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nº 88 • Março de 2008

Distribuição gratuita aos sócios


STAL
Protesto
imparável

tra ba lha do res ma nife sta ram -se no dia 12, em Lisboa, contra a
Milhares de ção
em pre go pú blic o, o de sm ant elamento do Estado e a privatiza
destruição do
pú blic os. O pro tes to vai co ntin uar até à derrota dos objectivos
dos serviços
Já em Ab ril, dia s 16 e 17 , no Po rto e em Lisboa, os trabalhadores
do Governo.
nada convocada pela CGTP-IN
voltam à luta participando na jor Págs. 2-3

Presidente Vínculos,
MOVEAVEIRO
do STAL em entrevista carreiras e remunerações
Resistir e crescer A luta prossegue Uma lei devastadora
Os trabalhadores da MoveAveiro estão
No início de mais um mandato dos órgãos em luta desde há vários meses em defesa O novo regime generaliza o contrato de
nacionais, eleitos em 5 de Dezembro, o pre- da contratação colectiva, contra a privati- trabalho e aplica um vultoso conjunto de
sidente do STAL faz um breve balanço dos zação da empresa, exigindo o pagamento normas que destroem o regime de car-
últimos quatro anos e fala dos principais pontual dos salários e a conclusão de um reiras e o sistema retributivo, provocando
desafios e combates que se perspectivam no acordo que ponha termos às actuais dis- uma enorme degradação dos direitos dos
presente e futuro próximo. criminações. trabalhadores.
Págs. 7, 8 e 13 Págs. 5 Págs. 9 a 12
 jornal do STAL MARÇO 2008

Após a concentração na Praça do Comércio milhares de trabalhadores vindos de todo o país desfilaram pelas ruas de Lisboa

Manifestação Nacional juntou 10 mil em Lisboa

Ninguém calará
o nosso protesto
Com manifestações descentralizadas milhares de trabalhadores da Fun- diz o acto de promulgação e denota cista e injusta, que não respeita as
em Abril, no dia 16 no Porto e no ção Pública e enfermeiros. uma atitude irresponsável de Cava- pessoas, não valoriza o trabalho e
co Silva. De facto, como se explica não defende os serviços públicos».
dia 17 em Lisboa, o «Aviso Geral» ao Intensificar a luta que o PR tenha promulgado uma
Governo, convocado pelo Conselho lei que, segundo as suas próprias Razões acrescidas
Nacional da CGTP-IN, tem como Logo em 30 de Janeiro, em Plená- palavras, contém soluções «pouco
principais objectivos o combate rio Nacional conjunto com o STML, claras e transparentes» que «podem Em vésperas da manifestação
o sindicato definiu como principais criar dificuldades» e potenciar «si- nacional, uma delegação da Direc-
à revisão gravosa do Código do linhas reivindicativas para o sector tuações de conflitualidade no seio ção Nacional do STAL, reunida no
Trabalho e das leis laborais para a defesa dos direitos e dos serviços da Administração Pública», criando dia 7 de Março, em Lisboa, deslo-
a Administração pública, por mais públicos, a valorização dos salários mesmo condições para a corrupção
e a recuperação do poder de com- através da «excessiva e injustifica-
salários e contra precariedade. pra, o combate à destruição das da dependência da Administração
carreiras e à precariedade. Pública relativamente a grandes

A
Direcção Nacional do STAL Convictos de que através da lu- empresas privadas»?
saudou a poderosa afirma- ta «é possível derrotar a ofensiva De forma inequívoca, a resolu-
ção do protesto contra a ar- do Governo», os milhares de tra- ção aprovada na concentração da
rogância de Sócrates que, no dia balhadores em protesto vindos de Praça do Comércio afirma que «a
12 de Março, juntou em Lisboa todo o país aprovaram uma resolu- reforma da Administração Pública
mais de 10 mil trabalhadores de to- ção que repudia o recente diploma que o Governo de José Sócrates
da a Administração Local, e consi- sobre o regime de vínculos carrei- vem prosseguindo, particularmente
derou que a determinação dos tra- ras e remunerações Administração as alterações ao regime de víncu-
balhadores para a luta vai crescer Pública. los, carreiras e remunerações, põe
na mesma medida que se agrava Tal como indica o texto sindical, em causa a democracia e a funda-
a ofensiva do Governo socialista a nova lei constitui uma das peças mental imparcialidade dos serviços
contra os direitos laborais e os ser- fundamentais da estratégia do actu- do Estado, retira direitos fundamen-
viços públicos. al Governo, sustentado pelo Partido tais aos trabalhadores e aos cida-
O Sindicato saudou também a Socialista na Assembleia da Repú- dãos em geral, direitos esses que
semana de luta da Administração blica, para o desmantelamento da são uma conquista civilizacional e
Pública, na qual se inseriu a mani- Administração Pública e a entrega intrínsecos ao próprio conceito de
festação dos trabalhadores das au- de serviços públicos essenciais aos cidadania».
tarquias, bem como a de dia 8, que grandes interesses privados. Nesse sentido, o documento
juntou também em Lisboa mais de O STAL lembra que a apreciação aprovado exorta à continuação da
100 mil professores, e a dia 14 com do Presidente da República contra- luta contra «uma política economi-
MARÇO 2008 jornal do STAL 

cou-se à Secretaria de Estado da


Administração Local para entregar Editorial
uma missiva ao Secretário de Esta-

Não
do lembrando os principais proble-
mas dos trabalhadores do sector e
protestando pela sua incapacidade
de diálogo.

obrigado!
No ofício entregue, o STAL acu-
sou aquele membro do governo de
fugir sistematicamente ao diálogo e

R
recusar qualquer tipo de discussão
sobre os problemas que afectam os
trabalhadores do sector.
Nos três anos que leva como ti-
tular do cargo, o responsável pela ecentemente, numa conferência promovida
tutela da Administração Local ape- pela Fundação Mário Soares, em que se debatia o
nas efectuou duas reuniões com re- sindicalismo e participavam diversas personalida-
presentantes do STAL, não tendo des da vida portuguesa, entre quadros sindicais, a
no essencial resolvido nenhum dos demagogia e a falta de vergonha de José Sócrates
problemas colocados pelo Sindica- chegou ao rubro.
to, nem respeitado os compromis- Oca e propagandística, a intervenção do primei-
sos então assumidos. ro-ministro e secretário-geral do Partido Socialis-
O caderno reivindicativo apresen- ta centrou-se num esforço tão desmesurado quanto
tado, em 8 de Junho de 2005, foi despudorado para tentar convencer (?) os presen-
simplesmente ignorado pelo Go- tes das «boas» intenções da vergonhosa politica de
verno, bem como as suas propos- direita e de subserviência aos interesses do grande
tas designadamente sobre bom- capital adoptada pelo seu governo, lesando grave-
beiros, pessoal da protecção civil mente os interesses dos trabalhadores, das popula-
e trabalhadores das associações ções e do País.
humanitárias; sistema integrado de Embora tenha continuado a repetir vezes sem con-
avaliação (SIADAP) ou vínculos e ta que lidera um «governo de esquerda moderada,
carreiras. europeia, não dogmática e democrática» – pare-
O STAL considera que a atitude cendo seguir a velha máxima da propaganda na-
arrogante e negligente do Secretá- zi de que uma mentira repetida mil vezes torna-se
rio de Estado em relação à opinião numa inabalável verdade –, não só não convenceu
e propostas sindicais tem lesado os mais incautos como terá deixado, seguramente,
seriamente os interesses dos traba- incomodados diversos apoiantes do partido que o
lhadores e prejudicado o bom fun- sustenta.
cionamento das autarquias.

O governo de «esquerda» de José Sócrates é


Foi o que se passou, por exem- O plenário conjunto do STAL e STML, em 30 de Janeiro
plo, com a aplicação do SIADAP à
aquele que persegue de forma ignóbil os trabalha-

Conselho Geral
Administração Local, feita de forma
apressada e irracional, designada- dores da Administração Pública, que lhes impõe a
mente pela imposição de quotas, degradação do poder de compra, lhes rouba os di-
pela obrigação de as autarquias de- reitos de aposentação, lhes pretende limitar a liber-
finirem objectivos dos trabalhado- dade sindical, lhes destrói as carreiras profissionais
res em cerca de oito dias e pela ex-
tensão desse regime às freguesias,
que não tinham condições para o
aplicar de forma minimamente rigo-
marca Conferência e lhes impõe os despedimentos, a precariedade la-
boral e as quotas na classificação de serviço.
O governo de «esquerda» de José Sócrates é aque-
le que de forma irracional e desumana prossegue o
rosa e justa.
Esta situação foi de resto previa-
mente reconhecida pelo próprio se-
cretário de Estado, que se compro-
Sindical desmantelamento da administração pública e a sua
privatização, encerra escolas, maternidades, centros
de saúde e serviços de urgência por razões supos-
tamente economicistas, deixando indefesas popula-
meteu, sem nunca ter cumprido, a ções inteiras e fazendo ouvidos de mercador à cres-
tomar medidas no sentido de evitar Reunido em Lisboa, no dia 27 de Março, o Conselho Geral do STAL cente contestação popular.
a aplicação do referido regime às agendou a realização da Conferência Sindical do STAL para 6 de Ju- O governo de «esquerda» de José Sócrates é aquele
freguesias. lho, em local a anunciar, e aprovou os seus princípios orientadores. que promoveu a assinatura do «tratado de Lisboa»,
A Conferência Sindical debruçar-se-á sobre a organização sindical, versão recauchutada da amplamente reprovada
o novo panorama da Administração Pública e do Poder Local, os de- «constituição europeia», que prepara a alteração do
safios e os problemas que enfrentam os trabalhadores e o caminho código do trabalho de forma a introduzir a «flexigu-
da luta reivindicativa, estando previsto para breve a distribuição e dis- rança» no dicionário laboral português, aumentan-
cussão dos documentos em debate pelos trabalhadores. do a precariedade laboral e reduzindo direitos.
O Conselho Geral, que reuniu pela primeira vez neste mandato, O Governo de «esquerda» de José Sócrates é, afi-
aprovou também o Relatório de Actividades e as Contas do Sindica- nal, aquele que move uma ofensiva desenfreada
to do ano de 2007. contra os trabalhadores e as populações, servindo
com fervor os interesses do patronato e do grande
Aviso Geral» poder económico!
em Lisboa e no Porto
Na sequência da Moção «Compromisso de Luta Geral» aprovada no A mentira e a demagogia não nos fará retroce-
11.º Congresso da CGTP-IN e no sentido de dar uma forte resposta de der um milímetro na luta que temos levado a ca-
todos os trabalhadores às estratégias governamentais e patronais de bo e vamos intensificar! Continuaremos a exigir
rever, para pior, o código do trabalho e as leis laborais da Administra- uma verdadeira política de esquerda, que valorize
ção Publica, o Conselho Nacional da CGTP-IN, reunido em 19 de Mar- o trabalho e os trabalhadores, que respeite direitos
ço, decidiu convocar uma grande jornada de luta para o mês de Abril. e promova a recuperação do poder de compra e se-
Denominada «Aviso de Luta», a jornada de protesto decorrerá sob gurança de emprego, garanta serviços públicos de
a forma de manifestações descentralizadas, no dia 16, no Porto, on- qualidade para todos e favoreça o desenvolvimento
de participarão os trabalhadores de Coimbra e das restantes regiões económico e social.
do Norte, e no dia 17, em Lisboa, onde participam os trabalhadores Por isso, ao governo de José Sócrates e à sua políti-
das regiões a sul de Coimbra. ca de «esquerda», dizemos não obrigado!
 jornal do STAL MARÇO 2008

Consultório Jurídico Associações



✓ José Torres

Contratos a termo Humanitárias


dos Açores
Caducidade tem direitos Condições
Um dos problemas que E, no caso de sobrevir o termo da respectiva cessação, bem como

mínimas ainda
mais frequentemente do ano civil, antes de decorrido o o respectivo subsídio de férias.
prazo de seis meses anteriormen- Quanto à compensação, deter-
afectam os te referido, ou antes de gozado o mina o art. 388.º do Código do
trabalhadores direito a férias, pode o trabalhador Trabalho que a caducidade do
contratados a termo
sem regulamento
usufruí-lo até 30 de Junho do ano contrato confere ao trabalhador o
refere-se ao devido civil subsequente. Mas, nesta hipó- direito a uma compensação cor-
tese, a lei não permite o gozo, no respondente a três ou dois dias
reconhecimento dos mesmo ano civil, de um período de de retribuição base e diuturnida-
direitos decorrentes férias superior a 30 dias úteis. des por cada mês de duração do Os trabalhadores das associações humanitárias de
da caducidade Por outro lado, dispondo a lei contrato, consoante este tenha bombeiros voluntários dos Açores esperam há mais de
que o direito a férias se vence, em durado por um período que, res- um ano que o governo regional dê passos concretos
desses contratos, regra, no dia 1 de Janeiro de cada pectivamente, não exceda ou se- para a elaboração do regulamento de condições míni-
particularmente em ano, os trabalhadores acima refe- ja superior a seis meses. mas no sector.
matéria de férias ridos adquirem direito, nesse dia, Salienta-se que esta compen- Este compromisso foi assumido pelas autoridades
e de atribuição ao período normal de férias, logo sação é sempre devida caso a regionais em finais de Fevereiro de 2007, dois meses
no início do ano subsequente ao caducidade do contrato decor- depois de o STAL ter entregue uma proposta de regu-
da compensação da contratação como nos anos ra da vontade da administração lamento à Secretaria da Educação e Ciência, no segui-
legalmente prevista. posteriores, caso ainda se man- manifestada de forma explícita mento das decisões do Encontro Regional destes pro-
tenham ao serviço. ou tácita. Ou seja, se o empre- fissionais, promovido pelo Sindicato, em 10 de Maio de

