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FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO CANDIDO RANGEL " DINAMARCO rT = Ul LXV DESCONSIDERACAQ DA PERSONALIDADE JURIDICA, FRAUDE E ONUS DA PROVA 639. 0 caso ¢ a sonsulta - 660. sangéo a fraude — Gil. freude incxistente - 662. a retirada de socio & aly normal na vida das socicdudes - 663 Guus da prova - presungio inexisiente - 664 execuylo sem titulo executive ¢ sem alonagiy d bens om fraude de exeeugdo 665 ainda a ilegitimidade - responsabitidade li milada - 666. duas desconsideragdes de personalidade juridica ~ a descomsede- rucdo mversa $67 sucesstia mexinteate - u68. necessidade de previo pronun- ciamento judicial - 669 ainda a grave questie da auséncia de titule executive 470. cont’ - 67t pronuaciaments juitiial na evccucka ou fora dele - 672 ain a a inversdo sistemitica: primeiro peahoras para depois embargur? ou sé pe- nhorar depois de reconhecer 4 responsabilidade” - 673, sobre o grupo empresa- cial a que pertence a consulonte 659. o caso e a consulta Consultou-me uma empresa acetca da execugde forgada em que fora penhorado valioso bem de sua propriedade. tendo por titulo sentenga civil condenatoria proferida em processo de co- nhecimento do qual ndo fizera parte. Sua inclusiio como deman- dada nessa execucdo teve por fundamento a prestigiosa «iste. gaid ductrine ¢ a Megagdo de frande cometida por seu saci controlador, 0 qual no passado deixara de ser s6cio na socieda- de devedera, figurando no quadra social da consulente quando a consulta veio a ser feita Assim alegando. lograra a credora a citagdo da consulente ¢ penhora de seu imevelsede O pro de conhecimento fora uma agao de prestagao de ventas ¢ tivera como ré outras cmpresas ¢ ndo a consulente. Nos topicos a seguir, destaco os pontes que repute! vitais ¢ decisives para o deslinde do caso. a saber, a) a evigéncia da fravde como motivu para desconsiderar a pessoa juridica, DESCONSIDERACAQ DA PERSONALIDADE JURIDICA, nat b) a necessidade de comprovar essa fraude, a qual nao se pre- sume, c) a jlegitimidade da realizacio da penhora sem prévia de- monstracdo de fraude, criando-se para o titular dos bens o 6nus de embargar com o objective de obter o reconhecimento de suas razdes; d) a inexisténcia de fraude no caso examinado; ¢) a ilegitimidade da desconsideragio em detrimento de ter- ceiro completamente estranho ao crédito, que cra 0 outro sécio da sociedade consulente. Como irei demonstrando ao longo deste estudo, nao era licito proceder 4 penhora de bem da consulente com base na mera ale- gagio de fraude, nio comprovada em contraditorio e nfo reco~ nhecida apés um minimo de instrugdo em juizo. 660. sancdo a fraude Conforme lig&o incontrastada dos préprios arautos da disre- gard doctrine, ela foi concebida ¢ legitima-se no objetivo de afastar a fraude que através da personalidade juridica se per- petra contra terceiros. Ela nao é € nao pretende constituir-se em aniquilagéio dessa tradicional ¢ arraigada categoria juridica (que, ademais, estd insculpida no dircito objetivo e ndo pode ser as- sim pura e simplesmente banida: CC, arts. 13 ss.). Nem poderia valer como pura e simples negativa de vigéncia a regra da res- Ponsabtlidade limitada, que integra a propria esséncia das socie- dades por quotas {efr: dec. n. 3.708, de 10.1.19. arts. 92 e 10) Continua em vigor e eficaz o art. 20 do Cadigo Civil, com a tegra de que “as pessoas juridicas tém existéncia distinta da dos Scus membros” — reputando-se sempre extraordindrias a» situa- des em que tal distingdo se desconsidera. Quem primeiro discorreu sobre 0 tema no direito brasileiro, transportando a tese vinda de plagas germanicas e da common faw © cuidando de demonstrar sua compatibilidade com nosso direito positive, advertiu desde logo: “a doutrina desenvolvida Pelos tribunais norte-americanos [...] visa a impedir a fraude ou 1182 FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO algum abuso através do uso da personalidade juridica”. Refata que ja em 1912, numa das primeiras exposigdes da doutrina nos Estados Unidos, ficara dito: “quando 0 conceito de pessua juri- dica (curpurate entity) sc cmprega para defraudar os credores, paia subirair-sc a uina obrigagao existente, para desviar a apli- cacdo de uma Ici. para constituir ou conservar um monepolio ou para proteger velhacos ou delingtientes, os tibunais poderio prescindir da personalidade juridica ¢ considerar que a socieds- de é um conjunto de homens que participam ativamente de tais atos e farao justica entre as pessoas reais”. Tambéin em sede pretoriana. na apficagao da disregard of fe- gal enuty desde o comeca fai sempre a identificacae de alguma fraude, ou intencdo de lesar, que levou ¢ tem levado os tribunais brasileiros, caso por caso, a afastar os Obices que ds vezes a per sonalidade juridica opde ao cumprimento dos designios do di- reifo material ¢ etetiva realizagte da justica* Nessa perspectiva de combate a fraude, a aplicagdo das no- vas idéias trouxe em si, desde o tnicio, a marca da excepcionati- dade: “a jurisprudéneia ha de eaftentar-se continuamente com 0S Casas exemos cm que resulta Recessdrio averiguar quando pode prescindir-se da estrumra formal da pessoa Juridica para que a decisdo penetre até o seu proprio substrate ¢ alcie espe- cialmente os scus membros”.* Nao fora excepciunal ¢ 4 aplicar-se prudentemente em casos de efetiva fraude a terceiros, 0 Guva pensamente seria s talador da ordem juridica, descunsidet unde © que cla institut (CC, aris 13 ss.) ¢ tesponsabilizando socios conta u velu eapresse ean fei 1. Sau palavras de Rubens Roquido (4! “Abaso de dirvito y traude atrares da personaldade juridica”, an 23, pp U-14) ¢ 0 autor norte-amencano ie ides Wormnser Na goutrina subsegitente cfr ainda José Lamartine Carrén de Obverra, 4 duple crise da pessou pwridied, cap VT 0.3. pp 608-609 2a ge le TAC SBC, Apu. 288.9UK j. 23.82 tel. Runyel Bin inaree. 