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BANCA EXAMINADORA
Infinitamente...
Amo Vocês!
AGRADECIMENTOS
Muito obrigada!
“Com imagens inertes que estimulam um único
sentido, os quadrinhos representam todos os
sentidos e, pelo caráter de suas linhas representam
o invisível mundo da emoção.”
Scott McCloud
RESUMO
Esta pesquisa foi realizada por meio de uma abordagem qualitativa e etnográfica tendo
a Gibiteca como objeto de estudo, com a finalidade de verificar sua contribuição no
processo de construção de leitura e escrita da criança de Educação Infantil. O primeiro
momento deste trabalho apresenta a perspectiva da história da criança, isto é, como foi
sendo percebida ao longo do tempo até ser vista hoje como um sujeito histórico em
constante desenvolvimento; a escola de Educação Infantil e como vem se constituindo
visando envolver e contribuir com o professor em sua trajetória para proporcionar às
crianças diferentes vivências e saberes. A alfabetização como processo de construção
e as Histórias em Quadrinhos como aliadas ao processo de alfabetização, devido à
utilização de meios essenciais à comunicação è a construção do pensamento: a
linguagem verbal e a não-verbal; a dinamização da aprendizagem mediante o
favorecimento do processo que auxilia a desenvolver os hemisférios cerebrais direito e
esquerdo. A história da Gibiteca no Brasil e o projeto que criou a primeira gibiteca
escolar. Num segundo momento, por meio de uma pesquisa de campo, que exigiu a
presença da pesquisadora, foram realizadas entrevistas com a idealizadora da gibiteca
escolhida para pesquisa, a coordenadora da escola, três professoras de Educação
Infantil e três alunos/as usuários. Concluiu-se que neste contexto, a gibiteca como lugar
exclusivo dos quadrinhos, propicia maior envolvimento com essa considerada nona
arte, possibilitando um contato maior com ―textos‖ desenhados e escritos, a apropriação
de suas características e favorecendo a criação de hipóteses de escrita bem como o
processo de reflexão das crianças, contribuindo, portanto, ativamente no processo de
construção de leitura e escrita pelas crianças.
This research was made in a qualitative and in an ethnographic approach. Its object of
study was the Gibiteca, which has proven its contribution in the process of the
construction of reading and writing skills of children in the process of Education. To
sustain this paper, the theoretical approach used was related to the history of the child,
the way it was realized through the time until today, when the child is considered a
historical subject in continuous development: the Children Education school and the way
it has been developing, facing to involve and to contribute for the teacher in a new way
to provide different experiences and knowledge to children. It is also about the
alphabetization as an object of construction; the child acting about it taking the
knowledge on and developing it; the Comic Books as well as the process of
alphabetization due to the utilization of essential means of communication, the verbal
and the non-verbal language, making the learning process dynamic and helping the
development of the brain hemispheres; the history of the Gibiteca in Brazil and the
Project which created the first school. The research in this field demanded the presence
of the researcher and interviews with some people from the place: the creator of the
idea, the coordinator of the school, three teachers who work there and three students
who use this resource. In this context, the Gibiteca as a unique place reserved only for
comic books creates a bigger involvement with this thing considered the Ninth Art,
providing a bigger contact, an approximation to its characteristics and the creation of
hypotheses of the narration, widely contributing in the process of construction of reading
and writing skills of the children.
Key words: Children, Education, Reading and Writing skills, Comic Books, Gibiteca.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura Página
Figura 1 Criança 25
Figura 2 Crianças Brincando 37
Figura 3 Diferentes vivências 39
Figura 4 Leitura de diferentes materiais 45
Figura 5 Nome próprio 55
Figura 6 Diferentes Portadores Textuais 59
Figura 7 Criança com gibi 60
Figura 8 Imagens consideradas da infância 64
Figura 9 Escrita pré-histórica 69
Figura10 Desenho de Rudolph Töpffer 70
Figura10 Menino Amarelo 71
Figura11 Nhô Quim 73
Figura12 O Tico-Tico 73
Figura 13 Pererê 73
Figura 14 Selo de qualidade 74
Figura 15 Calvin 76
Figura 16 Cebolinha e Anjinho 76
Figura 17 Balões 79
Figura 18 Onomatopéias 79
Figura 19 Mente humana 82
Figura 20 Gibiteca 86
Figura 21 Gibiteca Curitiba 88
Figura 22 Gibiteca Henfil 89
Figura 23 Gibiteca Dom Bosco 90
Figura 24 Gibiteca da Universidade Metodista 90
Figura 25 Gibiteca Escolar 1 92
Figura 26 Projeto Gibiteca Escolar 94
Figura 27 Gibiteca Escolar 2 96
Figura 28 Professora Natania 99
Figura 29 Professora Leyde 105
Figura 30 Professora Ester 107
Figura 31 Professora Marília 108
Figura 32 Criança- Emmerson 112
Figura 33 Criança- Clarice 113
Figura 34 Criança- Leonardo 115
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO
Sendo assim, esta pesquisa discute temáticas que há muito tempo vem sendo
debatidas no âmbito da educação, trazendo também novos assuntos que circundam o
ensino e a nova maneira de compreendê-los, sendo subsídios importantes na minha
construção como profissional da educação.
Como a irmã mais velha de quatro filhas, pude envolver e incentivar minhas
irmãs no gosto e hábito dessa leitura, e atualmente, tenho propiciado essa vivência ao
meu sobrinho.
Porém, ao longo dos anos fui perdendo esse contato e deixando adormecida
minha interação com essa linguagem, que foi despertada na Universidade através da
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disciplina sobre alfabetização que abordava o uso das HQs neste processo e trazia
estudos com possibilidades de utilizá-las no ensino.
Ao participar de uma oficina proposta pela professora Ms. Marta Regina Paulo da
Silva, ministrada pelos então alunos do Curso de Pedagogia da Metodista, Michelle
Costa Duarte e Éderson Paulino da Silva, o encantamento foi despertado e então, tive a
certeza do que queria pesquisar como tema principal do meu Trabalho de Conclusão de
Curso.
Justificativa
Por este fascinante jeito de nos envolver em suas leituras imagéticas, as HQs,
sempre me cativaram, e hoje me fazem refletir sobre seu lugar na Educação. As razões
que me levaram à escolha dos quadrinhos como objeto principal, além da minha
vivência e meu encanto, foram as discussões realizadas em sala de aula referente à
trajetória das HQs: como foi e como é vista ainda hoje em nossa sociedade.
Sabe-se que desde os tempos mais remotos a imagem é utilizada como forma
de comunicação, as figuras nas cavernas indicavam as formas de vida, os hábitos e
costumes daqueles povos. De acordo com Andraus (2004), utilizando essa linguagem,
as HQs foram consideradas as:
1
A palavra gibi era usada para referi-se a ―moleque‖, ―garoto‖. Em 1939 foi lançada uma revista em
quadrinhos com este título, em que havia o desenho de um garoto negro na capa; devido sua
popularidade, gibi se tornou sinônimo de história em quadrinho no Brasil.
(http://almanaque.folha.uol.com.br/folhinha.htm)
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Problema de pesquisa
O que implicou também pensar em outras questões, que não surgiram para
ampliar a problemática principal, mas se disseminaram desta como base para que seja
respondida adequadamente pensando nos fatores que circundam o espaço que é ponto
principal desta pesquisa, a gibiteca; que são:
O que as crianças acham da gibiteca? O que elas curtem mais neste espaço?
Quadro teórico
Como complementação desse quadro trago ainda Teresa Cristina Rego com
Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação num estudo sobre as
concepções de Vygotsky, suas teorias e o reflexo no ensino. Moysés Kuhlmann Júnior
mostra os processos históricos sobre a educação da criança nos diferentes tempos no
livro Infância e educação: uma abordagem histórica (1998). Com Zilma Ramos de
Oliveira trago a contribuição de seu debate frente aos aspectos históricos sobre as
funções das creches e pré-escolas na educação das crianças pequenas, com sua obra
Educação Infantil: fundamentos e métodos (2007).
Com Marta Regina Paulo da Silva (2004) uso a contribuição de sua pesquisa de
mestrado Infância, formação e experiência: um olhar para os processos
formativos das educadoras e educadores de educação infantil em que aborda dois
pontos específicos e discute sua problemática: criança e professor, trazendo sua
concepção sobre a criança e a importância de mudanças na prática pedagógica que
aproximem a ação dos professores com seus discursos, ou seja, que os estudos
referentes à criança e a infância possam auxiliar na reflexão sobre os processos
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formativos existentes. Adrianne Guedes e Tereza Cristina Barreiros com sua produção
Cartas sobre leitura e escrita na pré-escola ou formação de narradores: uma
paixão nas entrelinhas discute sobre a alfabetização das crianças pequenas no livro
―Infância e Educação Infantil‖ (1999), é um texto em formato de carta, em que as
autoras se comunicam e trocam informações e experiências sobre educação.
Para abordar as HQs, trago Will Eisner com os livros Quadrinho e arte
seqüencial (2001) e Narrativas gráficas: princípios e práticas da lenda dos
quadrinhos (2008) em que traz a história dos quadrinhos, seus elementos e pontos
relevantes na leitura e sua utilização; com Scoot McCloud as contribuições são
relacionadas às características dos quadrinhos e a evolução de uma linguagem que
tem a imagem como primordial em sua construção, com o livro Desvendando os
quadrinhos: história, criação, desenho, animação, roteiro (2005).
Como apoio a estas referências, utilizo ainda Mário Feijó com a obra Quadrinho
em ação: um século de história (1997), em que faz um levantamento histórico na
trajetória dos quadrinhos; Djota Carvalho com A educação está no gibi (2006), com
colaborações sobre a importância das HQs no ensino, e nesta temática também trago
Waldomiro Vergueiro com os capítulos ―A linguagem dos quadrinhos: uma
―alfabetização‖ necessária‖ e ―Uso das HQS no ensino‖ que estão no livro Como usar
as histórias em quadrinhos na sala de aula (2008), contribuindo com a história dos
quadrinhos e sua relevância na escola.
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Trazendo uma discussão recente sobre a importância da leitura das HQs e seus
benefícios, a referência que uso é Gazy Andraus, que traz questões referentes às
concepções que as HQs transmitem como ideário do autor, sua importância e
colaboração ao desenvolvimento dos hemisférios cerebrais e seu projeto que aborda a
mente humana, estando dispostos em três textos: Existe o quadrinho no vazio entre
dois quadrinhos? (ou: O Koan nas Histórias em Quadrinhos Autorais Adultas)
(1999), O que é o Projeto HQ Mente (2004) e As histórias em quadrinhos como
informação imagética integrada ao ensino universitário (2006).
No início houve muitas dúvidas sobre qual seria o local para a realização da
pesquisa de campo, mas logo foi saciada quando estabeleci meu foco e a direção de
minha investigação; então decidi pela Gibiteca Escolar de Leopoldina (MG) como lugar
apropriado para verificação da minha problemática.
Essa escolha se deu porque é uma gibiteca inserida no espaço escolar que visa
prioritariamente à inserção dos alunos no universo dos quadrinhos, incentivando-os na
leitura dessa linguagem e proporcionando a entrada dos quadrinhos no ambiente
escolar.