O
s contratos de trabalho a Esse período é, no mínimo, gador nada fizer para renovar 2006, na cidade de Angra do Heroísmo.
termo na Administração de 22 dias úteis, a que podem o contrato, deverá compensar Reconhecendo a necessidade de regulamentar a
Pública regem-se pelo dis- acrescer, no máximo, 3 dias nos termos referidos o traba- prestação de trabalho nas associações humanitárias,
posto na Lei 23/2004, de 22/6, e, úteis, em função da respectiva lhador, como se indica num pa- o governo regional decidiu criar uma comissão técni-
em tudo o que essa Lei não preve- assiduidade. recer que sobre esta matéria ca, para a qual convocou os parceiros sociais (despa-
ja, pelo Código do Trabalho. Quanto aos trabalhadores cuja foi emitido na reunião de co- cho 24/2007).
De acordo com a legislação vi- duração total do contrato não atin- ordenação jurídica da DGAL/ Contudo, apesar de a organização sindical ter pron-
gente, os trabalhadores cuja dura- ja seis meses têm direito a gozar CCDR’s/IGAT, efectuada em tamente nomeado os seus representantes, aquele or-
ção total do contrato seja igual ou dois dias úteis por cada mês com- 15/12/2004. ganismo nunca chegou a reunir. Face ao inexplicável
superior a seis meses têm direito a pleto de duração do contrato. Assim, operando-se a caducida- atraso, a coordenadora regional da CGTP-IN, em con-
um período de férias igual ao fixado de dos contratos, os trabalhadores junto com o STAL, exigiram, através de ofício, uma in-
para os trabalhadores sem termo. Compensações devem exigir os respectivos direi- formação sobre as razões do protelamento e o rápido
Assim, no ano da contratação, previstas tos, não só respeitantes a férias, início dos trabalhos da comissão.
têm direito, após seis meses de subsídio de férias e pagamento da Recorde-se que, tal como os seus colegas no res-
execução do contrato, a gozar Se as férias não foram total ou referida compensação, mas tam- tante território nacional, os trabalhadores destas as-
dois dias úteis por cada mês de parcialmente gozadas, durante a vi- bém a totalidade ou parte do sub- sociações estão sujeitos a horários diários e semanais
duração do contrato, até ao má- gência do contrato, têm de ser obri- sídio de Natal, em função do tem- praticamente sem limites, sendo vítimas de intoleráveis
ximo de 20 dias. gatoriamente pagas, no momento po de serviço prestado. pressões por parte das entidades empregadoras que
utilizam abusivamente o seu duplo estatuto de profis-
sionais e de voluntários.
Castelo de Paiva
Subsídio de turno é devido Bombeiros de Viseu
O STAL reclamou junto do Tribunal
Administrativo de Penafiel o pagamen-
la data, a cumprir horário de traba-
lho por turno. Porém, a autarquia
na fase de audiência prévia, a au-
tarquia declarou-se pronta a abonar
Câmara paga
horas em atraso
to do subsídio de turno e do subsídio nunca pagou nenhuma das com- o subsídio de trabalho normal noc-
por trabalho normal nocturno prestado pensações previstas na lei. turno, mas incompreensivelmen-
ao longo de vários anos pelos trabalha- Em Maio daquele ano, os traba- te continuou a negar o direito dos
dores do serviço de recolha de lixo da lhadores requereram o pagamen- trabalhadores ao subsídio de turno.
Câmara de Castelo de Paiva. to do subsídio de turno, mas foram O Sindicato espera que o tribu- A Câmara de Viseu começou a liquidar, no início do
Até Março de 2006, funcionários confrontados com a recusa por par- nal delibere rapidamente a favor ano, os montantes em atraso relativos ao trabalho ex-
do quadro do município executa- te dos responsáveis municipais. dos trabalhadores, condenando a traordinário prestado por bombeiros municipais em
ram regularmente trabalho semanal Na sequência da acção adminis- Câmara e obrigando-a a pagar os dias feriados.
nocturno, passando, a partir daque- trativa interposta pelo STAL, logo montantes em falta. Na sequência de duas reuniões com o STAL, o exe-
cutivo liderado por Fernando Ruas efectuou o paga-
mento dos feriados de Outubro e Novembro de 2007,
Delegado falecido Lista em Braga tendo-se comprometido, no dia 4 de Março, a saldar
remunerações em dívida referentes aos meses de De-

José António Rocha Chaurrilha, de


elege 6 em 6 zembro último.
Os trabalhadores queixam-se do excesso de horas
55 anos, faleceu no passado dia 2 de A lista apoiada pelo STAL às Todos os seis candidatos que a de trabalho por semana, muito acima do limite legal, e
Janeiro, vítima de doença prolonga- eleições para os representantes integravam Lista A foram eleitos pe- continuam a reclamar horas extraordinárias em falta re-
da. Delegado sindical no município de dos trabalhadores para a Segu- los trabalhadores da autarquia que ferentes aos anos de 2006 e 2007.
Portel, José Chaurrilha tinha integra- rança, Higiene e Saúde no Traba- assim demonstraram a sua inteira No encontro com o STAL, o vereador responsável
do, no último mandato, os órgãos do lho do município de Braga rece- confiança nos representantes pro- pelo pessoal, comprometeu-se a analisar as carências
STAL na Direcção Regional de Évora. beu uma votação maciça no es- postos pelo STAL face aos elemen- apontadas pelo Sindicato, designadamente no que res-
À família e aos amigos, o Jornal do crutínio realizado no passado dia tos da outra lista concorrente apoia- peita à falta de efectivos e de alguns tipos de equipa-
STAL manifesta sentidas condolências 12 de Março. da pelo SINTAP. mentos, e a apresentar soluções em reunião próxima.
MARÇO 2008 jornal do STAL 

MoveAveiro
Uma luta
por condições de trabalho iguais
Os trabalhadores da no Cais da Fonte Nova, em que se
MoveAveiro estão em incorporaram solidariamente cente-
nas de populares, bem como deze-
luta desde há vários nas de representantes de diversos
meses em defesa da sindicatos da região e de direcções
contratação colectiva, regionais do STAL.
contra a privatização
Má-fé negocial
desta empresa municipal,
exigindo o pagamento As negociações do acordo de
pontual dos salários e a empresa foram iniciadas em Abril
de 2006 e decorreram com norma-
conclusão de um acordo lidade até Abril de 2007, momento
que ponha termos às em que as partes chegaram a con-
actuais discriminações. senso sobre grande parte do clau-
sulado, ficando pendentes um con-
junto de matérias com impacto eco-

E
m protesto contra o bloqueio nómico, cuja negociação foi remeti-
por parte da administração da para fase posterior.
das negociações do acordo Após meses de impasse, só em
de empresa, os 130 trabalhadores Janeiro último, já no final do pri-
da MoveAveiro iniciaram o ano com meiro período de paralisações, a
um longo calendário de acções de administração fez chegar ao Sin-
luta, em que se destacam dois pe­ dicato uma proposta, na qual in-
ríodos de duas semanas de greve troduziu alterações substanciais Eliminar discriminações mesmo dia em que a Câmara e os Centenas de
no início de cada turno, duas gre- às matérias acordadas anterior- Serviços Municipais o processam, aveirenses,
ves parciais e uma de 24 horas. Pa- mente. Uma das consequências negati- pondo termo aos sistemáticos atra- representantes
ra Abril e Maio, já estão marcadas Estas alterações foram conside- vas da transformação dos Serviços sos que se têm verificado. Os salários de sindicatos
novas paralisações caso a adminis- radas inaceitáveis pelo STAL, que de Transportes Urbanos de Aveiro de Dezembro, por exemplo, só forma e de direcções
tração não ceda. acusou o conselho de administra- (STUA/SMA) numa empresa muni- pagos em Janeiro e os de Janeiro só regionais do
Apesar dos inevitáveis incómo- ção da Moveaveiro de pôr em causa cipal - processo fortemente con- foram processados em Fevereiro. STAL juntaram-se
à manifestação
dos causados aos utentes, a sua os resultados de ano e meio de ne- testado pelos trabalhadores - foi a Revoltados com estes atrasos,
de dia 14 de
luta determinada tem vindo a ga- gociações, de não honrar os com- criação de intoleráveis discrimina- que provocam grandes dificul- Fevereiro
nhar o apoio da população, sobre- promissos que assumiu e de ter agi- ções entre trabalhadores com vín- dades no cumprimento dos seus
tudo após a autarquia ter anuncia- do com má-fé nomeadamente no culo público e vínculo privado. compromissos pessoais e fami-
do a intenção de privatizar a em- protocolo de negociação assinado Com o acordo de empresa, o Sindi- liares, os trabalhadores já realiza-
presa. em 2006. cato pretende eliminar estas diferen- ram duas concentrações de pro-
Juntando as reivindicações labo- Sem outra alternativa, os traba- ças, defendendo, designadamente, a testo frente à Câmara Municipal e
rais ao combate à privatização, os lhadores cumpriram mais duas se- uniformização do horário de trabalho estão decididos a paralisar o tra-
trabalhadores promoveram, no dia manas de greve no início de cada em 35 horas semanais. Por outro la- balho no final de cada mês sem-
14 de Fevereiro, uma manifesta- turno, entre finais de Fevereiro e o do, o Sindicato exige que a empresa pre que os salários se encontrem
ção até às instalações municipais início de Março. garanta o pagamento dos salários no atrasados.

Campanha pela água pública


Um direito não se negoceia!
O STAL, a Associação Água Pública e Por todo o lado onde os privados toma- Lima, Águas do Cavado e Águas do Ave,
a CGTP-IN lançaram durante o 11.º Con- ram conta dos serviços de distribuição de envolvendo um total de 43 municípios, o
gresso da central sindical, uma campanha água, os preços dispararam e a qualidade STAL foi recebido, no dia 10 de Março,
nacional, associada ao Dia Internacional do serviço não melhorou. A transformação pelo arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, a
da Água, contra a privatização deste bem deste serviço público essencial num negó- quem entregou um documento de sínte-
vital, que inclui um abaixo-assinado (que cio lucrativo para alguns acentuou desigual- se cobre as principais posições do Sindi-
pode ser subscrito em www.stal.pt), exi- dades no acesso à água, retirou competên- cato sobre os actuais processos de con-
gindo a manutenção dos serviços de água cias aos órgãos de poder local, empobre- centração e privatização do sector.
sob propriedade e gestão públicas. cendo a democracia, e agravou as condi- No encontro, o presidente do STAL,
Este documento dirigido aos órgãos ções de exploração dos trabalhadores. Francisco Braz, valorizou a posição da
de soberania será divulgado no âmbito Estes temas são igualmente abordados Igreja que define a água como «muito
das iniciativas de sensibilização que es- numa exposição itinerante que estará pa- mais do que uma necessidade humana»
tão a ser realizadas pela estrutura sindi- tente nos principais centros urbanos. e o seu acesso como «um direito humano
cal em vários pontos do país. básico», solicitando a atenção do prelado
Durante as próximas semanas será STAL recebido pelo para o conteúdo do abaixo-assinado que
distribuído à população um folheto des- arcebispo de Braga o Sindicato está a promover em defesa da
dobrável que aborda as consequências gestão pública da água, bem como outras
da privatização através de exemplos Com o objectivo de manifestar a sua intervenções que se revelem importantes
concretos conhecidos, quer em Portugal apreensão sobre as consequências da e contribuam para a defesa deste bem pú-
quer no estrangeiro. anunciada fusão da Águas do Minho e blico indispensável.
 jornal do STAL MARÇO 2008

Comissão Sindical questiona privatização da água em Elvas

Adjudicação suspensa
após denúncia do STAL
O processo de privatização da água
no concelho de Elvas «está ferido
de suspeição», afirma a Comissão
«Nós também
Sindical da CM de Elvas do STAL,
cujas denúncias públicas obrigaram o
pagamos
executivo a suspender a adjudicação já
depois de ter anunciado o «vencedor»
a água!»
do concurso. «Nós somos trabalhadores e mu-
nícipes. Pagamos os nossos im-

P
ouco depois das últimas elei- postos como qualquer pessoa e
ções autárquicas, a maioria também pagamos a água». Como
socialista que renovou o man- explicou Francisco Vieira, chefe
dato à frente da Câmara surpreen- de secção e membro da Comissão
deu os elvenses com o anúncio da Sindical de Elvas, o STAL opõe-se
privatização do cemitério local. firmemente à concessão não só pe-
A notícia, inédita em Portugal, los perigos que ela representa para
chegou aos órgãos de informação os trabalhadores, para os seus di-
nacionais na sequência das acções reitos e condições de trabalho, mas
de denúncia e repúdio realizadas também porque irá traduzir-se ine-
pelo STAL. Mas, apesar de «o ne- Da esquerda para a direita: Mário Ribeiro, coveiro dirigente regional e vitavelmente no aumento das taxas
membro da Comissão Sindical de Elvas; Vlademiro Lascas, fiscal municipal,
gócio da morte» ter provocado um e tarifas. Exemplos disso abundam
dirigente regional e membro da CS de Elvas; e Francisco Vieira, chefe de
sentimento de indignação geral no secção, membro da CS de Elvas por todo o País.
País, não foi a única «surpresa» que Reconhecendo que o concelho
o executivo camarário tinha reser- precisa de renovar as suas infra-
vado para este mandato. Por dois votos contra um, a co- rante a quase total passividade das estruturas de água e saneamento,
Quase em simultâneo, embora com missão considerou que nenhuma forças políticas representadas nos em especial na periferia da cidade
muito maior discrição, foi tomada a das cinco empresas concorrentes órgãos da autarquia. Como recorda onde as rupturas são constantes,
decisão de privatizar os serviços de reunia as condições necessárias à Francisco Vieira, apenas um elei- a estrutura do STAL considera que
água e preparar a abertura do con- concessão. A ser respeitado o re- to do CDS ousou colocar algumas esta situação é o resultado das op-
curso internacional de concessão. latório técnico, o processo deveria questões a este propósito na As- ções da maioria socialista, que li-
Como recorda Francisco Vieira, recomeçar do zero em busca pro- sembleia Municipal. dera a autarquia há quase década
chefe de secção e membro da Co- postas mais vantajosas. E não fosse a Comissão Sindical e meia, e não pode ser agora evo-
missão Sindical da CM de Elvas do Todavia, essa não era manifes- do STAL ter convocado uma con- cada como pretexto para a privati-
STAL, tudo foi feito na maior das tamente a intenção dos responsá- ferência de imprensa para denun- zação.
opacidades: «O assunto não foi re- veis políticos. Apressadamente, so- ciar a possibilidade de irregulari- E não é apenas a rede que ca-
ferido durante a campanha eleitoral licitaram um parecer alternativo ao dades graves, talvez as demissões rece de investimentos. O mesmo
e as decisões foram tomadas sem IRAR (Instituto Regulador de Águas na comissão tivessem passado abandono a que foi votado o ce-
discussão pública. Ninguém sabia e Resíduos), ignorando que a enti- despercebidas, assim como a cir- mitério, onde o número de traba-
de nada». dade reguladora não pode substi- cunstância de a empresa consulto- lhadores foi reduzido para meta-
Os planos da Câmara só foram re- tuir-se à Câmara na avaliação das ra escolhida pela Câmara ter par- de, é hoje sentido nos serviços de
velados numa fase avançada do pro- propostas. ticipado meses antes na conces- águas: «O sector chegou a ter 17
cesso, quando praticamente apenas Depois deste passo em falso, o são das águas do município vizinho canalizadores, hoje tem apenas oi-
faltava anunciar o vencedor da con- executivo socialista manobra de de Campo Maior. Coincidência ou to. A Câmara descura os recursos
cessão. Porém, é precisamente nes- forma ainda mais precipitada, deli- não, o facto é que também neste humanos, não substitui os apo-
ta fase que o executivo socialista se berando, sem qualquer fundamen- concurso a adjudicação foi feita à sentados por funcionários do qua-
vê confrontado com um obstáculo tação técnica, atribuir a concessão Aqualia. dro, preferindo preencher as vagas
A privatização
da água em imprevisto: a comissão de avaliação à empresa espanhola Aqualia. Exigindo o esclarecimento des- com desempregados dos centros
Elvas irá agravar de propostas, constituída por três Face às reclamações que não te tortuoso processo, o STAL de- de emprego, os chamados Poc,s
as condições técnicos superiores da autarquia, tardaram a ser apresentadas pelos safiou a autarquia a divulgar o re- [Programas ocupacionais]».
de vida da acabava de aprovar um relatório que concorrentes «vencidos», o Exe- latório da comissão, bem como as Nesta situação de precarieda-
população deitava tudo por terra. cutivo delibera contratar uma em- razões evocadas para a demissão de total, há operários e auxiliares e
presa privada para reanalisar to- de dois dos seus membros. Nas mesmo administrativos nos servi-
do o processo, pondo assim em ruas da cidade começaram a sur- ços centrais da Câmara. Os núme-
causa a idoneidade da equipa de gir faixas colocadas por activistas ros exactos não se conhecem, mas
técnicos da comissão de avalia- sindicais, condenando o «negócio segundo os cálculos da Comissão
ção e provocando a demissão do da água». Sindical, em algumas autarquias
seu presidente. Em breve, a outra Sem outra alternativa, o executivo os desempregados já representam
técnica superior que tinha apoia- socialista decide então suspender a metade dos trabalhadores.
do o relatório de avaliação iria en- concessão e abrir um processo de Defendendo a manutenção do
tregar igualmente o seu pedido de averiguações. Para além disso, can- serviço camarário de águas, o STAL
demissão. cela o contrato com a empresa con- tem vindo a intensificar a campanha
sultora. O frenético galope da priva- de sensibilização e esclarecimento
Silêncio quebrado tização foi travado pela intervenção da população, apelando para que
do STAL, a única organização que se oponha à concessão e exija uma
Estranhamente, esta sucessão de tomou posição pública contra a gestão pública responsável deste
acontecimentos desenrola-se pe- alienação das águas de Elvas. bem vital.
MARÇO 2008 jornal do STAL 