1. a7 Dinannicen, Bieengén cn Mn. 147 ¢ RT 500 109. 2 TACSP PC. Ap n 8462.5. 4.0175, sel Lair Loureiro. ea. JT t-Lex 4g, be TACSP. 2+, An 378.087-0, | 19.6.87, ret, Jacobina Rubell. vine, RI 620: 2 DPR Cie Ap Gasce .O.9 9342) HOTT rel Dex Atnetide Pumpeu de Bantos. RT SEL 207, TIS EC Civ, Ap ow SKIOINST7 (eeyame). J X9.8d, rel. Des Atltos Casinde tanseata, V0 RT S92 [74 3. Foi 0 que disse 0 pioneiry Rulf Serick (apie Requuke ap toc ct op 141 DFSCONSIDERACA® DA PERSONALIDADE JURIDICA 1183 pilar fundamental do presente estudo €, portanto. a afirma- gio de que sem fraude ndu se desconsidera a personalidade ju- ridica, sendy extraordinarios na ordem juridica es casos de des- consideracao. 661. fraude inexistente Nao vi nos autos a indicagdo de qualquer fraude praticada pelo sécio-gerente da empresa que me consultou. ou muito me- nos por ela propria, que autorizasse a dupla desconsideracao da personalidade juridica pretendida no casv. Digo dupla descon- siderucdéo porque pretendia a parte adversaria desconsiderar a pessoa juridica da empresa devedora, reconhecendo a responsa- bilidade do sécio; e, depois, desconsiderar a personalidade da empresa que me consulta, para que ela suportasse abrigagdes que. pela via desse séciv, viriam a ser de sua responsabilidade. O contrato que veio a dar origem a agdo de prestagdo de con- tas foi celebrado aos 14 de novembro de 1972. Dois dias de- pois, ou seja, logo no dia 16 daquele mesmo més e ano, o atual socio controlador da consudente desligava-se de uma das empre- sas devedoras, permanecendy somente com sdcio da outra de- las. O processo de prestagao de contas, do qual proveio a sen- tenga levada a excvuydo. foi proposto em maio de 1976. Em se- tembro de 1979 retirou-se aquele socio, também. da outra em- presa devedora, ja entio transformada em seciedade por quotas de responsabilidade limitadu.'! Apenas em meados do ano se- gurnte a demanda for juigada em segunda instancia. Em junho de (989 foi proposta a execugdo em face das rex da agdo de prestagdo de conta» ¢ nada, ainda, contra a empie- sa que depais me vein consnltar F nde conseguinda o exeqiien ic localiaat os execulados. 0 processe ficou suspense por apra- Xtmagamente trés anos. Diatate disso, veiv depois tenlar cum- Drir @ sentenga @ custa de pessoas que nao foram partes naquele feito, com a mera alegacdo de traude 4 Tatu ucumide aos ) de agosto de L¥7% ¢ sem maior significade para 0 Presetite parecer 1184 FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO- 662. a retirada de sécia é ato normal na vida das sociedades Tenha-se por premissa que @ simples retirada de um sdciv da empresa ado é elemento em si mesmo capa? ou suficiente para configurar a fraude. Deve concorrer a intengdy de lesar e essa intengaa deve ser pravada Quando se retirou da sociedade devedora, aquele sécio exer- ceu faculdade que a lei ¢ 0 contrato Ihe outorgam. E da esséncia das sociedades por quotas de responsabilidade limitada 0 direi- to de recesso, assegurado 4o retirante o dircito a receber seus haveres, on seja. o equivalente pecuniario de sua parlicipacao ho patrim6nio ligitido da empresa (dec. n. 3.708, art. 15). Nem poderia ser de outra mancira. em face da superior garantia do direito de associar-se ¢ de retirar-se, ditada cm sede constitucin- nal (Const., art. 5%, inc. XX). No caso sob comentario, nada vi que pudesse configurar 0 quadra de excepcionalidade legitimador da desconsideracao da personalidade juridica da devedora. Av retirar-se dessa socieda- de, nada fez aquele socio que pudesse caracterizar fraude. Nav tenho sequer como dizer @ que ele ndo fez, integrante de possi- vel quadro fraudulento, simplesmente porque nada foi-lhe im- putado por quem quer que seja.* Nia-obstante, hi fatos e cireunstancias que, mesmo sendo ne- galivos, parecesan-me de mutta retewancia para deslinde do case: a) quando a empresa has ida pot devedora contratuu 4 eaploragao do invento que depos passou a set de propriedade da credora, aquele sdcio ndo exercia qualquer cargo de diregdo naquela; b) av exereer seu direito de recesso, ele deixuu uma empresa ativa, hi- aada e sem dividas:* b) foi depois disso que o proprie invento pur cuja exploracio se pagavam ravalties foi ficunda obsolete ¢ sua 5. Se tivesse sido instanrado um proceso ineluindo a consulente como par- fe c ncle tiveasen sido alegados fats acviimados Jv Faudulentos, seria o casy ce examinar a efeva ocorréncia e potencialidade lesiva dos fatos alegados. Na situagdo que exAMUNO, ISSO NAO E POsalvel f Pui mformado de que « adquirente das quotas cxigiu-the certiddes deta- ihadas, nada constando alem da pendéncia do reterido processo de prestagdo de contas. DESCONSIDERACAO DA PERSONALIDADF JURIDICA 1185 utilizagao acabou por ndo mais ser autorizada pela Secretaria da Seguranga Publica paulista (sistemas de seguranga). Esses fatos, que parecem ser incontravertidos, afastam qual- quer suspeita da existéncia de fraude na retirada do entdo sdcio. Tudo converge & convicede de que a empresa se empobrecen depois. Nao ha como increpar de fraudulento o recesso de um sécio quando ele nada retirou ov passou da sociedade para seu patriménio individual. Nem deu causa, por ato seu, ao empobre- cimento da devedora. A fraude nao se presume. 