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Filosofia das Artes e da Cultura

A Arte Sacra como questão, expressão e mundo.

Paula Maria Ferreira dos Santos Frade aluna nº803274

Universidade Aberta, Mestrado em Arte e Educação

Filosofia das Artes e da Cultura, Docente: Senhor professor doutor José Arêdes

Junho de 2009

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Filosofia das Artes e da Cultura

Índice

1.Resumo

2. Introdução

3.Desenvolvimento

A Arte Sacra como Questão

-O que é a arte sacra?

-Entre arte sacra e não arte sacra

A Arte Sacra como Expressão

-A ideia de belo e feio

- A arte sacra como expressão de cultura

A Arte Sacra como mundo

- O mundo na arte sacra (world on art) e O mundo da arte (artworld)

4. Síntese ou conclusão.

5. Referências bibliográficas

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1. Resumo

O que é a Arte Sacra? Ousamos perguntar para que serve ou a que se destina. Que

significados tem ou o que transmite? Com este trabalho pretendemos entender de que forma,

a Arte designada de Arte Sacra, tem valor ou sentido para os Cristãos que vivem a sua religião

de acordo com os princípios das sagradas escrituras ou dos evangelhos (Bíblia Cristã).

Pretendemos abordar também a Arte Sacra como mundo e alguns dos seus aspectos

referentes à artworld. Pretendemos perceber a Arte Sacra como expressão de cultura e

identificar algumas das atitudes das massas populares que se identificam com ou alimentam

do culto religioso de imagens.

2. Introdução

A necessidade do material, também existe na crença da existência de Deus e, é neste

contexto que o homem artista cria desde os tempos da pré-história a representação física de

Deus ou dos seus próprios deuses e a sua Arte Sacra para os servir e prestar culto. Temos hoje

inumeráveis obras de Arte Sacra provenientes das mais diversas épocas e culturas, bem como

concebidas de acordo com os mais diversos estilos artísticos e culturais. Mas como vêem os

cristãos esta relação ou atitude? Segundo a Palavra de Deus e as sagradas escrituras, como se

definem estas práticas de culto? A Arte Sacra cristã existe? Podemos chamar-lhe assim? E a

arte religiosa? Em que terreno se move? Estamos no ano de dois mil e nove e podemos dizer

que a nível da espiritualidade, da religião e da cultura ou tradição de cultos e crenças algumas

coisas mudaram em relação ao século XVI e a partir das teorias de Martinho Lutero (1483-

1546) ou de Calvino (1533), entre muitos outros críticos e opositores a alguns dos costumes e

sistemas religiosos. Mas, perante inúmeras tradições e crenças que persistiram no tempo e

ainda se cultivam na nossa cultura e tempo presente, podemos dizer que existem raízes que

provêem do passado e que têm força e direcção para uma continuidade futura; crenças, gostos

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e tradições que ditas de base cristã seguem caminhos de incongruência e em nada cumprem

os princípios e as teorias ou «palavras sagradas» que as formaram.

3. Desenvolvimento

A Arte Sacra como Questão

-O que é a arte sacra?

«“A arte, diz Bacon, é o homem acrescentado à natureza”, isto é, qualquer procedimento -

fruto da liberdade e da razão humanas – utilizado em vista de uma produção que testemunhe

o saber-fazer do artesão ou, mais especialmente, do artista quando, neste último caso, as

técnicas utilizadas visam satisfazer o sentimento estético ou artístico. A etimologia confirma

esta noção de saber-fazer. O latim ars e o grego teknê estão na origem do termo moderno.

Essas palavras designavam todas as actividades resultantes de uma aptidão não inata, mas

adquirida por meio de uma aprendizagem apropriada em vista de uma ciência, técnica ou

profissão. (…) O sentido mais frequente relaciona-se com a estética e designa aquilo que

outrora se denominava as “ belas-artes”; as formas clássicas da arte assim entendida

permitiam defini-la pelo seu esforço em produzir beleza, mas a sua evolução no decurso dos

últimos decénios, assim como as dificuldades encontradas quando se tratava de definir uma

beleza pura que pudesse valer para todas as culturas e todas as épocas, levaram os estetas

contemporâneos a renunciar a qualquer alusão ao belo». (Durozoi e Roussel, 2000, p.36).

Se analisarmos o termo Sagrado verificamos que Sagrado; «Qualifica, por oposição a profano,

aquilo que se referencia à sua separação do mundo vulgar: nesta qualidade, o sagrado é

objecto tanto de fascínio como de repulsa. No vocabulário especificamente religioso, refere-se

ao culto e participa do divino, por oposição à ordem simplesmente humana». (Durozoi e

Roussel, 2000, p.340). Ainda em relação ao conceito Sagrado convém distinguir entre Arte

Religiosa e Arte Sacra. A diferença está fundada não tanto nos caracteres intrínsecos de ambos

