Vous êtes sur la page 1sur 5

1

A questão do sujeito humano na perspectiva fenomenológica


Resenha
Alice Marques

Bello pretendeu apresentar nesse texto sua interpretação sobre as análises

realizadas por Edith Stein, relacionadas ao pensamento de Edmund Husserl.

Husserl e Stein

Para Husserl, segundo a autora, o ser humano é o “único ser vivente que tem

capacidade de refletir sobre si mesmo” (p. 65); ele é sujeito e objeto de investigação

simultaneamente, derivando daí um paradoxo científico-filosófico.

Essa correlação paradoxal – interioridade e exterioridade do sujeito – emerge

nas análises construídas na dissertação de Stein em 1917 – O problema da

empatia1 bem como em pesquisas sobre a relação entre fenomenologia e psicologia.

Todas as análises englobam a subjetividade humana comunicante com a

intersubjetividade incluindo-se nesta “a massa, a comunidade, a sociedade e, enfim,

o Estado - Uma pesquisa sobre o Estado (1925)”.

Bello explana não ser possível efetivar uma análise inicial progressiva do que

seja fenômeno da interioridade do ser humano. Recorre-se neste caso a “evidenciar

aspectos válidos, identificando estruturas, mas nunca esgotando o conhecimento”

(p. 67). Deriva daí ocupar-se “do eu, do eu puro, da consciência, da alma, da psique,

1
Empatia. “Vocábulo usado por eles (Husserl e Stein) para indicar de qual modo se estabelece a
relação recíproca entre os seres humanos, que permite reconhecer da parte de cada um o outro
como semelhante a si mesmo. Husserl identifica, entre nossos multíplices atos, ato intuitivo e
imediato, definido, justamente, como ato empático” (Bello, 2007, cap. 3, p. 86)
2

do espírito”, mas não sem antes perguntar “como organizar estas noções, a que

coisa elas correspondem?” (p. 68).

As análises de Bello sobre Stein

Bello inicia suas observações sobre Stein considerando dois conceitos-chave

de leitura quais sejam Epoché2 e Erlebnis3.

Ao se deter na análise, tanto Husserl quanto Stein, prescinde “da coisa

existente”, da coisa em si, dirigindo sua atenção para a relação entre sujeito e

objeto, considerando o ângulo do sujeito, e dimensionado pela empatia (p. 68). Na

análise de tal relação é considerada “a concatenação de atos ou de vivências” os

quais enviados um ao outro reciprocamente constituem tanto a estrutura essencial

do sujeito quanto a de outros sujeitos “descobrindo de tal modo os elementos de

universalidade que tornam possível a comunicação” (p. 68). Nesse sentido, explica

Bello, Stein se dedica a compreender “a natureza singular, única e irrepetível, e,

contemporaneamente, o significado das suas expressões (humanas) e produções

que tem um valor intersubjetivo” (p. 65).

Diante do objetivo de “delinear um mapa relativo ao ser humano”, Stein,

segundo Bello, recorre ao conceito de consciência, o qual, de acordo com Husserl,

mencionado pela autora, é uma região do ser com características desconhecidas,

mas que, entretanto, abarca todas as Erlebnisse, conforme indica a citação de

Conceito-chave na fenomenologia contemporânea, derivada do antigo ceticismo grego. Refere-se ao


estado de repouso mental pelo qual, de modo inerte, nada afirmamos ou negamos, ilustrando nossa
condição de não ciência e não direção do saber. Seria a maneira de olharmos o enigma e o mistério
sem poder ou saber resolvê-los. In: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/Epoche.htm. Acessado em
16/03/2010
3
Para a autora, Erlebnisse significa ‘vivências’. Erlebnis (singular); Erlebnisse (plural). Nota nossa.
3

Husserl em Bello: “E, portanto começamos por considerar o eu, a consciência, o

Erlebnis” (p. 62).

Para Stein, de acordo com Bello, as Erlebnisse constituem “o fluxo da

consciência” (p.69). Para Bello, o essencial nos estudos de Husserl e Stein é a

correlação entre os eus – eu puro, eu consciência, eu vivente4.

O eu puro seria uma não dispersão, não transpassagem do próprio eu. Em

outros cômodos do ‘grande eu’ encontra-se o eu consciente e ainda o eu vivente,

vivente, pois originado nas vivências provenientes “das realidades da psique e do

espírito” (p. 71).

Eu Pessoa

“O eu pessoal é aquele que se delineia” por meio de uma “corporeidade” que

se fundamenta sobre um eu sujeito dotado de vontade, de ação e pensamento. O eu

puro é a via de acesso ao eu pessoal, o qual constitui a “realidade corpórea,

psíquica e espiritual” (p. 72).

Bello apresenta um ponto específico em suas análises e com o qual a mesma

entende como importante “para acessar o mundo dos valores” (p. 74). Trata-se da

formação da personalidade humana, a qual se nos apresenta como uma unidade

qualitativa gerada por um núcleo formador constituído de corpo, espírito e alma;

sendo esta, a alma, a única forma privada em sua individualidade e pureza,

deixando-se claro ainda que o núcleo formador não se auto-estabeleça como um

determinador integralmente das essências de cada em sua unidade.

4
Derivação da Erlebnis. Nota nossa.
4

Stein, segundo Bello, relaciona o eu e o si. Para Stein, o eu e o si “são e não

são a mesma coisa”. O são na medida em que pertencem à unidade humana e não

o são “porque a unidade [...] revela em seu interior uma complexidade que se

manifesta na impossibilidade de reduzir um elemento ao outro” (p. 76).

Nessa atmosfera fenomenológica, Bello observa que o eu e o si chamam a

atenção de Stein para o lugar do eu na corporeidade. Stein entende que o eu está

no corpo, sem, no entanto, ser o corpo (ao que complementaríamos que o eu é

corpo, já que a unidade humana, a qual inclui alma, corpo e espírito se incluem um

ao outro, conforme o esclarecimento de Bello.

A questão da interioridade

Como último risco na tentativa de mapear a interioridade humana e em seus

diversos níveis, Stein, de acordo com Bello, constituiu a relação de unidade entre os

elementos encontrados. Bello explica que Stein define o eu como um ente em cuja

essência repousa a vida e cuja vida habita o corpo e a alma. Bello detem a razão de

que seja considerada compreensiva e equilibrada a visão do ser humano que

evidencia “tanto a superfície quanto a profundidade” (p. 77, 78).

Bello explica que Stein visitou várias bases filosóficas como os princípios

filosóficos medievais e autores como Santa Teresa d’Ávila, Santo Agostinho e

Tomás de Aquino. Superfície e profundidade enleiam a investigação de Stein, de

acordo com Bello, criando uma convergência entre psicologia, filosofia e mística.

Bello define Stein dentro dessa trindade de saber – psicologia, filosofia e

mística - e encerra sua análise apontando que “não se trata de falsidade ou verdade,
5

já que cada contribuição pode ser válida, trata-se de avaliar a qual grau de

profundidade se pode chegar” (p. 82).

BELLO, Ângela Ales. A questão do sujeito humano na perspectiva fenomenológica.


Cap II. In: CARVALHO, Ana M. A. e MOREIRA, Lúcia Vaz de Campos (org).
Família, intersubjetividade, vínculos. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 59-82.

Vous aimerez peut-être aussi