Presidente do STAL fala dos objectivos


e perspectivas da luta

Resistir
e crescer
Essas expectativas foram de-
fraudadas?
cialmente necessário, mas deixou
de ser acessível a boa parte da po-
pulação que não tem meios para
Penso que isso é uma evidência pagar os elevados preços que os
para a maioria dos trabalhadores. privados cobram.
Mas mais grave ainda é constatar- O mesmo se passa em relação
se, de forma cada vez mais gene- à água. A concentração da distri-
ralizada na sociedade, que as in- buição em alta e baixa e a sua en-
tenções e medidas do Governo de trega à Águas de Portugal têm co-
José Sócrates estão a atingir os in- mo objectivo a privatização total do
teresses das populações e dos tra- sector. É para garantir lucros aos
balhadores muito mais fundo do privados que hoje insistem na ne-
que alguma vez Durão Barroso so- cessidade de aumentar os preços
nhou. Estamos perante a mais fe- para o dobro ou triplo nos próximos
roz ofensiva contra os trabalhado- três anos.
res e os serviços públicos de que Estes projectos de «reforma» tra-

N
há memória. duzem-se na entrega de grandes
o início de mais um mandato dos órgãos Todos nos lembramos de que o fatias do Orçamento do Estado aos
nacionais, eleitos em 5 de Dezembro, o PS votou contra o Código do Tra- Belmiros de Azevedo, aos Mellos,
balho na Assembleia da República, aos Amorim, etc., que estão cada
presidente do STAL faz um breve balanço dos comprometendo-se a alterar as dis- vez mais ricos à custa da Saúde,
últimos quatro anos e fala dos principais desafios e posições mais injustas caso assu- das auto-estradas, das telecomu-
combates que se perspectivam no presente e futuro misse a governação, e hoje vemos nicações, da energia – serviços que
próximo. Consciente de que os trabalhadores da que, afinal, o projecto da maioria antes eram públicos.
socialista ainda é pior do que a lei A desregulamentação laboral in-
Administração Local continuarão a ser alvo de uma em vigor e representa um nova in- sere-se igualmente na cartilha ul-
forte ofensiva apontada contra os serviços públicos vestida contra os direitos e garan- traliberal que o Governo pretende
e contra os seus direitos, Francisco Braz sublinha tias fundamentais dos trabalhado- aplicar com prepotência. A impo-
res, pretendendo deixá-los inde- sição do contrato individual de tra-
que será preciso encontrar novas forças para resistir fesos à mercê do livre arbítrio do balho na Administração Pública é
e crescer – necessidade que deverá tornar-se na capital. um acto inqualificável e inadmissí-
principal palavra de ordem da luta. vel. Nenhum governo, tenha ou não
Quais os reais objectivos e con- maioria absoluta, pode arrogar-se o
Jornal do STAL – O mandato an- do democrático saído de Abril. O sequências da «reforma» em cur- direito de anular unilateralmente as
terior decorreu sob a governação governo entrou numa rota clara- so na Administração Pública? condições de um contrato estabe-
de duas maiorias aparentemen- mente neoliberal, assumindo co- lecido de boa-fé entre o trabalha-
te distintas: uma de direita (PSD- mo objectivo a destruição da Ad- Não temos qualquer dúvida de dor e Estado. É algo que viola as
CDS-PP) e outra de «esquerda» ministração Pública com todas que essa «reforma» visa esvaziar mais elementares noções de justiça
(PS). Que diferenças há entre a as implicações e consequências a Administração Pública seguindo e do Direito.
«reforma» da Administração Pú- para os trabalhadores e para o contornos ditados pelos interesses
blica iniciada por Durão Barro- País. do grande capital, e traduzir-se-á A luta dos trabalhadores pode-
so e as «reformas» promovidas Este foi um período de intenso a curto prazo numa concentração rá obrigar o governo a recuar?
pelo actual governo de José Só- combate social que se reflectiu na ainda maior da riqueza produzida
crates? impopularidade crescente do go- pelos portugueses nas principais A luta já impôs que o Presidente
Francisco Braz – Antes de Du- verno e culminou com a fuga de famílias económicas. da República enviasse para o Tribu-
rão Barroso, o governo de António Durão Barroso para a Comissão O governo fala de «reformas» mas nal Constitucional algumas ques-
Guterres, na sua fase final, já acu- Europeia. A luta dos trabalhado- a palavra é enganadora pois não se tões formais relacionadas com o
sava as pressões do capital, lem- res e de amplas camadas da po- trata de alterar algo que funciona diploma sobre vínculos, carreiras
bremo-nos das «50 Medidas» pa- pulação permitiu travar alguns mal no sistema. Trata-se sim de o e remunerações. No entanto, o nú-
ra a Administração Pública. Toda- dos projectos mais gravosos e desmantelar e destruir com o claro cleo central da lei mantém-se.
via, reconhecemos que durante os foi determinante para o descré- propósito de pôr em causa direitos Refiro-me à substituição do esta-
seus governos foi possível aprovar dito da maioria de direita e para fundamentais dos cidadãos, cuja tuto público pelo contrato de traba-
um conjunto de leis que, não sendo a convocação de eleições ante- garantia constitui a missão crucial e lho, à eliminação do sistema de car-
as nossas propostas, continham cipadas. insubstituível da Administração Pú- reiras ou à intenção de limitar a revi-
aspectos positivos obtidos atra- Os trabalhadores e a população blica. Não se trata portanto de uma são anual dos salários àqueles que
vés de um diálogo de facto exis- em geral exigiam uma política di- reforma mas de uma ruptura com o tiverem classificação de serviço de
tente, isto apesar de muitos com- ferente e alimentaram a expectati- Estado democrático. Bom, o que é de uma injustiça gri-
promissos nunca terem sido con- va de que isso seria possível com Quando o Governo fecha unida- tante, uma vez que o próprio siste-
cretizados. uma mudança de governo, acredi- des de saúde ou escolas públicas, ma de avaliação impõe quotas para
Seguiu-se um processo desen- tando que as promessas do Parti- assistimos à abertura de estabele- a atribuição de notas máximas, mar-
cadeado pela coligação PSD- do Socialista constituíam uma al- cimentos privados no seu lugar. Isto ginalizando à partida a maioria dos
CDS/PP que podemos qualificar ternativa às políticas desastrosas significa que o serviço antes pres- trabalhadores independentemente
já de inteira ruptura com o esta- da direita. tado pelo Estado continua a ser so- do seu desempenho profissional.
 jornal do STAL MARÇO 2008

Presidente
do STAL fala Reforçar a organ
dos objectivos Qual é o objectivo da Conferên-
cia Sindical anunciada para o pri-
e perspectivas meiro semestre?

da luta Os actuais estatutos do STAL pre-


vêem a possibilidade de realização
de uma Conferência sobre ques-
tões sindicais, de quatro em quatro
anos, recriando em moldes diferen-
tes o espaço alargado de debate
que anteriormente era preenchido
pelo Congresso.
Nesta iniciativa, que terá uma am-
pla representatividade, iremos de-
bruçarmo-nos sobre o reforço da
organização, da sua capacidade de
mobilização e acção e debater um
conjunto de orientações fundamen-
tais no plano das nossas propostas
reivindicativas.

Hoje, uma parte importante dos


associados do STAL trabalha em
empresas com estatuto privado e
o seu número tenderá a aumen-
tar. O Sindicato tem sabido adap-
tar-se a esta mudança?

As medidas tomadas no plano or-


gânico e sindical tiveram em con-
ta essa realidade e julgo que con- resses nacionais, para os trabalha-
seguimos responder aos principais dores e para a população em geral.
desafios colocados. Os processos Por último, sentimos a necessidade

Liberdade sindical
de privatização e empresarialização de abordar com alguma profundida-
obrigaram-nos a dirigir esforços de o tema do sindicalismo. Que sin-
não só para a defesa da gestão pú- dicalismo temos hoje e que sindica-

em risco
blica de serviços essenciais como lismo precisamos para melhor resistir
também para a defesa dos direitos e derrotar esta ofensiva violentíssima
dos trabalhadores contratados sob à escala europeia contra os direitos e
regime privado. conquistas sociais obtidas pelos tra-
O projecto de diploma que altera a lei pouco relevante se a compararmos com a Hoje estamos fortemente envolvi- balhadores ao longo do século XX?
sindical representa uma tentativa do go- redução do número de trabalhadores veri- dos na contratação colectiva, já te-
verno de diminuir a capacidade de inter- ficada nos últimos anos na Administração mos uma valiosa experiência na ne- As contradições na sociedade
venção dos sindicatos? Local. Nunca saiu tanta gente, uns porque gociação de acordos de empresa e são hoje mais evidentes?
se reformam e não são substituídos, outros não temos dúvidas que esta interven-
É na verdade um projecto apontado ao co- porque recorrem a licenças prolongadas ção tenderá a alargar-se o futuro. Poucos duvidarão de que a agudi-
ração das organizações sindicais, isto é, ao sem vencimento. Infelizmente, como sempre alertá- zação da luta entre o capital e o tra-
seu núcleo mais activo, à sua estrutura de diri- Ao mesmo tempo sentimos que aumen- mos, verificamos que a criação de balho é o principal traço caracteriza-
gentes que, por via da diminuição do número tou a influência do Sindicato. Durante o empresas municipais não foi mais do dor dos nossos dias. A exploração do
de representantes eleitos com direito a crédi- último mandato, o STAL foi das estrutu- que um caminho para privatização de trabalho atinge níveis nunca antes so-
tos de horas para a actividade sindical, ficaria ras sindicais que mais cresceram. Mais serviços públicos essenciais. nhados pelos arautos do capitalismo.
reduzida a uma expressão simbólica, o que de dez mil novos trabalhadores sindicali- Neste sentido, contamos realizar A concentração da riqueza e dos
tornaria, de facto, inoperantes grandes sindi- zaram-se. proximamente um seminário que meios de produção tem efeitos de-
catos nacionais como é o caso do STAL. Observamos ainda que um número será a terceira iniciativa de estudo vastadores não só para os trabalha-
A situação é tanto mais escandalosa crescente de trabalhadores tem vindo e reflexão sobre a privatização dos dores que nada mais têm do que a
quanto tem lugar precisamente pouco dias a abandonar organizações colaboracio- serviços públicos. Recordo que na sua força de trabalho, mas também
após a Greve Geral de 30 de Maio e num nistas com as políticas do governo, op- altura da nossa primeira iniciativa para outras camadas da população
momento em que os sindicatos da Admi- tando por aderir ao STAL. Esta passa- pública sobre a água, falava-se de cuja sobrevivência depende de mi-
nistração Pública lutam intensamente con- gem de sindicatos da UGT para o STAL concessão de serviços, mais tarde cro e pequenas empresas que se
tra as reformas destruidoras. Ou seja, é co- nunca foi tão visível como durante este veio o termo gestão-delegada, hoje vêem asfixiadas pelo avanço dos
mo se o Governo nos tivesse dito: se acham período. exalta-se as vantagens das chama- grande grupos monopolistas, por
que não temos razão, nós impedimo-los de Não menos importante é o facto de das parcerias público-privado. Con- exemplo, na área da distribuição
trabalhar. Trata-se portanto de uma clara sentirmos claramente uma crescente tinuam a tentar mascarar e evitar a comercial.
retaliação contra os contestam justificada- adesão dos trabalhadores às lutas e às palavra privatização, porém ela está O agravamento das condições de
mente as suas políticas anti-sociais, o que iniciativas, o que é um sinal de que não aí, com todos os seus efeitos à vis- vida e de exploração é a demons-
reflecte uma preocupante deriva autoritária só estamos a resistir como temos boas ta de todos. tração cabal da falência das teses
e prepotente do actual Governo. condições para crescer em termos de Como o ataque privatizador e re- e práticas colaboracionistas que se
sindicalização. É de resto esse o sen- dutor dos serviços públicos e dos baseiam na alegada possibilidade
O ataque à administração pública e tido para que aponta a proposta apro- direitos dos trabalhadores são ema- de conciliação entre o capital e o
a crescente hostilidade aos sindica- vada por unanimidade no Conselho Ge- nações assumidas pelas instâncias trabalho. Infelizmente, muitos sindi-
tos têm-se traduzido numa redução da ral, ao propor a sindicalização de 14 mil europeias, perspectivamos também catos de países europeus e a pró-
massa associativa? novos trabalhadores nos próximos dois realizar uma iniciativa que permita pria Confederação Europeia de Sin-
anos e meio, até ao 35.º aniversário do tornar claro os objectivos actuais da dicatos (CES) continuam a insistir
Regista-se de facto uma ligeira diminui- STAL, em Agosto de 2010. É um grande chamada construção europeia, da nesta via, fazendo vista grossa à ex-
ção no número de sindicalizados, mas é desafio que temos pela frente. sua natureza de classe e dos peri- plosão de conflitos e protestos que
gos que daí decorrem para os inte- decorrem à margem das direcções
MARÇO 2008 jornal do STAL 

Novo regime de vínculos, carreiras e remunerações

Uma lei
devastadora
Esta Lei foi precedida de um pretenso
«processo de negociação», no qual
ção por parte dos respectivos desti-
natários, potenciando situações de
conflitualidade no seio da Adminis-
dos trabalhadores quer no plano da
intervenção institucional, para exigir
a revogação desta lei.
mesmo quando essa contratação vio-
la a lei por se destinar ao exercício de
funções de natureza permanente.
o Governo evidenciou sempre tração Pública.
a sua arrogância pelo desprezo E afirma, também, que subsistem A per versão - A eliminação dos «corpos es-
que reiteradamente manifestou, dúvidas quanto à remissão para sim- do emprego peciais», a integrar nas carreiras ge-
relativamente às propostas formuladas ples portaria da regulação de maté- rais e/ou especiais e em condições a
rias de carácter inovatório e ainda A presente Lei devasta o estatuto regulamentar.
pelo STAL e pelos restantes sindicatos quanto à preferência concedida a pes- profissional dos trabalhadores, as-
da Frente Comum soas colectivas na celebração de con- sumindo particular gravidade os se- - A anunciada eliminação de um
tratos de prestação de serviços, o que guintes aspectos: elevado conjunto de car reiras,

