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Redes sociais na Internet: Considerações iniciais

Raquel da Cunha Recuero∗

Índice sem escalas para dar conta do problema


das redes sociais estabelecidas através da
1 O Paradigma da Análise Estrutural das comunicação mediada por computador,
Redes Sociais 2 apresentando críticas e exemplos.
2 Os Novos Estudos : Modelo de Redes
Aleatórias, Modelo de Mundos Pe- Palavras-Chave: redes sociais; redes sem
quenos e Modelo de Redes Sem Es- escalas; mundos pequenos; orkut.
calas 4
2.1 Modelo de Redes Aleatórias . . 4
2.2 Modelo de Mundos Pequenos . . 5 Introdução
2.3 O Modelo das Redes Sem Escalas 6 O interesse no estudo de redes complexas1
3 Redes Sociais na Internet 7 permeia todo o século XX. Iniciado pelas
3.1 Orkut . . . . . . . . . . . . . . 7 ciências exatas, notadamente matemáticos e
3.2 Blogs e Fotologs . . . . . . . . . 11 físicos trouxeram as maiores constribuições
4 Conclusões e Apontamentos para Dis- para o estudo das redes, que depois foram
cussão 13 absorvidas pela sociologia, na perspectiva da
5 Referências Bibliográficas 14 análise estrutural das redes sociais.
O presente artigo busca trazer ao debate
Resumo os modelos de estudo das redes complexas
e sua aplicabilidade para as redes sociais na
O presente artigo discute a insuficiência Internet Trabalhando a partir da perspectiva
dos conceitos de redes igualitárias e redes da análise estrutural das redes sociais e dos

Doutoranda em Comunicação e Informação pelo modelos de Barabási e Albert, Watts e Stro-
PPGCOM/UFRGS, mestre em Comunicação e Infor- gatz e Erdös e Rényi, o artigo busca dis-
mação pelo PPGCOM/UFRGS, professora da Escola cutir as implicações de suas aplicações na
de Comunicação da Universidade Católica de Pelotas
(ECOS/UCPEL), pesquisadora vinculada à núcleos 1
De acordo com Scharnhorst (2003), as redes
de pesquisa em comunicação da UFRGS e da UCPel. complexas podem ser descritas de acordo com Ley-
E-mail para contato: raquelrecuero@terra.com.br desdorff (1994) como "auto-organizações que podem
Este trabalho foi enviado para o Núcleo de Pesquisa ser distintas em termos de estágios de desenvolvi-
(NP-08) de Tecnologias da Comunicação e Infor- mento de redes cada vez mais complexas."Tradução
mação do do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da autora: "self-organization can be distinguished in
da XXVII INTERCOM, a ser realizado em setembro terms of developmental stages of increasingly com-
de 2004, em Porto Alegre/RS. plex networks."(Leydesdorff, 1994).

1
2 Raquel Recuero

comunicação mediada por computador, bem corado na chamada Análise Estrutural (De-
como um possível diálogo entre a perspec- genne e Forsé, 1999), proveniente das déca-
tiva sociológica e a perspectiva matemática das de 60 e 703 , que dedica especial atenção
desses autores. Resultado de um estudo ex- à análise das estruturas sociais. A impor-
ploratório que trabalha com a observação tância dessa abordagem está, fundamental-
empírica de possíveis redes sociais na inter- mente, na sua origem sistêmica (Wellman,
net no Orkut, nos weblogs e nos fotologs, o 1999 e Scharnhorst, 2003), berço da maio-
artigo trabalha com exemplos buscando cla- ria das teorias que procuram descartar o car-
rificar o debate e demonstrando pontos fortes tesianismo da análise da parte, buscando a
e fracos nessa aplicação da teoria. análise do todo, afirmando que este possui
propriedades que vão além da mera soma
de suas partes4 . Como essa visão possui
1 O Paradigma da Análise
uma característica intrinsicamente interdisci-
Estrutural das Redes Sociais plinar, muitos passos importantes na desco-
Os primeiros passos da teoria das redes berta de propriedades e leis dos fenômenos
encontram-se principalmente nos trabalhos 3
Segundo Wellman (1999 20-22), a Análise
do matemático Ëuler2 que criou o primeiro Estrutural foi construída através de três grandes tra-
teorema da teoria dos grafos. Um grafo é dições: À primeira, de origem britânica, deve-se o
uma representação de um conjunto de nós desenvolvimento antropológico do conceito de rede
social. Nela, os teóricos britânicos realizaram, atra-
conectados por arestas que, em conjunto, vés de uma perspectiva estrutural-funcionalista, des-
formam uma rede. Em cima dessa nova crições da estrutura social, com um foco na maneira
idéia, vários estudiosos dedicaram-se ao tra- através da qual a cultura prescreve o comportamento
balho de compreender quais eram as pro- considerado válido em grupos muito fechados. A se-
priedades dos vários tipos de grafos e como gunda, mais centrada nos Estados Unidos, trabalha
fundamentalmente na análise quantitativa e de escopo
se dava o processo de sua construção, ou substantivo (sociometria, por exemplo). Wellman ex-
seja, como seus nós se agrupavam .([Bucha- plica que o fundamento principal na teoria dos grafos
nan, 2002], [Barabási, 2003] e [Watts, 2003, vem dessa tradição, que buscou na matemática uma
1999]) Essa forma de percepção das coisas forma de analisar as redes sociais. A terceira foca
como redes seria crucial para a compreensão na busca de explicações estruturais para os processos
políticos. Os teóricos desta tradição estão centrados
das relações complexas do mundo ao nosso no estudo de processos políticos como resultado de
redor. laços de troca e dependência entre nações e grupos de
Na sociologia, a teoria dos grafos é uma interesses (pg. 29). Temos, portanto, uma corrente
das bases do estudo das redes sociais, an- de viés etnográfico (a primeira), uma de viés quanti-
tativo (a segunda) e uma terceira de viés político. A
2
Ëuler trabalho na solução de seu enigma das pon- partir delas, desenvolvem-se as abordagens que hoje
tes para acesso da cidade prussiana de Königsberg por são utilizadas no estudo das redes sociais.
volta do seculo XVIII. O problema consistia em atra- 4
As teorias sistêmicas têm sua origem no tra-
vessas todas as sete pontes que conectavam a cidade balho do biólogo Luwig Bertalanffy, na década de 30,
sem passar duas vezes pela mesma ponte. Ele de- que estabeleceu seus primados como forma de estudar
monstrou que isso não poderia ser feito através de um organismos vivos. Posteriormente, ela tem relações
teorema em que tratava as pontes como arestas e os com as teorias da complexidade, da cibernética e da
lugares que deveriam ser conectados como nós. própria comunicação.

