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Filosofia das Artes e da Cultura, Docente: Senhor professor doutor José Arêdes
Junho de 2009
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Filosofia das Artes e da Cultura
Índice
1.Resumo
2. Introdução
3.Desenvolvimento
4. Síntese ou conclusão.
5. Referências bibliográficas
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1. Resumo
O que é a Arte Sacra? Ousamos perguntar para que serve ou a que se destina. Que
significados tem ou o que transmite? Com este trabalho pretendemos entender de que forma,
a Arte designada de Arte Sacra, tem valor ou sentido para os Cristãos que vivem a sua religião
de acordo com os princípios das sagradas escrituras ou dos evangelhos (Bíblia Cristã).
Pretendemos abordar também a Arte Sacra como mundo e alguns dos seus aspectos
identificar algumas das atitudes das massas populares que se identificam com ou alimentam
2. Introdução
contexto que o homem artista cria desde os tempos da pré-história a representação física de
Deus ou dos seus próprios deuses e a sua Arte Sacra para os servir e prestar culto. Temos hoje
inumeráveis obras de Arte Sacra provenientes das mais diversas épocas e culturas, bem como
concebidas de acordo com os mais diversos estilos artísticos e culturais. Mas como vêem os
cristãos esta relação ou atitude? Segundo a Palavra de Deus e as sagradas escrituras, como se
definem estas práticas de culto? A Arte Sacra cristã existe? Podemos chamar-lhe assim? E a
arte religiosa? Em que terreno se move? Estamos no ano de dois mil e nove e podemos dizer
coisas mudaram em relação ao século XVI e a partir das teorias de Martinho Lutero (1483-
1546) ou de Calvino (1533), entre muitos outros críticos e opositores a alguns dos costumes e
sistemas religiosos. Mas, perante inúmeras tradições e crenças que persistiram no tempo e
ainda se cultivam na nossa cultura e tempo presente, podemos dizer que existem raízes que
provêem do passado e que têm força e direcção para uma continuidade futura; crenças, gostos
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e tradições que ditas de base cristã seguem caminhos de incongruência e em nada cumprem
3. Desenvolvimento
«“A arte, diz Bacon, é o homem acrescentado à natureza”, isto é, qualquer procedimento -
fruto da liberdade e da razão humanas – utilizado em vista de uma produção que testemunhe
o saber-fazer do artesão ou, mais especialmente, do artista quando, neste último caso, as
esta noção de saber-fazer. O latim ars e o grego teknê estão na origem do termo moderno.
Essas palavras designavam todas as actividades resultantes de uma aptidão não inata, mas
adquirida por meio de uma aprendizagem apropriada em vista de uma ciência, técnica ou
profissão. (…) O sentido mais frequente relaciona-se com a estética e designa aquilo que
permitiam defini-la pelo seu esforço em produzir beleza, mas a sua evolução no decurso dos
últimos decénios, assim como as dificuldades encontradas quando se tratava de definir uma
beleza pura que pudesse valer para todas as culturas e todas as épocas, levaram os estetas
Se analisarmos o termo Sagrado verificamos que Sagrado; «Qualifica, por oposição a profano,
aquilo que se referencia à sua separação do mundo vulgar: nesta qualidade, o sagrado é
Roussel, 2000, p.340). Ainda em relação ao conceito Sagrado convém distinguir entre Arte
Religiosa e Arte Sacra. A diferença está fundada não tanto nos caracteres intrínsecos de ambos
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e na inspiração de cada uma, mas no destino da obra artística. Existem obras de arte de
profunda inspiração religiosa e que, não obstante isto, não são destinadas ao culto, e portanto,
não devem ser consideradas propriamente como sendo Arte Sacra. A Arte Sacra (de culto) é
aquela arte religiosa (de devoção) que tem um destino de liturgia, isto é, aquela que se ordena
a fomentar a vida litúrgica nos fiéis e que por isso não só deve conduzir a uma atitude religiosa
genérica, mas há-de ser apta a desencadear a atitude religiosa exigida pela Liturgia, quer dizer
para o culto divino. A Arte Sacra pode ser considerada uma «teologia em imagens». Por
exemplo, uma pintura a óleo pode provocar um sentimento religioso, mas pode não ser
adequado que se celebre o culto religioso perante ele. Porém, consideramos que não existe
imagem de culto é que Deus se faça presente e esta presença é impossível definir com
sentido tem este livro ou as «Sagradas Escrituras» para os Cristãos? O nome Bíblia foi usado
pela primeira vez por Crisóstomo no século IV. É derivado de «Biblos», uma palavra grega que
significa livros. Lemos «no rolo do Livro» em Salmos 40:7. :«Embora tivesse havido tantos
autores humanos, a unidade, simplicidade e singularidade da Bíblia indicam que houve uma só
mente atrás de todas, e era a divina. “Toda a Escritura é divinamente inspirada” (IITim. 3:16). É
como a construção dum grande prédio, em que muitos operários estão empregados. Cada um
sabe bem o seu ofício, porém todos dependem do plano do arquitecto» (John Men, 1977,
p.29).
