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PARTE 1
1. ATMOSFERA
1.1 INTRODUÇÃO
A atmosfera terrestre consiste na fina camada gasosa, inodora, incolor e insípida, que
envolve o planeta devido à ação da força da gravidade terrestre e que se estende até
várias centenas de quilômetros de altitude. A atmosfera apresenta uma massa total
inferior a um milionésimo da massa do planeta e representa apenas cerca de 1% do
diâmetro da Terra. Não obstante, ela é responsável, por exemplo, pelas distribuições de
temperatura e de níveis de energia solar (radiação) à superfície. A cor azul do céu
também resulta da presença da atmosfera terrestre. Sem a presença de uma atmosfera
com a sua atual composição, não seria possível dispor de água no estado liquido. Desta
forma, uma atmosfera com a sua composição atual é crucial para garantir as condições
indispensáveis para a existência de vida no planeta.
1.2 COMPOSIÇÃO
A atmosfera terrestre é composta por uma mistura de gases, são eles:
Constituinte Fórmula %em volume Ppm
Nitrogênio N 78,08 780.800
2
Oxigênio O 20,95 209.500
2
Argônio Ar 0,93 9300
Dióxido de carbono CO 0,0358 358*
2
Neônio Ne 0,0018 18
Helio He 0,00052 5,2
Metano CH 0,00017 1,7
4
Criptônio Kr 0,00011 1,1
Hidrogênio H 0,00005 0,5
2
Oxido nitroso NO 0,00003 0,3
2
Ozônio O
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Exemplos: Para ajudar a compreender as grandezas:
Imagina-se que a massa do planeta é 1 (1 000 kg = 1 000 000 g). Neste caso, a
massa total da atmosfera seria inferior a 1g;
Imagina-se que o diâmetro da Terra é 1 m (100 cm). Neste caso, a dimensão da
atmosfera seria de apenas 1 cm.
Existem ainda diversos outros gases, em quantidade muito reduzida, motivo pelo qual
se designam componentes minoritários. Pelo fato de pequenas alterações na sua
concentração se traduzirem em poluição do ar, destaca-se o dióxido de carbono (CO2), o
metano (CH4), óxido nitroso (N2O), ozônio (O3), as partículas e os clorofluorcarbonetos
(CFCs). As concentrações destes componentes variam substancialmente de local para
local. A composição média da atmosfera, considerando ar seco, junto à superfície é
verificada na tabela 1.
Exemplos: Para ajudar a compreender as grandezas:
Afirmar que a concentração de dióxido de carbono é 360 ppm significa que em cada
metro cúbico (m3) de ar (representado pelo cubo abaixo) existem 360 cm3 de CO2
(representado pelo cubo vermelho na figura abaixo).
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Figura 2 – Distribuição de massa na atmosfera terrestre e variação de densidade do ar e
da pressão com a altitude (1mb = 1 hPa = 100 N.m-2; N.m-2 = PA). (Adaptado de
Meteorology Today).
O inicio dos vôos de balões e aviões permitiram efetuar medições diretas das
propriedades médias da atmosfera terrestre. Estas medições evidenciaram que nos
primeiros 12 km da atmosfera, a pressão decresce muito rapidamente (exponencial) com
a altitude enquanto que a temperatura decresce de forma linear, a uma taxa de
aproximadamente 6.5°C por km, conforme a Figura 3.
A pressão (p) mede o peso (P) por unidade de área (A) da coluna de ar acima do ponto
de medição:
P
p= (1)
A
Por sua vez, o peso da coluna de ar resulta do produto da massa dessa coluna de ar (m)
pela aceleração da gravidade (g ≅ 9.8 ms-2):
P = m⋅ g (2)
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Figura 3 – Estrutura térmica da atmosfera (Adaptado de Meteorology Today).
Desta maneira, é fácil concluir que, se as medições evidenciam um decréscimo
exponencial da pressão com a altitude, a maior parte da massa atmosférica nas camadas
inferiores da atmosfera.
Próximo a superfície, ao nível do mar, a pressão é aproximadamente 760 mm Hg ≈
101325 Pa ou 1013,25 hPa. Nos primeiros 20 km da atmosfera encontra-se 90% da
massa total, enquanto que abaixo dos 50 km se encontra cerca de 99.9%
1.2.1 Camadas
1. Troposfera (0-12 km) – Camada atmosférica imediatamente acima da superfície.
Caracteriza-se pelo decréscimo da temperatura com a altitude designa-se por gradiente
térmica e assume valores médio de 6 a 7°C/km na metade inferior da Troposfera e 7 a
8°C na metade superior. É freqüente acorrerem zonas onde a temperatura aumenta com
a altitude, denominadas inversão térmica.
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A maior parte dos fenômenos meteorológicos (chuva, trovoadas, tornados, etc.) ocorrem
nesta Camada. Não obstante se a camada atmosférica mais fina é nela que se
concentram cerca de 80% da massa total da atmosfera e praticamente a totalidade do
vapor de água.
2. Estratosfera (12-50 km) – Camada imediatamente acima da Troposfera e que se
prolonga até cerca de 55 km de altitude. No limite inferior desta camada,
aproximadamente 20 km de altitude, as temperaturas matem-se praticamente constante,
esta camada isotérmica designa-se Tropopausa. A altitude que se inicia a Tropopausa
varia com a altitude, desde a Tropopausa Polar, aproximadamente 8 km, até a
Tropopausa Tropical em aproximadamente 18 km. Acima da Tropopausa, a temperatura
aumenta até que no limite superior da Estratosfera, se atingem valores próximos dos
verificados à superfície. Este aumento da temperatura deve-se à existência do ozônio
(O3) que absorve a radiação ultravioleta (UV) provenientes do Sol, esta radiação é muito
energética e, como a este nível a atmosfera já apresenta uma densidade reduzida, a
energia absorvida é transferida para um diminuto número de moléculas que aderem
elevada energia cinética promovendo o aumento da temperatura do ar.
Esta energia calorífica é transferida para baixo através de movimentos verticais
descendentes (subsidência) e radiação. Desta forma, a Estratosfera é aquecida a partir
dos seus níveis superiores, ao passo que a Troposfera é essencialmente aquecida pela
superfície terrestre.
A Troposfera e a Estratosfera apresentam condições meteorológicas muito diferentes,
devido ao fato de a Troposfera se aquecida a partir dos seus níveis inferiores, os
movimentos verticais ascendentes (convecção) encontram-se favorecidos; pelo
contrario, na Estratosfera este movimento são aplicados inexistentes e ela é
praticamente isenta de nuvens.
Observação: Os conceitos de Temperatura e Calor são vulgarmente confundidos.
Fisicamente a Temperatura é uma variável de estado de um sistema e Calor corresponde
a uma particular de transferência de energia entre dois sistemas.
O valor da Temperatura de uma determinada substância é função da Energia Cinética
média dos átomos e moléculas que a forma.
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Figura 4 – Esquema da convecção.
3. Mesosfera (50-80 km) – Acerca de 50 km de altitude a temperatura deixa de
aumentar. Este nível designa-se por Estratopausa e marca o limite inferior da Mesosfera
onde a temperatura decresce com a altura. A cerca dos 80 km de altitude a temperatura
decresce com a altura. A cerca dos 80 km de altitude a temperatura atinge um valor
mínimo de aproximadamente -95°C. A Mesopausa marca o fim da Homosfera, onde a
temperatura é mais baixa em relação a qualquer outro nível da atmosfera.
4. Termosfera (acima dos 80 km) – Por volta dos 80 km de altitude, a temperatura
estabiliza – Mesopausa é que marca o fim da Homosfera e inicio da Heteroesfera. Na
camada acima da Mesopausa, a Termosfera, verifica-se novo aumento da temperatura
com a altitude. Em um período de atividade solar reduzido, esta camada estende-se até
aos 400 km, podendo atingir os 500 km de altitude.
A composição da atmosfera altera-se significativamente e passam a abundar as espécies
atômicas, resultantes da fotodissociação das moléculas por ação dos raios X e UV.
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Figura 5 – As quatro camadas da atmosfera.
A figura 5 representa às quatro camadas da atmosfera, assim como, a altitude de
influência de cada camada.
Acima da Termosfera vem a Exosfera, onde a densidade é muito reduzida; as colisões
entre partículas neutras são extremamente raras e o percurso livre médio torna-se tão
grande que estas podem escapar-se à atração gravitacional terrestre.
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Conforme se pode observar na figura 6, o perfil vertical de temperatura da atmosfera
apresenta 3 máximos relativos da temperatura, resultantes da existência de 3 zonas de
absorção preferencial da radiação solar, são:
a superfície terrestre onde é absorvida grande parte da radiação solar incidente;
a Termosfera, onde é absorvida a radiação de muito baixo comprimento de onda
(UV longínquo, radiação X e γ) e;
a camada de ozônio onde é absorvida a radiação UV, com um máximo na
Estratopausa.
A Ionosfera não é propriamente uma camada atmosférica mais sim uma região da alta
atmosfera onde a existência de iões e elétrons livres lhe conferem propriedades
elétricas. Os átomos perdem elétrons e adquirem carga positiva (catiões) quando não
conseguem absorver a totalidade de energia de uma partícula que com eles colida ou da
energia solar. O limite inferior da Inosfera situa-se a cerca de 60 km da superfície
terrestre e o superior coincide com o topo da atmosfera.
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2. OCEANOS
2.1 INTRODUÇÃO
Um oceano (de Ωκεανός, "Okeanos" em grego) é um corpo principal da água salina, e
um componente principal da hidrosfera. Aproximadamente 71% da superfície de Terra
(uma área de uns 361 milhões de quilômetros quadrados) é coberta pelo oceano, um
corpo de água contínuo que geralmente é dividido em diversos oceanos principais e
mares menores. Mais do que a metade desta área está sob mais 3.000 metros (9.800 pés)
de profundidade.
Quase três quartos (71%) da superfície da Terra é coberta pelo oceano (Cerca de 61%
do Hemisfério Norte e de 81% do Hemisfério Sul). Este oceano global interconectado
de água salgada é dividido pelos continentes e grandes arquipélagos em cinco oceanos,
como segue:
Oceano Pacífico
Oceano Atlântico
Oceano Índico
Oceano Glacial Ártico
Oceano Glacial Antártico
2.2.1 Marés
Num campo gravitacional terrestre ideal, ou seja, sem interferências, as águas à
superfície da Terra sofreriam uma aceleração idêntica na direção do centro de massa
terrestre, encontrando-se assim numa situação isopotencial. Mas devido à existência de
corpos com campos gravitacionais significativos a interferirem com o da Terra (Lua e
Sol), estes provocam acelerações que atuam na massa terrestre com intensidades
diferentes. Como os campos gravitacionais atuam com uma intensidade inversamente
proporcional ao quadrado da distância, as acelerações sentidas nos diversos pontos da
Terra não são as mesmas. Assim a aceleração provocada pela Lua tem intensidades
significativamente diferentes entre os pontos mais próximos e mais afastados da Lua.
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Desta forma as massas oceânicas que estão mais próximas da Lua sofrem uma
aceleração de intensidade significativamente superior às massas oceânicas mais
afastadas da Lua. É este diferencial que provoca as alterações da altura das massas de
água à superfície da Terra.
Quando a maré está em seu ápice chama-se maré alta, maré cheia ou preamar; quando
está no seu menor nível chama-se maré baixa ou baixa-mar. Em média, as marés
oscilam em um período de 12 horas e 24 minutos. Doze horas devido à rotação da Terra
e 24 minutos devido à órbita lunar.
A altura das marés alta e baixa (relativa ao nível do mar médio) também varia. Na lua
nova e cheia, as forças gravitacionais do Sol estão na mesma direção das da Lua,
produzindo marés mais altas, chamadas marés de sizígia. Na lua minguante e crescente
as forças gravitacionais do Sol estão em direções diferentes das da Lua, anulando parte
delas, produzindo marés mais baixas chamadas marés de quadratura.
1.2.2 Ondas
Em física, uma onda é uma perturbação oscilante de alguma grandeza física no espaço e
periódica no tempo. A oscilação espacial é caracterizada pelo comprimento de onda e a
periodicidade no tempo é medida pela freqüência da onda, que é o inverso do seu
período. Estas duas grandezas estão relacionadas pela velocidade de propagação da
onda.
