Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
INTRODUÇÃO
Neste capítulo apresentaremos uma breve revisão de alguns tópicos do grau essenciais para
o estudo do Cálculo de uma Variável Real. Admitiremos a familiaridade do leitor com o con-
junto dos números reais, denotado por , com as operações fundamentais e suas respectivas
propriedades, bem como com a visualização geométrica de como uma reta e dos números
reais como pontos dessa reta.
1.1 Desigualdades
A representação geométrica dos números reais sugere que estes podem ser ordenados. Usando
os símbolos usuais para maior ( ), maior ou igual ( ), menor ( ), menor ou igual ( ), podemos
ver, por exemplo, que se
e , então ; no eixo coordenado temos que está
à esquerda de . Para todo
temos: ou , ou , ou .
1.2 Intervalos
Muitos subconjuntos de são definidos através de desigualdades. Os mais importantes são os
intervalos.
Sejam
tais que .
Intervalo aberto de extremidades e , denotado por "! é definido por:
( )
a b
9
10 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
[ ]
a b
2
"! %(')
+* ')/. e
3 %(')
$* ')/.10
[ )
a b
( ]
a b
Desigualdades Lineares:
Determinemos o conjunto-solução de:
0
+'
'
+ é equivalente
a $' ; logo, se , ') ; o conjunto-solução é 2 ! . Se
, -' ; o conjunto-solução é
( 0
Desigualdades Quadráticas:
Seja +'
'
a equação de segundo grau. Denotemos por
o discri-
minante da equação e , as raízes reais da equação ( & ). O conjunto-solução de uma
desigualdade quadrática depende do sinal de e de
.
Para
. Se , a desigualdade $' '
tem conjunto-solução 32 !
e +'
'
tem conjunto-solução 2 53
Se , a desigualdade +'
'
tem conjunto-solução % . .
' '
Se ) , a desigualdade $' tem conjunto-solução % . e $' tem
conjunto-solução .
Para
. Se , a desigualdade +' '
tem conjunto-solução e +'
'
'
tem conjunto-solução . Se )& , a desigualdade $' tem conjunto-solução e
+'
' tem conjunto-solução .
Exemplo 1.1.
[1] Ache a solução de: ' ' . Fatorando ' ' ' ' ! ' ! ; então, ' ' é
equivalente a ' '
! ' ! , da qual obtemos '7& ou '7 . O conjunto-solução
é:
( ! ! 0
[2] Ache a solução de:
'
0
'
Note que
a desigualdade não é equivalente a '
' ! . Se ' , isto é ' ;
'
'
! '
'
então,
, de onde obtemos . Se , isto é ' ; então,
'
'
! , de onde obtemos ' . Logo, o conjunto-solução é:
2 ( !0
( 1 0
Observe que o valor absoluto de um número real é sempre não negativo e possui as seguintes
propriedades imediatas. Sejam
; então:
12 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
3. / 1
4. se e somente se ou
5. , se
6.
.
Exemplo 1.2.
[1] Achar a solução de: ' 7'
.
Pelas propriedades anteriores, ' '
é equivalente a: ' ' ou ' ' .
Se ' '
, então ' ' ! e '-
ou '- ; se ' '
, então '
,
o que é impossível. O conjunto-solução é:
4 ! ! 0
[2] Achar a solução de: ' ' .
Pela propriedades anteriores,
' ' é equivalente a: ') ' ou ' ' ;
Se
'- ' , então '
')
' ; logo,
') 0
Se ') ' , então ' ' ' , que não possui solução. O conjunto-solução é:
0
1.3.1 Distância
Usando o valor absoluto podemos definir a distância entre dois números reais. A distância
entre os números reais e é . Então é a distância de à origem.
Exemplo 1.3.
[1] A distância entre os números
e
é
! 1
.
[2] A distância entre os números
e é
& ! e a distância entre os
números e é ! .