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Redes sociais na Internet 3

foram dados em outras ciências, como a bio- multiplexidade) e composição do laço social
logia e a física (Scharnhorst, 2003). (derivada dos atributos individuais dos atores
A análise das redes sociais parte de duas envolvidos). O estudo de redes sociais pro-
grandes visões do objeto de estudo: as re- cura também levar para a sociedade os ele-
des inteiras (whole networks) e as redes per- mentos principais estudados em uma rede,
sonalizadas (ego-centered networks) ([Watts, tais como densidade da rede, clusterização6
2003], [Degenne e Forsé, 1999], [Wellman, e etc.
1999, 2001 e 2003] e [Garton et. al, 1997]) Inicialmente, os sociólogos acreditavam
O primeiro aspecto é focado na relação estru- que as unidades básicas dessas redes sociais
tural da rede com o grupo social. "As redes, eram as díades, ou seja, as relações entre
de acordo com esta visão, são assinaturas de duas pessoas seriam a menor estrutura rela-
identidade social - o padrão de relações entre cional da sociedade. E com isso, as relações
os indivíduos está mapeando as preferências entre indivíduos que formaria um grupo se
e características dos próprios envolvidos na dariam de modo mais ou menos aleatório
rede."(Watts, 2003: 48) O segundo foco es- (Wellman, 1999:31). Um segundo foco de
taria no papel social de um indivíduo po- análise para as redes sociais seriam as tría-
deria ser compreendido não apenas através des, de formato triangular7 . Nesse modelo,
dos grupos (redes) a que ele pertence, mas temos duas pessoas com um amigo em co-
igualmente, através das posições que ele tem mum. Essas duas pessoas têm, deste modo,
dentro dessas redes. A diferença entre os mais possibilidade de conhecerem-se entre si
dois focus está no corpus da análise escol- e de fazerem parte de um mesmo grupo.
hida pelo pesquisador. Ora, partindo dessa perspectiva, a aná-
Garton et al. (1997, online) explica que a lise estrutural das redes sociais procura fo-
análise de redes sociais foca principalmente car na interação como primado fundamental
nos padrões de relações entre as pessoas. do estabelecimento das relações sociais entre
O estudo de redes sociais "reflete uma mu- os agentes humanos, que originarão as redes
dança do individualismo comum nas ciên- sociais, tanto no mundo concreto, quanto no
cias sociais em busca de uma análise estru- mundo virtual. Isso porque em uma rede so-
tural"5 . Para ir além dos atributos indivi- cial, as pessoas são os nós e as arestas são
duais e considerar as relações entre os ato- 6
Clusters são grupos de nós muito conectados.
res sociais, a análise das redes sociais busca Em termos de redes sociais, os clusters são considera-
focar-se em novas "unidades de análise", dos grupos sociais coesos. Eles são unidos a outros
tais como: relações (caracterizadas por con- grupos através de laços individuais de seus membros.
7
teúdo, direção e força), laços sociais (que A visão da tríade como elemento estrutural bá-
sico de uma organização social remonta aos estudos
conectam pares de atores através de uma ou
de Simmel. Entretanto, de acordo com Watts (2003,
mais relações), multiplexidade (quanto mais 36-38), foi o matemático Anatol Rappoport, entre-
relações um laço social possui, maior a sua tanto, o primeiro a observar tal fenômeno pelo ponto
5
de vista da dinâmica de estruturação de um grupo:
Tradução da autora: "reflects a shift from the Uma triáde tem mais possibilidade de vir a se conhe-
individualism commum in the social sciences towards cer no tempo, mostrando como se formariam grupos
a structural analysis". sociais.