21
Procedimentos Metodológicos
2
As transcrições no corpo do trabalho, bem como as fotografias, estão devidamente autorizadas por seus
responsáveis.
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Estrutura do trabalho
A criança na história;
Jean Piaget;
Emilia Ferreiro.
A história da gibiteca;
Gibiteca escolar.
Figura 1 Criança
Podem ser estas ou outras perguntas que ao longo do tempo foram feitas para
que o modo de ver e tratar a criança fossem transformados e que um espaço específico
a ela fosse pensado. E hoje, que espaço é esse?
A escola de educação infantil também tem uma trajetória do mesmo modo como
a criança foi pensada em diferentes períodos da história; esta instituição sempre teve
suas funções definidas de acordo com as idéias e ordem social atuante, sendo
organizada para atender as necessidades de cada momento e também de acordo com
a classe social a que a criança pertencesse. Dentro desse espaço há ainda o
professor: quem é e qual o seu papel na educação infantil? Como vem se constituindo
para essa atual relação entre professor/aluno?
1. 1 A CRIANÇA NA HISTÓRIA
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A educação das crianças sempre foi de acordo com a camada social a que
pertenciam; as que pertenciam às camadas menos favorecidas trabalhavam com seus
pais para sustento da família, não havendo distinção entre a idade, todos estavam
juntos. Na camada abastada, os meninos recebiam uma educação diferenciada voltada
ao trabalho em que sucederiam seu pai; as meninas, bem como as mulheres, eram
subordinadas ao chefe da família e sua educação era referente aos afazeres
domésticos. Não havia atividades diferenciadas às crianças, estavam sempre em meio
aos adultos, com as mesmas posturas, vestimentas e ações.
Infância vem da palavra em latim enfant, que quer dizer não falante, a criança
não tinha voz, suas manifestações eram consideradas irracionais e não tinha a mesma
capacidade de um adulto. Hoje é considerado um tempo em que a criança se
desenvolve em seu aspecto físico, motor e cognitivo não sendo vista ―como um ‗vir a
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ser‘, mas como alguém que agora constrói sua história na relação com a cultura‖
(GUEDES; BARREIROS, 1999, p.29).
Isso nos mostra que ao pensarmos a criança na história, pesquisar sobre ela,
estamos considerando-a como um sujeito histórico, que produziu história ao longo do
tempo, em diversos processos; e por isso, pode-se apontar que essa não é uma fase
em que tudo é mágico e perfeito, as realidades e aprendizagens são diferentes e esse
momento é uma base importante para seu desenvolvimento; pois, o aprendizado ocorre
a partir do meio em que vive e suas interações, sendo um momento de descobertas e
vivências significativas para um ser em aprendizagem constante; pois, como afirma
Silva (2004) ―as crianças, a partir das coisas do mundo, dão vida aos objetos, criando
novos mundos‖ (p. 25).
Dessa forma, Vygotsky (1998) afirma que ―[...] a criança começa a perceber o
mundo não somente através dos olhos, mas também através da fala. [...] a fala como tal
torna-se parte essencial do desenvolvimento cognitivo da criança‖ (p. 43). O
desenvolvimento contínuo da fala está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento
cognitivo que cada vez mais se torna complexo e traz outros desafios à aprendizagem
da criança, porém afirma que antes de aprender a falar, a criança tem outra forma de
comunicação com o meio que é através de instrumentos intermediários que facilitam
essa relação.
Segundo Silva (2004), os direitos das crianças estão sendo negados, vivem
enclausurados para não verem a miséria do mundo, muito cedo precisam trabalhar para
sobreviver ou seu tempo é tão ocupado de tarefas que a diversão existente é a
companhia da televisão ou do game. E o que será dessas crianças que vivem
aterrorizadas, amedrontadas, isoladas, muitas vezes sem referência familiar? Que
tempo é esse de infância?
5
Foi criada na metade do século XVIII, por um pastor protestante na França. Seu nome original é Knitting
schools.
34
jardim-de-infância foram disseminados por toda Europa, chegou aos Estados Unidos e
também a América Latina, inclusive o Brasil, através daqueles que conviveram e
conheceram a essência deste trabalho.
As instituições infantis no Brasil tiveram desde seu início aspectos que envolviam
interesses médicos, religiosos, políticos, jurídicos, empresariais e pedagógicos. As
creches, asilos e internatos, eram locais destinados às crianças que eram abandonadas
pelos pais, ou para os filhos dos não mais escravos que já não tinham mais um futuro
determinado.
Houve uma divisão na aceitação dessa nova proposta. Havia aqueles que a
desprezaram porque afirmavam ser apenas mais um lugar de guardar crianças; e, para
os que acreditavam, seria vantajoso ao desenvolvimento infantil. Em meio às
discordâncias, foram criados os primeiros jardins-de-infância: em São Paulo (Escola
Normal Caetano de Campos) e Rio de Janeiro (Campos Sales, Marechal Hermes e
Bárbara Otoni), todos destinados às classes abastadas. As crianças das classes
desfavorecidas recebiam um atendimento voltado ao assistencialismo, como proteção
aos filhos enquanto as mães trabalhavam, sendo realizado como um favor às
trabalhadoras e não como obrigação do empregador.
aspectos físicos, sociais, cognitivos e emocionais, pensando numa escola que propicie
esse envolvimento.
Sonia Kramer (2002) afirma que a pré-escola (como denomina) serve para:
Através da citação acima, a autora nos mostra que a escola de educação infantil
é um espaço de vivência em que poderá promover às crianças a transformação dos
objetos de conhecimento, proporcionando o contato com diferentes saberes, culturas e
valores, através de diferentes linguagens; aprendendo a respeitar e conviver com o
outro, praticando ações que contribuam com o grupo, sendo cidadãs atuantes neste
ambiente e assim colaborar para a inserção delas na sociedade. Pode-se afirmar
também que a escola é um local de produção de conhecimento e de cultura com
particularidades próprias de um determinado grupo, considerando a cultura, os valores
e os costumes da comunidade na qual está inserida.
A escola tem diferentes definições de acordo com cada autor e o que ele
defende. Piaget acredita na produção cognitiva através da interação com o objeto de
estudo e defende que as crianças podem elaborar por si mesmas esses saberes
unicamente com a ajuda dos seus instrumentos lógicos, portanto, para ele, a escola
seria apenas facilitadora desta construção.
Para isso, a escola atual pode oferecer atividades que tenham sempre um ―para
que‖ e que considere a realidade, o desenvolvimento e os interesses específicos das
crianças. Assim, o espaço da sala de aula também tem que ser pensado de maneira a
40
para assim, repensar sua prática, suas ações, e lidar melhor com a aprendizagem e
com a interação e vivência no espaço da sala de aula.
Não há como não considerar que o professor é um sujeito que teve uma
trajetória de vida, com seus costumes, seus valores, e que existe uma cultura incutida,
uma crença, um modo de ver o mundo que também influencia em seu trabalho; sendo
assim, sua formação precisa propiciar vivências que possibilitem sua criticidade, sua
autonomia, e que dê condições para que este professor saiba lidar com essas
diferenças, só assim terá meios para direcionar essas questões em sua sala de aula.
Na escola, o professor precisa ter uma postura neutra, como mediador, abrindo
espaço para descobertas, ser desafiador, criar dificuldades, problemas que permitam
aos seus alunos se envolverem em diferentes situações e assim promover a
aprendizagem, pois a criança se organiza e aprende sendo ativo, realizando atividades,
pesquisas, entre outros; num clima que proporcione, instigue, para que tenham
confiança em seus aprendizados e saibam lidar com seus acertos e também com seus
erros, tendo clareza que este é um caminho importante a ser percorrido. Para isso, o
professor pode criar diferentes atividades, tendo em foco a aprendizagem e interação
entre os alunos, pensando na colaboração e na troca de experiência entre eles.
Através das questões abordadas referente a criança e como foi vista ao longo do
tempo, perpassando pela escola e como foi sendo constituída, foi possível
compreender que os interesses que estão em vigor na sociedade influenciam em como
lidamos com a infância e o que pensamos para ela. Com isso, a escola foi sofrendo
modificações no decorrer de sua trajetória para atender as exigências de cada
sociedade.
Hoje, a criança não é considerada como um indivíduo sem voz, mas sim como
um ser em desenvolvimento que precisa de situações propícias para seu aprendizado.
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Temos, então, uma sociedade atual que visa um indivíduo independente e autônomo,
que precisa ser estimulado para esse novo mundo e suas exigências.
Nesse contexto, o professor de educação infantil precisa ser dinâmico para saber
lidar com diversas questões que hoje adentram o ambiente escolar, se apropriar das
novas formas de vida, novas concepções de família, diferentes culturas e saberes, e
constituir a sala de aula como um espaço de vivência e aprendizados significativos,
pretendendo o desenvolvimento e a aprendizagem de seus alunos como meio
propiciador de construção de identidade, autonomia, criticidade e cidadania, apesar das
condições em que muitos professores atuam em nossa sociedade.
Kramer (2002) evidencia que apesar das divergências existentes entre Vygotsky
e Piaget, ambos concordam que atividades repetitivas, soluções rápidas e milagrosas,
não contribuem para a construção do conhecimento de nenhum indivíduo. A
aprendizagem numa perspectiva tradicional, no qual são contra, ocorre de forma
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ameaçadora, em que a criança tem medo do erro e das dificuldades; não permitindo
que se enxergue na apropriação da linguagem um meio de libertação e construção da
história.
Mas não há apenas discordâncias entre Piaget e Vygotsky, pois um dos pontos
que existe em comum no que diz respeito à leitura e escrita é ter na sala de aula
referências dessas ações: escritos diversos, experiência de leitura, produção de escrita,
entre outras. A seguir serão esclarecidos alguns pontos importantes de cada autor
sobre esse processo.
Segundo Vygotsky (1998) ―[...] à linguagem escrita como tal, [...] é, um sistema
particular de símbolos e signos cuja dominação prenuncia um ponto crítico em todo o
desenvolvimento cultural da criança‖ (p. 140).
Embasada nas pesquisas de Vygotsky, Oliveira (2000) afirma que ―a escrita seria
uma espécie de ferramenta externa, que estende a potencialidade do ser humano para
fora de seu corpo, [...] com a escrita ampliamos nossa capacidade de registro, de
memória e de comunicação‖ (p. 63).
6
Alexander Romanovich Luria era neuropsicólogo especialista em psicologia do desenvolvimento, e
pesquisador juntamente com Vygotsky e Alexei Nikolaevich Leontiev.
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De acordo com Vygotsky (1998), Luria afirma que a criança inicia seu processo
de construção de escrita como imitação da ação do adulto e que logo após sua
produção, quando questionado, não se lembrará do que escreveu. Numa próxima etapa
a criança começa a utilizar marcas que poderá auxiliar na leitura da escrita procurando
associá-las ao registro do que escreveu, compreendendo-a como apoio a memória. Em
seguida, a criança começa a registrar, através de formas, cores, o conteúdo de sua fala.
