tas do Gabinete de Actividades

CDUP com estatuto é actualmente a única modalidade


que ainda usa aquele relvado, mas
apenas para os treinos. Os jogos são
de Desportivas da Universidade
do Porto (Gadup) para os estu-
dantes da UP. As inscrições ainda

mas dificuldades realizados no Complexo Desportivo


da Lousada, o que implica custos de
aluguer do espaço e de transporte, o
não abriram, mas já há alunos
interessados.
A praia vai chegar mais cedo
que acaba por significar muito me- para os estudantes da UP, graças às
Perto de celebrar os 50 anos, a nais e mantém o estatuto de maior nos público para o CDUP. Para Ber- novas propostas do GADUP: Surf e
equipa de Rugby do Centro Des- clube do Norte do país. A formação nardo Pinto, treinador do escalão KiteSurf. Os estudantes portuen-
portivo Universitário do Porto portuense foi a equipa que teve sub-14 do CDUP, as infra-estruturas e ses poderão praticar estes dois
(CDUP) é hoje uma das mais em- mais atletas representados no úl- os problemas económicos são, neste desportos, depois de uma parceria
blemáticas no panorama nacional timo Mundial, e o jogador mais momento, as principais dificuldades entre o Gabinete de Desporto da
do Rugby. O bom ambiente e a internacional de sempre, Joaquim do clube. “Só há apoios para o fute- UP e a escola de Surf “Onda Pura”.
força de vontade são as principais Ferreira, é também uma figura do bol”, acusa. O técnico destaca a ca- De acordo com Bruno Almeida, do
razões do sucesso, apesar de hoje clube. O CDUP compete em todos pacidade dos atletas em ultrapassar GADUP, o objectivo é “aumentar a
as dificuldades serem muitas. os escalões de formação e tem ain- as adversidades, bem como o espíri- oferta de actividades desportivas
O Rugby é o segundo maior des- da uma equipa feminina. to de união e companheirismo, fru- à comunidade universitária, a um
porto de equipas a nível mundial, Mas o grande número de atle- to das muitas viagens que fazem. preço mais baixo”. creverem nas aulas através do GA-
mas em Portugal ganhou especial tas veio acentuar uma das maiores No próximo Mundial de Rugby Apesar das inscrições ainda não DUP terão um desconto de cerca
expressividade depois da mediática dificuldades do clube, não só para Sevens, organizado pela UP, espera- terem aberto oficialmente, Bruno de 50% e, para os que se dirigirem
participação da selecção portuguesa o Rugby, mas para todas as moda- se que o CDUP esteja representado Almeida revela que já houve um directamente à escola Onda Pura
no Mundial de Rugby de 2007, em lidades: a falta de infra-estruturas. por alguns dos seus atletas, que tam- número considerável de estudan- rondará os 20%. Todo o material
França. Devido às divergências existentes bém são estudantes universitários. tes que pediram mais informações técnico necessário é fornecido
A equipa do CDUP não foi excep- entre a Universidade do Porto e o Enquanto isso, alguns dos jogadores sobre estes dois novos desportos, pela escola de Surf. Aos estudan-
ção e viu o número de atletas au- CDUP, o Estádio Universitário care- mais novos já se inscreveram como e a adesão à iniciativa tem sido tes, pede-se apenas que levem
mentar consideravelmente. Hoje, é ce de manutenção e está cada vez voluntários, para ajudar na organi- “bastante positiva”. fato de banho, toalha e protector
um dos três maiores clubes nacio- mais degradado. De resto, o Rugby zação da competição. Vera Tavares Os estudantes da UP que se ins- solar. Vera Tavares
Cultura
JUP || MARÇO 10 || 21

Filipe Pedro
Segundo Adolfo Luxúria Canibal, meus livros. O discurso que eu
vocalista dos Mão Morta e con- construo procura explicar-me,
vidado especial no lançamento sobretudo, a mim como cidadão
do livro, no Porto, em meados e como ser humano, explicar
de Fevereiro, a máquina de fazer o mundo e os outros. Por isso
espanhóis “é angustiante e di- há uma componente de grande
vertida, com uma forte memória gozo artístico na obra, mas tam-
analítica do que é Portugal aliada bém de quase uma certa utilida-
às histórias pessoais das persona- de da obra. Cada livro funciona
gens”. Para o actor Rui Spranger, para mim, de facto, como uma
trata-se de “uma obra que nos oficina de aprendizagem.
leva do choro ao riso e que con- Se os personagens não fazem
segue na prosa manter a poesia parte efectivamente do seu mun-
num estado muito elevado”. do, então o processo de alterida-
O que o público pode esperar de de ocorre com a descoberta de
“a máquina de fazer espanhóis”? si em personagens distantes do
Um livro com uma ligação mui- mundo em que você vive?
to forte ao tema da terceira ida- É realmente uma relação de al-
de e à ideia da precipitação para teridade. As personagens, ainda
o fim da vida. Uma história con- que factualmente não existam,
tada a partir de episódios com propendem para uma evidência
um certo humor e sobre gente humana, uma sensação humana
comum, gente simples que en- que tanto quanto possível pre-
frenta a vida tal qual ela é. A tende criar em mim e no leitor
vida, o instinto de sobrevivência uma veracidade, uma ideia de
já é uma grande aventura e esse verdade. Eu costumo dizer que
livro é mais uma aventura de es- a grande vitória de um livro
tar vivo.
O seu romance está sempre à
margem, isto é, explora frontei-
Entrevista Valter Hugo Mãe meu está no facto de alguém
dizer que uma personagem, por
mais irreal que possa ser, chega
ras muitas vezes ignoradas? à memória como um patrimó-

A máquina de
Sim, eu parto para os meus ro- nio afectivo e emotivo. Os gran-
mances sempre por aproxima- des livros de que eu sempre
ções, tento chegar ao entendi- mais gostei são aqueles que me
mento do que pode ser a vida deixam um personagem para a
de outra pessoa que não eu. Por vida, que me deixam a memória

fazer espanhóis
isso os meus romances nunca de ter conhecido e de ter con-
são autobiográficos, eu procuro vivido com alguém. Eu gosto
fazer essas aproximações a par- de recorrer a essa utopia e fico
tir de quem vê, de quem assiste, felicíssimo quando as pessoas
de quem presta atenção àquilo me dizem que não conseguem

para explicar a
que não é óbvio ou que não está esquecer a Maria da Graça ou o
propriamente no lugar central Baltazar Serapião, por exemplo,
das preocupações. Interessa-me e agora o seu António Silva, que
esse cuidado com as pessoas que é profundamente inquietante a
estão de alguma forma desfavo- ponto de depois de lerem o li-
recidas, injustiçadas, interessa- vro continuarem dias a pensar

engrenagem
me entender porque o estão e acerca dele.
como poderíamos ultrapassar O envelhecimento é uma das
esses problemas. temáticas que surge a partir de
Na sua escolha estética não há uma reflexão filosófica e só de-
uma pureza na linguagem literá- pois é que se estende para a re-

portuguesa
ria. Existe sempre a recorrência a flexão do que é Portugal hoje.
outros âmbitos, como a Filosofia O ponto fundamental do livro
e a Sociologia, por exemplo. tem que ver com essa entrada
Há uma tendência para não es- dramática na cabeça de um oc-
gotar a literatura somente na li- togenário para percebermos que
teratura. O exercício puramente revolução é essa a de estar vivo
estético – sem um conteúdo que tão ao pé da morte, de estar vivo
seja relevante axiologicamente, quando a morte é mais do que
que humanamente não tenha Em seu mais novo livro, o escritor faz importantes uma possibilidade, é uma pro-
relevo – não me interessa muito. babilidade. Todos os restantes
Posso apreciar na obra de outros reflexões sobre o século passado e que culminam temas, como aqueles que envol-
autores a proposta e o debate vem temáticas portuguesas, são
puramente estéticos, mas isso numa análise da actual conjuntura do país. uma roupagem que vão subli-
não me é natural esgotar nos nhando a ideia fundamental
s
22 || CULTURA JUP || MARÇO 10

isso os meus
romances
nunca são
autobiográficos, eu
procuro fazer essas
aproximações a
partir de quem vê,
de quem assiste”