nomes como ;“Jean Cauvin, dito Calvino (começou, a partir de 1533, uma vida de pregação a
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seguintes princípios: regresso à Bíblia como fonte primeira da fé; crença na predestinação e
concepção da graça de inspiração agostiniana. (Durozoi e Roussel, 2000, p.61). Outro nome
indulgências» nas suas «95 teses» que consagram a sua ruptura com o Vaticano (1517). O
única autoridade em matéria de fé; o homem só pode ser libertado do pecado original pela fé
e pela graça divina, o que provoca a salvação para um certo número e a condenação eterna
Martinho Lutero_ «O teu Deus é aquilo a que o teu coração se agarra e em que confia»
(Richard Osborn, 1997, p.71), tese que reforça a de Montaigne (1533-1592)- «O homem é
demente. Não é capaz de criar uma simples larva, mas cria deuses à dúzia» (Richard Osborn,
1997, p.73). Seguindo esses princípios cristãos de encontrar a verdadeira resposta na fonte
primeira e sagrada; «A Palavra de Deus nas Sagradas Escrituras», tentamos verificar de que
forma existe coerência entre as mesmas e a Arte Sacra. Desta forma verificamos a imperativa
esta última parte refere tanto a nível de Deus, como de anjos, demónios ou outras identidades
«Os Dez mandamentos»; «Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem
de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra,
nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o
Senhor, teu Deus, Deus zeloso que visita a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta
geração daqueles que me aborrecem. E faço misericórdia até mil gerações daqueles que me
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A Bíblia fala-nos precisamente desse desejo ou dessa necessidade que o homem tem do
«O bezerro de ouro»; «Mas, vendo o povo que Moisés tardava a descer do monte, acercou-se
de Arão e lhe disse: levanta-te, faz-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este
Moisés, o homem que nos tirou do Egipto, não sabemos o que lhe terá sucedido. Disse-lhes
Arão: tirai as argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e
trazei-mas. Então, todo o povo tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão. Este,
recebendo-as das suas mãos trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido».
