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NITERÓI
2008
DIOGO FERREIRA DA ROCHA
NITERÓI
2008
DIOGO FERREIRA DA ROCHA
BANCA EXAMINADORA
NITERÓI
2008
Dedico este estudo:
aos meus pais, Roberto e Edima;
à minha companheira, Ana Paula;
à Joaquim (in memoriam)
para quem a educação era o maior tesouro.
AGRADECIMENTOS
À minha família, pelo apoio, confiança e por serem um porto seguro nas horas difíceis;
Á Ana Paula, pelo carinho e paciência que me deram forças para não desistir;
Á Juliana Souza, Marcelo Firpo e Ana Carolina sem os quais não teria sequer conhecido um tema tão
desafiante;
Á Thiago, Jean, Carlos Magno e demais amigos do curso de Ciências Sociais, cujas provocações e
discussões tornaram este trabalho mais interessante e o curso mais divertido;
Aos funcionários do Museu do Índio, pela presteza e inestimável auxílio durante a coleta de dados
para esta monografia.
Ao professores e demais profissionais do curso, pela dedicação (ou falta dela) que nos ensinaram
com seu exemplo como se faz (e não se faz) Ciência.
Á professora Gláucia Oliveira da Silva e ao professor Jair de Souza Ramos por aceitarem fazer parte
da banca examinadora deste trabalho;
Á Sidnei Peres por aceitar orientar este estudo e pela paciência com um aluno muitas vezes ausente.
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o de defendê-lo e preservá-lo para as presentes
e futuras gerações".
A presente monografia pretende fazer uma análise do papel do Estado nos conflitos
socioambientais a partir do estudo de caso da disputa por terras entre índios Tupiniquim e
Guarani e a Aracruz Celulose S.A no estado do Espírito Santo. Este estudo se insere dentro
de uma perspectiva de análise multidisciplinar que procura dar conta tanto dos aspectos
factuais do caso, quanto da dimensão simbólica e argumentativa do conflito. O que significa
que iremos orientar nossa análise no decorrer do texto de forma a considerar ambos os
aspectos como inerentes ao conflito. Também é objetivo desta monografia analisar as
possibilidades de inter-relações e articulações possíveis entre os diversos movimentos
sociais envolvidos e do entremeamento da questão ambiental, indígena e social em um caso
de disputa por terras. Este estudo se estrutura em dois grandes capítulos nos quais no
primeiro são discutidos os aspectos teórico-metodológicos que orientam o estudo e no
segundo é realizada a análise de fato. Esta monografia é uma tentativa de aproximar os
estudos de relações interétnicas e das relações entre o índio e o Estado, dos estudos que
versam sobre as disputas por recursos e direitos ambientais, econômicos e sociais. A
aplicação da perspectiva dos conflitos socioambientais na análise da dinâmica de um
processo demarcatório longo e disputado pode elucidar questões que de outra forma
passariam despercebidas.
This monograph makes an analysis of the role of the State in social and environmental
conflicts, from the case study of the dispute between Tupiniquim and Guarani Indians and
Aracruz Celulose S.A in the state of Espirito Santo. This study falls within a multidisciplinary
perspective of analysis, that seeks discuss the factual aspects of the case and as
argumentative and symbolic dimension of the conflict. This means that we will guide our
analysis during the text in order to consider both aspects as inherent in the conflict. It is also
aim of this monograph examining the possibilities of inter-relations and possible joints
between the various social movements involved and the intermingle of environmental,
indigenous and social questions in a case of dispute on land. This study is structured into two
main chapters in which in the first are discussed theoretical and methodological aspects that
guide the study and in the second is make the analysis of case. This monograph is an
attempt to bring the study of interethnic relations and the relations between the Indian and
state studies, that discuss by disputes over resources and environmental, economic and
social rights. The application from the perspective of social and environmental conflicts in the
analysis of the dynamics of a long process of demarcation can clarify disputed issues that
would otherwise unnoticed.
Keywords: social conflicts, social movements; State; interethnic relations; Indian Movement;
LISTA DE SIGLAS
Introdução. 11
2.1. Os Atores. 41
2.1.1. Os Tupiniquim. 41
2.1.2. Os Guarani-Mbyá. 46
2.1.3. Aracruz Celulose S.A.. 48
2.1.4. Fundação Nacional do Índio – FUNAI. 50
2.1.5. Ministério da Justiça – MJ. 51
2.1.6. Ministério Público – MP. 53
2.1.7. Movimentos Sociais e Entidades de Apoio. 55
Conclusão. 99
Introdução.
em que estou inserido na Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Em dado momento
banco temático da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA)1. Neste relatório realizamos
banco de dados2. E um dado que me chamou atenção foi a freqüência com que a atuação
do Estado aparecia como gerador de conflitos socioambientais. Tal fato me levou a formular
a seguinte questão de pesquisa. Qual tem sido o papel do Estado nos conflitos
socioambientais? Como ele é determinado na legislação? Ele cumpre esse papel? Por que
com tanta freqüência sua ação é vista como fonte de conflitos e não como meio de
solucioná-los?
múltiplos e intricados. Um conflito desse tipo comporta diversas dimensões e percebi que a
pergunta feita por mim era muito vaga. Por isso elegi um entre vários dos que havíamos nos
Durante muitos anos essa disputa por terras foi uma preocupação premente dentro da
RBJA. Minha dinâmica de trabalho exigia que eu estivesse constantemente em contato com
as discussões da Rede e fez com que eu percebesse que havia nele certas questões que
poderiam ser de grande importância para a análise que eu estava me propondo a fazer e
1
A Rede Brasileira de Justiça Ambiental é uma rede virtual formada por organizações não-governamentais, movimentos
sociais, organizações de base, quilombolas, grupos indígenas, sindicatos e pesquisadores independentes que se articulam em
torno do movimento pela promoção da justiça ambiental e promove ações e campanhas apoiando instituições ou grupos
envolvidos em conflitos sócio-ambientais.
2
“O banco consiste em um conjunto de documentos circulados pelos membros da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, que
tem como eixo central à discussão sobre a distribuição desigual dos impactos sócio-ambientais e a publicização dos conflitos e
das lutas sociais envolvendo o meio ambiente, compreendidos como expressões de disputas legitimas sobre o modelo de
desenvolvimento que orienta as políticas do país e, conseqüentemente, o uso dos seus recursos e territórios.”. (REDE
BRASILEIRA DE JUSTIÇA AMBIENTAL, 2007:04). Tal banco é desenvolvido e mantido por uma parceria entre a Rede
Brasileira de Justiça Ambiental, Fundação Oswaldo Cruz e a organização não-governamental FASE.
13
Por exemplo, a primeira vista trata-se de uma disputa por terras. Já que de um lado
Como estão eles organizados? Que tipo de alianças constroem? Quais são suas
necessidades? Suas estratégias? Seus discursos? Por que um conflito como esse durou
conflito social, que contrapõe interesses distintos e distintas demandas por direitos e as
mas são duas sociedades em choque com visões de mundo e identidades diferentes.
incorporação no nosso direito liberal são personificados por minorias étnicas de difícil
maior na análise.
Some-se isso ao fato de que neste conflito o componente ambiental assume grande
importância, já que em primeiro lugar há uma disputa pelo modo como os recursos naturais,
subsistência?). Segundo, que a intervenção de uma das partes sobre o meio ambiente local,
ambiental decorrente desse tipo de cultura tem impacto direto sobre as comunidades que
dependem da interação com ambiente local para sobreviver. A substituição da mata nativa
14
por floresta plantada também tem impactos na fauna local, que não encontra alimento nesse
Tudo isso impacta direta e negativamente sobre as comunidades que dependem da caça,
agrário (luta pela terra), ora como um conflito ambiental (luta por recursos ambientais), ora
como um conflito por sistemas de organização do mundo (luta simbólica), ora por acesso a
ela, tentei construir uma abordagem multidisciplinar, que agregasse conhecimento das
hierarquia interna do trabalho é o olhar sociológico que predomina, mas, quando necessário,
ciências afins, que pudessem iluminar aspectos que de outra forma ficariam obscuros.
menor, versa sobre as questões teóricas que irão permear a análise. A primeira grande
política verde. O motivo de iniciar com essa questão foi pela grande influência que o
ambiente. E não está imune às questões sociais. Cada vez mais predomina entre os
ambientalistas o discurso de que sem mudanças sociais não é possível realizar mudanças
necessidade da preservação ambiental como suporte para as práticas sociais também tem
se popularizado. Não é de estranhar que num conflito como o que irei analisar, essa
A seguir, exploro o modo como a questão ambiental tem sido construída socialmente
ambiental contemporânea.
A terceira parte desse capítulo define alguns conceitos relacionados aos conflitos
tanto o dividi em três grandes partes nas quais exploro os fatos históricos e os articulo com
principais atores envolvidos nos conflitos, apresentando uma breve descrição, sua história,
sua estrutura, seus objetivos e como eles se relacionam ou atuam no conflito analisado.
entre as partes, que trouxe relativa paz ao conflito, na qual aponto indícios do porquê de tal
A última parte analisa a história recente do conflito. Desde sua retomada em 2005
até a resolução final em 2007. É o período que apresenta maior complexidade e os maiores
desafios. Dediquei os maiores esforços nesse período, pois o considero essencial para
Sei que numa introdução talvez devesse ter realizado uma explicitação mais detida
pretendo fazer, etc. Mas, optei por expor as motivações e questões que orientaram minha
pesquisa, pois considero que a parte teórica fica bastante explícita no primeiro capítulo,
sobre todas as questões e observações aprendidas nos cursos de metodologia das ciências
sociais, numa grande profusão de citações e fontes bibliográficas, prefiro apenas referir-me
entrevistas com representantes dos principais atores, para cotejá-las com as informações
virtuais, dentre os quais destaco o site da Aracruz Celulose, o Banco Temático da Rede
e a consulta a jornais e revistas com edições online e que houvessem coberto o caso. Além
Entretanto, dois fatos impediram que realizasse a coleta de dados conforme havia sido
planejada inicialmente. O primeiro se refere aos arquivos do Museu do Índio. Conforme fui
17
encontrava nos arquivos da FUNAI em Brasília, já que o caso ainda estava sendo analisado
empreender e o meu próprio tempo disponível para a pesquisa, já que a conciliava com o
Talvez essa opção tenha obscurecido alguns pontos, mas no geral o resultado foi
satisfatório.
Sem querer me estender mais do que o necessário nessa introdução, passo agora
ao estudo de fato.
18
Capítulo 1
Conflitos socioambientais:
Aspectos teóricos.