[3] A distância entre os números e é:
0
Um par ordenado de números reais é uma dupla de números reais ' ! , tais que ' ! ' !
se e somente se ' . O elemento ' do par ordenado é chamado primeira coordenada do
par e é chamado a segunda coordenada do par. De forma análoga à representação geo-
métrica dos reais, podemos representar geometricamente os pares ordenados. Para isto con-
sideramos duas retas, que por conveniência impomos que se intersectem perpendicularmen-
te. A reta horizontal é chamada eixo das abscissas ou eixo dos ' e a reta vertical é chamada
eixo das ordenadas ou eixo dos . A interseção das retas é chamada origem, à qual asso-
ciamos o par 4 ! e atribuimos sentidos a estas retas, que descrevem um plano, chamado
plano coordenado. As quatros regiões determinadas no plano por estas retas são chamadas
quadrantes. A representação de um par ordenado como um ponto do plano ( e reciproca-
mente), é feita de forma análoga a do eixo coordenado. Por exemplo, os seguintes pontos
! ! ( !
( ! , tem a seguinte representação no plano
coordenado:
y
2 A
B 1
-2 0 1
x
-1
C
-2
D
Figura 1.4:
Usando o teorema de Pitágoras podemos definir a distância entre dois pontos do plano coor-
denado.
y
y2 B
y1 A
x1 x2 x
Figura 1.5:
14 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Sejam '( ! e ' ! pontos do plano. A distância entre e é:
!
!$ ' 7' !
1. ! e
!$ se e somente se .
2. !$ !.
3. ! !
!.
Exemplo 1.4.
[1] Calcule a distância entre os pontos ( ! e ! . Aplicando a fórmula:
! !
!+ ! 0
-2 -1 1 2
-1
-2
-3
-4
Figura 1.6:
[2] Determine o ponto , que divide na razão o segmento de reta que liga os pontos (
!
e !.
Sejam &
( ! , ! os pontos dados e
' ! o ponto procurado e ' (
!,
( ! pontos auxiliares como no desenho:
1.5. EQUAÇÃO DA RETA 15
P S T
Figura 1.7:
Os triângulos e são semelhantes; logo:
! ! ! !
e 0
! ! ! !
Por outro lado,
! !
! e !$ 0
e .
Aplicando a fórmula da distância, temos que: $! ' , ! !
Obtemos o sistema:
'
que tem como solução: '
!.
; logo &
P2
y2
P1
y1
x1 x2 x
Figura 1.8:
onde , ' 7' e ' ' . Veja [TA], [LB].
Se a reta é horizontal; se a reta é vertical. O ponto ' ! pertence à reta
+'
se +'
.
Exemplo 1.5.
-1 1 2 3
x
-2
-4
O ponto & ! pertence à reta ' se, e somente se
; logo,
.
y
4
-1 1 2 3 4 5
x
-1
Figura 1.10: A reta '
e o ponto *
1! .
e
' 7'
' 7' ' 7'
1.5. EQUAÇÃO DA RETA 17
'
é chamado coeficiente angular da reta e coeficiente linear da reta. É fácil ver que a equação
'7' !
Exemplo 1.6.
ou ' .
y
2
-1 1 2 3
x
-1
-2
'
; então, '
1.5.3 Paralelismo e Perpendicularismo de Retas
Sejam '
e
' as equações de duas retas. As retas são paralelas se, e
somente se:
$
0
As retas são perpendiculares se, e somente se:
0
0
18 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Exemplo 1.7.
! ' e '
(b) '
e #' sejam perpendiculares.
.
(a) As retas são paralelas se os coeficientes angulares são iguais; logo, ; donde
(b) As retas são perpendiculares se:
/!$ , donde
y y
2.0 2.0
1.5
1.5
1.0
1.0
0.5
0.5
Obtemos o ponto
! . A reta que procuramos tem equação
' tal que ,
; logo, '
onde
e . Como
a reta passa por
! , a reta procurada é '
.
-3 -2 -1 1 2 3
-1
-2
-3
!
e
onde , . Se , o lugar geométrico é um ponto.