Mas, encontramos também nela o que Deus pensa da criação da Arte Sacra ou da criação da
imagem de ídolos: De «Contraste entre o Senhor e os ídolos»; «Porque os costumes dos povos
são vaidade; pois cortam do bosque um madeiro, obra das mãos do artificie, com o machado;
com prata e ouro o enfeitam, com pregos e martelo o fixam, para que não oscile. Os ídolos são
como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve porquanto
não podem andar. Não tenhais receio deles pois não podem fazer mal e não está neles o fazer
o bem» (Jeremias 10: 3- 5). E nas Escrituras Sagradas Deus critica a atitude do homem que de
tal forma age, identifica-o como «estúpido», «ignorante» e «vaidoso» e refere as suas obras
como «mentira», «sem vida», «vaidade» e «obras ridículas» «sem utilidade» mas capazes de
«confundir os seus seguidores»; «Todo o homem se tornou estúpido e não tem saber; todo
ourives é envergonhado pela imagem que ele mesmo esculpiu; pois as suas imagens são
mentira, e nelas não há fôlego. Vaidade são, obra ridícula no tempo do seu castigo, virão a
perecer» (Jeremias 10: 15). «Todos os artificies de imagens de escultura são vaidade, e as suas
coisas mais desejáveis são de nenhum préstimo; e suas mesmas testemunhas nada veêm, nem
entendem, para que eles sejam confundidos. Quem forma um deus e funde uma imagem de
escultura, que não é de nenhum préstimo? Eis que todos os seus seguidores ficarão
confundidos pois os mesmos artificies são de entre os homens; ajunte-se todos e levantem-se;
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brasas, e o forma com martelos, e o lavra com a força do seu braço; ele tem fome, e a sua
força falta e não bebe água e desfalece. O carpinteiro estende a régua, emprega a almagra,
aplaina com o cepilho, e marca com o compasso; e faz o seu deus à semelhança de um
homem, segundo a forma de um homem, para ficar em casa. Tomou para si cedros ou toma
chuva o faz crescer. Então servirão ao homem para queimar» (Isaías 44:9-20). Nas Sagradas
Escrituras são descritas as fases de execução das imagens ou obras pelo homem e são
a imagem, e o ourives a cobre de ouro e cadeias de prata forja para ela. O sacerdote idólatra
escolhe madeira que não se corrompe e busca um artificie perito para assentar uma imagem
esculpida que não oscile» (Isaías 40:19-20). «Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos
de homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm
nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da
garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam» (Salmo
obras e da crença nelas. Encontramos nas escrituras um outro exemplo do culto de idolatria, a
de «Ídolos do lar; Mica e os ídolos da sua casa»: «Havia um homem da região montanhosa de
Efraim cujo nome era Mica, o qual disse à sua mãe: os 1100 ciclos de prata que te foram
tirados, por cuja causa deitavas maldições e de que também me falastes, eis que esse dinheiro
está comigo; eu o tomei. Então, lhe disse a mãe: bendito do Senhor seja meu filho! Assim,
restituiu os 1100 ciclos de prata à sua mãe, que disse: de minha mãe dedico este dinheiro ao
senhor para o meu filho para fazer uma imagem de escultura e uma de fundição, de sorte que,
agora, eu to devolvo. Porém ele restituiu o dinheiro à sua mãe, que tomou 200 ciclos de prata
e os deu ao ourives, o qual fez deles uma imagem de escultura e uma de fundição; e a imagem
esteve em casa de mica e, assim, este homem, Mica, veio a ter uma casa de deuses; fez uma
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estola sacerdotal e ídolos do lar e os consagrou a um dos seus filhos, para que lhe fosse por
sacerdote» (Juízes 17: 1-5 ). Esta passagem fala-nos do engano de por vezes o homem apesar
de ter «boas intenções» e se considerar no «caminho certo» em relação ao seu lado espiritual
não age em conformidade com «A Palavra Sagrada» e deixa-se confundir pelo dinheiro e pelo
bênçãos para quem cumpre a «Palavra Sagrada» e fala-nos também de maldições para quem
age em contrário (maldições que seguirão o homem até à sua quarta geração); De «As doze
Senhor, obra de artificies, e a puserem em lugar oculto» (Deuteronômio: 27-15). «E terás por
contaminados a prata que recobre as imagens esculpidas e o ouro que reveste as tuas imagens
de fundição; lançá-las-ás fora como coisa imunda e a cada uma dirás: fora daqui!» (Isaías 30:
às imagens de fundição dizem: vós sois nossos deuses». (Isaías 42: 17)
A Bíblia rejeita igualmente a criação de deuses semelhantes aos que observamos existirem em
diversas civilizações antigas como por exemplo na civilização egípcia. «Portanto, porquanto,
tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se
(Romanos 1:21-23). As escrituras fazem uma alusão constante à idolatria e aos efeitos nefastos
homem idólatra. «Castigo divino para com os egípcios. Por causa dos pensamentos estúpidos,
inspirados na sua maldade, que os extraviaram ao ponto de prestar culto a répteis irracionais e
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animais desprezíveis, enviaste-lhes, como castigo, uma multidão de animais irracionais, para
«Castigo progressivo dos egípcios. Por isso, também àqueles que loucamente viveram no mal,
os fizeste sofrer pelas suas próprias abominações, pois se extraviaram demasiado nos
caminhos do erro, tomando por deuses os mais vis e repugnantes animais, deixando-se
enganar como crianças sem raciocínio. Por isso, como a meninos sem razão, lhes deste um
castigo que os pôs a ridículo. Mas não se emendaram, sofrerão um castigo digno de Deus.
