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AULA 1 (22/8/05)

Trinômios básicos da relação processual (trilogia estrutural):

. Jurisdição
. Ação
. Processo

1) Jurisdição

Definição

Segundo Chiovenda, jurisdição é a função do Estado que visa a


atuação da vontade concreta da lei (aplicação da lei ao caso
concreto).

Para Carnellutti, discípulo e opositor de Chiovenda, jurisdição é a


função que busca a justa composição das lides em juízo (lide: é o
conflito de interesses caracterizado por uma pretensão resistida)

A crítica que se faz a Carnellutti é no sentido de que a jurisdição


não está atrelada à existência da lide, que para ele era um elemento
essencial ao exercício da jurisdição. Hoje em dia, a lide é encarada
como elemento acidental da jurisdição.

De acordo com Alexandre Câmara, que utiliza a definição de


Chiovenda, muitos processualistas, tais como Athos Gusmão Carneiro
e Humberto Theodoro Júnior, somam as duas definições para
caracterizar jurisdição, o que não é correto, já que as idéias são
distintas.

Características (para Chiovenda havia apenas duas)

a) inércia

A inércia é, acima de tudo, uma garantia de imparcialidade do


órgão jurisdicional.
De acordo com o artigo 2º, CPC, a jurisdição deve ser prestada
mediante provocação, o que caracteriza o Princípio da Demanda ou
da Ação ou da Inércia.
O artigo 262 confirma a regra, ao passo que o art. 989 trata de
uma exceção.

Artigo 2º: Nenhum juiz prestará a tutela


jurisdicional senão quando a parte ou o

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interessado a requerer, nos casos e formas
legais.

Artigo 262: O processo civil começa por iniciativa


da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.

Artigo 989: O juiz determinará, de ofício, que se


inicie o inventário, se nenhuma das pessoas
mencionadas nos artigos antecedentes o
requerer no prazo legal.

b) caráter substitutivo

Houve um tempo em que a Justiça não era uma função pública


(ex.: Lei de Talião), sendo que sua publicização não se tratou de uma
evolução, mas sim de uma maneira de tornar o Estado mais forte.
Assim, atualmente o Estado substitui uma atividade que,
originariamente, pertencia aos particulares, passando a dizer o
direito.
Há, porém, casos em que o Estado não substitui a atividade dos
particulares, constituindo exceções a esse caráter substitutivo da
jurisdição, tais como, o desforço possessório imediato, a arbitragem e
a nunciação de obra nova, em que há embargo oral com duas
testemunhas.

c) natureza declaratória (característica não apresentada por


Chiovenda, mas amplamente aceita pela doutrina moderna)

A natureza declaratória é inerente ao exercício da jurisdição,


independentemente do tipo de provimento. Logo, qualquer sentença,
seja ela condenatória, constitutiva, mandamental ou executiva lato
sensu, possui caráter declaratório.
Chiovenda não incluiu essa terceira característica da jurisdição
porque para ele a natureza declaratória já faz parte desse conceito,
uma vez que todo provimento jurisdicional, em um primeiro
momento, tem natureza declaratória, não havendo exceção.
O exercício da jurisdição consiste na declaração de direitos pré-
existentes, através da aplicação da norma ao caso concreto. Portanto,
o direito não é criado com a prolação da sentença, sendo pré-
existente a ela.

Classificação quanto ao tipo de pretensão

a) contenciosa
b) voluntária

Teoria Clássica (STJ /majoritária)

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De acordo com essa teoria, a jurisdição contenciosa é
caracterizada pela presença de partes, processo e lide. Já na
jurisdição voluntária, não há partes, mas sim interessados; não
há processo, mas sim procedimento, e não há lide.
Para Frederico Marques, a jurisdição voluntária é a
administração pública de interesses privados. A doutrina
complementa esse entendimento dizendo que os provimentos de
jurisdição voluntária não alcançam a autoridade de coisa julgada
material.
Portanto, para tal teoria, a jurisdição voluntária é o
exercício de função administrativa pelo Estado-juiz (ex.:
separação consensual, interdição, alienação de bens de incapaz).
Há um acórdão do STJ, de autoria do Ministro Salvo Teixeira,
que expõe essa definição de jurisdição voluntária da Teoria Clássica.

Teoria Revisionista (Alexandre Câmara, Ovídio Batista)

Para essa teoria, na jurisdição voluntária há exercício de


jurisdição, ou seja, todas as características inerentes à jurisdição
estão presentes na jurisdição voluntária, tais como a inércia, o caráter
substitutivo, a citação e a participação do MP. Quanto à natureza
declaratória, apesar de boa parte dos procedimentos de jurisdição
voluntária ter caráter constitutivo, deve-se entender, como
demonstrado anteriormente, que ela está sempre presente em todos
os provimentos.
Artigos que confirmam a presença das características da
jurisdição na jurisdição voluntária (arts. 1º, 2º, 213 e 1105):

Artigo 1º: A jurisdição civil, contenciosa e


voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o
território nacional, conforme as disposições que
este Código estabelece.

Esse artigo não fala em função administrativa ao se referir à


jurisdição voluntária.

Artigo 2º: Nenhum juiz prestará a tutela


jurisdicional senão quando a parte ou o
interessado a requerer, nos casos e formas
legais.

Esse artigo fala em requisição do interessado, caracterizando a


inércia, além da função substitutiva.

Artigo 213: A citação é o ato pelo qual se chama


a juízo o réu ou interessado a fim de se
defender.

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Há citação em alguns casos de jurisdição voluntária, como no caso do
interditando na interdição.

Artigo 1105: Serão citados, sob pena de


nulidade, todos os interessados, bem como o
Ministério Público.

Aqui, deve-se observar que quando o MP atua em um processo, ele é


intimado, e não citado.

Artigo 238, § 2º: A intimação do Ministério


Público, em qualquer caso, será feita
pessoalmente.

Para o TJ/RJ e o STJ, nem sempre é obrigatória a intervenção do


MP nos casos de jurisdição contenciosa ou voluntária, sendo ela
somente indispensável nas situações apresentadas pelo artigo 82,
CPC.

Artigo 82: Compete ao Ministério Público intervir:

I- nas causas em que há interesses de


incapazes;
II - nas causas concernentes ao estado da
pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição,
casamento, declaração de ausência e
disposições de última vontade;
III - nas ações que envolvam litígios coletivos
pela posse da terra rural e nas demais causas
em que há interesse público evidenciado pela
natureza da lide ou qualidade da parte.

2) Ação

A jurisdição é provocada através do exercício do direito de


ação.
O CPC adotou a Teoria Eclética da Ação, do italiano Enrico
Túlio Liebman, que durante II Guerra Mundial veio lecionar na USP.

De acordo com essa teoria, são condições da ação:

. legitimidade para a causa;


. interesse processual;
. possibilidade jurídica do pedido

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Artigo 3º: Para propor ou contestar ação é
necessário ter interesse e legitimidade.

Artigo 267: Extingue-se o processo, sem


julgamento do mérito:

VI – quando não concorrer qualquer das


condições da ação, como a possibilidade jurídica,
a legitimidade das partes e o interesse
processual;

Pouco antes de morrer, Liebman retirou a possibilidade jurídica do


pedido das condições da ação, por entender se tratar de mérito. Seu
discípulo, Alfredo Buzaid, organizador do CPC, passou a adotar
apenas as outras duas condições, mas como o CPC tramitou por mais
de dez anos no Congresso, o artigo 267, VI, foi esquecido. Hoje em
dia, porém, são adotadas todas as três condições da ação.

a) legitimidade para a causa

. ordinária (regra): defesa em nome próprio de direito próprio.

Artigo 6º: ninguém poderá pleitear, em nome


próprio, direito alheio, salvo quando autorizado
por lei.

Artigo 934: Compete esta ação:

III- ao Município, a fim de impedir que o


particular construa em contravenção da lei, do
regulamento ou de postura.

Esse artigo trata dos legitimados para a ação de nunciação de obra


nova, na qual se pretende desfazer ou impedir a construção de obra
irregular. Deve-se observar, porém, que o Município só será
legitimado ordinário quando houver violação de lei municipal, já
quando a obra for realizada em desacordo com legislação estadual ou
federal, os legitimados serão o Estado e a União, respectivamente.
Caso o Município fosse legitimado em caso de violação de lei estadual
ou federal, deveria haver autorização por lei para que ele atuasse
como legitimado extraordinário.

Na investigação de paternidade, o filho é o legitimado ordinário,


representado por sua mãe, se incapaz.

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. extraordinária (exceção): defesa em nome próprio de direitos
alheios, somente nos casos previstos em lei.

Para alguns doutrinadores, a legitimação extraordinária é o


mesmo que substituição processual.

Legitimação extraordinária para ação de mandado de


segurança coletivo (art. 5º, LXX, CR): a entidade de classe tem
legitimidade extraordinária para defender interesses de apenas uma
parte da categoria.

Art. 5º, LXX, CRFB - o mandado de segurança


coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no
Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou
associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou
associados;

Súmula 630, STF: A entidade de classe tem


legitimação para o mandado de segurança ainda
quando a pretensão veiculada interesse apenas
a uma parte da respectiva categoria.

Lei 4717/65, artigo 16: Caso decorridos 60


(sessenta) dias da publicação da sentença
condenatória de segunda instância, sem que o
autor ou terceiro promova a respectiva
execução, o representante do Ministério Público
a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob
pena de falta grave.

A legitimidade extraordinária do MP na Ação Popular nasce diante da


inércia do cidadão no processo de execução. Alguns doutrinadores a
chamam de legitimidade extraordinária subsidiária.

Artigo 566: Podem promover a execução


forçada:

II – o Ministério Público, nos casos prescritos em


lei.

A legitimação do MP pode se dar, por exemplo, na Ação Civil Pública


(extraordinária) e na investigação de paternidade, na qual pode haver
litisconsórcio entre ele e o investigante (para alguns doutrinadores,

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seria caso de legitimidade extraordinária concorrente, sendo o último
o legitimado ordinário).

AULA 2 (29/8/05)

b) interesse de agir (ou processual): necessidade/adequação


(utilidade)

Exemplo: seguro de vida não foi pago, havendo, portanto,


necessidade de seu pagamento. Se a parte ajuizar ação sumária de
cobrança, essa não será a via adequada (art. 585, III). Por se tratar de
título executivo, deve-se utilizar diretamente o processo de execução.

Art. 585: São títulos executivos extrajudiciais:

III- os contratos de hipoteca, de penhor, de


anticrese e de caução, bem como de seguro de
vida e de acidentes pessoais de que resulte
morte ou incapacidade;

A prestação jurisdicional tem que ser necessária e adequada.

Em regra, não cabe à parte optar por processo, procedimento


ou rito, cabendo à lei essa imposição. Deve-se observar,
primeiramente, se a via adequada é o processo de execução, caso
contrário, será o de conhecimento; dentro dele, deve-se observar se o
procedimento é especial ou ordinário.

Exceção: artigo 1102c, §1º - no caso de cheque prescrito, que perde


sua eficácia executiva após 6 meses contados de sua apresentação
na praça, há obrigação de se utilizar o procedimento monitório ou
pode-se optar pela ação de cobrança? Pode ser feita a opção. A
utilização da via da monitória acarreta uma espécie de prêmio para o
réu, que não pagará as custas sucumbenciais quando cumprir o
mandado, não sendo o autor ressarcido dessas custas.

Art. 1102c, § 1º: Cumprindo o réu o mandado,


ficará isento de custas e honorários advocatícios.

Obs.: Juizado Especial Estadual representa uma opção para o autor;


mesmo que a causa seja de valor inferior a 40 salários mínimos, ele
poderá ingressar na Justiça Comum. Já na Justiça Federal, quando o
juizado estiver instalado, sua competência é absoluta para as causas
com pedido inferior a 60 salários mínimos (art. 3º, § 3º, Lei 10259/01)

Art. 3º, § 3º, Lei 10.259/01: No foro onde estiver


instalada Vara do Juizado Especial, a sua
competência é absoluta.

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c) possibilidade jurídica do pedido: pedidos formulados deverão
estar previstos em lei, mas nada impede que eles simplesmente não
sejam proibidos (pretensão deve ser prevista em lei ou não proibida).

Exemplo: cobrança de R$ 50.000,00 decorrentes de dívida de jogo. O


pedido não é vedado pela lei, mas sua causa de pedir sim, o que
significa dizer que muitas vezes a causa de pedir (fato ou seu
conjunto) contamina o pedido. Diante disso, devem-se analisar,
também, os elementos da demanda.

A doutrina faz críticas às condições da ação apresentadas por


Liebman em sua Teoria Eclética da Ação.

Em um momento, predominou a Teoria Concreta, através da


qual o direito de ação só existiria se também existisse o
direito material, logo, se o pedido fosse improcedente, não haveria
direito de ação.

Houve uma evolução para a Teoria Abstrata, que diz o


seguinte: a ação é um direito público, subjetivo e abstrato de
invocar a prestação jurisdicional, logo, ela existe
independentemente do direito material (art. 5º, XXXV, CR).

Art. 5º, XXXV, CRFB - a lei não excluirá da


apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito;

A Teoria Eclética seria uma mistura dessas duas teorias.


Segundo ela, a ação existe independentemente do direito
material, mas depende do preenchimento das condições da
ação. A crítica que se faz aqui é no sentido de a ação não depender
de nenhuma condição.

De acordo com Alexandre Câmara, se a ação não está condicionada,


as condições da ação seriam requisitos necessários para um
provimento final de mérito (para o legítimo exercício do direito de
ação).

Outras teorias:

1) Teoria da Exposição (Cândido Dinamarco, Ada Pellegrini): é


necessário que as condições da ação sejam provadas, sob pena de
extinção do processo sem julgamento do mérito.

2) Teoria da Asserção (Barbosa Moreira, Sérgio Ricardo, Alexandre


Câmara): juiz considera presentes as condições da ação pelas simples
alegações do autor.

Exemplo: em uma ação de investigação de paternidade, alega-se na


inicial que o réu é o suposto pai da criança. Realizado o exame de
DNA, verificou-se que o réu não era o pai. Para a primeira teoria, o

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processo deve ser extinto sem julgamento do mérito por ilegitimidade
de parte, fazendo coisa julgada formal, já se for utilizada a segunda
teoria, o processo será julgado improcedente, havendo sentença
definitiva e, portanto, coisa julgada material.

O direito de ação se desenvolve dentro de um processo.

3) processo (3º elemento da trilogia processual): é a relação jurídica


triangular que envolve a participação dos sujeitos.

Art. 267: Extingue-se o processo sem julgamento


de mérito:

IV: quando se verificar a ausência de


pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;

Analisando o artigo 267, IV, percebemos que os pressupostos


processuais não são regulamentados pelo CPC, sendo que para
Cândido Dinamarco e Ada Pellegrini, eles seriam os seguintes:

a) capacidade processual das partes

. capacidade para ser parte (art. 7º): inerente a todas as pessoas,


incluindo as físicas e as jurídicas. O art. 12 fala na massa falida,
herança e no espólio, que não são pessoas, mas, por atribuição legal,
podem estar em juízo, possuindo, portanto, capacidade para ser
parte.

Art. 7º: Toda pessoa que se acha no exercício


dos seus direitos tem capacidade para estar em
juízo.

Art. 12: Serão representados em juízo, ativa e


passivamente:

III- a massa falida, pelo síndico;

IV- a herança jacente ou vacante, por seu


curador;

V- o espólio, pelo inventariante;

Obs.: Hely Lopes Meirelles fala em “personalidade judiciária” para ser


parte no Mandado de Segurança, referindo-se aos entes
despersonalizados do CPC.

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. capacidade para estar em juízo (art. 8º): legitimidade para o
processo. O incapaz possui capacidade para ser parte, mas tem que
ser representado, assim como o ente despersonalizado.

Art. 8º: Os incapazes serão representados ou


assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na
forma da lei civil.

. capacidade postulatória (art. 36): conferida pelo advogado


legalmente habilitado (exceção: causas de até 20 salários mínimos no
JEC).

Art. 36: A parte será representada em juízo por


advogado legalmente habilitado. Ser-lhe-á lícito,
no entanto, postular em causa própria, quando
tiver habilitação legal ou, não a tendo, no caso
de falta de advogado no lugar ou recusa ou
impedimento dos que houver.

Segundo o Código Civil, o mandato judicial será regulado


conforme dispuser o CPC, que não exige reconhecimento de firma.
Logo, a procuração do advogado para atuar em juízo dispensa
reconhecimento de firma porque goza de presunção relativa de
veracidade (STJ).

Art. 10: fala sobre o consentimento do cônjuge para ação sobre


direito real imobiliário; é necessária autorização. A preocupação do
legislador não é com o regime do casamento, mas sim com o
ajuizamento de ações fundadas em direitos reais imobiliários (ex.:
usucapião).

Art. 10: O cônjuge somente necessitará do


consentimento do outro para propor ações que
versem sobre direitos reais imobiliários.

Art. 10, § 2º: em regra, a ação possessória não necessita de


autorização (legislador quis que a discussão sobre a natureza da
posse não interferisse na necessidade de autorização). Por esse
artigo, a posse não foi encarada como direito real. Já o art. 95 diz que
o foro competente para a ação possessória é o da situação da coisa,
dando a entender que a posse seria um direito real.

Art. 10, § 2º: Nas ações possessórias, a


participação do cônjuge do autor ou do réu
somente é indispensável nos casos de composse
ou de ato por ambos praticado.

Art. 95: Nas ações fundadas em direito real


sobre imóveis é competente o foro da situação
da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo
foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o

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litígio sobre direito de propriedade, vizinhança,
servidão, posse, divisão e demarcação de terras
e nunciação de obra nova.

Art. 11: falta de consentimento pode ser suprida para não


inviabilizar a demanda.

Art. 11: A autorização do marido e a outorga da


mulher podem suprir-se judicialmente, quando
um cônjuge a recuse ao outro sem justo motivo,
ou lhe seja impossível dá-la.

§ único: A falta, não suprida pelo juiz, da


autorização ou da outorga, quando necessária,
invalida o processo.

b) demanda regularmente constituída: é a materialização do


direito de ação. Seu instrumento é a petição inicial.

Toda demanda se identifica pela presença de três elementos


(elementos identificadores da demanda ou elementos da ação):

- partes (partes idênticas devem ocupar a mesma posição jurídica:


mesmo autor em face do mesmo réu em duas ou mais demandas);

- causa de pedir (de acordo com a Teoria da Substanciação, adotada


pelo Direito brasileiro, a causa de pedir é representada pelos fatos);

- pedido.

Os fundamentos jurídicos integram a causa de pedir? Ver posição do


STJ.

Representa alteração na causa de pedir a mudança quanto à


fundamentação jurídica? Ver posição STJ.