O
pondo-se com firmeza à adul- pode implicar uma excessiva e injusti- cujo número exacto continuamos a
teração do estatuto profissio- ficada dependência da Administração - Desvir tua completamente o desconhecer.
nal da Administração Pública, Pública relativamente a grandes em- actual quadro legal, relativo à cons-
o STAL pautou a sua acção pela obsti- presas privadas. tituição, modificação e extinção da - A subordinação das progressões
nada defesa dos direitos dos trabalha- Concordando com o teor destas relação jurídica de emprego público à existência de disponibilidades or-
dores, lutando, designadamente, pela apreensões manifestadas pelo Pre- e do sistema retributivo, fundamen- çamentais e ao livre arbítrio do diri-
preservação do regime de nomeação sidente da República, as quais não talmente assente nos D. Lei 184/89, gente.
(o único adequado à Administração esgotam as preocupações com a lei, de 2/6, 427/89, de 7/12, 353-A/89,
Pública), da segurança de emprego, o STAL lamenta que o PR apenas te- de 16/10 e 404-A/98, de 18/12, entre - A perpetuação do congela-
das carreiras e das remunerações, nha suscitado a fiscalização de um outros importantes diplomas que es- mento das progressões.
reivindicando a valorização destas pequeno conjunto de questões, que ta Lei revoga.
matérias e não a sua destruição foram apreciadas pelo Tribunal Cons- - A destruição do actual regi-
Contudo, confortado pelo apoio dos titucional, deixando de fora matérias - Generaliza-se a aplicação do me retributivo, mediante a atribui-
sindicatos da FESAP/UGT e pela co- que, na opinião do Sindicato, violam contrato de trabalho, adaptado às ção de níveis remuneratórios a fixar
municação social que em regra muito gravemente a Constituição e que en- conveniências da Administração, cujo numa tabela única, que poderão ser
devotamente lhe fez o frete propagan- venenam irremediavelmente este no- desenvolvimento constará do chama- inferiores aos existentes, o que po-
dístico, o Governo entregou à Assem- vo regime. do «Regime do Contrato de Trabalho derá conduzir ao congelamento dos
bleia da República a respectiva pro- Entre estas destacam-se, em parti- em Funções Públicas» (RCTFP), es- vencimentos actuais durante um pe-
posta de Lei, cuja primeira versão foi cular, a aplicação do contrato de tra- tando, no entanto, já previstas nor- ríodo alargado.
obviamente aprovada pela maioria PS balho a todos os trabalhadores da mas que afrontam a segurança do
que o sustenta no Parlamento, com Administração Pública, incluindo os emprego, designadamente as que - A eliminação do maior núme-
os votos contra de todos os restantes da Administração Local e todo um respeitam ao regime de cessação do ro possível de suplementos ou o
grupos parlamentares. vultoso conjunto de normas que des- contrato, a aplicar aos admitidos pós congelamento dos respectivos valo-
O Presidente da República, pres- troem o regime de carreiras e o siste- 1/3/2008, especialmente mediante a res.
sionado pela luta dos trabalhado- ma retributivo e que constituem uma adopção das diversas formas de
res, solicitou a fiscalização preven- enorme degradação dos direitos dos cessação consignadas no Código - A instituição de prémios de
tiva, pelo Tribunal Constitucional, trabalhadores. do Trabalho; desempenho que poderão ser atri-
de certos preceitos da Lei, mas não Promulgado o diploma e publica- buídos ao sabor dos critérios discri-
daqueles que o STAL sempre apon- da a Lei (12-A/2008, de 27/2), muitas - Esse regime contratual (RC- cionários dos gestores.
tou serem os que mais ostensiva- matérias carecem ainda de regula- TFP) será aplicado a todos os tra-
mente violavam e violam a Lei Fun- mentação, como são os casos do cha- balhadores (e para ele transitarão - A atribuição de amplos po-
damental. mado Regime do Contrato de Traba- também os actuais nomeados), deres discricionários aos ges-
A mesma maioria da Assembleia lho em Funções Públicas (RCTFP) excepto àqueles cuja actividade se tores dos ser viços, designada-
da República que aprovou o projecto ou do regime de carreiras e remune- prende com o exercício das funções mente para efeitos de afectação de
do Governo, também votou favoravel- rações, entre outros exemplos. referidas no art. 10.º, ou seja, funções verbas orçamentais, de recr uta-
mente a segunda versão, esta expur- Tal como os restantes aspectos da de defesa do Estado, autoridade e se- mento de pessoal e/ou mudanças
gada apenas na parte em que previa a lei, estas matérias por regulamentar gurança. de posicionamento remuneratório
aplicação da Lei aos magistrados, pe- atingem profundamente os interes- e prémios.
lo que tudo o resto se manteve. ses dos trabalhadores, devendo por - É patente a destruição do regi-
isso ter sido integradas na agenda me de carreiras que, genericamen- - A incrementação da polivalên-
As «reser vas do PR das negociações com os sindicatos. te, se transformam em horizontais, cia funcional, em condições absolu-
Contudo, demonstrando a sua má- eliminando-se, na prática, o direito tamente desregradas, de que é para-
Promulgando a lei, o Presidente fé, o Governo omitiu-as intencional- de acesso por promoção. digmático o n.º 5 do art. 42.º, determi-
da República, numa nota informati- mente aos sindicatos, que ainda hoje nando que «o conteúdo funcional
va que divulgou em 20 de Feverei- não conhecem o conteúdo concreto - A transição das actuais car- das categorias superiores integra
ro passado, não deixou, no entanto, dessa regulamentação, embora se reiras será feita para outras, em sempre o das que lhe sejam infe-
de revelar o seu desconforto peran- adivinhem os seus efeitos gravosos muitos casos, manifestamente in- riores».
te o conteúdo deste novo regime, tendo em conta os princípios do diplo- feriores.
afirmando que o diploma em apreço ma em que assentará. - A asfixia da negociação e da
continua a consagrar soluções que, O STAL considera que este pro- - A continuação da contratação a contratação colectivas, limitando-as
por pouco claras e transparentes, cesso não está encerrado e tudo fará, título precário sem possibilidade de às matérias que o governo não qualifi-
podem criar dificuldades de percep- quer no plano da mobilização da luta conversão em contratos sem prazo, car como de natureza imperativa.
10 jornal do STAL/M

Novo regime de vínculos, carreiras e remunerações

LEI 12-A/2008
1 3 4
ÂMBITO VÍNCULOS CARREIRAS
DE APLICAÇÃO O art.º 9.º determina que as modalidades de O regime de carreiras vem contemplado nos art.
os 39.º a 57.º, que devem ser complementados
vinculação são a nomeação e o contrato
Do disposto nos art.os 2.º e 3.º conclui-se de trabalho em funções públicas (RCTFP), com outros preceitos, designadamente os
que este regime se aplica à Administração mas generaliza o contrato, reservando art.os 95.º e seguintes relativos às regras de
Local e a todos os seus trabalhadores o regime de nomeação a quem exerce as transição, e também com o anexo ao diploma.
seja qual for o tipo de vínculo, com as funções de defesa do Estado, autoridade As profundas alterações introduzidas
necessárias adaptações, designadamente no e segurança, referidas no art.º 10.º. são autenticamente devastadoras do
que respeita às competências, em matéria Esse regime de contrato aplica-se a actual regime de carreiras, salientando-
administrativa, dos correspondentes órgãos. todos os trabalhadores, incluindo se especialmente o seguinte:
os actuais nomeados, como decorre - O objectivo manifesto de proceder a uma
do disposto no art.º 88.º, n.º 4. drástica redução de carreiras, eliminando ou
O chamado «Regime do contrato de trabalho em reduzindo também drasticamente as categorias
funções públicas – RCTFP» terá de ser aprovado de cada uma delas, ficando desta forma muito

2
por Lei da Assembleia da República, como impõe limitado o direito de acesso por promoção.
o art.º 87.º, revestindo a forma de contrato por De facto, conforme se conclui do citado
tempo indeterminado e a termo resolutivo anexo, as carreiras gerais passam a ser:

GESTÃO
certo ou incerto, desconhecendo-se ainda - Técnico superior, com uma única
qualquer projecto relativo à sua regulamentação. categoria do mesmo nome;

DOS RECURSOS
No entanto, a Lei 12-A/2008 já contém - Assistente Técnico, com as categorias de
matéria relativa à cessação do Coordenador Técnico e de Assistente Técnico;

HUMANOS
contrato, nos seguintes termos: - Assistente Operacional, com as categorias de
Da conjugação dos art.os 33.º e 88.º, n.º 4, conclui- Encarregado Geral Operacional, Encarregado
se que para os actuais nomeados que passem ao Operacional e Assistente Operacional.
Os art.os 4.º a 7.º contêm uma série de normas regime de Contrato se mantêm as actuais causas - O acesso às categorias superiores das atrás
respeitantes à gestão de recursos humanos, de cessação da relação jurídica de emprego. referidas carreiras de Assistente Técnico e
salientando-se, designadamente, o seguinte: Quanto aos contratados após a entrada Assistente Operacional está limitado por
- Os mapas de pessoal substituem os actuais em vigor deste regime as causas de exigências de dotação que, na prática,
quadros de pessoal e contêm o número de cessação são as que constarem do RCTFP. apenas permitem esse acesso a um número
postos de trabalho de que o órgão ou serviço Porém, o citado art.º 33.º já prevê a cessão limitadíssimo de trabalhadores, como resulta
careça e são aprovados, mantidos ou alterados do contrato por tempo indeterminado em do disposto no art.os 49.º, n.os 3, 4 e 5.
pela entidade competente para a aprovação caso de despedimento colectivo ou da Assim, ao Coordenador Técnico está subjacente
da proposta de orçamento. Na alteração extinção do posto de trabalho, presumindo- a necessidade de coordenar uma secção ou, pelo
dos mapas pode ocorrer a supressão se que a essas causas acrescerão todas as menos, 10 assistentes técnicos; ao Encarregado
de postos de trabalho, fundamentada restantes, constantes do Código do Trabalho. Geral exige-se a coordenação de, pelo menos,
em reorganização do órgão ou serviço. Todavia, antes da concretização do despedimento, 3 encarregados e a estes a coordenação
- Instituem-se normas relativas à orçamentação o trabalhador pode optar por ingressar no mínima de 10 assistentes operacionais, o que
e gestão das despesas com pessoal, nas quais se regime de mobilidade especial, durante demonstra o profundo desvirtuamento
admite que as verbas orçamentadas podem o prazo de 1 ano, findo o qual será do actual regime de promoções.
não chegar para cobrir todo o tipo de despedido se, entretanto, não reiniciar - São eliminados os «corpos
encargos com pessoal, nomeadamente para funções em qualquer órgão ou serviço. especiais», como impõe o art.º 101.º.
a mudança de posicionamento (progressão). Quanto aos contratos a termo, a Evidentemente que nas referidas carreiras
- É claro o propósito de restringir respectiva regulamentação constará se integrarão múltiplas profissões, que serão
drasticamente as despesas com pessoal, também do RCTFP, presumindo-se que “adjectivadas” nos termos a regulamentar no
concedendo-se aos dirigentes máximos será um regime semelhante ao actual. diploma que vier a disciplinar esta matéria.
amplos poderes discricionários na gestão Relativamente aos contratos de prestação
das verbas que lhes forem disponibilizadas, de ser viços (art.º 35.º) fixa-se um regime a Transição
podendo, por exemplo, pôr em causa o direito que está subjacente o propósito de os reservar,
à mudanças de posições remuneratórias, em regra, a «pessoas colectivas», o que A transição das actuais para as futuras
mesmo quando os trabalhadores hajam denuncia o claro favoritismo de sociedades carreiras/categorias efectuar-se-á nos termos
preenchido todos os requisitos exigidos. privadas prestadoras destes serviços. que vierem a ser regulamentados, prevendo-
se, de uma forma muito genérica, o seguinte:
- Para a carreira técnica superior transitam
os actuais técnicos superiores e técnicos.
- Para a categoria de coordenador
técnico, da carreira de assistente técnico,
transitam os actuais chefes de secção e
coordenadores técnico-profissionais.
- Para a categoria de assistente técnico,
da carreira com o mesmo nome, transitam
MARÇO 2008 11

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os actuais assistentes administrativos, acumulado caso sofra uma avaliação negativa.
tesoureiros e técnicos profissionais. Aos trabalhadores que não tenham sido
- Para a categoria de encarregado geral, da sujeitos a avaliação (designadamente

REMUNERAÇÕES
carreira de assistente operacional, transitam os por não aplicabilidade ou não aplicação
actuais encarregados gerais do pessoal operário. efectiva da legislação correspondente), a
- Para a categoria de encarregado, da carreira mesma lei prevê que lhes seja atribuído
de assistente operacional, transitam os um ponto por cada ano não avaliado. Esta matéria vem contemplada nos art.º 66.º
actuais encarregados do pessoal operário. No entanto, por requerimento do trabalhador, e seguintes, fixando-se regras que distorcem
- Para a categoria de assistente operacional será realizada uma avaliação através de gravemente o sistema retributivo em vigor.
da carreira com o mesmo nome, transitam ponderação curricular, por avaliador designado Aliás, esta regulamentação liga-se
os trabalhadores dos três grupos das pelo dirigente máximo do serviço, no prazo indissociavelmente à das carreiras,
carreiras operárias e do grupo auxiliar. de cinco dias úteis após a comunicação da porquanto é nesta sede que têm sido fixados
atribuição dos pontos atrás referidos. os vencimentos, referenciados a índices
A ELIMINAÇÃO As menções são homologadas pelo e escalões, que determinam a evolução
DOS CORPOS ESPECIAIS dirigente máximo do serviço. nas diversas carreiras/categorias.
O actual sistema é completamente
Do disposto no art.º 101.º resulta que o De tudo isto se conclui que, como as avaliações abandonado e os seus princípios são
objectivo é eliminar os corpos especiais, mais elevadas estão sujeitas a quotas, a adulterados pela adopção de procedimentos
integrando os respectivos trabalhadores nas esmagadora maioria dos trabalhadores apenas que põem em causa os interesses dos
carreiras de regime especial ou nas carreiras poderá amealhar um ponto por ano, necessitando trabalhadores, designadamente:
gerais, nos termos da revisão que nesta matéria de dez anos, a contar de 2004, para atingir - A identificação dos níveis remuneratórios
se prevê, a efectuar no prazo de 180 dias. o direito irrevogável à progressão. Ou seja, correspondentes às posições remuneratórias
terá de esperar até 2014, isto se entretanto das categorias, bem como aos cargos
O POSICIONAMENTO não tiver nenhuma avaliação negativa. exercidos em comissão de serviço, é
REMUNERATÓRIO efectuada por decreto regulamentar.
FUNÇÕES DAS DIVERSAS - O número de níveis remuneratórios e o
Os procedimentos respeitantes ao número CARREIRAS/CATEGORIAS montante pecuniário correspondente a cada
de posições remuneratórias mínimas um (art.º 68.º, n.º 2) é fixado em portaria
em cada categoria e à alteração do Os preceitos reguladores desta matéria inspiram- conjunta do Primeiro-Ministro e do membro do
posicionamento remuneratório (requisitos se no propósito de incrementar a mais Governo responsável pela área das finanças.
exigíveis, critérios de gestão e as excepções) desregrada polivalência funcional, como Nos termos do mapa anexo à presente
são determinados pelos art.os 45.º a 48.º. claramente se conclui do disposto nos art.os Lei, conclui-se, desde já, que:
O art.º 46.º confere aos gestores amplos 42.º a 44.º, bem como da descrição de funções - A carreira de Técnico Superior, de categoria
e discricionários poderes na afectação de constante do mapa anexo à presente Lei. única, terá 14 posições remuneratórias;
verbas (se delas dispuserem) a encargos com Assim, sublinha-se o estatuído no art.º 43.º, - A categoria de Coordenador Técnico,
mudanças do posicionamento remuneratório dos n.º 3, determinando que a descrição do da carreira de Assistente Técnico,
trabalhadores. Dessa e de outras disposições conteúdo funcional não pode, em caso terá 4 posições remuneratórias;
resulta a inexorável conclusão de que aos algum, constituir fundamento para o não - A categoria de Assistente Técnico, da
trabalhadores não basta preencherem cumprimento do dever de obediência e carreira com o mesmo nome, integrará
determinados requisitos, é também não prejudica a atribuição ao trabalhador de 9 posições remuneratórias;
necessário (excepto na situação abaixo funções, não expressamente mencionadas, que - A categoria de Encarregado Geral
referida) que haja verbas disponíveis e que lhe sejam afins ou funcionalmente ligadas. Operacional, da carreira de Assistente
os gestores entendam afectá-las a este fim. Porém, mais grave ainda, é o disposto no Operacional, terá 2 posições remuneratórias;
A alteração do posicionamento art.º 42.º, n.º 5, impondo taxativamente - A categoria de Encarregado Operacional,
remuneratório (vulgo progressão), definida no que «o conteúdo funcional das da carreira de Assistente Operacional,
art.o 47.º, é condicionada às últimas avaliações categorias superiores integra sempre terá 5 posições remuneratórias;
de desempenho, nas quais o trabalhador deve o das que lhe sejam inferiores». - A categoria de Assistente Operacional,
obter uma das seguintes classificações: Esta inadmissível disposição permite que da carreira com o mesmo nome, terá
- Duas menções máximas consecutivas; qualquer trabalhador da categoria mais 8 posições remuneratórias.
- Três menções consecutivas elevada de determinada carreira possa ser Às componentes da remuneração acrescentam-
imediatamente inferiores às máximas: obrigado a exercer funções de qualquer se os prémios de desempenho, cuja
- Cinco menções imediatamente inferiores às outra categoria inferior. Por exemplo, um regulamentação (art.os 74.º e 75.º) faz
últimas atrás referidas, desde que positivas. Encarregado Geral Operacional poderá vir depender a sua atribuição da obtenção das
Pare este efeito relevam as avaliações obtidas a exercer funções meramente executivas da menções mais elevadas na avaliação do
após 2004, no âmbito do SIADAP, devendo categoria-base (Assistente Operacional). desempenho, bem como do critério dos
também incluir-se as que foram atribuídas gestores relativamente à disponibilização de
na Administração Local após essa data, ainda A MOBILIDADE verbas orçamentais a afectar a esse fim.
que ao abrigo do anterior regime, por força Trata-se de uma componente retributiva cuja
do estatuído na Lei 15/2006 (art.º 113.º). Em matéria de mobilidade destaca-se o disposto atribuição constitui uma fonte de perturbação
Embora as situações referidas estejam nos art.os 58.º a 65.º, instituindo alterações radicais e discriminação dos trabalhadores,
condicionadas pela disponibilização de verbas, com o óbvio propósito de flexibilizar a gestão, privilegiando uns, em detrimento de outros,
as progressões só se tornam obrigatórias através da redução de direitos e do aumento de sem obedecer a regras pré-estabelecidas.
quando o trabalhador adquirir dez pontos situações de polivalência geográfica e funcional. Continuando-se a prever os suplementos
(em geral só após dez anos), de acordo remuneratórios, a verdade é que o art.º 112.
com a regra estabelecida (art.º 47.º e 113.º), º determina que aqueles que tenham sido
que prevê a concessão de três pontos por criados por lei especial são revistos no
cada avaliação máxima e o mínimo de um prazo de 180 dias, por forma a que:
ponto para a mais baixa, desde que positiva, a) Sejam mantidos, total ou parcialmente,
podendo o trabalhador ser penalizado com um como suplementos remuneratórios;
«crédito negativo» ou a perda de um ponto já b) Sejam integrados, total ou parcialmente,
12 jornal do STAL MARÇO 2008