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4 Raquel Recuero

constituídas pelos laços sociais gerados atra- stante da verdade."10 Para Watts, é preciso
vés da interação social8 . levar em conta que nas redes, os elementos
Quando se trata de analisar a interação estão sempre em ação, "fazendo algo", e que
através da mediação do computador, port- elas são dinâmicas, estão evoluindo e mu-
anto, é necessário que exista um locus onde dando com o tempo. Portanto, a questão cru-
essa interação possa e efetivamente acon- cial para a compreensão dessas redes sociais
teça, para que possamos falar em redes ge- passava também pela sua dinâmica de sua
radas por essas ferramentas..9 construção e manutenção. Portanto, a novi-
dade das novas abordagens sobre redes e sua
possível constribuição para o estudo das re-
2 Os Novos Estudos : Modelo de
des sociais está no fato de perceber a estru-
Redes Aleatórias, Modelo de tura não como determinada e determinante,
Mundos Pequenos e Modelo de mas como mutante no tempo e no espaço.
Redes Sem Escalas
Nos últimos anos, toda uma atenção reno- 2.1 Modelo de Redes Aleatórias
vada tem sido dadas às redes complexas atra- Um dos primeiros estudos sobre grafos e
vés de estudos das áreas da física aplica- suas propriedades é o do matemático Paul
dos às redes, sejam sociais ([Watts , 1999 Erdös, em conjunto com Alfred Rényi, tam-
e 2003,] [Newman, 2004], Adamic e Adar bém matemático ([Watts, 2003, 1999], Ba-
[2004]) e às redes como um todo (Barabási, rabási [2003], Buchanan[2002]). Eles es-
2003). Nessas novas perspectivas, foram creveram vários trabalhos sobre a teoria dos
criados modelos, numa tentativa de explicar grafos, dentre os quais se destaca sua teo-
características e propriedades das redes. rização sobre "grafos randômicos"(random
Watts (2003:28) afirma que a diferença graphs). Pensando sobre como se forma-
entre os novos estudos de redes e os anti- riam as redes sociais11 , eles demonstraram
gos é que "no passado, as redes foram vistas que bastava uma conexão entre cada um dos
como objetos de pura estrutura, cujas pro- convidados de uma festa, para que todos es-
priedades estavam fixadas no tempo. Nen- tivessem conectados ao final dela. Erdös
huma dessas assertivas poderia estar mais di- e Rényi ainda atentaram para outro fato:
8
Quanto mais links eram adicionados, maior a
Uma rede social é constituída de nós (indivíduos)
conectados por laços sociais (Watts, 2003:75). probabilidade de serem gerados clusters, ou
9
Wellman (2001:2) mostra que as redes de com- 10
Tradução da autora, No original: "(...)in the
putadores são redes sociais porque conectam pes- past, networks have been viewed as objects of pure
soas."Quando as redes de comunicação mediada por structure whose proprierties are fixed in time. Neit-
computador conectam pessoas, instituições e conhe- her os these assumptions could be further from the
cimento, elas são redes de suporte social por com- truth."(grifos do autor)
putador. ". (Tradução da autora: "When computer- 11
O trabalho de Erdös e Rényi é considerado fun-
mediated communication networks link people, in- damentalmente importante porque foi o primeiro a
stitutions or knowledge, they are computer-supported relacionar grafos com redes sociais e tentar aplicar
social networks.") suas propriedades e características para grupos huma-
nos.(Barabási, 2003:19)

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Redes sociais na Internet 5

seja, grupos de nós mais conectados. Uma soas estariam efetivamente, a poucos graus
festa, portanto, poderia ser um conjunto de de separação umas das outras Isso indicia-
clusters (grupos de pessoas) que de tempos ria que estaríamos, efetivamente, vivendo em
em tempos estabeleciam relações com ou- um "mundo pequeno".
tros grupos (rede). Entretanto, como es- Outra importante contribuição para o o
ses nós se conectariam? Eles acreditavam problema da estruturação das redes sociais
que o processo de formação dos grafos era foi dada pelo sociólogo Mark Granovetter
randômico, no sentido de que esses nós se (1973). Em seus estudos, ele descobriu que
agregavam aleatoriamente. Dessa premissa, chamou de laços fracos (weak ties) seriam
Erdös e Rényi concluíram que todos os nós, muito mais importantes, na manutenção da
em uma determinada rede, deveriam ter mais rede social do que os laços fortes (strong
ou menos a mesma quantidade de conexões, ties), para os quais habitualmente os sociólo-
ou igualdade nas chances de receber no- gos davam mais importância. Granovetter
vos links, constituindo-se, assim, como re- mostrou também que pessoas que compar-
des igualitárias (Barabási, 2003: 9-24). Para tilhavam laços fortes (de amigos próximos,
os autores, quanto mais complexa era a rede por exemplo) em geral participavam de um
analisada, maiores as chances dela ser ran- mesmo círculo social (de um mesmo grupo
dômica. que seria altamente clusterizado). Já aque-
las pessoas com quem se tinha um laço mais
2.2 Modelo de Mundos Pequenos fraco, ou seja, conhecidos ou amigos di-
stantes, eram justamente importantes porque
Observando as redes sociais como inter- conectariam vários grupos sociais. Sem elas,
dependentes umas das outras, é palusível os vários clusters existiriam como ilhas iso-
perceber que todas as pessoas estariam in- ladas e não como rede. O trabalho de Grano-
terligadas umas às outras em algum nível. vetter traz novamente à tona a importância
O sociólogo Stanley Milgram, na década das tríades nas redes sociais. Ora, dois des-
de 60, foi o primeiro a realizar um ex- conhecidos que têm em comum um amigo
perimento para observar os graus de sepa- possuem muito mais chances de virem a se
ração entre as pessoas. ([Dégene e Forsé, conhecer no tempo do que um padeiro da
1999], [Buchanan, 2002]; [Barabasi, 2003] Argentina e um agricultor chinês. As redes
e [Watts, 2003]). Ele enviou uma determi- sociais, portanto, não são simplesmente ran-
nada quantidade de cartas a vários indiví- dômicas. Existe algum tipo de ordem nelas.
duos, de forma aleatória, solicitando que ten- A partir do experimento de Milgram e
tassem enviar a um alvo específico. Caso não das teorias de Granovetter, Ducan Watts e
conhecessem o alvo, as pessoas eram solici- seu orientador, Steven Strogatz (Watts, 1999
tadas então, a enviar as cartas para alguém e 2003), descobriram que as redes sociais
que acreditassem estar mais perto dessa pes- apresentavam padrões altamente conectados,
soa. Milgram descobriu que, das cartas que tendendo a formar pequenas quantidades de
chegaram a seu destinatário final, a maioria conexões entre cada indivíduo. Eles criaram
havia passado apenas por um pequeno nú- um modelo semelhante ao de Erdös e Rényi,
mero de pessoas. Isso indicaria que as pes- onde os laços eram estabelecidos entre as