AULA 3 (05/9/05)

O artigo 282 indica quais são os requisitos da inicial. Seu inciso


III fala sobre os fundamentos jurídicos, que não integram a causa de
pedir, que é representada apenas pelos fatos, de acordo com a Teoria
da Substanciação. Portanto, de acordo com o STJ, não implica
alteração na causa de pedir a mudança da fundamentação jurídica.

Art. 282: A petição inicial indicará:

I- o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

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II- os nomes, prenomes, estado civil, profissão,
domicílio e residência do autor e do réu;

III- o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV- o pedido, com as suas especificações;

V- o valor da causa;

VI- as provas com que o autor pretende


demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII- o requerimento para a citação do réu.

Ex.: negócio jurídico celebrado com vício do produto. Na sentença, o


juiz entende que houve vício do serviço, o que não impede apreciação
do pedido, já que a causa de pedir é formada pelos fatos, e não pelos
fundamentos jurídicos. Se o Tribunal entender que houve vício do
produto, isso não vai impedir a apreciação da apelação.

Dessa forma, causa de pedir é diferente de fundamento jurídico


(requisito da inicial que não integra a causa de pedir), que por sua
vez é diferente de fundamento, ou fundamentação, legal (refere-se ao
número do artigo ou da Lei, não sendo necessário na inicial).

A causa de pedir se divide em:

. remota: fato constitutivo

. próxima: lesão

Ex.: no caso de a parte ter alegado a celebração de negócio jurídico


com erro, não vai importar a qualificação do vício.

Ainda quanto à causa de pedir, não foi adotada no Brasil a


Teoria da Individuação, através da qual a causa de pedir é
representada pela relação jurídica, não sendo necessária a exposição
do fato.

O terceiro elemento identificador da demanda é o pedido, que é


o objeto do processo, é a pretensão deduzida em juízo. No artigo 103,
o “objeto” corresponde ao pedido.

Art. 103: Reputam-se conexas duas ou mais


ações, quando lhes for comum o objeto ou a
causa de pedir.

Regras quanto ao pedido:

1ª) artigo 286, caput: pedido deverá ser certo e determinado. Em


regra, não se admite formulação de pedido genérico, sendo as
exceções apresentadas nos incisos.

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Art. 286: O pedido deve ser certo ou (e)
determinado. É licito, porém, formular pedido
genérico:

I- nas ações universais, se não puder o autor


individuar na petição os bens demandados;

Ex.: ações que envolvem universalidade de bens (tecnicamente, não


existe “ação universal”);

II- quando não for possível determinar, de modo


definitivo, as conseqüências do ato ou do fato
ilícito;

Ex.: ação de indenização por acidente em via terrestre;

III- quando a determinação do valor da


condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu.

Ex.: ação para se exigir conta (ação de prestação de contas).

O pedido de dano moral se enquadra nas exceções do artigo 286?

1ª corrente) Não, pois caberia à parte formular pedido certo e


determinado, já que não há ressalva no CPC;

2ª corrente) Desembargador Sérgio Cavalieri: Com o NCC, permite-se


que o magistrado atribua valor à moral, segundo seu prudente
arbítrio.

O STJ se divide quanto a essa questão.

2ª) artigo 293: os pedidos serão interpretados restritivamente. Há


hipóteses, porém, de pedido implícito, como os juros legais, os
honorários sucumbenciais (art. 20, § 4º) e as prestações vincendas
nas obrigações periódicas (290).

Art. 293: Os pedidos são interpretados


restritivamente, compreendendo-se, entretanto,
no principal os juros legais.

Art. 20, § 4º: Nas causas de pequeno valor, nas


de valor inestimável, naquelas em que não
houver condenação ou for vencida a Fazenda
Pública, e nas execuções, embargadas ou não,
os honorários serão fixados consoante
apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as

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normas das alíneas a, b e c do parágrafo
anterior.

Art. 290: Quando a obrigação consistir em


prestações periódicas, considerar-se-ão elas
incluídas no pedido, independentemente de
declaração expressa do autor; se o devedor, no
curso do processo, deixar de pagá-las ou de
consigná-las, a sentença as incluirá na
condenação, enquanto durar a obrigação.

3ª) artigo 460: pedido deve ser formulado com todas as suas
especificações. Ao sentenciar, o juiz observará os limites do pedido:
Princípio da Congruência ou da Correlação ou do Dispositivo ou da
Adstrição da sentença ao pedido. Há, porém, exceções:

Art. 460: É defeso ao juiz proferir sentença, a


favor do autor, de natureza diversa da pedida,
bem como condenar o réu em quantidade
superior ou em objeto diverso do que lhe foi
demandado.

§ único: A sentença deve ser certa, ainda quando


decida relação jurídica condicional.

. na ação de investigação de paternidade, se a parte não fixar pedido


para condenação a pagamento de alimentos, o juiz pode fixá-lo de
ofício, por se tratar de direito indisponível (entendimento tranqüilo na
doutrina e na jurisprudência)

. artigo 461, § 5º (rol exemplificativo) permite que de ofício o juiz


tome algumas providências. Há duas interpretações relativas a esse
artigo:

Art. 461, § 5º: Para a efetivação da tutela


específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a
requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por
tempo de atraso, busca e apreensão, remoção
de pessoas e coisas, desfazimento de obras e
impedimento de atividade nociva, se necessário
com requisição de força policial.

►para Luis Guilherme Marinoni, trata-se de uma exceção o Princípio


do Dispositivo (corrente minoritária);

►para Cândido Dinamarco, as providências do parágrafo têm como


objetivo garantir cumprimento à decisão judicial, sendo medidas de
apoio. Não se trata de uma exceção ao Princípio do Dispositivo.

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Segundo Marinoni, efetividade é a prestação jurisdicional em
um curto espaço de tempo e com o menor esforço possível.

Para uma demanda ser regularmente constituída, ela não pode


ser idêntica à outra, o que é aferido através da análise de seus três
elementos.

c) órgão investido de jurisdição (terceiro pressuposto processual).

A competência é uma delimitação da jurisdição, que é exercida


no território nacional. Com base nessa afirmativa, o mais correto seria
que o Título IV, em seu Capítulo II, fosse “Da jurisdição Internacional”
e não “Da competência internacional”.

O artigo 89 cuida da jurisdição internacional exclusiva.

Art. 89: Compete à autoridade judiciária


brasileira, com exclusão de qualquer outra:

I- conhecer de ações relativas a imóveis situados


no Brasil;

Essa ação pode ser fundada em direito real ou pessoal.

II- proceder a inventário e partilha de bens,


situados no Brasil, ainda que o autor da herança
seja estrangeiro e tenha residido fora do
território nacional.

Tais bens podem ser móveis ou imóveis. A partilha pode ser


decorrente de inventário, separação ou divórcio. De acordo com o
STF, pode haver homologação de divórcio, mas não daquele em que
há partilha cujos bens estejam aqui situados.

O artigo 88 trata da jurisdição internacional concorrente.

Art. 88: É competente a autoridade judiciária


brasileira quando:

I- o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade,


estiver domiciliado no Brasil;

II- no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

III- a ação se originar de fato ocorrido ou de ato


praticado no Brasil.

§ único: Para o fim do disposto no n. I, reputa-se


domiciliada no Brasil a pessoa jurídica
estrangeira que aqui tiver agência, filial ou
sucursal.

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Ex.: empresa estrangeira contrata mão-de-obra brasileira para
cumprir obrigação no Brasil, sendo que a obrigação foi cumprida, mas
não foi recebido o pagamento. A competência será da autoridade
brasileira ou da estrangeira.

A jurisdição tem sido considerada pressuposto processual, já


que se ela faltar vai ser extinta a ação. Por outro lado, o juiz
incompetente, em regra, não extingue o processo, pois os autos serão
remetidos para o competente. Para o STF, não se deve falar, no caso,
em causa de extinção do processo. Há, porém, uma exceção: nos
Juizados, a incompetência relativa acarreta a extinção do processo
(artigo 51, III, Lei 9099/95).

Art. 51, Lei 9099/95: Extingue-se o processo,


além dos casos previstos em lei:

III- quando for reconhecida a incompetência


territorial.

Para Alexandre Câmara e Ada Pellegrini, a competência não é


mais considerada um pressuposto processual.

AULA 4 (12/9/05)

De acordo com o STJ e o TJ/RJ, a intervenção do MP nos


procedimentos de jurisdição voluntária se dá apenas nos casos
previstos no artigo 82, CPC.

Artigo 82: Compete ao Ministério Público intervir:

I- nas causas em que há interesses de


incapazes;
II - nas causas concernentes ao estado da
pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição,
casamento, declaração de ausência e
disposições de última vontade;
III - nas ações que envolvam litígios coletivos
pela posse da terra rural e nas demais causas
em que há interesse público evidenciado pela
natureza da lide ou qualidade da parte.

Vimos, então, que os pressupostos processuais são capacidade


das partes, demanda regularmente constituída e órgão investido de
jurisdição. Assim, dentro deles há uma divisão entre pressupostos de
existência e de validade:

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►Capacidade processual: pressuposto de validade;

► Partes: pressuposto de existência.

► Demanda regularmente constituída: pressuposto de validade;

► Demanda: pressuposto de existência.

► Órgão investido de jurisdição: pressuposto de existência

► Jurisdição no caso em concreto: pressuposto de validade.

Sujeitos do processo

. Litisconsórcio: figura jurídica caracterizada pela pluralidade de


partes em um dos pólos da relação processual ou vice-versa (Cândido
Dinamarco).

Quanto à obrigatoriedade de formação:

a) litisconsórcio necessário (há obrigatoriedade de formação)

Art. 47: Há litisconsórcio necessário, quando, por


disposição de lei ou pela natureza da relação
jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo
uniforme para todas as partes; caso em que a
eficácia da sentença dependerá da citação de
todos os litisconsortes no processo.

§ único: O juiz ordenará ao autor que promova a


citação de todos os litisconsortes necessários,
dentro do prazo que assinar, sob pena de
declarar extinto o processo.

Com base no art. 47, § único, a parte deve fornecer os meios


necessários para a citação dentro de um prazo estabelecido pelo juiz.
Juiz não pode despachar com o “cite-se”, mas sim dizendo “que o
autor promova a ação”. Nesse sentido, deve ser observada a Súmula
631, STF.

Súmula 631, STF: Extingue-se o processo de


mandado de segurança se o impetrante não
promove, no prazo assinado, a citação do
litisconsorte passivo necessário.

. por disposição de lei ( art. 10, § 1º; art. 942)

17
Art. 10, § 1º: Ambos os cônjuges serão
necessariamente citados para as ações:

I- que versem sobre direitos reais imobiliários;

II- resultantes de fatos que digam respeito a


ambos os cônjuges ou de atos praticados por
eles;

III- fundadas em dívidas contraídas pelo marido a


bem da família,mas cuja execução tenha de
recair sobre o produto do trabalho da mulher ou
os seus bens reservadas;

IV- que tenham por objeto o reconhecimento, a


constituição ou a extinção de ônus sobre imóveis
de um ou de ambos os cônjuges.

O artigo 10 § 1º não se refere apenas às ações fundadas em direito


real, sendo que seu inciso IV refere-se a ônus real.

Pelo artigo 942, a ação de usucapião serve também para


determinar um juízo demarcatório, motivo pelo qual devem ser
também citados os confinantes.

Art. 942: O autor, expondo na petição inicial o


fundamento do pedido e juntando planta do
imóvel, requererá a citação daquele em cujo
nome estiver registrado o imóvel usucapiendo,
bem como dos confinantes, por edital, dos réus
em lugar incerto e dos eventuais interessados,
observado quanto ao prazo o disposto no inciso
IV do art. 232.

. pela natureza da relação jurídica (relação jurídica incindível)

A ação de casamento proposta pelo MP deverá ser ajuizada em


face de ambos os cônjuges.

Nas ações rescisórias também há necessidade de litisconsórcio


passivo para que a decisão alcance a todos.

O mesmo ocorre no caso do executado que nomeia à penhora


bem de terceira pessoa, hipótese em que o embargo de terceiro será
em face do executado e do exeqüente.

Predomina o entendimento de que não há litisconsórcio


necessário ativo, sob pena de violação ao Princípio do Acesso Amplo
ao Poder Judiciário. Dessa forma, entende-se que deve ser citada a

18
pessoa que deveria ter feito parte do pólo ativo mas não quis, a fim
de que a sentença faça coisa julgada entre as partes. A citação, nesse
caso, será um mecanismo para dar à pessoa ciência sobre o processo
e não para se defender, conforme dispõe o artigo 213, CPC.

Artigo 213: A citação é o ato pelo qual se chama


a juízo o réu ou interessado a fim de se
defender.

Cândido Dinamarco defende, minoritariamente, que há


litisconsórcio ativo necessário.

Art. 267: Extingue-se o processo sem julgamento


de mérito:

I- quando o juiz indeferir a petição inicial;

II- quando ficar parado durante mais de 1 (um)


ano por negligência das partes;

III- quando, por não promover ao atos e


diligências que lhe competir, o autor abandonar
a causa por mais de 30 (trinta) dias;

IV- quando se verificar a ausência de


pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;

V- quando o juiz acolher a alegação de


perempção, litispendência ou de coisa julgada;

VI- quando não concorrer qualquer das


condições da ação, como possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual;

O abandono (art. 267, III) não é forma de extinção do processo no


caso do artigo 47, § único, conforme remissão feita pelo CPC. Quanto
à hipótese extinção do processo pela falta de citação de um dos
litisconsortes necessários, há duas correntes:

1ª) haverá extinção com base no art. 267, VI, por falta de
legitimidade processual já que todos os litisconsortes devem integrar
a relação processual (Alexandre Câmara);

2ª) uma corrente minoritária entende que a citação é um pressuposto


processual, logo, a falta de citação de um litisconsorte passivo
necessário acarretaria a extinção do processo pelo artigo 267, IV.

19
b) litisconsórcio facultativo: não há obrigatoriedade de formação

Art. 46: Duas ou mais pessoas podem litigar no


mesmo processo, em conjunto, ativa ou
passivamente, quando:

I- entre elas houver comunhão de direitos ou de


obrigações relativamente à lide:

Ex.: obrigação solidária.

II- os direitos ou as obrigações derivarem do


mesmo fundamento de fato ou de direito;

Quando houver a mesma causa de pedir.

III- entre as causas houver conexão pelo objeto


ou pela causa de pedir;

Esse inciso absorve o II.

IV- ocorrer afinidade de questões por um ponto


comum de fato ou de direito.

Afinidade de questões: litisconsórcio impróprio, para alguns autores.

§ único: O juiz poderá limitar o litisconsórcio


facultativo quanto ao número de litigantes,
quando este comprometer a rápida solução do
litígio ou dificultar a defesa. O pedido de
limitação interrompe o prazo para a resposta,
que recomeça da intimação da decisão.

Litisconsórcio multitudinário. Nesse caso, a limitação quanto ao


número de litisconsortes pode se dar de ofício pelo juiz. De acordo
com os Tribunais, um número excessivo de litigantes, na prática,
seria maior que 10, mas vai depender do caso concreto. O importante
é que não haja dificuldade de defesa nem prejuízo à rápida solução
do litígio. Predomina a solução do desmembramento do processo,
dispensando-se nova petição inicial. Contrariamente, Alexandre
Câmara entende que deverá ser determinada a exclusão dos
litisconsortes excessivos no caso de litisconsórcio multitudinário.

Artigo 125: O juiz dirigirá o processo conforme as


disposições deste Código, competindo-lhe:

II- velar pela rápida solução do litígio;

A decisão que exclui litisconsorte é interlocutória, sujeitando-se


a agravo.

20
Quando houver pluralidade de partes em ambos os pólos, o
litisconsórcio será misto.

Quanto à decisão:

a) litisconsórcio unitário: é aquele em que há obrigatoriedade de


uniformidade de decisão. Ex.: anulação de casamento proposta pelo
MP; embargos de terceiro quando o executado tiver nomeado à
penhora bem de terceiro; ação de anulação de assembléia
condominial (litisconsórcio ativo facultativo unitário);

b) litisconsórcio simples ou comum: não há obrigatoriedade de


uniformidade da decisão. Ex.: ação de usucapião em relação aos
confinantes.

A que tipo de litisconsórcio se aplica o artigo 320, I, CPC?

Como classificar o litisconsórcio que se forma na oposição?

Aplica-se na oposição o previsto no artigo 191, CPC?

Como interpretar o artigo 1228 do NCC face à nomeação à autoria?

O que é extromissão?

O que é denunciação per saltum?

AULA 5 (26/9/05)

Dinâmica do litisconsórcio

Art. 48: Salvo disposição em contrário, os


litisconsortes serão considerados, em suas
relações com a parte adversa, como litigantes
distintos; os atos e as omissões de um não
prejudicarão nem beneficiarão os outros.

O artigo 48 apresenta o Princípio da Independência dos


Litisconsortes, que é a regra. Essa independência também pode ser
observada no artigo 350, que cuida da confissão.

Art. 350: A confissão judicial faz prova contra o


confitente, não prejudicando, todavia, os
litisconsortes.

21
1ª exceção) art. 320, I, que determina que a contestação apresentada
por um dos litisconsortes impedirá a revelia dos demais.

Art. 320: A revelia não induz, contudo, o efeito


mencionado no artigo antecedente:

I – se, havendo pluralidade de réus, algum deles


contestar a ação;

Art. 319: Se o réu não contestar a ação,


reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados
pelo autor.

No litisconsórcio unitário, o juiz vai ter que proferir a mesma


decisão para todos, logo, o artigo 320, I, em regra, só se aplica a esse
tipo de litisconsórcio e não ao litisconsórcio simples. Se, porém, nesse
último, as impugnações constantes da contestação forem referentes
a fatos que se apliquem aos demais litisconsortes, não há como a
contestação apresentada por um não se estender aos demais
litisconsortes.

2ª exceção) artigo 509: o recurso interposto pelo litisconsorte unitário


aproveitará aos demais.

Art. 509: O recurso interposto por um dos


litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses.

Ex.: empregados em face da empresa pleiteando vantagens


pecuniárias semelhantes (litisconsórcio ativo facultativo simples).
Nesse caso, o recurso de um não aproveitará aos demais.

O artigo 191 dispõe no sentido de que quando os litisconsortes


tiverem procuradores diferentes, o prazo será contado em dobro.

Art. 191: Quando os litisconsortes tiverem


diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados
em dobro os prazos para contestar, para recorrer
e, de modo geral, para falar nos autos.

Ex.: em um litisconsórcio passivo com diferentes procuradores, em


relação a um réu, o pedido foi julgado improcedente e a outro,
procedente. O advogado do último recorreu utilizando o prazo em
dobro, porém, tal atitude foi equivocada, pois deve, no caso, ser
observada a súmula 641 do STF.