Neste processo, Vygotsky defende o desenho como uma linguagem gráfica que
tem base na linguagem verbal; afirmando então, que os desenhos das crianças
fornecem elementos para que possamos interpretá-los como uma fase prévia no
desenvolvimento da linguagem escrita.
para que a criança possa perceber a necessidade de utilização em sua vida, assim
como a fala; e isso pode acontecer relacionado ao meio ambiente desse indivíduo, ou
seja, através das brincadeiras infantis, em que a criança sentirá necessidade de
aplicação em seu brinquedo, e assim, a escrita pode ser cultivada por ela e não imposta
por adultos. Deste modo, a criança passa a ver a escrita como algo natural em seu
desenvolvimento, e não como um treinamento imposto de fora para dentro. Por isso,
Vygotsky (1998) defende que ―desenhar e brincar deveriam ser estágios preparatórios
ao desenvolvimento da linguagem escrita das crianças‖ (p. 157).
Para a criança, a escrita deve ser relevante à vida, ter significado, ser despertada
como uma necessidade e não como imposição, fazendo com que as letras se tornem
elementos fundamentais em sua vivência, e assim, vincular o ensino da escrita com as
práticas culturais na vida cotidiana do sujeito.
Mesmo a criança estando numa sociedade letrada, ela não se alfabetiza sozinha,
pois a aprendizagem da escrita é complexa e precisa de processos de ensino para que
ocorra o desenvolvimento; por isso, Vygotsky defende a intervenção pedagógica, por
não acreditar numa maturação espontânea e num aprendizado sem interação. A
criança sozinha não é capaz de compreender as estruturas do sistema de escrita,
sendo assim, o envolvimento com outros sujeitos é relevante para que ocorram avanços
neste aprendizado; e por isso, Vygotsky (1998) afirma que ―o
que se deve fazer é ensinar às crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita de
letras‖ (p. 157).
8
Sensório-motor de 0 a 2 anos, pré-operatório de 2 a 7 anos, operatório concreto de 7 a 11/12 anos e
operatório formal a partir dos 11/12 anos.
52
Para Piaget a criança nesta fase está muito centrada em si mesma, sua
oralidade é imitativa e o indivíduo não consegue se colocar na posição do outro.
Conforme cresce e se desenvolve, a criança amplia seu domínio do mundo e assim,
seus interesses por atividades e objetos, bem como suas ações, também vão se
transformando. É neste período que a maturação neurofisiológica ocorre e há
ampliação de novas habilidades.
9
Acomodação é a modificação de uma estrutura ou de um esquema. Assimilação é quando a criança faz
tentativas de adaptar novos estímulos aos esquemas que já ela possui. Essas ações resultam no
desenvolvimento da estrutura cognitiva do indivíduo.
53
Foi na teoria de Piaget que Emilia Ferreiro teve base para seus estudos,
pensando na questão de como o indivíduo passa de um estado de conhecimento menor
para um de conhecimento maior.
Devido suas investigações, Ferreiro (1998) afirma que existem diversas maneiras
de representação da escrita antes da apropriação do sistema alfabético. As primeiras
54
expressões de escrita da criança eram ignoradas ou vistas apenas como rabiscos, não
eram pensadas como um percurso no caminho da aprendizagem do sistema de escrita.
Após suas pesquisas e comprovações, pode-se afirmar que as primeiras tentativas de
escrita da criança são as garatujas, que é fase inicial no processo de construção para a
escrita alfabética.
Para realizar suas pesquisas, Ferreiro escolheu o nome próprio como base das
análises de construção da escrita pelas crianças, pois é um modelo de identidade, que
representa a singularidade de cada sujeito, além de possuir as características
55
A criança faz uma diferenciação entre o que está escrito com o que é lido (que
não é exatamente como os adultos fazem), pois não consideram a escrita
correspondente a ordem da fala, elas lêem considerando primeiramente os
substantivos, e de acordo com o desenvolvimento deste processo, é que fazem a leitura
dos verbos e depois dos artigos e preposições.
Numa segunda fase, a criança não acredita que um mesmo texto possa ser
utilizado para representar mais que um objeto, pois pertencendo ao A, não pode servir
para B, e isto é o início da conservação de um significado da escrita. Na fase seguinte,
a criança considera algumas propriedades do texto, como por exemplo, que o que está
58
escrito condiz com a quantidade de segmentos numa figura, ela nomeará o que
aparece ao invés de formular uma frase.
Nessa perspectiva, a criança vai relacionando o que vê com o que lê, depois
passa a relacionar as letras que conhece com a imagem e a escrita, podendo
considerar a inicial ou a final, ou até mesmo as duas. Através dessas situações de
aprendizagem que incita a criança a cogitar e pensar em possibilidades, ela vai
aprimorando e provocando desafios às suas capacidades cognitivas e desenvolvendo
seu aprendizado, que neste caso é relacionado à leitura e escrita. Nestas experiências,
Ferreiro (1998) aponta que
Isso quer dizer que a criança está num processo para a construção da leitura e
escrita convencional, e esses primeiros passos possibilitam sua iniciação e acesso a
esta cultura, sendo um percurso que nunca termina, apenas aprimora.
Fonte: http://img212.imageshack.us/i/clavatownisraelji8.jpg/
A cultura visual e as histórias em quadrinhos são dois temas atuais que vem
sendo debatidos na educação; sendo assim, será discutido brevemente o que são e o
que podem contribuir para o desenvolvimento mental, social e cognitivo das crianças.
Para que possamos ter uma opinião referente a essas temáticas, conheceremos
um pouco sobre cada uma delas; tentando verificar seus benefícios e significados no
qual podemos nos favorecer.
A cultura visual nos faz perceber aquilo que está ao nosso redor, são as variadas
imagens que estão presentes em nossas vidas, sendo que as consideramos de acordo
com nossas vivências, o que pensamos e acreditamos, o que nos tem significados.
O autor menciona que sua intenção é enfrentar um grande desafio, nos mostrar e
fazer com que possamos adquirir um ―alfabetismo visual crítico‖, ou seja, nos tornar
críticos a tudo o que vemos: olhar, avaliar, analisar, e não apenas aceitar tudo o que
nos é passado. A cultura visual objetiva a ―alfabetização‖ através de outra forma de
expressão, que estão nas artes, na música, no cinema, na pintura, em que o indivíduo
terá suas próprias concepções de acordo com sua subjetividade.
O mundo em que vivemos é rodeado pelas mais variadas formas de arte que
influenciam nossas ações e pensamentos. Muitas vezes não percebemos o quanto
relacionamos as imagens com nossa vida e assim, não temos critérios quanto ao que
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observamos e deixamos fazer parte do nosso cotidiano, ou seja, as imagens que estão
na mídia, nas roupas, nos brinquedos, são levadas para dentro de nossas casas porque
muitas vezes achamos bonitos, mas não as percebemos com criticidade.
A cultura visual nos mostra que precisamos pensar numa educação que vise um
novo olhar e uma nova proposta ao que está ao nosso redor; levar à escola, por
exemplo, um caminho diferente de acordo com as mudanças que vêem ocorrendo, mas
pensadas de maneira que contribuam para formar seres críticos, subjetivos, capazes de
enxergar além do que está sendo mostrado, pois isso possibilitará a construção de
modos de ser, englobando a cultura que o indivíduo possui. Hernández (2007) afirma
que para se construir uma nova narrativa para a educação, é preciso considerar os
fatores que os indivíduos possuem fora do ambiente escolar junto com as propostas
que essa instituição deseja transmitir, isso porque defende que se as artes estão
mudando em conceitos e concepções, essas mudanças também devem acontecer
dentro da escola.
Fonte: http://www.fotoseimagens.etc.br/fotos-imagens_disney_81.html
65
Esses códigos culturais que estão imersos na sociedade são vistos por muitos
como meio de inserção social; se você possui algo com aquela determinada imagem
você faz parte do grupo, e isso se torna um meio para fazer amizades e estar junto aos
outros. As crianças incorporam essas questões que vem sendo construídas
culturalmente porque não tem base para pensar e agir de outra forma, é para essa
conscientização que a escola deve agir e estar preparada, aprender a lidar com essa
realidade e mostrar aos alunos que essas imagens ao mesmo tempo em que agregam
as pessoas, as excluem produzindo desigualdade, sendo importante ter consciência de
que um artefato cultural tem a intenção primordial de divulgação de cultura, de como
enxergamos e nos constituímos com as imagens presentes em nossas vidas, pois, as
imagens nada mais são do que representações do mundo, sejam elas reais ou
imaginárias.
O que é proposto através da cultura visual é que o aluno seja capaz de construir
questionamentos e indagações em relação às artes, que possam contribuir para a
ampliação de suas experiências e para o modo de como se vê e vê o mundo com
outras perspectivas. Para Hernández (2007)
Hernández (2007) também sugere que a educação, para ter uma compreensão
crítica da cultura visual, precisa pensar em questões fundamentais a esse tema que
vise uma proposta que permita ao educador abrir caminhos e direções quanto a um
novo modo de compreender a arte para assim instigar seus alunos, refletindo sempre
no contexto vivenciado e num currículo flexível; e com os alunos, incitá-los a questionar,
perguntar, formular hipóteses sobre o que vêem, não apenas dentro da instituição
escolar, mas também e talvez principalmente, fora dela.
66
Porém, isso apenas será possível dependendo de como cada professor vê seu
aluno, qual a sua perspectiva em relação ao ensino de arte e o que o aluno representa
para ele, um receptor de informações ou um ser ativo que age naquilo que lhe é
oferecido. Além disso, é preciso considerar as experiências dos alunos referentes à
cultura visual, o que influencia enquanto sujeitos, as representações que estabelecem,
para que possam fundamentar seus entendimentos, criar hipóteses e buscar respostas
sobre diferentes manifestações culturais, sem esquecer os próprios artistas e a relação
que mantém com a realidade de acordo com suas criações.
Através dos estudos sobre cultura visual e a defesa em prol de sua utilização na
educação, há questionamentos de quais benefícios pode promover para essa área, e
conseqüentemente, aos professores e alunos. Devido a algumas práticas que já
67
ocorrem com esse olhar, são elencados alguns tópicos referentes ao que essa nova
narrativa pode promover, desde o contato com os mais diversos meios artísticos, o que
transmitem, como representam o mundo e a diversidade que nele existe, até a
produção dos próprios alunos, de diferentes meios para expressar a subjetividade
individual, sendo que para isto devem conhecer, explorar, distinguir diferentes artefatos
e representações das diversas imagens.
Para que isso seja possível, devemos ter consciência que vivemos num mundo
em que nossas relações estão acontecendo através das diversas produções culturais
disponíveis; o que precisamos fazer é educar o olhar para enxergarmos além daquilo
que realmente vemos.
Isso acontece também com a própria produção das crianças; o que vem ser a
arte? Dentro da escola ou fora dela, arte é quando a criança faz uma pintura num
desenho e não ultrapassa seu contorno; os desenhos em que estão expressos seu
subjetivo, suas experiências e representações, muitas vezes não são considerados,
principalmente se não agradar visualmente o adulto, porque não importa se a produção
da criança expressa algo, o importante é se já sabem contornar na linha e pintar no
limite do espaço determinado.
O que pode ser percebido é que a cultura visual está em nossas vidas através
das mais diversas linguagens, assim como dentro da escola, e uma dessas linguagens
são as Histórias em Quadrinhos, que enfrentam barreiras para estar nesse universo
escolar, sendo ignoradas por uns e consideradas por outros. Mas, o que essa
linguagem pode contribuir aos alunos?