19
dimensões. Por envolver comunidades cuja cultura e forma de organização são distintas da
sociedade nacional, não se pode abstrair do fato de que há diversos valores e visões de
especificidades, elas estão envolvidas em um conflito que está inserido dentro de um quadro
pela terra. Nosso estudo tem o objetivo de articular este caso específico com o quadro geral
e analisar em que medida, e de que forma, o Estado brasileiro cumpre seu papel de
Desse modo, não nos limitaremos a apenas analisar como se deu o processo de
demarcação de terras e a dinâmica das ações desenvolvidas nos últimos 32 anos em prol
da constituição das terras indígenas, mas esperamos conseguir demonstrar como a luta
indígena pela terra sofre influência das possibilidades de articulação de cada período.
Para tanto dois pontos foram definidos. O primeiro deles é a divisão deste estudo em
dois grandes capítulos. Este primeiro capítulo procura abordar a constituição de dois
indígena, bem como as estratégias políticas e argumentativas desses atores. Além disso, a
aproximação de ambos os movimentos abre novas perspectivas para suas respectivas lutas
momento da historia3. O fim da Primeira Guerra Mundial marca o início de uma era de
extremos e isso pode ser percebido nos mais diversos campos da vida humana.
quanto sociais. Para além das controvérsias, pode-se concordar com relativa facilidade que
a conquista dos direitos sociais, e não apenas individuais, nos países desenvolvidos está
dentre as mais importantes entre elas. A estabilidade e seguridade social conquistada nos
30 anos de vigência do chamado Estado de Bem-Estar Social (welfare state) nos países
luta de classes e do conflito entre capital e trabalho. Destacam-se a defesa dos direitos civis,
direitos humanos e do meio ambiente (PÁDUA, 1991). Não é por outro motivo que diversos
política verde nos países centrais a partir da década de 1960 (PÁDUA, 1991; FUKS, 2001;
ambientalista, as lutas pelos direitos da mulher, dos jovens e das minorias étnicas
(GONÇALVES, 2004).
3
Cf. Hobsbwan, Eric. A Era dos extremos: O breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
21
O fortalecimento da política verde e dos novos movimentos sociais foi marcado por
uma forte crítica ao modo de vida ocidental, caracterizado pelo desperdício de recursos
ambientais e pelas desigualdades sociais (PÁDUA, 1991; GONÇALVES, 2004). O que leva
por parte da população desses países. Seja no sentido da percepção dos impactos
1991; GONÇALVES, 2004), seja dos riscos inerentes às novas tecnologias, um risco
potencialmente danoso a uma parcela cada vez maior da população mundial (BECK, 2006)
ou ainda a consciência de que tais riscos e impactos não são homogeneamente distribuídos,
sendo sentidos com maior intensidade justamente pelas populações mais pobres, minorias
Tal crítica, além da mobilização subseqüente, não puderam ser ignoradas por muito
tempo pelos governos e na década de 1970 pode ser verificada a constituição das primeiras
(COSTA, 2006).
desenvolvimento econômico tornam-se questões interligadas, com forte resistência por parte
dos países subdesenvolvidos em realizar mudanças que pudessem frear seu crescimento
econômico. É com o Relatório Brundtland: Our Common Future (1987) que se consagra o
articulações sociais são fortemente combatidas sob a égide de uma política autoritária e
meio ambiente. Segundo Costa (2006), a partir de 1964 é posto em prática um programa
gases. Ou seja, o país arcaria com os custos ambientais da operação em nome da geração
gerações futuras.
tornado pauta importante, no Brasil ainda era tratada apenas como um requisito formal a ser
política ambiental até meados da década de 1980, quando é substituída pelo Ministério do
Se do ponto de vista das políticas oficiais o meio ambiente foi relegado a segundo
que a primeira ONG ambientalista brasileira, e da América Latina, foi a Associação Gaúcha
1971 (PÁDUA, 1991; GONÇALVES, 2004; COSTA 2006). Nesse período a atuação do
defesa do ambiente ou, quando muito, à crítica do modo de vida e consumo (PÁDUA, 1991).
pelos exilados na Europa durante o período (GONÇALVES, 2004) e/ou uma reação à
caótica situação ambiental instalada pelo regime, na qual cidades como Cubatão ou São
Contudo, Pádua (1991, p. 144) apresenta uma teoria alternativa para a formação do
movimento ambientalista brasileiro. Sem desprezar o que ele chama de fatores exógenos,
como a influência da já madura política verde européia, apresenta alguns fatores endógenos
Ainda sob esse ponto de vista, pode-se argumentar que tais fatores foram
catalisados pelo que Pádua chama de “crise do monopólio da representação política dos
partidos tradicionais”. Essa crise não foi exclusividade da conjuntura brasileira, mas foi
intensificada pelo regime ditatorial pós-64. O qual reprimiu uma demanda de organização e
manifestação política que ficou latente até fins dos anos 1970, mas que não encontrou
expressão mesmo com abertura política após 1974. O bipartidarismo forçado e outros
partidária e abriram espaço para outras formas de organização política apartidárias como os
mesma forma que nos demais países. Pois, mesmo após a criação do Partido Verde (PV)
mais diversos partidos, e o Partido criado para representar o segmento não alcançou a
Se o Partido Verde brasileiro não se firmou como força política significativa, a política
verde ganhou novo impulso no fim dos anos de 1980, com a criação no governo Sarney de
várias instituições oficiais voltadas para a proteção do meio ambiente, como o Ministério do
como direito de todos os cidadãos e sua proteção como um dever do poder público e da
coletividade. Além disso, a estrutura estatal de proteção ambiental foi expandida com a
como a preservação ambiental havia adquirido nos fins dos anos de 1980 e início de 1990
um status não atingido anteriormente. A questão torna-se central nos debates nacionais e
internacionais e expande-se para além dos grupos de defesa ao meio ambiente e das
Viola vai caracterizar como ambientalismo multissetorial. (VIOLA, apud FUKS, 2001):
Fuks (2001, p. 22) defende que independente de aceitar o teor valorativo deste
público.
Contudo, é preciso destacar que tal perspectiva não é consenso entre os estudos
Costa criticam a capacidade explicativa dessa perspectiva na medida em que ela valoriza
adesão, quanto a difusão dos ideais ambientalistas, teriam se dado de forma homogênea, e
Tendo esta crítica em vista, não pretendemos analisar o conflito em questão apenas
como uma forma discursiva. Mas, sem descuidar-se da importância que ambas as
prática sem perder de vista a relação dialética e de mútua influência que possuem entre si.
argumentativas.
Isso significa dizer que o movimento pela justiça ambiental se pauta pelas lutas por
políticas e ações que gerem justiça ambiental. Define-se justiça ambiental do seguinte
modo:
Ambas as noções são resultado de décadas de luta por direitos civis e igualdade
racial nos Estados Unidos. Paralelamente, contrariam a principal base argumentativa das
A modernização ecológica pode ser entendida como uma solução de mercado para
ativar mercados para os produtos ditos ‘sustentáveis’. Estaria nas próprias instâncias do
produzidos pela lógica desta mesma produção. Nas palavras de Acselrad (2004. p. 23):
qualquer possível articulação entre a escolha dos locais a serem diretamente impactados
componente simbólico. Em geral, neste tipo de conflito não se disputa apenas a distribuição
O que significa dizer que tais conflitos não se desenrolam exclusivamente na esfera
política, mas também na esfera cultural. E isso aumenta a complexidade da análise. Por
isso, dentro da chamada sociologia ambiental ainda não se constituiu um método padrão
diversas, sob a ótica de várias correntes sociológicas, desde aquelas que corroboram a
constituição de uma abordagem da Ecologia Política, até aqueles que resgatam os clássicos
BUTTEL, 2002; ACSELRAD, 2004; LITTLE, 2004). Entretanto, o que todos os autores
parecem concordar é a necessidade de tal análise agregar outros fatores que não apenas o
processo formal do conflito. Seja a integração entre a análise social e o mundo biofísico, ou
É com base nessa questão, que esta monografia não irá se restringir ao
relevantes à questão. É por isso que, apesar de elaborarmos nossa análise sob o ponto de
vista sociológico, não nos restringiremos a utilizar apenas fontes relacionadas a esta ciência.
ambiental americano e realizei uma digressão sobre o aspecto argumentativo dos conflitos
29
construtivista descrita por Acselrad em seu artigo “As práticas espaciais e o campo dos
conflitos ambientais” (2004b). Justifica-se tal opção pelas próprias características do conflito,
diversos episódios e estratégias de luta dos atores envolvidos. A luta pela formação do
consenso está imbricada neste conflito, da mesma forma que a luta pela predominância de
levantadas durante os 30 anos em que se desenrola o conflito e não se poderia dar conta
delas se a luta simbólica envolvida em cada uma delas não fosse explicitada. Daí a
necessidade de uma abordagem que contemplasse este fenômeno. Não queremos dar
que ela se origina. O que poderia acontecer se utilizasse uma abordagem baseada apenas
nessa questão, o que a meu ver, acontece em abordagens como a descrita por Fuks (2001)
argumentativos”.
um modo geral, as definições, em maior ou menor grau, convergem para o modo como Little
Tal conceito ancora-se na teoria social de Pierre Bourdieu e considera tanto as relações
objetivas existentes entre os diferentes atores sociais e as posições que tais atores ocupam
ou apropriação cultural da natureza, seja pela afirmação de quais medidas são válidas ou
não para sua proteção. Nas palavras do autor (2004, p. 19): “A luta por recursos ambientais,
Mas ganham uma complexidade maior ainda quando envolvem lutas e interações
acontece no caso que será analisado no segundo capítulo. Pois apesar do embate pela terra
administrativos, ele envolve grupos étnicos que possuem relações sociais e culturais
sugeridos pelos atores se baseiam em lógicas distintas. Seja pela distinção entre o uso
tradicional e capitalista da terra, seja pela ligação meramente econômica ou cultural com o
território. Tais fatos levam a autores como Acselrad sugerirem que (2004, p. 23):
exemplo, na abordagem da Ecologia Política, proposta por Little (2004). Quando o autor se
refere a cotas de poder, Little afirma que na análise desse tipo de conflito, tão importante
quanto a determinação dos atores envolvidos e o tipo de conflito, é o mapeamento das cotas
de poderes formais e informais distribuídos entre os diversos atores. Pois “em muitos casos,
os jogos ocultos de poder” (LITTLE, 2004). Por jogos ocultos de poder Little entende desde
ação se desenvolvem fora das arenas oficiais de debate, através de métodos alternativos de
pressão. E tais estratégias não devem ser ignoradas, constituindo-se em pontos importantes
de análise, pois, o Estado e as arenas oficiais de debate possuem seu próprio tempo e
dinâmica. Em geral tal dinâmica se afasta, propositalmente ou não, dos anseios dos atores
32
envolvidos, que lançam mão de artifícios extralegais para pressionar a ação oficial em seu
corrupção, todos os meios são utilizados para alcançar uma definição favorável do conflito.
conflitos sociais.