Súmula 641, STF: Não se conta em dobro o


prazo para recorrer, quando só um dos
litisconsortes haja sucumbido.

22
Segundo os Tribunais, o artigo não faz ressalva quanto ao fato
de os advogados pertencerem a um mesmo escritório de advocacia,
porém, há alguns poucos julgados do STJ no sentido de esse prazo
não se contar em dobro nesse caso.

Ex.: litisconsórcio passivo entre um Estado e uma pessoa jurídica de


direito privado. Com base no artigo 188, a Fazenda Pública tem como
uma de suas prerrogativas o prazo em quádruplo para contestar e em
dobro para recorrer. Portanto, o Estado irá, no caso, contestar
utilizando-se do prazo em quádruplo e a pessoa jurídica de direito
privado do prazo em dobro.

Art. 188: Computar-se-á em quádruplo o prazo


para contestar e em dobro para recorrer quando
a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério
Público.

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

1) Oposição

Art. 56: Quem pretender, no todo ou em parte,


a coisa ou o direito sobre que controvertem
autor e réu, poderá, até ser proferida a
sentença, oferecer oposição contra ambos.

Ela pode ser fundada em direito real ou pessoal (ex.: cobrança


de um crédito).

O terceiro que pretende o crédito ou o direito não é obrigado a


ingressar com a oposição, que é uma modalidade espontânea,
facultativa, de intervenção de terceiros. Assim, ele pode aguardar o
fim da demanda principal, para demandar em face do vencedor,
correndo, entretanto, o risco de ver sua pretensão prescrita.

O prazo máximo para se intentar a oposição é até a


sentença. Minoritariamente, Humberto Teodoro Júnior entende que a
oposição poderá ser intentada até o trânsito em julgado da sentença,
mas não é isso que a lei diz. Além disso, o objetivo dessa intervenção
é evitar decisões contraditórias, logo, não faz sentido se estender a
oposição até o trânsito em julgado da sentença.

Aquele que deduzir sua oposição vai ter que litigar contra
ambas as partes, pois se trata de um litisconsórcio passivo necessário
por disposição de lei.

O artigo 57 dispõe que a oposição será apresentada sob a


forma de petição, sendo distribuída por dependência em relação ao
processo principal.

23
Art. 57: O opoente deduzirá o seu pedido,
observando os requisitos exigidos para a
propositura da ação (arts. 282 e 283).
Distribuída a oposição por dependência, serão os
opostos citados, na pessoa dos seus respectivos
advogados, para contestar o pedido no prazo
comum de 15 (quinze) dias.

No caso de os advogados dos opostos não terem poderes


especiais para receber citação, deverá ser observado o artigo 215, já
que a citação do advogado pode ser feita, também, nos casos em que
a própria lei autorizar, independentemente de mandato.

Art. 215: Far-se-á a citação pessoalmente ao


réu, ao seu representante legal ou ao procurador
legalmente autorizado.

No caso da oposição, portanto, o prazo para contestação dos


opostos será comum, mesmo havendo procuradores distintos, o que,
no caso, é a regra, já que são eles autor e réu no processo principal.
Logo, na oposição o prazo para contestar é de 15 dias, aplicando-se a
regra especial.

Minoritariamente, Celso Agrícola Barbi entende que o prazo


para contestar na oposição seria o do artigo 191, aplicando-se a regra
geral.

De acordo com o artigo 58, se um dos opoentes reconhecer a


procedência do pedido, o litisconsórcio, quanto à decisão, será
simples.

Art. 58: Se um dos opostos reconhecer a


procedência do pedido, contra o outro
prosseguirá o opoente.

Natureza jurídica da oposição

1ª corrente) para Luiz Guilherme Marinoni e Gustavo Nogueira,


minoritariamente, a oposição sempre possui natureza jurídica de
ação. Isso porque o terceiro que deduz sua pretensão na oposição
passa a ser parte autora nessa, sendo que todo aquele que formula
pedido diante do Poder Judiciário está se utilizando do seu direito de
ação.

2ª corrente) com base no artigo 59, predomina o entendimento de


que quando a oposição for apresentada antes da AIJ, ela terá
natureza de intervenção de terceiros. Já quando ela for oferecida após
o início da AIJ, terá natureza de ação, com base no artigo 60
(Alexandre Câmara, Cândido Dinamarco).

24
Art. 59: A oposição, oferecida antes da
audiência, será apensada aos autos principais e
correrá simultaneamente com a ação, sendo
ambas julgadas pela mesma sentença.

À época do CPC, não havia audiência preliminar, logo, o artigo


59 se refere à audiência de instrução e julgamento.

Na mesma sentença, o juiz, dentro do possível, primeiro


apreciará a oposição e depois a ação principal.

Art. 60: Oferecida depois de iniciada a audiência,


seguirá a oposição o procedimento ordinário,
sendo julgada sem prejuízo da causa principal.
Poderá o juiz, todavia, sobrestar no andamento
do processo, por prazo nunca superior a 90
(noventa) dias, a fim de julgá-la conjuntamente
com a oposição.

Quando é apresentada uma oposição já tendo sido iniciada a


AIJ, o processo já está prestes a receber sentença, logo, na maioria
das vezes, não é possível haver essa suspensão do processo. Nesse
caso, será proferida a sentença da demanda principal e depois a da
oposição.

O artigo 61 deixa claro o caráter de prejudicialidade da


oposição em relação à demanda principal.

Art. 61: Cabendo ao juiz decidir


simultaneamente a ação e a oposição, desta
conhecerá em primeiro lugar.

Com base no artigo 280, a oposição não cabe no rito sumário. Já


a Lei 9099/95 afirma que não cabe qualquer forma de intervenção de
terceiros nos Juizados Especiais.

Art. 280: No procedimento sumário não são


admissíveis a ação declaratória incidental e a
intervenção de terceiros, salvo a assistência, o
recurso de terceiro prejudicado e a intervenção
fundada em contrato de seguro.

2) Nomeação à autoria

Visa corrigir um vício de ilegitimidade passiva. Exemplo clássico


se refere à ação ajuizada em face do caseiro, por se acreditar ser ele
a parte legítima, devendo esse, então, nomear à autoria o
proprietário ou o possuidor.

Art. 62: Aquele que detiver a coisa em nome


alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio,

25
deverá nomear à autoria o proprietário ou
possuidor.

A nomeação à autoria, portanto, é obrigatória, sendo


modalidade forçada de intervenção de terceiros, sob pena de
responsabilidade por perdas e danos.

Art. 69: Responde por perdas e danos aquele a


quem incumbia a nomeação:

I- deixando de nomear à autoria, quando lhe


competir;

II – nomeando pessoa diversa daquela em cujo


nome detém a coisa demandada.

A regra no processo é de que quando a demanda é proposta em


face de parte ilegítima, extingue-se o processo sem julgamento de
mérito.

O Código Civil, com o artigo 1228, conferiu legitimidade passiva


ao detentor.

Art. 1228, CC: O proprietário tem a faculdade de


usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que
injustamente a possua ou detenha.

Alexandre Câmara faz a seguinte observação em relação a esse


artigo: a CR protege a posse e a propriedade, mas não protege a
detenção. Logo, a parte final desse dispositivo seria inconstitucional.
Ajuizando-se a demanda em face do detentor, haverá conseqüências
desastrosas, pois o proprietário estará fora dessa relação processual;
a defesa do processo será feita pelo detentor (caseiro) e,
provavelmente, haverá apresentação da ação de embargos de
terceiro.

Deve-se ter em mente, porém, que essas situações se aplicam


apenas às ações reivindicatórias, que se referem à propriedade, já
que o artigo 1228 está no capítulo do CC que cuida da propriedade.
No que se refere às ações possessórias, se a ação for intentada em
face do caseiro, esse terá que nomear à autoria o possuidor. Logo,
pelo CC, a nomeação à autoria só se refere às ações possessórias.

No caso de ilegitimidade passiva, a regra é a da extinção do


processo sem análise do mérito, sendo que para que haja nomeação
à autoria a situação deve se encaixar em uma das hipóteses do artigo
62 (detenção) ou do artigo 63 (ação de reparação intentada pelo
titular de um direito sobre a coisa que demanda reparação em face
daquele que causou o dano agindo em cumprimento de ordens).

26
Art. 63: Aplica-se também o disposto no artigo
antecedente à ação de indenização, intentada
pelo proprietário ou pelo titular de um direito
sobre a coisa, toda vez que o responsável pelos
prejuízos alegar que praticou o ato por ordem,
ou em cumprimento de instruções de terceiro.

AULA 6 (03/10/05)

2) Nomeação à autoria (continuação)

A oposição é modalidade de intervenção de terceiros


facultativa, ao passo que a nomeação à autoria é obrigatória, sob
pena de responsabilidade por perdas e danos, visando corrigir vício
de ilegitimidade passiva. Trata-se, portanto, de uma exceção por
disposição legal (arts. 62 e 63), já que a regra é que a demanda
ajuizada em face de parte ilegítima seja extinta sem julgamento do
mérito.

A oposição é apresentada a qualquer momento até a sentença,


já a nomeação à autoria deve ser apresentada no prazo da
contestação (art. 64). Isso significa que o réu (B), nesse prazo, deverá
apresentar, não a contestação, mas apenas a nomeação à autoria,
apesar de o prazo ser o de 15 dias.

Art. 64: Em ambos os casos, o réu requererá a


nomeação no prazo para a defesa; o juiz ao
deferir o pedido, suspenderá o processo e
mandará ouvir o autor no prazo de 5 (cinco)
dias.

Apresentada a nomeação à autoria, o juiz mandará primeiro


ouvir o autor (A) no prazo de 5 dias. O autor, porém, poderá não
aceitar a nomeação, continuando a demanda em face de B. Nesse
caso, B, então, terá o prazo de 15 dias para apresentar sua
contestação (art. 67). A, entretanto, ao não aceitar a nomeação,
estará correndo o risco de o terceiro (C) se apresentar como parte
legítima, sendo o processo extinto sem exame de mérito.

Art. 67: Quando o autor recusar o nomeado, ou


quando este negar a qualidade que lhe é
atribuída, assinar-se-á ao nomeante novo prazo
para contestar.

27
Se B nomear à autoria e contestar ao mesmo tempo, entende o
STJ que, mesmo assim, deverá ser assegurado o prazo para a
contestação, com base no art. 67, pois pode surgir fato novo depois
de A não ter aceito a nomeação.

Se o autor (A) aceitar a nomeação à autoria (art. 65), a ele


caberá promover a citação do nomeado (C), o que significa dizer que
ele deverá fornecer os meios necessários para ela.

Art. 65: Aceitando o nomeado, ao autor


incumbirá promover-lhe a citação; recusando-o,
ficará sem efeito a nomeação.

Quando C for ouvido, ele poderá negar a qualidade que lhe foi
atribuída, ou seja, recusar a nomeação, fazendo com que a demanda
original continue a correr em face de B. Nesse sentido, deve ser feita
uma crítica ao CPC, já que não se deve condicionar a nomeação à
autoria à aceitação do terceiro, pois ninguém quer ser réu em um
processo.

Não sendo aceita a nomeação pelo terceiro (C), correrá prazo


para B contestar. Se C aceitar a nomeação à autoria, a demanda
passará a ser de A em face de C. Havendo, então, essa dupla
concordância, de A e de C, quanto à nomeação à autoria, ocorrerá a
extromissão, que vem a ser a saída da parte ilegítima e o ingresso da
parte legítima na demanda.

Não há, no CPC, artigo estabelecendo prazo para o nomeado, C,


ser ouvido para dizer se aceita ou não a nomeação. Diante disso,
predomina o entendimento de que ele será intimado no prazo de 5
dias para se manifestar. Quanto ao prazo para a contestação do
nomeado, há duas teses:

► C seria citado para, no prazo de 15 dias, caso seja aceita por ele a
nomeação, já apresentar sua contestação (apesar de ser a mais
eficiente, essa tese é minoritária);

► como não há prazo na lei, deve ser dado o prazo de 5 dias para C
se manifestar; os autos vão à conclusão e, caso ele tenha aceito a
nomeação, será aberto prazo de 15 dias para a contestação.

Não há suspensão de prazo para contestar, mas há uma


suspensão do processo. Assim, se o réu (B) nomear só para ganhar
tempo (intuito protelatório), suspendendo o processo, será
assegurado a ele o prazo de 15 dias para contestar, mas o juiz poderá
condená-lo por litigância de má-fé (majoritário). Há, porém, um
julgado do STJ dizendo que o juiz não deveria determinar prazo para o
nomeante contestar no caso de litigância de má-fé.

Pode ocorrer de C dizer que não é parte legítima passiva, não


se dando a extromissão. Nesse caso, se ele for a parte legítima e

28
negar essa qualidade, responderá por perdas e danos. Haverá aí ação
autônoma de reparação de dano ou a indenização será calculada nos
mesmos autos da ação principal? Como todos que participam do
processo devem observar o dever de boa-fé, entende-se que a
liquidação se dará na mesma sentença do processo principal (artigos
14 e 18, § 2º, CPC).

Art. 14: São deveres das partes e de todos


aqueles que de qualquer forma participam do
processo:

I- expor os fatos em juízo conforme a verdade;

II- proceder com lealdade e boa-fé;

III- não formular pretensões, nem alegar defesa,


cientes de que são destituídas de fundamento;

IV- não produzir provas, nem praticar atos


inúteis ou desnecessários à declaração ou
defesa do direito;

V- cumprir com exatidão os provimentos


mandamentais e não criar embaraços à
efetivação de provimentos judiciais, de natureza
antecipatória ou final.

Art. 18, § 2º: O valor da indenização será desde


logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a
20 % (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou
liquidado por arbitramento.

Se C não se manifestar, presume-se sua aceitação (art. 68). Se


for adotado o entendimento de que o prazo para contestar começa
junto com a aceitação da nomeação e ele não contestar, haverá
revelia.

Art. 68: Presume-se aceita a nomeação se:

I- o autor nada requereu, no prazo em que, a seu


respeito, lhe competia manifestar;

II- o nomeado não comparecer, ou,


comparecendo, nada alegar.

3) Denunciação da lide

Tem como objetivo permitir que o denunciante deduza a


pretensão de regresso no mesmo processo.

29
Art. 70: A denunciação da lide é obrigatória:

I- ao alienante, na ação em que terceiro


reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido
à parte, a fim de que esta possa exercer o
direito que da evicção lhe resulta;

O alienante é o denunciado, ou seja, o verdadeiro terceiro da


intervenção de terceiros. O “terceiro” a que se refere tal inciso, na
realidade, não tem a qualidade de terceiro da intervenção de
terceiros, devendo ser chamado apenas de “sujeito”. A “parte” é o
adquirente, que assume a qualidade de denunciante.

II- ao proprietário ou ao possuidor indireto


quando, por força de obrigação ou direito, em
casos como o do usufrutuário, do credor
pignoratício, do locatário, o réu, citado em
nome próprio, exerça a posse direta da coisa
demandada;

III- àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo


contrato, a indenizar, em ação regressiva, o
prejuízo do que perder a demanda.

A denunciação da lide é obrigatória no caso previsto no inciso I


do artigo 70, CPC.

A evicção é a perda da coisa por decisão judicial, sendo


que o direito dela resultante é o de obter a reparação. Trata-se de um
instituto regulado pelo Código Civil, em seu artigo 456.

Artigo 456, CC: “Para poder exercitar o direito


que da evicção lhe resulta, o adquirente
notificará do litígio o alienante imediato, ou
qualquer dos anteriores, quando e como lhe
determinarem as leis do processo”.

Segundo o CC, se o adquirente não denunciar o alienante à lide,


ele não irá exercitar o direito que da evicção resultar, perdendo o
direito material. Com base nisso, tem entendido a doutrina que a
denunciação só será obrigatória na hipótese do artigo 70, I, CPC. Nos
outros casos, se não houver a denunciação poderá ser ajuizada ação
regressiva.

De acordo com a Lei 9099/95, não cabe intervenção de


terceiros nos Juizados, ficando, portanto, afastada a obrigatoriedade
da denunciação da lide.

Se o réu tiver sido citado por edital ou por hora certa e ficar
revel, será nomeado curador especial (art. 9º, II, CPC), que deverá
apresentar contestação por negativa geral dos fatos. Se o curador

30
especial verificar que há uma hipótese do artigo 70, I, CPC, caberia a
ele denunciar a lide? Não, devendo o defensor se utilizar de ação
regressiva, com base na ampla defesa, de acordo com o STJ.

Art. 9º: O juiz dará curador especial:

I- ao incapaz, se não tiver representante legal,


ou se os interesses deste colidirem com os
daquele;

II- ao réu preso, bem como ao revel citado por


edital ou com hora certa.

§ único: Nas comarcas onde houver


representante judicial de incapazes ou de
ausentes, a este competirá a função de curador
especial.

Na grande maioria dos casos, a denunciação da lide é requerida


pelo réu, mas também pode ser requerida pelo autor (artigo 71).

Art. 71: A citação do denunciado será


requerida, juntamente com a do réu, se o
denunciante for o autor; e, no prazo para
contestar, se o denunciante for o réu.

Hipótese estabelecida por Athos Gusmão Carneiro: sujeito


adquire uma gleba de terra rural em Brasília. Ao chegar lá, descobre
que o terreno está ocupado e resolve ajuizar a respectiva demanda.
Como ele é um proprietário sem posse, será ajuizada ação
reivindicatória. No caso, esse sujeito irá pensar que quando o
alienante o vendeu, já sabia que havia pessoas ocupando a terra e
que essas, talvez, até já tenham a adquirido por usucapião. Logo, ao
mesmo tempo em que ele ajuíza a ação em face daqueles
possuidores, ele denuncia a lide àquele que alienou, pois há
possibilidade de sofrer com a evicção a perda da coisa por decisão
judicial. Com se trata de uma hipótese obrigatória de denunciação,
por envolver evicção, caso não seja feita tal intervenção, haverá
impossibilidade de deduzir sua pretensão de regresso.

Qual o momento oportuno para que a parte denuncie a lide?

. Quando ela for requerida pelo autor, será feita a citação do


denunciado junto com a do réu. Portanto, o momento oportuno será o
da apresentação da inicial, ou seja, na própria petição inicial ou em
peça separada, mas ao mesmo tempo, pois a lei nada dispõe a esse
respeito. Se ela for feita na mesma peça, deve-se ter o cuidado de
elaborar o pedido e a causa de pedir da inicial separados dos da
denunciação. As custas e taxa judiciária também serão recolhidas
separadamente.

31
. Se a denunciação for requerida pelo réu, ela tem que se dar
no prazo para contestar, mas a lei não diz se tem que ser na
contestação ou se pode ser em peça separada, logo, aplica-se o
Princípio da Liberdade das Formas.