663. dnus da prova — presungio inexistente Ainda quando assim ndo fosse c sobrepairasse divida quanto a lisura na retirada do sdcio, seria sempre da credora © 6nus de pro- var a fraude, como fundamento da ategada respansabilidade pa- trimonial de terceiro. Como acima esté, o normal é respeitar as barreiras representadas pela personalidade juridica, que constitui notéria realidade do direito positive (CC, esp. art. 20). Reveste-se também de normalidade a exclusao de responsabilidade do sdcio- quotista pelos débitos da sociedade, desde que integralizado o ca- pital. Excepcional é a desconsideracdo. Conforme tradicional li- go doutrindria de conhecimento geral (Nicolé Framarino det Malatesta), 0 ordiacria se presume e o extraordindrio se prova. Alént disso, como se sube, a desconsideragde da pessoa juri- dica nag conta com respaldo em especificds normas juridicas po- sitivadas no ordenamento civil ou processual ciwit brasticiro com © carter de generalidade.” £ excepcinnal a sua aplicagao, como imperative de bum-senae ¢ dos postulados éticos do dircito, em desdobramente do que o Cadigo Civil dispde sobre a fesitede nas refacdes jutidicas, Dad mais uma rave para que nda se presunia essit atta premissa fundamental, gue ¢ 4 fiatsde E fora de divida que no caso examinade a fraude figurava como faty cunsiitutive do alegado dircito a satisfaciio de um 7 Odispusto nv art. 28 do Cédigo de Defesa do Consumider tem aplicagio Testrita as relugdes de consunio e carece. portanto. de genetalidade no sistema Idem, o que esta no art. 2, § 25, da Consolidayiio das Leis do Trabalho. 1186 FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO crédito a custa do patriménio de terceiro. O juiz da execugao acolheu a tese da credora, que vinha msistindo em que seria da consulente o énus de opor embargos ¢ ali provar a incxisténcia da fraude; mas tsso violaria de frente a regra expressa nu art 333, inc. I, do Cadigy de Processo Civil. A boa doutrina mostra que nenhun fato e, em si mesmo, por sua naturcza ¢ em todas as situacdes, sempre constitutivo, sem- pre modificativo, sempre extintivo ou sempre impeditive. O en- quadramento cm alguma dessas categonias ¢ sempre efeito do modo como aparece na concreta situagado posta em cada caso. Afinal, disse Gian Antonio Michelli, as normas sobre a distri- buigdo do énus da prova antecede, em cada caso, u que “forneee © contetdo de cada tema de prova”, ou seja: na construgdo de cada institut ou categoria juridica, o direito primero define em abstrato a8 hipoteses cuja concreta acoréneia desencadeara os efeitos juridicos que também define (geralmente, norma de di- reito material),* para depois dispor sobre o sujcito ao qual in- cumbira provar cada um dos fatos capazes de produzir tais efei- tos (invariavelmente, norma de dircite processual).” Assi, p. cx., a incapacidade do agente & fato impeditive quando alegada pelo réu, em defesa, na agdo em que 0 autor quer fazer valer os eleitos de um contrato: @ é assim porque 0 contrate tera deisado de produzir os efeitos programados, caso realmente soja incapag o agente. Mas a mesma ineapacidade ¢ fato const uttivo do direito de quem tiver vindo a juizo, conto autor em pe- dido de scuteaya anulatoria du contrite. ¢ da eonereta ccorréneia Se fala que ememge a swrcte sets conststente na reurada de 1a do contrato impugnado S¢ prisma, nde tenho diivida cm afirmar que, diante da questo referente 4 desconsideragdo da personalidade jundica acventuad traude cumetida pelo devedor (ou por sdcius da socic- dade devedora) & fate cunstiadivo: fate constitutive do direito da credora 4 satisfazer-se, excepeinnalmente, a custa do patri- & Adcom tambon Francesco Camelatty falande eon tartnperte curnane seantanader, a0 desctever oo julzes de walut tenideates has feo ferteicas (cli Dt Hite ¢ processa, a. 6. p LU). 9. Cir, Michelli, £ onere detia prova.n 30, pp. 3148 (esp p 321) DESCONSIDERAGAC DA PERSONALIDADE JURIDICA 87 ta6nio do sécio. Reside nos eventuais atos fraudulentos a causa que em tesc pode conduzir a cssa solugdo extraordinaria. Sem fraude nao se desconsidera: sem prova, a fraude ndo pode ser reconhecida, Com isso e lembrada a fundamental razao ¢tica € sistematica da oulorga do onus probundi dos fatos constitutivos ao deman- dante, chega-se sem dificuldade 4 conclusdo de que a credora haveria de provar a fraude, nao o contrario, O fundamental cixo de referéncia do Jegislador para a distribuigdo do onus da prova é sempre, na conhecida lige de Giuseppe Chiovenda, 9 fnteres- se: tem esse Onus aquele sujcito a quem beneficiara o reconhe- cimento do fate alegado. Sc a fraude é alegada pela credora ¢ sen reconhecimento beneficiard a ela, éa ela que cabe o Snus de demonstrar a efetiva ocorréncia do alegado fate [raudulen- to. O contrario violaria frontalmente a regra de distribuigde do 6nus da prova, contida no art. 333, ine. [, do Cadigo de Pro- cesso Civil. A conclusio so poderia ser diferente se a lei dilasse alguma presuncdo de fitinle, May vomo isso wexiste ¥ seria niesmo ini- quo, & sempre ao credor que cumpre provar os Tundamentos da pretendida desconsideragio da pessoa juridica. Sendo a ma-f8 considerada oxcepcional na sida day pessoas, aquele x quer & seu reconhiceimento pelo juiz possa aproveitar tem o Gnas de pro- va-la [da boa doutrina que “ha buona fede si presume. chi alle- ga mata fede di un“altra persona deve provaria”."" Dov diresto ita- iene vem +t feliz cintese do concerto de boa-fe: “Uignoranza di ledere altrai”, dizendo ainda Torreote-Seblesinger ao versarem sobre o art. L147 de seu cific cérile: “na mrator parte dos casos a bo-Le rdentifica-se com a comuiegdo de haver adquiride um die teilo suble 4 wise por miety de um tito gue considercu iddnes., otas ndu 6” Subsiuinihucote na nesta ondem de Algias. entre nds disse Orlando Games: “8 possnidor de boaefé quem 1 vicio on 0 obstécuto que Ihe mpede a aquisigde dat coisa” 10 Tovtemte-Selilesmg TL. Gir Andrea lorrente oP 27, esp p 8X1 12. Cf Diirettas rears, Ln 13S. esp po 212, aye tin tt > dellesin: Mustuate dt divite private, § 1188 FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO 664. execucdo sem titulo executivo e sem alienacde de bens em fraude de execucdo Como foram postas as coisas, a consuiente suportava uma execugao (a) sem titule executive ¢ (b) sem que houvesse ad- quirido algum bem alienado em fraude de execugdo. Trago al- gumas consideragécs. a meu ver muito rclevantes, acerca desses dois aspectas pastas em destaque. com a conclusdo pela iegiti- midade da consulente para ser demandada in executivis © res- ponder por obrigacdo alheia. Nao sendo admissivel execug&o sens titulo tipificado em lei (CPC, ans. 593 ¢ 596), dat decorre que, em principio e salvo casos de sucesso ¢ outros excepcionais, tem legitimidade para fignrar no polo passive do processo de execugao somente “o de- vedor, reconhecido como tat no ticulg executivo” (CPC, art. 568, inc. I). E esse o natural degisimuda ondindrio primdrio, porque titular da obrigagae exeqitenda c porquc ja participou do irer de formagio do titulo que conduz a execugao.'