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MINI CURSO: ANÁLISE DE REDES SOCIAIS

Clara Pelaez Alvarez


CIRS Março/2010

Bom, vamos começar pelo básico: afinal, o que é a sociedade? O que


é o social? Alguém se arrisca? De tudo que vocês já viram até agora, o que
vocês acham que é a sociedade, o que é o social? “Comunidade?” Quem,
aonde? Comunidade. Quem mais chuta? Conversação, conversa, perfeito,
que mais? Um conjunto de relações entre indivíduos. Somos nós. Tem um
monte de definições, mas aqui a gente vai para a definição básica, vamos
lá no dicionário e é o seguinte: uma sociedade é um agrupamento de
seres que vivem em estado gregário, ou seja, nós vivemos em bando, não
tem jeito, nós somos sociais, nós não somos uma espécie que vive
isoladamente, a gente vive junto. Tanto é que eu me lembro agora, já
estou velha, já não saio mais, mas quando era jovem, o barato era ir num
lugar que tivesse muita gente, ninguém ia num boteco que não tinha
ninguém ou dançar numa danceteria que tinha meia dúzia, não tinha
graça, a graça era ter aquele monte de gente; então a gente é gregário,
não tem jeito. E o social, na verdade, ele é um fenômeno, é um fenômeno
que acontece na sociedade e como disse o Bruno Latour, ele está diluído
em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum lugar. E é uma coisa
muito interessante, que o social deixa traços, deixa rastros, então isso que
está acontecendo com a gente neste exato momento é um social e vão
ficar disso um monte de traços na memória de cada um de nós, um
documento de coisas que a gente vai escrever na rede sobre isso e etc.
Então vai deixar um monte de rastros.
Análise de redes sociais tem a ver com ir atrás desses rastros e ver
que estruturas eles formam, digamos assim, é uma espécie de
arqueologia porque quando a gente fala em analisar alguma coisa, os
dados que a gente pega pra análise são sempre dados antigos,
principalmente quando a gente vai ao banco de dados. Então um processo
meio arqueológico, aqui exagerei, mas é de busca de dados e de
compreensão dos fenômenos sociais que aconteceram naquele
determinado grupo.
Já dizia Gabriel Tarde na década de 1960, que o social não é um
domínio de realidade, mas é um princípio de conexões, então o social é a
dinâmica, é o fenômeno que acontece quando duas pessoas conversam,
digamos assim, uma com a outra.
Se a gente fosse traduzir essa idéia num gráfico, a gente chegaria
em alguma coisa parecida com essa (5): temos aqui a sociedade humana,

Edna Costa 1
seis bilhões de seres humanos, sete na verdade, e o que nos mantém
todos juntos é a troca de informações, a informação que flui entre um ser
humano ou outro. Cada um com o seu jeito, com a sua personalidade, com
seu ponto no espaço/tempo, mas apesar disso, somos todos redondos, eu
diria assim. Somos redondos porque todos nós processamos informação,
geramos conhecimento em função desse processamento de informação,
nos adaptamos e evoluímos. Isso é comum a todos nós. E aqui é um
gráfico típico da complexidade que representa a emergência. Então, da
interação entre os indivíduos no planeta inteiro emerge esse todo que a
gente chama de sociedade humana, que é a rede-mãe, que por sua vez,
influencia cada um dos indivíduos aqui embaixo. Então uma via de mão
dupla, é importante olhar o geral, e é importante olhar aqui, as micro-
interações que ocorrem entre os indivíduos.
Quando a gente fala numa cidade, é a mesma coisa, oras, o que é
uma cidade? São pessoas que se relacionam entre si que moram num
determinado espaço geográfico. Uma cidade se convencionou chamar de
uma cidade. Um outro aspecto, uma cidade o que é? Você tem instituições
públicas, instituições privadas e as organizações do terceiro setor, e as
pessoas estão numa ou estão noutra. Você pode olhar por ali quando você
fala “a prefeitura”, oras, o que é a prefeitura? É um prédio? É um
endereço? Ou são as pessoas que trabalham na prefeitura? Quando a
gente fala “a IBM”, a IBM lá em São Paulo fica na Rua Tutóia e todo mundo
conhece aquele prédio da IBM, um pretão lá e aí todo mundo “onde é a
IBM?”, “lá na Tutóia”. Ah sim, se você tirar as pessoas de dentro do prédio
e colocar num outro lugar, para onde vai a IBM? Está lá no prédio? Não, a
IBM é uma rede de pessoas, ou qualquer tipo de empresa é uma rede de
pessoas. A gente está falando de rede de pessoas.