Fisicamente, uma onda é um pulso energético que se propaga através do espaço ou
através de um meio (líquido, sólido ou gasoso). Segundo alguns estudiosos e até agora
observado, nada impede que uma onda magnética se propague no vácuo ou através da
matéria, como é o caso das ondas eletromagnéticas no vácuo ou dos neutrinos através da
matéria, onde as partículas do meio oscilam à volta de um ponto médio, mas não se
deslocam. Exceto pela radiação eletromagnética, e provavelmente as ondas
gravitacionais, que podem se propagar através do vácuo, as ondas existem em um meio
cuja deformação é capaz de produzir forças de restauração através das quais elas viajam
e podem transferir energia de um lugar para outro sem que qualquer das partículas do
meio seja deslocada; isto é, a onda não transporta matéria. Há, entretanto, oscilações
sempre associadas ao meio de propagação.
Uma onda pode ser longitudinal quando a oscilação ocorre na direção da propagação, ou
transversal quando a oscilação ocorre na direção perpendicular à direção de propagação
da onda.
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Exemplos de onda oceânica:
As ondas oceânicas de superfície são ondas de superfície que ocorrem nos oceanos. São
provocadas pelo vento que cria forças de pressão e fricção que perturbam o equilíbrio da
superfície dos oceanos. O vento transfere parte da sua energia para a água através da
fricção entre o vento e a água. Isso faz com que as partículas à superfície tenham um
movimento elíptico, que é uma combinação de ondas longitudinais (para frente e para
trás) e transversais (para cima e para baixo).
Se pusermos um pedaço de madeira a flutuar na água do mar ele move-se um pouco
para frente na crista de cada onda e depois um pouco para trás quando o vale entre as
ondas passa. Ou seja, a forma de onda vai-se aproximando da praia, mas cada porção de
água só se move para frente e para trás. Se pusermos o pedaço de madeira a flutuar a
várias profundidades dentro de água, veremos que eles se movem no interior da água
em órbitas aproximadamente circulares.
As órbitas têm um raio maior perto da superfície e vão tendo cada vez um raio menor
até que deixam de existir a uma profundidade que é cerca de metade da distância entre
as cristas das ondas (ou seja, metade do comprimento de onda de propagação).
A uma distância da praia em que o fundo está a uma distância igual à cerca de metade
do comprimento de onda, os movimentos orbitais dos níveis mais profundos começam a
ser restringidos porque a água já não se pode mover verticalmente; apenas se pode
mover para frente e para trás, na horizontal. Um pouco acima, a água já se pode mover
um pouco verticalmente e as órbitas passam de circulares a elípticas. À superfície, as
órbitas podem ainda ser circulares.
Este fenômeno de distorção das órbitas, que se dá quando as ondas «sentem o fundo»,
faz com que a onda seja retardada, diminuindo o comprimento de onda de propagação,
porque a distância à próxima crista vai diminuindo. Como resultado, a água que chega
acumula-se e faz com que a crista da onda cresça e se torne mais angulosa. A inclinação
da onda (a razão entre a sua altura e o comprimento de onda) aumenta até que, ao
chegar a um valor de cerca de 1/7, a água já não se consegue suportar a si própria e a
onda rebenta. A profundidade da água é então cerca de 1,3 vezes a altura da onda (a
distância vertical entre um vale e a crista que se lhe segue).
A distância à costa em que este fenômeno ocorre depende da inclinação do fundo. Se o
fundo da costa for muito inclinado, muitas ondas pequenas rebentarão na costa. Se o
fundo é mais suavemente inclinado, as ondas rebentarão mais longe. Por isso, o sítio de
rebentação das ondas é um bom indício para sabermos qual é a profundidade da água.
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Para estimar a altura de uma crista de onda que rebenta mais longe da praia, podemos
procurar o local de onde vemos a crista da onda alinhada com o horizonte. A altura da
onda é igual à distância vertical entre os olhos e o ponto mais baixo para o qual a água
desce no seu movimento de vaivém na praia.
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A costa sul do Brasil é, durante certa parte do ano, banhada por uma terceira corrente
marinha a Corrente das Malvinas, proveniente da região do círculo polar antártico que
traz águas frias e costuma adentrar sob as águas mais aquecidas de procedência tropical,
enquanto que no Atlântico Norte, na região da península ibérica, as mesmas águas que
entram e saem pelo Estreito de Gibraltar no Mar Mediterrâneo não respeitam esse
princípio, devido no percurso, modificarem o grau de salinidade das águas mais
aquecidas tornando-as mais pesadas.
As correntes marítimas se dividem em plantas oceanográficas confiáveis que se juntam
ao utilizar o mesmo método de distribuição fluvial, se dividem em correntes frias e
correntes quentes:
Correntes quentes: formam-se na zona intertropical, próxima à Linha do
Equador, e movimentam-se em direção às zonas polares.
Correntes frias: formam-se nas zonas polares e movimentam-se em direção à
região equatorial.
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3. CRIOSFERA
3.1 INTRODUÇÃO
A Criosfera tem um papel muito importante no clima devido à natureza e às
propriedades físicas do gelo e da neve e devido à união da Criosfera com os outros
componentes do sistema climático. É um termo que descreve as porções de água no
estado sólido na superfície da Terra, incluindo gelo do mar, dos lagos, rios, coberturas
de neve, glaciares, placas de gelo da Groelândia e Antarctica, e gelos permanentes na
América do Norte e Sibéria.
A Criosfera também inclui alguns dos maiores sistemas glaciares (montanhas), como
por exemplo, Ártico Canadense, Alaska, os Alpes e os Spitsbergen. Os gelos
permanentes sustentam regiões extensas cobrindo 15 a 20 % da superfície da Terra,
principalmente fronteiras polares continentais na América do Norte e Sibéria.
Figura 10 – Extensão máxima de neve e gelo durante o Inverno (a) e extensão mínima
durante o Verão (b) no Hemisfério Norte. Regiões de gelos permanentes estão
representados em (b).
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Figura 11 – Extensão máxima de gelo durante o Inverno (a) e extensão mínima durante
o Verão (b) no Hemisfério Sul.
As mudanças dominantes são as enormes mudanças sazonais da cobertura de neve nos
continentes do Hemisfério Norte, e as variações sazonais na cobertura de gelo nos
oceanos do sul que cercam a Antarctica.
A Criosfera influencia o clima local em todas as escalas de tempo, mas a influência do
clima local é predominante para escalas de tempo de anos ou mais.
A figura abaixo representa a Criosfera no Hemisfério Norte e sul respectivamente.
(a) (b)
Figura 12 – Extensão máxima de neve e gelo durante o Inverno (a) e no Verão (b) no
Hemisfério Norte no ano de 2006. Regiões de gelos permanentes estão representadas
em (b).
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Figura 13 – Extensão de gelo em Maio de 2007 no Hemisfério Sul.
A distribuição de delo e neve é importante porque refletem radiação solar de curto
comprimento de onda durante o dia e atuam como um corpo negro, quase perfeito, e é
irradiador de radiação de onda longa durante a noite. O gelo e a neve têm uma alta
refletividade quando comparada com a água ou superfície de Terra. A Criosfera atua
como um receptor de calor efetivo para a atmosfera e oceanos pelo albedo relativamente
elevado e grande calor latente de liquidificação. A variação das distribuições globais de
gelo e neve tem um efeito significativo no albedo planetário.
Devido à condutividade térmica baixa, o gelo e a neve constituem excelentes isoladores,
reduzindo assim a quantidade de calor trocada entre a Terra e oceanos e a atmosfera
sobrejacente.
O gelo funciona como uma camada isoladora entre massas de ar polares frias e água
relativamente quente em baixo do gelo. Todos estes efeitos combinados tendem a
reforçar o arrefecimento da atmosfera e induzir climas frios locais. Esta interação entre
gelo e neve e a temperatura atmosférica pode conduzir a um processo de feedback
positivo.
Contudo, tão forte processo de feedback positivo não pode ser considerado na
insolação, mas em conjunto com outros fatores podem alterar o balanço de radiação. Por
exemplo, o feedback só será efetivo quando houver um aumento adequado da
precipitação (neve) disponível de forma a garantir a duração e extensão espacial do gelo
e neve.
O arrefecimento da atmosfera polar, por vezes, conduz a um forte gradiente meridional
da temperatura, e a um aumento na intensidade da circulação zonal na atmosfera. O
congelamento da água tende a aumentar a salinidade das camadas superficiais do
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oceano pela remoção de água doce das camadas de superfície. Os derretimentos da neve
e do gelo fazem diminuir a salinidade das camadas superficiais.
As mudanças resultantes da estrutura vertical da temperatura e salinidade afetam a
estabilidade do oceano e pode conduzir a mudanças na circulação geral do oceano. A
variação de volume das placas de gelo e glaciares por vezes tem uma influência indireta
no clima, podem mudar o nível médio do mar e afetar a área coberta por oceano. Outros
aspectos importantes da Criosfera dizem respeito a trocas de massa e energia e ao ciclo
hidrológico.
Existem diferenças notáveis na natureza da superfície da terra entre as regiões do Ártico
e da Antarctica. Por exemplo, se compararmos os dois capuchos polares, o oceano cobre
72% da área superficial no norte, enquanto que no sul cobre apenas 22% (ver tabela 1).
Isto sugere que o papel do oceano na troca de algumas quantidades como, o vapor de
água e a energia, com a atmosfera sobrejacente tem uma importância maior no pólo
Norte do que no pólo Sul. Se os capuchos polares se estendem desde os 70º até 60º de
latitude a percentagem de terra e oceano cobertos torna se quase igual. Os 3 a 4 km de
altura das placas de gelo na Antarctica e a topografia baixa (exceto a Groenlândia) nas
fronteiras terrestres do oceano Ártico representam outra importante diferença entre as
duas regiões polares.
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Muito do conhecimento da atmosfera polar baseia se em resultados de radiossondas que
estão distribuídas em estações nas duas regiões polares, sendo que a atmosfera do pólo
Norte é mais conhecida
4. BIOSFERA
4.1 INTRODUÇÃO
Biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra. É um conceito da Ecologia,
relacionado com os conceitos de litosfera, hidrosfera e atmosfera. Incluem-se na
biosfera todos os organismos vivos que vivem no planeta, embora o conceito seja
geralmente alargado para incluir também os seus habitats.
O termo "Biosfera" foi introduzido, em 1875, pelo geólogo austríaco Eduard Suess.
Entre 1920 e 1930 começou-se a aplicar o termo biosfera para designar a parte do
planeta ocupada pelos seres vivos. O conceito foi criado por analogia a outros conceitos
empregues para nomear partes do planeta, como, por exemplo, litosfera, camada
rochosa que constitui a crosta, e atmosfera, camada de ar que circunda a Terra. Biosfera
é o conjunto de todas as partes do planeta Terra onde existe ou pode existir vida. A
biosfera é um tanto irregular, devido à escassez, ou mesmo inexistência, de formas de
vida em algumas áreas. Os seus limites vãos dos fins das mais altas montanhas até as
profundezas das fossas abissais marinhas. A vida na Terra terá surgido há cerca de 3800
milhões de anos.
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Figura 14 – Esquema sistemático da biosfera.
O Sol aquece toda a Terra, mas verifica-se uma distribuição desigual de energia à
superfície do globo: a região equatorial e tropical recebe mais energia solar que as
latitudes médias e as regiões polares.
A energia radiante recebida nos trópicos é superior à que essa região é capaz de emitir
enquanto as regiões polares emitem mais do que recebem. Se não se verificasse um
transporte de energia dos trópicos para as regiões polares, a temperatura da região
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tropical aumentaria indefinidamente enquanto as regiões polares ficariam com uma
temperatura cada vez menor. É este desequilíbrio térmico que induz a circulação da
Atmosfera e dos Oceanos. A energia é redistribuída pela circulação atmosférica (60%) e
pelas correntes oceânicas (40%) das regiões onde há excesso para aquelas em que há
déficit.