? Sem contar os ca- sos de outres devedores, ndo inchaidos no titulo mas igualmente legitimados (legitimidade ondindria independente: art. 68, ines. I-V), chegamos 4 situagdo dos merumeste responsaveis, cujos bens a lei cxpressamente sujeita a execugao forgada (art. $92). Neo casy exaimmado, tivesse a consulente sido parte na agi de prestacda de contas ¢ condenada, jpse facta estaria oo tiluly e considerada como titular de obrigagdo. Serta parte legitima a exe- cngio foreada, ev ine. [do art 568. Nao incluida naquele proces- SO. $0 se poderia cogital de sua legitimidade come meri respon: sdvel, poly que como vbrigada nao for reconhecida em uty al- gum. Mas Jo posse concerdar em examinar a situagdo da consu- lente em face da disciplina da fraude de exceugao, simplysmen- te porque nuda adguirit. Na tecnica executiva referente a essa frande, respandem pela abrigagae os bens que eram do abriga- do e que deixaram de sé-lo mediante ato trastative que o haja veduzide a insolvéncia (CPC, art, £92, ine. V,e art £93} Come 13. Expressau puc nim propasta aa obra Execucdo civil, n. 281, p. 427 DESCONSIDERACAO DA PERSONALIDADE JURIDICA 1189 nada fo} vendido pela devedora ao socio e nada vendera este a consufente. que tivesse adquirido aquela, evidencia-se pelo modo mais patente que de fraude de cxecugao nao se pode se- quer cogitar. Ao sair da sovicdade devedora, aquele socio simplesmente transferiu quotas. O patriménio daqucla empresa permaneceu tal © qual. Se a incriminagiio da Traude de exceugdo cosrespende a0 objenvo de tomar meficazes os atos de ilegitima diminuiggo pa- trimomial do devedor, (orna-se Obvio gue Sequer cugitar se pode de uma suposta fraude de execugde nessz caso em que com a sai- du do sdeio a devedora ndo se desfalcon em nada, A falta de legitimidade ad causam, pela qual concluo aqui, decorre (a) de nao figurar a consulente como devedera. nem es- tar como tal incluida no titulo executive c (b) de nenhuma frau- de de cxecusio poder ser afirmada no caso em exatne. 665. ainda a ilegitimidade — responsabilidade limitada Poder-se-ia chegar 4 responsabilidade patrimonial do socio Tetirante se seu recesso estivesse conotade de alguma espécic de fraude, ndo necessariamente a frande de execucdo. Estamos agora, de novo, no campo da disregard doctrine. Ao sécio, em- bora ndo-titular de obrigagao alguma (Sefild). em alguns casos a lei atribui responsabilidade patrimonial (Hafftng). Seus bens respondem, diz o Cédizo de Processe Civil. “nos termos da le (art. $92. ine TH 4 fet. ne caso, seria aquele conjunto de nor- mas que legitimam no sistema a desconsidcragio da pessoa juri- dica.* Como visio. no entanto. nada existia a demonstrar essa Suposta fraude. nem foi provada. nem sequer alegada, qualquer atividade fraudnlenta Disse-se apenas que. retirando-se das sv eredeutes devedoras, sé por isso o socio responderia pelus vbri= 84¢dex destas. Do modo como foi alegada ¢ aceita a responsa- bilidade da consutente. ficou invertida a regra da nao-responsa- 14. GQ que acabo de dizer sobre a retirada da sivcia da soctedade por quotas Comiparece uquil ue ahiuaduitidn, Uma ver yue a asianista como tal nde tow Bonde netas abrigagdes saciats e a altenucao de acdes ¢ absolutamente livre. 1190 FUNDAMENTDS DO PROCESSO CIVIL MODERNO, bilidade do sdécio pelas obrigagées da sociedade (dec. 1. 3.708, arts. 9 2 10). Parece-me patente que a tese da responsabitidade do sdcio re- tirante apoiavaese na falsa premissa de que. ainda enquanto sé- cio, ele responderia pelas obrigagées da empresa. Se ndo fusse esse u raciucinio, por que © reccaso seria (raudulento? O racioei- nio da ereduta parece set assim: a) 9 socio respondia pelas obri- gacdes da saciedade; b) ao retirar-se, procurou livrar-se dessa res ponsabilidade: c) por isso, foi fraudulenta a retirada; d) em con- seqiiéncia, responde ainda que nao seja mais sécio. Por isso ¢ que digo. uma sez que a premissa “a” é falsa cna realidade © socio no e1a responsavel ainda quando sécio, nio ha come ver faude No seu exvrvicio do direito de revesse. 666. duas descansideracées de persoualidade juridica — a desconsideragao inversa No caso em exame, (a) desconsiderou-se a personalidade das empresas devedoras, para com isso atingir o patrimGnio do ex- sécio e, em seguida, (6) desconsiderou-se a personalidade da empresa-consulente, da qual aquele ex-sdcio viera a fazer parte. Penhorou-se 0 imovel-sede da empresa consulente, « dan de outra socio que jamais fizera parte das sociedades devedoras Se. como disse, ja considere inadmissive! a primeira dlessas desconsideragdes de personalidade juridica, mais invidvel ainda me parece a segunda. Ao colher os bens de uma sociedade, a penhora for feita em detrimento do outro socto da empresa one- rada com a desconsideragdo, sem que ele tivesse qualquer rela ¢S0 com as empresas obrigadas ou com a origem da propria obri- daydo exeqtenda - © ainda, obviarenty, sem que [he fosse cu lidesse ser stribuida quahyucr sonduta traudulenta Lm situaydes assim, mesmo os doutrmadores mais cuvalt des com a disregard docirine excluem a possibilidade de des- considerar a personalidade juridica para responsabilizar a socie- dade pelas obrigagdes de um dos seus sécios Examinande a des- consideragae da personalidade puridica das sociedades unipes- soais na Alemanha, afirma Calixto Salomao Filho DESCONSIDER ACAO DA PERSONALIDADE JURIDICA 1191 “il concetto di appartenenza cconomica