Esse livro é isso,


é uma máquina
de conhecer as
emoções de um
octogenário” de percebermos a idade das pes- macro-observadoras da nação, É essa ideia de que, de facto, a continuar. Como não se fabricou
soas através da intensificação interessa-me perceber o lugar morte é uma porta que dá para ainda uma máquina de eternizar,
dos sentimentos. A nossa idade, do pequeno cidadão, do cidadão onde não fazemos ideia e de que ainda inventamos um Criador
o nosso tempo de vida muda comum, como ele se transfor- não sabemos como vamos nos tão poderoso que teria criado
radicalmente o modo como per- mou de um cúmplice do Antigo sentir quando chegar a nossa um campo de flores bonitas por
cepcionamos a nossa própria Regime num indivíduo livre, de- vez. Por isso não há métodos de onde poderíamos passear depois
vida, o mundo e, sobretudo, o mocrata e que subitamente se aprendizagem, podemos ganhar de mortos. Estou convencido de
modo como gerimos emoções. vê numa circunstância comple- uma certa afeição à morte, vamos que isso não vai acontecer e de

ainda inventamos Esse livro é isso, é uma máquina


de conhecer as emoções de um
tamente diferente no que diz
respeito à política e à sociedade
criando o hábito de que temos de
desaparecer, mas é sempre im-
que vamos deixar de existir em
toda a amplitude da palavra.
um Criador tão octogenário.
Desse modo, Portugal surge como
em geral. Interessa-me perceber
que compromisso de cidadania
possível uma atitude de profunda
confiança em relação a esse ins-
O importante é percebermos a
dignidade da vida por si só, ou
poderoso que uma construção identitária a é esse, e por isso Portugal acaba tante e por isso somos todos es- seja, absolutamente dessacra-
partir da análise filosófica sobre sendo visto não a partir dessa treantes no momento da morte. lizada, a vida é preciosa em si.
teria criado um o indivíduo, sobre o sujeito em estrutura mais centralizadora A morte não aparece no seu livro Creio que essa coisa das cren-
si. Cada personagem representa que estaria dentro dos mean- atrelada à eternidade, embora se- dices religiosas, ao invés de nos
campo de flores uma parte da reconstrução que dros políticos, mas a partir das jam duas temáticas tão próximas ajudar a dignificar a vida, ajuda-

bonitas por onde você faz sobre a conjuntura das


últimas décadas portuguesas.
bases de uma estrutura que as-
senta na vida de cada pessoa,
na literatura.
A nossa cultura tem nos vendi-
nos a deturpá-la e a desprezá-la
porque pensamos que, se calhar,
poderíamos O importante nesse exercício
é chegar a grandes conceitos a
de cada indivíduo o mais ano-
nimamente possível inserido na
do uma ideia de transcendência
e nós temos tido a tentação de
não precisamos nos preocupar
nem connosco nem com os ou-
passear depois de partir de Portugal e de uma re- sociedade. achar que a vida é tão boa que tros o suficiente – acreditamos
flexão do sujeito em si. Não me O livro é a impossível aprendiza- não pode acabar nunca e que que há sempre um Criador que
mortos” interessa as grandes variantes gem sobre a morte? tem que haver uma maneira de é mais ou menos responsável
JUP || MARÇO 10 CULTURA || 23

Filipe Pedro
No seu processo criativo, isola-se
do mundo?
Sim, preciso ficar sozinho, não
marco nada, não pode haver
compromissos. Escrevo mui-
to por intensificação e durante
muito tempo seguido. Os textos,
a ficção acontecem ganhando
muita evidência em mim, quase
criando uma tridimensionalida-
de muito grande, por isso isolo-
me muito.
Escrever dói por meio de um pro-
cesso catártico?
Não sei se alguns dos meus livros
ou algumas passagens poderão ter
contribuído como uma certa tera-
pia da minha pessoa, mas escre-
ver para mim não começa exacta-
mente no sentido terapêutico. Eu
escrevo sempre pela necessidade
de perceber, de compreender al-
gum assunto. Nesse processo de
conhecimento existe sempre al-
guma cosia dentro de mim que
pode ser apaziguada e por isso
eu creio que melhoro sempre,
que aprendo sempre depois de
escrever um livro. Essa é a escola
da minha vida adulta, pois são os
períodos de escrita um tempo de
grande aprendizagem, inclusive o
momento exterior, em que o livro
chega às pessoas e elas conver-
sam comigo, interpretam à sua
maneira e criam as suas visões.
Toda essa partilha é incrível.
Você nasceu em Angola e aos
nove anos foi viver para Vila do
Conde. Qual a importância desse
período para a sua reflexão sobre
a cultura portuguesa?
por nós e que a pessoa, se não mais a Billie Holiday, a Amália e [risos] Sim, há um lado selvagem, a pensar na sua massificação. O A minha relação com Angola
for feliz agora, depois de morta ao Kafka, por exemplo, mais do um lado agreste, um lado que acréscimo de vendas não signifi- permitiu-me entender que um
será muito feliz no tal campo que rezo a outras coisas, eu te- pretende desconformar alguns ca ainda, e longe disso, qualquer dia vivi num sítio diferente, com
de flores. Isso é uma maneira nho os meus santos. consensos, digamos assim, des- massificação, o que há é uma gente diferente e com hábitos di-
de nos desresponsabilizarmos, Acredita que o ser humano in- pentear algumas coisas – eu, ca- presença mais notada da minha ferentes e que, por isso, o lugar
um modo de deixarmos as coi- venta Deus porque não acredita reca, gosto de despentear as coi- obra e isso deixa-me bastante onde depois fui morar era apenas
sas por existir porque atiramos em si mesmo nem no outro? sas, a mim ninguém despenteia grato. Agora, não sou a pessoa mais um lugar em que as pessoas
para as mãos de uma abstracção Exactamente, essa é uma das fra- [risos]. Mas há esse lado mais indicada para ser transformada possuem apenas mais um modo
a hipótese das pessoas serem ses do meu romance. Acho que provocador, mais propendo para em grande olímpico de vendas, de ser. Desde criança tenho a per-
redimidas. Eu acho isso inacei- o facto de nos menosprezarmos uma sensibilização, até uma cer- acho que nunca vou ter vendas cepção de que há uma diferen-
tável, pois nós temos que pro- uns aos outros levou-nos a criar ta delicadeza eu acho que fun- olímpicas, não é isso que me faz ça fundamental e natural entre
pender para uma sociedade que essa Identidade que depois dis- ciona como esse apanágio de correr. As minhas corridas não as pessoas e eu convivo sempre
faça felizes as pessoas enquan- tribuiria a justiça uma vez que esperança. É no fundo partir de são pelas medalhas, e se acon- magnificamente bem com todas
to estão vivas, porque acerca não somos capazes de nos fazer- um terreno duro e contribuir tece alguma medalha não são as diferenças, sejam elas quais fo-
do que elas são quando mortas mos justiça uns aos outros. In- para que ele possa florir. propriamente as vendas que eu rem. Foi assim que aprendi esse
não sabemos nada. Por isso não ventamos uma espécie de justi- António Lobo Antunes afirmou considero as mais importantes. meu modo integrador. Não com-
podemos apaziguar-nos, não po- ça póstuma que eventualmente que “a maior parte dos livros é Acho que o reconhecimento en- pete a mim ajuizar nem julgar as
demos baixar os braços e temos não acontecerá e, assim, baixa- escrito para um público e este tre os pares e o reconhecimento pessoas, compete-me apenas res-
mesmo de melhorar esse tempo, mos os braços, ficamos desmo- livro [“a máquina de fazer espa- dos leitores ou mesmo uma certa peitar a esfera de liberdade delas,
o nosso tempo enquanto puder- bilizados. nhóis”] é escrito para leitores”. O felicidade que vem de uma boa fazê-las respeitar à minha esfera
mos e urgentemente. Quando pensamos na estética de que é escrever para as massas? crítica, tudo isso é realmente a de liberdade e ser feliz.
És ateu? Valter Hugo Mãe, podemos falar Eu tenho cada vez ais leitores e grande contribuição que podem
Sou ateu e tenho outros tipos de em selvagem delicadeza ou mes- com isso fico muito contente, dar a um escritor, sobretudo a Manaíra Aires
deuses, sou como os gregos. Rezo mo em sensibilidade objectiva? mas não escrevo os meus livros um escritor como eu. mana_aires@hotmail.com
24 || CULTURA JUP || MARÇO 10