Novo regime de vínculos, carreiras e remunerações

7
na remuneração base; Desta formulação, decorrerão, assim,
c) Deixem de ser auferidos. inevitavelmente, grosseiras desvalorizações
Fica assim completamente denunciado o das posições actualmente detidas
propósito de os eliminar, congelar ou pelos trabalhadores nas carreiras/
reduzir o mais possível, com a consequente categorias em que estão integrados ENTRADA
e das respectivas remunerações.
EM VIGOR
redução da retribuição dos trabalhadores.
Recorde-se ainda que apesar de o Governo ter

E PRODUÇÃO
assumido o compromisso na AR de regulamentar

6
o Suplemento de Insalubridade, Penosidade

DE EFEITOS
e Risco em simultâneo com a presente lei, até
hoje nenhum passo foi dado nesse sentido.

APLICAÇÃO
É prevista a instituição de uma tabela
única (art.º 68.º, n.º 1), a constar de Portaria, Apesar de esta Lei ter entrado em vigor em

DOS NOVOS
contendo a totalidade dos níveis remuneratórios 1/3/2008 a maior parte das alterações que
susceptíveis de serem utilizados na fixação introduz tem de ser ainda regulamentada,

REGIMES
da remuneração base dos trabalhadores. nomeadamente a que respeita a carreiras
É essa tabela única que irá determinar e remunerações, pelo que, por enquanto,
o valor dos vencimentos, tendo de ser permanecem em vigor as normas
conjugada com as posições remuneratórias Do disposto no art.º 117.º salienta-se o seguinte: legais que vêm sendo aplicadas.
estabelecidas para as diversas carreiras/ - A partir de 1/3/2008, data da entrada em A regulamentação do Regime do Contrato
categorias que estiverem em causa. vigor da presente Lei, as relações jurídicas de de Trabalho em Funções Públicas será
Esta matéria está assim intimamente conexionada emprego público constituem-se por contrato de efectuada por Lei a aprovar pela Assembleia da
com a respeitante a carreiras, porquanto a trabalho, nos termos da Lei 23/2004, de 22/6, República, não estando fixado qualquer prazo.
análise concreta do sistema remuneratório só excepto se estiver em causa o exercício das A regulamentação por Decreto-Lei,
pode ser devidamente efectuada em face do funções previstas no art.º9.º, 4, a) e no art.º 10.º, no prazo de 180 dias, está prevista
conhecimento das posições remuneratórias a desempenhar sob o regime de comissão de para as seguintes matérias:
fixadas para as carreiras e categorias. serviço, ou de nomeação, respectivamente. - Regime de carreiras e respectiva transição;
Por outro lado, as perversões decorrentes - Os contratos de trabalho são celebrados - Revisão das carreiras especiais
deste novo regime também só podem ser para as carreiras, categorias e posições e corpos especiais;
exaustivamente avaliadas perante o conhecimento remuneratórias de ingresso previstas na - Revisão dos suplementos remuneratórios;
concreto da forma como se efectuarem as lei, em regulamento ou em instrumento de - Carreiras subsistentes (ex-residuais);
transições do actual para esse novo regime. regulamentação colectiva de trabalho. - Cargos a exercer em comissão de serviço;
- As alterações de posicionamento A identificação dos níveis remuneratórios
AS TRANSIÇÕES remuneratório obedecem ao disposto correspondentes às posições remuneratórias
E O POSICIONAMENTO neste diploma, designadamente das categorias e dos cargos exercidos em
REMUNERATÓRIO nos art.os 46.º a 48.º e 113.º. comissão de serviço será regulamentada
- Os quadros de pessoal convertem- por Decreto Regulamentar:
Na transição para as novas carreiras e categorias, se em mapas de pessoal e os lugares Por fim a tabela de vencimentos, a tramitação de
a regra geral (art.º 104.º, n.º 1) determina dos quadros em postos de trabalho; concursos e a cessação da nomeação por mútuo
que os trabalhadores são reposicionados - Os serviços que não disponham de quadros acordo constituem matéria a aprovar por Portaria.
em posição remuneratória com montante de pessoal devem elaborar mapas, de Entretanto, o projecto de Decreto Regulamentar
pecuniário idêntico ao da remuneração acordo com o estabelecido no art.º 5.º. sobre a chamada «Tabela única de vencimentos»,
base actual, incluindo adicionais e diferenciais Os concursos de recrutamento e bem como as posições remuneratórias das
de integração eventualmente devidos. selecção de pessoal (art.º 110.º) estão diversas carreiras/categorias de regime
Em caso de falta de identidade, os salvaguardados nos dois casos seguintes: geral já divulgados revelam o propósito
trabalhadores são reposicionados em - Se concluídos e válidos à data de nítido do Governo de desvalorizar o sistema
posição automaticamente criada (n.º 2 entrada em vigor do RCTFP. retributivo da Administração Pública.
desse normativo), mantendo o direito à - Se pendentes à data da entrada em Este é pois um sinal evidente de que,
remuneração base actual (n.º 3 do citado vigor do RCTFP, desde que tenham sido com a regulamentação da Lei 12-A/2008,
normativo), bem como à percentagem abertos antes da entrada em vigor da de 27/2, o Governo irá prosseguir a sua
de actualização resultante da negociação presente Lei, isto é, antes de 1/3/2008. política de destruição da Administração
colectiva anual (n.º 4 do art.º 68.º), mas já Em ambas as situações, as relações jurídicas Pública e dos direitos dos trabalhadores.
não aos «adicionais e diferenciais de decorrentes desses concursos constituem-se com
integração» previstos no n.º 1, pelo que observância das regras previstas neste diploma.
não é garantida a remuneração total. Por outro lado, o n.º 3 do citado art.º 110.
Para além disso, a lei estipula ainda nestes º determina a caducidade dos restantes
casos que a contagem do tempo de serviço concursos, isto é de todos os que estejam
para efeitos de progressão tem início no pendentes à data da entrada em vigor do
momento de entrada em vigor do novo RCTFP, desde que tenham sido abertos
regime (RCTFP), independentemente posteriormente à data da entrada em
da antiguidade do trabalhador. vigor desta Lei, isto é, após 1/3/2008.
Por outras palavras, o trabalhador pode não
só perder parte da sua remuneração, como Neste contexto, podem e devem continuar
ficar com a carreira congelada até «ulterior a ser abertos concursos, após 1/3/2008,
alteração do posicionamento remuneratório, quer de ingresso, quer de acesso. A questão
da carreira ou categoria» (n.º4 do art.º 104). é que têm de estar completados antes da
Mas essa «ulterior alteração» pode demorar entrada em vigor do chamado RCTFP, que
anos ou até nunca ocorrer, se tivermos há-se ser aprovado pela A. República mas de
em conta as regras extremamente restritivas que ainda não existe qualquer anteprojecto.
que regem as carreiras atrás referidas.
MARÇO 2008 jornal do STAL 13

nização e a luta «Instabilidade


de emprego afecta-nos
a todos»
Se o novo regime for aplicado haverá no fu- A transição para este sistema irá provocar
turo trabalhadores de primeira e de segunda? reduções remuneratórias e grandes injusti-
ças, desde já porque não está previsto ne-
O projecto do Governo é muito claro em rela- nhum tipo de diuturnidades. Depois, embo-
ção a essa questão. Todos os que forem admi- ra se diga que é garantido salário idêntico no
tidos a partir da entrada em vigor do novo regi- momento da transição, o facto é que o ven-
me terão contrato individual de trabalho, com ou cimento permanecerá congelado enquanto o
sem prazo. E todos os actuais funcionários serão seu valor estiver desenquadrado com o novo
transferidos para o contrato de trabalho da Ad- índice em que o trabalhador é colocado.
ministração Pública, que será tendencialmente Assim, para além dos demais prejuízos,
igual às novas disposições do Código do Traba- a destruição do sistema de carreiras resul-
lho, como já afirmou o secretário de Estado. tará no congelamento por vários anos dos
Se até agora ainda não foi divulgado o pro- salários de muitos trabalhadores. Este é o
jecto de contrato de trabalho é simplesmente plano Governo. Mas nós estamos cá e ire-
porque o Governo aguarda a aprovação das mos mobilizar todas as nossas forças para
alterações que vão agravar o Código do Tra- combater e impedir a concretização destes
balho. Isto significa que, em termos de víncu- objectivos.
lo, não haverá praticamente diferenças entre
antigos e novos trabalhadores.
No campo dos direitos e garantias as diferen-
ças também serão pouco significativas, incidin-
do essencialmente sobre a aposentação e AD-
SE. A instabilidade de emprego afectará todos
os trabalhadores. A qualquer momento pode-
mos ser colocados no quadro da mobilidade.
sindicais e, nalguns casos, contra a geral ao chamado «Tratado de Lis- A desregulamentação vai ao ponto de o
sua vontade. boa», o qual não é mais do que a re- Governo ter previsto a contratação de traba-
A este propósito foi sintomático petição do projecto de «constituição lhadores com salários diferentes para o de-
que, em 18 de Outubro, os represen- europeia» já chumbado pelos povos sempenho de funções idênticas, o que é ma-
tantes da CES tivessem preferido es- da França e da Holanda. nifestamente inconstitucional.
tar ao lado dos patrões, que acom- Podemos dizer que a luta de clas- Em paralelo, é sua intenção destruir por
panharam a cimeira europeia, do que ses nunca foi tão actual como hoje. completo o actual sistema de carreiras, redu-
juntar-se à manifestação de mais de Por isso, a compreensão de todo zindo-o a três grupos socioprofissionais: téc-
200 mil trabalhadores. De igual for- o seu significado e alcance é uma nicos superiores, técnicos-profissionais e um
ma, já o expressámos publicamente, condição necessária ao desenvolvi- terceiro grupo que abrange sem distinção to-
consideramos inaceitável a posição mento, ampliação e reforço da luta dos os restantes trabalhadores, desde operá-
favorável da CES e do seu secretário- dos trabalhadores contra o capital. rios e auxiliares a administrativos.

Uma prova de confiança


O último acto eleitoral para os que alcançou na Administração Lo- Contudo, apesar das dificuldades e
órgãos nacionais e regionais de- cal uma das mais elevadas adesões insuficiências, nas eleições do STAL A manutenção do vínculo público é es-
correu num período marcado por de sempre. registou-se uma elevada participação sencial para o Sindicato?
intensas lutas e grandes movi- É claro que, neste quadro, os prin- que rondou os 50 por cento, o que
mentações de trabalhadores. Esse cipais esforços da estrutura sindical traduz uma profunda compreensão Entendemos que nada pode substituir o vín-
contexto prejudicou o processo de se concentraram prioritariamente nas e consciência da importância que os culo público. As funções são públicas e devem
renovação das estruturas dirigen- acções de luta com prejuízo de uma trabalhadores atribuem ao seu envol- ser prestadas em condições de igualdade a to-
tes do Sindicato? preparação mais cuidada do pro- vimento na vida do Sindicato. dos os cidadãos. A única forma de o garantir é
De facto, temos vivido ultimamen- cesso eleitoral, que exigia certamen- Acrescento ainda que mais de 95 através de um estatuto que obriga o trabalha-
te momentos particularmente difíceis te uma discussão mais ampla das por cento dos votantes expressaram a dor ao seu estrito cumprimento, protegendo-o
para todos os trabalhadores da Ad- questões do Sindicato, das diferen- sua confiança na Lista A, a única con- ao mesmo tempo de eventuais pressões exer-
ministração Pública central e local. tes propostas para o reforço da sua corrente aos órgãos nacionais*. Sabe- cidas por superiores ou dirigentes políticos.
O final do ano, quando decorreram organização e intervenção. mos que as eleições com lista única A necessidade do vínculo público, com di-
as eleições no STAL, foi um desses Por outro lado, atravessamos um são um factor desmotivante para al- reitos e obrigações distintos do vínculo pri-
momentos. Na Assembleia da Re- período de grande incerteza. Já to- guns trabalhadores que dão o resul- vado, é determinada pela natureza específica
pública preparava-se a alteração da dos percebemos que o Governo tado como garantido à partida e des- das funções e objectivos do serviço público
legislação sobre vínculos, carreiras quer arrasar os direitos dos traba- valorizam o significado do seu voto. em contraposição com as actividades e inte-
e remunerações. O País tinha aca- lhadores e subverter a natureza dos De resto, verificou-se que em Viseu e resses privados.
bado de assistir, em 18 de Outubro, serviços públicos, mas ninguém sa- Évora, onde foram apresentadas duas Por isso, continuaremos a defender firme-
a uma das maiores, se não mesmo be em concreto o que é que vai sair listas para os órgãos regionais, a par- mente o vínculo público, mas isso não signi-
à maior manifestação jamais realiza- deste amontoado de projectos de di- ticipação subiu substancialmente. fica que nos alheamos do processo em cur-
da em Portugal de todos os sectores ploma. Qual o alcance exacto deste _______ so, muito pelo contrário, estamos disponíveis
de actividade, na qual os trabalhado- turbilhão legislativo que ameaça não * Resultados da eleição para os órgãos na- para negociar com o Governo, com a Asso-
res da Administração Local tiveram deixar pedra sobre pedra? As pre- cionais: Em 53 145 inscritos, votaram 26 460 ciação de Municípios ou caso a caso com as
(49,8%), dos quais 25 235 (95%) foram expres-
uma grande participação. Em 30 de ocupações nos locais de trabalho autarquias. A experiência anterior mostra-nos
sos na Lista A. Foram ainda registados 1113 votos
Novembro tivemos uma greve nacio- concentram-se naturalmente nestas brancos (4,2%), 112 votos nulos (0,4%), abstive- que o diálogo com a Associação de Municí-
nal de toda a Administração Pública, questões. ram-se 26 685 associados (50,2%). pios pode ser mais útil e frutífero para ambas
as partes.
14 jornal do STAL MARÇO 2008