cel patrimonio sociale a] socio, formulato dalla giurisprudenza, si applica soltante quando: tuite Je quote appartengono a un sole socio. E sarebbe davvero mollo difficile riconascere la responsabilita della societa per j debiti di uno dei soci, quando esistono altri soci, che sarebbero direltamente dannegiati m conseguenza” E prossegue: “anche nei riguardi delta societa unipcrsonale, la tendenza at- tuale 8 sempre piu testritiva cirea Pamnussibilita del disconosei- mente in sense inverso”.' Em outras palavras: a chamada desconsideragdo iiversa sb sc legitima quando, pela participagao do socio-obrigado na ca- pital social, a socicdade tornou-se mera extensdo de sua pessoa fisica. Apenas nessa situagdv, sendo uma so pessoa titular de todas as quotas, a desconsideracdo inversa (sécio-sociedade) es- tard atcndendo ao anscio de justi¢n das decisdes judiciais 2 av objetivo de impedir a fraude. Um caso em que se poderia desconsiderar a personalidade ju- ridica da empresa para responsabilizar seu palriménio pelos d&- bitos do séciv é u da seciedade entre marido ¢ mulher: ali, a des- consideragio nfo estaria projudicando sécio algum — especial- mente tratando-se de bens atingides pelo regime da comunkao. hipdtese em que o patrimime social cemuide rgerusamente com wddes varjuges. 667. stcussdu inexistente Na linha do que ja disse acima e¢ sempre segundo o que esti em minha tese Execuc de cévil, os sucessores do obrigado sau partes legitimas 4 execneda fargada ev wi do dispocto no art 568 inc. H, ee art. S84, par, do Codigo de Processo Crvil. Trataese do que chamei fegitimidade ardinaria independente, gevada pot fato nao considcrado no titulo executivo. colocando-se o suces- Sor, quanta a obrigacdo que ¢ objeto deste. na mesma posicdo Is esp p 4? 2 Socteta unipersonale « responsabrliti Imutata net dirtte tedesen”. 1192 FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO em que se encontrava aquele sujeito que nele fora indicado como devedor. Para que efetivamente haja a sucessdo, todavia, com a conse- qiiente legitimidade passiva daquele que antes era mero tercciro © assim sc torna sticessar, é necessario que estejam presentes certes requisitos, que a doutrina e a jurisprudéncia identificam de modo bastante preciso. E indispensavel um contexto econd- mico que revele, ao menos em razodvel aparéncia acs olhas dos que negociaram com o primitivo obrigado, a continuagao da mesma empresa ou da mesma atividade sob comando de um au- téntico sucessar. Em comentério aos aludidos dispositives ensina Mendonca Lina que para reconhecer a sucessdo entre vivos, capaz de legiti- mar & execupda pessoa nio figurante no titulo, exige-se: a) um “ato contratual entre o devedor criginario ¢ o novo” ou (b) um “ato unilateral deste, se tiver motivos para assumir a divida”." Nada disso vejo no caso. A assungio unilateral esta descarta- da. E negécio algum houve entre as empresas (devedora ¢ su- posta sucessora), que fosse capaz de insinuar a idéia da suposta continuidade econémica indispensavel a caracterizar a sucesso. A propésito. tomo a liberdade de trazer alpumas consideragées acerca das duas cmpresas e do modo como sc apresentam no mercado (consideracdes que me convenceram da inexisténcia dessa continuidade econdmica). Em primeiro lugar, a empresa dada por patrimonialmente res- ponsavel (a consulente) nio produz ¢ nda comercializa os com- ponenies que as obrigadas produzem e comercializam. Ela ¢ mente uma prestadora de servicas Fmbora se situem ambas no ramy cletronicu, uma produz ¢ comercializa componentes. en- quanto que a outra nde o taz. Aciina desse, um outro dade parece-me mais do que suficien- ie para afastar por completo a idéia da sucessdo. E que quando dos fatos que deram origem a agao de prestagfo de centas a 16. Ci Mendonga Lima, Comentarivs uu Codigo de Processe Girit, WIG in. 307, p. tol. DESCONSIDERACAO DA PERSONALIDADE JURIDICA. 1193 consulente j4 existia — operando em outro segmento do merca- do, como se viu. Isso significa que de modo aigum poderia a autora alegar engano ou dissimulacgao, apesar da semelhanga das denominagées sociais, Para ela, tudo sempre esteve claro e nada {he fora ocultado: tinha crédito perante a produtora e nenhum negocio com a ora consulente. Na propria petigdo inicial nada se imputou a ¢sta c cm face dela nada se pediu. E assim & que. nfo tendo havido negécio juridico algum en- volvendo a ora consulente © pondo-a na aparéncia de confuséo com as obrigadas na mente da credara. com seguranca conc|uo pela inexisténcia da sucessao. 668. necessidade de prévio pronunciamento judicial Em outro tépice afirmei ¢ acredito haver demonstrado que a desconsideragao da pessoa juridica traz em si a marca da ex- cepcionalidade, nao podendo ser erigida cm medida de carater geral sob pena de violar as regras legais vigentes sobre a pré- pria personalidade juridica ¢ sobre a responsabilidade limitada dos sécios-quoatistas (supra, nn. 666). Disse também que a ft- tispecie concreta, caracterizadora da fraude do devedor, figura como fato constitutive do dircito. que as vezes tem o credor, de satisfazer-se 4 custa do patriménio do sécio por obrigagio da sociedade, ou vice-versa. No tépico imediatamente acima procurei também estremar os requisitos para ter-se a sucessdo erm obrigagdes. com a clara vi- sao de que inexistiu qualquer fato concreto de assungae de vbri- gagio alheia pelo sécio ou pela sociedade que me consultou nem ato contratual, nem ato vnilateral, na linguagem de Ales- des de Mendonya Lima, Para que a sucesso fosse reconhecida Ro caso em exame, sem a presenga desses daday abet oy, seria também indispensavel comprevar elementos de fate multe pe- culiares ¢ convergentes ao reconhecimento de uma continuida- de econdmica. ome tion dito. 0 onus de prove seria mvanavednente da credora que pretendesse @ responsabilidade patrimouial da con- sulente. dada a propria excepcianalidade desses falos