Irritados pelo sofrimento causado por esses animais, e vendo-se castigados por aqueles que
tomavam por deuses, reconheceram como Deus verdadeiro aquele que outrora recusavam
conhecer. Por isso, caiu sobre eles a condenação final » (Sabedoria 12: 23-27).
Dos livros Apócrifos (Livros que o Concílio de Trento, em 1546, declarou inspirados, embora
ídolos, inferiores aos astros_ O Sol, a Lua e as estrelas brilham e cumprem a função de ser
úteis. Também o relâmpago, tão belo ao faiscar, o vento que sopra em qualquer região, e as
nuvens, que recebem de eus a ordem de percorrer toda a terra, cumprem a missão que lhes
foi dada. Quando o fogo é enviado do céu para consumir as florestas das montanhas, faz o que
lhe foi ordenado. Os ídolos não se podem comparar, nem em beleza, nem em poder a estas
maravilhas. Eis porque não se deve crer nem dizer que são deuses, visto que não lhes é dado
fazer justiça nem conceder benefícios aos homens. Por isso, sabendo que não são deuses, não
tenhais medo deles. Eles não podem amaldiçoar nem abençoar os reis. Não podem mostrar no
céu sinais às nações, não brilham como o Sol, nem alumiam como a lua. Mais do que eles
valem os animais, porque, refugiando-se nos seus esconderijos, podem salvar-se a si mesmos.
Não há, portanto, qualquer prova que mostre que são deuses; por isso, não os temais. Como
um espantalho num meloal o não guarda, assim, do mesmo modo, esses deuses de madeira
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espinheiro num jardim, sobre o qual vêm poisar todas as aves, ou então, a um cadáver lançado
em lugar tenebroso. Pela púrpura e pelo linho que sobre eles se desfazem, reconhecereis que
não são deuses. Acabarão, afinal, por ser devorados e hão-de tornar-se o opróbrio do país.
Melhor é, então, a condição do homem honrado que não tem ídolos, pois assim estará sempre
isento de opróbrios» Baruc (6: 59-72). «Os ídolos são coisas vãs. Mas mais infelizes são aqueles
que puseram a sua esperança em coisas mortas, os que chamaram deuses à obra de mãos
humanas: ouro e prata trabalhados com arte, figuras de animais ou alguma pedra inútil, obra
de mão antiga. Imaginemos um carpinteiro: corta com uma serra um tronco fácil de trabalhar,
tira-lhe cuidadosamente toda a casca, trabalha-o habilmente e faz dele um utensílio para uso
comum. Com o que sobrou da sua obra, prepara a comida com que fica saciado. O último
desperdício que não serve para nada, um pau torto cheio de nós, ele toma-o e, nas horas de
lazer, trabalha-o, modela-o com arte para distrair-se e dá-lhe as feições de um homem, ou a
figura de um animal desprezível; depois cobre-o de vermelho, pinta-o de cor encarnada e faz
parede e fixa-o com um prego; toma precauções para que não caia, sabendo que ele não pode
valer-se a si mesmo, pois é uma estátua que precisa de ajuda. Não se envergonha de falar com
aquele objecto sem vida; mas, quando lhe reza pelos seus bens, pelo seu casamento e pelos
filhos, pede saúde a quem é fraco, pede vida a quem está morto; pede ajuda a quem não pode
socorrer, pede uma viagem feliz a quem nem sequer pode dar um passo; e, para os
investimentos, negócios e trabalhos, pede força a quem nem é capaz de mexer as mãos»
(Sabedoria 13: 10-19). «Há também quem, querendo navegar e atravessar as ondas
encrespadas, invoque a um madeiro mais frágil que o barco que o transporta. Foi, com efeito,
a ambição do lucro que o inventou e um artista que, com sabedoria, o fabricou. Mas é a tua
providência, ó Pai quem segura o leme, pois abriste um caminho até no mar, e uma rota
segura no meio das ondas, mostrando assim que podes salvar de todo o perigo, de tal modo
que, mesmo sem experiência, alguém pode embarcar. Tu não queres que as obras da tua
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sabedoria sejam inúteis. Por isso, os homens confiam as suas vidas a uma pequena barca, e,