Numa rede, a função de cada componente ou a função de cada um
de nós é transformar e ser transformado, então a gente transforma
quando qualquer um entra em contato com a gente, e a gente é
transformado também, então a informação flui, cada um pega a
informação, processa essa informação, transforma em conhecimento e
este conhecimento volta para a rede novamente como informação e é
desse fluxo contínuo que emerge tudo.
Como está todo mundo conectado, qualquer impacto ou qualquer
coisa que aconteça na rede reverbera, mas a reverberação nunca é
uniforme, vai depender do estado de cada pessoa e da forma como as
pessoas estão relacionadas. E aí é muito interessante porque, vejam, se
eu recebo uma informação hoje, que estou em estado calmo, etc e tal, eu
processo de uma forma; se eu recebo a informação quando estou no
estado estressado e coisa e tal, a minha compreensão dessa informação
vai ser completamente diferente. Então eu nunca posso garantir que a
minha informação vai trafegar da forma como eu achava que devia.
Parece aquela história “a informação sofre decoerência”, quando ela salta
de um nodo para outro. Falando em português mais claro, todo mundo já
ouviu falar de telefone sem fio. Esse joguinho demonstra bem a história da
decoerência da informação, então eu solto uma informação aqui, eu digo
“carroça” e aí cada um vai imaginar um tipo de carroça diferente, de
acordo com o seu banco de dados. Então a fluição da informação na rede
é influenciada pelo estado de cada nodo, pelo estado dos indivíduos,
nunca é uniforme e é muito difícil de prever que tipo de informação vai ou

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não reverberar na rede e se tornar um novo ??...... a gente vai ver isso
adiante.
Cada nodo, a gente não se conecta aleatoriamente, nossa conexão
não é a oratória com as pessoas, a gente escolhe as pessoas com as quais
a gente quer trocar informação, com as quais a gente quer compartilhar,
então você se aproxima, isso não quer dizer que eventualmente você
encontre uma pessoa que nunca tinha pensado em encontrar, enfim, mas
você de qualquer forma faz a opção de trocar informação com aquela
pessoa. Então isso não é aleatório, existe a intenção por trás de cada
nodo, é esta intenção que acaba criando a rede. Bom, cada um de nós
processa a informação de acordo com a sua experiência, então a
informação que pra um vai ser muito boa, pra outro vai ser mais ou
menos, pro outro vai ser neutro e pro quarto vai ser completamente
horrível, o cara não queria ter entrado com essa informação. Então
qualquer tipo de qualificação que a gente possa fazer em cima disso
depende da pessoa que está pensando essa informação.
Eu procurei colocar aqui embaixo essa apresentação para estar
disponível para todos na Escola de Redes e cada slide eu procurei colocar
os pesquisadores que pelo menos falam sobre o tema para que pelo
menos vocês possam ir atrás depois, se interessarem.
Bom, falando em nodo, creio que a pergunta mais fundamental que
pode existir, na minha opinião, é o que é ou qual é a estrutura da
realidade. Que vocês acham disso? Conversem comigo. É difícil a
pergunta? Muito? O que é a realidade? O que é? Realidade é uma visão
que cada um tem, ótima definição, tem mais? Pessoal está falando aqui
para quem não ouviu, que a realidade é coletiva, que é um conjunto das
percepções do coletivo, é construída dinamicamente e é tudo isso mesmo,
mas olha só, percebido individualmente. Certamente todo esse conjunto.
Agora uma curiosidade: se a gente for ao dicionário e procurar o
significado da palavra realidade, a gente vai encontrar que é o sinônimo
de pouco uso da palavra realeza, olha só que interessante. Então o que a
gente hoje chama de realidade, que é o mundo que nos envolve, aquilo
que nos cerca, vem daquela época em que o rei se comunicava com a
população, como? Pregava os éditos com uma série de normas e aí o
pessoal falava assim “não, é real”, ou seja, agora você tem que fazer isso
ou fazer aquilo e daí vem essa idéia de realidade. O que é real? Até hoje
continua mais ou menos igual, porque a gente diz “a realidade que a
gente vive, esse mundo cheio de normas e cheio de problemas, etc e tal”.