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e na inspiração de cada uma, mas no destino da obra artística. Existem obras de arte de

profunda inspiração religiosa e que, não obstante isto, não são destinadas ao culto, e portanto,

não devem ser consideradas propriamente como sendo Arte Sacra. A Arte Sacra (de culto) é

aquela arte religiosa (de devoção) que tem um destino de liturgia, isto é, aquela que se ordena

a fomentar a vida litúrgica nos fiéis e que por isso não só deve conduzir a uma atitude religiosa

genérica, mas há-de ser apta a desencadear a atitude religiosa exigida pela Liturgia, quer dizer

para o culto divino. A Arte Sacra pode ser considerada uma «teologia em imagens». Por

exemplo, uma pintura a óleo pode provocar um sentimento religioso, mas pode não ser

adequado que se celebre o culto religioso perante ele. Porém, consideramos que não existe

uma arte puramente sacra ou puramente religiosa, de culto ou de devoção. O sentido da

imagem de culto é que Deus se faça presente e esta presença é impossível definir com

exactidão como veremos mais adiante ao referirmos a influência da estética e de diferentes

períodos da «História de Arte» na representação da figura ou imagem de Cristo cruxificado.

-Entre arte sacra e não arte sacra

Na definição ou procura do sentido deste conceito, debruçamo-nos na «Bíblia Sagrada». Que

sentido tem este livro ou as «Sagradas Escrituras» para os Cristãos? O nome Bíblia foi usado

pela primeira vez por Crisóstomo no século IV. É derivado de «Biblos», uma palavra grega que

significa livros. Lemos «no rolo do Livro» em Salmos 40:7. :«Embora tivesse havido tantos

autores humanos, a unidade, simplicidade e singularidade da Bíblia indicam que houve uma só

mente atrás de todas, e era a divina. “Toda a Escritura é divinamente inspirada” (IITim. 3:16). É

como a construção dum grande prédio, em que muitos operários estão empregados. Cada um

sabe bem o seu ofício, porém todos dependem do plano do arquitecto» (John Men, 1977,

p.29).

Na história da igreja e das grandes reformas da igreja católica destacamos alguns

nomes como ;“Jean Cauvin, dito Calvino (começou, a partir de 1533, uma vida de pregação a

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favor da Religião reformada). A doutrina religiosa de Calvino assenta fundamentalmente nos

seguintes princípios: regresso à Bíblia como fonte primeira da fé; crença na predestinação e

concepção da graça de inspiração agostiniana. (Durozoi e Roussel, 2000, p.61). Outro nome

igualmente valioso é o de Martinho Lutero (1483-1546); monge alemão e reformador religioso

que denuncia os abusos da autoridade eclesiástica e ergue-se contra a «venda das

indulgências» nas suas «95 teses» que consagram a sua ruptura com o Vaticano (1517). O

pensamento teológico de Lutero assenta, no essencial, nas seguintes afirmações: a Bíblia é a

única autoridade em matéria de fé; o homem só pode ser libertado do pecado original pela fé

e pela graça divina, o que provoca a salvação para um certo número e a condenação eterna

para os outros (…). (Durozoi e Roussel, 2000, p.242).

Martinho Lutero_ «O teu Deus é aquilo a que o teu coração se agarra e em que confia»

(Richard Osborn, 1997, p.71), tese que reforça a de Montaigne (1533-1592)- «O homem é

demente. Não é capaz de criar uma simples larva, mas cria deuses à dúzia» (Richard Osborn,

1997, p.73). Seguindo esses princípios cristãos de encontrar a verdadeira resposta na fonte

primeira e sagrada; «A Palavra de Deus nas Sagradas Escrituras», tentamos verificar de que

forma existe coerência entre as mesmas e a Arte Sacra. Desta forma verificamos a imperativa

ordem de monoteísmo e a proibição da representação material ou figurativa do «espiritual» (e

esta última parte refere tanto a nível de Deus, como de anjos, demónios ou outras identidades

espirituais) e da proibição à atitude de lhes prestar culto (ou homenagem ou sacrifícios) … De

«Os Dez mandamentos»; «Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem

de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra,

nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o

Senhor, teu Deus, Deus zeloso que visita a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta

geração daqueles que me aborrecem. E faço misericórdia até mil gerações daqueles que me

amam e guardam os meus mandamentos». (Êxodo 20:3-6)

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A Bíblia fala-nos precisamente desse desejo ou dessa necessidade que o homem tem do

material e do transformar o espiritual em físico ou imagens de culto. Fala-nos por exemplo de

«O bezerro de ouro»; «Mas, vendo o povo que Moisés tardava a descer do monte, acercou-se

de Arão e lhe disse: levanta-te, faz-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este

Moisés, o homem que nos tirou do Egipto, não sabemos o que lhe terá sucedido. Disse-lhes

Arão: tirai as argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e

trazei-mas. Então, todo o povo tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão. Este,

recebendo-as das suas mãos trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido».