O surgimento das HQs ainda hoje é uma discussão fervorosa, pois se atrela a
diferentes pontos de vista e situações, não se sabe ao certo onde e quando surgiu, pois
para que se chegue a uma conclusão, é necessário estabelecer pontos fundamentais a
serem considerados. Portanto, será abordado um pouco da trajetória num sentido
amplo do que é considerada uma HQ.
Há evidências que indicam que o primeiro a criar uma história seqüenciada com
desenhos e imagens em suas produções foi o professor suíço Rudolph Töpffer em
meados do século XIX, considerado por Will Eisner (2001) como o pai dos quadrinhos
modernos.
Fonte: http://jornale.com.br/esquadrinhando/wp-content/uploads/2009/03/topffer-1024x376.jpg
71
Porém, 1895 foi o ano considerado marco inicial no surgimento das HQs, com a
publicação do artista norte-americano Richard Outcault que publicou num jornal
dominical seu personagem Yellow Kid, ou Menino Amarelo. Embora durante muitos
anos Richard Outcault tenha sido considerado o marco inicial dos quadrinhos hoje,
contudo, há grandes polêmicas sobre se de fato foi ele a primeira referência dos
quadrinhos modernos.
Fonte: https://netfiles.uiuc.edu/vbitters/www/001YellowKid.jpeg
De acordo com Feijó (1997) essas publicações eram através de tiras que
satirizava a vida dos imigrantes. Sendo produzida de forma contínua e com um
personagem fixo, com a introdução de balão de diálogo e como um produto de
comunicação de massa foi considerada como a primeira e verdadeira história em
quadrinho.
Com isso, o sucesso das HQs não durou muito tempo e o preconceito foi
crescendo estrondosamente; com o impacto de suas afirmações, Wertham causou
repugnância de pais, professores, religiosos, que passaram a ver os quadrinhos como
prejudiciais e queriam uma rigorosa vigilância.
No Brasil, as HQs têm início no fim do século XIX com Ângelo Agostini e ―as
aventuras de Nhô Quim‖ em 1869; mas foi com o surgimento, em 1905, da revista ―O
Tico-Tico‖ que as HQs brasileiras tiveram grande expansão, pois além da história,
traziam também jogos e passatempos em suas revistas.
73
Fonte:
Fonte: http://www.osarmenios.com.br/wp- http://www.novomilenio.inf.br/ano01/0101b0
content/uploads/2007/12/revista-ilustrada.jpg 09f.jpg
Figura 13 Pererê
Fonte: http://turmadoperere.blogspot.com/
74
Fonte: http://www.maniadecolecionador.
com.br/comics%20code.htm
Mas o que são as HQs? São narrativas contadas através de imagens, que
podem utilizar palavras ou não. Sua leitura ocorre de forma similar a um texto (em
relação à cultura ocidental) da esquerda para a direita e de cima para baixo. A leitura
dessa Arte Seqüencial é um exercício para as habilidades interpretativas do leitor, tanto
visuais quanto verbais, já que faz uso das duas linguagens e dois importantes modos
de comunicação. Para Eisner (2008) ―o processo de leitura dos quadrinhos é uma
extensão do texto. No caso do texto, o ato de ler envolve uma conversão de palavras
em imagens. Os quadrinhos aceleram esse processo fornecendo as imagens‖ (p. 9).
O elo entre imagens e palavras nas HQs, para Eisner (2001), é de grande
relevância. O autor afirma que
76
Figura 15 Calvin
Fonte: http://depositodocalvin.blogspot.com/
Fonte: http://www.monica.com.br/index.htm
77
Podemos afirmar então, que as imagens e a palavra nas HQs são poéticas
visuais que se completam como essenciais à narrativa, contribuindo cada uma em suas
peculiaridades dando sentido a história e cativando o leitor; por isso é denominada por
Andraus (2006) como literatura imagética.
78
As HQs são constituídas de inúmeras características que tem ligação direta com
a leitura que se faz dela. Todas as imagens, palavras e estrutura dos quadrinhos
influenciam diretamente em como o autor quer que o leitor conduza a leitura da história.
Nesta nona arte o mais importante é a história, o roteiro do que acontecerá nos
quadros: às características do lugar, dos personagens, quais sons serão produzidos. É
no roteiro que fica determinado o que estará presente na HQ pronta, para depois decidir
os outros itens; o desenho, que é a insegurança de muitos, acontece depois e é
realizada de acordo com a criação de cada um, se aperfeiçoando com a prática.
e como se portarão em cada quadro. A partir daí as imagens vão dando significado às
palavras escritas no roteiro, sendo utilizadas de forma a causar impactos no leitor.
De acordo com McCloud (2005) ao falar em tempo nas HQs, que nos é
transmitido através dos quadros, nos remetemos a outros dois pontos importantes: o
som e o movimento. O movimento ou linhas cinéticas pode acontecer de quadro a
quadro, como uma seqüência ou ser dividido em diferentes estilos dentro de um único
quadro, usando símbolos para designar uma ação, como correr, pular, arremessar,
entre outros. Os sons são representados por dois modos: os balões de palavras (fala,
cochicho, pensamento, grito, ruído de eletrônicos) ou as onomatopéias (são palavras
que representam um som, como splash - água, buááá – choro, entre outros).
Figura 17 Balões
Figura 18 Onomatopéias
Fonte: Fonte:
http://tragameossais.blogs.sapo.pt http://www.divertudo.com.br/quadrinhos/on
/arquivo/speech%20bubble.jpg oma1.gif
80
Há outras características presentes nas HQs como: os planos de visão que tem
ramificações de acordo como a cena que é mostrada, os ângulos que estão em
destaque; as metáforas visuais que são demonstrações através de ícones
representando algo (corações que saem dos olhos de uma garota mostrando que está
apaixonada).
Todos esses elementos juntos nas HQs são muito relevantes para a qualidade
da narrativa e para manter a atenção do leitor, lhe propiciando benefícios desde lazer,
entretenimento, ao desenvolvimento dos hemisférios cerebrais.
detalhes próximos como um todo; por isso Andraus (2006) defende sua leitura como
benéfica ao desenvolvimento do ser humano afirmando que
Fonte: http://www.geocities.com/gazyandraus/menteimagem2web.jpg
Para Carvalho (2006) as HQs podem ser utilizadas na escola ―desde a mais
tenra infância, antes mesmo que saibam ler e escrever‖ (p. 90), pois a escrita e a
10
Linguagem elíptica é a omissão de palavras ou são palavras que se subentendem.
85
Com a contribuição desses autores, percebemos que a HQ, por ser uma
linguagem rica e proporcionar benefícios à educação, podem ser utilizados com
qualquer faixa etária e em qualquer tema dentro da escola; e, por ter um caráter
globalizador, permite um trabalho interdisciplinar possibilitando desenvolver habilidades
interpretativas visuais e verbais. Devido o interesse que existe por essa arte seqüencial
e a diversidade de estilos que apresenta, é aconselhável que todos possam se permitir
entrar nesse mundo de leitura e imaginação.
Figura 20 Gibiteca
CAPÍTULO 4 GIBITECA
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/image/3198229.jpg
Fonte:
http://www.maissaopaulo.com.br/userFiles/Image/not
icias/b8756ddaa30c44e82c7f17de80c3c6bc.jpg
Existem em outros países espaços destinados aos quadrinhos bem como à sua
trajetória; em Portugal as HQs são chamadas de banda desenhada, portanto o local de
divulgação desse material é chamado de Bededeteca que fica situada em Lisboa, e na
França há o Museu de Angoulème, a Fanzinothèque de Pottiers, em que as HQs são as
bande dessinées.
Fonte: http://ronilcoguerreiro.blogspot.com/
Este projeto faz parte da Universidade Católica Dom Bosco desde 1995, através
de outros projetos desenvolvidos por seus estudantes de vários cursos de graduação;
eles buscam com a gibiteca, incentivar a leitura e a escrita de crianças e adolescentes
através de gibis. Além disso, esse espaço é destinado a eventos culturais, artísticos e
educativos.
Dessa maneira, a gibiteca escolar pode ser considerada como um início muito
valioso nesse percurso, pois a escola sendo lugar de troca de saberes, experiências,
facilita o envolvimento entre os alunos e a socialização dos gostos e preferências dos
alunos, envolvendo a todos no universo dos quadrinhos.
94
A escolha dessa escola se deve ao fato de, até então, ser a única que realizou a
implantação de uma gibiteca em seu espaço físico, superando preconceitos em relação
97
Pensando em como a escola vem sendo constituída hoje, e tomando como base
os estudos de Sonia Kramer (2002), a escola pesquisada se mostrou disponível a
novas possibilidades de trabalho para este ambiente, com a preocupação de oferecer a
seus alunos diferentes meios de apropriação e construção de conhecimento, como é o
caso da implantação da gibiteca.
As turmas são divididas por faixa etária, de acordo com as normas municipais,
promovendo a interação entre as crianças que estejam num estágio próximo para
facilitar a troca de experiências e ajuda entre eles, pensando num aprendizado
recíproco.
98
Sendo assim, é possível afirmar que nesse espaço a criança é vista como um
sujeito singular, capaz, que é modificado através de suas relações com o outro –
exemplificando a partir do oferecimento de um diferente material considerado
massificado, em que os alunos receberam a proposta e se encantaram com essa
leitura. Do mesmo modo, o aluno modifica o meio em que vive, pois leva consigo as
experiências vivenciadas no ambiente escolar, transmitindo a todos, na escola ou em
casa, com essa nova prática e maneira de obter informações e lazer ao mesmo tempo.
Ou seja, a escola está proporcionando o contato com diferentes saberes, linguagens,
facilitando a produção de conhecimento e cultura de maneira particular para aquele
determinado grupo, sem desconsiderar as diversas individualidades ali presentes,
enquanto sujeitos, grupo, comunidade, mas oferecendo outras possibilidades e
vivências.
Natania contou que organizava muito bem suas revistas, e seu envolvimento era
tanto que cada vez mais a quantidade aumentava, mas o espaço diminuía, foi quando
pensou no que poderia fazer com esses gibis.
99
Essa idéia ficou um pouco adormecida até quando decidiu conversar com a
diretora da escola e pediu a permissão para montá-la, tendo como justificativa o
incentivo a leitura para os alunos. Idéia aceita, todos foram comunicados e convidados
para colaborarem com a organização do espaço, materiais, e tudo o que fosse
necessário. Natania contou um pouco sobre como ocorreu esse processo:
Entretanto, este ambiente não favoreceu apenas os alunos, mas também aos
professores que já tiveram dois seminários sobre quadrinhos, visando propiciar uma
maior vivência com essa arte seqüencial, pois Natania pensou que para o trabalho com
a gibiteca, era necessário que houvesse algum conhecimento sobre o tema, afirmando
que:
(...) quando montou a gibiteca, eu falei, não adianta montar uma gibiteca
na escola e os professores não saberem para que serve. Eu fiz duas
coisas: eu fiz uma oficina com os professores da escola e organizei um
seminário. Aí quando organizei o seminário eu falei, já que eu vou
organizar um seminário, ao invés de pegar só os professores da escola,
eu pego a cidade inteira [...].