Tem uma coisa que eu chamo de limite do concebível. Esse limite do
concebível tem a ver com a capacidade que a gente tem de apreender o
novo. Me lembro quando eu era estudante, há trinta anos atrás, tinham
lançado aquelas máquinas de Coca-Cola que saía aquelas garrafas e aí eu
estava com uma pessoa que trabalhava com a minha mãe e ela olhou
aquilo e ela nunca tinha visto aquela máquina na vida e ela ficou
espantada, “olha que negócio interessante, como é que funciona isso?” e
na época eu estava cursando engenharia e entrei lá com uma explicação
toda técnica, que tinha lá um certo motor e coisa e tal e a pessoa ficou
olhando pra minha cara assim e falou assim “porque não põe um
anãozinho aí dentro e ele me dá as garrafas de Coca-Cola?”. Aí eu virei pra
ela e falei assim “é, é uma alternativa”. Mas é aquela história do limite do
concebível, quer dizer, a solução dela estava ruim, estava incorreta? Não,
dentro daquele limite que ela podia compreender, ela deu uma solução.
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Eu dei outra solução porque eu tinha um pouco mais de conhecimento,
mas a solução dela funcionava também, como funcionava a minha.
Então tem aí o limite do concebível e é por isso quando a gente fala
e o Augusto vem com toda essa conversa que eu acho fantástica e é isso
mesmo, de quebra de hierarquias e multiliderança e essa coisa toda, é um
negócio extremamente complicado pra gente compreender isso. Porque?
Nós estamos há milênios acostumados desde pequenos a sermos
liderados por alguém. Então quando a gente é pequeno é pai e mãe,
quando a gente cresce um pouco é pai e mãe e professor e vai
aumentando o quanto de cacique na vida da gente. Pai, mãe e professor;
aí vai ser pai, mãe, professor, prefeito da cidade, governador do estado,
presidente do país, ou seja, alguém está sempre na liderança. E como é
que a gente vai conceber um mundo diferente desses? Um mundo em que
não precisa liderança. É muito complicado.
(...conversas...)
Aí eu não resisto e vou falar um pouquinho de como é que é o
funcionamento do cérebro humano, porque eu acho que é extremamente
importante essa visão.
(...risos...)
A gente imagina que o cérebro está aqui (cabeça), mas na verdade
nós somos cérebros ambulantes. Olha só, todo o nosso corpo é um sensor
ambulante. Todos nós somos feitos para processar informação. A gente
recebe informação por todos os poros, de todas as formas e durante todo
o tempo a nossa vida nada mais é do que processamento contínuo de
informações. Que informações? Todo tipo de informações que você possa
imaginar. Até informações que a gente não imagina que está processando
até as informações que a gente processa conscientemente. Bom, segundo
Paul MacLean, o cérebro humano se desenvolveu em três estágios. No
primeiro estágio, a parte que é conhecida como cérebro reptiliano, que é a
parte que regula todas as nossas funções vitais: respiração, circulação
sanguínea, etc e tal. E aí é interessante porque neste momento da
evolução, os animais não tinham memória, então se um bicho comesse
alguma coisa que fizesse mal a ele naquele dia e dali a três dias visse de
novo aquela coisa, ia lá e comia de novo e passava mal de novo. Aí com o
tempo se desenvolveu essa parte intermediária em cima desse córtex,
que é conhecida como sistema límbico. E com o sistema límbico a gente
começou a ser capaz de memorizar e com a memória vêm junto as
emoções. Então vejam, se eu como alguma coisa que me faz mal hoje, no
dia seguinte não vou comer porque eu tenho a memória de que me fez
mal.
Mais alguns milhares de anos e se desenvolveu essa parte externa
do nosso cérebro que é rugosa e cinzenta, que é o neocórtex, que é a
parte do cérebro que nos dá a capacidade de pensamento abstrato, de
criatividade, etc e tal, e que é extremamente desenvolvida no ser
humano, muito mais do que nos mamíferos. Então a gente desenvolveu
essa parte de neocórtex e é o que de fato nos torna humanos. Essa
capacidade de fazer arte, de fazer ciência, etc e tal, vem porque a gente
tem essa parte do cérebro. Só pra vocês terem uma idéia, esse não é o
único tipo de neurônio (13) , é um deles, o mais comum encontrado aqui
no cérebro mesmo. Então cada um de nós tem 100 bilhões de neurônios. É
muito neurônio. 100 bilhões de neurônios e todos eles conectados entre si.
Bom, mais ou menos. Isso é que é muito interessante, gente. Vocês já
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pararam pra se perguntar como é que a gente percebe a luz? Porque o
nosso cérebro está dentro desta caixa e aqui dentro é tudo escuro. Então
na verdade existe luz ou o nosso cérebro é que dá a ilusão ou cria a
realidade da luz? Bem, o mais estranho ainda é o seguinte: parece que a
realidade acontece aqui, nessa fenda sináptica. Então como é que um
neurônio se liga ao outro? Através de substâncias químicas que provocam
literalmente faíscas na quantidade de 0,4 volts e quando a gente está
pensando o nosso cérebro vai acendendo. É uma grande loucura isso. Ele
vai acendendo as partes que estão sendo usadas, os neurônios se
conectam, rola lá um monte de neurotransmissores e isso dá uma faísca e
o cérebro fica aceso. E é interessante porque a sabedoria popular sempre
diz: “acabei de ter uma luz, acabei de ter uma idéia”, literalmente a gente
teve uma luz mesmo. Literalmente o cérebro acendeu.