(Êxodo 32: 1-4)

Mas, encontramos também nela o que Deus pensa da criação da Arte Sacra ou da criação da

imagem de ídolos: De «Contraste entre o Senhor e os ídolos»; «Porque os costumes dos povos

são vaidade; pois cortam do bosque um madeiro, obra das mãos do artificie, com o machado;

com prata e ouro o enfeitam, com pregos e martelo o fixam, para que não oscile. Os ídolos são

como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve porquanto

não podem andar. Não tenhais receio deles pois não podem fazer mal e não está neles o fazer

o bem» (Jeremias 10: 3- 5). E nas Escrituras Sagradas Deus critica a atitude do homem que de

tal forma age, identifica-o como «estúpido», «ignorante» e «vaidoso» e refere as suas obras

como «mentira», «sem vida», «vaidade» e «obras ridículas» «sem utilidade» mas capazes de

«confundir os seus seguidores»; «Todo o homem se tornou estúpido e não tem saber; todo

ourives é envergonhado pela imagem que ele mesmo esculpiu; pois as suas imagens são

mentira, e nelas não há fôlego. Vaidade são, obra ridícula no tempo do seu castigo, virão a

perecer» (Jeremias 10: 15). «Todos os artificies de imagens de escultura são vaidade, e as suas

coisas mais desejáveis são de nenhum préstimo; e suas mesmas testemunhas nada veêm, nem

entendem, para que eles sejam confundidos. Quem forma um deus e funde uma imagem de

escultura, que não é de nenhum préstimo? Eis que todos os seus seguidores ficarão

confundidos pois os mesmos artificies são de entre os homens; ajunte-se todos e levantem-se;

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assombrar-se-ão e serão juntamente confundidos. O ferreiro faz o machado, e trabalha nas

brasas, e o forma com martelos, e o lavra com a força do seu braço; ele tem fome, e a sua

força falta e não bebe água e desfalece. O carpinteiro estende a régua, emprega a almagra,

aplaina com o cepilho, e marca com o compasso; e faz o seu deus à semelhança de um

homem, segundo a forma de um homem, para ficar em casa. Tomou para si cedros ou toma

um cipreste ou um carvalho, esforça-se contra as árvores do bosque; planta um olmeiro, e a

chuva o faz crescer. Então servirão ao homem para queimar» (Isaías 44:9-20). Nas Sagradas

Escrituras são descritas as fases de execução das imagens ou obras pelo homem e são

mencionados também alguns utensílios, materiais e técnicas de as elaborar: «O artificie funde

a imagem, e o ourives a cobre de ouro e cadeias de prata forja para ela. O sacerdote idólatra

escolhe madeira que não se corrompe e busca um artificie perito para assentar uma imagem

esculpida que não oscile» (Isaías 40:19-20). «Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos

de homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm

nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da

garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam» (Salmo

115:4-8). Nesta última referência verificamos o desagrado de Deus perante a realização de

obras e da crença nelas. Encontramos nas escrituras um outro exemplo do culto de idolatria, a

de «Ídolos do lar; Mica e os ídolos da sua casa»: «Havia um homem da região montanhosa de

Efraim cujo nome era Mica, o qual disse à sua mãe: os 1100 ciclos de prata que te foram

tirados, por cuja causa deitavas maldições e de que também me falastes, eis que esse dinheiro

está comigo; eu o tomei. Então, lhe disse a mãe: bendito do Senhor seja meu filho! Assim,

restituiu os 1100 ciclos de prata à sua mãe, que disse: de minha mãe dedico este dinheiro ao

senhor para o meu filho para fazer uma imagem de escultura e uma de fundição, de sorte que,

agora, eu to devolvo. Porém ele restituiu o dinheiro à sua mãe, que tomou 200 ciclos de prata

e os deu ao ourives, o qual fez deles uma imagem de escultura e uma de fundição; e a imagem

esteve em casa de mica e, assim, este homem, Mica, veio a ter uma casa de deuses; fez uma

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estola sacerdotal e ídolos do lar e os consagrou a um dos seus filhos, para que lhe fosse por

sacerdote» (Juízes 17: 1-5 ). Esta passagem fala-nos do engano de por vezes o homem apesar

de ter «boas intenções» e se considerar no «caminho certo» em relação ao seu lado espiritual

não age em conformidade com «A Palavra Sagrada» e deixa-se confundir pelo dinheiro e pelo

desejo material dele.

Em relação a estas atitudes e sentimentos anteriormente descritos, a Bíblia fala-nos de

bênçãos para quem cumpre a «Palavra Sagrada» e fala-nos também de maldições para quem

age em contrário (maldições que seguirão o homem até à sua quarta geração); De «As doze

maldições»: «Maldito o homem que fizer imagem de escultura ou de fundição, abominável ao

Senhor, obra de artificies, e a puserem em lugar oculto» (Deuteronômio: 27-15). «E terás por

contaminados a prata que recobre as imagens esculpidas e o ouro que reveste as tuas imagens

de fundição; lançá-las-ás fora como coisa imunda e a cada uma dirás: fora daqui!» (Isaías 30:

22). «Tornarão atrás e confundir-se-ão de vergonha os que confiam em imagens de escultura e

às imagens de fundição dizem: vós sois nossos deuses». (Isaías 42: 17)

A Bíblia rejeita igualmente a criação de deuses semelhantes aos que observamos existirem em

diversas civilizações antigas como por exemplo na civilização egípcia. «Portanto, porquanto,

tendo conhecimento de Deus, não O glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se

tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.

Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em

semelhança da imagem de homem corruptível. Bem como de aves, quadrúpedes e répteis»

(Romanos 1:21-23). As escrituras fazem uma alusão constante à idolatria e aos efeitos nefastos

(maldições) que provocam no homem. Também em relação à civilização egípcia temos a

descrição «Das dez pragas do Egipto» e por conseguinte da consequência da atitude do

homem idólatra. «Castigo divino para com os egípcios. Por causa dos pensamentos estúpidos,

inspirados na sua maldade, que os extraviaram ao ponto de prestar culto a répteis irracionais e

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animais desprezíveis, enviaste-lhes, como castigo, uma multidão de animais irracionais, para

que compreendessem que, conforme o pecado, assim é o castigo»(Sabedoria 11: 15-16).

«Castigo progressivo dos egípcios. Por isso, também àqueles que loucamente viveram no mal,

os fizeste sofrer pelas suas próprias abominações, pois se extraviaram demasiado nos

caminhos do erro, tomando por deuses os mais vis e repugnantes animais, deixando-se

enganar como crianças sem raciocínio. Por isso, como a meninos sem razão, lhes deste um

castigo que os pôs a ridículo. Mas não se emendaram, sofrerão um castigo digno de Deus.

Irritados pelo sofrimento causado por esses animais, e vendo-se castigados por aqueles que

tomavam por deuses, reconheceram como Deus verdadeiro aquele que outrora recusavam

conhecer. Por isso, caiu sobre eles a condenação final » (Sabedoria 12: 23-27).

Dos livros Apócrifos (Livros que o Concílio de Trento, em 1546, declarou inspirados, embora

não fizessem parte do Cânon do AT estabelecido pelos judeus da Palestina. Os católicos

chamam esses livros de «deuteronônicos», isto é, pertencentes ao «segundo cânon»): «Os

ídolos, inferiores aos astros_ O Sol, a Lua e as estrelas brilham e cumprem a função de ser

úteis. Também o relâmpago, tão belo ao faiscar, o vento que sopra em qualquer região, e as

nuvens, que recebem de eus a ordem de percorrer toda a terra, cumprem a missão que lhes

foi dada. Quando o fogo é enviado do céu para consumir as florestas das montanhas, faz o que

lhe foi ordenado. Os ídolos não se podem comparar, nem em beleza, nem em poder a estas

maravilhas. Eis porque não se deve crer nem dizer que são deuses, visto que não lhes é dado

fazer justiça nem conceder benefícios aos homens. Por isso, sabendo que não são deuses, não

tenhais medo deles. Eles não podem amaldiçoar nem abençoar os reis. Não podem mostrar no

céu sinais às nações, não brilham como o Sol, nem alumiam como a lua. Mais do que eles

valem os animais, porque, refugiando-se nos seus esconderijos, podem salvar-se a si mesmos.

Não há, portanto, qualquer prova que mostre que são deuses; por isso, não os temais. Como

um espantalho num meloal o não guarda, assim, do mesmo modo, esses deuses de madeira

dourada ou prateada. Esses deuses de madeira dourada e prateada assemelham-se a um

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espinheiro num jardim, sobre o qual vêm poisar todas as aves, ou então, a um cadáver lançado

em lugar tenebroso. Pela púrpura e pelo linho que sobre eles se desfazem, reconhecereis que

não são deuses. Acabarão, afinal, por ser devorados e hão-de tornar-se o opróbrio do país.

Melhor é, então, a condição do homem honrado que não tem ídolos, pois assim estará sempre

isento de opróbrios» Baruc (6: 59-72). «Os ídolos são coisas vãs. Mas mais infelizes são aqueles

que puseram a sua esperança em coisas mortas, os que chamaram deuses à obra de mãos

humanas: ouro e prata trabalhados com arte, figuras de animais ou alguma pedra inútil, obra

de mão antiga. Imaginemos um carpinteiro: corta com uma serra um tronco fácil de trabalhar,

tira-lhe cuidadosamente toda a casca, trabalha-o habilmente e faz dele um utensílio para uso

comum. Com o que sobrou da sua obra, prepara a comida com que fica saciado. O último

desperdício que não serve para nada, um pau torto cheio de nós, ele toma-o e, nas horas de

lazer, trabalha-o, modela-o com arte para distrair-se e dá-lhe as feições de um homem, ou a

figura de um animal desprezível; depois cobre-o de vermelho, pinta-o de cor encarnada e faz

desaparecer todos os seus defeitos. Enfim, prepara-lhe um nicho adequado, coloca-o na

parede e fixa-o com um prego; toma precauções para que não caia, sabendo que ele não pode

valer-se a si mesmo, pois é uma estátua que precisa de ajuda. Não se envergonha de falar com

aquele objecto sem vida; mas, quando lhe reza pelos seus bens, pelo seu casamento e pelos

filhos, pede saúde a quem é fraco, pede vida a quem está morto; pede ajuda a quem não pode

socorrer, pede uma viagem feliz a quem nem sequer pode dar um passo; e, para os

investimentos, negócios e trabalhos, pede força a quem nem é capaz de mexer as mãos»