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6 Raquel Recuero

pessoas mais próximas e alguns laços esta- aleatório. Ele acreditava que, como os estu-
belecidos de modo aleatório entre alguns nós dos de Watts e Strogatz, bem como de Gra-
transformavam a rede num mundo pequeno novetter tinham apontado, existia uma ordem
(Watts, 2003, 1999). Esse modelo demons- na dinâmica de estruturação das redes, algu-
traria que a distância média entre quaisquer mas leis bem específicas. Essa lei, ou pa-
duas pessoas no planeta não ultrapassaria um drão de estruturação, foi chamada por Ba-
número pequeno de outras pessoas, bastando rabási de "rich get richer- ricos ficam mais
que alguns laços aleatórios entre grupos exis- ricos. Ou seja, quanto mais conexões um nó
tissem12 .. (Buchanan, 2002) O modelo de possui, maiores as chances de ele ter mais
Watts e Strogatz é especialmente aplicado novas conexões. Ele chamou essa carac-
para as redes sociais e mostram uma rede terística de preferential attachment ou co-
mais próxima da realidade das redes sociais: nexão preferencial: Um novo nó tende a se
Cada um de nós tem amigos e conhecidos em conectar com um nó pré-existente, mas mais
vários lugares do mundo, que por sua vez, conectado. Essa assertiva implica em ou-
têm outros amigos e conhecidos. Em larga tra premissa fundamental: As redes não se-
escala, essas conexões mostram a existência riam constituídas de nós igualitários, ou seja,
de poucos graus de separação entre as pes- com a possibilidade de ter, mais ou menos,
soas no planeta. Além disso, eles mostraram o mesmo número de conexões. Ao con-
que bastavam poucos links entre vários clus- trário, tais redes possuriam nós que seriam
ters para formar um mundo pequeno numa altamente conectados (hubs ou conectores) e
grande rede, transformando a própria rede uma grande maioria de nós com poucas co-
num grande cluster (Buchanan, 2002). nexões. Os hubs seriam os "ricos", que ten-
deriam a receber sempre mais conexões. As
2.3 O Modelo das Redes Sem redes com essas características foram deno-
minadas por ele "sem escalas"13 (scale free).
Escalas Scharnhorst (2003, online) discute a
O primeiro problema da teoria dos mundos existência de uma relação entre os modelos
pequenos de Watts foi explicado por Ba- 13
O nome "sem escalas"advém de características
rabási (2003: 55-64) pouco tempo após a da representação matemática da rede, que segue uma
publicação do trabalho. Watts tratava as curva denominada "power law". Matematicamente,
suas redes sociais como redes aleatórias, ou as redes sem escala apresentam uma distribuição
seja, redes em que as conexões entre os muito particular, denominada "power law"(uma curva
nós (indivíduos) eram estabelecidas de modo logaritmica que descresce abruptamente a níveis pró-
ximos de um mínimo e mantém-se assim, construindo
aleatório, exatamente como Erdös e Rényi uma longa "cauda". "A distribuição power law im-
anos antes. plica que uma abundância de nós possui apenas al-
Entretanto, Barabási (2003) demonstrou guns links e uma minoria pequena, mas significativa,
que as redes não eram formadas de modo tem a grande maioria de links (Barabási, 2001, tra-
dução da autora: "...the power law distribution implies
12 that there is an abundance of nodes with only few
Segundo Adamic e Adar (2004:2), é justamente a
existência de atalhos entre os indivíduos em uma rede links, and a small-but significant-minority that have
que caracteriza a existência desses mundos pequenos. a very large number of links.")

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Redes sociais na Internet 7

de redes sem escala e de mundos pequenos. é direcionado para redes sociais. Será que os
De acordo com ela, "algumas vezes, as duas modelos dão conta do fenômeno das redes
características podem ser atribuídas às redes. sociais na Internet?
Outras vezes, a diferença radical desses dois
tipos de rede é destacada"14 . O modelo de
3 Redes Sociais na Internet
Barabási e Albert, por exemplo, tem um grau
de conectividade muito baixo, já que apenas Para discutir a validade dos modelos apre-
alguns nós estão altamente conectados, a sentados, trouxemos alguns exemplos de sis-
maioria tem poucos links. Além disso, uma temas que poderiam auxiliar a observação
rede sem escalas não é, necessariamente, um das redes sociais na Internet. Esses sistemas
mundo pequeno. Já o modelo de Watts e funcionam com o primado fundamental da
Strogatz tem um grau de conectividade pa- interação social, ou seja, buscando conec-
recido com o de um gráfo aleatório (Erdös tar pessoas e proporcionar sua comunicação
e Rényi), mas tem um alto grau de conexão e, portanto, podem ser utilizados para for-
entre os nós. Scharnhorst (2003, online) ex- jar laços sociais. A partir do exemplo deles,
plica ainda que é preciso que se atente para o procuraremos observar como a aplicação dos
fato de que os modelos foram criados sob a modelos pode ser revelar suficiente ou insu-
forma teórica, em testes realizados em com- ficiente e discutir estes aspectos.
putadores. No mundo real, as redes costu-
mam exibir um grau de distribuição (conec- 3.1 Orkut
tividade) variado, que não necessariamente
funcionam num modelo ou outro. "Depen- Inicialmente, um software denominado Or-
dendo da definição teórica escolhida, as pro- kut16 oferece as primeiras pistas para o de-
priedades dos dois tipos de rede podem ser senvolvimento de nossa análise. Criado por
encontradas nas redes no mundo real"15 , ex- Orkut Buyukokkten, ex-aluno da Universi-
plica. dade de Stantford e lançado pelo Google
Entretanto, e quanto às redes sociais? em janeiro de 2004, o software é uma es-
Esses modelos seriam suficientes para dar pécie de conjunto de perfis de pessoas e
conta do estudo das redes sociais consti- suas comunidades. Desenvolvido com base
tuídas via comunicação mediada por compu- na idéia de "software social"17 , ali é possí-
tador? Os estudos de Barabási não trabalham vel cadastrar-se e colocar fotos e preferên-
especificamente com redes sociais, embora cias pessoais, listar amigos e formar comu-
ele explicite que seu modelo é aplicável a to- nidades. O Orkut parece oferecer um prato
dos os tipos de rede. O de Watts e Strogatz cheio para uma visão das teorias das redes
sociais. Mostrando os indivíduos enquanto
14
Tradução da autora:"Sometimes, both characteri- perfis, é possível perceber suas conexões di-
stics are attributed to networks. Sometimes, the ra-
retas (amigos) e indiretas (amigos dos ami-
dically different character of these two types of net-
works is highlighted". 16
http://www.orkut.com
15
Tradução da autora: "Depending upon which 17
Sistemas que visam proporcionar conexões entre
theoretical definition is chosen, the properties of both as pessoas, gerando novos grupos e comunidades, si-
network types in real world networks can be found". mulando uma organização social.