Pode acontecer de o denunciado (C) dizer que já havia


adquirido o imóvel de outra pessoa, denunciando a lide ao D, que diz
já ter adquirido o bem de E, ocorrendo uma denunciação sucessiva. O
artigo 456, CC, diz que o adquirente notificará o “alienante imediato,
ou qualquer um dos anteriores”, que vem a ser a denunciação da lide
per saltum, de acordo com a doutrina. Mas onde estaria o negócio
jurídico travado entre B, adquirente, e E para efeito de trazê-lo ao
processo para que venha a responder por uma reparação? Como em
juízo deve ser deduzida a relação jurídica material, os processualistas
têm sido absolutamente contrários a essa chamada denunciação da
lide per saltum.

Apesar de a denunciação da lide per saltum estar prevista no


artigo 456 do CC, não deverá ser ela admitida, tendo em vista não
observar relação jurídica travada entre o denunciante e o denunciado.

Há decisões do STJ entendendo que o juiz está autorizado a


indeferir sucessivas denunciações quando verificar que essas poderão
prejudicar a rápida solução do litígio. Com base nisso, os civilistas
entenderam que deveria ser admitida a denunciação per saltum.

Caso concreto: um paciente ajuíza uma ação de reparação em


face de um hospital argumentando que quando ficou lá internado
contraiu uma moléstia, tendo em vista a realização de transfusão de
sangue. O hospital denuncia a lide ao banco de sangue; esse, por sua
vez, denuncia a lide à seguradora; que denuncia o laboratório
responsável pela análise do sangue; esse denuncia a lide outro
laboratório, por ser o serviço terceirizado. O juiz indeferiu as
sucessivas denunciações a fim de não prejudicar a rápida solução do
litígio, devendo ser ajuizadas ações autônomas regressivas.

Se fosse caso de evicção, seriam cabíveis as sucessivas


denunciações, por ser hipótese obrigatória.

Art. 74: Feita a denunciação pelo autor, o


denunciado, comparecendo, assumirá a posição
de litisconsorte do denunciante e poderá aditar a
petição inicial, procedendo-se em seguida à
citação do réu.

Art. 75: Feita a denunciação pelo réu:

I- se o denunciado a aceitar e contestar o


pedido, o processo seguirá entre o autor, de um
lado, e de outro, como litisconsortes, o
denunciante e o denunciado;

32
II- se o denunciado for revel, ou comparecer
apenas para negar a qualidade que lhe foi
atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir
na defesa até final;

III- se o denunciado confessar os fatos alegados


pelo autor, poderá o denunciante prosseguir na
defesa.

Pelos artigos 74 e 75 do CPC, a natureza jurídica que o


denunciado assume é de litisconsorte. No caso do hospital e da
seguradora, há duas relações jurídicas distintas, duas pretensões,
mas há apenas um processo, logo, haverá uma instrução e uma
sentença. Litisconsórcio é a pluralidade de partes em um mesmo
processo, mas o hospital e a seguradora não são partes na mesma
relação jurídica (uma é entre o autor e o hospital e outra entre esse e
a seguradora). Com base nisso, prevalece o entendimento de que o
denunciado assume a qualidade de assistente, pois ele tem interesse
no resultado do processo principal.

Diz a lei que o denunciado assume a qualidade de litisconsorte,


assim entendendo Athos Gusmão Carneiro. No entanto, o
entendimento predominante na doutrina é de que o denunciado
assume a qualidade de assistente simples (Alexandre Câmara, Luiz
Guilherme Marinoni, Nelson Nery), já que litisconsorte é aquele que é
parte da relação principal.

Pode o juiz na sentença condenar diretamente o denunciado?

AULA 7 (10/10/05)

Conforme vimos, a lei, em seus arts. 74 e 75, atribuiu ao


denunciado a qualidade de litisconsorte, mas predomina o
entendimento na doutrina de que ele assume a qualidade de
assistente.

Ex.: hospital ajuíza ação de cobrança em face de paciente, que


denuncia a lide à sua seguradora de saúde. Há duas demandas,
ações, relações, distintas, mas apenas um processo, uma instrução,
sendo proferida, ao final, uma única sentença.

Ao julgar a ação de cobrança proposta pelo hospital procedente,


pode o juiz na sentença condenar diretamente o denunciado a
reparar o prejuízo suportado pelo autor?

33
►Se se entender, como a doutrina dominante, que o
denunciado assume a qualidade de assistente, não pode o juiz
condená-lo diretamente, já que as relações jurídicas são
absolutamente distintas.

Deve-se observar que pretensão deduzida na denunciação da lide


nem sempre corresponde ao valor total da ação principal (ex.: na
ação principal está sendo pleiteado o valor de R$ 100.000.00,
enquanto na denunciação o valor pleiteado é de R$ 20.000.00).

►Já como para o CPC, com o que concorda o professor Athos


Gusmão Carneiro, o denunciado assume a qualidade de litisconsorte,
será possível a condenação direta do denunciado pelo prejuízo
suportado pelo autor.

Art. 76: A sentença, que julgar procedente a


ação (pedido), declarará, conforme o caso, o
direito do evicto, ou a responsabilidade por
perdas e danos, valendo como título executivo.

Forma-se um título executivo para o denunciante em relação ao


denunciado. Isso significa dizer que essa mesma sentença dá ensejo
à execução do autor em relação ao réu e também vale como título
executivo para o denunciante em relação ao denunciado. Se não
houvesse denunciação, o prejuízo seria buscado através de ação
regressiva.

Artigo 101, CDC: Na ação de responsabilidade


civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste
Título, serão observadas as seguintes normas:

II – o réu que houver contratado seguro de


responsabilidade poderá chamar ao processo o
segurador, vedada a integração do contraditório
pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta
hipótese, a sentença que julgar procedente o
pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do
CPC. Se o réu houver sido declarado falido, o
síndico será intimado a informar a existência de
seguro de responsabilidade facultando-se, em
caso afirmativo, o ajuizamento de ação de
indenização diretamente contra o segurador,
vedada a denunciação da lide ao IRB e dispensado
o litisconsórcio obrigatório com este.

Só se aplica esse artigo nas demandas em que o autor for


consumidor e o réu for fornecedor de produto ou serviço. Aqui, o
objetivo do CDC foi o de ampliar a garantia dada ao consumidor, pois
pode ser que o fornecedor não tenha como reparar o prejuízo, mas a
seguradora sim. Portanto, o fornecedor deverá chamar a seguradora

34
ao processo, fazendo com que ela seja litisconsorte, podendo reparar
o prejuízo diretamente.

Nos Juizados não se admite nenhuma forma de intervenção de


terceiros.

Antes da reforma do CPC, era vedada a denunciação no rito


sumário. Mas, atualmente, em tal rito passou a ser cabível a
denunciação da lide apenas nas intervenções fundadas em contrato
de seguro, continuando incabíveis oposição e nomeação à autoria,

Assim, no caso de ação de reparação de dano por acidente de


veículo via terrestre, que segue o rito sumário independentemente do
valor, caberá denunciação da lide em face da seguradora, com base
no artigo 280.

Art. 280: “No procedimento sumário não são


admissíveis a ação declaratória incidental e a
intervenção de terceiros, salvo a assistência, o
recurso de terceiro prejudicado e a intervenção
fundada em contrato de seguro”.

O artigo fala em “intervenção fundada em contrato de seguro”,


logo, ele se refere à denunciação fundada em contrato de seguro e ao
chamamento ao processo com base no inciso II do art. 101 do CDC
(art. 280 c/c art. 70, III, CPC, c/c art. 101, II, CDC).

As pessoas jurídicas de direito público, quando acionadas,


podem denunciar a lide ao agente causador do dano? Há três
correntes:

1) STJ: não é possível, através da denunciação, se introduzir a análise


de fundamento jurídico novo. Portanto, não será possível o Estado
denunciar a lide ao seu agente, uma vez que a responsabilidade do
primeiro é objetiva, devendo-se apenas demonstrar o nexo de
causalidade e o dano, e a do último é subjetiva, ou seja, além desses
elementos, deve ser demonstrada também a culpa, que seria o
fundamento jurídico novo (boa corrente parta a Defensoria Pública).

2) STF: não há vedação, no artigo 70, III, CPC, para que o Estado
denuncie a lide ao agente causador do dano (boa corrente para a
PGE).

Art. 70: A denunciação da lide é obrigatória:

III – àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo


contrato, a indenizar, em ação regressiva, o
prejuízo do que perder a demanda.

35
3) Alexandre Câmara: a pessoa jurídica de direito público, ao ser
demandada, deve se utilizar do chamamento ao processo em relação
ao agente causador do dano. Em tal intervenção, ambos são
responsáveis pelo ato, havendo solidariedade. Essa corrente é
criticada, pois como a responsabilidade da pessoa jurídica é objetiva
e a do agente é subjetiva, eles não poderão ser devedores solidários,
já que as responsabilidades são diversas.

Ex.: em acidente de veículo, a causadora do dano ajuizou,


primeiramente, uma ação cautelar de produção antecipada de
provas, para que determinada prova não viesse a perecer. Em sendo
demandada, a ora ré, nessa mesma ação, denuncia à lide sua
seguradora.

Com base nisso, pergunta-se: cabe denunciação da lide em


processo cautelar? O processo cautelar tem como objetivo assegurar
o resultado útil do processo principal, ao passo que a denunciação
tem como objetivo deduzir pretensão de regresso, logo, para o STJ é
incabível denunciação da lide em processo cautelar.

Da mesma forma, no processo de execução, em que se visa o


cumprimento forçado de um direito reconhecido, também não cabe
denunciação da lide.

4) Chamamento ao processo

É facultativo, no entanto, é modalidade forçada de intervenção


de terceiros. Na prática, está mais ligado às relações de consumo.

Art. 77: É admissível o chamamento ao


processo:

I – do devedor, na ação em que o fiador for réu;

II – dos outros fiadores, quando para a ação for


citado apenas um deles;

III – de todos os devedores solidários, quando o


credor exigir de um ou de alguns deles, parcial
ou totalmente, a dívida comum.

Em um primeiro momento, correntistas de conta conjunta são


credores do banco, sendo um dos poucos casos de solidariedade
ativa. Em tal contrato, há uma cláusula estabelecendo que, em sendo
utilizado o limite de crédito, ambos serão devedores solidários. Sendo
acionado um só dos devedores, ele está autorizado a chamar ao
processo o outro devedor.

36
A solidariedade permite que o credor venha a exigir a dívida por
inteiro de qualquer um dos devedores. Nesse sentido, é feita a
seguinte crítica: o chamamento ao processo acaba obrigando o autor
a litigar com quem não pretendia.

Não há duas relações jurídicas distintas no chamamento, sendo


formado, em seu pólo passivo, um litisconsórcio facultativo. Para
Nelson Nery, porém, o chamamento tem natureza de ação
condenatória, não se formando litisconsórcio passivo facultativo
(minoritária).

Recapitulando: a oposição poderá ser apresentada a qualquer


momento até a sentença; a nomeação pode ser apresentada até o
prazo para a contestação, sob pena de perdas e danos; já a
denunciação, se ajuizada pelo autor, será apresentada juntamente
com a inicial, já se for pelo réu, o prazo é o da contestação.

Quanto ao chamamento ao processo, deverá ele ser


apresentado no prazo para a contestação (art. 78). Assim, como não
há obrigatoriedade quanto ao modo de apresentação, aplica-se o
Princípio da Liberdade das Formas, podendo ser apresentado na
própria contestação ou em peça separada.

Art. 78: Para que o juiz declare, na mesma


sentença, as responsabilidades dos obrigados, a
que se refere o artigo antecedente, o réu
requererá, no prazo para contestar, a citação do
chamado.

Apresentado o chamamento, deverá ser promovida a citação do


chamado (ou dos chamados), sendo depois aberto prazo para a
contestação desse (s).

Para a maioria da doutrina, quanto à decisão, o litisconsórcio


será unitário, com base no artigo 78. Para Athos Gusmão Carneiro,
porém, há litisconsórcio simples no chamamento ao processo, sem
explicar, porém, o motivo de seu posicionamento.

Se o juiz entender que o chamado ao processo não é devedor


solidário, esse será excluído da relação processual, pois todos os
litisconsortes devem ser responsáveis pela dívida como um todo. A
exclusão do litisconsorte tem natureza de decisão interlocutória.

A sentença é única, pois o processo é único, podendo ser


condenados ambos os litisconsortes (art. 80). O que pagar a dívida
por inteiro terá título executivo em relação ao outro para exigir a sua
cota, na proporção que lhe tocar, mas o juiz, na sentença, condena
ambos por inteiro. Evita-se, assim, uma ação regressiva, pois já há
título executivo.

37
Art. 80: A sentença, que julgar procedente a
ação, condenando os devedores, valerá como
título executivo, em favor do que satisfizer a
dívida, para exigi-la, por inteiro, do devedor
principal, ou de cada um dos co-devedores a sua
cota, na proporção que lhes tocar.

A solidariedade nunca se presume: ela é prevista na lei ou no


contrato.

Explique o artigo 52 do CPC.

Há coisa julgada para o assistente simples?

O que é assistência qualificada?

O assistente qualificado é tratado como litisconsorte?

Qual a diferença entre assistência e o amicus curiae?

AULA 8 (17/10/05)

5) Assistência

Não obstante estar localizada fora do capítulo que trata da


intervenção de terceiro, a assistência é uma de suas modalidades.

Divide-se em assistência simples ou adesiva e qualificada ou


litisconsorcial.

a) assistência simples

Assistente é o terceiro que pretende ingressar em demanda


judicial com o objetivo de auxiliar uma das partes a sair vencedora,
tendo em vista seu interesse jurídico (não é econômico nem moral).

Portanto, seu objetivo ao ingressar no feito é prestar auxílio ao


assistido, tendo em vista seu interesse jurídico em que o resultado
seja favorável a esse, que pode ser autor ou réu.

Artigo 50: Pendendo uma causa entre duas ou


mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse
jurídico em que a sentença seja favorável a uma
delas, poderá intervir no processo para assisti-la.

38
Ex. A, locador, ajuíza ação de despejo por falta de pagamento em
face de B, locatário, que sublocou o imóvel para C. Caso o pedido seja
julgado procedente, a relação jurídica secundária entre sublocador e
sublocatário será afetada. Há, no caso, duas relações jurídicas
distintas.

Na assistência, há necessidade de interesse jurídico, que se


apresenta quando a relação jurídica secundária é afetada pelo
resultado do processo principal. Assim, o juiz, ao verificar a falta de
interesse jurídico, pode rejeitar a assistência.

O assistente, sendo prestador de auxílio, pode requerer


produção de prova pericial, apresentar prova testemunhal, bem como
apresentar memoriais com o objetivo de reforçar a tese defendida no
processo.

Alguns doutrinadores chegam a denominar o assistente de


auxiliar da parte principal.

Art. 50, § único: A assistência tem lugar em


qualquer dos tipos de procedimento e em todos
os graus da jurisdição; mas o assistente recebe o
processo no estado em que se encontra.

Recapitulando: a oposição poderá ser apresentada até a


sentença; a nomeação à autoria, no prazo da contestação, sendo
obrigatória; a denunciação da lide, se requerida pelo autor, deve ser
apresentada juntamente com a inicial, já se for requerida pelo réu, o
prazo é o da contestação, sendo esse também o do chamamento ao
processo. Como na assistência o objetivo é somente de prestar
auxílio, o legislador não criou momento oportuno para sua
apresentação, podendo se dar a qualquer tempo e em qualquer grau
de jurisdição.

Art. 280: No procedimento sumário não são


admissíveis a ação declaratória incidental e a
intervenção de terceiros, salvo a assistência, o
recurso de terceiro prejudicado e a intervenção
fundada em contrato de seguro.

Com base nesse artigo, vê-se que a assistência é também admissível


no rito sumário, assim como no ordinário.

Ex.: em função de acidente em via terrestre, foi ajuizada ação


cautelar de produção antecipada de provas, onde houve a
denunciação da lide à seguradora. O STJ, porém, não admite
denunciação da lide nesses casos, mas admite que a seguradora

39
ingresse nesse processo como assistente, pois ela tem interesse em
que aquela prova seja produzida, pois há vinculação direta entre a
demanda de reparação de dano e a de seguro. Portanto, cabe
assistência em processo cautelar, pois o objetivo do assistente não é
discutir pretensão de regresso, mas apenas prestar auxílio.

Na execução em si, que é o cumprimento forçado de um direito


reconhecido, o terceiro, em termos de auxílio, nada poderá fazer. Mas
na ação de embargos do executado, que tem natureza jurídica de
processo de conhecimento e que está atrelada à ação de execução,
será admissível a assistência.

Artigo 52: O assistente atuará como auxiliar da


parte principal, exercerá os mesmos poderes
(mas na qualidade de parte auxiliar) e sujeitar-
se-á aos mesmos ônus processuais que o
assistido.

Ex.: juiz despacha dizendo “Especifiquem as partes as provas que


pretendem produzir”. O assistido peticiona dizendo que não tem mais
prova a produzir, requerendo o julgamento antecipado da lide, já que
todos os fatos estão comprovados por documentos. O assistente, por
sua vez, requereu a produção de uma prova pericial, sendo certo que
se o juiz pretender a produção da prova, ele mesmo está autorizado a
determiná-la. No caso, o juiz deverá julgar desconsiderando o pedido
do assistente, que só valeria se estivesse de acordo com a atividade
do assistido. Portanto, os poderes do assistente estão sempre
condicionados à atuação do assistido, porque aquele é auxiliar desse,
que é a parte principal.

Artigo 32: Se o assistido ficar vencido, o


assistente será condenado nas custas em
proporção à atividade que houver exercido no
processo.

O assistente responde pelas despesas do processo proporcionalmente


à atividade que nele houver exercido.

Art. 52, § único: Sendo revel o assistido, o


assistente será considerado seu gestor de
negócios.

Processualmente, não há a figura do gestor de negócios. O assistente,


sendo revel o assistido, defenderá em nome próprio direito alheio,
atuando na qualidade de legitimado extraordinário.

A revelia é atestada quando não há contestação em seu prazo.


Se o assistido disser que não vai contestar, o assistente pode
contestar dentro do prazo. A hipótese mais comum, porém, ocorre
quando o assistente descobre que o assistido não contestou, ficou
revel. Assim, se se tratar de direito patrimonial, disponível, e houver

40
presunção de que tudo o que foi dito pelo autor foi verdadeiro, não
haverá muito para o assistente fazer. Mas se o direito for indisponível,
sendo a presunção da revelia relativa, o assistente poderá produzir
uma prova para esclarecer ao juiz, apresentar testemunha, reforçar
tese em memoriais. Nesse caso, a atuação do assistente será
decisiva.

O sujeito que deixa de contestar é revel, mas nem sempre


serão a ele aplicados os efeitos da revelia, como, por exemplo, no
caso de direito indisponível.