(Sabedoria 13: 10-19). «Há também quem, querendo navegar e atravessar as ondas

encrespadas, invoque a um madeiro mais frágil que o barco que o transporta. Foi, com efeito,

a ambição do lucro que o inventou e um artista que, com sabedoria, o fabricou. Mas é a tua

providência, ó Pai quem segura o leme, pois abriste um caminho até no mar, e uma rota

segura no meio das ondas, mostrando assim que podes salvar de todo o perigo, de tal modo

que, mesmo sem experiência, alguém pode embarcar. Tu não queres que as obras da tua

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sabedoria sejam inúteis. Por isso, os homens confiam as suas vidas a uma pequena barca, e,

atravessando as ondas, salvam-se numa jangada. Já no princípio, quando pereciam os gigantes

orgulhosos, a esperança do mundo se refugiou numa barca que, pilotada pela tua mão, legou

ao mundo a semente de uma nova geração. Bendito seja, pois o madeiro pelo qual vem a

justiça! Mas maldito seja o ídolo, obra da mão humana, tanto ele como quem o fez: este

porque o fez, aquele porque, sendo corruptível, foi chamado de deus» (Sabedoria 14: 1-8).

«Não nos extraviaram as perversas invenções dos homens, nem as estéreis obras dos pintores,

figuras besuntadas de várias cores, cuja contemplação excita a paixão dos insensatos, que se

entusiasmam com a figura inanimada de uma imagem morta. Enamorados do mal e dignos de

tais esperanças assim são os que as fazem, as amam ou as adoram!» (Sabedoria 14: 4-6).

«Olhai o oleiro que amassa intensamente a terra mole e modela cada objecto para o

nosso uso. Da mesma argila, modela tanto os vasos para serviços limpos como os destinados

para usos contrários; mas é o oleiro quem determina qual deve ser o uso de cada um deles.

Depois _ esforço mal empregado_ modela um falso deus do mesmo barro, ele que pouco

antes saíra da terra e, pouco depois, voltará a essa terra, de onde foi tirado, quando tiver que

prestar contas da vida recebida. Mas não pensa que tem de morrer nem que a vida é breve;

antes, rivaliza com fabricantes de ouro e prata, imita os que trabalham o bronze e vangloria-se

de fabricar figuras falsas. É cinza o seu coração, mais vil que a terra é a sua esperança, a sua

vida é mais desprezível do que o barro, porque desconhece aquele que o formou, aquele que

lhe infundiu uma alma activa e lhe insuflou o espírito vital. Considera a nossa vida como um

divertimento e a existência como uma feira de negócios, pois _ diz ele _ é preciso tirar proveito

de tudo, até mesmo do mal. Mas, melhor que ninguém, ele bem sabe que peca, fazendo do

mesmo barro vasos frágeis e estátuas de ídolos» (Sabedoria 15: 7-13).

Nas Sagradas Escritura são inúmeras as referências a uma «arte maldita» e não a uma

«arte sacra». Para os Cristãos, a mensagem é clara, não há espaço para a representação

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material de Deus ou do espiritual e tão pouco do prestar-lhe culto. Nesta visão não há espaço

para as «religiosidades», a tradição ou os costumes dos povos porque o «cristão primitivo»

segue somente a «Palavra de Deus» ou as orientações divinas das Sagradas Escrituras ou do

livro A Bíblia o qual, tal como já referimos anteriormente, foi escrito segundo as orientações

de Deus (o Deus único).

A Arte Sacra como Expressão

-A ideia de belo (e feio)

Em relação à estética da arte sacra; «A cultura grega não considerava que o mundo fosse

necessariamente todo belo. A sua mitologia contava as suas torpezas e erros, e para Platão a

realidade sensível era apenas uma imitação inábil da perfeição do mundo das ideias. Em

compensação, a arte via nos deuses o modelo da beleza suprema, perfeição a que aspirava a

estatuária que representava os habitantes do Olimpo. Paradoxalmente, com o mundo cristão,

a relação inverte-se, pelo menos em certos aspectos: de um ponto de vista teológico-

metafísico, todo o universo é belo porque é obra divina; por isso, até o feio e o mal são

redimidos por esta beleza total; em compensação, a expressão humana da divindade, Jesus

Cristo, que sofreu por nós, é representado no momento da sua humilhação máxima. Desde os

primeiros séculos, os Padres da Igreja falam continuamente da beleza de todo o ser. Desde o

Génesis aprendiam que, no termo do sexto dia, Deus tinha visto que tudo o que tinha feito era

bom (1,31) e o livro da Sabedoria recordava que o mundo foi criado por Deus segundo

número, peso e medida, isto é, segundo critérios de perfeição matemática. Ao lado da tradição

bíblica, a filosofia clássica concorria para reforçar esta visão estética do universo. A beleza do

mundo como visão e reflexo da beleza ideal era um conceito de origem platónica» (Humberto

Eco, 2007, p.43).