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8 Raquel Recuero

gos), bem como as organizações sob a forma kin20 , acalcançam algo em torno de mil ami-
de comunidades18 . Além disso, existem fer- gos. Exatamente como o modelo de Barabási
ramentas de interação variadas, tais como propõe:
sistemas de fóruns para comunidades, en- Uma análise mais apurada ainda, obser-
vio de mensagens para cada perfil, envio de vará, no entanto, que a aplicação do modelo
mensagens para comunidades, amigos e ami- de Barabási apresenta alguns problemas.
gos de amigos (normalmente utilizadas para Inicialmente, constata-se que todos os per-
spam). fis, no Orkut, podem ser avaliados pelos ami-
Em princípio, o Orkut parece demonstrar a gos, onde o perfil recebe qualificações de
existência de redes sociais amplas, altamente sensualidade, confiança e interesse. Quanto
conectadas, com um grau de separação muito mais amigos, mais qualificações se recebe.
pequeno, exatamente como o previsto no Existe, assim, um interesse muito grande
modelo de Watts e Strogatz. É possível, na popularidade, conseguida através de um
inclusive visualisar os "atralhos"ao visua- número de amigos cada vez maior. Mas
lizar perfis de desconhecidos. Entretanto, nem todos esses amigos sào realmente "ami-
com uma observação um pouco mais detal- gos"21 . Isso porque é possível acrescentar
hada, percebe-se que a maioria das "distân- quem se deseja como amigo sem que exista
cias"entre os membros do sistema é reduzida qualquer tipo de interação social entre os en-
pela presença de alguns indivíduos, que são volvidos. Basta fazer o pedido e a outra
"amigos de todo mundo". Esses seriam os parte aceitar, em uma relação puramente adi-
hubs, ou seja, pessoas altamente conectadas, tiva. A maioria dessas conexões é falsa no
com um imenso número de amigos, que con- sentido de que não apresenta nenhum tipo de
tribuem significativamente para a queda da interação social e, portanto, não é represen-
distância entre os indivíduos no sistema. É tativa no sentido de demonstrar a existência
fácil percebê-los. Enquanto a maioria dos de uma rede social. Trata-se simplesmente
perfis no Orkut no máximo 100 (os me- de uma "coleção"de perfis, como podemos
nos populares) ou 200 (os mais populares) perceber a partir do exemplo de Adam Rif-
amigos, algumas pessoas, como o brasileiro kin explicando como se tornar tão popular
Roger Jones19 ou o americano Adam Rif- quando ele: "True top-of-the-pop instafrien-
18
ders randomly invite new people to be fri-
No Orkut, cada novo membro, ao ser convidado,
pode fazer seu perfil, colocando suas informações ends all the time."22 . Há, também, comuni-
pessoais e adicionando amigos (que podem ser clas- dades para auxiliar os que desejam ficar fa-
sificados em "amigos", "conhecidos", "melhores ami- 20
gos", ou "desconhecidos", mas esta classificação não http://www.orkut.com/FriendsList.aspx?uid=105
é disponibilizada para outras pessoas, onde todos apa- 89459868564697084
21
recem simplesmente como "amigos") e juntando-se Apesar de ser possível fazer uma classificação
a comunidades das mais variadas (interesses, cidade, entre os "amigos"(como "desconhecido", "conhe-
escolas etc.). cido", "amigo", "grande amigo"e "melhor amigo"),
19
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=1041191 essa classificação não é pública. Portanto, alguém
3000258962067 classificado como "desconhecido"aparece, para o
público, como "amigo".
22
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=1
9319&tid=11&pmx=3&pno=2