Natania afirmou que se sente muito orgulhosa pelo fato do seu projeto
proporcionar aos alunos uma experiência enriquecedora, pois, ao mesmo tempo em
que possibilita um mundo de fantasia e imaginação, prazer e entretenimento, os
envolve no universo da leitura, e que este projeto envolveu a todos da escola de
maneira tão cativante que terá continuidade mesmo sem sua presença, quando disse
envaidecida:
(...) É bom a gente vê o trabalho indo pra frente. Eu tinha muito medo da
gibiteca não durar, e ela já está com quase três anos, e ela chegou num
estágio em que mesmo se eu não estiver mais na escola ela continua
[...].
Através de uma prática presente em sua vida desde sua infância, pensou em
envolver as crianças nesse mundo dos quadrinhos por conhecer sua importância e
seus benefícios, além de ser um meio de divulgação cultural, hábitos, costumes, que
informam e divertem de forma lúdica, como são as HQs.
Com este exemplo, temos uma professora que não mediu esforços para
conseguir implantar um projeto que beneficiaria a todos, desde os alunos, os
professores, funcionários e a comunidade, efetivando-se como criadora de cultura e
situações de aprendizagem que irá contribuir para que os alunos construam sua
identidade e sua própria cultura.
11
A entrevista com a Michella não foi através de conversa, e sim escrita, devido à dinâmica da escola
que não nos deu oportunidade para um diálogo mais sistematizado.
102
Michella explicou que não há uma proposta coletiva para utilização da gibiteca,
os projetos, atividades, ocorrem de acordo com o que cada professor planeja; porém,
afirma que ainda não são todos que freqüentam o espaço com um objetivo específico;
mas, os alunos não ficam sem contato, vão para explorar, manusear o acervo e têm a
liberdade de fazer empréstimo das revistas e levá-las para casa.
Michella também afirmou que a gibiteca é um lugar muito bem visto pelos
professores, e em sua opinião:
Um aspecto que poderia ser diferente é quanto aos momentos coletivos; não
apenas em relação ao trabalho com a gibiteca, mas de maneira global, pois, além de
ser essencial à prática do professor conversar, trocar informações; é importante
também para que haja comunicação, diálogo, de forma mais aberta e democrática, em
que todos podem opinar e colaborar para um melhor desenvolvimento da escola, cada
104
um avaliar sua prática, sua postura de acordo com o grupo, e juntos pensar em como
usar os erros como pontes para um resultado satisfatório.
Leydy afirmou que desde criança teve grande envolvimento com as HQs; seu pai
adorava ler histórias para ela e seus irmãos mesmo tendo pouco estudo. Os livros que
levava da escola e os gibis que possuía em casa, todos eram lidos pelo pai,
principalmente os gibis do Zé Carioca, o qual ela tem preferência.
105
A professora Leydy gosta muito de levar os alunos à gibiteca, ler para eles e
envolvê-los nessa arte. Uma das atividades que descreveu foi sobre o modo como
realiza a leitura das HQs com as crianças, quando o material é impresso, procura
sempre aquelas revistas que tem exemplares condizentes com a quantidade de alunos,
distribui um para cada para que possam acompanhar sua leitura conforme orientações.
Outra experiência que citou foi em relação ao olhar das crianças com o enredo da
história, sendo críticos e opinando com a situação exposta.
Leydy afirmou ainda que percebe que as HQs chamam mais a atenção das
crianças do que os livros devido seus desenhos, e que elas tem um grande
envolvimento com os gibis que sempre pedem muito pra ir à gibiteca, mas foi bem firme
em sua posição quando contou que:
(...) eles preferem ir pra gibiteca pegar a leitura dos gibis do que ir à
biblioteca, mas eu não deixo também por fora não, no dia que tem que ir
pra biblioteca eu vou, eles têm que ler os livros pra eles fazerem a leitura
de contos, fábulas, pra conhecerem outras histórias, porque eles não
podem ficar só agarrados no gibi, tem que motivá-los a fazerem outro
tipo de leitura [...].
A professora Leydy ainda contou em seu relato que é muito prazeroso ver a
relação das crianças com as HQs, a concentração, a leitura de acordo como sabem
fazê-la, o encantamento que demonstram, que tudo isso permite sua satisfação
profissional, dizendo em seu relato
(...) quando trago eles pra cá e eu vejo que ficam felizes, eu também fico
bem, porque é uma coisa que estou vendo que está tendo rendimento,
sei que eles vão pegar, vão ler realmente, eles não vão ficar ali só
passando o olho, então eu me sinto assim, bem satisfeita quando eu
venho pra gibiteca, assim, pra trabalhar com eles.
Esther não freqüenta muito a gibiteca, mas afirmou que seus alunos conhecem o
espaço, sabem de sua existência na escola e já exploraram o ambiente e seu acervo,
107
muitas vezes leva as HQs para sala de aula, faz a leitura da história e as crianças
desenham o que mais gostaram.
As atividades na gibiteca, quando acontecem, são sempre livres, para que eles
possam explorar o ambiente e conhecer o gibi. Ao afirmar sobre a importância desse
espaço na escola, Ester disse:
A professora também afirmou que em sua infância lia muitos quadrinhos; seu
irmão fazia coleção e ela aproveitava para fazer suas leituras diariamente, sendo uma
revista a cada dia.
12
A entrevista com a professora Marília também não foi oral, e sim escrita por preferência da mesma, que
afirmou preferir escrever ao invés de falar.
109
A professora mencionou sobre o uso das HQs como uma maneira lúdica de
trabalhar um conteúdo, pois aguça a curiosidade dos alunos devido o desdobramento
da história por meio da seqüência de quadrinhos.
Em relação à gibiteca, Marília afirmou que é muito prazeroso aos seus alunos
estar no espaço, visualizar, manusear e ter tantas opções para escolha; e que costuma
levá-los para que possam ter um momento prazeroso com as revistas que gostam
tanto, como também para a leitura, usando esse termo para se referir quando é ela que
lê para eles e não quando os mesmos estão lendo as imagens individualmente; a
professora ainda ressaltou que
Entender as HQs não é fácil para quem não sabe ler, mas interpretar os
quadros é fácil para eles.
Um dos aspectos citados nas três entrevistas foi em relação à leitura que as
crianças fazem dos quadrinhos, especificando que não a dominam de maneira
convencional, mas interpretam as histórias a partir da seqüência das imagens. De
acordo com Vygotsky e Emilia Ferreiro, a criança que vive num mundo letrado tem
conhecimentos sobre a língua a partir das suas vivências e interações com o outro e
com os diferentes portadores textuais disponíveis em seu cotidiano, e nessa troca, a
criança se apropria dos valores sociais dessas linguagens, no caso dos quadrinhos,
que tem o domínio das imagens que é uma linguagem universal, é possível realizar sua
111
Emmerson foi questionado se havia alguém que lia os quadrinhos em casa pra
ele, e respondeu que sim, era freqüente, por isso conhecia a linguagem e algumas
características. Afirmou freqüentar a gibiteca e ouvir histórias lidas pela professora de
literatura, e que o manuseio livre das HQs acontecia poucas vezes, mas que gostava
muito.
113
Durante sua leitura houve perguntas sobre as onomatopéias, o que queria dizer
na história, sondando se tinha algum conhecimento ou interpretação sobre este
elemento, e foi explicando o que algumas dessas características que conhecia, estava
mostrando em determinados quadros que apareciam.
A segunda foi a Clarice estava muito tímida e não conseguiu relaxar e se sentir a
vontade no ambiente e nem em nossa conversa. A maioria das perguntas foram
respondidas apenas com o balançar da cabeça, mas antes da resposta ficava pensativa
desviando o olhar pela sala.
Clarice, durante o diálogo, afirmou não ter vivência em casa com essa
linguagem, o contato acontece apenas na escola quando sua turma é levada à gibiteca
ou em situações em que a professora leva caixinhas de gibis para a sala de aula;
quanto às idas a gibiteca, afirmou que são para assistir filmes, contradizendo um
momento anterior da conversa em que havia explicado a maneira como a professora
faz a leitura dos quadrinhos para ela e sua turma nesse espaço.
Estava muito inibida e não queria conversar, porém, através das observações
realizadas em sala, percebia-se outro comportamento e postura, uma criança ativa e
muito participativa, e que nesta situação não estava, realmente, sentindo-se à vontade.
Para cada palavra que escrevia, usava uma letra correspondente, sendo que na
escrita de ―Cebolinha‖ colocou uma a mais ao fazer a leitura do que já havia escrito e
julgou que precisa escrever mais uma. Ao escrever a palavra ―Mônica‖ ficou um pouco
confuso, iniciou com a letra M, acrescentou o A, mas achou que estava errado, mesmo
no decorrer da conversa, e então ao realizar essa escrita, colocou as letras que
considerou certas sem aceitar meus questionamentos. Ao escrever ―Cascão‖,
estabeleceu a escrita da primeira letra com o som do K, e utilizou duas letras – C e A –
para a última sílaba. Quando foi pedido para que escrevesse ―Bidu‖, repetiu uma única
vez a palavra e ficou muito feliz ao afirmar que sabia que sabia sua escrita que a faria
de ―mãozinha‖ (manuscrito), utilizando as vogais do nome.
A leitura que realizou das palavras, permitiu perceber que está na hipótese
silábica, com valor sonoro, por atribuir uma letra por sílaba e fazer a leitura
correspondente.
Com a Clarice foi mais delicado, pois continuava tímida e estava insegura. Ao ser
incitada a escrever os nomes dos personagens ficava muito pensativa, repetia a palavra
a ela, pedia que dissesse em voz alta para tentar saber qual letra escrever, mas ela não
117
manifestava nenhuma ação. Ficava muito tempo pensando, olhava para os lados como
se buscasse uma resposta, chegou a escrever uma sílaba de cada nome e depois
parou. Então, foi mudado o campo semântico para tentar deixá-la menos tensa, sendo
orientada para que escrevesse ―gibiteca‖, ficou um tempo pensando e começou a
escrever, e para cada escrita de letra, olhava e pensava sobre o que estava
escrevendo, realizando a escrita de forma convencional faltando apenas algumas
letras.
Esta criança também está na fase silábica com valor sonoro, e mostrou mais
segurança e conhecimento no que fazia. Ao terminar a sondagem, sugeriu-se que
fizesse um desenho; pediu para pegar uma revista, procurou uma imagem e começou a
copiar apenas olhando o original, afirmando adorar desenhar e sempre participar dos
concursos da escola.
A interação no grupo não ocorreu apenas entre as crianças, mas entre elas e os
adultos presentes (pesquisadora e professora da turma), em que mostravam situações
que as agradavam ou não, características que percebiam, e também ouvir as histórias
que seriam lidas por elas.
Foi notável o prazer das crianças naquela situação, a cada revista que
manuseavam demonstravam satisfação, espanto, curiosidade; ficavam surpresos com
personagens diferentes e a diversidade de revistas disponível. Apesar de estarem
eufóricos, a leitura das revistas não eram apenas folhear e trocar, elas escolhiam,
sentavam, exploravam e depois pegavam outra, se concentravam; havia uma
intensidade nas leituras realizadas, elas realmente estavam encantadas com aquele
momento.
Nesta atividade foi possível observar a interação das crianças entre elas, com o
ambiente e com os adultos presentes; além de observar também a postura da
professora na relação dos alunos com as HQs e a gibiteca, sendo bastante
participativa, orientando as crianças e explicando como fazia a leitura, dando atenção
120
quando estas vinham contar o que leram ou que acharam interessante na história;
porém colocava alguns limites na espontaneidade das crianças, quanto ao circular pelo
local, demora na escolha, e o silêncio para a leitura.