Esta transferência de energia é efetuada de várias formas. Cada uma delas varia em
importância com a latitude:
Trocas de calor sensível com a atmosfera pelo deslocamento de massas de ar;
Transferências de calor latente, libertado durante o processo de condensação;
Correntes oceânicas que transferem calor para os pólos.
A taxa de transferência máxima, da ordem de 5x1027 kW ocorre nas latitudes de 30º e
40º, e está associada à circulação de grande escala ou circulação planetária, distinta das
circulações regionais (monções), das circulações características dos sistemas sinópticos
transientes (escala ~ 1.000 km) e das circulações locais.
A estrutura média da circulação geral é de grande importância para a necessária
transferência meridional de energia. Um dos primeiros modelos clássicos da circulação
geral é devido a George Hadley, que em 1735, sugeriu que sobre a Terra sem rotação, o
movimento do ar teria a forma de uma grande célula de convecção em cada hemisfério,
conforme esquematizado na figura. 15.
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movimento na direção dos pólos em altitude, movimento descendente sobre os pólos e
em direção ao equador à superfície.
Como a Terra tem movimento de rotação em torno de si própria, o eixo de rotação é
inclinado sobre o plano da órbita, e a percentagem da superfície coberta por continentes
é maior no hemisfério norte do que no hemisfério sul, o padrão de circulação é muito
mais complicado. Em 1856, o professor do ensino secundário William Ferrel,
aperfeiçoou o modelo de Hadley, introduzindo o primeiro modelo tricelular, que foi
melhorado por Tor Bergeron em 1928 e por Carl-Gustav Rossby em 1941. No modelo
proposto por Rossby, admite-se que a pressão a superfície do globo se distribui
zonalmente, i.e. ao longo dos paralelos, havendo faixas alternadas de baixas e altas
pressões, aproximadamente simétricas em relação ao equador térmico.
Associadas a esta distribuição de pressão, existem três células convectivas de circulação
meridional em ambos os hemisférios (figura 16). Estas três células são a célula tropical
(também denominada de célula de Hadley), a célula de das latitudes médias (célula de
Ferrel) e a célula polar.
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descendente da célula de Hadley está associado aos grandes centros permanentes
de altas pressões subtropicais (anticiclones subtropicais), de que são exemplo o
anticiclone dos Açores e o anticiclone do Pacífico. Nesta célula, a rotação do
globo determina ventos de oeste em altitude e ventos de leste à superfície
(ventos alísios).
2. Célula das latitudes médias (célula de Ferrel) – É uma célula de circulação
atmosférica média nas latitudes extratropicais, reconhecida por Ferrel no século
XIX. Nesta célula, o ar move-se para os pólos e para leste junto à superfície, e
no sentido do Equador e para oeste em altitude, fechando-se a circulação por
subsidência nos subtrópicos.
3. Célula Polar - Nesta célula, o ar sobe, diverge, e desloca-se em altitude para os
pólos. Uma vez sobre os pólos, o ar arrefecido desce, dando origem a altas
pressões à superfície nas regiões polares; nestas regiões, o ar diverge para fora
dos centros de altas pressões e retorna para sul, fechando a circulação celular.
Na célula polar, à superfície, os ventos estão dirigidos para Oeste e em altitude
para Leste.
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Anticiclones Subtropicais – Uma cintura de altas pressões associada à subsidência do ar
nas latitudes do cavalo, i.e. nas zonas de ventos muito fracos ou calmarias. Nas latitudes
subtropicais o ar arrefece e desce criando áreas de altas pressões com céu limpo e pouca
precipitação, denominadas de Anticiclones Subtropicais. A subsidência do ar seco (após
precipitação na ZCIT) e quente (devido à própria subsidência, que provoca aquecimento
adiabático) está na origem dos desertos nestas latitudes.
Depressões Subpolares – Uma cintura de baixas pressões associadas à frente polar.
Anticiclones Polares – Sistemas de altas pressões associados ao ar polar frio e denso.
O modelo descrito de três células é útil, mas é muito simplificado e idealizado, pois
descreve apenas a circulação atmosférica, simétrica em relação ao eixo de rotação, ou
axialmente simétrica, i.e. independente da longitude. No entanto, o modelo fornece um
bom ponto de partida para descrever as características principais da circulação
atmosférica de larga escala.
Como acabado de referir, o modelo das três células é uma idealização; na realidade os
ventos não são estacionários, e as regiões de altas/baixas pressões não são contínuas
(Figura 17), implicando variações importantes da circulação atmosférica com a
longitude.
A Terra real contém descontinuidades no padrão zonal dos ventos/pressão causados
pelas grandes massas continentais.
Estes condicionalismos rompem as cinturas de pressão em regiões de baixas e altas
pressões semi-permanentes.
Existem três razões fundamentais para a diferença entre a distribuição "ideal" e a "real":
A superfície da Terra não é uniforme, ou alisada. Verifica-se um aquecimento
diferenciado devido aos contrastes solo/oceano (mar).
A circulação pode desenvolver vórtices ou turbilhões.
O Sol não "permanece sobre o Equador", mas move-se entre 23.5°N e 23.5°S ao
longo do ano.
5.1 CIRCULAÇÃO MÉDIA EM SUPERFÍCIE
Devido ao efeito da força de Coriolis, que desvia o movimento para direita (esquerda)
no hemisfério Norte (hemisfério Sul), a circulação meridional nas três células é alterada.
Surgem então, três ventos característicos à superfície:
Os ventos alísios nos Trópicos;
Os ventos predominantes de Oeste nas latitudes médias;
Os ventos polares de Este.
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Figura 18 - Circulação Geral da Atmosfera e os grandes sistemas de vento.
De acordo com este modelo (Figura 18), que incorpora o efeito da rotação da Terra,
para a zona equatorial de baixa pressão devem convergir ventos provenientes das
cinturas subtropicais de altas pressões (em torno de 30ºN e 30ºS), impulsionados pela
força de gradiente de pressão (dirigida para as pressões mais baixas) e defletidos por
efeito da rotação da Terra (força Coriolis). Os ramos inferiores das células de Hadley
justificam, portanto, a existência dos ventos alísios de nordeste no Hemisfério Norte e
dos alísios de sudeste no Hemisfério Sul.
Os ventos alísios (trade winds) estendem-se entre as latitudes 10º-25ºN e 5º-20ºS, são
particularmente bem desenvolvidos nos meses de Inverno sobre o lado oriental dos
maiores oceanos.
A faixa de encontro dos alísios de nordeste (procedentes do HN) com os de sudeste
(procedentes do HS) é conhecida como Zona de Convergência Intertropical ou ZCIT
(ou Zona Intertropical de Convergência, ZITC). A ZCIT é uma região de pressões
relativamente baixas, localizada entre 10ºN e 5ºS, caracterizada por uma acentuada
instabilidade atmosférica que favorece o desenvolvimento de intensas correntes
ascendentes, com formação de grandes nuvens convectivas, geradoras de precipitação
abundante.
Os três grandes centros anticiclônicos subtropicais, semi-permanentes, que se situam
sobre o oceano austral, em torno de 30ºS (Fig.5), e no Hemisfério Norte sobre os
oceanos e continentes, formam a cintura subtropical de altas pressões que praticamente
circunda o planeta, seriam os ramos descendentes das células de Hadley (e Ferrel) de
25
cada hemisfério. A subsidência neles observada provoca divergência a superfície
gerando ventos direcionados tanto para o equador (alísios) como para os pólos,
desviando-se estes últimos para leste, por ação da força de Coriolis, atingindo latitudes
próximas a 50º ou 60º, como ventos predominantes de Oeste.
A circulação atmosférica nas latitudes elevadas é menos bem definida. Acredita-se que
a subsidência nas proximidades dos pólos produz uma corrente superficial em direção
ao equador que é desviada, formando os ventos polares de leste, em ambos os
hemisférios. O ar frio proveniente da região circumpolar encontra-se com o ar quente
dos sub-trópicos; como a rotação da Terra impede a mistura das duas massas de ar, a
região de encontro entre as massas de ar polar de Este (frias) e as massas de ar
provenientes de Oeste (quentes) é uma região de descontinuidade, conhecida como
“Superfície Frontal Polar”; a intersecção desta “superfície” (na realidade uma camada
pouco espessa) com o globo é a “frente polar”. No hemisfério Sul, sobre o Oceano
Atlântico, a superfície frontal polar é também conhecida como Zona de Convergência
do Atlântico Sul (ZCAS).
26
5.2.1 BRISAS MARÍTIMA, TERRESTRE E LACUSTRE
Junto à costa, no fim da manhã, começa freqüentemente a fazer-se sentir, um vento
vindo do mar, que atinge o máximo no princípio da tarde e desaparece ao anoitecer.
Este vento é mais forte nos dias muito quentes, mas pode ser mais fraco quando o céu
está nublado. Chama-se brisa marítima (Fig.6).
A causa fundamental do movimento do ar é a diferença de aquecimento entre as
superfícies da terra e do mar, essencialmente devido às diferentes capacidades
caloríficas dos materiais à superfície; com efeito, a água tem uma maior capacidade
calorífica que o solo, e aquece muito mais lentamente que este.
27
perpendiculares à linha de nuvens. Esse fenômeno pode ser observado em muitas
regiões durante as primeiras horas da manhã, e pode provocar chuva fraca nessa região,
até que a brisa terrestre (que, nos trópicos, intensifica os alísios) ganhe força.
28
Figura 21 – Brisa de vale.
Durante a noite, o ar frio desce sobre as encostas para o vale. A brisa segue o percurso
no sentido oposto. Vem das montanhas e dirige-se para o vale. Assim, denomina-se de
brisa de montanha (Figura 22). Tal como nas brisas marítimas e terrestres, o ar que se
move junto ao solo e ascende, em determinado período de tempo, tem de retornar e
descer novamente. Este movimento de retorno ocorre a altitudes mais elevadas. Assim
se geram circulações locais. O esquema acima indicado pode ser um pouco simplista,
porque as montanhas são estruturadas e têm muitos vales laterais. Mas representa os
processos fundamentais.
29
ALGUMAS REFERENCIAS
http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/fisico_quimica/fisic
o_quimica_trabalhos/atmosferaterrestre.htm
http://web.ist.utl.pt/berberan/QF2/docs/Estrutura%20e%20composicao%20da%2
0atmosfera.pdf
30
PARTE 2
RADIAÇÃO SOLAR
1. LEIS DA RADIAÇÃO
A principal fonte de energia Terra-atmosfera utilizada nos processos físicos, químicos e
biológicos que ocorrem em superfície e na atmosfera é a radiação provenientes do Sol,
chamada de radiação solar. Desta maneira, qualquer mudança no fluxo incidente de
radiação solar resultará em diferentes respostas na atmosfera e superfície, podendo
haver mudanças em vários processos meteorológicos e climáticos.
Desta forma, alterações como, por exemplo, na constituição da atmosfera (composição
química-concentração de gases e aerossóis) que interagem com a radiação
eletromagnética podem afetar o perfil da temperatura e, por conseguinte, o perfil de
pressão.
Em relação ao clima da Terra, um dos assuntos mais abordados na atualidade é o
aumento da concentração dos chamados gases do efeito estufa e o conseqüente aumento
da temperatura da Terra. Por isso neste capitulo, faremos uma abordagem sobre as leis
de radiação e suas principais componentes.
31
O terceiro processo, chamado de radiação, ocorre em função da transferência de energia
entre dois corpos sem haver um meio de conexão entre eles, sendo o principal processo
de troca de energia entre a Terra e o Sol.
32
Figure 1 – Ilustração das várias regiões do espectro eletromagnético de acordo com o
comprimento de onda da radiação.
A radiação solar está confinada basicamente em uma região espectral λ ≤ 4µm, sendo
por isso denominada radiação de onda curta. Já a radiação emitida por um corpo
terrestre (ex. a superfície terrestre) compreende a região espectral λ ≥ 4µm, denominada
radiação de onda longa ou térmica.