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«O feio, subforma de terrificante e de diabólico, entra no mundo cristão com o

Apocalipse de João Evangelista. Não era que faltassem alusões ao demónio e ao inferno no

Antigo Testamento e nos outros livros do Novo. Mas, nestes textos, o diabo é mais do que

nomeado através das acções que faz ou dos efeitos que produz (por exemplo a descrição dos

endemoninhados dos Evangelhos), excepto pela forma de serpente que assume no Génesis.

Nunca aparece com a evidência “somática” com que será representado na Idade Média; e os

padecimentos que os pecadores sofriam no além-túmulo (choro e ranger de dentes, fogo

eterno) serão citados de modo bastante genérico, mas nunca se oferecerá nenhuma imagem

concreta e evidente» (Humberto Eco, 2007, p.73).

«Quando a arte tem de considerar a paixão de Cristo, apercebe-se de que, como disse

Hegel na sua Estética, “não se pode figurar Cristo flagelado, coroado de espinhos, crucificado e

agonizante nas formas de beleza grega”. Contudo, esta aceitação da “fealdade” de Cristo não

foi imediata. É verdade que havia uma página de Isaías, em que se apresentava o Messias

como desfigurado pelo sofrimento e o tema fora retomado por alguns Padres da Igreja, mas

Agostinho tinha reabsorvido esta evidência escandalosa na sua visão pancalista, afirmando que

Jesus, quando pendia da cruz, parecia certamente disforme, mas que, através dessa

deformidade exterior, Jesus exprimia a beleza interior do seu sacrifício e da glória que nos

prometia. A arte paleocristã tinha-se limitado à imagem bastante idealizada do Bom Pastor. A

cruxificação não era considerada sujeito ou tema iconográfico aceitável e era evocada ao

máximo através do símbolo abstracto da cruz. Foi sugerido que resistência em figurar Cristo

dolorido também se deveria a controvérsias teológicas e à batalha contra hereges que queriam

afirmar a sua única natureza humana, negando a sua natureza divina. Foi somente nos séculos

da Idade Média mais amadurecida que se reconheceu no homem da cruz um homem

verdadeiro, espancado, ensanguentado, desfigurado pelos padecimentos e que a

representação da cruxificação e das várias fases da paixão se torna dramaticamente realista e

celebra no seu sofrimento a humanidade de Cristo. Em A Lamentação por Cristo morto pintada

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por Giotto para a capela dos Scrovegni, em Pádua, todas as personagens da cena choram

(mesmo os anjos) e sugerem ao fiel sentimentos de compaixão por alguém com quem deve

identificar-se. Desse modo, a imagem de Cristo sofredor também passará à cultura

renascentista e barroca num crescendo de erótica da dor, onde a insistência no rosto e no

corpo divino atormentado pelos sofrimentos irá até aos limites da complacência e da

ambiguidade, como acontece com o Cristo mais sangrento, sanguinolento, d’A Paixão

cinematográfica de Mel Gibson» (Humberto Eco, 2007, p.49). «Mas Hegel também tinha

recordado que, com o cristianismo, o feio aparece em forma polémica na representação nos

precursores de Cristo» (Humberto Eco, 2007, p.49). Pretendemos através das referências feitas

mostrar de forma breve o paralelismo existente entre a representação da imagem de Cristo e

as tendências ou crenças estéticas que acompanharam e se desenvolveram nas diversas

épocas e em diferentes estilos artísticos. Como que num jogo de estética em que Deus surge

«animado» e «criado» segundo os «cânones da estética humana» e de valores efémeros e

culturais numa «religiosidade política e económica» que cede a diversos interesses e marca o

conhecimento e sensibilidade humana. Mas esse percurso do belo (e porque não dizer

também do feio) e dos seus valores e significados ou da sua estética não só existem nesta arte

dita de Sacra mas também na representação de todas as divindades e deuses que o homem

criou desde os tempos primitivos.

A respeito da «Fealdade das divinas pagãs», «Eis quais são os ensinamentos dos vossos

deuses que se prostituem juntamente convosco! (…) Aliás, quais são também as outras vossas

imagens?! Certas estatuetas de Pã, certas figurinhas femininas nuas e sátiros embriagados e

intumescências fálicas, pintados sem nenhum véu e que não têm vergonha da sua própria

incontinência! Doravante, quando vedes pintadas e em público a vossa libertinagem, vós não

sentis nenhuma vergonha; mas, antes, conservai-las e dependurai-las no alto, como fazeis com

as imagens dos vossos deuses, e nas vossas casas veneradas como sagradas as que, pelo

contrário, são estrelas de despudor e mandais, são estrelas de despudor e mandais

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representar indiferentemente as posições obscenas de Filénia e dos trabalhos de Hércules!»

(Clemente de Alexandria, Protéptrico 61, citado por Humberto Eco, 2007, p.40).