Mesmo afirmando que não sabem ler, não sabem o significado das
representações dos elementos, as crianças conseguem criar suposições do enredo,
imaginar, criar, se apropriar dessas características e, ao mesmo que se divertem,
descobrem, conhecem, e estimulam o desenvolvimento de seus hemisférios cerebrais,
numa realidade da escola hoje, que vem criando aberturas para um ensino que se
apropria de diferentes saberes e vivências.
Dessa maneira a escola vem sendo pensada como um espaço que propicie as
mais diversas experiências que contribuam com o desenvolvimento e aprendizagem da
criança, no caso de não haver a leitura convencional, continuar criando situações de
envolvimento com materiais escritos, familiarizando-as e contribuindo ativamente na
construção do conhecimento, reconhecendo que é imprescindível à criança a interação
com a prática de leitura e escrita com diferentes materiais disponíveis a sua volta.
Dessa forma, pode-se afirmar que a gibiteca é um espaço que tem como objetivo
possibilitar o encontro entre as crianças e as HQs, sendo possível e enriquecedor seu
uso na Educação especialmente em relação à alfabetização por ser um meio de
comunicação propício para a construção da leitura e escrita, pois estimulam a criação
de hipóteses por parte das crianças quando estão envolvidas com a leitura visual dos
quadrinhos. Assim, os quadrinhos podem abrir caminhos para uma aprendizagem mais
dinâmica, na perspectiva da construção do conhecimento com participação das
crianças como sujeitos ativos nesse processo.
124
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A necessidade social fez com que surgissem as escolas, e assim como havia
diferentes concepções sobre as crianças, o mesmo acontecia com essa instituição, que
num primeiro momento, foi pensada como um local para o assistencialismo.
Com este novo olhar para a criança foram analisados os meios utilizados para
sua aprendizagem, desconsiderando qualquer forma de decorar e memorizar, mas sim
de construir. De acordo com esse aspecto, a alfabetização vem sendo considerada
como um objeto de construção em que a criança se apropria de suas características
antes mesmo de freqüentar a escola, pois já tem vivência e conhecimento sobre a
língua escrita através dos diversos materiais escritos que estão disponíveis no mundo
letrado no qual está inserida.
Para as crianças que estão na faixa etária da educação infantil, as HQs são
fundamentais para seus processos de desenvolvimento e aprendizagem, pois suas
linguagens, verbal e não verbal, se completam de maneira que envolvem o leitor em
sua narrativa e possibilitam a criação de hipóteses referente à leitura e a escrita.
A prática com essa linguagem ocorre primeiro pela história de vida de cada
professor, que busca sua relação com os quadrinhos na memória como fonte para
realizar seu trabalho, e depois buscam estudos que auxiliem em como usá-las no
127
Deste modo, vejo este trabalho como um aspecto positivo a discussão dessa
inovadora abordagem sobre a importância da gibiteca no ensino, possibilitando abertura
para novas pesquisas neste âmbito, em que possam aprofundar esta discussão de
maneira que venha a contribuir com a inserção das HQs e da própria gibiteca na
educação escolar.
128
REFERÊNCIAS
CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Educação e Cultura Visual: Uma trama entre
imagens e infância. Porto Alegre, 2005, 254 p.
KRAMER, Sônia. Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a
educação infantil. 14. ed. São Paulo : Ática, 2002, 110 p.
SILVA, Marta Regina Paulo da. Infância, formação e experiência: um olhar para os
processos formativos das educadoras e educadores de educação infantil. São Bernardo
do Campo, 2004, 152 p.
OBRAS CONSULTADAS
BOCK, Ana Mercês Bahia. Psicologias: uma introdução de psicologia. _______, Odair
Furtado, Maria de Lourdes Trassi Teixeira. – 13. ed. Reform. E ampl. – São Paulo :
Saraiva, 2002, 368 p.
CATONIO, Ângela Cristina Dias do Rego; OLIVEIRA, Ronilço Cruz de. Gibiteca,
biblioteca do Gibi. Disponível em:
http://www.pr5.ufrj.br/cd_ibero/biblioteca_pdf/educacao/36%20-
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FARIA, Ana Lúcia Goulart de. O espaço físico como um dos elementos fundamentais
para uma pedagogia da Educação Infantil. In: Educação Infantil pós-LDB: rumos e
desafios. ____________ e Marina Silveira Palhares (orgs.). – 3ª Ed. – Campinas, SP :
Autores Associados- FE/Unicamp; São Carlos, SP : Editora da UFSCar; Florianópolis,
SC : Editora da UFSC, 2001. – (Coleção polêmicas do nosso tempo; 62). p. 67-98.
_____________. Infância e produção cultural. 3 ed. São Paulo : Ática, 2003, 215 p.
SANTOS, Roberto Elísio dos. História em quadrinho infantil: leitura para crianças e
adultos. – João Pessoa : Marca de Fantasia, 2006, 81 p. (Coleção Quiosque, 15).
Prezado/ a Diretor/ a:
E. M. Judith Lintz Guedes Machado
Solicito a V.S.ª atendimento à aluna Jayane Nunes Ferreira (registro acadêmico: 143146)
do Curso de Pedagogia, VI semestre matutino, para que possa realizar observação da
escola com a finalidade de colher dados para o seu trabalho de conclusão de curso
orientado pelo Prof. Dr. Elydio dos Santos Neto, fazendo parte das atividades a serem
apresentadas no Curso de Pedagogia.
Cordialmente,
134
Coordenador
Há uma proposta específica da escola para esse espaço? Como e por quem foi
elaborado?
Qual a visão que você tem sobre os professores no trabalho com as HQs?
Professores
Critérios de escolha, por exemplo: a mais nova e a mais antiga na escola; a que
defende o uso da HQ e a que discorda desse uso.
Qual sua relação com as HQs? (suas vivências, se fazia leitura ou não, quais
tipos)
Como vê a utilização das HQs no ensino? Elas contribuem para sua prática?
E para os alunos?
135
Crianças
Há um personagem preferido?
Já sabem ler?
Freqüentam a gibiteca?
Gostam de usá-lo?
Pedir para que leiam a história para mim, como numa sondagem de hipótese.
Observações diversas
136
Comecei a escrever pra uns amigos, que eu conhecia muita gente que
colecionava, gente que trabalhava, jornalista, autor, e eles começaram a enviar caixas
de revistas, e a gente foi montando o acervo assim.
Um amigo meu, ele foi fazer um mural, a gente tem um mural na gibiteca pra
parede, ele desenhou e a gente conseguiu uma moça pra pintar, porque ele só
desenhava. E a gibiteca nasceu. Tudo, tudo, como eu vou falar..., reaproveitado, a
gente não gastou um tostão.
138
De vez em quando eu paro pra organizar, porque eu não fico por conta da
gibiteca não, tem gente que acha que eu fico por conta da gibiteca, eu não fico. Eu dou
minhas aulas, trabalho, e pra poder conseguir manter a gibiteca, eu recrutei alguns
alunos que já freqüentavam, tinham interesse e perguntei se eles queriam ajudar; aí,
eles ajudam fora do horário de aula, de manhã e de noite tem gente ajudando, e a
tarde... a gente começou com alguns alunos trabalhando a tarde, mas aí como a
comunidade é uma comunidade mais pobre, eles acabaram tendo que parar de ajudar
pra poder ajudar em casa, pra poder trabalhar, eram alunos que estudavam de manhã
e ajudavam a tarde.
Aí agora a gente tem duas funcionárias da escola que se ofereceram pra poder
revesar, pra gibiteca poder abrir à tarde. A gente abre de manhã, de tarde e de noite,
cada um num ritmo. De manha, nós tínhamos uma freqüência muito grande, só que era
tão grande a freqüência que os monitores que ficavam lá não estavam dando conta,
então eu tive que reduzir o número de turmas que são atendidas, pro ensino
fundamental I, educação infantil, até o 5º ano eram atendidos na gibiteca. A tarde a
gente atende o fundamental todo e educação infantil, e a noite nós temos o EJA e o
fundamental. A noite o ritmo é um pouco mais lento, porque o pessoal também, eles
tem pouco tempo pra freqüentar a gibiteca, mas mesmo assim sempre tem alguém lá,
sempre tem alguém pegando revistas. Os professores do EJA usam bastante, dentro do
possível, porque tem que pensar também que todo mundo tem que seguir a
programação, nem sempre você pode ficar interrompendo essa programação, então às
vezes tem professor que leva a turma ou pega revistinha pra levar pra sala, uma vez
por semana, uma vez por mês, aí vai depender do espaço de tempo reservado. Mas
sempre tem. Sempre tem uma pessoa usando, um grupo usando, sempre tem aqueles
que colaboram, tem aqueles que atrapalham, normal, nada é perfeito. Mas entre os que
atrapalham e os que colaboram, a gente está ganhando. Pelo menos por enquanto.
139
É, eles tem essa mania, eles falam que é minha, mas não é minha, é porque eu
tomo conta, eu que chamo atenção quando precisa, eu que vou lá organizar quando
estou com um tempinho folgado. Assim, organizar dá orientações para o pessoal
organizar, então eles acham que é minha, mas não é minha não, é da escola.
Sabe que quando montou a gibiteca, eu falei, não adianta montar uma gibiteca
na escola e os professores não saberem para que serve. Eu fiz duas coisas: eu fiz uma
oficina com os professores da escola e organizei um seminário. Aí quando organizei o
seminário eu falei, já que eu vou organizar um seminário, ao invés de pegar só os
professores da escola, eu pego a cidade inteira. Aí a secretaria de educação na época
apoiou o primeiro. A gente fez o primeiro que, voltado pra área de Letras e Humanas, e
a gente fez o segundo voltado pra área de Ciências/ Matemática. O terceiro não saiu,
porque a arrecadação do ICMS do município baixou e o novo governo não liberou
verba, mas ele estava organizadinho, estava marcado, tudo, mas não pode sair, enfim.
Mas só os dois primeiros já deram pra chamar atenção para o tema.
5- E você acha assim, que o resultado que você vem acompanhando nesses
anos de gibiteca, como você com as crianças?
Olha, esses dias me perguntaram e eu falei que a gente planeja com um objeto e
de repente a gente consegue outras coisas. As crianças gostam muito, freqüentam
muito, valorizam muito. A escola é uma escola que está precisando de uma reforma
geral, de carteiras, pintura, tudo, e a gente não têm um reforma a mais de cinco anos,
não liberam verba pra isso. O único lugar aonde não tem um lugar rabiscadinho, uma
sujeirinha assim, nada, nenhum tipo de vandalismo é a gibiteca. Eles dão muito valor a
gibiteca, e procuram sempre colaborar, estão sempre reclamando que está fechada,
querem sempre que abra, e eu acho legal, por que você vê o gosto pela leitura, né?
Eles começam a ler mais e conseqüentemente depois, eles vão passar do gibi para os
livros, não sei se todos, mas uma boa parte vai. É o que acontece. Quando você
começa a sentir prazer com a leitura, você quer expandir a leitura e aí, o gibi passa a
não ser suficiente e o livro passa a ocupar um espaço maior, no seu lazer, na sua vida.