Outro ponto que merece destaque, e que se constitui como de extrema importância
para nossa análise, é a noção que de o conflito possui uma dinâmica própria. Isso significa
dizer que a intensidade e a visibilidade do conflito podem variar no tempo. Indo desde
lados se acumulam, até tréguas e acordos. Também inclui mudanças nas configurações de
dinâmica do conflito a ser analisado, isso pode ser visto com bastante clareza. Tanto na
1998, quanto à questão de mudanças nas configurações de força e nas estratégias de ação,
Fatores “externos” ao conflito também podem alterar sua dinâmica, como mudanças
disputaram a posse das terras, verificamos diversas mudanças políticas e sociais que
influenciaram no conflito.
33
Passado por políticas diversas que ora vêem o índio como um empecilho ao
caminho, ora como um ser inferior que deve ser tutelado e posto a salvo sob a guarda do
direitos é um fato recente na longa, e conflituosa, relação entre os tais povos e a sociedade
nacional tendo em vista que o índio só deixou de ser considerado legalmente tutelado pelo
Nesse sentido, o movimento indígena pode ser considerado como a mais recente
forma de resistência às políticas indigenistas contrárias aos interesses dos índios e como
ferramenta de articulação da luta comum das diversas etnias. Mas não a única.
nativos e colonizadores, o movimento indígena tem sua origem na década de 1970, através
formação do movimento indígena brasileiro. Foi uma fase marcada pela troca de
indianidade. Também marcou a articulação política entre as etnias dispersas pelo território
O movimento indígena nasce numa década de contínua violação dos direitos civis
pelo regime militar. Nesse contexto a luta indígena recebe desde o primeiro momento, o
34
apoio de entidades da sociedade civil organizada. Segundo Peres (2003, p. 117) a questão
nacional como uma “figura síntese (...) da cidadania aviltada de todos os brasileiros”.
movimento que unificasse e articulasse a luta das diversas etnias foi reprimida pelo governo
Índio (FUNAI), criada em 1967 para substituir o antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI)
(NEVES, 2004).
acabava com a tutela dos povos indígenas em relação ao Estado, mas que sofreu enorme
oposição dos índios e das entidades de apoio, pois na prática significaria apenas o fim de
direitos específicos voltados para esses povos, e a retirada de empecilhos legais para a
uma vez a política indigenista estava sendo definida tendo em vista os interesses de
determinados grupos econômicos da sociedade nacional e não dos próprios índios (PERES,
2003).
de sua tutela e de suas terras) acabou por aumentar a articulação entre o movimento
indígena e a sociedade civil e resultou em dois efeitos não previstos pelo governo. (1) A
O que em 1980 daria origem, após um breve período em que concorreram duas
da UNI e da UNIND, formando uma única entidade sob a sigla UNI, consolidou a nova
4
A União das Nações Indígenas (UNIND) e a União das Nações Indígenas (UNI),
35
Contudo, a UNI não teria vida longa. Nos anos 80 também se verificou a proliferação
das organizações indígenas. A própria UNI criou representações locais, isso derivou da
étnico. Gradualmente a entidade nacional foi substituída por essas organizações mais
primeira foi o fim da tutela dos povos indígenas em relação ao Estado. A segunda delas foi a
autonomia conferida aos povos indígenas para se fazerem representar judicialmente através
(PERES, 2003).
Como já é possível verificar, o fim dos anos 80, principalmente após a promulgação
movimentos, pois como destaca Peres (2003, p. 122) desde o início da década já era
O modo de vida indígena passa a ser encarado como sustentável e a afirmação dos
direitos desses povos á terra como uma forma de preservar o meio ambiente. Esse fato
poderá ser visto no caso estudado, visto que os anos 90 foram marcados pelo
indígena, após 1988, foi a atribuição ao Ministério Público (MP) do papel de defender os
singular, porque ao mesmo tempo em que está na esfera jurídica, tem o dever de proteger
127) a atuação desse órgão foi “fundamental para a ampliação de suas conquistas
no conflito analisado e verificar como esta afirmação tem se desenvolvido na prática através
de um exemplo empírico.
Por fim, cabe ainda destacar que apesar das conquistas e ganhos do movimento
indígena nos anos 80, os anos 1990 trouxeram mudanças no cenário político-social que
sentido de implantar medidas que atendessem interesses dos grandes produtores e outros
Culminando com a outorga do Decreto 1.775/96, o qual é apontado por alguns autores como
“uma reação, ainda que tardia, ao avanço (...) das (re)conquistas indígenas no período
37
Peres (2003, p. 132), “uma artimanha do governo brasileiro para atender aos interesses anti
indígenas”.
nesta fase, pois as posições dos diversos ministros, pelos quais o processo de demarcação
Por fim, encerramos este subcapítulo com um extrato do artigo de Neves que
Capítulo 2
Estudo de Caso:
passamos neste capítulo a apresentar o caso em si. Nosso estudo debruçou-se sobre o
indígenas das Terras Indígenas Comboios, Caieiras Velhas e Pau Brasil e a empresa
Esse conflito se desenrolou por mais de 30 anos, desde meados da década de 1970
que os índios da região lutavam pela demarcação e homologação de seu território, com
vitórias pontuais e muitos reveses. A Aracruz Celulose se constituía como principal opositora
sobre terras, quase que completamente tomadas pelas plantações de eucalipto para a
Neste capítulo analisaremos como seu deu o processo de demarcação das terras
indígenas até a divulgação, pelo ministro da justiça, das portarias declaratórias em 2007 e
tanto tempo, possuem uma dinâmica própria e intercalam momentos de intenso debate e
ação e outros de relativa estabilidade. Nosso estudo irá se fixar em dois desses momentos.
1983, no qual foi realizado um estudo antropológico de identificação e que dará origem á
primeira expansão das Terras Indígenas e será o principal ponto de referência para
reivindicação indígena de nova expansão de suas terras. E o período que vai de 2005 a
2007, no qual o conflito é retomado e vai permanecer intenso até a segunda expansão das
Entretanto, se esses períodos serão os que nos fixaremos mais, não deixaremos de
Federal em 1998
atuação do Estado durante o conflito, bem como a ação das diversas agências estatais
destacando as conseqüências desse processo para a situação legal das terras indígenas e
o desenrolar do conflito.
Contudo, nossa análise não se restringirá a isso. Durante a pesquisa ficou patente
que havia outros atores envolvidos no conflito que possuíam relevância. Referimo-nos às
receberam apoio em sua luta de entidades diversas. Algumas ligadas à Igreja Católica,
entidade ambientalista Rede Alerta Contra o Deserto Verde, assim como na década de 1970
destaca-se a ação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), sem falar na articulação com
outros movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
na forma de ação e até mesmo aumentaram a visibilidade do conflito. Por isso, não
Por isso, a primeira seção deste capítulo será dedicada á apresentação dos atores
2.1. Os Atores
2.1.1 – Os Tupiniquins
terras indígenas da região, haveria em Aracruz 1306 índios, distribuídos entre as Terras
Indígenas de Caieiras Velhas, Pau Brasil e Comboios. Sendo 1139 deles Tupiniquim e 167
Guarani Mbyá (residentes apenas em Caieiras Velhas). Isso significa que, nessa ocasião, os
são apenas aproximados, não foi possível encontrar estatísticas oficiais sobre o assunto. A
11.500 indivíduos, com cerca de 8500 em meio urbano, 1200 nas áreas rurais e 1800 nas
(ISA), em 1997, estima a população Tupiniquim em 1386 índios (ISA, 2002). Com base
podemos estimar que a população Tupiniquim atual gire em torno de 1300 a 1600 indivíduos
desde 815 AD (PEROTA, 1979 apud FUNAI, 1995). Essa datação foi possível a partir de
5
Cf. Enciclopédia dos Povos Indígenas. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2002.
43
presença dessa etnia no município de Aracruz há pelo menos 600 anos. (A GAZETA, 1995
comunidades tupiniquins ocupando uma “faixa de terra situada entre Camamú, na Bahia e o
rio São Mateus, no Espírito Santo”. Também há registros de presença Tupiniquim entre
Aldeia Velha (onde hoje é o município de Aracruz) teria sido fundada pelo padre Afonso
Brás e posteriormente transferida para a região do rio Piraquê-açu. A ação jesuítica tinha
por objetivo a conversão dos índios ao cristianismo, num processo de amansamento dos
religiosas é um modelo que irá permanecer, com algumas variações estratégicas, até
Tornando-se assim possuidores de direito das sesmarias. Mas, não de fato. Vânia Moreira
(2002, p. 155-156), afirma que após a expulsão dos jesuítas, até meados de 1850, a
tendência geral foi o “contínuo avanço sobre seus territórios e, por fim, a expulsão”. Esse
processo ocorre sob observância e anuência das autoridades coloniais locais: “graças ás
doações feitas pelos governadores aos seus amigos, por meio de pequenas contribuições
pagas á municipalidade para o uso de terras que os índios cediam para poderem comprar
44
aguardente; pela simples posse ilegal e (...) em virtude da distribuição oficial de sesmarias
indígena na vila. Segundo Moreira (2002, p. 156-157), chegando inclusive a ser dirigida por
um capitão indígena e a possuir um juiz também indígena. Entre 1848 e 1853 medidas
administrativa. Como era a câmara municipal, cuja maioria era indígena, que garantia a
estabilidade de situação fundiária dos índios da região, estava aberto o caminho para a
direito á terra por parte das comunidades indígenas da região. Entre 1822 e 1850 ficou
mais tarde, nesse período em que vigorou uma espécie de “vácuo” na legislação fundiária
dessa situação. Com a promulgação da lei em 1850 a compra das terras tornou-se o
Essa previsão legal serviu mais aos interesses dos posseiros não-índios da região,
do que aos próprios tupiniquins. Pois a lei de terras não previa o indigenato, ou seja, o
direito originário indígena pelos territórios tradicionalmente ocupados. Pelo contrário, a lei
o chamado direito originário e sobre as terras indígenas que possuíam títulos legítimos”.