Bem, um único neurônio se conecta ou pode se conectar até 100 mil
outros. Isso é uma grande loucura. É obvio que a gente não usa ou não
utiliza toda nossa capacidade conectiva. Se a gente utilizasse, eu não sei
exatamente o que nós seríamos, super humanos, deuses, supra humanos,
lá sei eu que tipo de coisa iria acontecer. Mas o caso é que nós não
realizamos todas as conexões possíveis do nosso cérebro. Quando é que
essas conexões acontecem? Quando a gente aprende algo novo. Quando
a gente aprende algo novo novas conexões são criadas. As coisas que a
gente já sabe, tipo andar, ninguém mais pensa para andar, então isso é
passado para a parte posterior do cérebro. Essas conexões são recobertas
com mielina, acho que é esse o nome, e você já não pensa mais porque
aquilo já está totalmente solidificado no seu cérebro. É um conhecimento
que você nunca mais vai perder, como nadar. Agora o novo acontece aqui,
na parte frontal. Quando a gente está aprendendo alguma coisa que a
gente não conhece, que é algo novo, a nossa parte frontal aqui do cérebro
entra numa atividade brutal e assim fica até que a gente aprende isso de
tal forma que você não pensa mais para fazer, simplesmente faz.
Isso é o primeiro mapeamento de um cérebro humano, foi feito em
2008 (15). Por falar em redes, o cérebro é uma rede total, vocês viram, eu
não confio muito nisso não, sabe? Acho estranho porque eles metem um
monte de substâncias no cérebro para fazer esse tipo de medição, aqui no
caso parece que eles seguiram as moléculas de água. Parece que não
enfiaram nenhum tipo de substância, mas acho muito estranho enfiar um
tipo de substância pra fazer o cérebro acender e dizer que isso daí não
impacta, não está acontecendo na dinâmica cerebral.
Não sei se vocês sabem, mas crescer emburrece, literalmente
emburrece. Uma criança de um ano tem o dobro de sinapses do que o
cérebro de um adulto pra mesma quantidade de neurônios. Então, se você
der para um adolescente, ou nem para um adolescente, o adolescente
começa a perder sinapses, mas para uma criança, ela está aberta a tudo,
ela está literalmente tudo é possível. Olha aqui, idade: cinco anos, pessoas
testadas: 1600, pessoas altamente criativas: 98%, crianças de cinco anos.
Dez anos, a criatividade desce pra trinta, quinze anos...
Na adolescência a gente começa a perder massa cinzenta, é por isso
que o adolescente vai ficando chato, toda aquela graça, aquela festa que
a criança fazia, tudo era divertido, tudo é festa, aí quando a gente vai
perdendo massa cinzenta, a gente perde todas as conexões que a gente
nunca usou e aí vai ficando chato, aquela chatice da adolescência, não é
mais aquele mundo infantil onde tudo era possível, também não é este
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outro mundo que não consigo entender e fica lá no meio até a gente se
achar e leva lá alguns anos, uns cinco ou seis.
O que acontece aqui? (17) A cada ano a gente vai formando
extensas redes neurais que vão contando com o tempo todas as nossas
experiências, aquilo que a gente vivenciou durante a vida e é isso que vai
formando o eu, a nossa identidade, aquilo que nos torna um indivíduo
diferente.
Quem é São Tomé aí? Quem é que só acredita nas coisas que vê?
Isso é muito comum de ouvir: só creio naquilo que vejo, aquilo que eu vejo
não consigo negar que eu vi. Bom, como é que a gente vê? Isso é muito
interessante, gente. Quando a gente olha alguma coisa, cada parte de
informação daquela coisa entra no cérebro como um canal diferente.
Então um canal leva um segmento de curvas, o outro canal leva
informação sobre a cor, o terceiro canal leva contornos. Aí o que acontece,
todas essas informações são postas juntas aqui na parte posterior do
cérebro, no centro da visão. E aí, o que o cérebro faz? Ele preenche as
informações que ele não tem, logo a gente infere a realidade,
literalmente. E o cérebro preenche as informações que ele não tem com
as informações que nós temos, por isso é que tem a tal da ilusão de ótica.