orgulhosos, a esperança do mundo se refugiou numa barca que, pilotada pela tua mão, legou
ao mundo a semente de uma nova geração. Bendito seja, pois o madeiro pelo qual vem a
justiça! Mas maldito seja o ídolo, obra da mão humana, tanto ele como quem o fez: este
porque o fez, aquele porque, sendo corruptível, foi chamado de deus» (Sabedoria 14: 1-8).
«Não nos extraviaram as perversas invenções dos homens, nem as estéreis obras dos pintores,
figuras besuntadas de várias cores, cuja contemplação excita a paixão dos insensatos, que se
entusiasmam com a figura inanimada de uma imagem morta. Enamorados do mal e dignos de
tais esperanças assim são os que as fazem, as amam ou as adoram!» (Sabedoria 14: 4-6).
«Olhai o oleiro que amassa intensamente a terra mole e modela cada objecto para o
nosso uso. Da mesma argila, modela tanto os vasos para serviços limpos como os destinados
para usos contrários; mas é o oleiro quem determina qual deve ser o uso de cada um deles.
Depois _ esforço mal empregado_ modela um falso deus do mesmo barro, ele que pouco
antes saíra da terra e, pouco depois, voltará a essa terra, de onde foi tirado, quando tiver que
prestar contas da vida recebida. Mas não pensa que tem de morrer nem que a vida é breve;
antes, rivaliza com fabricantes de ouro e prata, imita os que trabalham o bronze e vangloria-se
de fabricar figuras falsas. É cinza o seu coração, mais vil que a terra é a sua esperança, a sua
vida é mais desprezível do que o barro, porque desconhece aquele que o formou, aquele que
lhe infundiu uma alma activa e lhe insuflou o espírito vital. Considera a nossa vida como um
divertimento e a existência como uma feira de negócios, pois _ diz ele _ é preciso tirar proveito
de tudo, até mesmo do mal. Mas, melhor que ninguém, ele bem sabe que peca, fazendo do
Nas Sagradas Escritura são inúmeras as referências a uma «arte maldita» e não a uma
«arte sacra». Para os Cristãos, a mensagem é clara, não há espaço para a representação
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material de Deus ou do espiritual e tão pouco do prestar-lhe culto. Nesta visão não há espaço
livro A Bíblia o qual, tal como já referimos anteriormente, foi escrito segundo as orientações
Em relação à estética da arte sacra; «A cultura grega não considerava que o mundo fosse
necessariamente todo belo. A sua mitologia contava as suas torpezas e erros, e para Platão a
realidade sensível era apenas uma imitação inábil da perfeição do mundo das ideias. Em
compensação, a arte via nos deuses o modelo da beleza suprema, perfeição a que aspirava a
metafísico, todo o universo é belo porque é obra divina; por isso, até o feio e o mal são
redimidos por esta beleza total; em compensação, a expressão humana da divindade, Jesus
Cristo, que sofreu por nós, é representado no momento da sua humilhação máxima. Desde os
primeiros séculos, os Padres da Igreja falam continuamente da beleza de todo o ser. Desde o
Génesis aprendiam que, no termo do sexto dia, Deus tinha visto que tudo o que tinha feito era
bom (1,31) e o livro da Sabedoria recordava que o mundo foi criado por Deus segundo
número, peso e medida, isto é, segundo critérios de perfeição matemática. Ao lado da tradição
bíblica, a filosofia clássica concorria para reforçar esta visão estética do universo. A beleza do
mundo como visão e reflexo da beleza ideal era um conceito de origem platónica» (Humberto
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Apocalipse de João Evangelista. Não era que faltassem alusões ao demónio e ao inferno no
Antigo Testamento e nos outros livros do Novo. Mas, nestes textos, o diabo é mais do que
nomeado através das acções que faz ou dos efeitos que produz (por exemplo a descrição dos
endemoninhados dos Evangelhos), excepto pela forma de serpente que assume no Génesis.