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Redes sociais na Internet 9

mosos a qualquer custo23 . E o exemplo do lor e passa praticamente despercebida: Basta


brasileiro Roger Jones, que participa de mais deletar da lista.
de cinco mil comunidades também demons- Ainda assim, poderíamos discutir que a in-
tra isso: Há comunidades de pessoas discu- teração social estaria nas comunidades. E
tindo se ele é uma pessoa real, pois jamais que elas as também podem ser hubs, como
interagiu em nenhuma das comunidades em a comunidade brasileira "Como ou Não
que participa. Como"24 , criada no início de abril deste ano,
Se não existe interação social como pres- e atualmente25 com quase três mil membros.
suposto para o estabelecimento dessas co- Conhecida como CoNC, a comunidade tinha
nexões no sistema, será que ele pode ser con- por objetivo apresentar perfis de usuários do
siderado uma rede social? As conexões no Orkut que receberiam assim, o julgamento
Orkut representam conexões sociais? Ainda de "como"ou "não como"dos participantes
que seja possível discutir até que ponto um da comunidade. Talvez justamente pela sua
hub no Orkut representa um verdadeiro hub proposta, a CoNC imediatamente tornou-se
em um grupo social, a verdade é que, para uma das comunidades mais ativas e de cre-
o sistema, essas pessoas são conectores. scimento mais rápido do sistema. Essas co-
Elas representam grandes nós que conectam munidades também poderiam ser considera-
membros de vários grupos isolados, e que, das conectores, porque abrangem um grande
através delas, têm um grau de separação me- número de participantes, conectando entre si,
nor entre si. Mas essas redes não poderiam também, outras comunidades26 . Entretanto,
ser consideradas a priori redes sociais, por- está aí a interação entre as pessoas?
que em sua formação (ato de adicionar ami- Não parece ser o caso. A comunidade
gos), elas dispensam a interação social, já "Como ou Não Como"raramente tem mais
que esta não é pressuposto para o estabele- do que 50 comentários por tópico, com um
cimento da conexão. Portanto, eles só fun- pico máximo de 620 comentários. Levando-
cionam como hubs no sistema do Orkut. se em conta que a comunidade tem cerca de
A mesma crítica é salientada por Watts três mil membros, não parece haver muita in-
(2003:111-113): no modelo da rede sem es- teração. Poder-se-ia argumentar que a inter-
calas, os laços sociais seriam tratados como ação está dispersa entre os vários tópicos. No
independente de custo e, portanto, passíveis entanto, não parece ser o caso. No CoNC, a
de ser acumulados pelos hubs. É justamente maioria expressiva de tópicos é apenas um
isso que se observa no Orkut. A junção de link para o perfil de alguém. Ao que pa-
novos supostos links - laços sociais- se dá rece, tudo se reduz a um quadro de avisos,
sem custo algum, na medida em que basta em que alguem coloca alguma coisa e quem
adicionar alguém. Não existe envolvimento 24
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=3
de troca de capital social, nenhum tipo de en- 4969
volvimento entre os indivíduos na diade. Do 25
Em final de maio de 2004, quando este artigo
mesmo modo, a exclusão de amigos é indo- estava em processo de produção.
26
As comunidades também possuem um espaço de
23
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4 "comunidades relacionadas", onde outras comunida-
0472 des são linkadas.

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10 Raquel Recuero

quiser, se desejar, responde. Existem poucos vel para os hubs sociais que conseguissem
momentos de diálogo e troca entre os mem- manter algum tipo de interação com um nú-
bros das comunidades. Ou seja, a quantidade mero tão imenso de conexões. Um laço so-
de interação não parece proporcional ao ta- cial pressupõe algum tipo de manutenção,
manho da comunidade. Mesmo assim, a co- seja ele fraco ou forte. A única diferença
munidade continua crescendo muito a cada entre esses laços é a quantidade de manu-
dia. tenção exigida. Aqui, parece-nos, está ou-
O que se percebe no Orkut, portanto, é que tro problema da aplicação do modelo de Ba-
ele possui hubs que parecem estabelecer-se a rabási para as redes sociais na Internet: ele
partir da ordem de "ricos ficarem mais ricos", não pressupõe interação social para o esta-
na medida em que as pessoas e comunidades belecimento das conexões
mais populares parecem realmente continuar A dinâmica do estabelecimento dos laços
populares através do tempo e constituir re- sociais como a de "ricos que ficam mais ri-
des sem escalas. No entanto, é preciso no- cos"é de difícil análise neste software. Isso
tar que existe uma atitude voluntária desses porque as pessoas populares atuam volun-
conectores no sentido de aumentar sua po- tariamente no estabelecimento de conexões,
pularidade, adicionando novos perfis aleato- não sendo possível falar em "conexão prefe-
riamente à sua lista de amigos. Do mesmo rencial", na medida em que não são os no-
modo, existe também um esforço voluntário vos nós que se conectam aos hubs, mas estes
das comunidades no sentido de aumentar sua que se conectam aos novos nós com o ob-
lista de membros, o que se reflete, necessa- jetivo de aumentar a popularidade. O que
riamente, na sua popularidade. Será que se observamos é que existe algum tipo de "co-
fosse necessário algum tipo de interação so- nexão preferencial"unicamente com relação
cial para a adição dos perfis esses hubs real- a atitude dos novos nós de procurarem "con-
mente existiriam? Será que, retirados es- hecidos"e tentar adicioná-los como amigos,
ses hubs, não se observaria uma quantidade na tentativa de reproduzir redes sociais do
média semelhante de amigos entre todos os mundo offline.
membros do sistema, o que caracterizaria um O modelo de Watts e Strogatz é um pouco
modelo de rede igualitária ou de mundo pe- mais claro no Orkut. Além de ser possível
queno? visualizar os clusters sob a forma de grupos e
O modelo de Barabási e Albert, portanto comunidades, percebe-se como essas são un-
funciona no Orkut, mas apenas no nível do idas entre si através dos seus membros, que
software. No nível efetivamente social, ele participam também de outros grupos. O Or-
apresenta problemas. O primeiro deles é que kut é efetivamente um mundo pequeno. No
a existência de hubs sociais toma como pres- entanto, os mesmos problemas do modelo
suposto uma relação social que não tenha cu- de Barabási são visíveis aqui. Não é possí-
stos para as partes. Uma relação social, port- vel dizer até que ponto essas distâncias so-
anto, na qual as partes envolvidas não pre- ciais entre os indivíduos são realmente váli-
cisam dispender tempo, capital social e en- das porque a maior parte das conexões não
volvimento para aprofundar ou manter a co- pressupõe, novamente, interação social.
nexão entre elas. Isso porque seria impossí- O modelo de Erdös e Rényi parece fa-