Você olha uma coisa e fala “que negócio esquisito”, porque a informação
que você tem internamente não está batendo com aquilo que está lá fora.
Esse tipo de coisas acontecem com todos os sentidos. A visão,
audição, paladar, tudo acontece dessa forma, então durante todo o
tempo, a gente está inferindo a realidade, literalmente criando a
realidade. E cada um criando a realidade de acordo com o seu banco de
experiências e todo mundo brigando, dizendo assim “não, o que estou
vendo é o certo”, “não, o certo é o meu”, “o certo é aquele”. Está todo
mundo completamente certo, mas particularmente certo e não
globalmente certo, digamos assim.
O cérebro é modelado por experiências, a gente deveria começar a
fazer neuróbica, menos aeróbicas e mais neuróbicas, essa que é a grande
verdade, que tal um tanto de cada? Mas da mesma forma como a gente
trabalha a musculatura do corpo, a gente não, os outros trabalham a
musculatura do corpo, trabalhar o cérebro e toda nossa capacidade
cognitiva eu diria que é essencial. Como é que a gente faz isso? Toda vez
que você está lidando com coisas novas, com situações novas, é por isso
que ler é tremendamente importante. Se você sempre lê alguma coisa que
você não conhece, você cria novas conexões. Mudar o caminho para ir pra
casa todos os dias, em vez de mesmo caminho sempre, ir por um outro
caminho, etc e tal, ou seja, N coisas. E o que é mais importante, a gente
ajusta durante todo o tempo a realidade, aquilo que a gente tem
internamente, então durante todo o tempo, a gente interpreta a realidade
de acordo com aquilo que a gente tem dentro, que a gente tem em
memória, digamos assim.
Por falar em memória, porque que a gente nunca esquece a data do
casamento, o nascimento de um filho, vocês fazem idéia? Porque quanto
maior a emoção envolvida em dado evento, mais firme é o registro da
memória. Memória e emoção estão completamente ligados na outra.
Agora, cada vez que a gente se lembra desse acontecimento, a gente se
lembra de forma diferente, nunca é igual ao original. Porque quando a
gente lembra, isso significa que já aconteceram coisas nas nossas vidas
depois desse evento. E mesmo o evento passado vai sofrer interferências,
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todas essas coisas a gente já não vai lembrar igual. Então literalmente o
que eu queria dizer com isso é que a gente a cada instante cria a
realidade. Literalmente e não vou nem entrar nos conceitos da quântica
aqui senão ia dar muito enrosco.
Se a gente junta toda essa visão da neurociência com a nova física
quântica, o que a gente conclui é: não existe nenhuma realidade fora de
nós, toda a realidade acontece internamente. E aí tem uma coisa
interessante porque embora cada um de nós tenha suas particularidades,
tenha seu próprio banco de dados de experiência, de uma certa forma,
todos nós usamos a mesma lógica de processamento de informações e é
isso que dá a coesão social. Então veja, todos nós vivemos numa casa
com mais ou menos os mesmos objetos, televisão, geladeira, cama, fogão,
essas tralhas todas, todos nós mandamos nossos filhos para as escolas,
todo mundo se veste, ninguém anda nu, isso é tudo a mesma lógica de
processamento de informações, embora cada um tenha suas
particularidades.
Isso é pra fazer vocês pensarem um pouco, lembrem-se de como eu
abri, não quero convencê-los, quero seduzi-los, então a idéia foi o insight
que eu tive conversando lá com a Jaqueline, uma coisa que a Vera me
mandou que era o Bergson falando sobre consciência e o Bergson dizendo
que a consciência é essa coisa que acontecia entre o passado e o futuro,
exatamente a ponte entre o passado e o futuro. E aí eu fiquei pensando
nisso e falei “caramba, se a gente cria literalmente a realidade”, olha que
coisa maluca, a gente não tem aqui nada, absolutamente nada que não
seja feito de átomos, tudo é feito de átomos, tudo, absolutamente tudo. E
o mais, eu diria que até poético, os nossos átomos que estão hoje nos
nossos corpos já foram um dia forjados nas estrelas, então somos
literalmente filhos das estrelas. É belíssimo isso, é poético, filhos do
universo. Então vejam, aqui a gente tem um potencial quântico (21), uma
quantidade enorme de partículas e lá a gente tem um mundo de
fenômenos onde a gente vive, o nosso mundo, aquilo que a gente percebe
como o mundo que nos cerca. Entre um e outro o que talvez a gente
tenha seja a consciência.

Edna Costa 7

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