Cabaz de compras desfasado da realidade


Estatísticas oficiais
ocultam inflação real
Não é segredo para ninguém que o Quadro 1 - Estrutura e variação do IPC por classes entre 2002-2007
actual Governo, à semelhança dos Estrutura
Aumento
seus antecessores, tem manipulado Classes, grupos e subgrupos 2002 2003 2004 2005 2006 2007 no
do IPC
período
as previsões da inflação para impor
Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas 190,9 1.5 2.6 1.1 -0.6 2.5 2.4 9.8
sucessivas reduções salariais, em Bebidas alcoólicas e tabaco 31,1 4.8 4.6 3.0 4.8 9.4 4.9 35.3
particular aos trabalhadores da Vestuário e calçado 67,4 2.5 1.3 -1.1 -1.1 0.5 2.2 4.3
administração pública. Mas para Habitação, água, electricidade,
além disso, o próprio cálculo da 103,4 2.9 4.0 3.0 4.4 3.9 3.6 23.9
gás e outros combustíveis
inflação anual está a ser falseado Acessórios, equip. doméstico e
77,9 3.2 2.6 1.6 1.3 1.1 1.6 11.9
pelos organismos oficiais através manut. cor. da habitação
da utilização de dados e critérios Saúde 53,5 4.8 1.9 1.7 0.9 1.0 7.4 18.9
desactualizados. Transportes 203,5 5.0 4.3 3.5 5.8 5.8 1.6 28.9
Comunicações 30,4 0.8 -1.3 -1.0 -0.2 -0.9 -1.8 -4.3

U
m estudo do economista Jo- Lazer, recreação e cultura 48,6 2.2 1.7 2.8 1.6 1.2 0.3 10.2
sé Alberto Lourenço, a publi- Educação 17,5 5.8 5.6 9.3 7.0 5.5 3.7 42.5
car brevemente no Boletim do
STAL, conclui que o cabaz de com- Restaurantes e hotéis 112,2 5.7 5.7 4.6 2.4 2.3 2.6 25.6
pras, que serve de base ao cálculo Bens e serviços diversos 63,6 5.8 4.0 2.6 2.2 3.1 2.4 21.8
do índice de preços no consumidor Total 1000 3.5 3.3 2.4 2.3 3.1 2.5 18.8
(IPC), está desajustado da realidade. Fonte: INE
Este chamado «cabaz de com-
pras» apresenta as principais clas- transportes (20,4%), com educação
ses de bens e serviços que com-
põem o consumo dos portugueses,
Preços e salários (1,8%), e assim sucessivamente.
Por outro lado, o mesmo quadro in-
bem como determina o peso relativo
de cada uma delas na despesa das
famílias. Esta informação é recolhida
Previsões dica-nos que, nos últimos seis anos,
foram as despesas com educação,
bebidas alcoólicas e tabaco e trans-

sistematicamente
pelo Instituto Nacional de Estatística portes que mais subiram, superando
(INE), através do Inquérito às Despe- largamente a inflação média anual.
sas Familiares, e deveria ser actuali-

«erradas»
zada de cinco em cinco anos. Um retrato irreal
Olhando para os dados disponí-
veis (ver quadro 1), concluímos que, Contudo, de acordo com José Al-
entre 2002 e 2007, as despesas com berto Lourenço, este retrato do con-
a compra de produtos alimentares Mais uma vez, no início deste ano, os trabalhadores foram confron- sumo das famílias não corresponde
e bebidas não alcoólicas pesaram tados com o anúncio de exorbitantes aumentos de preços de bens e aos dias de hoje, o que falseia des-
19 por cento no orçamento familiar, serviços essenciais que ultrapassam largamente os valores da inflação de logo os cálculos do IPC.
bebidas alcoólicas e tabaco (3,1%), prevista pelo Governo. Isto porque, em primeiro lugar, as
vestuário e calçado (6,7%), habita- Pão e outros produtos alimentares, transportes, gás, electricidade, classes de bens incluídas no cabaz
ção, água, electricidade, gás e outros água, portagens, a que se devem somar prováveis novas subidas das de compras oficial e o seu peso re-
combustíveis (10,3%), saúde (5,4%), taxas de juro, representam uma fatia crescente nos magros orçamentos lativo na estrutura das despesas
familiares, esfalfados por mais de uma década de perdas sucessivas de das famílias foram determinados
poder de compra. em função dos resultados do in-
Quadro 2 - Evolução da Inflação Nos últimos 11 anos, os diferentes governos (PS, PSD/CDS e PS) apre- quérito realizado em 2000, antes da
e dos salários na Administração Pública sentaram sistematicamente previsões da inflação abaixo dos valores veri-
ficados. Como se lê no Quadro 2, entre 1998 e 2007, apenas em 2004 os
Actualização valores da inflação oficial ficaram dentro do intervalo previsto no Orçamen-
Inflação da tabela to de Estado (ver insuficiências das estatísticas na peça acima).
Anos salarial Nos restantes nove anos, as previsões «falharam» constantemente, com
Valor Valor da Adm. a particularidade de o actual Governo ainda não ter conseguido acertar
registado previsto no OE Pública (var %) uma só vez. E tudo leva a crer que não será em 2008 que tal acontecerá.
Na prática, trata-se de um mero estratagema que visa unicamente con-
1998 2.8% 2.0% 2.8
dicionar os salários dos trabalhadores, em especial da administração pú-
1999 2.3% 2.0% 3.0 blica, o que se prova pelo facto de entre 1998 e 2008, a percentagem de
2000 2.9% 2.0% 2.5 actualização salarial ter ficado sempre aquém da inflação registada, com a
2001 4.3% 2,7% - 2,9% 3.7 única excepção de 1999, ano de eleições legislativas.
2002 3.6% 2,5% - 3,0% 2.8 Para 2008, o Fundo Monetário Internacional, a Comunidade Europeia e o
Banco de Portugal prevêem 2,4 por cento de inflação e a Organização para a
2003 3.3% 2,0% - 3,0% 1.5
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) espera 2,6 por cento.
2004 2.4% 1,5% - 2,5% 2.0 Só o Governo de Sócrates, teimosamente, insiste em 2,1 por cento
2005 2.3% 2.0% 2.2 porque só assim consegue justificar a miserável actualização que im-
2006 3.1% 2.3% 1.5 pôs à Administração Pública. Aos trabalhadores resta lutar e não será
2007 2.5% 2.1% 1.5 preciso esperar muitos meses para que possam chamar, uma vez mais,
mentiroso a este Governo.
2008 ? 2.1% 2.1
MARÇO 2008 jornal do STAL 15

entrada em circulação do euro. Os


profundos impactos que a moeda Lei eleitoral autárquica ✓ J osé Alberto Lourenço
Economista
única teve na vida dos portugueses

Poder local fica


não aparecem assim reflectidos no
cabaz de compras que está na base
do IPC ainda hoje em vigor.

menos democrático
Com efeito, sem qualquer jus-
tificação plausível, o INE mantém
em segredo as alterações no cabaz
de compras apuradas no inquérito
efectuado em 2005, continuando a
trabalhar, passados três anos, com
dados desactualizados.
As distorções que daqui decor-
rem reflectem-se gravemente na
carteira da maioria dos portugue-
ses, para quem a subavaliação da
taxa de inflação significa menores
aumentos salariais e, portanto, me-
nor poder de compra.
Em segundo lugar, o mesmo eco-
nomista chama a atenção para o
facto de os critérios usados pelo
INE excluírem da classe «despesas
com a habitação» as prestações
pagas ao banco pelos empréstimos
para aquisição de casa própria.
Em consequência desta exclu-
são absurda, o Instituto afirma que
as despesas com a habitação re-
presentam somente 10,3 por cento
do total da despesa familiar, tendo
sofrido, em 2007, um aumento de
apenas 3,6 por cento.
Ora, é fácil de ver o quanto tais
números estão desencontrados A revisão da lei autárquica, da autoria dos poderes do presidente de câ- contram no novo projecto condi-
com o quotidiano de centenas de do PS e do PSD, representa um novo mara em prejuízo da representati- ções para se acentuarem.
milhares de famílias que, só no ano vidade política e do funcionamento O próprio pretexto da necessida-
passado, foram penalizadas com
golpe contra o poder local, cujo colegial do executivo municipal. de de estabilidade política, evocado
uma brutal subida das taxas de juro conteúdo democrático e participativo Na nova lei, o presidente da câ- para justificar que a força política
entre 20 a 25 por cento. é fortemente limitado e subvertido mara é o único membro do execu- mais votada para a assembleia mu-
Acresce que, para a grande par- a favor de um presidencialismo tivo municipal eleito directamente. nicipal tenha assegurada a maioria
te das famílias que contraíram em- Os vereadores, que até aqui eram absoluta no executivo municipal, é
préstimos à habitação, os corres- exacerbado que acentuará fenómenos eleitos para este órgão e tinham por desmentido pelo funcionamento re-
pondentes encargos mensais repre- negativos que já hoje se observam. isso uma legitimidade própria, fi- gular dos órgãos municipais ao lon-
sentam muito mais do que um déci- cam agora na dependência do edil go dos últimos 32 anos, garantido

A
mo do seu rendimento. s alterações introduzidas tra- que os pode pura e simplesmente pelo sistema eleitoral vigente.
De resto, restringir a incidência duzem-se num claro enfra- demitir, sejam eles da maioria ou da Na verdade, ao longo dos nove
estatística às rendas de casa, num quecimento das assembleias oposição. mandatos autárquicos decorridos
país onde praticamente não existe municipais e assembleias de fre- Muitos dos traços do excessivo neste período, em que foram elei-
mercado de arrendamento, não é guesia, que são os órgãos de fisca- presidencialismo já hoje presentes tos 2755 executivos camarários,
mais do que uma tentativa de dis- lização e controlo democrático do na lei, e que têm conduzido às si- apenas se registaram 20 situa-
torcer e manipular os números da poder local. tuações menos dignificantes para ções em que foi necessário recor-
inflação e escamotear a verdadeira Ao mesmo tempo, verifica-se um o poder local de todos conhecidas rer a eleições intercalares. A taxa
estrutura das despesas de cerca de reforço, a todos os títulos perigoso, através da comunicação social, en- de fracasso foi assim inferior a um
um milhão e meio de famílias (cerca por cento, sendo ainda de assina-
de 40 por cento do total), a maioria lar que metade das câmaras que
das quais foi obrigada a endividar-
se junto de instituições bancárias
para poder aceder ao direito consti-
O que muda na lei? caíram dispunham de maiorias
absolutas. A grande estabilidade
do actual sistema é pois indes-
tucional à habitação. mentível.
A proposta de lei aprovada na genera- 4. A constituição do executivo muni-
lidade, em 18 de Janeiro, na Assembleia cipal pode ser rejeitada pela assembleia Representatividade
da República, da autoria do PS e do PSD, municipal, através de uma moção de re- diminuída
produz alterações substanciais na legis- jeição aprovada por maioria de três quin-
lação eleitoral, cujos efeitos se farão sen- tos dos membros eleitos directamente e Através desta nova legislação, a
tir já nas próximas eleições autárquicas em efectividade de funções. representatividade democrática no
em Outubro de 2009. Do texto destacam- 5. O presidente da câmara pode, no de- Poder Local sai fortemente afecta-
se os seguintes traços fundamentais: correr de um mandato, proceder à remo- da, já que o número de forças polí-
1. É eliminada a eleição directa dos delação total ou parcial do executivo mu- ticas representadas nos executivos
executivos municipais. nicipal, mediante a apresentação de uma municipais irá diminuir, o funciona-
2. O presidente da câmara é o cabeça proposta à assembleia municipal. mento colegial do executivo muni-
de lista da força política mais votada con- 6. Apenas os membros da assembleia cipal é posto em causa, o papel das
corrente à Assembleia Municipal. municipal eleitos directamente para es- freguesias é subalternizado e a von-
3. O presidente da câmara, tenha a te órgão, isto é, não incluindo os pre- tade expressa pelas populações lo-
sua força política a maioria absoluta ou sidentes de junta de freguesia, podem cais é adulterada.
não, designa entre os eleitos da sua lista votar nas moções de rejeição à consti- Com esta proposta de lei, e com
a maioria dos vereadores do executivo, tuição do executivo municipal e nas vo- os executivos municipais que da-
cabendo às outras forças políticas repre- tações para aprovação das Opções do qui irão resultar, verificar-se-á sem
sentadas na assembleia municipal o direi- Plano e do Orçamento, bem como as qualquer dúvida um efectivo empo-
to de designar os restantes vereadores. respectivas revisões. brecimento do poder local demo-
crático.
16 jornal do STAL MARÇO 2008

Sindicatos promovem lei


Itália

sobre gestão pública da água


A Federação dos Trabalhadores da fazer estruregressar ao poder públi- Tal como em Portugal, as auto- Apoio de massas
Função Pública de Itália (FP-CGILL) é co a propriedade e a gestão do do- ridades italianas justificaram este
mínio hídrico e dos serviços de cap- processo com a necessidade de Entre Janeiro e Julho do ano pas-
uma das principias organizações sociais tação e distribuição de água. efectuar investimentos adequados sado, as organizações integrantes
do país que integra o Fórum pela Água, Como relata Rosa Pavanelli, dirigen- para modernizar as infra-estruturas do Fórum realizaram debates em
movimento que lançou no ano passado te da FP-CGIL (estrutura com a qual e melhorar a qualidade do serviço. todo o país para apresentar a pro-
uma petição pela aprovação de uma lei o STAL mantém relações no quadro No entanto, segundo observa Ro- posta legislativa e mobilizar as po-
da Federação de Sindicatos Europeus sa Pavanelli num artigo enviado ao pulações para a sua defesa. Em
sobre a gestão pública da água. dos Serviços Públicos), a vaga de pri- Jornal do STAL, a intervenção dos pouco tempo, a iniciativa tornou-se
vatizações dos serviços de água tem operadores privados teve resulta- conhecida à escala nacional, rece-