33
dφ d U
2
I= = (3)
dΩ dtdΩ
4) Irradiância em certo ponto da superfície (∈): é o quociente entre o fluxo de
radiação pela área de elemento de superfície, onde a unidade de área é Wm-2
dφ d U
2
∈= = (4)
dA dtdA
4) Radiância (L): é o quociente entre a intensidade de radiação de certo elemento
de superfície em uma determinada direção. Sua unidade é Wm-2sr-1
dU
3
dI
L= = (5)
cos θ × dA cos θ × dtdΩdA
4. LEIS DA RADIAÇÃO
4.1 Lei de Planck
A luz viaja no universo por pequenas partículas chamadas de fóton, onde o Quantum é a
energia de um fóton. Planck definiu que o comprimento de onda é a distância entre duas
cristas e outra de uma mesma onda.
A energia de um fóton é diretamente proporcional à freqüência da onda e inversamente
proporcional ao comprimento de onda. Quanto maior a freqüência de onda, maior a
quantidade de energia contida nos fótons, e quanto maior a energia contida menor o
comprimento de onda. Por essas definições, Planck, definiu que o comprimento de onda
34
é inversamente proporcional a freqüência, uma vez que o produto entre eles (freqüência
x comprimento) é uma constante, a velocidade da luz.
E = h⋅ f (6)
c
f = (7)
λ
c
E = h (8)
λ
Onde,
E é a energia de um fóton de radiação (J);
h é a constante de Planck, com valor de ~ 6.6262 x 10-34 Js-1;
f é a freqüência da radiação (Hz ou s): é o número de cristas de ondas que ocorrem na
unidade de tempo;
c é a velocidade da luz (~ 3 x 108 ms-1);
λ é o comprimento de onda (µm).
35
Emissividade (eλ)
É a razão entre a emitância monocromática (uma cor) de um corpo e a correspondente
emitância monocromática de um corpo a mesma temperatura.
Absortividade (aλ)
É a razão entre a quantidade de energia radiante absorvida pela substância ou corpo e o
total incidente, para um dado comprimento de onda.
Refletividade (rλ)
É a razão entre a quantidade de energia radiante refletida pela substância e/ou corpo e o
total incidente, para um dado comprimento de onda.
Transmissividade (tλ)
É a razão entre a quantidade de energia radiante transmitida e o total incidente, para um
dado comprimento de onda.
Observação: Os valores de absortividade, refletividade e da transmitividade para um
dado material varia de 0 a 1, onde a soma destes terá que ser 1. Através da conservação
de energia, temos:
aλ + rλ + tλ = 1 (10)
36
Onde,
E é a densidade de fluxo de energia;
eλ é o poder emissivo do corpo, ou emissividade;
σ é a constante de Stefan-Boltzman ~ 5,67 X 10-8 W m2K-4
Para a maioria dos objetos o poder emissivo varia entre 0,95 e 1,0.
Observação:
Desta maneira, um corpo se aquece e se resfria numa razão proporcional a quarta
potência da sua própria temperatura e a quarta potencia do ambiente que a rodeia.
I = Io e
− kx
(14)
Onde,
I é a irradiância considerada;
Io é a irradiância normal;
37
K é o coeficiente de extinção que para uma comunidade do tipo vegetal com folhas
eretas o valor varia de 0,3 a 0,5 e para folhas horizontais varia entre 0,7 a 1,0; X é à
distância na qual o feixe atravessa esse meio.
38
radiação como um corpo negro, para isso há necessidade de aplicar a Lei de Stefan-
Boltzmann.
A constante solar (∈) pode ser calculada levando em consideração a variação da
atividade solar, que está diretamente influenciada pela distância Terra-Sol, ângulo
zenital, declinação solar (δ), latitude (ϕ) e pelo ângulo horário (h) por isso é necessário
fazer-se algumas correções.
b) Declinação solar
A declinação solar é o ângulo entre o plano do equador e o vetor posição de um astro
que é uma linha imaginaria que vai do centro da Terra ao Sol.
A Terra gira sempre inclinada com ângulo máximo de 23°27´ entre o plano do equador
e o plano da elipse. As posições do sol nas quais a sua declinação é igual aos valores
extremos são denominadas de solstício. As posições de declinação nula são
denominadas de equinócio, ou seja, quando o Sol, em seu movimento aparente
posiciona-se sobre o plano do equador terrestre (δ = 0°). Ocorrendo duas vezes ao ano
(21 de março e 23 de setembro), onde cada solstício ou equinócio define uma estação do
ano.
Os trópicos de Câncer e Capricórnio são definidos em função da declinação solar de
valores extremos (23°27´N e 23°27´S), respectivamente.
Data declinação Hemisfério Sul Hemisfério Norte
22 de dezembro
-23°27´ Inicio do verão Inicio do inverno
solstício
21 de março
0° Inicio do outono Inicio da primavera
equinócio
23 de junho
+23°27´ Inicio do Inverno Inicio do Verão
solstício
23 de setembro
0° Inicio da primavera Inicio do outono
equinócio
Tabela 1 – Estações do ano com suas declinações e datas.
39
c) Movimentos de rotação e translação da Terra
O Sol apresenta dois movimentos aparentes em relação à Terra, um no sentido leste-
oeste (E-W), e decorrente da rotação (ciclo dia/noite) da Terra, e outro no sentido norte-
sul (N-S) devido o movimento de translação.
Em seu movimento de translação, a Terra descreve uma elipse com excentricidade
muito pequena. Dessa maneira, durante uma época do ano, a Terra está mais próxima do
Sol, enquanto que seis meses mais tarde estará no ponto mais distante, por isso, defini-
se que o Afélio é o período de maior distância entre a Terra e o Sol (citado acima) (dia
04 de julho) e o Periélio é a distância mais próxima entre a Terra e o Sol (citado acima)
(dia 03 de janeiro).
40
A declinação solar pode ser estimada por:
360
δ = 23,45sen (284 + J ) (15)
365
onde, J é o dia Juliano.
Latitude (ϕ): é um valor constante para um local, pois é o ângulo formado pela vertical
do local com o plano do equador, variando de 0° a 90°.
Triângulo Astronômico: é caracterizado pelos pontos zenital, solar, prolongamento do
equador terrestre e pólo sul.
Ângulo Zenital (z): é o ângulo formado pela linha vertical do local e a linha que une o
centro da Terra ao centro do Sol. Assim, ao nascer e pôr do Sol z = 90°.
A relação entre o ângulo zenital (z) e os ângulos horários, declinação solar e latitude, é:
cos z = (senϕ ⋅ senδ + cos ϕ ⋅ cos δ ⋅ cosh ) (16)
Observações:
O ângulo zenital varia durante o dia;
O ângulo horário varia durante o dia, ao meio dia solar h = 0°, logo, z = ϕ − δ ;
A declinação solar varia a cada dia, considera-se constante durante o período de um dia;
A latitude é constante para um local determinado, por exemplo, Equador ϕ = 0°, e Pólo
Sul ϕ = -90°.
Ângulo de elevação do Sol (A): é o ângulo formado pela linha que une o centro da Terra
ao Sol e o plano do horizonte do observador, logo: A = 90° - z.
Ângulo horário (h): é o ângulo formado pelo plano do meridiano local (observador) com
o plano do meridiano do Sol. Meio dia solar é quando o Sol culmina sobre a cabeça do
observado (passa sobre o meridiano do local). Por conservação, o meio dia h = 0°, h é
negativo no período da manhã e positivo no período da tarde. O ângulo diminui 15° por
hora (360°/24h = 15°/h) antes do meio dia e aumenta 15° por hora após o meio dia
solar. Devemos considerar que o ângulo horário descreve entre o nascer e o pôr do Sol,
dois semi-arcos (H) idênticos.
41
Figura 4 – Ângulo do Sol.
Exemplo: As 1000 local temos o seguinte ângulo horário.
h = (TS − 12) ⋅ 15
Fotoperíodo (N): é o intervalo de tempo decorrido entre o nascer e o acaso do Sol.
Depende apenas da latitude do local e do ângulo de declinação solar na data da
observação.
H = arccos− (tgδ ⋅ tgϕ ) (17)
N=H+H N = 2H 1 hora = 15°.
Exemplo:
ϕ = 22°42´ S no dia 03 de março, logo:
N = (2/15) arc cós –(tg-22,7 tg -6,85) = 12,38 h
Observação: Em locais de baixa latitude (região Tropical), o fotoperíodo é pequeno
durante o ano, com um período de iluminação praticamente constante ao longo do ano.
6. BALANÇO DE RADIAÇÃO
Durante o seu movimento anual de translação a Terra ora se afasta do Sol ora se
aproxima, portanto, a quantidade de energia interceptada diminui ou aumenta,
respectivamente.
A radiação solar que atinge um determinado ponto da superfície terrestre pode vir
diretamente do disco solar (radiação direta – RD), ou indiretamente (RC), pela ação do
espalhamento e da reflexão de nuvens, poeiras, vapor d´água, etc., existente na
atmosfera.
A radiação solar global (Rs ou Rg) é a soma dessas duas contribuições:
Rs ou Rg = Rd + Rc
42
Quando o céu está sem a cobertura de nuvens, à proporção de radiação difusa que atinge
a superfície é muito pequena, mais quando o céu está totalmente encoberto, toda a
radiação que chega à superfície é difusa.
Entre as diversas equações empíricas para estimar a irradiância solar global ao nível do
solo a equação de Angstron é uma das mais utilizadas:
n
Rg = Ra * a + b ⋅ (18)
N
Onde,
a e b são coeficientes obtidos por análise de regressão linear para uma determinada
localidade e época do ano e indicam a transmissividade da atmosfera; n é o número de
horas de brilho solar; N é o fotoperíodo, ou seja, n/N é o índice de claridade (razão de
insolação).
Observação: O espalhamento proporcionado pela atmosfera terrestre é maior quanto
menor for o comprimento de onda de radiação. Na faixa do visível, a radiação violeta é
que sofre maior espalhamento, seguindo-se do azul. O céu apresenta coloração azulada,
ao invés de violeta, porque a transmissividade da atmosfera para o azul é maior do que
para o violeta.
43
O espalhamento atmosférico da radiação solar é uma função contínua do comprimento
de onda, a absorção e em geral seletiva, sendo o vapor d´água, o ozônio e o gás
carbônico os principais absorvedores.
O ozônio atua na região do espectro ultravioleta e os outros dois no espectro
infravermelho. Além desses gases há outros elementos que atuam na absorção da
energia solar, como: CH4, N2O, O2, poeira, nuvens (gotículas de vapor), entre outras.
1
E = f 4 (2)
λ
A atmosfera é praticamente transparente, com absorção nula aos comprimentos de onda
na faixa entre 300 e 800 nm, onde nesta faixa se encontra a radiação visível. Entre 800 e
1200 nm (espectro infravermelho) a absorção atmosférica também é mínima. Essa
janela é conhecida como “janela atmosférica”, porque em condições de céu claro, parte
da radiação emitida pela Terra perde-se para o espaço, sendo a atmosfera praticamente
transparente a radiação solar e opaca a radiação terrestre, com exceção na região da
“janela atmosféricas”. O efeito resultante é denominado Efeito Estufa, o qual permite a
entrada de radiação solar, mas impede a saída da radiação emitida pela superfície.
Para cada momento temporal, haverá um balanço de radiação característico da
superfície. Esse balanço de radiação é composto pelo balanço de ondas curtas (BOC) e
balanço de ondas longas (BOL), representados por:
Rn = BOC + BOL (3)
44
Onde,
Ra é a constante solar ou quantidade de radiação solar no topo da atmosfera;
Rs é o total de radiação solar que atinge a superfície.
Uma parte dessa radiação solar global que atinge a superfície é refletida (rRs) em
direção a atmosfera, sendo o restante utilizada para o aquecimento do solo e do ar,
através do calor sensível, para evaporação da água, através do calor latente e na
fotossíntese.
A fração de Rs que é refletida é chamada de albedo (r), logo, é um coeficiente de
reflexão.
rRs
r= (19)
Rs
O valor de r varia entre as diferentes superfícies e espécies vegetal, umidade do solo,
entre outros fatores.
45
o valor diurno do BOC torna RN positivo (ganho líquido de energia) enquanto que a
noite o BOC é nulo (BOC = 0), logo Rn é negativo. Desta maneira, a superfície libera
parte da energia absorvida em calor sensível.