edgardo cecchini

GRAÇA MARTINS
PINTORA

A cidade de névoa
e granito
frequentam a cidade exibem um
comportamento urbano e aspec-
to mais agradável. Relacionam-

DREAM BROTHER, MY KILLER MY LOVER, 2009


se com disponibilidade citadina,
sabem apreciar os momentos do
fim da tarde nas esplanadas. Há
O Senhor Gonçalves, o espírito do lazer. No Porto as
gerente do Piolho há 30 anos
pessoas exprimem-se de forma
agressiva, boçal. São desconfia-
das. Sinto mais a diferença de
classes no Porto. Mesmo nas
conta-me como é... Nas minhas viagens a Lisboa, zonas favorecidas, como a Foz,
vivo com mais intensidade as existe mendicidade. É como se o
diferenças gritantes entre o Porto do Camilo, da Agustina, do
Porto e a Capital. Desde os três Eugénio, continuasse no século
anos de idade que os meus pais passado. Uma cidade medieval e

...ser dono do “Piolho”


vieram de Vila do Conde para romântica, com torres, man-
o Porto. Nesta cidade frequen- sardas, clarabóias, mirantes, a
tei a escola primária, o liceu reflectir a sua luz multifacetada
Rainha Santa Isabel, a escola e projectada nas pesadas massas
secundária e artística de Soares graníticas. Uma cidade de ruas
dos Reis e, por fim, a Faculdade estreitas e soturnas, povoada de
No ano passado, o café mais popu- foi dada também pelo horário tar- na sala de refeições, «mas as pes- de Belas Artes. jardins provincianos. Uma cida-
lar do mundo académico portuense dio de encerramento. soas, ali, ficavam isoladas. Havia O prazer de passear na rua de enleada na prosa do Camilo.
apagou cem velas, resultado de um Hoje em dia o segredo encontra- pessoal que pegava nos pratos e de Santa Catarina, frequentar A tragédia, a sombra. Torturada
conjunto de vários factores. Quais? se na gestão da confusão. «Mas os levava para cá». Daí, a sugestão o Café Majestic, as ruas 31 de por emoções enlameadas.
A dedicação dos seus clientes e o confusão no bom sentido: estudan- de mudar a configuração do esta- Janeiro, Passos Manuel, Cléri- A BELEZA do Porto é um postal
trabalho infatigável de persona- tes, caloiros, pedintes, os que já se belecimento para acompanhar as gos, a avenida dos Aliados, os de “Recuerdo”. O Porto na sua
lidades como o Senhor Luís, por formaram, Erasmus e tudo isso faz exigências da gente e para tornar o cafés Piolho, ( Ancora de Ouro), neblina junto ao Douro e ao
exemplo. Mas também não se pode parte do ambiente». Para tornar re- café uma única grande concha de Ceuta, Guarany, Brasileira e casario, nas aguarelas icónicas
deixar de lado a chefia cuidadosa alidade a vivência dessa espécie de vivência humana. Sempre falando claro, as livrarias do Porto. A do pintor António Cruz. Essa luz
dos seus actuais proprietários. O caos controlado, a palavra-chave é de Arquitectura, o JUP tentou de Leitura, a Latina, a Lello. Enfim, única do entardecer que atinge
JUP foi entrevistar um deles. «respeito». É saber que, posto um sacar uma opinião sobre as contes- um mundo artístico de cafés, os habitantes. E, claro, as gaivo-
“Sou Edgar Gonçalves, 50 anos, limite, este não será ultrapassado: tadíssimas esplanadas que estão a livrarias e galerias de arte. Foi tas que sobrevoam a cidade, de-
meio século no café centenario”. «a brincar, a brincar…mas quan- ser construídas em frente dos cafés na Galeria Alvarez, do recente- sesperadamente famintas. Talvez
Juntamente com o seu cunhado, do parou, parou!». E o que é que da Praça Parada Leitão (que envol- mente falecido galerista Jaime por isso o Porto seja um lugar
José Martins, desde Dezembro de acontece quando algo correr mal? vem o Café Universidade, o Café Isidoro, que realizei as minhas de pintores e poetas. Afinal, a
1979 o Senhor Gonçalves é o ge- Tenta-se sempre de mediar, porque O Mais Velho, a Gelataria Cremo- primeiras exposições. Depois, minha pintura é intimista e me-
rente do café Âncora d’Ouro, mais «chamar a Policia é chato». Em si, o Restaurante Irene Jardim e o na Cooperativa Árvore, espaço lancólica. Uma paleta de cores
conhecido pelo apelido: «Piolho». síntese, a tarefa prevê o afastamen- próprio Piolho). Mas perante a um cultural de relevante importân- secundárias, tons quentes, por
Para tornar o Piolho o que ele é to dos que não cumprem a dita resolutivo «no comment», não foi cia para os artistas, dinamizada vezes trágicos, que atingem a
hoje, operou-se uma pequena «lei» do Piolho, tendo em conta possível aprofundar a questão. pelo escultor José Rodrigues. representação das figuras na sua
revolução ao café dos anos ‘79 e também os perigos que podem vir Difícil é a descrição da expressão Mas os tempos são outros e duplicidade, de verso e reverso.
‘81: «antigamente os alunos das do exterior. Mas «dentro do esta- de Edgar Gonçalves quando, pela eu também não pertenço ao (…)
faculdades não podiam estudar belecimento não permito nada que primeira vez, o JUP o confronta grupo dos saudosistas. « Descia a neblina
dentro do local. Haviam folhas diga respeito ao Piolho» salienta. com a pergunta mais importante. O mundo é dinâmico, a vida sobre os prédios, gaivotas
penduradas nos espelhos que os Ao longo dos anos, quase trin- Os seus olhos enchem-se de um avança e o futuro é transforma- vinham da Foz. Um mendigo de
avisavam. Era o eliminar do aca- ta, o Senhor Gonçalves e o Piolho brilho particularíssimo e a boca ção. Sou optimista por natureza barbas
démico! E a partir de uma certa acompanharam as novidades da abre-se para chutar palavras que e acredito no FUTURO do Porto. atravessou a rua, despreocupa-
hora (três ou quatro da tarde) o vida académica. Os Erasmus in- nunca saem. No final da entrevis- A cidade está bonita, mais arran- damente. »
ambiente tornava-se um bocado crementaram ainda mais a «troca ta, quando a atmosfera aproxima- jada. Respira-se uma atmosfera
mau». Pela descrição, parece o do povo» tornando mais fácil o se do «mais a vontade», sem mais Europeia. No entanto, existe Do poema DESCIA A NEBLINA de
exacto contrário de como o co- cumprimento da segunda regra: nem menos, escoam as palavra um forte obscurantismo. Lisboa Isabel de Sá. Colectânea de Poesia
nhecemos. «Connosco voltaram o conhecimento de novas pessoas certas: «dono do Piolho? O topo. revela fragilidades na área da sobre o Porto, publicações Dom
os estudantes» defende o Senhor passados apenas cinco minutos. O Cristiano Ronaldo ou o Kakà do recuperação, mas as pessoas que Quixote, 2001
Gonçalves. Uma boa contribuição Há uns anos, existia uma peque- Real Madrid». edgardo cecchini
JUP || MARÇO 10 CULTURA || 25