P
ara além de sindicatos, o Fó- criado situações de profunda desigual- dos muito negativos: «os investimen- bendo o apoio de 400 mil cidadãos
rum Italiano dos Movimento dade no país a que urge pôr termo. tos não foram realizados nem houve que se prontificaram a assinar a pe-
pela Água integra numero- Se até há poucos anos o abaste- qualquer melhoria da qualidade de tição exigindo que o texto fosse dis-
sas associações de cidadãos, mo- cimento de água era garantido pe- serviço, mas as taxas e tarifas cobra- cutido no parlamento.
vimentos sociais e culturais, bem los municípios em praticamente to- das às populações sofreram aumen- A questão da propriedade e gestão
como eleitos locais. Criado há cer- do o país, as pressões privatizado- tos desmesurados que atingiram os pública da água irrompeu na agenda
ca de dois anos com o objectivo de ras levaram muitos eleitos locais a 400 por cento, como aconteceu em política e o próprio governo, então lide-
afirmar a ideia de que a água é um entregar estes serviços essenciais a Aprília, uma cidade perto de Roma.» rado por Romano Prodi, viu-se compe-
bem comum e um direito humanos todo o tipo de empresas, desde pú- lido a incluí-la na sua acção.
universal, este Fórum defende com blicas a sociedades privadas com Uma lei popular Poucos meses depois da entrega
clareza a necessidade urgente de acções cotadas em bolsa. da petição, o parlamento começou
Procurando travar e inverter as pri- a discutir a proposta de iniciativa
vatizações no sector, o Fórum Italia- popular, tendo aprovado, a pedido
no dos Movimentos pela Água ela- do movimento, uma moratória que
borou uma proposta de lei que limita suspendeu, pelo prazo de um ano,
a gestão e distribuição dos recursos a atribuição de concessões no sec-
hídricos exclusivamente a entidades tor da água, aguardando a aprova-
de direito público, estabelecendo um ção de uma nova lei.
período de transição, entre cinco a O processo legislativo foi entretanto
sete anos, para que todos os servi- congelado devido à ruptura da coliga-
ços entretanto privatizados regres- ção de centro-esquerda, que levou à
sem ao domínio público. demissão do governo e à convocação
A proposta de lei determina ainda de eleições antecipadas.
o financiamento público do sistema, Todavia, o movimento pela água
prevendo tarifas razoáveis e a ga- continua activo, ganhando uma cres-
rantia a todos cidadãos de um for- cente capacidade de mobilização co-
necimento mínimo vital de 50 litros mo ficou patente na primeira manifes-
diários por pessoa. O texto confere tação nacional que realizou no dia 1 de
um papel activo aos trabalhadores Dezembro, em Roma.
e populações na tomada e fiscaliza- Ao mesmo tempo, os seus activistas
ção das principais orientações que já encaram a possibilidade de alargar
afectem aspectos fundamentais do esta causa à dimensão europeia, crian-
serviço, incumbindo as autoridades do progressivamente uma rede inter-
Com o envolvimento dos sindicatos e associações de cidadãos, o movimento pela água pública locais de promoverem formas espe- nacional de movimentos em defesa da
ganhou dimensão nacional em Itália cíficas de democracia participada. água pública.

Pela soberania nacional

STAL rejeita tratado europeu


e condena fuga ao referendo
A Direcção Nacional do STAL conde- ropeus ao avanço das políticas neoliberais tado de Lisboa», o STAL considera que Por último, o STAL salienta «a Carta dos
nou a assinatura do chamado «tratado apontadas para destruir e limitar direitos la- este documento é uma má notícia pa- Direitos Fundamentais representa uma
de Lisboa», em 13 de Dezembro na ca- borais e sociais há muito conquistados.» ra os trabalhadores e para as popula- clara regressão quando comparada com
pital portuguesa, sublinhando que se tra- ções. a Constituição da República Portuguesa,
ta de uma tentativa de «impor a essência Má notícia O STAL repudiou igualmente a afirma- não podendo concordar com a aprecia-
do projecto de “constituição europeia”, para os trabalhadores ção por parte da CES de que este tra- ção da CES que a considera como “um
já chumbado nos referendos de 2005, tado constitui “um reforço dos serviços avanço importante” apenas lamentando
realizados em França e na Holanda.» No mesmo sentido, o STAL demarcou- públicos”, notando que, pelo contrário, que “não esteja integrada no tratado”».
Em comunicado distribuído à imprensa se claramente da posição assumida pe- «o “tratado” abre campo à privatização Recorde-se a este propósito que a
no dia seguinte à cimeira, o Sindicato con- la Confederação Europeia de Sindicatos e desregulamentação deste sector es- Carta suprime conceitos básicos como
siderou que, constituindo uma forte ame- (CES) bem como das declarações feitas sencial, designadamente através de um o direito à reforma ou ao subsídio de
aça à soberania nacional, «o “tratado de pelo seu secretário-geral, Jonh Monks, a protocolo anexo ao projecto», que pre- desemprego, transformando por exem-
Lisboa” visa sobretudo enfraquecer a firme propósito do tratado europeu. tende submeter, por exemplo, a água e plo o direito ao trabalho em «direito de
resistência que os trabalhadores e os po- Ao contrário da CES, que acolheu o ambiente às regras do mercado interno trabalhar» e em «liberdade de procurar
vos têm oferecido nos diversos países eu- com «satisfação» a assinatura do «tra- da concorrência. emprego».
MARÇO 2008 jornal do STAL 17

Conversas desconversadas
✓ Adventino Amaro


O orgulho
Jaquim, anda cá todas essas patranhas, diz-me
depressa – berrou a cá: - Já foste pagar as propinas
Gertrudes Passada, da nossa filha à Universidade?
refastelada frente ao televisor, Já marcaste a consulta para
para o marido que se encontrava o teu pai no hospital? E os
na casa de banho a consertar a medicamentos receitados pelo

português
sanita que tinha desabado na noite médico na última consulta, já
anterior, incapaz de suportar o foste comprá-los? Já arranjaste
peso da sua legítima proprietária e lugar na creche para a tua neta?
fiel fornecedora de matéria-prima - Olha o parvo do homem! –
justificativa da sua existência Os olhos da Gertrudes Passada,
(da sanita, evidentemente). congestionados por uma repentina
- Já vou – respondeu o Joaquim indignação, fuzilavam o marido. –
Acordado de mau modo, cansado Então com o ordenado que trazes
de trabalhar no arranjo para casa ao fim do
de tudo o que a mês, queres que eu faça
Gertrudes ia espatifando milagres? Sabes quanto
dia a dia, nas suas custam as propinas? E
desordenadas correrias as taxas moderadoras
pela casa para não nos hospitais? E os
perder nenhum dos seus medicamentos, chiça,
programas favoritos que me levavam, se os
que, afinal, eram quase comprasse, o dinheiro
todos os da TVI, da todo? E lugar na creche
SIC e também da RTP. pública para a nossa
- Vem já se não vais neta, não há. Só naquele
perder este momento infantário particular
histórico da nossa do cunhado de um Sr.
história, porra! – gritou secretário de Estado,
a Gertrudes, afogueada que por acaso é filho da
por uma emoção que já D. Constantina que tem
não sentia desde que o uma sobrinha que entra
Zé Maria das galinhas na telenovela das oito
ganhou o Big Brother, e meia, que faz o papel
já lá vão uns anitos. de…Jaquim… Ó Jaquim,
Em passo de corrida, onde te meteste?
o Joaquim abeirou-se Pois, não gostas de
da mulher, olhou para ouvir, não é? Se em
o ecrã do televisor e vez de trabalhares de
viu. Viu um conjunto de canalizador e estares
senhores elegantemente sempre do contra
vestidos que, um a um, tivesses aceitado o
usando uma caneta convite do Dr. Fabiano
de prata, como o para te inscreveres
comentador de serviço no PS, hoje tinhas um
informou entusiasmado, bom emprego com
ia assinando um um bom ordenado,
documento que iria como o vizinho da cave
mudar a vida de todos direita que é quase
os cidadãos europeus, analfabeto e está a
a acreditar nas palavras assessorar um vereador
do tal comentador. na Câmara Municipal.
- Ó mulher, a Nesta altura a
sanita ainda não está Passada calou-se.
arranjada, não podemos Porque o Joaquim
servir-nos dela para já tinha saído,
arquivar essa coisa provavelmente
– comentou ele cinicamente, verdadeiramente passada, governantes fazem. Já no tempo para comprar tabaco mas,
cansado da inércia mental fazendo jus ao nome que do Salazar era a mesma coisa, sobretudo, porque ia começar,
da sua companheira, acrítica recebera na pia baptismal. só dizias mal. Nunca mais te na TVI, um programa com o
devoradora a tempo inteiro do - Pois – inquiriu o Joaquim convences de que quem governa José Castelo Branco e a Lili
lixo televisivo que diariamente – mas o que disseram eles? faz tudo para melhorar a vida do Caneças. A não perder…
lhe despejavam em casa. - Sei lá! – suspirou ela - Eu povo, e se mais não faz é porque
- Não sejas malcriado, homem. cá não percebi nada. Mas isso não pode. Coitados, o esforço PS. Duas breves notas:
Ai, se tu visses e ouvisses o nosso tem alguma importância? Aliás, que eles têm feito para tratar Primeira – o posicionamento
primeiro-ministro, o Sr. Engenheiro se eu tivesse percebido alguma da nossa saúde, para dar uma dos dois personagens nada tem
Sócrates, e também o presidente coisa era sinal de que eles não educação moderna aos nossos a ver com o sexo, evidentemente.
da Comissão Europeia, o Sr. teriam falado assim tão bem. filhos e netos, para pôr na ordem Nada de confusões.
Doutor Durão Barroso…Aaaiii, que Para me explicar isso e tudo o a malandragem dos funcionários Segunda: A atitude do Joaquim,
bem vestidos que eles estão e que mais é que a TV contrata uma públicos, dos professores, dos… afastando-se da discussão,
bem, que bem, que bem falaram série de analistas, comentaristas, - Chega! – Interrompeu o não deve servir de exemplo a
os dois! – E são portugueses, especialistas, politólogos e Joaquim, farto destas estéreis ninguém. Contudo, concedamos-
Jaquim. Ai c´orgulho, c´órgulho, sociólogos que me ensinam tudo. discussões que nunca levavam lhe alguma compreensão.
c´orgulho para todos nós!!! Que mania tens de estar sempre a nada. – Olha, em vez de É que, às vezes, já não há
E a Gertrudes estava contra tudo o que os nossos estares aí sentada a engolir mesmo pachorra, caramba!
18 jornal do STAL MARÇO 2008

Internet
movimentos_femininos_em_ oportunidades e de tratamen-
✓ Victor Nogueira portugal.htm ; www.pcp.pt/in- to entre mulheres e homens no
dex.php?option=com_banners trabalho, no emprego e na for- N.º 88

A luta das mulheres


&task=click&bid=21; www.md- mação profissional, nos secto- MARÇO  2008
mulheres.com/mulheres.html ; res público e privado. Esta Co- Publicação
www.mulheres-ps20.ipp.pt/ missão integra representantes de informação
Hist_mulheres_em_portugal.htm; governamentais e dos parceiros sindical do STAL
www2.fc.ul.pt/agenda_fcul/ sociais.
A ideia da comemoração cançada com a promulgação da marco/marco6.html e ainda Em Portugal existem várias
Constituição em 25 de Abril de www.pgr.pt/portugues/grupo_ ONGs, agindo em áreas con- Propriedade
de um dia internacional STAL – Sindicato
1976, embora cada vez mais os soltas/efemerides/mulher/direi- cretas da protecção dos direi-
dedicado à situação e sucessivos governos de direi- to_portugues.htm tos da mulher, designadamen- Nacional dos
luta da mulher surgiu ta e ao serviço do capital pro- Dos organismos governamen- te, por ordem da respectiva Trabalhadores
da Administração
nos EUA, nos século curem limitar os direitos de to- tais que em Portugal tratam das fundação: o Movimento De-
Local
XIX, na sequência de um dos os trabalhadores, atingin- questões específicas das mulhe- mocrático de Mulheres, a As-
do com especial gravidade as res citam-se: sociação Portuguesa das Mu-
protesto de operárias mulheres. - A Comissão para a Igualda- lheres Juristas, a Associação
Director:
fabris de Nova York, em Sobre este tema pode ser con- de e para os Direitos das Mu- Nacional de Empresárias e a
Santos Braz
8 de Março de 1857, sultado o artigo «A mulher e o lheres (CIDM), (http://www.cidm. União das Mulheres Alternati-
mundo do trabalho, igualdade pt/www_vd/frame.htm) que su- va e Resposta e A Associação
contra as violentas por cumprir», publicado no Jor- cedeu à Comissão da Condição Portuguesa de Apoio à Vítima,
condições de trabalho e nal do STAL, (www.stal.pt/jornal/ Feminina. Esta Comissão possui com sites na Internet. Pode-
Coordenação
e redacção:
os reduzidos salários na artigo.asp?id=796), bem como um conselho consultivo através mos também destacar SOS José Manuel Marques
indústria têxtil. dois estudos de Eugénio Rosa do qual é assegurada a parti- – Violência (http://www.violen- e Carlos Nabais
disponíveis em resistir.info/e_ro- cipação dos diversos departa- cia.online.pt/ )

U
ma breve descrição do sa/mulheres_discr.html e resistir. mentos governamentais e de or- Em partidos políticos e no
movimento que levou à info/e_rosa/desigualdades_se- ganizações não governamentais movimento sindical, designa- Conselho
criação do Dia Internacio- xo.html . (ONGs). damente no STAL, funcionam Editorial:
nal da Mulher encontra-se em Sobre a história dos movi- - A Comissão para a Igualda- comissões e grupos de traba- Adventino Amaro
pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Inter- mentos, dos problemas e da de no Trabalho e no Emprego lho para o acompanhamento António Augusto
nacional_da_Mulher. luta das mulheres em Portu- (CITE), (http://www.cite.gov.pt/), dos problemas e da situação António Marques
Em Portugal a plena igualda- gal consulte-se também: neh. visa o combate à discriminação da mulher na sociedade por- José Lança
de formal entre sexos só foi al- no.sapo.pt/documentos/os_ e a promoção da igualdade de tuguesa. Victor Nogueira

reverso Palavras cruzadas Colaboradores:


Adventino Amaro
Ângela Nobre
António Marques

A Palavra
Horizontais: 1. Composto gasoso de Verticais: 1. Ficar doente de cama; char- Jorge Fael,
hidrogénio contendo arsénio; coloca- ruas. 2. Conserte; o que a desvergonha do José Alberto Lourenço
vam asas em. 2. Comeras a ceia; recu- governo nos provoca. 3. Importunai; o que José Torres
pera. 3. Reduz a prosa; dispõem em ca- o governo passa a vida a tentar fazer-nos. Manuel Gameiro
madas. 4. Sossegada; junte-se. 5. Jar- 4. Irascível; grande artéria do corpo animal. Rodolfo Correia
Honrar a palavra dada é uma virtude ro (planta); larva que se cria nas feridas 5. Administração Nacional de Aeronáutica Victor Nogueira
dos animais; amarrar. 6. Soberano; de- e Espaço (sigla); oncologia (abr.); fechei as
desconhecida da cobarde governança
boche (ou governação de Sócrates); re- asas para descer mais depressa. 6. Mem-
que este pobre país suporta e sofre. za. 7. Caminharia. 8. Deus te salve (des- bro de ave; tramam; oportunidade (inv). 7. Grafismo:
Ainda há quem acredita, quem se ilude te governo); o Sócrates está à espera Esqueletos. 8. Lavra; detestas; pagamento Jorge Caria

com esta gente que enche a boca de esperança que faças isto, para acabar com o res- (abr.). 9. Discurso dos ministros; gemidos;
to; mas se resistires, a luta não será em fêmea do pato. 10. Amarrada; tanque onde
e rouba o pão ao mais pobre para ao rico encher o cofre. (…) 9. Cidade italiana; senão; órgãos se espremem ou pisam certos frutos (inv.) Redacção
excretores da urina. 10. Os dois; (…) e 11. Está outro ministro a falar, o meu estô- e Administração:
não bufas. 11. Que se faz todos os dias; mago não aguente e então…; esteja actual. R. D. Luís I n.º 20 F
Que indigência moral campeia ali por S. Bento.
no que se transformou a política deste 12. Navegar ao largo; uma das terras onde o 1249-126 Lisboa
Que miséria de argumentos, que aparvalhadas razões Tel: 21 09 584 00
governo. 12. Inflamações dos ouvidos; povo luta em defesa do direito à saúde. 13.
vão servindo de desculpa aos crimes que se cometem. ligaria. 13. Nome feminino modernaço; Sugara o leite materno, ou fora administra- Fax: 21 09 584 69
Email:
As promessas que se fazem são zurradas de jumento capacetes. dor de um banco; relativas a ossos.
jornal@stal.pt.
que ameaçam, ou enganam, alguns pobres foliões Site Internet: www.
que indignamente suportam os capatazes do harém. stal.pt
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 ra; ósseas.