Ex.: parte principal e assistido fizeram um acordo em juízo. O


assistente, porém, acha que esse acordo não é válido por não ter tido
a sua concordância, mas esse argumento é inconsistente, com base
no artigo 53. O direito material pertence ao assistido, exclusivamente,
logo, somente ele pode dispor desse direito.

Artigo 53: A assistência não obsta a que a parte


principal reconheça a procedência do pedido,
desista da ação ou transija sobre direitos
controvertidos; casos em que, terminando o
processo, cessa a intervenção do assistente.

O assistente, portanto, não impedirá a prática de atos de


disposição do direito material por parte do assistido.

Artigo 55: Transitada em julgado a sentença, na


causa em que interveio o assistente, este não
poderá, em processo posterior, discutir a justiça
da decisão, salvo se alegar e provar que:

I- pelo estado em que recebera o processo, ou


pelas declarações e atos do assistido, fora
impedido de produzir provas suscetíveis de
influir na sentença;

II- desconhecia a existência de alegações ou de


provas, de que o assistido, por dolo ou culpa,
não se valeu.

O artigo 472, CPC, regula os limites subjetivos da coisa julgada,


sendo que nele “partes” diz respeito às partes da demanda.

Artigo 472: A sentença faz coisa julgada às


partes entre as quais é dada, não beneficiando
nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas
ao estado de pessoa, se houverem sido citados
no processo, em litisconsórcio necessário, todos

41
os interessados, a sentença produz coisa julgada
em relação a terceiros.

Na oposição, o opoente passa a ser parte da oposição; na


nomeação à autoria, ocorrendo a extromissão, o nomeado assume a
qualidade de réu, parte na demanda, sendo que o mesmo ocorre com
o chamado no chamamento ao processo. Já na denunciação da lide,
com base na posição dominante de que o denunciado assume a
qualidade de assistente, ele é terceiro. Assim, o assistente é apenas
auxiliar da parte principal, ou seja, ele é terceiro e continua a ter a
essa qualidade, logo, não há coisa julgada para ele, com base no
artigo 472. Porém, o motivo que o impede de discutir outra decisão
não é a coisa julgada.

Dos fundamentos da sentença, extrai-se a justiça da decisão,


logo, o assistente não pode discutir os motivos e fundamentos da
sentença. Os motivos, porém, não transitam em julgado, com base no
artigo 469, I, que se refere ao limites objetivos da coisa julgada.

Art. 469: Não fazem coisa julgada:

I- os motivos, ainda que importantes para


determinar o alcance da parte dispositiva da
sentença;

II- a verdade dos fatos, estabelecida como


fundamento da sentença;

III- a apreciação da questão prejudicial, decidida


incidentemente no processo.

Ex.: locatário, B, ajuizou demanda em face do locador, A, pleiteando a


rescisão do contrato de locação. O fiador requer seu ingresso no feito
na qualidade de assistente, pois ele possui interesse jurídico na
demanda principal. A sentença julga o pedido formulado por B
improcedente, não sendo rescindindo o negócio jurídico. Depois do
trânsito em julgado, o locatário passa a ficar inadimplente por 6
meses e entrega o imóvel. A ingressa com ação de execução em face
do fiador, que embarga. Nos embargos, esse pretende discutir todos
os motivos que levariam à rescisão do negócio jurídico, que já tinham
sido enfrentados na demanda em que ele atuou na qualidade de
assistente.

Em regra, o fiador não pode rediscutir esses fundamentos, com base


no que a doutrina chama de eficácia preclusiva da intervenção do
assistente. O assistente simples não está sujeito à coisa julgada, mas
sim a essa eficácia preclusiva da intervenção, que decorre da
necessidade de o ordenamento jurídico dar segurança às relações.
Ele fica sujeito aos efeitos da decisão em que atuou como assistente,

42
não podendo rediscutir os motivos já antes analisados. Mas não há
que se falar em coisa julgada para ele, pois os efeitos não transitam
em julgado.

Se o assistido age de má-fé com o fiador, assistente, impedindo


que esse aja de maneira adequada, deverão ser observados os
incisos do artigo 55. A segurança jurídica não pode mascarar
comportamentos dolosos que tenham acarretado prejuízo, sendo a
isso dado o nome pela doutrina de exceptio mali gestis processo
(exceção de má gestão do processo).

Se restar determinado, em uma demanda principal, que um


documento ou uma escritura foram elaborados com vício, tendo
atuado o tabelião nesse processo como assistente, não poderá esse,
mais tarde, em sendo responsabilizado, discutir a inexistência desse
vício, pois ele não poderá discutir a justiça da decisão, estando sujeito
aos efeitos da eficácia preclusiva da intervenção. Mas não se pode
falar que há coisa julgada para o assistente.

Hipóteses:

1ª) Terceiro tinha interesse no resultado do processo, mas não


interveio na qualidade de assistente durante todo o seu curso,
resolvendo intervir quando o processo está em grau de recurso,
quando a parte principal recorreu. Esse terceiro terá qualidade de
assistente;

2ª) nesse mesmo caso, a parte principal não recorre da sentença,


havendo apenas o ingresso do terceiro no feito em grau de recurso.
Nesse caso, ele não ingressa na qualidade de assistente, mas sim na
qualidade de terceiro prejudicado, pois aquele tem que auxiliar a
parte principal;

3ª) assistente já está atuando no processo, mas o assistido, parte


principal, não vai recorrer da sentença. O STJ admite a interposição
de recurso pelo assistente, ainda que o assistido não tenha recorrido.
Mesmo levando-se em conta que o assistente é auxiliar da parte,
ficando condicionado à vontade do assistido, no caso, a preocupação
do STJ é com a eficácia preclusiva da intervenção, já que se a decisão
transitar em julgado, o assistente estará sujeito aos seus efeitos.

O que é ato atentatório ao exercício da jurisdição?

Quem é o responsável pelo pagamento da multa prevista no artigo


14, § único, CPC?

Qual a natureza dessa multa?

43
AULA 9 (24/10/05)

b) assistência qualificada ou litisconsorcial

Art. 54: Considera-se litisconsorte da parte


principal o assistente, toda vez que a sentença
houver de influir na relação jurídica entre ele e o
adversário do assistido.

§ único: Aplica-se ao assistente litisconsorcial,


quanto ao pedido de intervenção, sua
impugnação e julgamento do incidente, o
disposto no art. 51.

O art. 42 consagra o Princípio da Perpetuatio Legitimationis ou


da Estabilidade Subjetiva da Demanda.

Art. 42: A alienação da coisa ou do direito


litigioso, a título particular, por ato entre vivos,
não altera a legitimidade das partes.

Ex.: A e B disputam em juízo a propriedade de um determinado bem.


Durante o processo, B aliena o bem para C, adquirente, que tem
plena noção de que está adquirindo bem litigioso.

§ 1º: O adquirente ou o cessionário não poderá


ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o
cedente, sem que o consinta a parte contrária.

A simples alienação não altera a legitimidade das partes, a não


ser que haja o consentimento da parte contrária, fazendo com que o
alienante saia e o adquirente ingresse no processo, ocorrendo
sucessão processual ou substituição de partes (mudança de partes).

Essa substituição de partes não se confunde com a substituição


processual, prevista no artigo 6º do CPC (defesa em nome próprio de
direito alheio nos casos previstos em lei).

§ 2º: O adquirente ou o cessionário poderá, no


entanto, intervir no processo, assistindo o
alienante ou o cedente.

Tal parágrafo permite que C atue no processo como


assistente, mas não estabelece qual o tipo de assistência. Na
assistência simples, a relação jurídica secundária pode ser afetada
pela relação jurídica principal, havendo dois bens ou negócios

44
diversos. No caso, porém, o bem litigioso adquirido pelo terceiro é o
bem da relação principal, logo, trata-se de assistência qualificada.

A doutrina diz que o assistente qualificado é um co-titular do


direito litigioso, pois o direito da relação principal também pertence a
ele.

Em sede de assistência, há a seguinte discussão: realmente


existe a figura do assistente qualificado ou seria ele um litisconsorte
ulterior?

► Para Athos Gusmão Carneiro e Alexandre Câmara, existe a


figura do assistente qualificado, que não é parte, mas que tem que
ser tratado como se fosse, sendo esse o entendimento predominante.

► Por outro lado, para Luiz Guilherme Marinoni, o assistente


qualificado é considerado litisconsorte ulterior, sendo, portanto, parte.

Como o assistente qualificado é tratado no processo?

Art. 191: Quando os litisconsortes tiverem


diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados
em dobro os prazos para contestar, para recorrer
e, de modo geral, para falar nos autos.

Ex.: se A e C tiverem advogados distintos, aplica-se à assistência


qualificada o disposto no artigo 191 do CPC? Adotando-se qualquer
uma das correntes, tal artigo é aplicado. Isso porque o art. 54
determina que o assistente deve ser tratado como se fosse
litisconsorte. Além disso, houve uma decisão em informativo do STJ
no sentido de que se aplica à assistência qualificada o disposto no
artigo 191, CPC.

Também pelo fato de ser dado ao assistente qualificado o


tratamento de litisconsorte, adotando-se qualquer uma das correntes,
há coisa julgada para o assistente e ele poderá recorrer.

Sujeitos do processo

Art. 14: São deveres das partes e de todos


aqueles que de qualquer forma participam do
processo:

I- expor os fatos em juízo conforme a verdade;

II- proceder com lealdade e boa-fé;

45
III- não formular pretensões, nem alegar defesa,
cientes de que são destituídas de fundamento;

IV- não produzir provas, nem praticar atos


inúteis ou desnecessários à declaração ou
defesa do direito;

V- cumprir com exatidão os provimentos


mandamentais e não criar embaraços à
efetivação de provimentos judiciais, de natureza
antecipatória ou final.

Essa última parte visa englobar, por exemplo, o coator em mandado


de segurança e o assistente, ou seja, todos aqueles que estão ligados
ao processo de alguma forma, que dele participam.

Os incisos I a IV referem-se a um dever geral de boa-fé a ser


observado.

Provimento mandamental é aquele que consiste no


cumprimento de uma ordem (ex.: ação de mandado de segurança), já
o provimento judicial de natureza antecipatória refere-se, por
exemplo, às liminares.

Se há crime de desobediência, o juiz cível tem que expedir


ofício para o Ministério Público para que esse tome a providência
devida.

§ único: Ressalvados os advogados, que se


sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB
(em função de uma ADIn, devem ser incluídos
advogados públicos e privados, que se sujeitam
aos seus respectivos estatutos das carreiras), a
violação do disposto no inciso V deste artigo
constitui ato atentatório ao exercício da
jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das
sanções criminais, civis e processuais cabíveis,
aplicar ao responsável multa em montante a ser
fixado de acordo com a gravidade da conduta e
não superior a 20% (vinte por cento) do valor da
causa; não sendo paga no prazo estabelecido,
contado do trânsito em julgado da decisão final
da causa, a multa será inscrita sempre como
dívida ativa da União ou do Estado.”

O descumprimento de provimento mandamental constitui ato


atentatório ao exercício da jurisdição. A intenção foi punir o
desrespeito ao Estado, ao exercício de uma de suas funções, qual
seja, a judiciária.

46
Nesse caso, deve ser fixada multa, que não se confunde com as
astreintes, que se referem à multa pelo descumprimento da
obrigação, devida para a parte contrária, possuindo natureza
coercitiva. Quando essas são fixadas, ainda não foi descumprida a
obrigação (ex.: “Instale o telefone, sob pena de multa diária”).

Já a multa pelo ato atentatório tem natureza mandamental,


punitiva, e não será devida à parte contrária, mas sim ao Estado, sob
pena de ser inscrita em Dívida Ativa. Além disso, ela é fixada após o
descumprimento do ato. Outra diferença: a cada dia de
descumprimento da obrigação, o valor das astreintes vai
aumentando, ao passo que a multa pelo ato atentatório, punitiva, é
de valor determinado.

Ex.: ação de mandado de segurança tramitando na Justiça Federal,


havendo deferimento de liminar, sendo que a ordem judicial deve ser
cumprida por oficial de justiça federal. Se houver ato atentatório,
como ficará a inscrição em dívida ativa dessa multa?

Segundo Cândido Dinamarco, nesse caso, a União teria que


pagar para o Estado e o Estado para a União, mas isso é inviável.
Para Marinoni, essa dívida seria devida para a parte contrária. Para
Alexandre Câmara, teria que ser criado um fundo, como na ACP, para
que a multa fosse encaminhada para ele. Mas o problema não é para
onde a dívida vai, mas sim quem vai pagá-la. Já para professora
Teresa Arruda Alvim, aquele que desobedeceu a ordem deve pagar a
multa.

A decisão pioneira no país sobre o tema foi do TRF da 2ª


Região, prevalecendo esse último entendimento da professora. Já
houve decisão mandando inscrever em dívida ativa gerente de banco,
que foi o que descumpriu ordem judicial, fazendo uma analogia com o
crime de desobediência, pois o objetivo é punir quem desobedece.

Se a Telemar for intimada para instalar um telefone mas não o


fizer, haverá como se converter essa obrigação descumprida em
perdas e danos. Por outro lado, quando um provimento mandamental
é exigido, o juiz não está determinando o cumprimento de uma
obrigação, mas sim impondo um dever, que não pode ser convertido
em perdas e danos. Portanto, para a professora Teresa Arruda Alvim,
a obrigação descumprida se converte em perdas e danos, mas o
dever descumprido não se converte, cabendo apenas a fixação de
multa.

O critério do parágrafo único utilizado pelo legislador é o da


multa nunca superior a 20% do valor da causa, devendo-se também
levar em conta a gravidade da conduta. Assim, a doutrina tem
observado que nas ações em que se estabelece um valor somente
para preencher um requisito da petição inicial, como no Mandado de
Segurança e em outras demandas que não tenham conteúdo

47
econômico, o juiz deverá observar a gravidade da conduta, e não
valor da causa.

Competência

Definição do professor Alexandre Câmara: “competência é


a delimitação da jurisdição, limites dentro dos quais cada órgão do
Poder Judiciário exercerá suas funções de maneira legítima” (é o
âmbito dentre do qual a jurisdição é exercida legitimamente).

O artigo 87, CPC, estabelece o Princípio da Perpetuatio


Jurisdicionis ou da Competência Perpétua: a competência é
determinada no momento em que a ação é proposta, sendo
irrelevantes alterações posteriores.

Art. 86: As causas cíveis serão processadas e


decididas, ou simplesmente decididas, pelos
órgãos jurisdicionais, nos limites de sua
competência, ressalvadas às partes a faculdade
de instituírem juízo arbitral.

Art. 87: Determina-se a competência no


momento em que a ação é proposta. São
irrelevantes as modificações do estado de fato
ou de direito ocorridas posteriormente, salvo
quando suprimirem o órgão judiciário ou
alterarem a competência em razão da matéria
ou da hierarquia.

Art. 263: Considera-se proposta a ação, tanto


que a petição inicial seja despachada pelo juiz,
ou simplesmente distribuída, onde houver mais
de uma vara. A propositura da ação, todavia, só
produz, quanto ao réu,os efeitos mencionados
no art. 219 depois que for validamente citado
(cite-se).

Exceções quanto à perpetuatio jurisdicionis:

1) supressão de órgão judiciário. Ex.: fim do Tribunal de Alçada;

2) em razão da matéria. Ex.: foram extintas, pelo CODEJERJ, as varas


de acidente de trabalho, que eram especializações da vara cível;

3) hierarquia: antes da CR/88 havia o Tribunal Federal de Recursos,


que foi extinto, sendo criado o STJ.

48
Essas competências, se inobservadas, levam à incompetência
absoluta.

AULA 10 (31/10/05)

Competência (continuação)

O CPC, quanto à competência, adotou os critérios estabelecidos


por Chiovenda:

1º) critério objetivo (art. 91)

. em razão da matéria (do juízo) ;

. em razão do valor da causa;

Art. 91: Regem a competência em razão do valor


e da matéria as normas de organização
judiciária, ressalvados os casos expressos neste
Código.

2º) critério funcional (art. 93)

. no plano horizontal;

. no plano vertical;

Art. 93: Regem a competência dos tribunais as


normas da Constituição da República e de
organização judiciária (critério funcional no plano
vertical). A competência funcional dos juízes de
primeiro grau é disciplinada neste Código
(critério funcional no plano horizontal).

3º) critério territorial ou de foro (art. 94)

Art. 94: A ação fundada em direito pessoal e a


ação fundada em direito real sobre bens móveis
serão propostas, em regra, no foro do domicílio
do réu.

Há incompetência relativa quando é violado critério territorial e


do valor da causa.

No Estado do Rio de Janeiro, não há disposição em relação ao


valor da causa no CODEJERJ, mas já houve essa disposição (ex.:

49
Tribunal de Alçada), assim como existe em outros estados. O Juizado
não está regulado pelo CODEJERJ, logo, a competência em razão do
valor estabelecida em código de organização judiciária não se refere
a ele.

Primeiramente, deve ser firmada a competência do juízo.

O critério funcional regula as diversas funções exercidas pelos


juízos em um processo. No plano horizontal, é regulada a
competência dos juízos de primeiro grau.

Quem é competente para a execução de uma sentença


proferida pelo juízo da II Vara Cível? O próprio juízo que prolatou a
sentença (Art. 575, II, CPC)

Art. 575: A execução, fundada em título judicial,


processar-se-á perante:

II – o juízo que decidiu a causa no primeiro grau


de jurisdição.

Outro exemplo de critério funcional horizontal está no artigo


109, CPC. O juízo que funcionou na causa principal funcionará
também na ação declaratória.

Art. 109: O juiz da causa principal é também


competente para a reconvenção, ação
declaratória incidente, as ações de garantia e
outras que respeitam ao terceiro interveniente.

Alguns estados, com Rio e São Paulo, apresentam varas


regionais. Dentro da Cidade do Rio de Janeiro há os Fóruns Regionais,
estando todos eles situados dentro da Comarca da Capital, mas suas
funções estão espalhadas (ex.: Méier, Campo Grande, Barra,
Madureira). Hoje, entende-se que a competência das varas regionais
é funcional, mas todos que nelas atuam são juízes da Comarca da
Capital, possuindo as mesmas competências. Para se estabelecer em
qual vara regional vai ser intentada a ação, deve-se observar o
critério territorial.

O Fórum Regional existe como uma garantia de acesso mais


rápido do jurisdicionado ao Judiciário, prevalecendo o interesse
público, logo, a competência é absoluta (critério funcional
estabelecido por interesse da justiça).

O critério funcional no plano vertical regula a competência


hierárquica dos Tribunais.

50
Ex.: Estado estrangeiro ajuizou demanda em face de um Município. A
competência para conhecer dessa ação é da Justiça Federal (art. 109,
II, CR). Na sentença, o pedido formulado pelo Estado estrangeiro é
julgado procedente. Quando o Município recorrer dessa sentença
(critério funcional no plano vertical), caberá recurso ordinário para o
STJ.