Jazz à moda
Entre 02 e 07 de Março a Casa dos músicos do Conservatorio di violoncelo nas apresentações no
Música irá receber a 4ª edição Musica E.F.Dall’Abaco di Verona. festival, enquanto o soprano e o
do Harmos Festival, que reúne No dia seguinte, é a vez da Escola piano ficam por conta dos britâ-
os melhores músicos/alunos das Superior de Música, Artes e Espec- nicos da Guildhall School of Mu-

do Porto
mais conceituadas escolas supe- táculo do Porto, numa apresenta- sic and Drama, Royal Academy of
riores de música da Europa. A no- ção com violino, viola e cello, se- Music. O Koninklijk Conservato-
vidade para este ano é a estreia guida pelo Conservatório Superior rium Brussel fecha a noite.
da Harmos Festival Orchestra, di- de Música da Corunha. Já no encerramento, a Sala Su-
rigida pelo maestro Dirk Vermeu- Na Quarta-Feira, a Lithuanian ggia recebe uma orquestra com-
len e composta pelos 40 músicos Academy of Music and Theater leva posta por todos os músicos que
presentes no evento. ao palco o Trio Claviola, composto passaram pelo palco ao longo da A Esmae (Escola Superior de equipamentos e instrumentos
“O objectivo é juntas as escolas por viola, clarinete e piano. O Con- semana, algo nunca realizado an- Música e Artes de Espectáculo) de qualidade para o Núcleo de
numa componente física para que servatório de Superior de Música da tes. Está prevista a apresentação corresponde à ideia de escola Jazz e para pagar a educação
elas possam mostrar os projectos Corunha volta a se apresentar com da abertura da ópera “Le Nozze di de talentos, de música e de te- dos alunos de mestrado, «coisas
que desenvolvem. É a reunião da um quarteto e em seguida os ale- Fiagro”, de Mozart; o concerto tri- atros, com pautas, setlists e fo- que a escola não pôde fornecer
música pela música, sem a compe- mães da Hochschule für Musik und plo para violin, violoncelo e piano lhas de castings penduradas nas ao longo dos anos» – segundo
tição que existe no mundo da mú- Theater Leipzig encerram a noite. em Do M, op.56, de Beethoven; e a paredes dos corredores longos Michael – «é verdade que acal-
sica erudita”, afirma o director do Na Sexta-Feira, penúltimo dia Sinfonia nr. 4 em La M, op. 90 Ita- e ecos de música longínquos. mou, mas a iniciativa nunca foi
festival, Rui Couto. (não há programação para Sába- liana, de Mendelssohn. Os ingressos Para encontrar o pavilhão onde pelo dinheiro, mas pela opor-
Na abertura, que ocorrera em do), a Academia Nacional Supe- custam 5 euros por dia para o públi- decorrem as jam sessions, actu- tunidade de tocar, aprender e
período diurno, o público poderá rior de Orquestra concretiza o co em geral e 3 euros por dia para ações dos alunos de jazz reali- crescer, por isso, acaba por não
acompanhar a clarinete e o piano enfoque no trio violino, viola e estudante. Manaíra Aires zadas às terças-feiras, bastou, fazer grande diferença».
josé ferreira
literalmente, seguir a música. Desde então, as Jams da Esmae
A sala está a meia-luz. Os ins- tornaram-se um evento quase
trumentos reflectem as luzes underground, pouco conhecido
douradas dos holofotes, a corti- entre aqueles que não perten-
na de veludo vermelho desbota- cem à pequena, mas saudável,
do completa o palco simples. À comunidade de jazz do Porto,
chegada, já havia música no ar. embora sejam bem conhecidas
Estariam perto de 60 pessoas pelos estudantes de Erasmus. A
na sala, talvez 100 entre entra- ESMAE tornou-se a principal es-
das e saídas, o ambiente era de
descontracção, de convívio e de As Jam Sessions
grande apreciação pela música
que se tocava. Mas nem sempre
começaram como
foi assim, conforme nos contou uma oportunidade
Michael Lauren, responsável pelo
departamento de Jazz da ESMAE.
dos estudantes
«Esta escola tornou-se uma esco- e da comunidade
la de jazz há sete anos. Foi uma jazz do Porto
O virtuosismo vai estar oportunidade dos alunos toca-
à solta pelo Porto
rem, trabalharem com música e se reunir à volta
se divertirem». É também uma de um palco só.
oportunidade para os músicos
de fora: o palco está aberto a to-
dos que conheçam o repertório cola de Jazz do país nos últimos
de jazz tradicional e que toquem anos apesar da abertura de ou-
com qualidade e paixão. tros centros, maioritariamen-
As Jam Sessions começaram te privados, em Lisboa e Évora
como uma oportunidade dos apenas no ano passado, algo
estudantes e da comunidade que contrasta com as valiosas

Harmos Festival
jazz do Porto se reunir à vol- décadas de tradição do género
ta de um palco só. Depressa em Portugal, lembrando alguns
se converteram num aconteci- grandes talentos como Bernar-
mento in do Porto: «era uma do Sasseti e Mário Laginha. E

na Casa da Música
loucura, tiveram que proibir foi talento mesmo que vimos
entradas pois já estavam a ficar em palco no Esmae. Mas ape-
500, 600 pessoas, não havia es- sar da qualidade dos concertos
paço suficiente» revelou Carlos e da descontracção do evento,
Azevedo, um dos professores da “pouca publicidade há”, lamen-
escola. O barulho e o extravaso ta Michael. Fica aqui portanto,