Nunca aparece com a evidência “somática” com que será representado na Idade Média; e os
eterno) serão citados de modo bastante genérico, mas nunca se oferecerá nenhuma imagem
«Quando a arte tem de considerar a paixão de Cristo, apercebe-se de que, como disse
Hegel na sua Estética, “não se pode figurar Cristo flagelado, coroado de espinhos, crucificado e
agonizante nas formas de beleza grega”. Contudo, esta aceitação da “fealdade” de Cristo não
foi imediata. É verdade que havia uma página de Isaías, em que se apresentava o Messias
como desfigurado pelo sofrimento e o tema fora retomado por alguns Padres da Igreja, mas
Agostinho tinha reabsorvido esta evidência escandalosa na sua visão pancalista, afirmando que
Jesus, quando pendia da cruz, parecia certamente disforme, mas que, através dessa
deformidade exterior, Jesus exprimia a beleza interior do seu sacrifício e da glória que nos
prometia. A arte paleocristã tinha-se limitado à imagem bastante idealizada do Bom Pastor. A
cruxificação não era considerada sujeito ou tema iconográfico aceitável e era evocada ao
máximo através do símbolo abstracto da cruz. Foi sugerido que resistência em figurar Cristo
dolorido também se deveria a controvérsias teológicas e à batalha contra hereges que queriam
afirmar a sua única natureza humana, negando a sua natureza divina. Foi somente nos séculos
celebra no seu sofrimento a humanidade de Cristo. Em A Lamentação por Cristo morto pintada
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por Giotto para a capela dos Scrovegni, em Pádua, todas as personagens da cena choram
(mesmo os anjos) e sugerem ao fiel sentimentos de compaixão por alguém com quem deve
corpo divino atormentado pelos sofrimentos irá até aos limites da complacência e da
ambiguidade, como acontece com o Cristo mais sangrento, sanguinolento, d’A Paixão
cinematográfica de Mel Gibson» (Humberto Eco, 2007, p.49). «Mas Hegel também tinha
recordado que, com o cristianismo, o feio aparece em forma polémica na representação nos
precursores de Cristo» (Humberto Eco, 2007, p.49). Pretendemos através das referências feitas
épocas e em diferentes estilos artísticos. Como que num jogo de estética em que Deus surge
culturais numa «religiosidade política e económica» que cede a diversos interesses e marca o
conhecimento e sensibilidade humana. Mas esse percurso do belo (e porque não dizer
também do feio) e dos seus valores e significados ou da sua estética não só existem nesta arte
dita de Sacra mas também na representação de todas as divindades e deuses que o homem
A respeito da «Fealdade das divinas pagãs», «Eis quais são os ensinamentos dos vossos
deuses que se prostituem juntamente convosco! (…) Aliás, quais são também as outras vossas
imagens?! Certas estatuetas de Pã, certas figurinhas femininas nuas e sátiros embriagados e
intumescências fálicas, pintados sem nenhum véu e que não têm vergonha da sua própria
incontinência! Doravante, quando vedes pintadas e em público a vossa libertinagem, vós não
sentis nenhuma vergonha; mas, antes, conservai-las e dependurai-las no alto, como fazeis com
as imagens dos vossos deuses, e nas vossas casas veneradas como sagradas as que, pelo
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(Clemente de Alexandria, Protéptrico 61, citado por Humberto Eco, 2007, p.40).