Art. 109, CRFB: Aos juízes federais compete


processar e julgar:

II- as causas entre Estado estrangeiro ou


organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;

Art. 539: Serão julgados em recurso ordinário:

II- pelo Superior Tribunal de Justiça:

b) as causas em que forem partes, de um lado,


Estado estrangeiro ou organismo internacional e,
do outro, Município ou pessoa residente ou
domiciliada no País.

Trata-se de reprodução de dispositivo constante na CR. Da


mesma forma, a competência para julgar agravo de decisão
interlocutória, na hipótese, será também do STJ.

A regra geral no CPC em termos de competência é a do foro do


domicílio do réu.

Art. 94: A ação fundada em direito pessoal e a


ação fundada em direito real sobre bens móveis
serão propostas, em regra, no foro do domicílio
do réu.

§ 1º: Tendo mais de um domicílio, o réu será


demandado no foro de qualquer deles.

§ 2º: Sendo incerto ou desconhecido o domicílio


do réu, ele será demandado onde for encontrado
ou no foro do domicílio do autor.

§ 3º: Quando o réu não tiver domicílio nem


residência no Brasil, a ação será proposta no
foro do domicílio do autor. Se este também
residir fora do Brasil, a ação será proposta em
qualquer foro.

51
§ 4º: Havendo dois ou mais réus, com diferentes
domicílios, serão demandados no foro de
qualquer deles, à escolha do autor.

Os parágrafos 1º e 4º criam os foros concorrentes, sem violar a


regra do caput.

Ex.: o réu tem domicílio em Seropédica e em Niterói, logo, a demanda


poderá ser proposta em qualquer dos dois foros.

Se cada réu tem domicílio em uma cidade, a demanda poderá


ser proposta em qualquer dos foros.

Pelo parágrafo 2º, se o réu tem domicílio incerto ou desconhecido, o


lugar em que ele é encontrado é considerado seu domicílio. Também
é hipótese de foro concorrente: a demanda poderá ser proposta no
lugar em que o réu for encontrado ou no foro do domicílio do autor.

Quando se tratar de ação fundada em direito real sobre móvel


ou em direito pessoal, competente será o foro do domicílio do réu. Se
ele tiver mais de um domicílio, a competência é concorrente; se
houver mais de um réu, cada um com um domicílio, qualquer deles
será competente (competência concorrente); se o domicílio do réu é
incerto ou desconhecido, a competência é alternativa: pode ser
ajuizada a ação no lugar onde com habitualidade ele é encontrado ou
no foro do domicílio do autor. Se o réu estiver domiciliado no Exterior,
a demanda será proposta aqui no Brasil no domicílio do autor, já se
ambos estiverem domiciliados no Exterior, a demanda poderá ser
proposta em qualquer foro do Brasil.

Art. 95: Nas ações fundadas em direito real


sobre imóveis é competente o foro da situação
da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo
foro de domicílio (do réu) ou de eleição
(contratual), não recaindo o litígio sobre direito
de propriedade, vizinhança, servidão, posse,
divisão e demarcação de terras e nunciação de
obra nova.

Na segunda parte desse artigo, o foro competente é o da


situação da coisa (propriedade, posse, vizinhança, divisão,
demarcação, servidão e nunciação de obra nova).

Quem é competente para conhecer de demanda fundada em


hipoteca? Trata-se direito real sobre bem imóvel, logo, a demanda
pode ser proposta no foro do domicílio do réu, de eleição ou da
situação da coisa.

Ex.: celebração de contrato de compra e venda de imóvel. Descobriu-


se que o imóvel possui alguns defeitos ocultos, logo, o comprador
pretende ajuizar demanda para obter abatimento do preço. Trata-se

52
de direito pessoal, devendo ser aplicado o artigo 94 do CPC. Deve-se
observar qual a natureza do direito que envolve a demanda.

Ex.: ação de despejo por falta de pagamento. Essa ação está


relacionada ao imóvel, mas o despejo está baseado no
descumprimento de cláusula contratual. Trata-se de direito pessoal,
devendo ser aplicado o artigo 94.

Se a questão versar sobre direito real sobre imóvel que não


esteja presente na parte final do artigo 95, há três alternativas: foro
do domicílio, foro de eleição ou da situação da coisa.

Art. 100: É competente o foro:

I- da residência (domicílio) da mulher, para a


ação de separação dos cônjuges e a conversão
desta em divórcio, e para a anulação de
casamento;

Trata-se de foro privilegiado. Essa disposição deve ser mantida


mesmo com a CR/88? Para Alexandre Câmara, esse inciso está
revogado, já para Luiz Fux, consoante jurisprudência do STJ, mantém-
se o artigo 100, I, CPC, face à realidade brasileira. Porém, se a mulher
quiser renunciar a esse privilégio, ela pode fazê-lo.

II- do domicílio ou da residência do alimentando,


para a ação em que se pedem alimentos;

A interpretação feita a esse artigo é extensiva. Ex.: o foro competente


para ação de exoneração de prestação alimentícia é o do domicílio do
alimentando (por ser uma nova ação, deve haver livre distribuição).

Ex.: sentença condenando ao pagamento de pensão alimentícia


proferida pelo juízo da IV Vara de Família. Em regra, esse será o juízo
para conhecer da execução. Na ocasião da propositura, o foro do
alimentando era em Copacabana (competência do juízo da vara de
família; como não há vara regional, a demanda foi distribuída para a
IV Vara de Família do Centro). O réu foi condenado a pagar alimentos
mas não cumpriu sua obrigação, havendo necessidade de se iniciar o
processo de execução. Nessa ocasião, o alimentando estava
domiciliado em Friburgo, logo, com o objetivo de proteger a parte
mais fraca, o foro será o de Friburgo.

Ex.: Foro competente para uma ação de paternidade, sendo a


competência do foro do domicílio do réu.

Súmula nº. 1 do STJ: O foro do domicílio ou da


residência do alimentando é o competente para
a ação de investigação de paternidade, quando
cumulada com a de alimentos.

53
O STJ mantém o entendimento de que, em regra, o que
determina a competência é a demanda em que se estabelece o
pedido principal. Porém, em ação de investigação de paternidade,
cuja determinação de alimentos seria uma conseqüência da
declaração de paternidade, a competência é estabelecida em função
dessa.

Portanto, quando houver cumulação de pedidos, para efeito de


determinação de competência, deve-se observar qual o pedido
principal, mas esse entendimento não se aplica na hipótese do art.
100, II, CPC.

Informativo 152, STJ: nas ações declaratórias de união estável


cumuladas com pedido de prestação alimentícia, aplica-se o artigo
100, II, CPC, sendo a competência do foro do domicílio do
alimentando, que é presumidamente a parte mais fraca.

Assim, em regra, quando houver cumulação de pedidos, deve-


se ater ao pedido principal, ressalvadas as ações de investigação de
paternidade e a declaratória de união estável cumuladas com
alimentos.

III- do domicílio do devedor, para a ação de


anulação de títulos extraviados ou destruídos;

Ex.: credor de nota promissória é domiciliado no Rio de Janeiro e o


devedor em Niterói, sendo que o título foi perdido. O devedor do título
vai ajuizar uma ação para anular esse título. Mesmo sendo ele o autor
da ação, a demanda deverá ser proposta em seu domicílio, Niterói, já
que o legislador entendeu que o devedor de título destruído ou
extraviado é a parte mais fraca da relação processual.

AULA 11 (07/11/05)

Na aula passada, vimos que a competência interna se


divide em três critérios distintos: objetivo, que leva em conta a
matéria e o valor da causa; funcional, que se desdobra entre os
planos vertical e horizontal; e o critério territorial, no qual a principal
regra é a do foro competente do domicílio do réu.

Incompetência

54
Inobservadas as regras de competência, dá-se a incompetência,
que pode ser:

a) absoluta: violação dos critérios funcional e objetivo em relação à


matéria

b) relativa: violação dos critérios territorial e objetivo pelo valor da


causa

Deve-se ter em mente que, segundo Alexandre Câmara, não há


competência absoluta ou relativa.

Art. 113: A incompetência absoluta deverá ser


declarada de ofício e pode ser alegada, em
qualquer tempo e grau de jurisdição (até as vias
ordinárias), independentemente de exceção.

A primeira análise quanto à incompetência absoluta deve ser


feita pelo juiz, pois há um interesse público em que as demandas
tramitem perante os respectivos juízes competentes. É certo que se o
juiz de ofício não declarar a incompetência absoluta a própria parte
poderá alegá-la.

Ex.: demanda tramitando pelo rito ordinário, sendo que quando o réu
foi citado para apresentar contestação, verificou a incompetência
absoluta. Deverá ser observado, no caso, o artigo 301, II. Tal artigo
expõe as chamadas preliminares de contestação, nas quais se
enquadra a incompetência absoluta. Logo, em processo de
conhecimento, a incompetência absoluta deverá ser alegada pelo réu
em preliminar de contestação. Mas se o réu não o fizer, nada impede
que a incompetência seja alegada posteriormente.

Art. 301: Compete-lhe, porém, antes de discutir


o mérito, alegar:

II- incompetência absoluta;

Em sede de RE e REsp (via excepcional), só podem ser


discutidas matérias pré-questionadas, logo, se a incompetência
absoluta não tiver sido suscitada durante todo o processo, ela não
mais poderá ser discutida por via desses recursos.

A incompetência absoluta, porém, é matéria que permite a


propositura de Ação Rescisória.

Art. 485: A sentença de mérito, transitada em


julgado, pode ser rescindida quando:

II- proferida por juiz impedido ou absolutamente


incompetente;

55
O CPC estabelece que se a parte não alegar na primeira
oportunidade a incompetência absoluta, ela responderá
integralmente pelas custas, independentemente de boa ou de má-fé.

Art. 113, § 1º: Não sendo, porém, deduzida no


prazo da contestação, ou na primeira
oportunidade em que lhe couber falar nos autos,
a parte responderá integralmente pelas custas.

§ 2º: Declarada a incompetência absoluta,


somente os atos decisórios serão nulos,
remetendo-se os autos ao juiz competente.

A incompetência relativa não poderá ser declarada de ofício. Se


ela não for argüida por meio de exceção, ela será prorrogada,
tornando competente o foro incompetente.

Art. 112: Argúi-se, por meio de exceção, a


incompetência relativa.

Art. 114: Prorroga-se a competência, se o réu


não opuser exceção declinatória do foro e de
juízo, no caso e prazos legais.

A competência territorial é chamada de competência de foro e a em


razão da matéria é denominada competência de juízo. Essa última
incompetência, porém, deve ser alegada em preliminar de
contestação, e não por meio de exceção, como dispõe o artigo.

Os fóruns regionais são norteados pelo critério funcional de


determinação da competência.

Ex.: autor domiciliado na Barra e réu em Copacabana, sendo proposta


uma ação fundada em direito pessoal, devendo, portanto, o foro ser o
do domicílio do réu. Deve-se verificar primeiro qual é a comarca do
domicilio do réu, que, no caso, é a da Capital. Depois, deve-se
verificar se no domicílio dele há alguma vara regional. Como não há,
a demanda deve ser proposta no foro central. Se ela tiver sido
ajuizada no foro da Barra, a incompetência será absoluta, pois a
incompetência funcional é da comarca da Capital (determinada pelo
CODEJERJ).

Ex.: autor domiciliado em Teresópolis, réu domiciliado na Barra da


Tijuca, sendo a ação fundada em direito pessoal. O autor ajuíza a
ação no foro do seu domicílio, sendo a incompetência relativa, pois a
competência é do foro da comarca da Capital. Portanto, primeiro
verifica-se a competência territorial, de foro (comarca), sendo que se
ela for violada, a incompetência será relativa; já se for violada regra

56
da Lei de Organização Judiciária, a incompetência será absoluta, por
se tratar de competência funcional.

Causas de modificação da competência

1) conexão

2) continência

3) vontade das partes

4) inércia da parte

Só é possível a modificação de critérios que, se violados, levam


à incompetência relativa.

Art. 102: A competência, em razão do valor e do


território, poderá modificar-se pela conexão ou
continência, observado o disposto nos artigos
seguintes.

Conexão é causa de modificação da competência que visa a


reunião de demandas com o objetivo de evitar decisões conflitantes.

Quando presentes o mesmo pedido e a mesma causa de pedir,


é possível a reunião com base na conexão.

Art. 103: Reputam-se conexas duas ou mais


ações, quando lhes for comum o objeto (pedido)
ou (e/ou) a causa de pedir.

O pedido se divide em mediato (bem da vida) e imediato, que é a


prestação jurisdicional. Para se reunir duas demandas, os pedidos
mediatos e imediatos devem ser os mesmos.

Art. 105: Havendo conexão ou continência, o


juiz, de ofício ou a requerimento das partes,
pode ordenar a reunião de ações propostas em
separado, a fim de que sejam decididas
simultaneamente.

A conexão deve ser alegada em preliminar de contestação.

Art. 301: Compete-lhe, porém, antes de discutir


o mérito, alegar:

VII- conexão (e a continência);

57
Art. 253: Distribuir-se-ão por dependência as
causas de qualquer natureza:

I- quando se relacionarem, por conexão ou


continência, com outra já ajuizada;

O juiz não está obrigado a determinar a reunião, devendo


analisar sua conveniência. Se uma demanda foi proposta e o juiz já
proferiu sentença ou está prestes a sentenciar e uma segunda
demanda, com o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, acabou
de ser proposta, ele não deverá reuni-las.

Súmula 235, STJ: A conexão não determina a


reunião dos processos, se um deles já foi
julgado.

O juiz não está autorizado a conhecer de ofício da


incompetência relativa, mas ele pode reunir duas demandas de ofício,
devendo observar o critério de conveniência.

Se apenas um juiz deve atuar, os demais são incompetentes. O


termo prevenção somente poderá ser empregado quando existirem
dois ou mais juízes igualmente competentes.

Ex.: demanda exigindo cumprimento de cláusula contratual, que vai


tramitar na 40ª Vara Cível. A ré ajuíza demanda pleiteando a
anulação dessa mesma cláusula, que cai na 2ª Vara Cível. Ambos os
juízes são competentes.

Sabendo-se que a prevenção é o critério de confirmação e


manutenção da competência, qual o juízo prevento para conhecer
dessa reunião?

1ª regra) regra especial: quando os juízes tiverem a mesma


competência territorial, será prevento aquele que despachou em
primeiro lugar (despacho liminar positivo: “cite-se”);

Art. 106: Correndo em separado ações conexas


perante juízes que têm a mesma competência
territorial, considera-se prevento aquele que
despachou em primeiro lugar.

Ex.: se uma demanda está tramitando no foro regional da Barra e a


outra no foro central da Capital, a competência territorial é mesma,
devendo ser aplicada a regra do artigo 106.

2ª regra) regra geral: se a competência territorial não é a mesma


(comarcas distintas), o juiz prevento será aquele onde ocorrer a
primeira citação válida.

58
Art. 219: A citação válida torna prevento o juízo,
induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e,
ainda quando ordenada por juiz incompetente,
constitui em mora o devedor e interrompe a
prescrição.

Ex.: é proposta uma demanda no Rio e, 10 dias depois, outra é


proposta em Friburgo. Naquela, o juiz despacha primeiro com o “Cite-
se”, mas na última a citação válida é realizada primeiro. O juiz
prevento será o de Friburgo.

A continência é um tipo especial de conexão. É causa de


modificação da competência, que visa a reunião de demandas com o
objetivo de evitar decisões conflitantes.

Art. 104: Dá-se a continência entre duas ou mais


ações sempre que há identidade quanto às
partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma,
por ser mais amplo, abrange o das outras.

Os últimos critérios de continência, na verdade, seriam


desnecessários, já que se houvesse a mesma causa de pedir, os
processos já poderiam ser reunidos por continência.

Na conexão não é necessária a identidade de partes.

Ex.: A ajuizou demanda em face de B exigindo a declaração de


existência de uma dívida. A vai a juízo novamente e, em face de B,
por conta da mesma dívida, pede a condenação desse. O pedido de
condenação, por ser mais amplo, engloba o primeiro.

Ex.: sujeito celebra um contrato que consistia no cumprimento de dez


cláusulas contratuais. No contrato, há uma cláusula penal referente
ao inadimplemento dessas obrigações. Descumprida a terceira
cláusula, o autor ajuíza demanda com o objetivo de exigir o
cumprimento das obrigações. Durante essa demanda, porém, o réu
descumpre todo o contrato, incidindo a cláusula penal. A em face de
B ajuíza nova ação para que se exija o cumprimento da cláusula
penal.

Se a continência é um tipo especial de conexão, todos os


comentários referentes à conexão se aplicam à continência.

Vontade das partes está prevista no art. 111, que regula o foro
de eleição ou foro contratual.

Art. 111: A competência em razão da matéria e


da hierarquia (funcional) é inderrogável por
convenção das partes; mas estas podem
modificar a competência em razão do valor e do

59
território, elegendo foro onde serão propostas as
ações oriundas de direitos e obrigações.

Ex.: A, residente e domiciliado em Jacarepaguá, celebrou um contrato


de locação, sendo que lá também estão localizados o imóvel e o
domicilio do locatário, B. No contrato, A escreveu que o foro para
dirimir qualquer controvérsia oriunda daquele contrato seria o do foro
central da comarca da Capital. B não cumpriu o contrato, devendo ser
proposta ação de despejo por falta de pagamento, ação de direito
pessoal. Em regra, a competência é a do foro do domicílio do réu. A
ação foi ajuizada no foro central, sendo que o juiz remeteu de ofício
os autos para Jacarepaguá. Está correto o juiz pois ele mexeu na
competência funcional, prevista no CODJERJ, devendo ser ignorada a
cláusula contratual.

AULA 12 (21/11/05)

Relembrando: as partes não podem mexer em critérios que,


uma vez violados, levam à incompetência absoluta. Fora isso, elas
têm a possibilidade de eleger o foro onde serão dirimidas as
controvérsias originárias de um determinado negócio, que é o
chamado foro de eleição ou contratual.

Há um tempo, era muito comum em contrato de adesão se


estabelecer como foro competente para dirimir determinadas
controvérsias a cidade de São Paulo. O banco, então, ajuizava a ação
nessa cidade, sendo que o juiz, de ofício, remetia a demanda para o
Rio, domicílio do réu. Trata-se de critério territorial que, quando
violado, leva à incompetência relativa. Nesse caso, ao remeter de
ofício, o juiz estaria conhecendo de ofício da incompetência relativa?
Não, ele simplesmente estava conhecendo da nulidade da cláusula.
Isso porque, perante um contrato de adesão, uma cláusula que
represente dificuldade de acesso pelo consumidor ao Poder Judiciário
é considerada nula de pleno direito.