Se e ou tem sinais opostos, não existe lugar geométrico. Se
, a equação pode ser
escrita como: ! !
0 '
!
( e tem o mesmo sinal) e tem o mesmo sinal de ou , a equação ! pode
Se
!
ser escrita como:
' !
!
onde
e
. A equação ! representa uma elipse centrada em ( ! e eixos
raio , centrado em ( ! :
paralelos aos eixos coordenados; no caso particular , a equação representa um círculo de
! !
'
( e tem sinais opostos). Se e (ou e ), a equação ! pode
Se
!
ser escrita como:
!
'
!
e .
onde
e (ou e ), a equação ! pode ser escrita como:
Se
! ' !
!
onde e
aos eixos coordenados.
. As equações ! e ! representam uma hipérbole de eixos paralelos
Se , a equação pode ser escrita como:
'
!
'
20 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Exemplo 1.8.
Soluções:
[1]
, ,
,
e ; logo, , , , e
;
. A equação representa uma elipse centrada no ponto 1! de equação:
.
equação representa um círculo centrado em 4 ! , de raio e tem a forma: ' !
y y
10 2
8
1
-1 1 2 3
x
4
-1
2
1 2 3 4 5 6
x -2
[3] Como
, , e , temos: , ,
,
6 1 e . A equação representa uma hipérbole e pode ser escrita como:
' 0
1.6. EQUAÇÕES DAS CÔNICAS 21
[4] Como
, ,
,
e
, temos:,
,
, ,
,
e . A equação representa uma hipérbole:
'
!
!
0
y y
4
3
2
2
-4 -2 2 4
x -2 2 4
x
-1
-2
-2
-3
-4
[5] Como
e
, a equação representa duas retas concorrentes; de fato:
! . Logo, ' ! ! ; então, ' ou
' ' ' !
' .
[6] Como
, &
, a equação representa uma parábola de eixo paralelo ao eixo dos ' .
y y
3
2
2
1 1
-4 -2 2 4
x
-1 1 2 3 4 5
x
-1
-2 -1
-3
-2
-4
[7] Como & , a equação representa uma parábola de eixo paralelo ao eixo dos .
22 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
y
2.0
1.5
1.0
0.5
-3 -2 -1 1 2 3
x
-0.5
-1.0
1.7 Trigonometria
Inicialmente faremos uma revisão do conceito de radiano. Sabemos que arcos de círculos que
subtendem o mesmo ângulo central são semelhantes e que a razão da semelhança é a razão
entre os raios. Num círculo de centro e raio , seja o comprimento do arco subtendido
pelo ângulo central .
α
O r A
Figura 1.18:
é diretamente proporcional a e à medida do ângulo . Admitindo que o arco e o raio sejam
medidos com a mesma unidade e denotando por ! a medida do ângulo , temos
0
Note que a medida de um ângulo em radianos não depende da unidade de comprimento consi-
derada. No plano coordenado consideremos um círculo orientado no sentido anti-horário,
centrado na origem e de raio igual a . Este círculo é denominado círculo trigonométrico. O
ponto , interseção do círculo com o semi-eixo positivo das abscissas é chamado origem. Os
pontos , , , , interseções do círculo com os eixos coordenados o dividem em quatro partes
congruentes.
1.7. TRIGONOMETRIA 23
II I
C A
III IV
Figura 1.19:
α
O P A
Figura 1.20:
O seno do ângulo é denotado por $ ! e definido por: $ !$ 0
A co-tangente do ângulo é denotada por ! e definida por !+
se ; equiva-
lentemente, !
!$
$ ! se $ ! 0
! ! 0
As definições de seno, co-seno, tangente e co-tangente de um ângulo agudo são coerentes com
nossa definição. Por simetria, podemos obter os valores para os arcos maiores que * . Como
24 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
dois arcos são congruentes se suas medidas diferirem por um múltiplo de , temos que dois
arcos congruentes tem a mesma origem e a mesma extremidade, portanto o mesmo seno, co-
seno, etc. É comum representar todos os arcos congruentes ao arco por , onde é um
número inteiro. A partir das relações anteriores, definimos a secante e a co-secante do ângulo
por:
!+
'
! e
!$
$ !