45
Além disso, “A Lei de Terras era omissa em relação á figura do ‘índio civilizado’, isto é, nada
social dominante e que não poderiam ser (...) considerados como partes de tribos
independentes”. (MOREIRA, 2002). É nessa omissão que reside o imbróglio legal verificado
pela equipe técnica da FUNAI em relação ao direito de domínio indígena sobre as terras
reivindicadas.
reivindicação indígena estava baseada num suposto domínio territorial das terras da região
ancorada em 3 atos legais do período colonial: (1) Doação de sesmarias em 1610; (2)
imperador D. Pedro II em 1860. Porém, não teria sido possível confirmar, através de
legalmente a situação de domínio das terras reivindicadas. (FUNAI, 1995). Tal confirmação
indígenas adquiridas “por qualquer das formas de aquisição do domínio, nos termos da
daquelas áreas”. (FUNAI, 1995). Essa opção resulta do fato de que comprovar domínio
indígena de terras na região ser algo extremamente difícil tendo em vista que a legitimação
A lei de terras “impedia (...) que qualquer autoridade pública desencadeasse, por
conta própria o processo de legitimação”. Como isso geralmente não ocorria, inclusive por
46
territórios indígenas que não estivessem ocupados seriam considerados terras devolutas á
disposição da União) as terras tupiniquins do Espírito Santo em geral não lograram ser
oficialmente reconhecidas e, assim, deu ensejo para que se pudesse negar a legitimidade
Sobre essa aparente liberdade dos membros do GT para optar por caminhos
conforme demandadas pelos índios e sobre o próprio processo de identificação, seus limites
demarcação na década de 1970 e nos reestudos de 1994 e 1998. Contudo, cabe agora,
analisamos. Pois, as opções governamentais por determinada forma dos direitos indígenas
sobre suas terras, ou a ausência deles, dificultou para que mais de um século depois eles
lograssem a regulação de suas terras sob uma legislação mais favorável á suas demandas,
Em resumo, o que ainda cabe salientar nesta seção é como o processo histórico de
como custos diversos para ambos os lados, o conflito além do que seria necessário.
demarcada em 1983, e a organização social dos tupiniquins, terminou por constituir-se como
obstáculo para sua reprodução e afirmação étnica, indo de encontro com o que é
equipe técnica da FUNAI de que sua situação contrariava esse direito foram a base do
2.1.2 – Os Guarani-Mbyá
Velhas. Em 1997 havia em Caieiras Velhas, na aldeia Boa Esperança, 167 índios Guarani-
Mbyá.
“De acordo com o lingüista Aryon Dall'Igna Rodrigues, o Mbya, assim como Kaiowa e
Ñandeva são dialetos do idioma Guarani, que pertence à família Tupi-Guarani, do tronco
município de Aracruz em meados de 1960, tendo iniciado sua migração pelo sul e sudeste
do Brasil por volta dos anos 40. Essa etnia se caracteriza pelo nomadismo e por suas
chiripa, concebem em seu território de uma forma mais abrangente, chamada tekoha guasu,
baseada numa concepção religiosa do mundo. Segundo dados etnográficos, a terra Mbyá
compreenderia uma área que se estende desde o Paraguai até o norte do Espírito Santo,
48
incluindo áreas do norte da Argentina, Uruguai, Mato Grosso do Sul, toda região sul, São
Segundo Almeida, a migração Mbyá dentro do tekoha guasu está condicionada pelo
de florestas com caça e pesca, áreas para roçado, criação de animais e de suas casas,
famílias com 35 a 75 indivíduos em cada família, liderados por um tamöï (avô) ou uma jarí
(avó).
O grupo que se encontra em Aracruz foi guiado desde o Paraguai por uma kuña
karai (líder religiosa feminina) chamada Tatatï, cuja decisão de se instalar em Caieiras
Velhas teria sido fruto de uma revelação que teve durante um sonho.
O estabelecimento do grupo em Aracruz foi a última parada de uma viagem que teve
inicio no Paraguai nos anos 40, passou por Pelotas (RS), Pipiri Guasu (RS), Rio Branco
(SP), Itariri (SP), Rio Cumprido (SP), Cananéia (SP), Itatí (SP), Itinga Grande (SP), Peruibe
(SP), Santos (SP), Bertioga (SP), Boracéia (SP), Ubatuba (SP), Barra Mansa (RJ), Belo
posseiros das terras destes. Contudo, em 1972 a FUNAI transferiu a comunidade Mbyá para
uma área dos krenak, em Minas Gerais, e de lá para a chamada fazenda Guarani
(aldeamento criado pela FUNAI para recolher índios “problemáticos” de diversas etnias,
também conhecida como “presídio Guarani”). Voltando à terra Tupiniquim em 1978. Quando
retornaram a área anteriormente ocupada pelos Mbyá havia sido negociada com Aracruz
(FUNAI, 1995).
Os Mbyá não reivindicavam terras exclusivas para si. Mas apenas o aumento de
pequenas áreas dentro da terra Tupiniquim para sua própria subsistência. Esta área estaria
papeis, papeis especiais e papeis sanitários. Produzindo anualmente cerca de 2,6 milhões
de toneladas de polpa de eucalipto por ano. (NYSE, 2008). Em 2007, a empresa obteve um
lucro de cerca de 1,044 bilhão de reais em relação a 2006. (FOLHA, 2008). A composição
acionária da empresa é formada por capital público e privado, da seguinte forma: Banco
Papel – VCP (28%); Banco Safra (28%); Lorentzen Empreendimentos S.A (28%); Outros
“altamente intensiva em capital, por fabricar uma commodity global, e por concorrer em um
mercado cíclico sofrendo crescentes demandas sócio-ambientais”, além disso, “Uma das
O inicio das atividades da empresa no município de Aracruz se deu por volta de 1967
estadual, dando inicio à plantação de eucalipto. (FUNAI, 1995). A empresa afirma ter
adquirido as terras “segundo a lei, sem vícios, nem lesão a ninguém”. (ARACRUZ, 1994).
Contudo, segundo Rogério Medeiros (MEDEIROS, 1983 apud FUNAI, 1995) “o então
50
governador do Espírito Santo teria afirmado que lá não existiam índios, quando fez o
negocio. Entretanto, existiam índios (...), e a Aracruz Florestal, na verdade, teve que
envolvida em conflitos fundiários. Seja com os índios, como também com comunidades
produtores da região.
negativo que o plantio de eucalipto teria sobre o ecossistema da região. Em especial, devido
região por agrotóxico e o suposto secamento de rios e cursos d’água pelo eucalipto.
fábrica de Barra do Riacho, a Aracruz Celulose também mantém unidades em Guaíba (RS)
e Veracel (BA). Além disso, possui no Espírito Santo o Portocel, responsável pelo
Desde a primeira demanda por terra dos índios Tupiniquim, em 1975, a atitude da
acordos que a empresa firmou com a FUNAI (1983) e o Ministério Publico Federal (1998),
demanda indígena. Sempre reafirmando seu direito à posse das terras contestadas e a
Índio foi instituída com o objetivo de (1) estabelecer e garantir o cumprimento da política
indigenista; (2) gerir o patrimônio indígena; (3) promover levantamentos, analises, estudos e
pesquisas cientificas sobre o índio e os grupos sociais indígenas; (4) despertar o interesse
coletivo pela causa indigenista; (5) exercitar o poder político nas áreas reservadas e nas
Para cumprir suas funções a FUNAI está estruturada da seguinte forma: Presidência
índios do Brasil sem, contudo, representar grandes mudanças em relação a atuação deste
órgão. Até 1973, ano da promulgação do estatuto do índio, a FUNAI sequer estava
preparada institucionalmente para exercer sua função de regularizar a situação fundiária das
ação governamental instalada após o regime militar de 1964”. Ou seja, a ação da FUNAI
mais do que garantir aos índios “a posse permanente da terra que habitam e o usufruto
exclusivo dos recursos naturais” (BRASIL, 1967) estaria vinculada a uma política de fixação
muito similar ao que o SPI havia desempenhado até então. (LIMA, 1998).
indígenas, sempre esteve subordinada aos interesses da sociedade nacional e dos grandes
grupos econômicos e políticos. (ARRUTI, 1995; LIMA, 1998; PERES, 2003; PERES, 2005).
52
Contudo, a atuação da FUNAI não pode ser analisada de forma homogênea, pois o
execução das políticas voltadas para os povos indígenas, ao mesmo tempo em que se pode
verificar uma maior aproximação entre a ação da FUNAI e as demandas dos povos
indígenas.
posterior reestudo, das terras tupiniquins e Guarani no Espírito Santo. Se entre 1975 e 1983
a atuação da FUNAI neste processo pode ser caracterizada como hesitante e até mesmo
contrária aos interesses indígenas, em favor dos interesses da Aracruz, entre 2005 e 2007
a ação da FUNAI se aproxima do que determina a lei que a instituiu e durante o processo de
identificação ela atuou no sentido de sustentar sua posição a favor da expansão da terra
10.683 de 28 de maio de 2003. Segundo esta lei são competências do Ministério da Justiça:
(1) defesa da ordem jurídica, dos direitos políticos e das garantias constitucionais; (2)
política judiciária; (3) direitos dos índios; (4) entorpecentes, segurança pública, Polícias
(8) ouvidoria-geral dos índios e do consumidor; (9) ouvidoria das polícias federais; (10)
considerados em lei; (11) defesa dos bens e dos próprios da União e das entidades
demarcação: (1) Declarar, mediante portaria, os limites da terra indígena e determinar sua
ser caracterizada como um dos fatores responsáveis pela morosidade do processo. Pois,
ou ainda para a redução da área a ser demarcadas. Essa é uma constatação que já havia
definido pela constituição de 1988 como um órgão auxiliar da justiça. Segundo o artigo 129
ele é responsável por (1) Promover a ação penal pública; (2) Zelar pelo respeito dos
Poderes Públicos aos direitos assegurados pela constituição; (3) Promover inquérito civil e
ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
representação para fins de intervenção da União e dos Estados; (5) defender judicialmente
para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; (7) exercer o controle externo da
Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Militar (MPM),
seus órgãos próprios responsáveis pela organização interna das instituições e pelo
cumprimento das atribuições constitucionais. Por exemplo, em relação aos povos indígenas,
acesso à justiça no Brasil (...) e na canalização de conflitos coletivos para o âmbito judicial”.
possível graças à promulgação da Constituição de 1988. (SILVA, 2001). Isso porque o texto
dimensão coletiva“. (GRINOVER, 1994 apud ARANTES, 1999). Essa característica implica
direitos coletivos se relacionam com políticas públicas. Abrindo caminho para o que Arantes
O principal instrumento disponível para o Ministério Público para isso é a Ação Civil
Pública (ACP), definida como “ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
econômica e da economia popular”. (BRASIL, 1985). Esse tipo de ação pode ser proposta
pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela União, Estado, Distrito Federal e
associações (estas desde que cumpra os critérios definidos pela lei). Entretanto, o principal
propositor desse tipo de ação tem sido o Ministério Público, os demais entes estatais têm
figurado mais freqüentemente como réus do que como autores de ações. (ARANTES,
1999).