Inércia da parte (causa de modificação de competência)

Ex.: a demanda deveria ter sido ajuizada no domicílio do réu, mas o


autor ajuíza em seu domicílio, sendo que o réu fica inerte, não
apresentando exceção. Nesse caso, haverá a modificação de
competência pela inércia da parte, ocorrendo a prorrogação.

Art. 114: Prorroga-se a competência, se o réu


não opuser exceção declinatória do foro e de
juízo, no caso e prazos legais.

60
Conflito de competência

Art. 115: Há conflito de competência:

I- quando dois ou mais juízes se declaram


incompetentes;

II- quando dois ou mais juízes se consideram


incompetentes;

III- quando entre dois ou mais juízes surge


controvérsia acerca da reunião ou separação de
processos.

Divide-se em duas espécies:

a) positivo: art. 115, I

b) negativo: art. 115, II

A Lei 9278 (união estável), em um dos seus últimos artigos,


estabelecia que a competência para cuidar de matéria relativa à
união estável seria das varas de família. Nessa época, o CODJERJ
nada dispunha em relação à competência da vara de família para
julgar tal matéria. Com isso, muitos juízes de Vara de Família
alegavam que esse artigo da Lei 9278 era inconstitucional,
remetendo os autos ao juízo da Vara Cível. Esse, por sua vez, dizia
que apesar da inconstitucionalidade do dispositivo, a união estável
seria modalidade de entidade familiar estabelecida pela Constituição,
devendo ser, portanto, conhecida pelo juízo de família.

O argumento do juiz da vara de família para a


inconstitucionalidade de tal artigo referia-se ao fato de a competência
em razão da matéria dever ser regulada pela lei estadual de
organização e divisão judiciária, e não pela lei de união estável. Ficou,
então, estabelecida a competência da vara de família e a modificação
da lei de organização judiciária. Trata-se, no caso, de conflito
negativo de competência, hipótese prevista no artigo 115, II.

Questão da AGU: demanda proposta perante o juízo X, que entendeu


ser incompetente, remetendo o feito para o juízo Y; esse também
entendeu ser incompetente, remetendo o feito para o juízo Z, sendo
que todos estão ligados ao mesmo Tribunal. Caberá ao juízo X
suscitar o conflito perante o Tribunal? Não, pois no caso não há
conflito de competência (haveria se, por exemplo, X achasse que Y
era competente e esse achasse que aquele era o competente).

Qual a natureza jurídica do conflito de competência? Para


Vicente Greco Filho, ele tem natureza jurídica de ação. Porém,

61
prevalece o entendimento de que se trata de um incidente
processual. Não deve ser atribuída a ele a natureza de ação, pois um
dos legitimados para suscitar o conflito de competência é o próprio
juiz.

Art. 116: O conflito pode ser suscitado por


qualquer das partes, pelo Ministério Público ou
pelo juiz.

§ único: O Ministério Público será ouvido em


todos os conflitos de competência; mas terá
qualidade de parte naqueles que suscitar.

Quando o MP atua em determinado processo, ele pode atuar


como órgão agente, parte (art. 81), ou como órgão interveniente,
fiscal da lei (art. 82).

Art. 81: O Ministério público exercerá o direito de


ação nos casos previstos em lei, cabendo-lhe, no
processo, os mesmo poderes e ônus que às
partes.

Artigo 82: compete ao Ministério Público intervir:

I- nas causas em que há interesses de


incapazes;
II - nas causas concernentes ao estado da
pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição,
casamento, declaração de ausência e
disposições de última vontade;
III - nas ações que envolvam litígios coletivos
pela posse da terra rural e nas demais causas
em que há interesse público evidenciado pela
natureza da lide ou qualidade da parte.

Ex.: autor incapaz ajuíza demanda fundada em direito indisponível; o


réu fica revel; o juiz julga tudo improcedente em razão de o réu ter
sido revel. Aplicou corretamente a lei o magistrado? Não, pois se se
trata de direito indisponível, pelo art. 320, II, não se pode aplicar a
presunção de veracidade. Assim, se o juiz aplicou mal a lei, o MP tem
que recorrer, pois ele fiscaliza a correta aplicação da lei.

Art. 320: A revelia não induz, contudo, o efeito


mencionado no artigo antecedente:

II- se o litígio versar sobre direitos indisponíveis;

Art. 319: Se o réu não contestar a ação, reputar-


se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor.

62
Poderia o MP, como fiscal da lei, formular pedido de tutela
antecipada? O art. 273 fala em “parte”. Predomina o entendimento
de que o MP, como fiscal da lei, não pode formular pedido de tutela
antecipada, somente quando ele for parte. Mas há quem entenda,
como Nelson Néri, que como o parquet vela pela correta aplicação da
lei, ele deve velar pela rápida solução do litígio e pelo devido
processo legal, podendo formular pedido de tutela antecipada.

Art. 273: O juiz poderá, a requerimento da parte,


antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da
tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da
verossimilhança da alegação e:

Se o próprio MP suscita o conflito de competência, na forma do


artigo 116, deve ser intimado outro promotor para atuar como fiscal
da lei? Não, segundo Carvalhinho, PCPC e Hugo Nigro Mazzili, pois
nesse caso o MP já está participando do conflito de competência.

Esse mesmo raciocínio se aplica à ACP. Ex.: se a ACP é proposta


pelo MP, não é necessário se intimar outro promotor para atuar como
fiscal da lei.

No artigo 115, III, o conflito será positivo ou negativo? Depende,


devendo-se observar que a hipótese do artigo pode surgir quando
houver conexão ou continência.

Atos processuais

O artigo 154 regula dois importantes princípios relacionados com o


ato processual.

Art. 154: Os atos e termos processuais não


dependem de forma determinada senão quando
a lei expressamente a exigir, reputando-se
válidos os que, realizados de outro modo, lhe
preencham a finalidade essencial.

. Princípio da Liberdade das Formas

A incompetência relativa deve ser argüida por meio de exceção,


sendo essa uma hipótese em que a lei exige forma.

. Princípio da Instrumentalidade das Formas

Ex.: um advogado, acostumado a atuar perante o Juizado, pretende


contra-atacar no rito ordinário, mas não observa a forma da
reconvenção, prestando o contra-ataque na própria contestação, o
que é denominado de pedido contraposto. Sabe-se que, no rito

63
ordinário, a lei exige que o contra-ataque seja apresentado sob a
forma de reconvenção. Isso não impede, porém, que se conheça do
contra-ataque feito na própria contestação, desde que a finalidade do
ato seja alcançada.

A instrumentalidade refere-se ao processo encarado como algo


a serviço do direito material, já que aquele não é um fim em si
mesmo. Ela deve sempre estar relacionada com o Princípio da
Efetividade, que é a prestação jurisdicional em um curto espaço de
tempo com o menor esforço possível, de acordo com Luiz Guilherme
Marinoni.

O CPC classificou os atos processuais de acordo com quem os pratica.

a) atos do juiz

b) atos das partes

c) atos do escrivão

Artigo 162: Os atos do juiz consistirão em


sentenças, decisões interlocutórias e despachos.

§ 1º: Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo


ao processo, decidindo ou não o mérito da
causa.

Essa definição de sentença está ultrapassa, pois basta a parte


recorrer que o processo não acaba com a sentença.

Art. 461- A: Na ação que tenha por objeto a


entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela
específica, fixará o prazo para o cumprimento da
obrigação.

§ 2º: Não cumprida a obrigação no prazo


estabelecido, expedir-se-á em favor do credor
mandado de busca e apreensão ou de imissão
na posse, conforme se tratar de coisa móvel ou
imóvel.

Ex.: juiz proferiu sentença condenando o réu a entregar um bem; não


obstante a sentença, o réu não o entrega. Na forma do artigo 461-A, §
2º, o que o juiz, mesmo após a sentença, está autorizado a fazer?
Expedir mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse.
Assim, tal parágrafo demonstra que não necessariamente o processo
acaba no momento em que o juiz proferir sentença, já que, após a
sentença, inicia-se a chamada fase executiva

64
Muitos doutrinadores vêm definindo sentença como o ato pelo
qual o juiz encerra o seu ofício de julgar.

Outra definição: sentença é o ato pelo qual o juiz encerra o


procedimento no primeiro grau de jurisdição.

Existem duas espécies de sentença:

. terminativa: é aquela que extingue o processo sem resolução de


mérito (art. 267)

Art. 267: Extingue-se o processo sem julgamento


de mérito:

I- quando o juiz indeferir a petição inicial;

II- quando ficar parado durante mais de 1 (um)


ano por negligência das partes;

III- quando, por não promover ao atos e


diligências que lhe competir, o autor abandonar
a causa por mais de 30 (trinta) dias;

IV: quando se verificar a ausência de


pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;

V- quando o juiz acolher a alegação de


perempção, litispendência ou de coisa julgada;

VI- quando não concorrer qualquer das


condições da ação, como possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual;

VII- pela convenção de arbitragem;quando o


autor desistir da ação; quando a ação for
considerada intransmissível por disposição legal;

VIII- quando ocorrer confusão entre autor e réu;

IX- nos demais casos previstos neste Código.

. definitiva: é aquela que extingue o processo com resolução de


mérito (art. 269).

Art. 269: Extingue-se processo com julgamento


do mérito:

I- quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do


autor;

65
II- quando o réu reconhecer a procedência do
pedido;

III- quando as partes transigirem;

IV- quando o juiz pronunciar a decadência ou a


prescrição;

V- quando o autor renunciar ao direito sobre que


se funda a ação.

Não se deve falar, não obstante a redação do artigo, em


“julgamento” de mérito, mas sim em “resolução”. Na hipótese dos
incisos II, III e V, o juiz não está exercendo atividade de julgar. Nesses
casos, o mérito, o pedido, é resolvido, mas não necessariamente
existe atividade de julgamento.

O que é sentença impura (está dentro da classificação de


sentença definitiva)? É aquela que contém resolução de mérito sem
que exista atividade de julgamento.

Art. 458: São requisitos essenciais da sentença:

I- o relatório, que conterá os nomes das partes, a


suma do pedido e da resposta do réu, bem como
o registro das principais ocorrências havidas no
andamento do processo;

II- os fundamentos, em que o juiz analisará as


questões de fato e de direito;

III- o dispositivo, em que o juiz resolverá as


questões, que as partes lhe submetem.

1) relatório: é a síntese do processo, resumo das principais


ocorrências.

A exigência do relatório nasce da idéia da demonstração, pelo


magistrado, de que ele conhece o caso sobre o qual está decidindo.
Algumas legislações, porém, o dispensam, ou permitem que ele seja
feito de forma simplificada.

Art. 38, Lei 9099/05: A sentença mencionará os


elementos de convicção do juiz, com breve
resumo dos fatos relevantes ocorridos em
audiência, dispensado o relatório.

§ único: Não se admitirá sentença condenatória


por quantia ilíquida, ainda que genérico o
pedido.

66
A doutrina comina de nulidade absoluta a ausência de relatório,
mas o STJ entende que se trata de mera irregularidade, que não
justifica tal nulidade.

2) motivação/ fundamentação: parte onde o magistrado expõe os


argumentos que formaram o seu convencimento (artigo 93, IX, CR).
Sua ausência acarreta nulidade absoluta. Em uma hipótese de
sentença terminativa, essa fundamentação pode ser mais concisa
(art. 459).

Art. 93, CRFB: Lei complementar, de iniciativa do


Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os
seguintes princípios:

IX- todos os julgamentos dos órgãos do Poder


Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente
a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;

Art. 459: O juiz proferirá a sentença, acolhendo


ou rejeitando, no todo ou em parte, o pedido
formulado pelo autor. Nos casos de extinção do
processo sem julgamento do mérito, o juiz
decidirá em forma concisa.

§ único: Quando o autor tiver formulado pedido


certo, é vedado ao juiz proferir sentença ilíquida.

3) dispositivo: é o conteúdo decisório da sentença. Sua falta acarreta


a própria inexistência da sentença.

4) assinatura do juiz (alguns autores atribuem esse 4º elemento à


sentença). Mas se for possível reconhecer quem praticou o ato, deve-
se reconhecer a ausência de assinatura como mera irregularidade.

§ 2º: Decisão interlocutória é o ato pelo qual o


juiz, no curso do processo, resolve questão
incidente.

Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz resolve um


incidente no curso do processo.

67
A melhor maneira de se fazer a diferença entre uma sentença e
uma decisão interlocutória é analisando o efeito que o ato gera no
processo. Se ele possuir carga decisória e for capaz de acabar com o
processo, trata-se de sentença, caso contrário, trata-se de decisão
interlocutória.

Art. 395: A sentença, que resolver o incidente,


declarará a falsidade ou autenticidade do
documento.

Nesse artigo, apesar da letra da lei, esse ato não tem força de acabar
com o processo, logo, trata-se de verdadeira decisão interlocutória.

Ex.: o ato do juiz que exclui do processo um litisconsorte é uma


decisão interlocutória, pois não tem força de acabar com o processo.

Em processo de execução, se é apresentada a exceção de pré-


executividade (denominação dada por Pontes de Miranda) e o juiz a
acolhe, a natureza de seu ato é de sentença; já se ele a rejeita, o ato
terá natureza de decisão interlocutória.

Ex.: execução movida em face de três pessoas, sendo que um dos


executados apresenta a exceção, alegando sua ilegitimidade na
execução. O juiz acolhe a legação. Nesse caso, o ato passa a ser
decisão interlocutória.

A decisão interlocutória também necessita de fundamentação.

Art. 165: As sentenças e acórdãos serão


proferidos com observância do disposto no art.
485; as demais serão fundamentadas, ainda que
de modo conciso.

Despacho é ato de mero impulso ao processo, sem conteúdo


decisório (STJ).

Art. 162, § 3º: São despachos todos os demais


atos do juiz praticados no processo, de ofício ou
a requerimento da parte, a cujo respeito a lei
não estabelece outra forma.

Qual a natureza do “Cite-se”?

Qual a natureza do “Cite-se. Após apreciarei o pedido de tutela.” face


a jurisprudência do STJ?

O que é a Teoria da Relativização das Nulidades?

68
AULA 13 (28/11/05)

Hipótese: a parte, na petição inicial, formula um pedido de


tutela antecipada. O juiz, entretanto, não se manifesta sobre ele, mas
cita a parte contrária, estabelecendo que apenas após a contestação
será apreciado tal pedido. Isso posto, qual a natureza do seguinte
despacho: “Cite-se. Após apreciarei o pedido.”?

Julgado do STJ: foi ajuizada uma demanda cujo objetivo era


exigir a entrega de uma mercadoria, que seria desembarcada no
porto de Vitória. A pessoa queria a autorização para o desembarque
da mercadoria e que fosse feita a entrega da mesma. Na petição
inicial, foi pedida a antecipação de tutela, a fim de que fosse
determinado o imediato desembarque da mercadoria quando o navio
chegasse ao porto. Despacho do juiz: “Cite-se. Após a contestação
apreciarei o pedido de tutela.” A parte interpôs o recurso de agravo
de instrumento, ao argumento de que essa decisão deixou de ser
despacho, decisão de mero impulso ao processo, passando a assumir
a natureza jurídica de decisão interlocutória. O agravo de instrumento
foi para o TJ/ES, que considerou o agravo inadmissível ao argumento
de que o “Cite-se” tem natureza de despacho, na forma do artigo
504, CPC, não cabendo recurso algum.

Art. 504: Dos despachos de mero expediente


não cabe recurso.

Inconformada com a decisão do Tribunal, a parte apresenta um


Recurso Especial para o STJ. De acordo com esse Tribunal, o “Cite-se”
é o mais famoso exemplo de despacho, mas, a partir do momento em
que o juiz estabelece que depois apreciará o pedido de tutela, ele
está indeferindo a tutela, porém sem fundamentar. Com isso,
entendeu o STJ que quando o ato judicial deixa de ser um ato de mero
impulso ao processo, sem conteúdo decisório, e passa a causar
gravame, ele deixa de ser despacho e passa a ter natureza de
decisão interlocutória.

Para Barbosa Moreira, o “Cite-se”, em regra, tem natureza de


despacho, mas quando ele for capaz de causar gravame, ele passa a
ter a natureza de decisão interlocutória (ex.: juiz manda citar sem
apreciar o pedido de liminar). Assim, o melhor mecanismo para se
determinar a natureza do ato de um juiz é analisar a conseqüência
que aquilo gera no processo. Se o ato tiver conteúdo decisório e for
capaz de encerrar o procedimento, sua natureza será de sentença; se
ele tiver um conteúdo decisório, ainda que muito forte, mas não for
capaz de encerrar o procedimento, esse ato será uma decisão
interlocutória; já se ele for ato de mero impulso ao processo, sem
conteúdo decisório, trata-se de um despacho. Portanto, se a decisão
tiver apenas uma linha, com aparência de despacho, mas causar

69
gravame, ela passa a ser uma decisão interlocutória que deveria ter
sido fundamentada e não foi.

Artigo 162: Os atos do juiz consistirão em


sentenças, decisões interlocutórias e despachos.

§ 4º: Os atos meramente ordinatórios, como a


juntada e a vista obrigatória, independem de
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo
servidor e revistos pelo juiz quando necessário.

Esse parágrafo passou a permitir que o serventuário praticasse


determinados atos que antigamente eram privativos do juiz, com o
objetivo de dar mais efetividade à atividade judicial. Segundo Barbosa
Moreira, não se trata de despacho, que é ato praticado pelo juiz, mas
simplesmente de ato praticado pelo serventuário. Se houver revisão
do juiz, esse ato de revisão será classificado como despacho ou
decisão interlocutória, se causar gravame.

Artigo 163: Recebe a denominação de acórdão o


julgamento proferido pelos tribunais.

Apesar de todo julgamento que chega ao Tribunal receber o


nome de acórdão, deve-se observar que existe acórdão com função
de sentença e acórdão com função de decisão interlocutória.

Ex.1: com a citação, o réu apresenta uma impugnação ao valor da


causa atribuído pelo autor. O juiz aprecia tal impugnação e decide
qual o valor correto a ser atribuído. Por estar resolvendo um incidente
no curso do processo, essa decisão tem natureza de decisão
interlocutória. A parte autora interpôs um recurso de agravo, sendo
proferido um acórdão, que não tem força de acabar com o processo,
possuindo, portanto, função de decisão interlocutória.

Ex.2: esse mesmo réu, além de impugnar o valor da causa, alegou em


preliminar de mérito prescrição. O juiz, ao dar a decisão de
saneamento do processo, afastou essa alegação de prescrição,
declarando saneado o processo. A decisão do juiz que declara
saneado o processo é interlocutória. Inconformada com essa decisão,
a parte interpôs recurso de agravo, que é julgado pelo Tribunal. No
acórdão, o Tribunal acolheu a prescrição. Esse acórdão, no caso, tem
força de sentença, pois será capaz de acabar com o processo.