140
E a vantagem do gibi é que eles nunca acham que estão fazendo um exercício mental,
eles acham que estão se divertindo. Pegar um gibi pra ler é diversão, não é uma
atividade. Isso colabora também.
6- você disse que era uma vontade sua já a algum tempo de montar a gibiteca,
com ela já implantada, você vê que dá certo, dá resultado, as crianças estão gostando,
estão valorizando, como você se sente vendo tudo isso?
Ah! É muito bom. É bom a gente vê o trabalho indo pra frente. Eu tinha muito
medo da gibiteca não durar, e ela já está com quase três anos, e ela chegou num
estágio em que mesmo se eu não estiver mais na escola ela continua, entendeu?
Tipo, o ano passado, ela teve que ter uma mudança de sala, por conta de uma
sala do PROINFO que ia ser instalada, e a gibiteca, ela teve que ser mudada de sala,
pra fazer o arranjo e receber o material do PROINFO. Quando a gente começou a fazer
a mudança, os professores da escola acharam que estava desmanchando do à
gibiteca; quase teve manifestação, paralisação na escola, juntou um monte de
professor no corredor. Não! Não pode acabar com a gibiteca não, o que vocês estão
fazendo? Aí, a gente teve que explicar que era provisório, que ela ia trocar de lugar por
uns meses, até o final do ano, ela ficar por um tempo em outra sala, mas depois ela ia
voltar para o lugar, então, só por ai dá pra ver que ela vai continuar, não é?
Ah! A gibiteca foi bom pra escola, foi bom para mim, bom para os professores,
aumentou a auto-estima da comunidade escolar de forma geral, levantou o nome da
escola, uma escola que tem participado mais, mais produtiva, assim, tem mais projetos,
mais interesse em participar em projeto, acho que projeto em escola tem que ser uma
coisa endógena, você não pode simplesmente falar que a escola tem que fazer o
projeto tal, acho que a escola é que tem que desenvolver seus próprios projetos, que aí
caminha. Projeto passageiro é uma coisa assim, que você é obrigada a fazer igual a um
dever, você fez, fechou o caderno e deixou de lado, não quer mais saber. O projeto tem
que surgir da escola, e tem que ser da vontade da escola de quere mudar alguma
coisa.
141
2- Há uma proposta específica da escola para esse espaço? Como e por quem
foi elaborado?
5– Qual a visão que você tem sobre os professores no trabalho com as HQs?
A leitura sempre teve espaço em minha vida desde criança, meu pai adorava
pegar livros ler pra gente. Eu lembro que lá em casa mesmo tinha muito gibi, eu tava
ate vendo aqui na gibiteca, o gibi do..., ai meu Deus, eu até recordei quando eu era
criança meu pai lia muito, aqui, o Zé carioca. Meu pai adorava contar essa historia do
Zé carioca pra gente, então lá em casa tinha alguns gibis, tinha ate da Mônica, meu pai
gostava muito de contar historia, sempre gostou muito de contar de historia. Até livro
que a gente levava da escola, que a gente pegava, era ele quem contava. Ele sempre
gostou muito de leitura apesar de não ter tido muito estudo, não é? Porque ele
começou a trabalhar cedo.
Eu me recordo muito de ler gibi na minha infância, fez parte sim, da minha
infância, os gibis. E quando eu trago as crianças aqui pra gibiteca, os meninos
menores, eu também costumo pegar com eles gibis, tudo de uma revista só, uma
história só, pra acompanhar mesmo, ficar melhor, porque não adianta eu dar as revistas
a eles e só eles folhearem e não saber o que está escrito ali. Eu faço a rodinha com
eles no chão, dou a mesma revista pra cada aluno e eles vão acompanhando. Eu vou
lendo e eles vão acompanhando, de acordo com que eles vão vendo as figuras, as
imagens, eles sabem onde eu estou lendo, de que esta se falando e no final da história
eu sempre faço pergunta pra eles: o que se passou na história, o que aconteceu, e é
interessante que eles até passam o que acontece no dia-a-dia deles, eles jogam pra
história: ah tia isso também aconteceu comigo, aonde acontece um dialogo entre a
gente, os alunos, de tudo, de acordo com a leitura que a gente fez.
É incrível, outro dia, foi a ultima aula que eu tive com os meninos da Marília, que
é o pré 5, eu fiz uma leitura que falava ate de um ETzinho, e que ele pousou na terra e
que ele tinha ficado apavorado, não, ele ficou encantado quando viu a televisão mas
depois ele ficou apavorado quando mudava o canal e só ouvia noticia ruim, então foi
quando as crianças tiveram a consciência que no mundo a gente tem que praticar
coisas boas, aí eu expliquei pra eles que eles vão ser o futuro de amanha, não é? Que
144
eles vão ser os adultos de amanha, então agora quando crianças eles tem que
aprender coisas boas não é? Porque as pessoas vão morrendo e eles vão ficando
porque eles são crianças e vão crescer e vão no lugar dessa geração que vai passar, e
eles vão ter que ter consciência que tem que ter um mundo mais limpo, não é? Que tem
que acabar com a violência, então a historinha os levou a isso tudo, eles foram
contando casos que aconteceram, começo de roubo, que fulano fez isso e cicrano fez
aquilo. Aí eu disse a eles, que eles não podem fazer isso, que agora as crianças têm
que aprender que isso é errado, que quando eles crescerem, eles que vão cuidar de
tudo, eles que vão cuidar do planeta, muito interessante é que a aula rendeu, uma
historia tão pequenininha, mas a aula rendeu pra caramba porque todos quiseram falar,
eles mostram bastante interesse.
2- Você tem um planejamento do que você vai fazer aqui com cada turma?
Tenho, sempre tenho. Às vezes eu ate trago eles aqui pra ver filme, mas eu
sempre tenho uma leitura pra fazer antes. Eu sempre leio uma historinha antes de dar
o filme que eu vou dar. E sempre procuro fazer bem espontânea a leitura, pra eles
entenderem, porque não adianta eu ler correndo, ler de qualquer jeito, pra chegar ao
final e eles nem sabem o que passou na leitura não é? Então eu faço caras e bocas,
leio assim espontaneamente, não é? Pra eles poderem ta seguindo a leitura e
entendendo o que eu estou lendo, falando pra eles, passando pra eles.
3- Quando você trás eles aqui, tem algum momento que você os deixa livres?
Eles escolhem os gibis que eles quiserem?
Sim, de vez em quando eu trago, eles vêm aqui e eles escolhem qual eles
querem ler. Igual como eu te falei, os menorzinhos, as crianças desde o pré ate o 4°
ano, 5° ano, eles tem preferência pela turma da Mônica, é mais pra cuca que é do sitio
do pica-pau amarelo, eles não tem interesse pelos de luta de ação, são os maiores que
vão mais nesses, mas eles escolhem, não é sempre que eu os deixo a vontade não, às
vezes eu separo algumas, eu já sei o que eu vou dar, o que se trata, qual o assunto,
pra todos ficarem acompanhando, igual esse dia mesmo que eu ―tava‖ te falando, essa
historinha pra eles acompanharem.
145
4- E quando essas atividades são mais livres, quando eles vêm e escolhem,
como eles se comportam? Eles pegam as revistas, eles sentam, mostram pros amigos?
Como é?
Olha, lê direitinho, lê não, porque alguns sabem ler, no pré 5 tem aluno e aluna
que já sabem ler, mas os que não sabem ler, de acordo com as figuras que vão
passando, eles já sabem relacionar o acontecimento, o que está se passando ali, então
eles querem sempre ta mostrando um ao outro, essa troca de idéias entre os colegas,
um mostrar pro outro o que ta lendo, como é a revistinha dele, chegam até mim e me
mostram, olha tia o que ta acontecendo aqui, eles ficam bem à vontade, eu não deixo
as crianças muito paradas não, você vai sentar e vai ficar lendo quietinho, não, eles
ficam a vontade, porque leitura tem que ser prazerosa, eles tem que ficar a vontade e
as crianças decidem se querem sentar no tapete, se querem sentar no chão, se é na
cadeira.
5- O trabalho que você faz aqui na gibiteca, você acha que é importante usar as
HQs na escola, você que ajuda no desenvolvimento deles?
Eu acho que ajuda bastante, chama bem mais a atenção deles, eles ficam bem
mais encantados com as histórias em quadrinhos do que com os livros, acho que é por
causa das ilustrações, porque sempre quando eles vão à biblioteca pegar livro eles
perguntam: tia tem desenho? Então eles querem ler e ter também a ilustração e o gibi,
a cada parte tem uma ilustração e eles acompanham a ilustração com a fala de cada
um de cada personagem, então eu acho que incentiva bem mais os alunos a ler,
porque eles se interessam bem mesmo é pelas ilustrações, eles não querem pegar livro
vazio, só com texto.
6- Você acha que melhorou o interesse deles pela leitura com a gibiteca?
Ah melhorou, nossa no dia que eu falo assim, nos não vamos pra gibiteca, nos
vamos pra biblioteca pegar livros, ah não tia, vamos pra gibiteca, nos queremos as
revistas da gibiteca. Então eles preferem vir pra gibiteca, pegar a leitura dos gibis do
que ir a biblioteca, mas eu não deixo também por fora não, no dia que tem que ir pra
biblioteca, eu vou, eles têm ler os livros. Pra eles fazerem a leitura de contos, fábulas,
pra conhecerem outras histórias, porque eles não podem ficar só agarrados no gibi, tem
146
que motivar eles a fazerem outro tipo de leitura, é onde eles vão ter também o
desenvolvimento deles na sala de aula, porque eles usam livros o tempo todo, eles tem
que ter esse gosto pela leitura.
7- Você falou uma parte que a leitura tem que ser prazerosa, pra você, trabalhar
nesse espaço com as crianças, a partir de tudo isso que você falou, de como eles
fazem, é prazeroso pra você?
Sim. Ah, eu gosto, eu também adoro vir pra gibiteca, eu pareço criança, porque
eu sinto assim, que eles ficam mais encantados, e é bom você fazer uma coisa que
você vê que está agradando a turma, que você está conseguindo motivar eles, não é?
Então quando trago eles pra cá e eu vejo que ficam felizes, eu também fico bem,
porque é uma coisa que estou vendo que está tendo rendimento, sei que eles vão
pegar, vão ler realmente, eles não vão ficar ali só passando o olho, então eu me sinto
assim, bem satisfeita quando eu venho pra gibiteca, assim, pra trabalhar com eles.
147
1- Qual sua relação com as HQs? (vivências, se fazia leitura ou não, quais tipos)
Minha relação com eles, com os quadrinhos... Olha, eu já levei pra conhecer a
salinha, da uma olhada, tudo, eles já conhecem, sabem que tem uma gibiteca na
escola, eu trabalho muito com historinha com eles, to sempre trabalhando. Às vezes eu
pego os livrinhos e passo pra eles, eles vão olhando, eu dou uma folha e eles vão
olhando aquela revistinha e vão desenhando, eles adoram, desenham mesmo, assim,
mais ou menos, do jeito deles, mas eles desenham
2- Na sua história de vida, na sua infância, você lia HQs ou você não tinha
contato?