Além da ação civil pública, o Ministério Público tem à sua disposição outros
instrumentos para cumprir seu papel constitucional, tais como o Inquérito Civil e os Termos
num “turbilhão de conflitos coletivos, sociais e políticos”, que acabariam por ocasionar um
responsável pela elaboração de um acordo entre as partes em 1998. Também teve papel de
terminou pela condenação da mesma por racismo e pela exigência da retirada de material
publicitário que denegria a imagem dos povos indígenas. (RBJA, 2002; CARTA MAIOR,
2006).
O conflito pela definição das terras indígenas do Espírito Santo, como qualquer outro
conflito, não possui um único significado, nem uma única interpretação possível. Ele é
Aracruz) até o modo como é construído pelos grupos aliados de ambos os lados.
conflito, que não são partes interessadas na resolução, como por exemplo, os movimentos
sociais, entidades de apoio à causa indígena ou outros grupos sociais, mas que estiveram
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criada em 1972. O Conselho está
cada dois anos realiza assembléias gerais. Atualmente possui cerca de 400
católica no Brasil. A qual desde o período colonial tem se caracterizado pela tentativa
luta pelos direitos indígenas a partir dos anos 70. Foi o responsável pela organização
indígenas, motivo pelo qual sua atuação é ponto obrigatório em qualquer análise
organizada.
qual predomina os conceitos ecológicos que segundo Costa (2006, p.17) representa
quase que exclusivamente biológico e natural “na qual o homem é incorporado com
engloba uma grande gama de práticas que resultam no cultivo “de uma totalidade de
natureza”. Essa noção está intimamente ligada à noção de etnicidade ecológica, isto
é, “qualquer grupo de pessoas que deriva seu sustento da negociação cotidiana com
visto como um intruso no mundo natural, mas como um dos fatores que levam à
59
com a natureza.
procuram articular-se com os povos indígenas em suas lutas locais tendo esta
indígena é vista por elas como uma alternativa para a promoção de justiça social e o
equilíbrio ambiental.
no caso.
60
concentraremos na análise do período mais recente do conflito, entre 2005 e 2007, sem,
contudo esquecer o período anterior. Motivo pelo qual, a seção referente a este primeiro
período irá versar sobre um lapso de tempo maior que as seções subseqüentes.
783 de 1994, da FUNAI, por ocasião da elaboração do reestudo das terras Tupiniquim
delimitação de suas terras. Essa demanda tinha por base a reivindicação de domínio sobre
doação de uma sesmaria aos índios por parte de Dom Pedro II. Ou seja, a legitimidade do
domínio sobre as terras pleiteadas já teria sido reconhecido desde o século XIX.
Em 1978, a FUNAI institui um grupo de trabalho para realizar “o primeiro estudo (...)
por uma equipe da FUNAI com vistas á delimitação de uma área indígena para os
tupiniquins”. Era o GT 406/E/78. Esse estudo ficou determinado que a área ocupada pelos
(FUNAI, 1995b).
pretendiam retomar as terras ocupadas pela Aracruz Celulose. Este fato aliado ao estudo
citado, levou a FUNAI a instituir em julho de 1979 o GT 565/E/79, “para realizar a eleição de
área para a Reserva Indígena Tupiniquim (...) delimitando as áreas Caieiras Velhas, Pau
61
Brasil e Ilha de Comboios”. Tal área teria cerca de 6.500 ha e foi considerada como “o
mínimo para garantir a sobrevivência do grupo”. (FUNAI, 199b). A Aracruz Celulose reagiu a
essa proposta, alegando ser a legítima proprietária da área e acusou a FUNAI de tentar
confiscar suas terras. Apresentando à FUNAI uma proposta alternativa na qual a empresa
estabelecer uma área que a entidade considerava satisfatória para a sobrevivência das
reivindicação indígena, tal qual solicitada pelos mesmos, isso porque dentro da legislação
indigenista da época a condição indígena era vista como transitória. O próprio Estatuto do
tutelar no trato dos povos indígenas, longe de se configurar como um sujeito de direitos, os
índios estavam equiparados aos incapazes e, portanto, deveriam ser aparados pelo estado
que deveria determinar as medidas para o seu bem estar. O Estatuto é interpretado por
alguns antropólogos como “um belo exemplo de lei colonial, regulando um status social sem
que aqueles nele inseridos fossem consultados, servindo mais como instrumento de
Outro aspecto importante do Estatuto, tratado por Lima (2005, p. 55) é o uso da
noção de habitat “como o encadeador dos dois níveis (ecológico e econômico), portanto a
unidade a ser perseguida”. Na interpretação do autor, este conceito serve como forma de
indígena como análoga á preservação ambiental, ao mesmo tempo em que age para
impedir a ação política destes. E, ao delimitar arbitrariamente uma área para a fixação da
social e o modo como este povo se relaciona com seu território, o estudo de 1979 se
62
ser demarcada. Contudo, o relatório seria elaborado tendo por base as noções de “situação
atual e consenso histórico sobre a antiguidade da ocupação”. (LIMA, 2005). Lima (2005, p.
56) critica essa noção com base em dois questionamentos: (1) Como elaborar uma história
essa questão? (2) Como conciliar esse conceito numa legislação que “inclui a auto-
declarou as aldeias de Caieiras Velhas, Comboios e Pau Brasil como “áreas de ocupação
dos índios Tupiniquim), o fato é que nem o trabalho do GT, nem a Portaria lograram
delimitar a extensão da reserva indígena criada em 1983, pois a partir de 1980 iniciou-se
Aracruz se propôs a doa 800 ha, contudo a área demarcada e homologada em 1983
do Dr. Ismael Marinho Falcão, emitiu um despacho administrativo que negava qualquer
pretensão de direito dominial aos índios tupiniquins, baseado na alegação de que faltavam
posse das terras que ocupavam após a promulgação da Lei de Terras em 1850 já foi
abordado na primeira seção deste capítulo. Porém, convém lembrar que algumas
interpretações jurídicas dão conta que a expropriação ocorrida entre 1822 e 1850, e que se
intensificou após esse período, seria considerada ilegal. Na medida em que tais terras não
poderiam ser consideradas devolutas pela legislação vigente na ocasião. (MOREIRA, 2002).
terras indígenas. A empresa se defende alegando não ter adquirido quaisquer terras
(...)
do Ministério do Interior (ao qual a FUNAI estava subordinada na década de 80), levaram a
um acordo que delimitou as Terras Indígenas de Comboios, Caieiras Velhas e Pau Brasil em
1.519 ha, a segunda com 426 ha e a terceira com 2.546 ha. Totalizando os 4.491 ha citados
Com esse resultado o processo da década de 1970 terminou por criar uma situação
que os próprios autores do relatório de 1994 reconhecem como “de confinamento” e que
Dessa forma podemos, sem sombra de dúvidas, afirmar que, nesse episódio, o
Estado atuou como um ator determinante e que apesar das dúvidas quanto à legitimidade
da pretensão de ambos os lados, ele optou, arbitrariamente, por uma solução que evitasse o
todo custo” do regime militar, mas também demonstra como o Estado brasileiro,
em 1993 não trouxeram grandes melhorias na qualidade de vida dos índios Tupiniquim e
a situação dos índios da região era caracterizada por pobreza, pelas limitações impostas
pelo exíguo território demarcado à sua reprodução social, pelo que o jornal chama de
aculturação, pela falta de saneamento básico, pela má qualidade das terras e pela
GAZETA, 1993).
65
um pedido de revisão dos limites de suas terras. Tal reivindicação foi acolhida pela
Fundação, a qual constituiu em agosto de 1994 o Grupo Técnico 783. Iniciou-se assim um
tradicionalmente ocupada. Esse conceito define as terras “por eles habitadas em caráter
dos recursos ambientais necessários a seu bem estar e as necessárias à sua reprodução
física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. (BRASIL, 1988). Além disso, a
CF 88 trouxe a idéia do direito original a terra, isso significa dizer que não cabe mais ao
estado brasileiro conceder terra aos índios, mas sim regularizar um direito. O direito
possuem o mesmo direito à sua terra, ficando esta registrada sob o patrimônio da União.
(NEVES, 2004). Sobre esse direito diz Antunes (1998 apud SANTOS Fº, 2008, p. 2):
Essa formulação seria coerente com o que Santo Filho (2008, p. 2) chama de
Isso pode ser explicado pelo fato de a constituição de 1967 e o estatuto do índio de
1973 (bem como boa parte da legislação indigenista anterior) terem sido redigidas sob a
66
égide de uma política indigenista que visava não somente a pacificação do índio e sua
das terras por eles ocupadas. A condição indígena era transitória, dentro da doutrina
positivista e evolucionista da época, e deveria ser “gerenciada” pelo Estado para que a
“integração” se desse da forma mais “harmônica” possível. (LIMA. 1998; PERES, 2003).
foi analisada por muitos estudiosos brasileiros durante o século XX (vide OLIVEIRA, 1972;
RIBEIRO, 1977; GALVÃO, 1979; OLIVEIRA, 1988), sob os mais variados prismas e
inseridas em contextos históricos diversos. Contudo, o ponto em comum entre essas teorias
Essa desigualdade ora é vista como um fator que pode levar á aculturação dos povos
totalmente seu diferencial étnico (RIBEIRO, 1977)6. O ponto em comum nessas teorias é a
afasta de seu “estado original”. Essa visão é combatida por Oliveira (1988), que defende
Essa breve digressão nos auxiliar a analisar que tipos de questões novas estarão
tendência a uma atitude arbitrária por parte dos pesquisadores e dirigentes da FUNAI. No
contexto sociopolítico de 1993 essa opção está fora de cogitação. O texto constitucional, e
6
Ribeiro admite a assimilação individual, mas não a assimilação de toda uma sociedade.