ALGUMAS REFERENCIAS
van de Hulst, H.C., 1957: "Light Scattering by Small Particles". John Wiley & Sons. [
1981, Dover Publications Inc. ]
Kerker, M., 1969: "The Scattering of Light and Other Electromagnetic Radiation".
Academic Press.
Lide, D.R. (editor), 1992: "Handbook of Chemistry and Physics", 73rd Edition. CRC
Press.
46
Liou, K.-N., 1992: "Radiation and Cloud Processes in the Atmosphere: Theory,
Observation and Modeling". Oxford University Press.
Michalsky, J.J., 1988: The Astronomical Almanac's algorithm for approximate solar
position. Solar Energy, 40(3): 227-235.
Paltridge, G.W. & C.M.R. Platt, 1976: "Radiative Processes in Meteorology and
Climatology". Elsevier Publishing.
Swihart, T.L., 1968: "Astrophysics and Stellar Astronomy". John Wiley & Sons.
Wiscombe, W.J. & G.W. Grams, 1976: The backscattered fraction in two-stream
approximations. Journal of the Atmospheric Sciences, 33: 2440-2451.
47
PARTE 3
DISTURBIOS ATMOSFERICOS
48
Zona da banda de Máxima Cobertura de Nuvens Convectivas.
Todas essas características interagem próximas a faixa equatorial. Apesar dessa
interação as características não se apresentam, necessariamente ao mesmo tempo, sobre
a mesma latitude. No trabalho apresentado por Hastenrath e Lamb (1997) é mostrado
que, durante os meses de verão no HN junho, julho e agosto (JJA), a zona de
confluência dos ventos alísios aparece sobre o cavado equatorial e as regiões de máxima
cobertura de nuvens, precipitação e convergência de massa são quase coincidentes,
localizando-se aproximadamente a três graus ao sul da ZCA. Nos meses de dezembro,
janeiro e fevereiro (DJF), a zona de máxima cobertura de nuvens, precipitação e
convergência de massa localiza-se ao norte da ZCA. Para entendermos melhor,
podemos supor que nos meses de JJA a ZCA está posicionada em média a 17° N de
latitude, logo a ZCIT estará posicionada aproximadamente a 14° N de latitude, da
mesma forma podemos exemplificar para os meses de DJF, onde a ZCA estará
posicionada no hemisfério sul e então, a ZCIT estará acima da ZCA, porém a uns
poucos graus de latitude sul.
O conjunto de características associadas à ZCIT possui um deslocamento norte – sul ao
longo do ano. Fazendo-se referência aos trabalhos de Hastenrath e Heller (1997) e
Citeau et al. (1988), Ferreira escreveu que a marcha anual da ZCIT tem,
aproximadamente, o período de um ano, alcançando sua posição mais ao norte (8° HN)
durante o verão do hemisfério norte, e a sua posição mais ao sul (1° HN) durante o mês
de abril. Além dessa oscilação anual, a ZCIT apresenta oscilações com maiores
freqüências, com o período variando de semanas a dias. Esse resultado das posições
mais extremas da ZCIT discorda um pouco do trabalho escrito por Wallace, onde em
média a posição mais ao norte da ZCIT verifica-se a 14° HN nos meses de agosto a
setembro e sua posição mais ao sul 2° HS em março - abril (Nobre e Molion – 1998).
A ZCIT está estreitamente relacionada à TSM. Ela geralmente está situada sobre, ou
próxima as altas TSMs. Portanto, seria de se esperar que existisse uma relação entre a
distribuição geral de TSMs no Atlântico Tropical e a precipitação no Nordeste. De fato
essa relação parece ser válida para a maioria dos anos. Águas mais quente no Atlântico
Sul Tropical e mais frio no Atlântico Norte Tropical estão associadas com anos
chuvosos no nordeste do Brasil.
49
Figura 2 – Interação da ZCIT com a TSM em anos secos e chuvosos.
Figura 3 - Campo de ROL juntamente com o campo de pressão. (Fonte: Ferreira (1996).
Climanálise Especial, edição comemorativa dos dez anos.)
50
Figura 4 – Posicionamento médio da ZCIT através do ROL.
51
provenientes da Alta do Atlântico Norte ou Alta dos Açores. Dessa maneira com os
ventos de nordeste mais fracos a evaporação também fica reduzida, e isso resulta que a
maior parte da radiação que atinge a superfície do mar será utilizada para elevar a sua
temperatura e a do ar, ou seja, teremos menor resfriamento evaporativo. Contudo,
verificam-se temperaturas da superfície do mar (TSMs) mais elevadas. Esse mecanismo
de retroalimentação vento – evaporação – TSM é muito efetivo em ajustar a TSM. Um
fator de módulo 2 na diferença de velocidade do vento leva a uma diferença na TSM de
11° C (Xie e Philander – 1994). Finalmente sobre regiões com maiores valores de TSM
a camada atmosférica é mais instável e a ZCIT se estabelece nesta região.
Figura 5 – Campo médio de ROL para o mês de Janeiro (período base de 1974 a
novembro de 1983).
52
2.2 ALGUMAS CARACTERISTICAS DA ZCAS
Níveis baixos: escoamento de norte-noroeste que começa junto à encosta leste dos
Andes e se prolonga até a região sudeste do Brasil em forma de jato, sendo muito
importante para o transporte de umidade da região amazônica para o Brasil Central e
regiões sul-sudeste.
Níveis altos: circulação anticiclônica (Alta da Bolívia) e um cavado quase-estacionário
sobre o nordeste do Brasil.
Figura 6 – Algumas variáveis utilizadas para o diagnostico das ZCAS, tais como:
Temperatura de brilho médio (imagem de satélite) em cima e a esquerda; Linha de
correntes e divergência de umidade em 850 hPa, em cima e a direita; linha de corrente e
velocidade vertical em 500 hPa, abaixo e no centro.
Em suma as condições mais importantes são:
Predomínio de células de Hadley com presença de células de Walker;
Parcelas oriundas da Alta Subtropical do Atlântico Norte entram na bacia
amazônica, sofre deflexão por Coriolis, pelos Andes e pela Alta Subtropical do
Atlântico Sul;
53
Neste escoamento para sudeste, as parcelas se elevam conforme o conceito de
esteira transportadora úmida, a qual pode ser identificada como a banda de
nebulosidade associada à ZCAS (fenômeno semelhante ocorre no verão do HN
sobre o Pacífico Oeste: “Baiu Front”);
A formação da Alta da Bolívia (alta quente) se dá pela intensa liberação de calor
latente da convecção no Brasil Central e pelo aquecimento no altiplano
boliviano;
As parcelas que inicialmente se situam a leste da AB alcançam o equador, sendo
desviadas para leste por Coriolis; deste ponto podem seguir para o HN sobre a
Alta Subtropical do Atlântico Norte (caracterizando circulação de Hadley) ou
retornar para o HS sobre a Alta Subtropical do Atlântico Sul (circulação de
Walker);
A magnitude do JST em torno de 30°S está ligada à atividade convectiva e sua
posição está relacionada com a borda da AB;
A intensidade do cavado sobre o nordeste do Brasil está bem correlacionada com
a intensidade da AB; além disso, existe uma extensão para sul deste cavado e
uma região mais a leste com vorticidade anticiclônica sobre o Atlântico central;
Todas essas características estão inter-relacionadas e dependem diretamente da
atividade convectiva na Amazônia/Brasil Central e na região da ZCAS sobre o
sul-sudeste;
Existe, portanto um suporte dinâmico oferecido por um cavado de ar superior,
principalmente na região compreendida entre a região sul-sudeste e a extensão
da ZCAS sobre o Atlântico.
54
Além disso, deve haver persistência de pelo menos 4 dias desta configuração,
pois caso contrário a confluência pode ter sido gerada pela penetração de um
sistema frontal;
A ZCAS nem sempre apresenta estrutura típica de um SF ao analisar os
gradientes de temperatura; porém o contraste de umidade em geral pode ser
identificado, principalmente se for utilizada a temperatura potencial equivalente;
As observações indicam que a ZCAS tende a se posicionar mais ao norte no
início do verão, deslocando-se posteriormente para o sul podendo variar até 10-
15 graus de latitude; isto resulta em situações distintas para determinados locais,
conforme a região de estacionariedade da ZCAS;
55
baseado em equações de águas rasas linearizadas com relação a um estado
básico em repouso com altura média constante H, cuja parametrização da
liberação de calor latente se dá pela inclusão de um termo de fonte de massa
proporcional à divergência.
(1)
(2)
(3)
Se analisarmos a equação do geopotencial, nota-se que o papel da liberação de calor
latente corresponde a uma diminuição da altura equivalente H para a altura equivalente
efetiva Hef, temos:
(4)
Esta diminuição da altura equivalente tem efeito dinâmico que pode ser visto através do
raio de deformação de Rossby,
(5)
O que significa que perturbações que são pequenas com relação ao raio de deformação
calculado com a altura equivalente H, podem ser grandes ao incorporar o efeito da
liberação de calor latente que diminui a altura equivalente para Hef.
Assim a maior parte da energia da convecção é projetada nos modos mais lentos que se
tornam mais lentos devido à diminuição da altura equivalente efetiva; desta forma,
sistemas convectivos organizados devem apresentar longos ciclos de vida se não forem
sensivelmente perturbados.
O movimento subsidente de compensação associado à presença de uma fonte de
calor depende do perfil vertical dessa fonte; fontes de calor com pico de
aquecimento em níveis médios e altos estão relacionadas a uma subsidência no
lado SW da fonte, enquanto que se o pico de aquecimento for localizado em
56
níveis mais baixos, o movimento subsidente vai ocorrer predominantemente no
lado NE da fonte;
O posicionamento do pico de aquecimento em episódios de ZCAS varia
significativamente, mas em geral apresenta-se acima de 600 hPa, podendo
atingir 400hPa; isto indica que, na maioria dos casos, a subsidência associada à
ZCAS ocorre no lado polar, exceto em estágios de dissipação quando a fonte
apresenta pico nos níveis mais baixos induzindo subsidência no lado equatorial.
57
posicionamento do campo de pressão na baixa troposfera em
resposta à liberação de calor latente na Amazônia/Brasil Central;
b) A Baixa do Chaco deve seu confinamento à existência da barreira
orográfica imposta pelos Andes; a boa definição desta baixa e a
barreira dos Andes implicam numa significativa deflexão do
escoamento dos alíseos, o que estabelece a chamada esteira
transportadora que alimenta a convecção ao longo da ZCAS.
3. Efeitos de temperatura da superfície do mar:
a) Existe um alinhamento da ZCAS com uma região de forte
gradiente de TSM, o que torna possível a influência das
configurações de TSM na ZCAS;
b) Porém, é possível que as anomalias de TSM sejam uma resposta
oceânica à anomalia de vento à superfície do oceano, decorrente
da própria ZCAS;
c) De qualquer forma, uma vez estabelecida à circulação típica de
ZCAS, é razoável supor que haja uma realimentação positiva
entre a circulação atmosférica e as anomalias de TSM, ancorando
as configurações na atmosfera e no oceano.
58
ciclônica. No hemisfério norte, os ciclones tropicais giram em sentido anti-horário e no
hemisfério sul gira em sentido horário. Dependendo de sua localização geográfica e de
sua intensidade, os ciclones tropicais podem ganhar vários outros nomes, tais como
furacão, tufão, tempestade tropical, tempestade ciclônica, depressão tropical ou
simplesmente ciclone.
Os ciclones tropicais produzem ventos fortes e chuvas torrenciais. Estes sistemas
também são capazes de gerar ondas fortes e a Maré de tempestade, uma elevação do
nível do mar associada ao sistema. Estes fatores secundários podem ser tão devastadores
quanto aos ventos e às chuvas fortes. Os ciclones tropicais formam-se sobre grandes
massas de água morna e perdem sua intensidade assim que se movem sobre terra. Esta é
a razão porque regiões costeiras são geralmente as áreas mais afetadas pela passagem de
um ciclone tropical; regiões afastadas da costa são geralmente poupadas dos ventos
mais fortes. Entretanto, as chuvas torrenciais podem causar enchentes severas e as
marés ciclônicas podem causar inundações costeiras extensivas, podendo chegar a mais
de 40 quilômetros da costa. Seus efeitos podem ser devastadores para a população
humana, embora possam amenizar estiagens.