e siluagées 194 FUNDAMENTOS DO PROCESSOCIVIL MODERNO Toda vez que se fala em onus probandi, no entanto, é preciso pensar na existéncia de um processo adequado para a realizagio da prova e de um juiz investido de poderes para pronunciar-se acerca dos fatos probandos e decidir sobre direitos e obrigagdes evenlualmente gerados por eles. $d se prova a quem vai julgar ¢ no processo em que algum julgamento sera feito, Com isso. prossigo agora, seria indispensdvel colocar esses fatos supostamente caracterizadores da fraude ou da sucessdo em algum pracessa de conhecimenta, no qual em sentenga o juiz declarasse que a consulente é. ou ndo ¢. co-titular da obrigagao ou mesmo de responsabilidade por obrigacdo alheia. Disse o Pri- meiro Tribuaal de Aleada Civil de Sdo Paulo em caso fortemen- te andlogo: “a recorrente nao compros ou a dissolugio da sociedade. Fez meas Conjeciuras a respento Mas, caso positivada a circunstan- cia, o chamamento a responsabilidade direta dos seios $6 se jus- tificaria se. em agde distinta ¢ com esse propusito, ficasse de- monstrado quc a dissolucio, sem o devide cumprimento das obri- gagdes sociais, deu-se frauduleatamente ¢ com o indisfargavel propdsito de prejudicar terceiros, vate dizer, em flagrante viola- gio da lei? Disse também o estudioso Lauro Limbareo: quem pretende atingar lquele que se serve de uma empresa. pata negociagiio pessoal, com prejuize para tereciros. terd de uti- fizar uv processo de cugnigdo pies isla nos atts. 282 2 9s. do CPC. a fim de que, apurado o dolo, a smulacdo ou a traude, possa res ponsabilizar pessoalmente o fraudador E, certamente, se nav dis puser de prova robusta, esbarrara na interpretagdo que tem sida dade ao caput do art Mido co"! Reputy imekes ante para v easu a yucstde subre se a descunai- vicrayao da pessoa juridica condus 4 mera responsabilidade pa- wimonial ou ao reconhecumento de vo-titularidade na obrigagaa mesma. S¢ a consulente tivesse sido ineluida no processo da IT CLC AT 368. 700-8. 5, 6.3.87, rel, Juse Bedhau, RY 621 126 18. Cpr “Disregard of legal entin”, in RT 379:25, DESCONSIDERAC AQ DA PERSONAL !DADE JURIDICA, 3198 agdo de prestacdo de contas e condenada, tollitur queestio: esta- via reconhecida como devedora ¢ ndo mera responsdvel. Mas isso nao foi feito ¢ agora s6 se poderia coyitar de sua responsa- bilidade (Huffung) e nao de sua eventual obrigache (Schuld). 669. ainda a grave questéo da auséncia de titulo executive Come as coisas foram feitas, houve uma inversdu sistemati- ca: penhorou-se bem integrante do patriménio de uma empresa sem que ela estivesse indicada no titulo executive como deve- dora ¢ sem que fatos muito objetivos apontassem-na como niti- da sucessora ou atestassem inequivocamente a presenga dos re- quisitas da desconsideracdio das pessoas juridicas. Com isso, instituiu-se para essa empresa o dnus de embargar, com seu pa- trimdnio constrito, quando o correto seria o contrario. Ora, o que justifica a realizagado da penhora no processo cxe- cutive, cumprindo ao executado embargar se pretender afasta- la, 6a conhecida eficdcia abstrata do tiiulo executive. Consiste na aulorizagdo, dada ao juiz, de determinar constrigao excculiva independentemente de qualquer verificagao da cxisténcia do cré- dito. Feita a penhora, a resisténcia do executado podera vir pela forma dos cmbargos. Durante a pendéncia destes continuard su- portando a constri¢do sobre seu patriménio, a qual so cessara quando detinittvamente julyados os embargos e se estes forem procedentes. Por isso & que sem titulo executive ndo se iitstaura validamente o processo de excenedo v muito menos se efetwva a penhora Esaas dens sobre a fungdo do titulo executive. com enluse OM sud eficcie ter vbsirdta, sempre foram UwWIto cares ao Mesire Freie Tullio { ieheman 0 qual fala tamhom na aplicagdo de veo fade sducieniorad ¢ Ueisa Claro que toda a mula legitimadora da execugae restde no nute.!? 19, Cir: esp. Le uppusiziani di merito nel processo d'esecustone, esp. nu. 70, 82 ee cobra publicada em traducde brasileira com 0 tittle Fabarges io execatuday, v ainda minha tese Frecucda civil. n 26. esp p. 269. texte v note 28, cnn que filo da tunydu do titulo executive apos ter exammade os flnda- tmentes politicos de sua exigéncia. 1196 FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO 676. cont. Quando fala na exigéncia de titulo executivo, obviamente esta a Ici a exigir titule executive no qual figure o executado como obrigado. Tal exigéncia, come parece absolutamente acima de qualquer divida razodvel, concatena-se com aquela de figurar a executade como devedor no titulo execitivo, posta no art. 568, ine. I, do Codigo de Processo Civil. Fora disso (art. 568, inc. 1) e nada demonstrando ao juiz que o terceiro seja um sucessar (att. $68, inc. HW) au que haja bu do fraudar a execucaio mediante o abuso da personalidade juri- dica, no se legitima a sua inclusao como sujcito passive da exe- cugao. Incxistindo titule ou qualquer outro provimento jurisdi- cional que o reconhega come devedor ou mesmo como respen- savel, de algum modo esse reconheeimento ha de ser feito pelo juiz competente e em sede processual adequada. Algum pronun- ciamento judicial ha de ser emitido previamente, mediante ins- irugdo razoavel. com vista av possivel reconhecimento da legi- timidade passiva do terceiro e, mediante isso, a estender a ele a eficacia do titulo executive. 671. prontunciamente judicial na execugao ou fora dela Essa verificagao € bastante simples quando mero cxame de documentos objetivamente idéneos ja autorize desconsiderar a personalidade juridica de alguma sociedade ou reconhecer a as- sungao de obrigacao por tereeiro nao figurante do titulo execu- ava {sucessag). Pen! g. MUNA Sociedade entre maride © undher, a ser cesponsabilizada pelas obrigagdes de um dos dois; ou na assuncdo de obrigacdes aiheias (sucesso) mediante ato (yserito) contratual ou unilateral de que haja participade o ter- ectto, Nesses Gayo, ater incidents plenamente cunmpativ el com vs prucedimentys executives propiciard a protagfia de uma deei- sdo interlocutéria a respeito.