- A arte sacra como expressão de cultura

De forma breve, deixo-vos aqui algumas referências a usos da arte sacra pelas massas ditas

populares e da arte sacra cultivada em contextos de «modismos». Tendências, hábitos,

costumes e usos que se reflectem como expressão de cultura e ditam as tendências ou

características de gostos e conhecimentos comuns. Em Portugal temos o exemplo de Fátima e

do culto de pequenas imagens que se repetem nos mais variados objectos de suporte, vemos a

tendência actual da prática de tatuar o corpo com imagens cheias de uma carga simbólica

tanto a nível da «espiritualidade cristã» como da espiritualidade das mais diversas religiões e

«simbologias satânicas»; há uma tendência natural para a designada cultura kitsch e para a

exploração intensificada dos seus objectos de culto. Podemos também mencionar «a arte

sacra de elite» e que podemos encontrar em museus mas também a arte sacra das feiras de

rua e das feiras de velharias. Ouvimos falar de assaltos a igrejas e cemitérios… assaltos a casas

centenárias e à procura intensa desse mercado de arte. A Arte Sacra surge intensamente numa

«cultura popular» e numa «cultura erudita» tal como numa «cultura cristã» e em todas elas

mostra o seu poder face ao homem e à sua fragilidade. A Arte Sacra no seu mundo e no seu

todo e face «aos significados da espiritualidade que carrega» consegue expressar e mostrar de

forma poderosa a fragilidade do homem e a necessidade que este tem «de Deus» ou do

espiritual materializado. A Arte Sacra expressa o conhecimento do homem e o que ele é ou

deixa de ser.

A Arte Sacra como mundo

- O mundo na arte sacra (world on art) e O mundo da arte (artworld)

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Filosofia das Artes e da Cultura

No subtópico anterior ao referirmos o conceito kitsch e ao falarmos do consumo

massificado de pequenas imagens de culto, questionámo-nos acerca do «belo» e do «feio» e

também dessa cultura consumista que segue «os modismos tradicionais» e cultiva gostos

específicos e de acordo com o seu conhecimento, cultura e poder económico. «O feio é

também um fenómeno social. Sempre aconteceu que os membros das classes “altas” julgarem

desagradáveis ou ridículos os gostos das classes “baixas”. Poder-se-ia com certeza dizer que,

nestas discriminações, estiveram sempre em jogo os factores económicos, no sentido de que a

elegância sempre esteve associada ao uso de tecidos, cores e pedras preciosas caríssimos.

Mas, frequentemente, a discriminante não foi económica mas sim social; é experiência

habitual realçar a grosseria do novo-rico que, para ostentar a sua riqueza, ultrapassa os limites

que a sensibilidade estética dominante atribui ao “bom gosto”. Aliás, é embaraçante definir a

sensibilidade estética dominante: não é necessariamente a de quem detém o poder político e

económico, mas, sim, a fixada pelos artistas, pelas pessoas cultas, por quem é considerado

(pelo mundo literário, artístico ou académico ou pelo mercado da arte e da moda) perito de

“coisas belas”. Mas trata-se de um conceito muito volátil. (…) Segundo alguns, a palavra kitsch

remontaria à segunda metade do século XIX, quando os turistas americanos de Munique,

querendo comprar um quadro, mas gastando pouco, pediam um esquisso (sketch). Daí o

termo acabaria por indicar uma mercadoria vulgar para compradores desejosos de

experiências estéticas fáceis. Todavia, em dialecto meclemburguês já existia o verbo kitschn

para “apanhar lama na estrada”. Outra acepção do mesmo verbo seria “pintar móveis para

parecerem antigos”, enquanto também existe o verbo verkitschen para “vender barato”. Mas

quem considera kitsch pacotilha? A “alta” cultura define kitsch os anõezinhos de jardim, as

pequenas imagens de devoção, os falsos canais venezianos dos casinos de Las Vegas, o falso

grotesco do célebre Madonna Inn californiano, que pretende fornecer ao turista uma

experiência «estética» excepcional. E kitsch foi definida , irremediavelmente, a arte celebrativa

(que se queria popular)das ditaduras estaliniana ou mussoliniana que etiquetavam como

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“degenerada” a arte contemporânea. Contudo, quem se compraz com o kitsch considera que

está a usufruir de uma experiência qualitativamente alta. Bastaria dizer que existe uma arte

para os incultos tal como também há uma arte para os cultos e que é necessário respeitar a

diferença entre estes dois “gostos”. Enquanto, porém os cultores de uma arte”culta” acham

kitsch o kitsch, os cultores do kitsch (excepto diante de obras realizadas justamente para

“espantar o burguês”) não acham desprezável a grande arte dos museus (que, aliás,

frequentemente, expõem obras que a sensibilidade culta julga kitsch).Além disso, consideram

as obras kitsch “semelhantes” às da grande arte. De facto, se uma das definições do kitsch o vê

como algo que visa provocar um efeito passional em vez de permitir uma contemplação

desinteressada, a outra considera kitsch a prática artística que, para nobilitar-se e nobilitar o

comprador, imita e cita a arte dos museus» (Humberto Eco, 2007, p.394).