De forma breve, deixo-vos aqui algumas referências a usos da arte sacra pelas massas ditas
do culto de pequenas imagens que se repetem nos mais variados objectos de suporte, vemos a
tendência actual da prática de tatuar o corpo com imagens cheias de uma carga simbólica
tanto a nível da «espiritualidade cristã» como da espiritualidade das mais diversas religiões e
«simbologias satânicas»; há uma tendência natural para a designada cultura kitsch e para a
exploração intensificada dos seus objectos de culto. Podemos também mencionar «a arte
sacra de elite» e que podemos encontrar em museus mas também a arte sacra das feiras de
rua e das feiras de velharias. Ouvimos falar de assaltos a igrejas e cemitérios… assaltos a casas
centenárias e à procura intensa desse mercado de arte. A Arte Sacra surge intensamente numa
«cultura popular» e numa «cultura erudita» tal como numa «cultura cristã» e em todas elas
mostra o seu poder face ao homem e à sua fragilidade. A Arte Sacra no seu mundo e no seu
todo e face «aos significados da espiritualidade que carrega» consegue expressar e mostrar de
forma poderosa a fragilidade do homem e a necessidade que este tem «de Deus» ou do
deixa de ser.
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também dessa cultura consumista que segue «os modismos tradicionais» e cultiva gostos
também um fenómeno social. Sempre aconteceu que os membros das classes “altas” julgarem
desagradáveis ou ridículos os gostos das classes “baixas”. Poder-se-ia com certeza dizer que,
elegância sempre esteve associada ao uso de tecidos, cores e pedras preciosas caríssimos.
Mas, frequentemente, a discriminante não foi económica mas sim social; é experiência
habitual realçar a grosseria do novo-rico que, para ostentar a sua riqueza, ultrapassa os limites
que a sensibilidade estética dominante atribui ao “bom gosto”. Aliás, é embaraçante definir a
económico, mas, sim, a fixada pelos artistas, pelas pessoas cultas, por quem é considerado
(pelo mundo literário, artístico ou académico ou pelo mercado da arte e da moda) perito de
“coisas belas”. Mas trata-se de um conceito muito volátil. (…) Segundo alguns, a palavra kitsch
querendo comprar um quadro, mas gastando pouco, pediam um esquisso (sketch). Daí o
termo acabaria por indicar uma mercadoria vulgar para compradores desejosos de
para “apanhar lama na estrada”. Outra acepção do mesmo verbo seria “pintar móveis para
parecerem antigos”, enquanto também existe o verbo verkitschen para “vender barato”. Mas
quem considera kitsch pacotilha? A “alta” cultura define kitsch os anõezinhos de jardim, as
pequenas imagens de devoção, os falsos canais venezianos dos casinos de Las Vegas, o falso
grotesco do célebre Madonna Inn californiano, que pretende fornecer ao turista uma
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“degenerada” a arte contemporânea. Contudo, quem se compraz com o kitsch considera que
está a usufruir de uma experiência qualitativamente alta. Bastaria dizer que existe uma arte
para os incultos tal como também há uma arte para os cultos e que é necessário respeitar a
diferença entre estes dois “gostos”. Enquanto, porém os cultores de uma arte”culta” acham
kitsch o kitsch, os cultores do kitsch (excepto diante de obras realizadas justamente para
“espantar o burguês”) não acham desprezável a grande arte dos museus (que, aliás,
frequentemente, expõem obras que a sensibilidade culta julga kitsch).Além disso, consideram
as obras kitsch “semelhantes” às da grande arte. De facto, se uma das definições do kitsch o vê
como algo que visa provocar um efeito passional em vez de permitir uma contemplação
desinteressada, a outra considera kitsch a prática artística que, para nobilitar-se e nobilitar o
comprador, imita e cita a arte dos museus» (Humberto Eco, 2007, p.394).