Muitos ciclones tropicais formam-se quando as condições atmosféricas em torno de
uma perturbação fraca na atmosfera são favoráveis. Outros se formam quando outros
tipos de ciclones adquirem características tropicais. Estes sistemas tropicais movem-se
por meio de correntes de ar na troposfera. Quando as condições atmosféricas continuam
favoráveis, o ciclone tropical se intensifica e geralmente se forma no seu núcleo um
“olho”. Por outro lado, quando as condições atmosféricas tornam-se desfavoráveis ou o
sistema atinge a costa, o sistema começa a se enfraquecer e posteriormente se dissipa.
3.2 ESTRUTURA
Todos os ciclones tropicais são áreas de baixa pressão atmosférica próximos à superfície
terrestre. As medições da pressão atmosférica nos centros dos ciclones tropicais estão
entre as menores já registradas mundialmente ao nível do mar. Os ciclones tropicais são
caracterizados e guiados pela liberação de grandes quantidades de calor de condensação,
que ocorre quando ar úmido é levado para cima e seu vapor se condensa. Este calor é
distribuído verticalmente em torno do centro do ciclone. Desta forma, em qualquer
altitude, exceto ao nível do mar onde a temperatura da superfície do mar controla a
temperatura ambiente, o interior de um ciclone tropical é mais quente do que as partes
externas ou áreas em torno.
59
Bandas de tempestade são bandas de nuvens que produzem tempestades e trovoadas que
se movem de ciclonicamente e em espiral em direção ao centro do sistema. Ventos
fortes e aguaceiros freqüentemente ocorrem em bandas de tempestade individuais. Entre
bandas de tempestade podem ocorrer regiões de calmaria. Tornados freqüentemente
ocorrem nas bandas de tempestade de um ciclone tropical que está prestes a atingir a
costa. Ciclones tropicais anulares se distinguem de outros ciclones tropicais pela
ausência de bandas de tempestade. Os ciclones tropicais anulares apresentam uma
massiva área circular de distúrbios meteorológicos em torno de seus centros de baixa
pressão atmosférica. Enquanto todos os ciclones requerem divergências atmosféricas
acima para continuarem a se aprofundar, a divergência atmosférica sobre ciclones
tropicais está em todas as direções a partir de seus centros. Nos topos de ciclones
tropicais destacam-se ventos que saem de seus centros para as áreas externas, realizando
um movimento anticiclônico, devido ao efeito Coriolis. Ventos associados a um ciclone
tropical na superfície são extremamente ciclônicos, enfraquecem-se conforme a altitude
e num determinado instante conforme aumenta a altitude, começam a girar ao contrário.
Ciclones tropicais têm como única característica própria a necessidade de pouco ou
nenhum vento de cisalhamento para manterem seu núcleo morno nos seus centros.
Um ciclone tropical intenso irá acolher uma área de ar no centro de sua circulação. Se
esta área for suficientemente forte, poderá evoluir para um olho. As condições
meteorológicas no olho são normalmente calmas e livres de nuvens, embora o mar
60
poderá estar extremamente violento. O olho é normalmente circular em sua forma e
pode variar em tamanho entre 3 a 370 quilômetros de diâmetro. Ciclones tropicais
intensos e maduros pode às vezes exibir uma curvatura interna do topo de sua parede do
olho, o que pode lembrar um estádio de futebol; este fenômeno às vezes é referido como
efeito estádio.
Há outros destaques que podem estar em torno do olho ou cobri-lo. O centro denso
nublado é uma área concentrada onde há intensa atividade de trovoadas localizada perto
do centro do sistema; em ciclones tropicais fracos, o centro denso nublado poderá cobrir
o centro do sistema completamente. A parede do olho é um círculo de tempestades
violentas que envolve o olho; é nesta região de um ciclone tropical que são encontrados
os ventos mais fortes, onde as nuvens alcançam o pico de intensidade e também onde a
precipitação é a maior. Os maiores danos causados por um ciclone tropical são quando a
parede do olho passa sobre terra. Ciclos de substituição da parede do olho podem
ocorrer naturalmente em ciclones tropicais intensos. Quando os ciclones tropicais
atingem seu pico de intensidade, eles normalmente têm uma parede do olho e um raio
de vento máximo que podem se contrair para um tamanho muito pequeno em
comparação ao ciclone como um todo, por volta de 10 a 25 quilômetros. Bandas de
tempestade externas podem se organizar para formar outro anel de tempestades e
trovoadas (uma nova parede do olho) que move-se lentamente em direção ao olho e
começa a usurpar da umidade da parede do olho e de seus momentum angular. Quando
a parede do olho enfraquece-se, o ciclone tropical enfraquece (em outras palavras, o
vento máximo sustentado se enfraquece e a pressão atmosférica central sobe). A parede
do olho externa substitui completamente a outra parede do olho no fim do ciclo. O
ciclone pode voltar a ter a intensidade inicial ou em alguns casos, o ciclone poderá estar
mais forte após a substituição da parede do olho terminar. O ciclone poderá fortalecer-se
novamente assim que o sistema constrói uma nova parede do olho para o próximo ciclo
de substituição da parede do olho.
Uma medida de tamanho de um ciclone tropical é determinada pela medição da
distância de seu centro de circulação até a sua isóbara mais externa, também conhecida
como seu "ROCI". Se a medida do raio for menos do que dois graus de latitude (222
km), então o ciclone é “muito pequeno” ou “anão”. Se a medida do raio for entre 2 a 3
graus (222 a 333 km), então o ciclone é considerado “pequeno”. Se a medida do raio for
entre 3 a 6 graus (333 a 666 km), então o ciclone será considerado um ciclone de
“tamanho normal”. Ciclones tropicais são considerados “grandes” quando seu raio fica
61
entre 6 a 8 graus (666 km a 888 km). Ciclones tropicais são considerados ‘muito
grandes’ quando o seu raio ultrapassa 8 graus (mais de 888 km). Outros métodos de
determinar o tamanho de um ciclone tropical incluem a medida do raio de ventos
máximos no qual seu campo relativo de vorticidade diminui para 1×10-5 s-1 de seu
centro.
3.2 DINÂMICA
62
rotação da Terra faz que o sistema gire, um efeito conhecido como força de Coriolis,
dando-lhe uma característica ciclônica e afetando a trajetória da tempestade.
63
pode desempenhar um papel no resfriamento do oceano, por impedir a chegada dos
raios solares antes ou ligeiramente depois da passagem da tempestade. Todos estes
efeitos podem combinar-se para produzir uma queda dramática na temperatura da
superfície do mar sobre uma grande área em apenas alguns dias.
Cientistas no Centro Nacional para Pesquisas Atmosféricas dos EUA estimam que um
ciclone tropical libera energia térmica à taxa de 50 a 200 exa-joules (1018 J) por dia,
equivalente a 1 PW (1015 watts). Esta quantidade de energia liberada equivale a 70
vezes o consumo humano mundial de energia e 200 vezes a capacidade de geração de
energia elétrica mundial ou também como se explodisse uma bomba nuclear de 10
megatons a cada 20 minutos.
Embora o movimento das nuvens mais evidentes seja em direção ao centro do sistema,
os ciclones tropicais também desenvolvem fluxos externos de nuvens em altos níveis
(alta atmosfera). Estes se originam do ar que libera a sua umidade e é expelido para
altas altitudes através da "chaminé" da "maquina da tempestade". Este fluxo externo
produz altas nuvens tipo cirrus tênue que se espiralam e distanciam-se do centro. Estes
altos cirrus podem ser os primeiros sinais da aproximação de um ciclone tropical.
64
Figura 9 - Ondas dos ventos de troca em regiões de ventos convergentes do Oceano
Atlântico, que se movem lentamente pela mesma faixa das instabilidades
predominantemente criadas pelo vendo na atmosfera, e que podem levar à formação de
furacões.
3.3 PERIODO DE ATUAÇÃO
Mundialmente, a atividade de ciclones tropicais atinge o seu pico no final do verão,
quando a diferença entre a temperatura ambiente e a temperatura da superfície do mar é
a maior. No entanto, cada bacia em particular tem seus próprios padrões sazonais. Numa
escala mundial, Maio é o mês menos ativo enquanto Setembro é o mês mais ativo.
No Oceano Atlântico norte, uma temporada de furacões distinta ocorre entre 1º de
Junho a 30 de Novembro, sendo que o pico de atividade ocorre no final de Agosto e por
todo o mês de Setembro. O pico estatístico de uma temporada de furacões no Atlântico
ocorre em 10 de Setembro. O Oceano Pacífico nordeste possui um período maior de
atividade, mas num intervalo de tempo similar ao Atlântico. No Oceano Pacífico
noroeste, ciclones tropicais ocorrem durante todo o ano, com atividade mínima em
Fevereiro e Março e com atividade máxima no começo de Setembro. Na bacia do
Oceano Índico norte, as tempestades são mais comuns entre Abril e Dezembro, com
picos de atividade em Maio e Novembro.
No hemisfério sul, a atividade de ciclones tropicais começa no final de Outubro e
termina em Maio. O pico de atividade de ciclones tropicais no hemisfério sul ocorre em
meados de Fevereiro e no começo de Março.
A maioria dos ciclones tropicais forma-se de uma banda com atividade de tempestades e
trovoadas que pode receber vários nomes; a Frente Intertropical (ITF); a zona de
65
convergência intertropical (ZCIT) ou cavado de monção. Outra fonte importante de
instabilidade atmosférica é encontrada nas ondas tropicais, que causam cerca de 85%
dos ciclones tropicais intensos no Oceano Atlântico e tornam-se a maioria dos ciclones
tropicais na bacia do Pacífico nordeste.
Em geral, ciclones tropicais deslocam-se para oeste, gradualmente afastando-se da linha
do Equador, através da periferia de uma alta subtropical, intensificando-se enquanto se
movem. A maioria dos ciclones tropicais formam-se entre 10 a 30 graus de latitude
(1.000 a 3.000 km) de distância da linha do Equador e 87% formam-se a menos de 20
graus de latitude de distância da linha do Equador. Por causa do efeito Coriollis, que
inicia e mantém a rotação de um ciclone tropical, ciclones tropicais raramente formam-
se a menos de 5 graus de latitude da linha do Equador, onde o efeito de Coriolis é mais
fraco. Entretanto, é possível a formação de ciclones tropicais nessas latitudes, assim
como fez a tempestade tropical Vamei em 2001 e o Ciclone Agni em 2004.
3.4 DISSIPAÇÃO
Um ciclone tropical pode perder suas características por meio de vários modos
diferentes. Quando o ciclone tropical move-se sobre terra, ele mesmo priva-se da água
morna que ele precisa para fortalecer a si mesmo. A maioria das tempestades fortes
perde sua força muito rapidamente após o landfall e tornam-se áreas de baixa pressão
desorganizadas dentro de um dia ou dois, ou tornam-se ciclones extratropicais.
Enquanto que há uma chance de um ciclone tropical se regenerar se ele conseguir
recordar sobre águas mornas abertas, há a chance dele permanecer sobre áreas
66
montanhosas, mesmo por pouco tempo, irá enfraquecer-se rapidamente. Muitas
fatalidades causadas pela tempestade ocorrem em terrenos montanhosos quando a
tempestade agonizante despeja chuvas torrenciais, levando a enchentes e deslizamentos
de terras potencialmente mortíferas, de forma semelhante àquelas que aconteceram com
o Furacão Mitch em 1998. Além do mais, a dissipação pode ocorrer se a tempestade
permanecer na mesma área por muito tempo, misturando as águas dos primeiros 30
metros a partir da superfície com as águas das profundezas. Isto ocorre porque o ciclone
faz com que as águas das profundezas do mar subam para a superfície através da
ressurgência e isto causa o esfriamento da superfície do mar, não mais suportando a
tempestade. Sem águas mornas, a tempestade não pode sobreviver.