° 2P. Problenia iguaknente mexistente, come parece cbyio. quando a obriza cn on responsabilidade do terceira tiver side declarada no proceso de conie- cimeato, Nessa luporese jl se terd a situagao prevista ne ine T do art S68 do estatuto processual DESCONSIDERAGAO DA PERSONALINADE IURIDICA 1197 Tomo a liberdade, aqui, ainda uma vez, de reportar-me ao que disse na obra Execugde cui! Refiro-me agora aos pensamentos exposios a partir da excelente munografia de Giuseppe Martinct- to sobre os pronunciamentos do juizsno processo de exceugdv, Eis minhas proprias palavras: “‘embora o merito ele (o juiz) no julguc no processo executive, deixar absojutamente de julgar ali o juz ndo deixa. Nem sO de mérito existe sentengas; nem 34 sentengas profere o juiz (ef CPC, art. 162). ois seria inconce- bivel um juiz sod0r, sem participagdo umteligente e sem poder de- cisdrio algum. Q juiz é seguidamente chamado, a cealsdade, a proferir juizus de valor no processo de execucdo, seja acerca dos pressupostos processuais, condicdes da acto ou dos pressupastos especificos dos diversos atos levados ou a levar a efeito”.?! Mas as situacdes que legitimami passivamente o sujeito a exe- cucdo forcada, seja em termos de legitimidade de obrigados (art. 568) ou de meros responsaveis (art. 592), nem sempre sao lim- pidas c independentes de instrugao probatéria E como aconte- ceu no caso examinado, em que a credora alegava ter lavido fraude na retirada do sdcio-geremte da sociedade devedora e subscri¢do de quotas de uma outra sociedade. A fraude foi vee- mentemente negada pela executada (a consulente)} e sequer fo- ram alegados atos que realmente tivessem ocasionado alguma diminuicde patrimonial lesiva 4 credora. Em casos assim, nao se mostrandy clara a situacdo de fate perante o juiz do processo executive. ndo The serd Uvito acvitar prima facie a situagde legi- timadora ¢ determinar a excussda de bens do sucessor, ou do socio, cu mesme da sociedade por abrigagdes do sécio (confar- me a sitiagae concreta evidenciada), Por outro lado, porque incompativel com o procedimento ¢xc- cutive a realizacdo de uma mstrugdu prebatéria no curso do Prucesso, seria indispensavel que a credura fusse buscar afiiaes a declaragae judicial da responsabilidade da tereeira, ora consu- lente. Em resume. assim é a linha de raciocinio desenvalvida Restes dltimas tépicos: 21 Ch Precugae efvti i 04. p16. A obra ds Martinetto, ali referida, é: Chi accertamenn degli organi eserutwi. esp cap Ind 1198 FLUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERN a) em principio, sé quem estiver indicado no titulo como de- vedor € legitimado passive a execugdo (legitimidade ordinaria primaria): b} tal regra constitu: projegde da exigéncia legal de titulo para exccutar, porque contra quem udo esta indicado neste, em prin- cipio. inexiste titulo: c} existem casos em que, excepcionalmente, admite-se a lepiti- midade passiva de pessoas ndo incluidas no titulo (arts. 568 e $92); d) para submeté-las 4 execucao é indispensavel um prévio ato Judicial que lhes estenda a eficacia do titulo executivo; e) esse pronunciamento judicial pode ter lugar na propria exe- eugao, incidentemente, quando cxistir prova documenta incon- cussa da situagdu legitimante: 1) inexistindo simagao clara e controvertendo as partes seria- mente sobre os pressupostos da desconsideragaéo da personali- dade juridica, sera indispensével que o reconhecimento desses pressuposios scja buscado afAures pelo credor, g) no caso examinade nada convencia prima facie da existén- cia dos pressupostes juridicos © faticos da desconsidcragie da pessoa juridica, Em conseqiiéncia, seria indispensavel algum pro- nunciamenta, em sede adequada, camo medida previa 4 penhora Existe um fundamento ¢iico muito sério para considerar-se vormal ¢ ontindria a legitimidade passiva do devedor como tal indicado nw titulo (CPC, act. 568, ine. 1} © eadransdaniria a dos demais. E a exigéncia politica de pariicipacdo no processo de tormagiio de titule executive Quem foi parte ne processo gera- dor da svateuga condynatéria ¢ assim figura nu titulo como de- vedor teve tadas as oportunidades de -participar, inerentes 4 prd- pria saritia coustitucional do coniraditario. Em tados us titu- tos execntivns extraivdiciais existe sempre esse coefiviente de parbcipagae. como se revela da leitira do elence contido no art S85 do Codigo de Processo Civil - pelo qual se vé que quase todos eles vém de um ato de vontade do obrigado (titulos de crédito. constituigéo de hipoteca ete ).7 22 Cruise atitle executive evteatalicial que Ado & Constittde: Par die Ho Inutatte de obrigade ¢ a fsericder cle divide ceiver Mas esta tanto quanta on DESCONSIDERACAQ DA PERSONALIDADE SURIDICA 1199 Por isso é que, ao trasladar uma responsabilidade do devedor constanic em titulo para um supesto Iraudador, mostra-se indis- pensdvel dara ele previa oportuntdade suficiente para deduzir sua defesa, com um minimo de contraditério que legitime a conchi- sio judicial 672, ainda a inversdo sistendt primeira pentiorar para depois embargar? ot sé pentorar depois de reconhecer a respensabilidade? Os pensamentos alinhacos no raciocinio logo acima entrela- cam-se com a lembranga, alias ja posta em destaque. de que toda constri¢do judicial que na execucdo se faz antes do monienio de embalgar tem no titulo cavevtivo o seu inico clemento icgiti- mador. Q juiz preseinde de quatquer uty co acerca da exis- téncia do crédito ¢ invade desde loge © patrinidnia do executa- do. Sem serem opostos os embargos, prosscguird até final ex- propriagdo do bem, sem nada dizer a respeito da existéncia do erédito. Ora, em clima de Estado-de-direito ¢ indispensavel que todo esse poder s6 seja dado ao juiz quando estiver presente o indispensavel reytisite juridico de execucdo. que ¢ v titulo exe- cutive. Tal éa li¢to de Enrico Tullio Licbman.