E depois querem que nós, que temos massa cinzenta,


1 Amarar; Anadia. 13. Mama-
Composição:
2
ragal. 11. Vomito; vigore. 12.
acreditemos nas tretas que em desespero nos gritam. Seca; ais; pata. 10. Atada; pré&press
Que gaita de povo é este que não escorraça esta seita 3 das. 8. Ara; airas; pag. 9. Campo Raso
2710 - SINTRA
que lhe mente dia a dia, que insulta e agoirenta 4
Asa; urdem; osa. 7. Orga-
aorta. 5. Nasa; onc; siei. 6.
o futuro que queremos, livre dos que parasitam
5
3. Sarnai; embair. 4. Iroso;
a vida dos que semeiam e a quem roubam a colheita. arados. 2. Repare; vomito. Impressão:
6 VERTICAIS: 1. Acamar; Heska Portuguesa
Campo Raso
É de nojo o sentimento deste escriba revoltado, 7
Soraia; galeas.
gode. 12. Otites; ataria. 13. 2710 - SINTRA
e de profunda vergonha por ver que o seu país 8 bos; pagas. 11. Diário; pa-
é vendido, amesquinhado, por gente deste jaez.
9
Roma; mas; rins. 10. Am-
Tiragem:
De pouco vale a vergonha, de pouco vale este brado,
daria. 8. Ave; cedas; vão. 9.
10 atar. 6. Rei; orgia; ora. 7. An- 59 000 exemplares
se o povo que nós somos não levantar a cerviz, Distribuição gratuita
11
Mansa; adira. 5. Arao; ura;
p´ra varrer esta moléstia, de uma penada e de vez! ma. 3. Aprosa; acamam. 4. aos sócios

12 asavam. 2. Cearas; - reto-


A Melga 13
Horizontais. 1. Arsina;
SOLUÇÕES: Depósito legal
Nº 43‑080/91
MARÇO 2008 jornal do STAL 19

Sermões
Um livro, um autor
✓ António Marques

«Grande Imperador da Língua

de Padre
Portuguesa», como lhe chamou
Fernando Pessoa, padre António
Vieira, de cujo nascimento se
assinalam 400 anos, é sem dúvida
uma das figuras maiores do

António Vieira
pensamento português de todos os
tempos, com uma vasta obra onde se
destaca a coroa da arte retórica.

P
adre António Vieira nasceu em Lisboa, na gem, cuja teoria vamos encontrar no Sermão da Vítima da Inquisição
freguesia da Sé, no dia 6 de Fevereiro de Sexagésima, que mais o celebriza.
1608. Com sete anos de idade partiu com O grande prosador serve-se da estrutura retó- Após a restauração da independência de Por-
a família para o Brasil, instalando-se em S. Sal- rica para levar o interlocutor a reflectir e a pôr tugal em 1641, Vieira regressa a Lisboa para ser
vador da Baía, onde seu pai, alentejano de ori- em dúvida afirmações aparentemente justas, nomeado embaixador do Rei D. João IV, fun-
gem e escrivão de profissão, foi destacado para apresentando verdadeiros desafios para a época ções que exerce durante uma década, cumprin-
trabalhar na Relação. na interpretação dos textos sagrados. do complexas missões na Itália, França e Ho-
Foi na Baía que se fez homem, formado no ri- Vieira recorre muitas vezes à «metáfora do es- landa. É ele que negoceia a compra de Pernam-
gor e competência do Colégio dos Jesuítas, e pelho» para identificar, transformar e multiplicar buco aos holandeses, ao mesmo tempo que ob-
no Brasil que passou a maior parte da sua lon- as significações da proposição. Quais imagens tém fundos para suportar a guerra com os cas-
ga vida. reflectidas por um espelho, o sentido superfi- telhanos.
Em 1623, ingressa na Congregação da Com- cial, primário e até ingénuo das coisas é ilusório De volta ao Brasil, em 1652, torna-se missio-
panhia de Jesus. Missionário, homem de letras, e tem de ser aprofundado. nário no Maranhão, onde se empenha no com-
diplomata, visionário de recorte humanista este- O bem e o mal, o certo e o errado aproximam- bate à escravatura dos índios e dos negros nas
ve muito à frente dos vultos intelectuais da sua se agora e começam a ganhar semelhanças. Ou fazendas da cana do açúcar, enfurecendo os co-
época e ficou na história e na cultura portugue- seja, o que parece bom nem sempre é bom, su- lonos que o embarcam à força para Lisboa no
sas como um dos maiores escritores de todos gerindo ao interlocutor que deve ter cuidado ano de 1661.
os tempos e como arauto da defesa dos direi- com as respostas prontas ou acções precipita- Sem a protecção do rei, seu amigo, a Inquisi-
tos humanos. das. ção, que já há mais de uma década lhe vigiava
Ao longo dos seus quase 90 a intencionalidade e liberdade do
anos de vida, sete vezes cruzou pensamento, condena-o como
o Atlântico, calcorreou selvas e herege e prende-o durante cinco
sertões brasileiros, construin-
do a sua odisseia, burilando os
«Neste anos no cárcere do Santo Ofício
em Coimbra.
mais de 200 sermões, as obras
políticas e de índole social, os
mundo Em Roma, onde vive três anos
na Cúria Papal, consegue a re-
tratados de inspiração proféti-
ca, na linha de mestre Bandarra, há muitas visão do seu processo e o per-
d ã o d a I g re j a . P e r m a n e c e n a
em quem se inspirou, as obras
de filosofia, de teologia e as 700 misérias capital portuguesa até 1681.
Já com 73 anos, faz a sua úl-
cartas e epístolas, onde fazia lu-
zir uma gramática e um estilo lin- que não são tima viagem para Terras de Ve-
ra Cruz e vem a falecer na Baía

ignorâncias,
guístico dos mais apurados de aos 89 anos, corria então o ano
sempre. de 1697.
Através dos seus famosos ser-
mões, onde sobressaía a retórica
e a oratória, obteve a auréola de
e não há Convicções humanistas
sublime pregador. Por ser profun-
do estudioso e grande conhece-
ignorância Em Portugal, Vieira, o grande
jesuíta, lutou contra a poderosa
dor das línguas indígenas, con-
seguia chegar ao coração dos que não seja Inquisição, denunciou as perse-
guições sangrentas e os horro-
povos mais remotos, cuja cultura
defendia com veemência. miséria» res da fogueira e alertou o papa
para as prepotências inadmissí-
Nas suas obras utilizou sempre veis do Santo Ofício.
a linguagem das metáforas, co- Em pleno século XVII, sau-
mo era comum na cultura barro- dando a aproximação dos po-
ca. O mundo era para ele uma comédia, e o pro- Usando a repetição, Vieira desenvolve a pro- vos e culturas permitida pelas descobertas
cesso do conhecimento dotado de uma dimen- posição inicial numa multiplicidade de senti- portuguesas, Vieira afirma-se como um dos
são lúdica onde o entendimento fica refém da dos: pioneiros dos direitos humanos. Numa petição
marcha da vida. «Por que se não converte o bronze em pó de que apresenta ao rei, lembra «que o sangue é
É esta visão de certo modo prospectiva que bronze, e o ferro em pó de ferro? Mas o oiro, a o que Deus dá a cada um sem eleição de quem
justifica a sua obra profética. Aliás as profecias prata, o bronze, o ferro, tudo em pó de terra? o tomou, e que as condenações ou persegui-
eram também uma formulação comum no barro- Sim. Tudo em pó de terra. Cuida o ilustre des- ções com base no sangue geram uma intole-
co, e não resultado de um espírito obcecado ou vanecido que é de oiro, e todo esse esplendor rância insuportável e indigna de um soberano
messiânico. em caindo, há-de ser pó de terra. Cuida o rico católico».
inchado que é de prata, e toda essa riqueza em Revelando suas profundas convicções hu-
A ilusão do espelho caindo, há-de ser pó, e pó de terra. Cuida o ro- manistas, propõe uma cidadania universal do
busto que é de bronze, cuida o valente que é de homem e pugna por um mundo novo com liber-
Embora se tenha destacado na filosofia políti- ferro, um confiado, outro arrogante; e toda essa dade para os oprimidos, sem distinções de ra-
ca e histórica, com realce para a ética do conhe- fortaleza, e toda essa valentia em caindo, há-de ças nem religiões, baseado nos valores da to-
cimento, será porventura a estética da lingua- ser pó, e pó de terra.» lerância e do respeito pelo semelhante.
20 jornal do STAL MARÇO 2008

11.º Congresso da CGPT-IN Quinze objectivos


centrais

Organização
A «Carta Reivindicativa de To-
dos os Trabalhadores» apro-
vada pelo Congresso aponta
15 objectivos da luta sindical:
• Revogar as normas gravosas

voltada para a luta


do Código do Trabalho e rejei-
tar a «flexigurança» contida

Resumo da luta
nas propostas do Livro Branco
das Relações Laborais;
• Defender a contratação co-
lectiva e impedir a caducidade
30 de Novembro – A greve nacional da Admi- das convenções colectivas.
nistração Pública regista uma adesão que ronda Mais de 900 • Valorizar a Administração
os 90% na Administração local. Pública, as funções sociais
5 de Dezembro – Realizam-se as eleições para
delegados e várias do Estado e os serviços pú-
os Órgãos Nacionais e Regionais do STAL centenas de blicos;
• Combater a precariedade
6 de Dezembro – Os trabalhadores da Mo- convidados nacionais de emprego e o desemprego;
veaveiro realizam uma greve parcial em defe- e estrangeiros • Melhorar os salários e lutar
sa do acordo de empresa. contra a carestia de vida;
participaram nos • Garantir horários de traba-
10 de Dezembro – O Conselho Geral do
STAL aprova o Plano de Actividades e Orça- trabalhos do 11.º lho que compatibilizem o tra-
balho com a vida pessoal e
mento para 2008 e traça as linhas reivindica- Congresso da CGTP- familiar;
tivas futuras.
• Efectivar os direitos indivi-
31 de Dezembro a 2 de Janeiro – Os traba-
IN, reunido nos dias duais e colectivos dos traba-
lhadores da recolha de lixo da CM do Porto 15 e 16 de Fevereiro, lhadores, consagrados na lei e
realizam uma greve contra as alterações ao nos contratos colectivos;
horário de trabalho.
em Lisboa. • Concretizar o direito à for-
mação e qualificação profis-

A
9 de Janeiro – Os Órgãos Nacionais do STAL sional;
eleitos para o quadriénio de 2008-2011 to- reunião magna da cen-
• Promover a igualdade no
mam posse numa sessão realizada em Vila tral sindical aprovou trabalho, combater todas as
Franca de Xira. por unanimidade o re- discriminações, directas ou
14 a 18 de Janeiro – Os trabalhadores da Mo- latório de actividades dos úl- indirectas;
veAveiro cumprem nova greve parcial exigindo timos quatro anos, onde se • Prevenir e reparar a sinistra-
a reabertura de negociações. lidade no trabalho e as doen-
destaca a filiação de mais ças profissionais;
24 de Janeiro – Activistas sindicais da Frente três sindicatos e a sindica- • Lutar por maior justiça fis-
Comum concentram-se de manhã frente ao Mi- lização de mais 168 mil no- cal que assegure uma mais
nistério das Finanças e à tarde integram-se no vos trabalhadores, dos quais Mais de 900 delegados e centenas de convidados nacionais e justa distribuição do rendi-
desfile da CGTP para o Ministério do Trabalho. 51,2 por cento são mulheres estrangeiros participaram no Congresso da central sindical mento e serviços públicos de
qualidade;
30 de Janeiro – O Plenário Nacional do STAL e e 26,5 por cento têm menos • Melhorar a Segurança So-
STML reúne meio milhar de activistas sindicais de 30 anos. O congresso da CGTP-IN, CGTP-IN, e os dirigentes cial e assegurar a sua susten-
que, no final, desfilam até à Secretaria de Esta- Para o período até 2012, que decorreu sob o lema Graça Silva (DR Ponta Del- tabilidade;
do da Administração Local. o congresso fixou o objecti- «Dar Mais Força aos Sindi- gada), Isabel Rosa (DR/Lis- • Investir na Educação, de-
fendendo uma escola pública
12 de Fevereiro – Realiza-se em Lisboa um vo de efectuar 160 mil novas catos» elegeu o Conselho boa), João Avelino Pereira de qualidade;
almoço convívio dos Aposentados/Reforma- sindicalizações, eleger 10 mil Nacional, o qual inclui os di- (DR/Porto), João Carlos Serra • Revitalizar e investir no Ser-
dos da Administração Pública. novos delegados sindicais e rigentes do STAL, Francisco (DR Viseu), João Paulo Sousa viço Nacional de Saúde para
mais mil novos representan- Braz, presidente do Sindi- (DR Setúbal), Valter Loios (DR todos os cidadãos;
14 de Fevereiro – Os trabalhadores da Mo- • Lutar contra a pobreza e a
veAveiro realizam uma manifestação que tes para a Segurança, Higie- cato, que integra igualmen- Évora) e Virgílio Saraiva de
exclusão social.
conta com a adesão de centenas de popula- ne e Saúde no Trabalho. te a Comissão Executiva da Matos (DR Santarém).
res e sindicalistas solidários

15 e 16 de Fevereiro – Realiza-se em Lisboa


o XI Congresso da CGTP-IN.
Cartoon de: Miguel Seixas

15 a 29 de Fevereiro – Os trabalhadores da
Moveaveiro voltam à greve e marcam novas
paralisações para de 3 a 7 de Março.

7 de Março – Uma delegação da Direcção Na-


cional do STAL entrega uma carta ao Secretário
de Estado da Administração Local e anuncia a
manifestação nacional de dia 12 inserida na se-
mana de luta da administração pública.

8 de Março – o STAL assinala o dia Interna-


cional da Mulher

12 de Março – Cerca de 10 mil trabalhado-


res participam em Lisboa na Manifestação
nacional da Administração Local.

18 de Março – O STAL anuncia no Porto o


lançamento de uma campanha contra a pri-
vatização da água.

22 de Março – O Dia Mundial da Água é as-


sinalado por diversas organizações regionais
do STAL com iniciativas de rua.

27 de Março – O Conselho Geral do STAL aprova


o relatório de actividades e contas de 2007 e con-
voca uma Conferência Sindical para 6 de Junho.
28 de Março – Milhares de jovens participam
numa Manifestação em Lisboa para assinalar
o Dia da Juventude.

29 de Março – Realiza-se em Lisboa uma


concentração pela Paz, contra a ocupação
do Iraque.

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