De 2 a 7 de Março a Casa da Música vai receber era tanto que se optou pelo re-
torno a um formato mais fami-
uma sugestão para um serão
bem passado, em proveito do

os mais jovens talentos da música clássica europeia. liar. O dinheiro da entrada (2€
actualmente), quase simbólico,
que melhor se faz no Porto e
no Ensino Superior. Ana Pelaez
era utilizado para providenciar e Inês Antunes
26 || CULTURA JUP || MARÇO 10

Márcio Matos gourmet das tascas


Pelo canudo josé ferreira

abaixo
Estudar por um bom futuro!
Para quem deixa o estudo
para o fim do semestre este
mês de Março é um descan-
so. Para quem tem a saudá-
vel disciplina de ir estudan-
do todos os dias para que os
exames no fim do semestre
não serem tão dolorosos já
vive com a pressãozinha nes-
te começo de semestre. Uns
e outros estão condenados a
pensar num futuro sombrio.
Para quem é finalista e não é Sr. José Pinto, o mestre
extraordinário no aproveita- das francesinhas
mento académico sente uma
corda no pescoço. O véu que
cobre o futuro está descain-
do mas o pouco que se vê é
sombrio. A licenciatura não
tem muito peso nos dias de
hoje e mesmo o mestrado
não garante o desejado em-
prego. Mas andam milhares
de estudantes a procurarem
esse futuro que não existirá.
De quem é a culpa? O que
fazer? A culpa é do governo.
Só o governo pode redi-
reccionar esses estudantes.
A bagagem intelectual de
tantos anos a estudar não se
pode deitar pela cano a bai-
xo. Será impossível para as
faculdades criarem contac-
Bufete Fase deste prato e eu tive que abdicar
de todo o outro tipo de serviços
para me dedicar exclusivamente
às francesinhas».
habitual, mas se quiser comer, em
pé, ao balcão, passa à frente».
A Francesinha do Bufete Fase
é confeccionada sempre ao mes-
tos que garantem a aquisi- A casa com cinco mesas tem mo ritmo e o resultado é o pão
ção profissional de 50% dos A Francesinha é um prato típi- capacidade para um máximo de torrado, o molho a escorrer pelo
seus alunos? Será impossível
que as faculdades garantam
co das noites do Porto. O Bufete
Fase impõe-se, qual santuário de
História quinze pessoas e é usual chegar-
se à porta do Bufete Fase e, ao
bife de novilho e pelos enchidos e
o queijo que derrete com a tem-
estágios para todos os cur- degustação desta iguaria, pois perguntar se temos mesa, obter peratura do líquido. Segredo? «O
sos? Será impossível para os quem lá entra tem apenas o ob- A Francesinha foi criada, nos como resposta: «Vai ter de es- bife, o fiambre e os enchidos são
alunos entrarem para uma jecto de se deliciar com este belo anos sessenta do século XX, perar um bocadinho». Não se sempre de óptima qualidade. Os
universidade sem receios de petisco. pelo Sr. Daniel David Silva, no fazem reservas em circunstância produtos e o molho são sempre
desperdiçar anos de estudo? Este pequeno restaurante fa- restaurante A Regaleira. Tendo nenhuma e «quando os clientes do dia. Se as quantidades do dia
Será utópico tomar como miliar de José Menezes Pinto, trabalhado em França, Daniel entram na porta têm de respeitar acabarem eu não aldrabo, sou
medida a redução de vagas que actualmente conta com o Silva criou este prato típico da a ordem de chegada. Não impor- sincero com os meus clientes e
por cursos, a criação de apoio da filha, Filipa Menezes, e gastronomia portuense, adaptan- ta se é familiar, amigo ou cliente tenho o dia ganho». E o segredo
mais cursos específicos com do genro, existe desde 1984, mas do um tipo de tosta designada do molho? «Bem isso não posso
menos pessoas mas com a foi precisamente há quinze anos por croque-monsieur, e adicio- O Bufete Fase impõe- revelar. A receita foi inventada
segurança de empregabili- que surgiu a ideia de apenas ser- nando o molho da cobertura, que por mim e não uso bases pré-
dade? Pode parecer utópico vir Francesinha: «Tudo começou
se, qual santuário
o torna tão característico. confeccionadas. A única coisa
mas não será impossível com uma brincadeira. Na época Questionada sobre a opção pelo de degustação desta que posso acrescentar é que o
que surjam vários proto- tinha um cliente que trabalhava nome do prato – a “Frances- iguaria, pois quem molho tem que ser feito em gran-
colos que munam cada na revista Ideias e Negócios e inha” –, Filipa Menezes, deixa de quantidade para ficar bom. É
curso com o destino dos um dia decidiu fazer uma repor- uma hipótese interessante ao lá entra tem apenas como as carnes do cozido!». E o
estudantes. Se estes não o tagem sobre a casa e as francesi- relacionar o picante do prato com o objecto de se preço? «Por 10,00 euros comem
desejarem, terão a liberdade nhas. Eu na altura não liguei mas as francesas que eram mulheres francesinha, batata frita e acom-
de procurar outro. depois de sair a reportagem foi muito modernas para a época.
deliciar com este panham com uma cerveja de bar-
a explosão de clientes à procura belo petisco. ril fresquinha». mariana jacob
Críticas
JUP || MARÇO 10 CULTURA || 27