> que se refletiv entre os “requisites para tealizar qualquer exccugdo™ (itule cxc- cutive e inadimplement}, cstabelecidus no Cadige de Processo Civil brasileiro (L. Th. tit. L, cap M1, seegio 1, arts. 580 ss,). Que- fa com isso dizer que cuntraria as bases do Estado-de-dircito e especialmente a garantia constitucional do de process nf law Essa inversdo que foi permitida no case exanuinddo \\ penhora & ums graagsime atu de cunsinygo judicial jue, 20 concentrar a responsalihdade pulmonial sobre detemmunadys hem CSSIM Ifeta-ta 4 sitictage ta crovtity cxctut gs posse Hf deve- dot sobre ele © predispic ay Cora pura que mediante w alien titulus judieiais, & precedida de um processe teslizady pelu Estado, com por Minidades de defsa v pactispugiy (eth Dinanaice. Fae tain cart at) Jo 25, pp 486 4s. 334, esp. p S02) 3. Gr Provesso de execgtion 0.4, 24. Se a mantiver. sera na qualidade de leposstario, cum os deveres @ res POnsabilidades merentes 1200 FUNDAMENTOS DO PROCESSO CIVIL MODERNO ¢ado em hasta plblica, no futuro o préprio daminio seja perdido. Embora em si mesma aio alters o direito de propriedade do bem, obviamenie a penhora dificulta sobremaneira a sua alienacdo, na realidade do mercado, reduz-lhe brutalmente o preco. Por outro lado, ¢ talvez isso seja o mais grave no caso cancreto, ter um bem penhorade implica séria lesio 20 crédito da pessoa e dificuldades imensas no exercicio cmpresarial (a principiar pelas restrigdes que sofre, 1: g.. nas licitages piiblicas}. Por isso é que, ao colocar o titulo executive como pressupos- to da execucao (secgao I} c ao dizer pelo menos trés vezes que 0 titulo é indispensavel para executar (arts. 583. 586 e 618. inc. J), 0 Cédigo de Processo Civil ha de ser interpretado no sentido de que a execucdo ndo pode ter inicio sem que haja titulo exe- cutive em face do executado O contrario, como venho dizendo, traz em si uma ilegitima inversdo sistemdtica, no sentido de obrigar 0 executado a opor embargos para demonstrar que a execugdo nado deveria ter sido enderegada contra ele € seu patrimonio. Se ¢ a eficdcia do titulo que legitima a penhora e cria para 0 executado o dnus de em- bargar, dar-sc-d essa ilegitinva inverso sempre que, sem prévia inclustio do suposto devedor ou obrigado no titulo executivo, determinar-se uma penhora sobre seu patriménio. Para a con- sulente, nao referida no titulo como devedora ¢ inexistindo qual- quer reconhecimento judicial de sua responsabilidade, idonea- mente preparado em sede adequada (akém de inexistir prova pri- ma facie de uma suposta fraude}, tudo deve passar-se como se titulo algum inexistisse O titulo que existe ¢, para ela, res later alos. Negsa situagdo, parece-me intwiramente destuante do sistema tecnico-processual vigente ¢ sobretude das yarantias constitueo- nats que ele reflete, e352 pratea que tor adotda no casy exami horar primeira discutir depois, criando para 2 con sulente (2) o Gaus de embargar, com seu edificio-sede sob penho- rae (b) o dnus de provar que no houve fearale? 25. Tal cncargo esta expressaniente afirmado na petigdo da credora ¢ trans- crtig no mandado com que fora.determinada a penhora de bens da-ora eonsu- lente, DESCONSIDERACAO DA PERSONALIDADE IURIDICA 1201 Quando digo que tinha a credora o énus de buscar athures 0 reconhecimento judicial da responsabilidade da consulente, ob- viamente ndo posso admitir qne Ihe fosse legitimo buscar esse reconhecimento nos embargos. Primeiro, porque nao € ela quem os oporia. Segundo, porque os embargos so pega de resisténcia e nau visam 4 constituigao de qualquer sittagde nova em favor do exegiiente. Depois ¢ aciina de tudo, porque isso implicaria sempre a sujeigado do patrimOnio da executada, por tempo inde- terminado, a uma penhora sem titulo. 673. sobre o grupo empresarial a que pertence a consulente A empresa que me consultou nao foi citada para a execugado que veio a suportar, nem se the pediu a citagdo: a credora so- mente pedira a citagdo de um suposto grupo de empresas, que nao tem existéncia juridica e portanto carece de capacidade de ser parte.”® Em tese, os tribumais aceitam a indicagéio de grupos econd- micos como parte ¢ desconsideram a personalidade juridica das empresas conglomeradas quando presentes os requisites acima considerados. A Primeira Camara Civil do Tribunal de Justiga Paulista, da qual tive a henra de partieipar aquele tempo, assim. S€ pusicionou em agia de segurado que buscava a condenagao de determinado grupo segurador a honrar a cobertura securita- tla contratada com scgutadora integrante dessa cunstelagdo, Mas isso sucedeu porque as mensagens publicitarias do grupe assim haviam direcionado o raciocinio do consumider do produto. Acreditava estar contralande com uma suposta pessoa juridica. © grupo, embora essa pessoa juridica inexistisse. Mas o caso qui examinadn nao ¢ analoge a esse. porque (a} nde se trata de fesguardar dircitas de coasumider mal intormade, (b) a credora SStava assistida por advegados ¢ sempre agiu atraves deles; c. acima de tudo, c) ela revelou nitide conhecimento da existéncia 26. 56 tem capacidade de ser parte as pessoas fisicas, ws pessoas juridioas-< SeTtos entes aos quais express 6 expressamente a concede a lei (espélio, niassa falida-ex a 12CPC) Pr m 1202 FUNDAMENTOS DO PROCLSSO CIVIL MODERNO: e identidade das pessoas juridicas integrantes dessc “grupo” (tanto que pediu penhora de bens da outra empresa). Drante disso, nao so concluo que nao poderia a consulente figurar como executada naquele processo executive (pelas ra- 26e5 pastas ao longa de todo o estuda), como ainda que, inclui- do ¢ cilado o grupo como executada, no era tictto proceder & peuhora de bem da consulente, que sequer fora citada € por isso nao s¢ tornou parte no processo.

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