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Redes sociais na Internet 11

zer mais sentido neste sistema. Ora, as co- esses sistemas seriam passíveis de ser com-
nexões no Orkut são estabelecidas de modo preendidos pelos modelos que explicitamos?
aleatório pelos hubs. Logo, faz sentido en- Novamente, aqui será preciso fazer uma
tender que todos os nós têm a mesma chance pequena dissociação entre os blogs/fotologs
de receber essas conexões. Seria uma rede enquanto redes sociais e enquanto redes de
mais igualitária. Mas essa assertiva não é in- websites. Um blog ou fotolog pode re-
teiramente verdadeira. Embora muitas co- presentar um hub na medida em que pos-
nexões seja realizadas de modo aleatório, sui uma quantidade enorme de incomming
não são todas as conexões que são realizadas links (links que apontam para si) (Barabási,
assim. Muitos procuram conectar-se a seus 2003:55-58). Entretanto, neste caso, não po-
amigos no mundo offline. Outros, procuram deriam ser considerados hubs de uma rede
conectar-se apenas a mulheres bonitas. Ou- social, a menos que tais links, de alguma
tros tantos, a pessoas que admirem profissio- forma, representem algum tipo de conexão
nalmente. A realidade é que nem todas as entre os blogueiros/fotologueiros. Para tanto
conexões são aleatórias, embora muitas de- seria necessário estudar essas redes a par-
las o sejam. tir do único espaço de interação que o sis-
tema proporcion: os comentários e track-
3.2 Blogs e Fotologs backs (Primo e Recuero, 2003) Um weblog
poderia ser considerado um hub social na
Blogs e Fotologs também apresentam um medida em que muitas pessoas relacionam-
campo interessante de estudo das re- se com o blogueiro através dos comentários.
des sociais, na medida em que tam- Do mesmo modo, um fotolog pode ser um
bém possuem uma lista de "amigos"ou hub na medida em que possui muitas co-
"blogs/fotologs"favoritos, bem como meca- nexões sociais entre as pessoas que ali inter-
nismos de interação, tais como ferramenta agem.
de comentários, trackbacks e emails. Eles Nesses sistemas é mais fácil observar a
possuem mecanismos semelhantes de fun- interação, na medida em que ela se dá de
cionamento: As pessoas personalizam a pá- maneira repetida: As pessoas efetivamente
gina como desejarem (cores, figuras, fontes "conversam"através de comentários27 . Port-
e etc.) e colocam posts (blocos de texto ou 27
Um exemplo retirado do fotolog "CornFlake«
imagens) com uma certa periodicidade. No
http://www.fotolog.net/cornflake/?pid=7878405>
caso dos fotologs, embora seja possível co- mostra dois usuários "conversando"nos comentários
locar imagens e texto, o privilégio é para as e referindo-se a inteaçòes sociais anteriores, em outro
imagens. Nos blogs, ao contrário, o privilé- fotolog.
gio é para os textos. obscure_angel @ 2004-05-23 10:15 said:
Desenho lindoooo!!! Adorei seu estilo!
Weblogs e fotologs, portanto, podem re- E sim sim, os desenhos do meu flog são feitos em
presentar redes sociais, na medida em que programinhas de imagem tipo photoshop, direto com
cada weblog ou fotolog representa um indi- o mouse. :)
víduo (ou um grupo) e a exposição de sua in- Kisses.
dividualidade (Recuero, 2003). Entretanto, cornflake @ 2004-05-23 10:15 said:
thanx =D