«Clement Greenberg afirmou que, enquanto a vanguarda (entendendo-a em geral como a arte

na sua função de descoberta e invenção) imita o acto do imitar, o kitsch imita o efeito da

imitação; a vanguarda, ao fazer arte, põe em evidência os processos que levam à obra e

escolhe estes para objecto do seu próprio discurso, enquanto o kitsch realça as reacções que a

obra deve provocar e escolhe como fim da sua operação a reacção emotiva do fruidor» (Idem,

Ibidem). «(…) Isto poderia simplesmente confirmar que o feio de ontem se torna o belo de

hoje, como sempre aconteceu com a recuperação que a alta cultura fez com produtos da arte

popular_ e até com produtos da cultura de massa, como a banda desenhada que, produzidos

com fins de entretenimento, são agora revisitados não só como achados nostálgicos, mas

como produtos de notável qualidade artística» (Humberto Eco, 2007, p.408). Estas referências

em muito nos ajudam a questionar porque a Arte Sacra surge em diversas dimensões e

contextos e a sua exploração gráfica ou visual dos seus cânones nos sugerem estilos, utilidades

e significados distintos… vejamos a reprodução de uma imagem; «Da Virgem» numa casa de

família em cima do móvel da sala ou num nicho resguardado, a mesma imagem num

antiquário, numa igreja ou uma outra reprodução dessa mesma figura numa t-shirt de um

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adolescente que a usa (de forma irreverente) para ir à discoteca com os amigos. Após tantas

ideias questionamo-nos… afinal, quando é que a Arte Sacra deixa de ser Arte Sacra? E quando

começa a sê-lo? Quem dita as regras? Quem pode justificar a sua existência ou a pertinência

da sua existência e do seu sentido? Talvez tenhamos de voltar de novo ao princípio… ou

reinventar um novo princípio…

4. Conclusão

Sentimos com este trabalho o risco… o risco da pergunta que emerge e abana tudo! Ruínas e

temporais! A pergunta que abana o que se julga que conhece mas que é ilusão e mentira ou

pelo menos tem outra face…E tantas vezes a razão caminha ao lado do cómico e do ridículo…e

o cómico ri-se da razão… e o ridículo torna-se imponente e ganha força! Aconteceu assim

muitas vezes ao longo da «história da humanidade» e da desconstrução de paradigmas e da

construção da ciência. Segundo Ortega Y Gasset (2002), «Quando uma pergunta contém no

seu interior aquele gérmen que pode fazer ruir o mundo de certezas em que habitualmente

conduzimos a nossa vida, com que, inclusive, convivemos uma vida inteira, somos

rapidamente levados a imaginar duas situações possíveis: a do terror causado pelo abismo que

se abre sob os nossos pés; a dos mecanismos de defesa ( ou de amortecimento…) que se

desencadeiam de imediato em contraposição a esse terror despertado pela fissura. Aquele que

deixa perpassar essa pergunta, aquele que, sem deliberação prévia, se abre à interrogação,

aquele que pressente a falha que existe (sempre) entre a míngua e o excesso de um olhar,

esse, apresenta-se como aquele que é capaz de efectivar isso a que chamamos filosofia »(p.9).

Com este trabalho quisemos mergulhar na Arte e escolhemos um caminho… o da «Arte Sacra»

e questionámos a tradição, o folclore, e os “cultos populares e massificados” a ela

relacionados. Questionámos o seu mundo e a sua cultura estética, todos os seus usos e

costumes que perduram durante séculos e criam raízes profundas na cultura humana. Mas

nem sempre a tradição revela-nos a verdade… e há que procurar o conhecimento ou o sentido

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da realidade que julgamos conhecer ou que aprendemos dessa forma. «A tradição afoga-nos

com uma avalanche de questões acumuladas, onde estão confundidas as substanciais com as

fictícias. Por isso urge proceder a uma investigação radical delas, ou seja, a um exame rigoroso

da sua raiz vital que permita eliminar todas as que não a possuem. Imperativo geral de

sobriedade »(Idem,p.157). Espero que as nossas palavras vos sejam úteis e vos façam

caminhar… nesse ou noutro sentido…

5. Referências Bibliográficas

Bíblia de Estudo de Genebra (2000). São Paulo: Editora Cultura Cristã.

Bíblia sagrada (2002). Lisboa/Fátima: ed. Difusora Bíblica.

Durozoi G. e Roussel A. (2000). Dicionário de Filosofia. Porto: ed. Porto Editora.

Eco, Humberto (2008). A Definição da Arte. Lisboa: Edições 70.

Eco, Humberto (2007). História do Feio. Miraflores: Editora Difel

Janson, H.W. (1992). História da Arte. 5ª edição. Lisboa:Fundação Calouste Gulbenkian.

Kaschel, Werner e Zimmer, Rudi (1994).Dicionário da Bíblia de Almeida. Tamboré: Sociedade

Bíblica do Brasil, 24.

Philip, Neil (1998). Comentar mitos e lendas. Londres: Livraria Civilização Editora.

Mein, John (1977).A Bíblia: e como chegou até nós. 4ª edição. Rio de Janeiro: Gráficas Próprias.

Osborne, Richard (1997). Filosofia para principiantes. Lisboa: ed. Editorial Presença.

Gasset, Ortega y (2002). O que é o conhecimento. Madrid: ed. Fim de Século.

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