! $ !
Se
*
: ! ! 0 Se
*
: , ! 1 ! 0 Se
: !
$ ! e ! 0 ! 0 Observamos que para qualquer ângulo tem-se:
! !0
! !
! ! ! 0
A verificação destas propriedades pode ser considerada como exercício. Usando as definições
é possível deduzir muitas outras propriedades ou identidades trigonométricas. Por exemplo:
!
1. $ !$ $ !
! 3. 6 !$
!
2. !$
1 ! , ! 4. !$ 0
$ *
! * * *
! *
* * *
*
*
*
*
*
*
$ ! * *
* * *
! *
* * * *
1.7.1 Aplicações
Lei dos Senos Para qualquer triângulo verifica-se:
$ !
$ !
$
5!
onde ,
,
são os lados opostos aos ângulos 7
, 7
e
, respectivamente. Considere o seguinte desenho:
1.8. EXERCÍCIOS 25
B
β
c a
γ
α
A b C
Figura 1.21:
Seja o ponto obtido pela interseção da reta que passa por e é perpendicular ao lado .
Logo:
$ !
$ !
$ $
o que implica: ! ! . Portanto:
. Analogamente,
obtemos:
$
!
$ !
$
5!
0
Área de um triângulo : Como aplicação direta da lei dos senos, obtemos a área do triângulo
:
$
!
$
!
$ !0
1.8 Exercícios
1. Ache a solução das seguintes desigualdades e represente no eixo coordenado o conjunto
solução:
(a) ' 7' '
(i)
'
(b) ' '
(j) ' '
(c) ' '-
! (k) ' ' '
(d) '
1! '
(l) ' ' '
(e) '
(m) ' ' & ' 1!
(f) '
'
(n) ' '
(g) '
'
'
'
(h) '
' (o)
'
26 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
(a)
' ' (d) ' ' (g) ' 1 '
(b) ' ! '
(e) '
1 '
'
' (h) '
'
(c) ' ' (f) '
(a) 1
! (
1! (e)
! !
(i)
1! 1!
(b) 1 ! ( 1! (f)
!
! (j)
,
!
!
(c) ( ! ( 1! (g)
1! ( !
(d)
! ! (h) ( ! !
16. Seja um ponto numa parábola ou numa elipse. Uma reta que passe por é dita tangen-
te à parábola ou à elipse no ponto se a parábola ou a elipse estão contidas inteiramente
num dos semi-planos determinado pela reta. Verifique que a a reta '
é tangente
à parabola +' ' no ponto ! .
17. Dada a reta '
tal que:
(a)
(c)
!
(e)
!
(f)
(b)
(d) $
!
28 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
(b)
$ ' ' ! '
!
! (e) ! !
(c)
(a)
! !
(b) !
!
(c) $ !
$ !
(d) $ ! $ !
!
!$
0
(b)
(c) A área do triângulo é ! #! ! . Esta expressão é chamada Fórmula
de Herón.
23. Lei dos Co-senos: Para qualquer triângulo , verifique:
(a)
! (c)
!
(b)
!
onde ,
,
são os lados opostos aos ângulos
,
7 e , respectivamente.
24. Determine a área do triângulo , se:
)
(a) (c)
(b)
(d)
7
25. Sejam a reta ' e o ângulo formado pela reta e o eixo positivo dos ' . Verifique
que ! . Determine a equação da reta que passa pelo ponto indicado e forme com
28. Um poste na posição vertical, colocado num plano horizontal, encontra-se a de uma
parede plana e vertical. Neste instante, o sol projeta a sombra do poste na parede. Saben-
do que esta sombra tem
e que a altura do poste é
29. Um retângulo com lados adjacentes medindo $ ! e ! com tem períme-