9/10 9/10
Invictus Arctic Monkeys
Clint Eastwood Coliseu do Porto

7/10 Passado um ano de Gran Torino, Num concerto recheado de


Clint Eastwood lança a sua nova emoções, Alex Turner, guitarra e
Norma
longa metragem: Invictus. O filme voz, Jamie Cook, guitarra, Nick
Palmilha Dentada surge de uma adaptação do livro O’Malley, baixo, e Matt Helders,
de John Carlin Invictus – Playing bateria e segunda voz, mostraram
Aramaico, Judaico e Mirandês! The Enemy, onde é narrada a his- 9/10 que já não são os meninos de
Anunciava-se que a peça era tória de Nelson Mandela no início Memórias das Minhas Sheffield. Deram um espectáculo
falada integralmente nestas três do seu mandato como Presidente à altura do espaço e da fama que
línguas. Nada mais do que um da África do Sul depois do fim
Putas Tristes os trouxe ao Porto, ao longo de
simples engano! Revelando logo do Apartheid e da sua libertação. Gabriel Márquez uma hora e meia de concerto.
a partida o carácter particular da Com uma interpretação mui- Ainda que com a postura tímida
sua interpretação do Teatro, des- to bem conseguida de Morgan Um título que contenha a e naturalmente britânica, não
tacando o Improviso, envolvendo Freeman, Nelson Mandela parece palavra «memórias» despole- deixaram de interagir com o pú-
o público na peça com um hu- mesmo estar presente em certos ta no seu leitor uma ânsia de blico, quer com gestos quer com
mor mordaz. A Norma coloca em momentos do filme. descoberta do passado. Gabriel sinceros agradecimentos e um
relevo os valores morais e sociais A história de Invictus centra- García Márquez, como já era grande prazer em tocar ao vivo.
da actualidade não esquecendo a se no Campeonato Mundial de esperar, não segue a regra e O público soube corresponder
actual crise económica. de Rugby de 1995 na África do distorce um pouco o conceito com uma recepção fervorosa.
Ao entrar-se no Estúdio Latino Sul, onde os «Springboks» – a de «memórias». A quem a banda também não
pode encontrar-se Ivo Bastos e selecção nacional do país – eram O autor não começa a contar a esqueceu de agradecer foram aos
Rodrigo Santos recebendo os espec- tidos como derrotados certos sua vida desde criança ou adoles- Mystery Jets que abriram as hostes
tadores. São estes dois actores que do torneio. Para a população cente, centra-se no seu nona- e aqueceram o palco – e o público.
encarnam uma multiplicidade de negra da altura, os «Springboks» gésimo aniversário. Um velho e Arctic Monkeys escolheram «Pret-
personagens disfuncionais. Dois pu- eram vistos como a equipa dos solitário jornalista que durante ty Visitors» do fresco Humbug
blicitários que têm como próximo brancos, e nem sequer se inte- toda a sua vida fez questão de para a grande abertura, mas não
projecto a criação da nova Imagem ressavam pelo desporto. Assim, pagar por sexo, descobre aos 90 deixaram de premiar as cerca de
de Deus. O próprio Deus, vingativo Nelson Mandela viu no campeo- anos que é capaz de amar. três mil pessoas que inundavam o
e severo como é representado no nato mundial uma oportunidade Num mar de metáforas e Coliseu com alguns dos melhores
Velho Testamento, que mantém única de unir o povo Sul-Africano recursos estilísticos, Gabriel e inesquecíveis êxitos da banda.
uma relação de pai ausente com em torno da Selecção de Rugby, García Marquez demonstra que Apesar da ainda curta mas
Jesus. Jesus é caracterizado como acabando com as divergências e o verdadeiro amor não é carnal vibrante carreira, não houve
um comum mortal, de barba farta ódios que sempre os dividira. e não existe idade para amar. quem não fizesse coro a «When
e barrigudo, tendo a televisão O filme é simples mas carregado Um grande romance de escrita the Sun Goes Down», «The view
como passatempo favorito, sendo de sentimento, mostrando como inconfundível em que o autor from the afternoon», ou «Still
sua companheira o Diabo. Uma um dos homens mais conhecidos colombiano é capaz de combinar take you home».
noiva desgostosa pela morte do da história moderna conseguiu dois aspectos aparentemente Sempre muito constantes, soube-
noivo no altar entalado com uma unir um povo tão antagónico antagónicos: a velhice e o amor ram manter ao rubro cada minuto
hóstia. Dois pastores evangélicos apenas através da paixão pelo verdadeiro. e finalizaram com um espectáculo
que interligam as diversas cenas desporto. Miguel Lopes Rodrigues Numa sociedade em que mui- de confetis que surpreendeu pelo
questionando os valores da socie- tos dos cidadãos são solitários, inesperado e um encore que, ainda
dade actual apoiando-se no Livro Gabriel García Márquez demons- que breve, não desiludiu. Ficou na
da Norma, interpretação muito tra que nunca é tarde para viver memória um concerto intenso,
própria da Bíblia. uma vida a dois. A idade não é convincente e, acima de tudo,
Com uma encenação muito bem um estatuto, nem uma doença, surpreendente. Liliana Pinho
conseguida por Ricardo Alves com são vivências. O amor é intempo-
uma boa fluidez de cenas onde os ral. Não existe nada que impeça
únicos momentos de pausa são a existência de um brilho apaixo-
criados pelos actores para explica- nado nos olhos de um adolescen-
rem o conceito da peça e da sua te, ou de um idoso de 100 anos.
forma de fazer teatro. Uma peça Nunca é tarde para começar.
com muita boa disposição e em Mariana Catarino
que o espectador se vai sentir inte-
grado na acção. Leandro Rodrigues
Cardápio JUP || MARÇO 10

música teatro Eventos Vários


5 de Março 3 A 8 DE MARÇO 6 DE MARÇO 5 a 7 de Março
Diabo na Cruz “AMOR SOLÚVEL” “THERE IS A LITTLE BIT OF VIENNA Feira de objectos de design
Passos Manuel Cine-teatro Constantino Nery – IN EVERY CITY” e decoração
Deep Sleep Teatro Municipal Embaixada Lomográfica do Porto, 15h Alfândega do Porto
O Meu Mercedes INAUGURAÇÕES DE EXPOSIÇÕES
4 A 7 DE MARÇO Quarteirão Miguel Bombarda, 16h 6 de Março
6 de Março “FRAGMENTOS DE UM CORPO SÓ” City Zen
The Poppers Teatro Helena Sá e Costa 7 DE MARÇO Tertúlia Castelense, 23h30
Plano B FEIRA DE TROCA DE LIVROS E
Baile dos Vampiros 5 A 14 DE MARÇO OBJECTOS CULTURAIS 6 Março a 13 de Julho
Corporal Zarcof (Late of Solar Condes de Resende, 9h – 19h
the Pier - dj set), DJ Ride,
Fritus Potatoes Suicide, ATÉ 7 DE MARÇO
Roice, Zé Pedro, BlackBambi FANTASPORTO 2010 – 30º FESTI-
Teatro Sá da Bandeira VAL INTERNACIONAL DE CINEMA
DO PORTO
8 de Março Rivoli Teatro Municipal – Grande Lourdes de Castro
An Evening with Joan Baez “BLACKBIRD” Auditório, Pequeno Auditório/ Espaço e Manuel Zimbro: A Luz
Casa da Música Teatro Carlos Alberto Cidade do Cinema da Sombra
Museu de Serralves
10 de Março 18 A 27 DE MARÇO ATÉ 16 DE MARÇO
Mono “QUINZENA DE TEATRO FÍSICO E “PAROLE, PAROLE, PAROLE” 09 A 18 DE MaRÇO
Serralves NOVO CIRCO” – SESSÃO DE CINEMA Curso CINEMA E PSICANÁLISE:
Teatro Helena Sá e Costa Espaço NEC – Fábrica Social, 22h IMAGENS REVERSÍVEIS
13 de Março das 21:30 às 23:30 - Terças
Clash Club 19 A 28 DE MARÇO ATÉ 20 DE MARÇO Biblioteca de Serralves
Fischerspooner, Ali Love, CALE-SE 4 – FESTIVAL INTERNA-
Huoratron, Gun n’ Rose CIONAL DE TEATRO 18 de Março
Teatro Sá da Bandeira Associação Recreativa “Guitarmageddon” -
de Canidelo, 22h concurso de bandas
15 de Março de garagem da academia
Yo La Tengo 25 DE MARÇO do Porto
Casa da Música “PÕE A CASSETE DA TEMPESTADE” Eliminatórias - dias 9, 10 e 11
– QUINTAS DE LEITURA de Março. Final: Plano B
16 de Março Auditório Teatro Campo Alegre, 22h
Russian Circles 19 DE Março
Plano B 27 DE MARÇO COSSACOS DE DON
HANDMADE MUSIC @ DIGITÓPIA Dança
18 de Março – ESPECTÁCULOS Coliseu do Porto, 21h30
Beach House – [MÚSICA E MAIS]
Centro Cultural Vila Flor “O DEUS DA MATANÇA” Casa da Música, 21h30 26 e 27 de Março
Sven Väth Teatro Nacional São João I Conferência sobre Abuso
Gare Clube ATÉ 31 DE MARÇO de Crianças e Jovens
ATÉ 31 DE MARÇO NOMADIC.0910 – Aula Magna da FMUP.
20 de Março “MOSTRA DE TEATRO AMADOR DO ENCONTROS Inscrições até dia 20 (75€)
CONCELHO DE VALONGO” ENTRE ARTE E
Centros Culturais de Alfena, Campo CIÊNCIA
e Sobrado, Sala das Artes e Fórum Universida-
Cultural de Ermesinde de do Porto/
Faculdades
da UP