«Clement Greenberg afirmou que, enquanto a vanguarda (entendendo-a em geral como a arte
na sua função de descoberta e invenção) imita o acto do imitar, o kitsch imita o efeito da
imitação; a vanguarda, ao fazer arte, põe em evidência os processos que levam à obra e
escolhe estes para objecto do seu próprio discurso, enquanto o kitsch realça as reacções que a
obra deve provocar e escolhe como fim da sua operação a reacção emotiva do fruidor» (Idem,
Ibidem). «(…) Isto poderia simplesmente confirmar que o feio de ontem se torna o belo de
hoje, como sempre aconteceu com a recuperação que a alta cultura fez com produtos da arte
popular_ e até com produtos da cultura de massa, como a banda desenhada que, produzidos
com fins de entretenimento, são agora revisitados não só como achados nostálgicos, mas
como produtos de notável qualidade artística» (Humberto Eco, 2007, p.408). Estas referências
em muito nos ajudam a questionar porque a Arte Sacra surge em diversas dimensões e
contextos e a sua exploração gráfica ou visual dos seus cânones nos sugerem estilos, utilidades
e significados distintos… vejamos a reprodução de uma imagem; «Da Virgem» numa casa de
família em cima do móvel da sala ou num nicho resguardado, a mesma imagem num
antiquário, numa igreja ou uma outra reprodução dessa mesma figura numa t-shirt de um
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adolescente que a usa (de forma irreverente) para ir à discoteca com os amigos. Após tantas
ideias questionamo-nos… afinal, quando é que a Arte Sacra deixa de ser Arte Sacra? E quando
começa a sê-lo? Quem dita as regras? Quem pode justificar a sua existência ou a pertinência
4. Conclusão
Sentimos com este trabalho o risco… o risco da pergunta que emerge e abana tudo! Ruínas e
temporais! A pergunta que abana o que se julga que conhece mas que é ilusão e mentira ou
pelo menos tem outra face…E tantas vezes a razão caminha ao lado do cómico e do ridículo…e
o cómico ri-se da razão… e o ridículo torna-se imponente e ganha força! Aconteceu assim
construção da ciência. Segundo Ortega Y Gasset (2002), «Quando uma pergunta contém no
seu interior aquele gérmen que pode fazer ruir o mundo de certezas em que habitualmente
conduzimos a nossa vida, com que, inclusive, convivemos uma vida inteira, somos
rapidamente levados a imaginar duas situações possíveis: a do terror causado pelo abismo que
desencadeiam de imediato em contraposição a esse terror despertado pela fissura. Aquele que
deixa perpassar essa pergunta, aquele que, sem deliberação prévia, se abre à interrogação,
aquele que pressente a falha que existe (sempre) entre a míngua e o excesso de um olhar,
esse, apresenta-se como aquele que é capaz de efectivar isso a que chamamos filosofia »(p.9).
Com este trabalho quisemos mergulhar na Arte e escolhemos um caminho… o da «Arte Sacra»
relacionados. Questionámos o seu mundo e a sua cultura estética, todos os seus usos e
costumes que perduram durante séculos e criam raízes profundas na cultura humana. Mas
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Filosofia das Artes e da Cultura
da realidade que julgamos conhecer ou que aprendemos dessa forma. «A tradição afoga-nos
com uma avalanche de questões acumuladas, onde estão confundidas as substanciais com as
fictícias. Por isso urge proceder a uma investigação radical delas, ou seja, a um exame rigoroso
da sua raiz vital que permita eliminar todas as que não a possuem. Imperativo geral de
sobriedade »(Idem,p.157). Espero que as nossas palavras vos sejam úteis e vos façam
5. Referências Bibliográficas
Philip, Neil (1998). Comentar mitos e lendas. Londres: Livraria Civilização Editora.
Mein, John (1977).A Bíblia: e como chegou até nós. 4ª edição. Rio de Janeiro: Gráficas Próprias.
Osborne, Richard (1997). Filosofia para principiantes. Lisboa: ed. Editorial Presença.
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