Essa diferença é importante no estudo do REsp e do RE.

Art. 542: Recebida a petição pela secretaria do


tribunal, será intimado o recorrido, abrindo-se-
lhe vista, para apresentar contra-razões.

§ 3º: O recurso extraordinário, ou o recurso


especial, quando interpostos contra decisão

70
interlocutória em processo de conhecimento,
cautelar, ou embargos à execução ficará retido
nos autos e somente será processado se o
reiterar a parte, no prazo para a interposição do
recurso contra decisão final, ou para contra-
razões.

Esse parágrafo regula a hipótese em que RE e REsp serão


recebidos na forma retida. Não obstante a redação do artigo, não
cabem REsp e RE de decisão interlocutória, da qual só cabe agravo.
Na realidade, o artigo quer dizer que o RE ou o REsp, quando
interpostos de acórdão com função de decisão interlocutória, ficará
retido nos autos, aguardando para ser apreciado por ocasião do RE ou
do REsp da decisão final.

Se, no primeiro, exemplo, a parte ficou inconformada com o


acórdão que julgou o agravo referente à impugnação do valor da
causa, deverá ser interposto REsp ou RE de acórdão com função
interlocutória, logo, ele ficará retido nos autos. Já no segundo caso,
como o acórdão tem função de sentença, com força de acabar com o
processo, contra ele poderá ser interposto RE ou REsp, que será
encaminhado para o STF ou STJ.

Artigo 158: Os atos das partes, consistentes em


declarações unilaterais ou bilaterais de vontade,
produzem imediatamente a constituição, a
modificação ou a extinção de direitos
processuais.

§ único: A desistência da ação só produzirá efeito


depois de homologada por sentença.

Em regra, praticado o ato pela parte, esse ato automaticamente


já começa a produzir os seus efeitos.

Já pelo § único, a desistência não produz efeitos imediatos, pois


para produzir efeitos ela precisa ser homologada por sentença. Isso
porque, dependendo do momento, deverá ser ouvida a outra parte
para ver se ela concorda ou não com a desistência, que vem a ser
uma hipótese de extinção do processo sem julgamento de mérito.

Tempo dos atos processuais

Artigo 172: Os atos processuais realizar-se-ão


nos dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.

Hoje predomina o entendimento de que o dia corresponde ao


horário em que é possível a prática de atos processuais, ou seja, das
6 às 20 horas.

71
Esse horário nada tem a ver com o horário do expediente
forense, que é determinado por cada um dos estados.

§ 1º: Serão, todavia, concluídos, depois das 20


(vinte) horas, os atos iniciados antes, quando o
adiamento prejudicar a diligência ou causar
grave dano.

§ 2º: A citação e a penhora poderão, em casos


excepcionais, e mediante autorização expressa
do juiz, realizar-se em domingos e feriados, ou
nos dias úteis, fora do horário estabelecido neste
artigo, observado o disposto no art. 5º, inciso XI,
da Constituição Federal.

Essa penhora deve poder ser efetuada fora da casa do sujeito,


no lugar onde ele se encontre.

A Lei de Organização Judiciária de cada estado é que estabelece


se deve ter ou não expediente forense aos sábados.

Estabelecimento comercial não é considerado residência, mas


pode ser considerado domicílio.

Art. 216: A citação efetuar-se-á em qualquer


lugar em que se encontre o réu.

Art. 659, § 1º: Efetuar-se-á a penhora onde quer


que se encontrem os bens, ainda que em
repartição pública; caso em que precederá
requisição do juiz ao respectivo chefe.

Art. 173: Durante as férias e nos feriados (e


antes ou depois de iniciado o expediente
forense) não se praticarão atos processuais (se a
providência for urgente, deve-se utilizar o
plantão judiciário). Excetuam-se:

I- a produção antecipada de provas (art. 846);

II- a citação, a fim de evitar o perecimento de


direito; e bem assim o arresto, o seqüestro, a
penhora, a arrecadação, a busca e apreensão, o
depósito, a prisão, a separação de corpos, a
abertura de testamento, os embargos de
terceiro (liminar), a nunciação de obra nova
(liminar) e outros atos análogos.

§ único: O prazo para a resposta do réu só


começará a correr no primeiro dia útil seguinte
ao feriado ou às férias.

72
Esse artigo cuida das medidas em caráter urgente.

Artigo 202, CC: A interrupção da prescrição, que


somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

I- por despacho do juiz (cite-se), mesmo


incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da
lei processual.

Art. 219: A citação válida torna prevento o juízo,


induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e,
ainda quando ordenada por juiz incompetente,
constitui em mora o devedor e interrompe a
prescrição.

Por ser a prescrição tema de direito material, deve-se levar em


conta o CC, e não o CPC, para se determinar a causa de sua
interrupção. Logo, a prescrição é interrompida pelo “Cite-se”, e não
pela citação válida..

§ 1º: A interrupção da prescrição retroagirá à


data da propositura da ação.

§ 2º: Incumbe à parte promover a citação do réu


nos 10 (dez) dias subseqüentes ao despacho que
a ordenar, não ficando prejudicada pela demora
imputável exclusivamente ao serviço judiciário.

Se não forem recolhidas as custas corretamente ou não for


promovida a citação mas, no prazo do 219, § 2º, for complementado o
faltante ou promovida a citação, o “Cite-se” interrompe a prescrição.
Mas, se não forem tomadas essas providências, não será
interrompida a prescrição pelo “Cite-se”. Por isso, na prática, os juízes
observam se o endereço está completo e se as custas foram
recolhidas corretamente para só depois proferirem o “Cite-se”.

Ex.: prazo prescricional de 5 anos, sendo que a parte ingressa com a


ação quase no final desse período. Se o juiz demorar uns 30 dias para
verificar se o endereço do réu está correto e se as custas foram
recolhidas corretamente para só depois dar o “Cite-se”, a pretensão
estará prescrita. Para se evitar isso, deve ser aplicado o art. 219, § 1º.

Ex.: parte ingressa com a ação quase no final do prazo; o juiz dá o


“Cite-se” e manda que a parte complemente as custas, mas ela não o
faz. O processo fica, então, parado por 30 dias. Após esse período, a
parte complementa as custas e o réu contesta, alegando a prescrição,
que será acolhida pelo juiz. Nesse caso, a demora não foi imputada

73
ao serviço judiciário, mas sim à própria parte, portanto, estará
prescrita a pretensão.

Artigo 174: Processam-se durante as férias e não


se suspendem pela superveniência delas:

I- os atos de jurisdição voluntária bem como os


necessários à conservação de direitos, quando
possam ser prejudicados pelo adiamento;

II- as causas de alimentos provisionais, de dação


ou remoção de tutores e curadores, bem como
as mencionadas no art. 275;

IIl- todas as causas que a lei federal determinar.

Existem situações de caráter urgente que mesmo no período


das férias ou durante o feriado forense poderão ter andamento.

AULA 14 (05/12/05)

Classificação dos prazos

a) legal: é aquele previsto na lei (regra)

Ex.: prazo para apresentação da Réplica.

Art. 326: Se o réu, reconhecendo o fato em que


se fundou a ação, outro lhe impuser impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor,
este será ouvido no prazo de 10 (dez) dias,
facultando-lhe o juiz a produção de prova
documental.

Art. 327: Se o réu alegar qualquer das matérias


enumeradas no art. 301, o juiz mandará ouvir o
autor no prazo de 10 (dez) dias, permitindo-lhe a
produção de prova documental. Verificando a
existência de irregularidades ou de nulidades
sanáveis, o juiz mandará supri-las, fixando à
parte prazo nunca superior a 30 (trinta) dias.

Art. 177: Os atos processuais realizar-se-ão nos


prazos prescritos em lei. Quando esta for omissa,
o juiz determinará os prazos, tendo em conta a
complexidade da causa.

74
b) judicial: é aquele fixado pelo juiz, na ausência de prazo legal.

Art. 454, § 3º: Quando a causa apresentar


questões complexas de fato ou de direito, o
debate oral poderá ser substituído por
memoriais, caso em que o juiz designará dia e
hora para o seu oferecimento (hoje, isso não se
justifica mais).

Memorial é a última oportunidade dada às partes no processo


para que reforcem suas alegações, sendo seu prazo judicial. Muitas
vezes, os memoriais são chamados de alegações finais, que,
tecnicamente, somente existem no Processo Penal.

Se o juiz proferir o seguinte despacho: “Venham as partes em


memoriais”, deve-se observar o artigo 185, passando o prazo a ser
legal.

Art. 185: Não havendo preceito legal nem


assinação pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o
prazo para a prática de ato processual a cargo
da parte.

c) convencional: é aquele objeto de acordo pelas partes

Art. 265: Suspende-se o processo:

II- pela convenção das partes;

§ 3º: A suspensão do processo por convenção


das partes, de que trata o n. II, nunca poderá
exceder 6 (seis) meses;

a) próprio: é aquele voltado para as partes, cujo descumprimento


acarreta preclusão (perda da faculdade para a prática de um ato
processual).

Art. 183: Decorrido o prazo, extingue-se,


independentemente de declaração judicial, o
direito de praticar o ato, ficando salvo, porém, à
parte provar que o não realizou por justa causa.

§ 1º: Reputa-se justa causa o evento imprevisto,


alheio à vontade da parte, e que a impediu de
praticar o ato por si ou por mandatário.

Os Tribunais são extremamente rígidos ao analisar a justa


causa.

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b) impróprio: é aquele voltado para o juízo (incluem-se o juiz e os
serventuários). Seu descumprimento não gera uma sanção
processual, mas apenas administrativa.

Arts 189: O juiz proferirá:

I- os despachos de expediente, no prazo de 2


(dois) dias;

II- as decisões, no prazo de 10 (dez) dias.

Art. 190: Incumbirá ao serventuário remeter os


autos conclusos no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas e executar os atos processuais no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas, contados:

I- da data em que houver concluído o ato


processual anterior, se lhe foi imposto pela lei;

II- da data em que tiver ciência da ordem,


quando determinada pelo juiz.

§ único: Ao receber os autos, certificará o


serventuário o dia e a hora em que ficou ciente
da ordem, referida no n. II.

Teoria das nulidades

Primeiramente, deve-se observar que essa teoria é


completamente diferente da estudada no Direito Civil.

As invalidades se dividem em três planos distintos:

1) plano da existência: um ato existe se preencher os elementos


constitutivos mínimos.

Ex.: a sentença sem dispositivo não existe, pois não preencheu um


elemento constitutivo mínimo.

Se uma decisão é oriunda de um processo que não existiu, ela


não pode alcançar a autoridade de coisa julgada.

Como se sabe, os pressupostos processuais são capacidade


processual das partes, demanda regularmente desenvolvida e órgão
revestido de jurisdição, logo, se não há presença de partes, o ato não
existe.

Se não houver citação, a relação é inexistente, pois não haverá


partes. O processo, porém, passa a existir a partir do momento em
que a petição inicial é distribuída.

76
Assim, se for proferida uma sentença sem que tenha havido
citação do réu, ela não poderá transitar em julgado, pois ele não
existiu juridicamente.

Essa sentença, mesmo inexistente, pode produzir efeitos,


diferente do que ocorre no Direito Civil.

Se em uma relação processual houvesse um vício quanto à


citação, de nulidade ou de inexistência, durante muitos anos a via
adequada para se atacar esse vício era a Ação Rescisória, na forma
do art. 485, V, por violação ao art. 214. Uma das Turmas do STJ,
porém, começou a fazer o seguinte questionamento: se não houver
citação, a relação jurídica será inexistente, só podendo transitar em
julgado aquilo que existe, sendo que a ação rescisória só é adequada
quando existir trânsito em julgado. Com isso, começou a se entender
que quando for caso de nulidade de citação a ação cabível seria Ação
Declaratória de Inexistência de Relação Jurídica, pois não há presença
de partes. Há muitos anos, essa ação era chamada de querella
nullitatis (nenhum, inexistência) insanabilis.

Art. 485: A sentença de mérito, transitada em


julgado, pode ser rescindida quando:

V- violar literal disposição de lei;

Art. 214: Para a validade do processo, é


indispensável a citação inicial do réu.

A partir desse entendimento, o STJ, ao receber uma ação


rescisória alegando nulidade ou falta de citação, não obstante ser
essa via inadequada, passou a conhecer daquele vício de ofício, por
ser matéria de ordem pública, declarando a nulidade de todo o
processo. Assim, mesmo não sendo conhecida a rescisória, ela passa
a ser um mecanismo que permite ao Tribunal tomar ciência do vício.

Não se pode esquecer que a ação rescisória fica condicionada


ao prazo de dois anos, ao passo que a ação declaratória é
imprescritível.

Além disso, a competência para a Ação rescisória é do Tribunal,


já a competência para a ação declaratória é do juiz singular,
encaminhada à livre distribuição.

Art. 267, § 3º: O juiz conhecerá de ofício, em


qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto
não proferida a sentença de mérito, da matéria
constante dos ns. IV, V e VI (condições da ação e
pressupostos processuais, positivos e negativos);
todavia, o réu que a não alegar, na primeira
oportunidade em que lhe caiba falar nos autos,
responderá pelas custas de retardamento.

77
b) plano da validade

. nulidade absoluta: ocorre quando há inobservância à norma cogente


no interesse público.

Artigo 113, § 2º: Declarada a incompetência


absoluta, somente os atos decisórios serão
nulos, remetendo-se os autos ao juiz
competente.

. nulidade relativa: ocorre quando há violação à norma cogente no


interesse privado.

Art. 11, § único: A falta, não suprida pelo juiz, da


autorização ou da outorga, quando necessária,
invalida o processo.

. anulabilidade: ocorre quando há violação à norma dispositiva (que


depende da vontade das partes) no interesse privado

Art. 650: Podem ser penhorados, à falta de


outros bens (bens relativamente impenhoráveis):

I- os frutos e os rendimentos dos bens


inalienáveis, salvo se destinados a alimentos de
incapazes, bem como de mulher viúva, solteira,
desquitada, ou de pessoas idosas;

II- as imagens e os objetos do culto religioso,


sendo de grande valor.

Não há que se falar, no Processo Civil, de invalidade sem


decretação.

c) plano da eficácia

A nulidade não é mais encarada como sanção.

Uma inexistência pode ser conhecida pelo juiz de ofício ou


alegada pela parte. No campo da invalidade, uma nulidade absoluta
pode ser decretada de ofício ou alegada pela parte; já a nulidade
relativa só pode ser alegada pela parte, pois a norma regula interesse
privado; da mesma forma, a anulabilidade só pode ser alegada ela
parte, por visar interesse privado.

Portanto, quando há uma proteção a um interesse público, é


possível conhecer a nulidade de ofício, já quando a proteção se dá no
interesse privado, não é possível que a falta seja conhecida de ofício.

Artigo 84: Quando a lei considerar obrigatória a


intervenção do Ministério Público, a parte

78
promover-lhe-á a intimação sob pena de
nulidade do processo.

Art. 246: É nulo o processo, quando o Ministério


Público não for intimado a acompanhar o feito
em que deva intervir.

Se o MP não for intimado para ingressar em um processo que


diz respeito a interesse de incapaz, por exemplo, haverá invalidade,
nulidade absoluta, pois a norma é cogente no interesse público. Mas,
com base na idéia de que não há nulidade sem que essa acarrete um
prejuízo, algumas hipóteses de nulidade absoluta passaram a ser
revistas pelos Tribunais Superiores (Princípio da Transcendência ou
do Prejuízo).

Com isso, se a falta de intervenção do MP no processo, por não


ter havido sua intimação, não acarretar prejuízo às partes, não há que
se decretar a nulidade, apesar de ela ser absoluta. Antes, esse
princípio era aplicado apenas às nulidades relativas, mas hoje ele se
aplica também às nulidades absolutas, se não houver prejuízo. Isso
porque existem casos em que a decretação da nulidade irá prejudicar
muito mais do que beneficiar aquele a quem poderia aproveitar,
segundo o STJ. O fator fundamental é, portanto, a falta de prejuízo.

Art. 249: O juiz, ao pronunciar a nulidade,


declarará que atos são atingidos, ordenando as
providências necessárias, a fim de que sejam
repetidos, ou retificados. .

§ 2º: Quando puder decidir do mérito a favor da


parte a quem aproveite a declaração da
nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará
repetir o ato, ou suprir-lhe a falta.

Prova da PGR (22º Concurso)

(E) Para a distinção entre as hipóteses de assistência simples,


assistência qualificada e litisconsórcio são irrelevantes os elementos
e as circunstâncias inerentes à relação de direito material litigiosa.

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Na assistência simples existem pelo menos duas relações jurídicas,
sendo que uma será afetada pelo resultado da principal; o assistente
qualificado é co-titular do direito litigioso; no litisconsórcio vão existir
várias relações jurídicas, sendo que os litisconsortes estarão litigando
em conjunto.

(E) Os pressupostos processuais e as condições da ação não


constituem óbices legítimos ao acesso à justiça pela via jurisdicional.

As condições da ação são condições para o legítimo exercício do


direito de ação.

(E) No rito sumário, a oposição somente poderá ser requerida até a


sentença.

No rito sumário não cabe intervenção de terceiros, salvo a


assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a intervenção fundada
em contrato de seguro.

(C) Tanto para os adeptos da Teoria da Individuação quanto para os


defensores da Substanciação, a causa de pedir revela o nexo
existente entre o direito material e o processo.

A causa de pedir representa os fatos, que ligam o direito material ao


processo.

(C) O assistente simples não está sujeito à coisa julgada, mas ao


efeito da intervenção.

Não há coisa julgada para o assistente simples, mas sim eficácia


preclusiva da intervenção.

(E) A prevenção, em Processo Civil, é sempre determinada segundo a


anterioridade da citação.

A prevenção é o critério de confirmação e manutenção da


competência. Se as demandas conexas tramitam perante juízos com
a mesma competência territorial, prevento será o que despachou em
primeiro lugar. Já no caso de a competência territorial ser diversa,
prevento será o juízo em que primeiro se deu a citação.

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(C) O rigor da correlação entre a sentença e causa de pedir incide
apenas sobre os fatos.

Na inicial devem ser apresentados os fatos e os fundamentos, mas a


correlação entre a causa de pedir e a sentença é extraída dos fatos.

(C) Somente o réu pode argüir a exceção de incompetência.

(E) O substituto processual e o representante defendem em juízo


interesse alheio e o fazem em nome próprio.

O substituto processual é aquele que defende em nome próprio


direito alheio, já o representante é aquele que confere capacidade
para estar em juízo, defendendo em nome alheio interesse alheio.

(C) O STJ entende que pode se antecipar tutela em qualquer tipo de


ação (declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental e
executiva lato sensu), desde que presentes seus requisitos.

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