Um ciclone tropical pode dissipar-se quando se move sobre águas com temperaturas
significativamente menores do que 26,5°C. Isto causará a tempestade a perder suas
características tropicais (ou seja, tempestades e trovoadas próximas ao centro e ao
núcleo morno) e torna-se uma área de baixa pressão remanescente, que pode persistir
por vários dias. Este é o mecanismo principal no Oceano Pacífico nordeste. O
enfraquecimento ou a dissipação pode ocorrer se o ciclone experimentar ventos de
cisalhamento verticais, causando o afastamento das áreas de convecção e da máquina de
calor do centro do sistema; isto normalmente cessa o desenvolvimento de um ciclone
tropical. Além do mais, a sua interação com as correntes principais de ventos ocidentais,
por meio de sua fusão com uma zona frontal pode causar a evolução dos ciclones para
ciclones extratropicais. Esta transição pode levar de um a três dias. Mesmo se for dito
que um ciclone tropical tornou-se um ciclone extratropical ou dissipou-se, ainda pode
ter ventos com força de tempestade tropical (ou ocasionalmente ventos com força de
furacão/tufão) e produzir vários milímetros de precipitação acumulada. No Oceano
Pacífico e no Oceano Atlântico, tais ciclones derivados de ciclones tropicais em
latitudes altas podem ser violentos e podem continuar ocasionalmente com ventos
equivalentes a de furacões/tufões quando eles alcançam à costa oeste da América do
Norte. Estes fenômenos também podem afetar a Europa, onde eles são conhecidos como
tempestades de vento européias; os remanescentes extratropicais do furacão Iris são um
exemplo de tempestade de vento em 1995. Além disso, um ciclone pode fundir-se com
outra área de baixa pressão, tornando-se uma área de baixa pressão maior. Isto pode
fortalecer o sistema resultante, embora ele não seja mais considerado um ciclone
tropical.
67
Figura 11 - A tempestade tropical Franklin, um exemplo de ciclone tropical sendo
afetado por fortes ventos de cisalhamento na bacia do Atlântico durante 2005.
68
organização ou a forma de tempestades mais fortes. No entanto, o sistema já é um
sistema de baixa pressão e, portanto, adquirindo a designação "depressão". As Filipinas
normalmente atribuem nomes às depressões tropicais quando estas estão dentro da área
de responsabilidade do país.
Uma tempestade tropical é um sistema organizado de fortes trovoadas com uma
circulação de superfície definida e com ventos máximos sustentados entre 17 e 32 m/s
(34-63 kt, 62-117 km/h ou 39-73 mph). Neste momento, uma forma ciclônica distinta
começa a se desenvolver, embora um olho não esteja normalmente presente. Serviços de
meteorologia governamentais, exceto as Filipinas, atribuem nomes aos sistemas que
atingem esta intensidade (mesmo que o termo tempestade nomeada). Um furacão ou
tufão (às vezes referido simplesmente como um ciclone tropical, para diferenciar de
uma tempestade ou depressão tropical) é um sistema com ventos máximos sustentados
de no mínimo 33 m/s (64 kt, 118 km/h ou 74 mph). Um ciclone nesta intensidade tende
a desenvolver um olho, uma área de calmaria relativa (e a região cuja medida da pressão
atmosférica é a mais baixa) no centro da circulação. O olho é freqüentemente visível em
imagens de satélite como uma mancha circular, pequena e livre de nuvens. Cercando o
olho encontra-se a parede do olho, uma área de cerca de 16-80 km (10-50 mi) de
diâmetro no qual as trovoadas mais fortes e os ventos circulam em volta do centro da
tempestade. Os ventos máximos sustentados nos ciclones mais fortes têm sido
estimados em cerca de 85 m/s (305 km/h, 190 mph ou 165 kt).
69
4. CICLONES EXTRATROPICAIS
4.1 INTRODUÇÃO
Ciclone extratropical é um fenômeno meteorológico caracterizado por fortes
tempestades e ventos, que faz parte de uma família maior de fenômenos meteorológicos,
a família dos ciclones. São definidos como sistemas de baixa pressão atmosférica de
escala sinótica que ocorrem nas regiões de latitudes médias, onde constituem uma parte
importante da circulação atmosférica ao contribuírem para o equilíbrio térmico das
regiões equatoriais e das regiões polares. Um ciclone extratropical desenvolve-se
através de gradientes, ou seja, diferenças de temperatura e de ponto de orvalho. A região
onde ocorrem tais diferenças é conhecida como zona baroclínica. Os ciclones
extratropicais obtêm sua energia por métodos diferentes daqueles usados por outros
fenômenos ciclônicos, tais como ciclones tropicais e as baixas polares, permitindo a sua
classificação como sistemas de "núcleo frio".
Estes ciclones são chamados de "extratropicais" porque se formam quase que
exclusivamente fora das regiões tropicais, e também por se originarem de massas de ar
de origem não-tropical. Estes sistemas também são chamados de "ciclones" devido à
sua natureza ciclônica. No Hemisfério norte, os ciclones extratropicais giram em sentido
anti-horário e, no Hemisfério sul, giram em sentido horário. Dependendo de sua
localização geográfica e de sua intensidade, os ciclones extratropicais recebem outras
designações, tais como ciclone de médias latitudes, depressão extratropical, baixa
extratropical, ciclone frontal, baixa não-tropical e, em casos específicos, ciclone pós-
tropical.
A maioria dos ciclones extratropicais produz ventos fortes e chuvas moderadas a
torrenciais. Assim como o ciclone tropical, intensos ciclones extratropicais também são
capazes de causar a maré de tempestade, uma elevação do nível do mar associada ao
sistema. Dependendo da intensidade do sistema, estes fatores secundários podem
provocar tantos estragos quanto o próprio ciclone. Os ciclones extratropicais formam-se
em massas atmosféricas com alta instabilidade meteorológica e perdem a sua força
quando se tornam barotrópicos, ou seja, quando as diferenças de temperatura ocorrem
juntamente com as diferenças de pressão. Algumas regiões costeiras são freqüentemente
afetadas por ciclones extratropicais, embora alguns sistemas particularmente intensos
possam causar tanta destruição quanto um ciclone tropical.
70
Figura 12 – Ciclone extratropical visto através de uma imagem de satélite.
4.2 ESTRUTURA
Os ventos associados a um ciclone tropical normalmente diminuem com a distância em
relação ao ponto no ciclone onde a pressão atmosférica é a menor, que geralmente se
localiza próximo ao centro do sistema. Os ventos mais fortes são encontrados
normalmente no lado mais frio e/ou polar das frentes quentes, nas oclusões e nas frentes
frias, onde as forças de gradiente de pressão, ou seja, a aceleração do ar imposta pelas
diferenças na pressão atmosférica são as maiores. A área ao norte e a oeste das frentes
quentes e frias conectadas aos ciclones extratropicais é conhecida como o setor frio,
enquanto que a área ao sul e a leste de suas frentes frias e quentes associadas é
conhecida como o setor quente.
Os ventos fluem anti-horariamente em volta de um centro ciclônico no Hemisfério
norte, e horariamente no Hemisfério sul, devido ao efeito Coriolis (esta maneira de
rotação é geralmente referida como ciclônica). Perto do centro do ciclone, a força de
gradiente de pressão e o efeito Coriolis devem estar num balanço aproximado para
evitar o colapso do ciclone sobre ele mesmo como resultado da própria diferença de
pressão. A pressão atmosférica do ciclone baixará com a crescente maturidade do
ciclone, enquanto que na parte externa do ciclone a pressão atmosférica ao nível do mar
não é muito baixa; o seu valor típico é por volta de 1013 milibares, que é a medida
média da pressão atmosférica na Terra ao nível do mar. Na maioria dos ciclones
extratropicais, a parte da frente fria a frente do ciclone desenvolver-se-á numa frente
quente, dando à zona frontal uma forma semelhante à de uma onda (como desenhado
em mapas meteorológicos de superfície). Devido à sua aparência em imagens de
satélite, os ciclones extratropicais podem ser também referidos como ondas frontais no
71
começo de seu período de existência. Nos Estados Unidos, um antigo nome para tal
sistema nesse estágio é "onda quente".
Os ciclones extratropicais inclinam-se em direção às massas de ar frias e se fortalecem
com a altura, às vezes excedendo 10 km (30 000 pés) em altitude. Logo acima da
superfície, a temperatura diminui da periferia para o centro do ciclone. Estas
características estão em oposição direta àquelas encontradas em ciclones tropicais. Por
isso, às vezes, os ciclones extratropicais são chamados de "áreas de baixa pressão de
núcleo frio". Vários mapas meteorológicos podem ser examinados para verificar as
características de um sistema de núcleo frio com a altitude, tais como os mapas
meteorológicos de 700 mbar (hPa), que é um mapa sinótico mostrando as diferenças na
pressão atmosférica a uma altitude de aproximadamente 3.000 metros. Diagramas
espaciais de fase de ciclones são usados para descobrir se o ciclone em questão é
tropical, subtropical ou extratropical.
4.3 FORMAÇÃO
Os ciclones extratropicais formam-se em qualquer área dentro das regiões extratropicais
da Terra, normalmente entre as latitudes 30° e 60° de cada hemisfério, mesmo quando
estão em processo de ciclogênese ou transição extratropical. Um estudo sobre ciclones
extratropicais no Hemisfério sul revela que, entre os paralelos 30° e 70°, há uma média
de 37 ciclones extratropicais em existência durante um período de 6 horas. Um estudo
72
separado no Hemisfério norte sugere que aproximadamente 234 ciclones extratropicais
significativos se formam a cada inverno.
4.4 CICLOGÊNESES
Petterssen e Smebye (1971), após efetuarem uma análise da formação de vários ciclones
extratropicais, mostraram que a hipótese da ciclogênese estar associada à advecção de
vorticidade era raramente satisfeita. Logo, concluíram que outros mecanismos deveriam
influenciar o desenvolvimento dos ciclones extratropicais. Assim, Petterssen e Smebye
(1971) classificaram dois tipos (A e B) de ciclones, de acordo com o mecanismo de
formação. Os ciclones do tipo A associam-se ao desenvolvimento de uma onda na
superfície frontal; e os do tipo B formam-se a sotavento das montanhas (“lee
cyclogenesis”).
73
4.4.1 CICLOGÉNESE DEVIDA A INSTABILIDADE BAROCLÍNICA
74
Entretanto, as teorias lineares e não linear tratam o vento zonal como zonalmente
simétrico. Contudo, sabe-se que na atmosfera real o vento zonal não é simétrico e que
existem regiões de preferência na formação de ciclones extratropicais, que são
conhecidas como “storm tracks” (Blackmon, 1976; Lau e Wallace, 1979; entre outros).
Frederiksen (1983a), através de dados observacionais, desenvolveu uma teoria da
instabilidade em 3 dimensões, a qual mostra que ao utilizar um estado básico que
contenha uma onda planetária em vez de um campo médio zonal, se obtém um aumento
maior na taxa de crescimento de ondas de escala sinóptica. Isso mostra a existência de
regiões preferenciais de desenvolvimento de perturbações baroclínicas sobre os oceanos
Atlântico e Pacífico Norte e no Hemisfério Sul, no lado polar, e a jusante das principais
correntes de jacto (Frederiksen, 1983b).
75
(1972) no qual, através de um modelo de equações primitivas que possuía uma
montanha representada por uma barreira vertical, se mostra a importância de um fluxo
médio baroclínico e da interação direta de uma depressão pré-existente com a
topografia.
Hayes et al. (1987) propuseram que a ciclogênese a sotavento de uma montanha possa
ser resultado de sobreposição de ondas permanentes formada pelo efeito de montanha e
uma onda baroclínica transiente. Numa montanha alta, o desenvolvimento ciclogenético
pode aparecer como um rápido aprofundamento e a formação de um ciclone em
superfície. Essa teoria descrita por Hayes et al. (1987) é aplicável em alguns casos de
desenvolvimento de ciclones extratropicais sobre a região da América do Sul, pois,
muitas vezes, uma perturbação oriunda do Pacífico intensifica-se ao cruzar os Andes e
gera ciclogênese na superfície. Seluchi (1995) verificou que 3 dias antes da formação de
ciclones extratropicais a sotavento dos Andes, há presença de perturbações na troposfera
média (∼500 hPa) no lado barlavento dos Andes, provocando advecção de vorticidade
ciclônica sobre a região de maior baroclinicidade. Quando essa perturbação ultrapassa
os Andes gera ciclogênese na superfície, concordando com a formulação descrita por
Hayes et al. (1987).