Clubbing
Blasted Mechanism,
Sofa Surfers Yo La Tengo
Casa da Música vão estar
presentes
na Casa da
27 de Março Música
Pantha du Prince
Teatro Sá da Bandeira
Opinião
JUP || MARÇO 10 || 29

Palavras leva-as o vento


Ricardo França

Quotidiano de purificação nas


águas do rio Ganges que precede
os momentos de oração diária

Momento de contemplação
antes ou depois de uma
reza, junto ao rio Ganges

Este país surpreende-me todos os tuma dizer quando nos referimos


dias, quer seja na rotina diária de ao efeito borboleta, um bater de
ida para o trabalho onde me cru- asas de uma simples borboleta na

Em directo da Índia
zo com vacas, macacos e elefantes, China pode provocar um furacão
quer seja nas viagens de fim-de-se- nos Estados Unidos e, neste sen-
mana onde já pude constatar que tido, temos de estar preparados
a colorida Índia, um paraíso para para pensar global e agir local-
os fotógrafos, é culturalmente ri- mente, sendo importante estar-
quíssima nas várias perspectivas, mos conscientes do quão vital é
seja na religião, arquitectura, mú- ter uma experiência internacio-
Em Junho do ano passado, mo- deixou-me, em primeiro lugar, Depois dos primeiros dias terem sica, gastronomia, etc. nal, algo que o ERASMUS deixa
mento em que me inscrevi no apático, quase que incrédulo e, sido ocupados na procura de casa Neste primeiro mês já tive o muito a desejar. Vou ser directo
program Inov Contacto, era-me em segundo lugar, pensativo, ten- e nos normais preparativos para prazer de visitar Jaipur, uma ci- e lanço-vos o repto. Numa altura
impossível adivinhar que hoje, tando compreender a dinâmica iniciar o meu estágio na embaixa- dade com belos e coloridos mo- em que se fala em tantas dificul-
finais de Fevereiro de 2010, pode- social que este país atravessa, em da de Portugal, nos dias seguintes numentos, incríveis palácios e dades de emprego, porque não vir
ria estar na incrível Índia. Em boa particular a cidade de New Delhi. tive a preocupação de estabelecer fortes; Agra, local do fantástico cá para fora? Não tenham medo
verdade, no final desse 6º mês de Para mim, as diferenças religio- contactos com outros estagiários Taj Mahal; Varanasi, cidade sagra- de partir. Outrora, os Portugueses
2009, faltando-me ainda 5 cadei- sas, os novos costumes, as dife- internacionais e jovens locais. Fe- da para a religião Hindu, onde se lançaram-se pelo mar fora à des-
ras para acabar o curso de eco- rentes formas de relações sociais lizmente, pude usufruir da minha dão as conhecidas cerimónias fú- coberta do mundo (aqui, tantas
nomia pela FEP, tinha apenas uma e tudo o resto que se pode en- rede de contactos que adquiri en- nebres e os banhos de purificação vezes já me perguntaram acerca
ideia em relação à minha futura quadrar no plano do denomina- quanto membro da AIESEC, maior no rio Ganges e, a cidade onde disso), tal como nesses tempos,
vida profissional: a de que queria do choque cultural, é tudo uma organização mundial gerida exclu- vivo e trabalho, New Delhi, palco devemos ser ambiciosos, aventu-
ter uma experiência internacio- fonte de curiosidade, de conheci- sivamente por estudantes que, en- de uma enorme riqueza cultural reiros e empreendedores. Façam-
nal! Mas daí a vir para a Índia… mento e de aprendizagem. Enten- tre outras coisas, tem também o e patrimonial. Na calha já há pla- no de forma planeada e objectiva,
Chegado dia 15 de Janeiro à Ín- do que esta deve ser a postura de seu próprio programa de estágios nos para visitar sítios conhecidos dessa forma poderão retirar ainda
dia, sozinho e só com 1 ou 2 con- quem trabalha “abroad”, para que internacionais. Ora, depois de ter como Mumbai (Bombaim), Goa e mais dividendos da vossa experi-
tactos de algibeira, os primeiros se possa assim crescer pessoal e conhecido alguns estagiários da os Himalaias, mas também outros ência. Este é um mundo demasia-
dias foram mentalmente devas- profissionalmente com sensibi- AIESEC e de iniciar também algu- locais menos conhecidos, como do pequeno e belo para não ser
tadores mas fortificantes para o lidade para outro tipo de factos, ma vida social, estavam reunidas Jaisalmar (deserto), Amritsar, conhecido e, como diz um amigo
resto da estadia. De facto, o cho- questões e factores com os quais as condições para iniciar um ritmo Rishikesh ou Udaipur. meu que trabalhou em Hong-
que cultural é enorme, todavia, temos que lidar. E nesta perspecti- de vida já minimamente normali- Neste mundo global em que vi- Kong, “siga em frente que atrás
pessoalmente penso que se aplica va, esta minha experiência India- zado, com normal trabalho de 2ª vemos, há cada vez menos espaço vem gente”.
melhor o termo de choque social. na é ideal, pois coloca-me fora da a 6ª, interrompido pelas entusias- para mentalidades retrógradas e
A miséria e a pobreza que se pode zona de conforto, especialmente mantes e sempre deslumbrantes fechadas no seu umbigo, no seu Ricardo França
constatar facilmente pelas ruas, no plano da realidade social. viagens de fim-de-semana. cantinho de terra. Como se cos- Ricardo.franca.alves@gmail.com
30 || OPINIÃO JUP || MARÇO 10