Algumas eu costume ler quando eles pedem; ah tia lê, conta pra mim, ai eu
conto, quando é uma revista só eu leio aquela revista e eles vão desenhando, agora
vocês desenhar a história que a tia leu, mas às vezes quando eu dou a revistinha uma
pra cada um, eles mesmos vêem e até inventam historinha, às vezes eles contam à
historinha que eles desenharam, eu desenhei isso aqui porque minha historinha é
assim, eles vão contando a historinha.
Ah, eu lia. Eu gostava muito de ler, e na época eu lia, não só historinha, mas
também fotonovela, que hoje em dia não vê mais, aquilo eu lia demais, e as histórias
em quadrinhos mesmo que eu lia, eu pegava escondido do meu irmão, que ele tinha
uma caixa de revistas que era dele, mas como ele tava trabalhando, eu lia, cada dia
uma revista, ele não importava não, mas eu pegava escondido. Mas sempre li, adorava.
Mais ou menos, eu acho que eu tenho que usar mais, pretendo usar mais, mas
aproveito o que posso não é? O que eu puder fazer, o que eu puder passar pra eles,
estou passando. Trabalhar bem mais ainda, preparar mais coisas pra eles, porque eu
trabalho em outros ramos, no fundamental, e no infantil, eles têm que ter um preparo
também não é?
Eu acho muito importante, é o horário que a gente leva, pra eles conhecerem,
saberem que existe a revistinha, folhear, e eles contam o que viram não é? Ah tia, essa
aqui é a história que eu vi, e vou contar como foi, às vezes eu nem pergunto eles já vão
falando, por isso que é importante, e eles assistem desenho em casa e chegam falando
o que assistiram, eles comparam, tudo isso.
Não, é a gente que leva, a gente combina o horário para o professor depois
levar, ai eles vão lá não é? Dá pra refazer um trabalho em cima, mas eu procuro os
deixar olharem livremente, lá eles vêem a historinha depois vão desenhar na folha ou
no caderno.
9- Você os leva sempre com o objetivo de dar um desenho depois, fazer uma
contação, ou você os leva apenas para curtirem o espaço?
Leva assim pra eles poderem perceber não é? Saber das revistinhas, conhecer,
por enquanto eu levo assim, de outras vezes eu pretendo falar, mas eu falo das
historinhas, dos personagens, e eles mesmo comentam, tudo que eles sabem, eles vão
logo falando, o personagem da Mônica, cebolinha, os mais conhecidos eles sabem, tem
149
em casa, eles fazem esse tipo de comentário, eles mostram, ah tia esse tem na minha
casa, eles falam muito isso.
Ah ajuda sim, é muito importante, ainda mais quando o tema dá pra trabalhar em
cima e joga a historinha, eles vão aprender melhor.
Agora no momento não to lembrando não, mas a gente trabalha, eles mostram,
não é? Você sente a diferença não é? Trabalhando com as historinhas.
150
1 - Qual sua relação com as HQs? (vivências, se fazia leitura ou não, quais tipos)
2- Como vê a utilização das HQs no ensino? Elas contribuem para sua prática?
Levei esse mito até o magistério. Lá encontrei ótimas profissionais que souberam
nos mostrar como as pessoas estavam erradas. Vejo a utilização das HQs como mais
uma fonte inesgotável de aprendizagem para meus alunos. Me ajudam e tornam as
aulas mais divertidas.
Conto história, depois vou mostrando cada parte. Explicando porque é diferente
do livro de historia que estão acostumados a ver.
Como já citei, é mais uma fonte, uma maneira lúdica e diferente de passar um
conteúdo.
6- E para os alunos?
Para os meus alunos tenho certeza que é muito prazeroso o ambiente da nossa
gibiteca.
Gosto de usá-la para os dois objetivos, às vezes só para o lazer e às vezes para
a ―leitura‖.
Sim. Entender as HQs não é fácil para quem não sabe ler, mas interpretar os
quadros é fácil para eles.
152
Mônica
... A criança vai observando as figuras e criando sua história, sua narrativa.
Através das imagens, me conta o que está acontecendo. No decorrer da história
observo que ele tem noção de leitura quanto à história começar no início da página e
que esta segue da esquerda pra direita.
Minha prima
Gosto
Do cebolinha
8- Ah, então vai lá e escolhe uma história do cebolinha pra você ler?
Hahã
153
Não, não
Um dia desses, ela pegou um monte de livros e deu um monte pra ela contar e
depois pra gente vê
Hahã
Gosto
São balões.
Hahã
Sabe onde estão às letras e que são através delas que as histórias são
contadas, lê as imagens naturalmente sem dizer que não sabe ler as letras.
21- Quando a tia Leydy trás vocês aqui, como que ela conta história?
154
Hahã
Sei
26- Como é?
Tia Neuza
Ele ta dormindo
35- Ah ele está dormindo. Muito legal. Você sabe como é o nome dessas coisas
que tem aqui?
Sei
Letras
37- É, são as letras. As letras ficam dentro dos balões, você está vendo os
balõezinhos? Passa devagar pra você ver.
Observou e depois procurou a história da maçã, porque ela foi contada pela
professora e ele gostou muito, mas não achamos
Nada
Não
Balão
41- Nossa! Você já aprendeu... Você gostou de vir aqui ver as histórias?
Gostei
42- Que bom. Mas agora precisamos voltar pra sala, está bem?
Ta bom.
156
Quero
2- Pode escolher...
É a Mônica
6- E esse quem é?
... Silêncio
7- Olha a capa dessa revista? Porque você escolheu essa daqui? O que você viu
que você gostou pra escolher?
... Silêncio
Da turma da Mônica
Gosto
157
Pensativa
Qual
Sabão
16- Ah na cabeça do cebolinha tem sabão? E aqui onde tem essas letras, como
se chama isso? Você sabe?
Silêncio
Da Mônica
Pensativa
Aqui?
26- É?
Enchendo bolas
Para o aniversário
28- Ah! E como é que você sabe que vai ter um aniversário?
30- Ah é? O que tem mais aqui que da pra perceber que vai ter um aniversário?
Aqui
31- É, vai olhando, o que da pra perceber que vai ter? Porque que vai ter uma
festa?
32- Dessas histórias que tem aqui, qual o personagem que você mais gosta?
Da Mônica
Gosto
35- Ah muito bem. Você contou pra mim que está aprendendo a ler, não é? A
professora Marília está ensinando você a ler?
Aqui
38- É?
MATA
41- Aqui na escola tem alguém que lê história em quadrinho pra vocês?
Tia Leydy
Não
Sim
Pausa
160
51- Porque você gosta de vir nesse lugar, o que ele tem de legal? Pode falar o
que você acha gatinha. Você acha que aqui é legal de vir? Hã? Porque você acha?
Gosto
55- Mas você disse pra mim que não sabe ler, como é que você faz pra entender
a história? Você consegue entender a história? Você olhando assim todos os
quadrinhos da pra você saber o que está acontecendo na história?
56- Dá?
Hahã
Da Mônica
A Mônica
Pensou...
60- É o cascão esse aí... O que fala essa história? Quem é esse?
O dragão
Consegue
161
63- Como você sabe que ele consegue pegar? Está escrito?
Não
Silêncio...
Silêncio
Quero.
162
Seis
To
4- Está mesmo?
5- Me diz uma coisa, como é o nome dessa sala aqui? Você sabe?
Gibiteca
6- Gibiteca? É mesmo?
Gibi
Gosto
Gosto
Humhum
Humhum
163
12- Vamos ver se você consegue ou não? Tem uns gibis ali pra você escolher
qual você quer ver, está bem?
Ta
13- Vai lá e pega um pra você. Escolhe onde você quer sentar, pode ser aqui, ali,
onde você quer sentar?
Aqui
14- Ah, você quer se encostar na almofada. Então vou me encostar junto com
você.
Tá bom.
É... A Magali.
Começa a contar a história de acordo com cada situação que a Magali faz. Eu
vou interferindo, perguntando, fazendo-o perceber as cenas e relatar na construção da
narrativa.
Mais atenção nas expressões, não tem noção de onomatopéias, não prestou
atenção, mesmo direcionando o olhar.
18- Muito bem... Olha, você sabe, você conseguiu ler a história sem ler as
palavras, oh! Viu que legal. E isso daqui, você sabe?
Letras
Papel
20- E isso aqui em volta das letras você sabe como chama?
Não
164
23- São balões. Toda vez que um personagem esta falando ou esta pensando,
tem os balões. Vamos ver se tem mais balões na história?
Cantando
Pulou na água
Faz
Humhum.
Sim
31- Você já achou... Senta aí pra ler. Você gosta do homem aranha?
Eu gosto
Sou fã dele.
Quê?
165
A tia Leydy.
Ela lê.
38- A tia Leydy vai lá na sua sala contar história pra vocês?
Não.
40- E depois que ela conta história, vocês olham todas as revistas? Vocês
podem pegar?
Pode
41- Pode?
Não. Ela não deixa não. Ela pega. E não é todo dia não.
42- Não?
Não
Hãhã, negando.
45- Não?
Gosto.
47- Fica olhando admirado a história do homem aranha, falando dos detalhes do
personagem. Qual a história que você mais gosta de ler?
Fica pensando...
Um pouco.
Não.
Hum. Não!
Não
55- E aquela atividade que está na sua sala de quem é? Aquela bem grande na
parede?
É
167
57- Mas ali não é atividade de história em quadrinho? Não tem um monte de
história em quadrinho lá?
Não responde
Estão matando
Pessoas
Está
Gosto
Eu gosto.
Fez uma leitura silenciosa. Depois guardou o quadrinho que estava, pois já era
hora de ir embora.
168
CEBOLINHA
MÔNICA
BIDU
CASCÃO
169
GIBITECA
MAGALI
CASCÃO
CEBOLINHA
MÔNICA
CASCÃO
BIDU
EU AMO O BIDU
ANEXO 14 - AUTORIZAÇÃO 1
172
ANEXO 15 - AUTORIZAÇÃO 2
173
ANEXO 16 - AUTORIZAÇÃO 3
ANEXO 17 - AUTORIZAÇÃO 4
174
ANEXO 17 - AUTORIZAÇÃO 4
175
ANEXO 18 - AUTORIZAÇÃO 5
ANEXO 19 - AUTORIZAÇÃO 6
176
ANEXO 19 - AUTORIZAÇÃO 6
177
ANEXO 20 - AUTORIZAÇÃO 7
178
ANEXO 21 - AUTORIZAÇÃO 8
179
ANEXO 22 - AUTORIZAÇÃO 9
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 23 - AUTORIZAÇÃO 10
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 24 - AUTORIZAÇÃO 11
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 25 - AUTORIZAÇÃO 12
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 26 - AUTORIZAÇÃO 13
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 27 - AUTORIZAÇÃO 14
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 28 - AUTORIZAÇÃO 15
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 29 - AUTORIZAÇÃO 16
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 30 - AUTORIZAÇÃO 17
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 31 - AUTORIZAÇÃO 18
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 32 - AUTORIZAÇÃO 19
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 33 - AUTORIZAÇÃO 20
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 34 - AUTORIZAÇÃO 21
AUTORIZAÇÃO DE IMAGEM
ANEXO 35 - AUTORIZAÇÃO 22
193
ANEXO 36 - AUTORIZAÇÃO 23
194
ANEXO 37 - AU TORIZAÇÃO 24