67
terra estava condicionada as idéia de habitat e proteção da cultura indígena. Ou seja, o que
guiava a demarcação era o objetivo de reservar uma área que fosse o mínimo suficiente que
conta a necessidade de garantir tanto a reprodução física, quanto cultural desses povos.
mais uma concessão. Para tanto, foi instituído um processo que compreende cinco fases:
Sobre a forma atual dos relatórios de identificação, diz Chaves (2005, p. 140): “O
relatório antropológico, em certo sentido, pode ser definido como textualização da ação e
deve ser argumentativo, na medida em que é uma peça técnica que precisa ser persuasiva,
de forma a comprovar a ocupação tradicional indígena da área composta”. (grifos nossos). Essa
característica dos relatórios pode ser verificada no relatório elaborado pelo GT 783, e os
da história da ocupação indígena na região e dos conflitos em torno dessa ocupação, além
das terras. Isso está inserido no que Chaves (2005, p. 140-141) chama de dialogia do
relatório.
7
Para a descrição dessas fases, ver CHAVES, 2005.
68
papel pelo profissional da antropologia já era comum antes disso. Chaves (2005, p. 141)
salienta que apesar do grupo técnico possuir uma composição multidisciplinar, incorporando
antropológico que dará o tom do relatório, cabendo ás demais ciências o papel de auxiliares
na pesquisa. Isso explica porque é possível notar uma mudança no modo como os relatórios
são elaborados, que acompanha certas mudanças no fazer antropologia. (CHAVES, 2005).
tão criticados por aqueles que se opõem à demarcação de terras indígenas ou quilombolas
(CAMATA, 2007).
8
Apesar do Decreto 22/91 já prever a coordenação do GT por um antropólogo, o decreto 1.775 é o primeiro a qualificação em
antropologia como requisito para a coordenação e a exigir um “relatório antropológico”.
69
Para entendermos melhor essa questão passamos agora a nos basear no próprio
características do procedimento administrativo definido por esse decreto eram: (1) Exigência
Possibilidade de participação do grupo indígena “em todas as suas fases”; (3) Previsão de
emissão de portarias pelo Ministro da Justiça determinando demarcação. (4) Não previa a
análise documental e com dados advindos do depoimento dos próprios índios, num trabalho
de resgate da história oral. Nesse ponto é importante destacar que o próprio redator do
relatório admite que a pesquisa historiográfica não pode ser realizada exaustivamente. Pois
do estudo em 90 dias.
O GT faz também uma reconstrução bastante crítica do processo anterior que deu
também descrevem um ponto que nos parece importante destacar. A reivindicação inicial
dos tupiniquins fazia referência a terras dominiais (tipo de demarcação previsto no Estatuto
9
Este decreto só seria revogado em 1996 com a promulgação do Decreto 1.775.
10
Este princípio será inserido no processo com o decreto 1.775/96.
70
decreto 22 previa a revisão das terras indígenas demarcadas com base em legislação
anterior (Art. 11). (BRASIL, 1991). E essa era, portanto, a base legal sob a qual se
assentava a opção dos pesquisadores. Opção que como podemos ler no trecho citado
e redemarcação do território:
6.001, de 1973, será procedida com base nos respectivos títulos dominiais.), o
(2) Á afirmação de que as terras da Aracruz teriam sido adquiridas de forma regular
sobrevivência digna”.
Esse estudo resultou na recomendação da unificação das TI’s Caieiras Velhas e Pau
Brasil, com uma área de 14.270 ha, e a expansão da TI Comboios, com uma área de 3.800
ha, perfazendo assim 18.070 ha no total. (FUNAI, 1995). A FUNAI acolheu a recomendação
11
Conforme já explicitado no início deste capítulo.
71
justiça.
caso, pois havia uma proposta anterior (do GT 565/E/79, já citado neste capítulo)
determinando uma área menor. Apesar do GT 783/94 ter ratificado a proposta apresentada,
a FUNAI criou um novo GT (Portaria 26/98 de 06 de janeiro de 1998). Este GT foi recusado
FUNAI então criou novo GT (087/98) que acaba por corroborar a proposta do GT 783.
Paralelamente a Aracruz efetuava estudos para defender a tese de que as terras disponíveis
Por fim, o fato que acaba por prolongar o conflito por mais 9 anos, o ministro da justiça edita
as portarias 193, 194 e 195 determinando a demarcação das terras conforme a proposta do
GT 565/E/79. Ou seja, ao invés de 18.070 ha as três terras indígenas passariam a ter 7.062
ha. Isto é, 2.571 ha mais em relação á área demarcada em 1983 e 11.008 ha a menos do
que a proposta do GT 783/94. (FUNAI, 2006). Essa redemarcação não encontra respaldo na
legislação da época ou na análise dos técnicos da FUNAI, foi uma decisão pessoal do
próprio ministro, que optou por ratificar uma proposta elaborada 19 anos antes e sob
2.2.3 – O Acordo.
portarias como uma negação do que eles entendiam como seus direitos. Diante desse
impasse a Aracruz Celulose propôs um acordo. Por esse acordo os índios reconheceriam os
terras indígenas;
72
elétrica.
suplementos agrícolas.
ARACRUZ, 1999).
isto é, independe do reconhecimento pelo juiz de direito. O TAC foi instituído pela lei 7.347
de 1985 e teve sua redação alterada pela lei 8.078 de 11 de setembro de 1990. Essa lei
Segundo Rodrigues (RODRIGUES, 2002 apud ZUCARELLI, 2006, p. 11), esse tipo
de ação teria como vantagens o fato de não estar sujeito á “demora intrínseca á atividade
judicial”, servir como uma ação de execução e ainda possuir o que ele chama de eficácia
fundamental.
73
Contudo, conforme aponta Zucarelli (2006, p. 14) o TAC pode assumir o papel de
Também destacamos a análise que Andrade, Dias e Quintella (2001, p. 14) fazem
Mais ainda:
Os acordos são sempre transitórios e não eliminam totalmente os
conflitos. Eles são resultados da interpenetração de distintas racionalidades
em jogo á procura de um novo equilíbrio de forças. Os acordos fechados
entre a Aracruz e os índios não resolvem e não resolverão, em definitivo, a
disputa travada por terras. Eles somente inauguram um novo caminho
marcado pela cooperação entre mundos diferentes num contexto de conflito
de interesses. (ANDRADE, DIAS e QUINTELLA, 2001).
ocasião. A referência á análise de Zucarelli sobre os TACs foi para demonstrar como tais
acordos, movidos por uma lógica de curto prazo, acabam por atropelar as necessidades dos
transplantar para a área Tupiniquim a produção da Aracruz. Visto que as terras recém
adquiridas foram utilizadas para plantar eucalipto. Os termos do acordo valorizavam mais o
A própria FUNAI reconhece isso em despacho de 2006 (p. 3) quando afirma que “os
prejudicava.
2- Custearia 35 bolsas de estudo, por ano, para alunos indígenas em faculdades até
2018.
comunidade.
rios.
acordo pretende duas coisas (1) Inserir a comunidade indígena na lógica de produção
trabalho.
Essa lógica se afasta dos objetivos da demarcação de terras e o acordo nesse caso
seja, o exíguo espaço disponível para a reprodução da comunidade indígena dentro das
75
deste tipo de demarcação, tanto as portarias ministeriais, quanto o TAC terminam por
A relativa estabilidade alcançada pelo processo analisado até agora, não lograria
extinguir o conflito, pelo contrário, apenas o manteve latente por 3 anos. Em 2005, o
confronto entre os dois lados tornaria a ocorrer e, dessa vez, sem tréguas até a resolução
analisados acima, a retomada do conflito não era inesperada. Esta veio a ser ocorrer a partir
de fevereiro de 2005. Sete anos após a estabilidade do conflito conseguida pelo acordo.
De uma forma geral podemos dizer que o ano de 2005 marcou uma nova fase no
conflito. Não apenas por dar início a uma terceira fase manifesta do mesmo. (LITTLE, 2004),
verificar a articulação com entidades ligadas igreja católica, como o CIMI, que assessorou
sociedade civil que apoiaram a proposta de reestudo (CIMI, 1993; FUNAI, 1995). Contudo, o
que se verificou nesta nova fase do conflito foi um alargamento das articulações e uma nova
dimensão do conflito. Deixando de ser uma questão local, para se tornar uma preocupação
nacional. Que irá receber o apoio de entidades de todo o país através das redes de
Essas articulações são interpretadas por alguns autores como uma reação ás
grandes corporações para a expansão do capital, ou seja, o uso das novas tecnologias de
das “bases materiais que sustentam as ações das empresas globalizadas (...) [que] podem
servir a outros objetivos, desde que colocados a serviço de uma outra consciência e
Essas reflexões são importantes para a análise do que se segue, pois sem essas
noções não se pode perceber que longe de ser um simples conflito pela posse de terras, o
construções do mundo. No apenas no que diz respeito ao contraste entre a visão indígena e
dos recursos naturais. Não estava mais em jogo “apenas” o atendimento da reivindicação
princípios constitucionais. Mas, o conflito adquiriu a conotação de uma luta por direitos.
que se segue. Obviamente que qualquer análise desse tipo nunca irá dar conta dos
destacá-los.
12
A demarcação de das terras indígenas era interpretada por algumas entidades ambientalistas como uma vitória sobre a
monocultura de eucaliptos e a oportunidade de recomposição da mata nativa e preservação da que ainda existia.
13
A Aracruz e outras entidades a ela relacionadas interpretavam a demarcação como uma afronta ao direito da propriedade
privada e um processo de expropriação das terras da empresa.
78
afirma que a decisão de retomar suas terras teve origem em Assembléia Geral dos Povos
cerca de 350 índios, de todas as aldeias da região. Nessa nota é possível destacar alguns
elementos interessantes, que explicitam a posição dos índios e o modo como eles
reconstroem o conflito.
feita coletivamente, num processo de construção de um discurso político muito similar aos
utilizados pelas comunidades não-indígenas, o debate. Desse modo podemos verificar como
pelo associativismo indígena, como também suas estratégias de tomada de decisão e até
(...)
seguiu duas ações. Num primeiro momento os índios acionaram a Procuradoria Geral da
maio de 2005 os índios, com o apóio de diversas entidades da região e do Movimento dos
além de encaminharem ao ministro da justiça da ocasião, Márcio Thomaz Bastos, uma carta
acordo firmado em maio daquele ano. No texto da carta as portarias ministeriais são
FUNAI, 2006).