Vieram de longe
editorial
Passas aqui todos os dias, olhas
para as letras gordas impressas
na primeira página mas não
paras, continuas o teu percur-
Dana Elborno
so e eu, cá fico, neste corredor,
o Governo do Egipto. Israel en- à espera que voltes, que me
controu um aliado para asfixiar a levantes desta banca, dobres
Faixa de Gaza: o Egipto. ao meio e metas debaixo do
O Governo de Hosni Muba- braço. Que me leves contigo.
rak prepara neste momento um Leias as minhas crónicas e as
“muro de aço” para vedar os tú- reportagens.
neis subterrâneos de acesso a Muitas vezes sirvo para te
Gaza, alegadamente, como forma abrigar da chuva, deitas-me ao
de impedir o “tráfico de armas”. chão, limpas o sopé da porta
De facto, este muro irá travar o com as minhas páginas para
Bandeira palestiniana que tráfico de armas, mas também irá te sentares, fumas um cigarro,
acompanhou a “Gaza Feedom March”
bloquear a única artéria de man- convives com os teus colegas.
timentos que mantém as pessoas Desprezas-me por completo,
de Gaza vivas. mas sabes que estou aqui, à
Gaza viveu em 2008, 23 dias de tua espera!
guerra militar. Porque é impor- Outras vezes, seguras-me com
tante que se faça justiça, deixa- carinho, juntas-me com os
mos uma lista de violações da lei teus apontamentos e levas-me
internacional por parte do Estado para a aula, para casa. Aguardo
de Israel: pelo teu tempo, pela tua
O cerco a Faixa de Gaza viola disponibilidade. Para que te
directamente o Artigo 43 dos Re- apercebas que muitos como tu
gulamentos de Haia, os Artigos 33, se juntam todos os meses com
55 e 56 da 4ª Convenção de Gene- um único propósito: Informar!
bra, o direito à vida, o direito a É de tempo que te falo, de tudo
um padrão de vida decente, o di- o que tenho feito desde que
Dana e Lara Elborno, estiveram no Mas apesar disso, A Faixa de Gaza sofre uma reito à saúde, o direito à liberdade nasci (1987) para te dar voz!
Porto a convite do SOS Racismo, crise humanitária deste Abril de circulação e ao direito a viver Passei por muitas aventuras,
vieram de longe falar do Oriente, nós o Ocidente de 2006 quando Israel fechou a humanamente. Gaza é, assim, um estive em inúmeras manifesta-
dos “outros”. Ouvimos testemu- e nós, Portugal, sete chaves as fronteiras, impe- epicentro da violação dos direitos ções, procurei reivindicar pelos
nhos que nunca são dados pelas dindo que bens essenciais como internacionais. teus direitos. Dei-te a conhecer
televisões. Vieram falar da sua ex-
somos cúmplices medicamentos, gasolina e comi- Mas apesar disso, nós o Oci- a academia e a cidade. Levei-te
periência como palestinas e acti- na violação da lei da entrassem. É uma punição dente e nós, Portugal, somos à queima das fitas, ao teatro
vistas e comprovaram factos que colectiva por exercerem a sua cúmplices na violação da lei e a concertos. Mostrei-te
internacional
nunca nos tinham sido apresen- “liberdade” e por terem, demo- internacional sendo que sob os cultura, ciência, história e arte.
tados. Ouvimos falar da ocupação Isto tudo para dizer, que fala- craticamente, elegido o Hamas, acordos de Genebra, a comuni- Ajudei-te a reflectir, a criticar e
Israelita, tal como ela é. ram da Palestina. Numa rápida eleição que Jimmy Carter, antigo dade internacional é obrigada a a opinar. Recebi-te em minha
Falaram de pessoas e de sofri- análise da sociedade em Gaza, Presidente dos Estados Unidos garantir que a convenção seja casa, dei-te formação, debates
mento. Deram rostos às estatísti- alguns números: a população de da América, classificou como respeitada. Ricardo Sá Ferreira e festas. Ciclos de cinema e
cas e vieram dar visibilidade a um Gaza é de 1,500,202 em que 70% uma das mais democráticas que e Nuno Moniz exposições. Disse-te como
conflito que é relegado para roda- destes são refugiados; o desem- já teria presenciado. escrever e fotografar.
pé dos noticiários. Ouvimos rela- prego é de 45.4% e a idade média Existem múltiplos causadores Fontes: CIA World FactBook, UNRWA, Pa- Ao fim de todo este tem-
tos de opressão e de humilhação, é de 17.2 anos; a dependência de desta catástrofe: de forma direc- lestinian Monetary Authority, Palestinian po continuo a percorrer os
de uma prisão ao ar livre e de um ajuda externa é de 86% e o nível ta, o Estado de Israel; de forma Central Bureau of Statistics, Palestinian corredores da tua faculdade.
povo que sofre há seis décadas. de pobreza é de 80%. indirecta, com o cruzar de braços, Economic Policy Research Institute Insisto nesta árdua missão de
unir toda a academia. Tenho
mais ou menos a tua idade e
FICHA TÉCNICA Aline Flor || Ana Rocha || Ana Pelaez || Artur Costa || Dana Pré-Impressão Jornal de Notícias, S.A Impressão Nave- é precisamente sobre o meu
DIRECÇÃO
Elborno || Diana Ferreira || Edgardo Cecchini || Eliana Printer - Indústria Gráfica do Norte, S.A. Propriedade Núcleo aniversário que te vou falar no
Macedo || Filipa Mora || Filipe Pedro || Francisco Ferreira de Jornalismo Académico do Porto/Jornal Universitário
DIRECÇÃO DO NJAP/JUP - PRESIDENTE Sara Moreira
|| Graça Martins || Inês Antunes || Leandro Rodrigues || Redacção e Administração Destaque.
VICE-PRESIDENTE Rita Falcão TESOURARIA Rita Bastos
VOGAIS Pedro Ferreira (JUP) || Filipa Mora (aguasfurta-
Liliana Pinho || José Ferreira || Júlia Rocha || Manaíra Rua Miguel Bombarda, 187 - R/C e Cave 4050-381 Por- Vá, deixa o facebook! Sai para
Aires || Manuel Ribeiro || Márcio Magalhães || Mariana to, Portugal || Telefone 222039041 || Fax 222082375 ||
das) || Bárbara Rêgo (espaçosJUP) || Manaíra Athayde
Catarino || Mariana Jacob || Marisa Ramos Gonçalves || E-mail jup@jup.pt a rua, vai para o café, leva-
(galerias)
Miguel Ramos || Miguel Lopes Rodrigues || Nuno Moniz me contigo e apresenta-me
|| Pedro Ferreira || Ricardo França || Ricardo Sá Ferreira Apoios
DIRECÇÃO DO JUP Filipa Mora DIRECTORA DE PAGINA-
|| Rita Gouveia || Sara Sousa || Sofia Cristino || Tatiana Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção So- aos teus amigos! Sou o JUP –
ÇÃO Joana Koch Ferreira DIRECTOR DE FOTOGRAFIA
Manuel Ribeiro chefe de redacção Mariana Jacob
Henriques || Teresa Castro Viana || Vera Tavares cial da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Jornal da Academia do Porto,
Porto, Instituto Português da Juventude.
EDITORES E SUB-EDITORES
imagem da capa Arquivo JUP Depósito Legal
tenho 23 anos, vivo na Miguel
EDUCAÇÃO Filipa Mora SOCIEDADE Manaíra Athayde
CULTURA Filipa Mora e Tiago Sousa Garcia OPINIÃO
nº23502/88 Tiragem 10.000 exemplares Design logo Bombarda e a minha casa é a
JUP Bolos Quentes Design Editorial/Grafismo Joana
Pedro Ferreira DESPORTO Francisco Ferreira
Koch Ferreira Paginação Joana Koch Ferreira
tua casa! manuel ribeiro
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
JUP || MARÇO 10 OPINIÃO || 31

Pedro Ferreira
Devaneios

Cansei-me…
Cansei-me de acreditar em quem promete e não cumpre.
De esperar por quem diz vir e nunca vem.
Cansei-me de gostar do mesmo que os outros.
De ver os mesmos filmes.
De ouvir as mesmas músicas.
Cansei-me de ser inútil.
Cansei-me do preto.
E do branco.
Cansei-me dos meios-termos.
Cansei-me de ser prática.
Comodista.
Cansei-me de ceder.
Cansei-me de compromissos.
De memórias inabaláveis.
Cansei-me da desarrumação.
Das faltas de respeito.
Dos “mal agradecidos”.
Cansei-me dos invejosos.
E dos oportunistas.
Cansei-me de ter vergonha.
De me controlar.
De ser “politicamente correcta”.
De respeitar tudo e todos.
Cansei-me de discussões.
De momentos de desespero.
Cansei-me de meias palavras.
E de palavras em vão.
Cansei-me de ter medo.
Cansei-me da ponderação.
Da sensatez.
Cansei-me dos “ses”, dos “quases” e dos “talvez”.
Cansei-me de não alargar horizontes.
De não me ultrapassar.
Cansei-me de tentar ser aquilo que não sou.
Cansei-me de ser.
Cansei-me de parecer.
Cansei-me do cansaço e afastei-o… 

Teresa Viana
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