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12 Raquel Recuero

anto, cada novo comentário poderia repre- interações através dos comentários até que a
sentar uma nova conexão. Entretanto, não pessoa seja considerada "amiga"e acrescida
é isso que se observa. Apesar de muitos à lista. Muitos tentam barganhar links, numa
comentários efetivamente gerarem novas co- espécie de troca (Primo e Recuero, 2004).
nexões e relações sociais, existem também A existência de "spam"nos comentários de
comentários negativos, no sentido de ocasio- blogs e fotologs famosos indica a possibili-
nar uma retração do indivíduo e, muitas ve- dade de que o link dele seja muito valorizado
zes um exílio da comunidade (Recuero, 2004 por constituir-se em um hub. Esses blogs e
e Recuero, 2003). Portanto, nem todo o co- fotlogs podem constituir-se como hubs so-
mentário representa uma nova conexão, uma ciais?
relação aditiva de links. Muitos representam A comunicação mediada por computador
uma relação subtrativa, de dissociação entre pode ser muito eficiente no estabelecimento
nós. de laços sociais porque facilita sua manu-
Parece-nos, aqui, que há um novo pro- tenção. Basta um comentário em um blog
blema no modelo de Barabási. Reducionista, ou fotolog, um e-mail ou uma breve con-
o modelo da rede sem escalas trata todas as versa no ICQ e já se mantém um laço social
conexões de modo igual, sem diferenciar a existente. Portanto, parece-nos que a CMC
qualidade desses links e suas conseqüências pode facilitar a constituição de laços fracos
para a estrutura da rede social. O modelo de e fortes. Como Granovetter demonstrou, os
Watts também parece não deixar espaço para laços importantes para a manutenção da rede
que se analise a qualidade as interações, bem são, justamente, os fracos. Deste modo, a
com o o de Erdös e Rényi. Preocupados com CMC através dos blogs e fotologs pode estar
a dinâmica e as propriedades estruturais das constribuindo para reduzir a distância entre
redes, todos parecem ter se esquecido que es- as pessoas, aumentando a clusterização entre
sas propriedades são intrinsicamente deter- os grupos, indo de acordo com o modelo de
minadas pelas interações em si, que geram Watts e Strogatz. Em outras palavras, blogs
ou destróem conexões. Como Watts (2003) e fotologs podem estar deixando o mundo
afirmou, não há redes "paradas"no tempo e ainda menor, seguindo o modelo dos mun-
no espaço. Redes são dinâmicas e estão sem- dos pequenos. Entretanto, como salienta-
pre em transformação. mos, esse modelo não proporciona que se
Nos blogs e fotologs é possível observar observe com rigor o teor dos laços sociais
a dinâmica de crescimento das redes atra- estabelecidos, o teor das interações. Todas
vés dos links. Com os comentários e a in- são iguais e possuem o mesmo peso para os
teração social decorrente, alguns blogs e fo- autores.
tologs são acrescentados numa lista de links O modelo de Barabási, se aplicado a blogs
como "blogs amigos"ou "fotologs amigos". e fotologs, traz alguns pontos importantes
Percebe-se que existe uma dinâmica entre as para a discussão: Existem algumas evidên-
cias de que os novos blogs e fotologs pro-
mas não existem fotos nessa figura. é desenho
"puro", pra variar. ;) curem contar-se a blogs e fotologs "famo-
[fiz um esquema de comentários, se acabar o es- sos"(hubs), no sentido de aumentar suas
paço aqui. linque aí do lado] chances de receber comentários e interagir

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Redes sociais na Internet 13

socialmente. Isso tem uma relação intrínseca dinâmica no tempo. Entretanto, as relações
com a necessidade de visibilidade (Primo e entre os indivíduos na comunicaçào mediada
Recuero, 2004) na Web. As conexões não por computador não são aleatórias. As pes-
são feitas de modo aleatório (contrariando, soas levam em conta diversos fatores ao es-
portanto, o modelo de Erdös e Rényi e o de colher conectar-se ou não a alguém. Os laços
Watts e Strogats): Elas são feitas de modo sociais, portanto, são estabelecidos sob pris-
intencional. As pessoas escolhem a quem mas muito específicos de interesses comuns
desejam se conectar, levando em conta va- de cada nó.
lores específicos (tais como o capital social O modelo de Watts e Strogatz, apesar de
de um determinado grupo ou mesmo indi- apresentar uma construção importante, aten-
víduo). Portanto, os nós não têm a mesma tando para a clusterização e o valor das
chance de receber comentários e links: não pequenas conexões entre grupos para gerar
se trata de uma rede igualitária. Poder-se-ia mundos pequenos não observa pontos funda-
argumentar que trata-se de uma rede sem es- mentais, tais como: a motivação dessas co-
calas. Mas o modelo aqui, novamente, torna- nexões, que nem sempre são feitas de modo
se reducionista. Tratando-se de relações in- aleatório, o teor das interações e laços sociais
tencionalmente estabelecidas, o que elas en- estabelecidos entre os nós e sua influência na
volvem? Que características trazem para a rede.
rede? Nem todas as interações têm o mesmo O modelo de Barabási, o mais mecani-
peso e a mesma direção. Muitas sequer são cista, traz um importante insight no sentido
construtivas. Nenhum dos modelos permite de prever o mecanismo de construção das re-
que se analisa, por exemplo, o capital social des, o de "ricos mais ricos"e a presença de
envolvido em uma relação com uma pessoa conectores. Entretanto, o modelo falha em
muito conectada. pontos cruciais para o estudo das redes so-
ciais geradas via comunicação mediada por
computador. Ele não leva em conta, por ex-
4 Conclusões e Apontamentos
emplo, o custo de manutenção dos laços so-
para Discussão ciais. Hubs simplesmente acumulam laços,
Como procuramos demonstrar, os modelos como se a relação entre as pessoas pudesse
de análise das redes propostos por Erdös e ser meramente reduzia à uma adição de ami-
Rényi, Watts e Strogatz e Barabási são insu- gos, sem qualquer custo envolvido. Con-
ficientes no sentido de perceber as complexi- seqüentemente, não leva em conta também
dades de uma rede social na Internet. Isso o contexto social e o capital social envol-
porque esses modelos, apesar de afirmarem vido em cada interação. Além disso, o me-
sua aplicabilidade para as redes sociais, fal- canismo de "ricos mais ricos"falha na for-
ham em levar em conta as premissas mais bá- mação de grupos sociais na Internet, pois
sicas da análise social. as pessoas procuram conectar-se a outras
O modelo de Erdös e Rényi, que apresenta por motivos específicos e não simplesmente
uma rede aleatória, tem méritos de ter sido o porque possuem mais conexões. Algumas
primeiro a olhar para as redes sociais e sua vezes, o mecanismo parece funcionar no
sentido de "fama"de alguns weblogs e foto-

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14 Raquel Recuero

logs, mas não necessariamente de número de GRANOVETTER, Mark. The Strenght of


conexões. Weak Ties. American Journal of Socio-
Todos os modelos, portanto, apresentam logy, 78,1360-1380 (1973)
falhas na aplicação às redes sociais na Inter-
net, em grande parte, devido à sua natureza NEWMAN, M. E. J. Small
matemática e pouco investigativa do teor das Worlds. The Structure os So-
conexões e da não presunção de interação cial Networks. Disponível em
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