Como resultado dessas ações, a Procuradoria Geral do Estado acabou por confirmar
Silva, e o ministro da justiça uma Recomendação para que fosse decretada a nulidade das
confirmasse as conclusões dos GT 783/94 e 087/98 pela demarcação dos 18.070 ha (ou
seja, dos 11.000 ha ainda não demarcados) para as terras indígenas. Por isso, a FUNAI em
04 de novembro do mesmo ano, criou pela portaria 1.299 um novo GT para “proceder a
Esses eventos são apresentados pela Aracruz Celulose como uma invasão de terras
extrapolando suas competências acabou por “fazer um reestudo do laudo emitido em 1994,
que, ao invés de suprir as suas deficiências técnicas, acaba por perpetuar as aberrações do
e outros documentos emitidos pelos índios já são assinadas coletivamente, por uma
Comissão de Caciques. Isso denota uma opção por uma identidade coletiva mais forte,
como forma de demonstrar a unidade do movimento. Uma estratégia na luta simbólica por
caracterizados tanto pela disputa pelos recursos materiais e sua forma de apropriação
(terra para plantar eucalipto ou para reprodução social?), quanto disputa por recursos
conflito quanto o acesso ás arenas decisórias e a disputa política. Pois, irão determinar as
contexto social marcado pelo que alguns autores chamam de crise da modernidade. Isto é,
RIBEIRO, 2003).
Para a Aracruz, a perdas das terras significariam mais do que um impacto em sua cadeia de
que seu departamento de marketing tanto trabalha para consolidar. Teria impacto tanto
14
Associação Indígena Tupiniquim e Guarani (AITG) e Associação Indígena Tupiniquim de Comboios (AITC) respectivamente.
81
O segundo ponto diz respeito á diversidade das ações empregadas, nesse momento,
pelos índios. Ao mesmo tempo em que procuram legitimidade para sua demanda através do
eles se articulam com outras entidades para executar ações extra-oficiais, mas carregadas
autodemarcação que se tem registro aconteceu no Acre, na região do Alto Purus, pelos
índios kulina. Ela teria ocorrido por um entendimento dos índios que o Estado estava sendo
improvisadas por eles. O autor destaca que apesar de não reconhecida pelo Estado, a
autodemarcação kulina teve efeitos imediatos, pois “serviram para afirmar seu direito
territorial junto à população local regional, que passou a não invadir a área como até então
fazia”. Constituindo assim como uma demarcação não-oficial, mas de fato e de direito. Dois
anos depois a FUNAI oficializou a demarcação dentro dos marcos kulina. Esse processo
teria servido não apenas para marcar um território físico, mas poderíamos dizer que marcou
político e simbólico.
agricultores ligados ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), junto com outras
celulose. Além disso, a Rede Alerta Contra o Deserto Verde (rede ambientalista, sediada na
FASE-ES15, formada por mais de 100 entidades que se propõem a lutar contra a expansão
2005a e 2005b).
constrói uma perspectiva que nos possibilita entender como a autodemarcação de uma terra
indígena pode articular movimentos com objetivos distintos, quanto o movimento indígena, o
interesses conflitantes).
base) se articulam “a fim de ganhar visibilidade, produzir impacto na esfera pública e obter
construir redes de movimento com relativa autonomia”. Como conseqüência, “As redes (...)
aproximam atores sociais diversificados – dos níveis locais aos mais globais, de diferentes
adquiridas nessa articulação. Ainda não explica qual seria o ponto de apoio para a
15
Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional do Espírito Santo (FASE ES).
16
A campanha incluía o envio de cartas á Justiça Federal e á Polícia Federal tentando evitar que a ação desses órgãos
impedisse a autodemarcação.
83
indígenas ela se coloca como adversária do movimento indígena e de todos aqueles que
defendida por entidades voltadas para sua defesa e refletem o que Scherer-Warren chama
Para ilustrar essas afirmações, citamos uma nota da Rede Alerta Contra o Deserto
na mobilização pública, uma ferramenta para trazer visibilidade á suas demandas e alcançar
seus objetivos, a Aracruz Celulose optou pela instância judiciária. Através da ação de
Federal determinando a saída dos índios da área, inclusive com o uso da Polícia Federal, se
necessário. Opção que foi suspensa no dia 20 de maio pela própria Justiça Federal “a fim de
que se busque a retirada pacífica dos invasores”. (REDE ALERTA CONTRA O DESERTO
17
Há uma extensa bibliografia sobre os impactos ambientais e sociais da monocultura do eucalipto e do agronegócio. A guisa
de introdução, sugiro a leitura de SANTOS e SILVA, 2004 e ASSIS e ZUCARELLI, 2007.
84
O que nos leva a uma importante questão. Como explicar que a Justiça Federal
tenha dado uma resposta tão diversa dos demais órgãos governamentais em relação a um
das portarias de delimitação e homologação, que posteriormente seria acatada pela FUNAI,
área?
república, quanto às diversas agências de cada poder, não existe um entendimento único
ambiental em Belo Horizonte e os conflitos ocasionados por essa gestão, Costa e Braga
do município mineiro, quanto pelos diversos níveis de governo e poderes. O que significa
demandam ao Estado.
do direito brasileiro. Arantes (1999, p. 87) caracteriza nosso direito tradicional como de
conflitos nessa matriz se dão entre os direitos individuais de partes bem determinadas. O
direito público protege e media a relação entre o indivíduo e o Estado. E o direito privado
media os conflitos dos indivíduos entre si (sejam pessoas físicas ou jurídicas). Contudo os
conflitantes em disputa por direitos que a rigor não pode ser plenamente caracterizados
85
como com nenhum indivíduo. Outras vezes, como no presente caso, colocam em disputa os
jurídica. Essa situação acaba por trazer para a esfera do direito os conflitos presentes na
predominante.
Outro ponto que merece destaque nessa análise é a perene, e não resolvida,
questão da legitimidade desse tipo de ação em processos que envolvem a posse de terras e
interpretação de uma ação de reintegração de posse. Esse fato, aliado aos dois pontos
momentos do conflito.
Esta digressão tencionou analisar o motivo pelo qual a resposta do poder judiciário
momento. Tal análise é importante, pois trás á luz aspectos que são inerentes a esse tipo de
instâncias estatais envolvidas. Porém, o resultado da ação de reintegração de posse não foi
cerca de oito meses depois. Processo que apresenta novos elementos que serão
os índios iniciaram a plantação de “alimentos e árvores nativas”. Além disso, a Rede Alerta
realizou no dia 02 de junho de 2005, uma marcha em apóio demarcação. (REDE ALERTA
Essas ações denotam o claro objetivo por parte dos índios de firmar sua posição de
do eucalipto e a plantação de árvores da região. Esse processo pode ser analisado como
uma tentativa de afirmação identitária por parte dos índios. Que na medida em reconstroem
seu meio ambiente, degradado pela exploração intensiva da empresa monocultora, e suas
sua ocupação e a sua ligação cultural com o meio ambiente. Nesse sentido, meio ambiente
legitimidade num contexto social marcado pela ambientalização dos discursos e projetos19 e
Apesar de não usarem esse termo, as ações dos índios se aproximam do que
18
Segundo o relatório de reestudo da FUNAI (1994) havia na região cerca de 21 aldeias tupiniquins e 1 aldeia Guarani. No
momento da automarcação, estavam reduzidas a apenas 8. Incluindo as aldeias Guaranis de Boa Esperança e Três Palmeiras.
19
Processo discutido no primeiro capítulo.
87
simbólicas. Também é uma disputa política e, portanto, ocorre paralelamente nas arenas
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Essa ação imprime sobre o ministro grande
carga de pressão política, pois a comissão é uma das arenas legítimas para discussão do
tema e pode convocá-lo. Essa ação também significa trazer para a arena pública, a nível
nacional, um debate que de outra forma ficaria restrito ás discussões locais, a arena
aliados. Assim, o legislativo federal toma parte em um processo que a rigor não estaria em
sua alçada, mas que devido ao aspecto político da questão, torna-se um novo fator
Dentro do direito a audiência pública é vista como “um instrumento que leva a uma
decisão política ou legal com legitimidade e transparência” (SOARES, 2002). Segundo esta
legislativa, através da qual a autoridade competente abre espaço para que todas as
político do que uma consulta administrativa. Como deixa claro a fala da presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, Iriny Lopes,
20
Também chamado de Deserto Verde por militantes ambientalistas.
88
(...)
recomendações do MPF, nada disso parece ter sido suficiente para sensibilizar o ministro da
FUNAI, Mércio Pereira Gomes, para definir (...) prazos e o cronograma de retirada da
ainda permanecia. A ação teve participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
2005b).
A Aracruz mais uma vez buscou e avia judiciária e conseguiu liminar favorável á
desocupação. Os 150 índios que ocupavam a empresa saíram da fábrica 32 horas depois
de iniciado o ato. Interpretado pela empresa como “uma agressão á propriedade privada e
um desafio ao estado de direito”. Também “uma agressão direta não só a empresa, mas a
É importante destacar três pontos nesse episódio. (1) O acirramento das tensões
ocupação. Isso denota que mais do que apenas articulação visando atingir objetivos
89
oposição entre o direito coletivo dos índios e o direito privado da empresa. Nesse caso, cada
ator dialoga diretamente com o órgão estatal que considera mais sensível a seus
suas demandas.
De certa forma, ambos conseguiram o que queriam. Mas nenhum deles conseguiu
Justiça, Marcelo Behar. Dessa audiência não resultou nada de concreto para os índios em
negociação com o Governo Federal. Apesar da insatisfação dos índios, que “enfatizaram
que, mais uma vez, estavam enganados pela FUNAI e pelo Governo Federal”, ficou
acordado que uma comissão de caciques e lideranças iria a Brasília se reunir com “o corpo
jurídico do Governo Federal” para “definir as medidas necessárias para a edição, com a
VERDE, 2005e).
pela Polícia Federal, os índios se viram sob fogo cerrado de 120 policiais federais do
entre os índios e a Polícia Federal, até as 11h21min do dia 20, a edição on line do Jornal A
Gazeta informava que “não há registro de conflitos entre índios e policiais”, novo boletim do
à causa indígena” que teria havido confronto entre índios e policiais. Foi somente ás
14h51min que veio a confirmação de que pelo menos nove índios haviam ficado feridos em
confrontos com a polícia. Além disso, os agentes da Polícia Federal teriam colocado fogo
Menos cauteloso, o Jornal Século Diário foi enfático em acusar o presidente Luis
operação que resultou em violência contra os índios. Este jornal apresentava um número
diferente de feridos, um impreciso “mais de 10”, informa também que um cacique foi ferido
FUNAI foram detidos e mantidos incomunicáveis durante a operação. Não teria havido
negociação com os índios, alguns teriam sido espancados e pelo menos dois deles teriam
sido detidos.
Santo (ALEES). A Rede Alerta Contra o Deserto Verde foi mais longe e considerou o ato
Essa operação nos permite fazer duas importantes observações. (1) Destacar a
aparente contradição entre a eficiência demonstrada para cumprir a liminar judicial e destruir
as demandas indígenas. Essa diferença de celeridade pode sugerir duas coisas. Na pior das
demarcatórias de 1998, e uma opção pela postergação do conflito. Ou, numa análise mais
Até agora temos analisado todos os lances do conflito dentro a partir da retomada do
disputados. (FUNAI, 2006). Além da contestação do parecer por parte da Aracruz Celulose
(AGÊNCIA BRASIL, 2006). E a proposição na Justiça Federal, pelo MPF, de ação civil
pública com pedido de indenização por danos morais coletivos contra a União e a favor dos
índios. (REDE ALERTA CONTRA O DESERTO VERDE, 2006). Contudo, esses eventos
podem ser considerados como desdobramentos das ações analisadas anteriormente. Que
apesar de dizerem muito sobre o conflito e a dinâmica do mesmo, seus mecanismos e modo
repetiria o que já foi dito e tornaria a leitura deste trabalho mais cansativa.
Optei por analisar a seguir um fato que trouxe novas questões ao conflito e considero
identidade indígena dos tupiniquins pela Aracruz Celulose. Tratarei dela na próxima seção
deste capítulo.
92
Em 6 de setembro de 2006 teve inicio a uma polêmica que acabou por arranhar a
imagem da empresa e provocar um processo por racismo. Aos índios e aos movimentos
sociais tudo não passou de uma estratégia de difamação, á empresa foi um grande mal
entendido. O fato é que, segundo documento-denúncia divulgado pela Rede Alerta Contra o
tupiniquins. Além disso, teria sido afixados outdoors na região, veiculadas informações no
site da empresa e distribuídas cartilhas no município que incluíam esse argumento entre a
Fundação afirmava que “não são traços externos que permitem caracterizar um grupo como
que estamos tratando aqui tiveram que empreender grande esforço adaptativo para persistir
como grupos indígenas ao mesmo tempo em que se viam incorporados nos contextos locais
e regionais”.
índios já estavam integrados á sociedade muito antes de a Aracruz ter adquirido suas
parecem pequenas cidades do interior, com casas de alvenaria (algumas com antenas
(ARACRUZ, 2006).
93
chamou de “visão romântica do índio”. A cultura indígena é vista nessa visão como algo
identificado com a natureza. E subordina o direito indígena á terra á sua permanência num
artefatos técnicos e sociais, diz o argumento, os índios deixariam de possuir uma cultura
argumento da Aracruz, e sua campanha, não encontraram foi respaldo oficial a sua tese.
Não apenas a FUNAI não aceitou tal argumento na contestação, rebatendo-o publicamente,
como o MPF encaminhou no dia 23 de setembro á Justiça Federal ação pedindo a fixação
de multa para a empresa de R$ 1.000.000,00 por danos morais coletivos, além da retirada
das informações do site e das cartilhas de circulação. (CARTA MAIOR, 2006). Em dezembro
do mesmo ano a empresa seria condenada a retirar todo o material do site e das peças de
indícios de sua presença na região muito antes da chegada da empresa. Essa carta recebeu
ampla divulgação das entidades de apoio que corroboraram as afirmações presentes nelas.
Esse episódio represente um fato novo no conflito, pois pela primeira vez as
quanto a FUNAI e a Justiça Federal reconhecem a etnicidade dos tupiniquins. Mesmo que
assim não fosse, a Constituição e Convenção 169 da OIT, da qual o Brasil é signatário,
reservam aos povos indígenas e tribais a prerrogativa da auto-afirmação. O Estado não tem
Porém, se o episódio traz um fato novo á análise do conflito, não se pode dizer que o
argumento é uma novidade nos conflitos envolvendo terras indígenas. Desde a emergência
dos índios do Nordeste (ver ARRUTI, 1995; OLIVEIRA, 1999) que se discute como lidar com
94
intenso processo de fluxos culturais e já não apresentam mais sinais diacríticos ou culturais
aprece ter resolvido o problema através da auto-afirmação. Cultura e etnicidade não são
Analisando a afirmação étnica do grupo tapeba no Ceará, diz Barreto Filho (1999,
p.112):
Analisar essa questão nos possibilita verificar como as estratégias de ação dos
diversos atores sociais envolvidos num conflito desse tipo envolvem a definição de
partida para uma demanda de demarcação de terras, então é o ponto que os atores que se
opõe a demarcação tem de mais básico para questionar. Pois, negando a identidade
Como afirmei no fim da seção anterior tenho, até agora destacado e analisado os
episódios do conflito que trazem novos elementos para nosso estudo. No entanto, as ações
criminosos comuns para os quais não devemos oferecer tratamento político, mas, sim
- 17 de janeiro, índios protestam em Brasília por não terem sido recebidos pelo ministro, que
afirma que não os receberá até que sua assessoria tenha terminado de analisar o caso.
despacho sobre o caso. A posição do ministro não é bem recebida pelos índios, pois ele
determina que o processo retorne à FUNAI, para que seja reavaliado para “aprofundar
estudos com vistas a elaborar uma proposta adequada, que componha os interesses das
96
partes”. Essa decisão é interpretada como um recuo político, como uma forma encontrada
pelo ministro para se esquivar da decisão. Essa interpretação se baseia em dois fatos: (1)
durante o processo a FUNAI já havia realizado diversos estudos que apontavam no sentido
confirmaram o primeiro; (2) se a reivindicação indígena era legitima, então não haveria
significa que um novo estudo da FUNAI apenas poderia confirmar ou negar os estudos
anteriores, mas não se adequar aos interesses das partes. (CARTA MAIOR, 2007).
A resposta indígena veio no dia 3 de março, na forma de uma nota na qual os índios
DO ESPÍRITO SANTO, 2007). Posição esta corroborada por diversas instituições e pessoas
físicas que assinaram uma carta aberta de repúdio à decisão ministerial. (ABONG, et al,
2007).
O impasse criado pela decisão ministerial só seria resolvido seis meses mais tarde,
no dia 27 de agosto, quando o novo ministro Tarso Genro, faz publicar as portarias de
delimitação número 1463 e 1464, declarando os novos limites das Terras Indígenas
Tupiniquim e Comboios. Porém, até chegar a esse resultado, alguns episódios provocaram
o acirramento do conflito:
- No dia 28 de março, sete caciques foram intimados pela juíza Isabel Cristina Longuinho
impetrada pela Aracruz Celulose contra a FUNAI, que visava firmar um acordo em relação
às terras. A Aracruz impôs algumas diretrizes para o acordo. (1) O reconhecimento por
todas as partes de que não existem terras indígenas, e que as áreas ocupadas pelas
possibilidade a doação de uma área a ser definida em acordo entre a MPF, Ministério da
- No dia 23 de maio, os índios foram convocados para uma nova conciliação na Justiça
Federal de Linhares para dar seqüência à negociação do acordo. Nessa audiência, eles
optaram pelo fim das negociações no âmbito judicial por não concordarem com os termos
- No dia 21 de agosto, a Rede Alerta inicia uma campanha de cartas com o objetivo de
A edição das portarias de delimitação, não põe fim ao processo de demarcação, mas
dá início á uma nova fase. A partir dessa data a FUNAI deve fazer a demarcação física do
É também o início de uma fase delicada de negociação, pois se deve retirar todos os
Aracruz deveria ser indenizada por todo o eucalipto plantado na área delimitada.
Para dirimir essa questão e 3 de dezembro foi firmado um novo acordo entre a
empresa e os índios, intermediado pelo MPF e FUNAI. Pelo acordo a empresa teria até um
ano para retirar a madeira, em contrapartida ela “apoiaria com até R$3 milhões o
Oficialmente, o acordo foi resultado de diálogo e conciliação. Uma saída política que
ao mesmo tempo garantiu a demarcação das terras e aumentou o que a empresa chama de
Contudo, ao fim de um conflito tão extenso, cabe perguntar, saíram mesmo todos
satisfeitos?
Do ponto de vista dos índios, o resultado foi pode ser interpretado como vitória, pois
Do ponto de vista dos movimentos sociais, a demarcação abriu caminho para uma
acertos e estratégias.
Federal que pelo menos em relação ás comunidades indígenas, as terras da empresa não
que o colocava na dúbia posição de mediar interesses conflitantes que estavam minando a
sua imagem e sua legitimidade diante da sociedade civil e também dos investidores. Uma
solução que parecesse imposta, mesmo que coerente com a lei, certamente afetaria sua
Guaranis. Se há algo que é possível afirmar com certeza, é que nos conflitos que envolvem
Conclusão.
delas dizia respeito ao papel do Estado no conflito socioambiental. Com base no que foi
A primeira é que não se pode falar do papel do Estado, mas dos papeis. O Estado
não se configura, no cenário sociopolítico atual, como uma entidade coesa e coerente. As
pelos seus diferentes governos, órgãos, níveis e poderes. Quanto externamente, decorrente
uma ação dúbia. Ao mesmo tempo em que procura se esquivar do atendimento de certas
no procedimento demarcatório.
atuou no sentido de ora adiar o atendimento da demanda, ora de adequar a decisão aos
interesses dos atores sociais que se opunham á demarcação. Mesmo que tal decisão se
caracterizasse como inconstitucional ou como frágil demais para que fosse permanente.
rito administrativo e ao texto legal para que alcançasse uma estabilidade na situação
diferente daquela preconizada pela lei. Cujo custo político foi considerado alto demais em
diversos momentos.
político de adiar a decisão se tornou mais alto que o de atendê-la. Isso não significa que a
cumprimento da lei a um resultado favorável desse calculo. A lei tem eficácia que independe
entre as partes”.
referi no parágrafo anterior é fruto de dois fatores. Em primeiro lugar, das mobilizações e
favorável do Estado. Concorrem para isso estratégias e articulações que são construídas
O que nos sugere que o papel do Estado enquanto ator político ainda predomina
sobre sua função de mediador dos conflitos sociais e garantidor das determinações
constitucionais.
encarregado do julgamento das ações, representado aqui pela Justiça Federal, ele teve um
papel político no conflito. Visto que, instada a decidir sobre conflitos de direitos, a justiça
teve de agir sob o signo da discricionariedade judicial, já que a legislação poderia atender
102
tanto a demanda coletiva de um, quanto os interesses privados do outro. Com maior
freqüência a Justiça agiu atendimento dos direitos individuais em detrimento dos interesses
difusos.
Estado num conflito socioambiental são fruto das estratégias dos diversos atores
demandas sociais depende, assim, da mobilização e das articulações dos atores. Já que a
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