76
4.5 REGIÕES CICLOGÊNETICAS
4.5.1 CICLONES EXTRATROPICAIS NO HEMISFÉRIO SUL
Sinclair (1994), utilizando uma versão adaptada do método proposto por Murray e
Simmonds (1991), usou a vorticidade geostrófica (ζg) para localizar a posição da
ciclogénese nas análises produzidas pelo ECMWF para 0 e 12 UTC, para o período de
1980-86. Ele verificou quatro regiões de máxima atividade ciclônica, localizadas sobre
a América do Sul, Sul do Continente Africano; Oceania e ao redor da Antarctica (Figura
14).
77
Figura 14 - Densidade de ciclones no Verão (esquerda) e Inverno (direita) para um
período de 7 anos, obtidos através das reanálises do ECMWF. Fonte: Sinclair (1994).
Simmonds e Keay (2000) criaram uma climatologia de ciclones para o HS, com 40 anos
de dados das reanálises do NCEP/NCAR, confirmando os resultados obtidos por
Sinclair (1994), ou seja: o Verão apresenta máximo de ciclones localizados sobre o
litoral Atlântico da América do Sul, Austrália (devido a “baixas térmicas”) e na
vizinhança da Antarctica. No Inverno os máximos estão localizados sobre o Mar de
Weddell e Belling (Antarctica), América do Sul e Nova Zelândia (Figura 15), sendo o
Inverno a estação com maior freqüência de ciclones extratropicais.
78
Simmonds e Keay (2000) também obtiveram estatísticas de alguns parâmetros dos
ciclones, entre eles: a distância total média percorrida e o tempo de vida (“lifetime”).
Segundo esses autores, os ciclones extratropicais no HS possuem um tempo de vida
médio de aproximadamente 3.69 dias no Verão e 3.57 dias no Inverno para ciclones
sub-antárcticos (50°-70°S). Para ciclones originados em latitudes médias (30°-50°S) o
tempo de vida é menor, em média de 2.60 dias no Verão e 2.92 dias no Inverno. A
distância média total varia de maneira considerável entre o Verão e o Inverno. No Verão
a distância média é de 1946 km e no Inverno é de 2315 km.
Como já citado anteriormente, a AS (ao sul de 15°S) é uma região ciclogenética (e.g.
Taljaard, 1967; Necco, 1982; Gan e Rao, 1991; Sinclair, 1994; e Simmonds e Keay,
2000). Porém foram poucos os trabalhos realizados no sentido de definir uma
climatologia de ciclogênese para essa região. Por exemplo, ainda não foi realizada uma
análise estatística de alguns parâmetros dos ciclones extratropicais originados nessa
região, tema do Capítulo 3 desta tese.
Taljaard (1967) observou a existência de uma região de máximo de ciclogênese
localizada sobre o Paraguai e um mínimo de ciclogênese a leste da América do Sul,
entre 40°-50°S. Nesse estudo Taljaard (1967) não levou em conta possível baixas
térmica que podem surgir em áreas subtropicais. Necco (1982) utilizou dados do FGGE
(First GARP Global Experiment) para um sector do HS (0-90°W - 10°S-55°S), onde
identificou aproximadamente 120 centros ciclónicos, dos quais aproximadamente 70%
se formaram sobre a região estudada, sendo os restantes sistemas migratórios oriundos
de outras regiões. Destes, aproximadamente 20% dos ciclones gerados na área de estudo
tinham origem no Pacífico Sul e os restantes, aproximadamente 80% tinham origem no
sector continental da AS e Atlântico Sul (ATLS). Necco (1982) também verificou que o
Verão é a estação do ano com menor freqüência de ciclogênese sobre a área continental.
Isso porque ocorre muita formação de ciclones no litoral sul do Brasil.
79
de ciclogênese do que as demais estações do ano, contrariando os resultados obtidos por
Necco (1982).
Gan e Rao (1991), através de dados observacionais somente para o continente, para um
período de 1979 a 1988, confirmaram os resultados obtidos por Taljaard (1967) e Necco
(1982). Eles verificaram que a maior freqüência de ciclogênese é observada sobre o
Uruguai e nordeste da Argentina. Gan e Rao (1991) também verificaram que o Inverno
é a estação do ano com maior quantidade de eventos de ciclogênese e o Verão a estação
com menor quantidade, discordando dos resultados obtidos por Satyamurty et al.
(1990).
80
estação do ano com maior quantidade de eventos, em média 33 e o verão a estação com
menor quantidade, média de 27.
81
Figura 18 – campos anômalos da temperatura potencial equivalente aos 1000 hPa
(sombreado; K), e do vento (vetores; m s-1), para o inverno e verão. Fonte: Mendes et al.
(2007).
Uma das teorias mais fundamentadas aplicadas ao calculo das componentes dinâmicas é
a teoria de Sutcliffer. Sutcliffe (1947) admitindo que no conjunto total da atmosfera, a
divergência deverá ser sempre nula, propondo a análise diferencial da divergência do
vento horizontal em dois níveis, um junto à superfície e outro na alta troposfera, para
identificar situações associadas a depressões (e a anticiclones).
d
(ξ + f ) = −(ξ + f )∇p ⋅ V + ∂ω ∂u − ∂ω ∂v (1)
dt ∂y ∂p ∂x ∂p
desprezando o termo de inclinação, temos uma equação que nos dá valores de
divergência e/ou convergência.
d
(ξ + f ) = −(ξ + f )∇p ⋅ V (2)
dt
Se olharmos para frente de um sistema de baixa pressão em superfície, vemos que o ar
ganha vorticidade ciclônica (Eq. 2), implicando em convergência. Na retaguarda de um
82
sistema de baixa pressão em superfície, o ar ganha vorticidade anticiclônica, implicando
Aζ α (ζ + F )∇ ⋅ V p
(5)
Se olharmos para a Equação 5, vê-se que existe uma relação entre a advecção de
vorticidade e a divergência nos níveis troposféricos superiores. Para o Hemisfério Sul é
verificado advecção de vorticidade positiva (AVP) localizada sempre a leste das cristas
e a advecção de vorticidade negativa (AVN) sempre a leste do cavado (ζ + f ) < 0,
onde através da AVP há convergência e AVN há divergência.
Para os níveis troposféricos médios (em 500 hPa) o termo de variação local
∂ (ζ + f ) / ∂t é aproximadamente igual em magnitude ao termo de variação advectiva,
83
− V ⋅ ∇(ζ + f ) , sendo que neste nível há pouca divergência ou convergência, logo a
Equação 2 pode ser rescrita:
d
= (ζ + f ) ≅ 0 (6)
dt
A Equação 6 é aplicada no Nível não-divergente (NND), onde em geral este nível é
função do espaço e do tempo, admitindo-se somente em 500 hPa se for do ponto de
vista qualitativo e não quantitativo.
84
Quando há uma desintensificação do sistema, as variações locais de ζ estão presentes
δt ∂t
0
equação do vento térmico, onde o vento térmico fornece o acoplamento vertical entre os
sistemas troposféricos baixos com os sistemas da troposfera média e alta.
A Equação 2 quando aplicada ao NND, expande-se através das coordenadas de pressão.
∂ζ ∂ζ (9)
+V ⋅∇ ζ + ω =0
∂t
p
∂p
O vento térmico entre 1000 hPa e o NND (500 hPa) é definido como:
V = V −V
T 0
(10)
sendo V 0 o vento geostrófico em 1000 hPa e V vento geostrófico no NND.
Ao aplicarmos a Equação 10 para V , obtemos:
V = V +V T 0
(11)
Aplicando o rotacional da Equação 11, teremos:
∇ × V = ∇ × V + ∇V T 0
(12)
Através da Equação 12, pode-se aplicar o produto escalar, vector unitário k , somando
f em ambos os lados da equação, temos:
k ⋅ (∇ × V ) + f = k ⋅ (∇ × V ) + k ⋅ (∇ × V ) + fT 0
(13)
logo a Equação da vorticidade em relação ao vento térmico é escrita,
ζ = ζ +ζ T 0
(14)
∂t ∂t
p
∂p ∂p
85
Desta maneira podemos aplicar a Equação 15 para ∂ ζ 0 / ∂t , onde teremos:
∂ζ ∂ζ ∂ζ ∂ζ (16)
=− 0
−V ⋅∇ ζ − ω
T
−ω T 0
∂t ∂t
p
∂p ∂p
Se analisarmos a vorticidade em 1000 hPa, como não sendo uma função de pressão,
teremos, ∂ ζ / ∂p = 0 .
0
ζ T
é a vorticidade relativa do vento térmico, definida para uma determinada camada de
Aζ = −V ⋅ ∇ ζ P
(17)
De modo simplificado, podemos obter a Equação 16 da seguinte maneira:
∂ζ ∂ζ (18)
=− 0
+ Aζ T
∂t ∂t
Observando a Equação 18, pode-se verificar que a variação local de ζ 0
depende
1 ψΗ dT 1 (20)
= − ω
c p dt dt ρ c p
onde ω = dp / dt .
A Equação 19 pode ser utilizada para mostra que a taxa de variação vertical de
temperatura adiabática em coordenadas de pressão é representada por:
∂T 1 (21)
γ = =
∂p ρ c
d
p
86
dT 1 ψH (22)
= +γ ω
dt c dt
d
p
g ∂ ∂z g ∂z 1 ψH
− = V ⋅∇ + (γ − γ )ω + (26)
R ∂t ∂ ln p R ∂ ln p
p
c dt
d
p
A = −V ⋅ ∇ ( z − z )
∆Z p 0
(27)
−
g ∂
( z − z ) = − g A + (γ − γ )ω + 1 ψH ln p
∆Z
(28)
R ∂t
0
R c dt p
d
p 0
g ∂ 2 g 2 1 ψH p 0
∇ ( z − z 0 ) = ∇ A∆z + ∇ (γ d − γ )ω + ln
(29)
2
R ∂t R c p dt p
Logo define-se:
87
p
S ≡ (γ d − γ )ω ln 0 (30)
p
Onde a Equação 30 representa o termo de estabilidade, e:
1 ψH p 0 (31)
H≡ ln
cp dt p
Representa o termo de aquecimento diabático.
Se resolvermos a Equação 29, aplicando ∂ ζ T / ∂t obtém-se:
∂ζ T g 2 R R (32)
= ∇ A∆Z + ∇2 S + ∇2
∂t f f f
Ao substituímos a Equação 32 em 18, teremos:
δζ0 g R R (33)
= − ∇2 A∆Z − ∇2 S − ∇2 H + Aζ
δt f f f
Esta equação acima representa a variação local da vorticidade absoluta em baixos níveis
(1000 hPa), onde, substituindo-se a Equação 33 na Equação 8 obtemos a equação de
desenvolvimento:
δζ0 g R R (34)
= Aζ − ∇2 A∆Z − ∇2 S − ∇2 H + C ⋅ ∇ ζ 0
δt f f f
Através da Equação 34, temos a intensificação: δ ζ 0 / δt .
88
Figura 18 - Configuração dos sistemas de baixa pressão em 500 hPa, sem confluência e
sem difluência para o Hemisfério Sul.
5. EL-NIÑO
5.1 INTRODUÇÃO
El Niño e La Niña são alterações significativas de curta duração (12 a 18 meses) na
distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, com profundos
efeitos no clima. Estes eventos modificam um sistema de flutuação das temperaturas
daquele oceano chamado Oscilação Sul e, por essa razão, são referidos muitas vezes
como OSEN (Oscilação Sul-El Niño – ver abaixo). Seu papel no aquecimento e
arrefecimento global é uma área de intensa pesquisa, ainda sem um consenso.
O El Niño foi originalmente reconhecido por pescadores da costa oeste da América do
Sul, observando baixas capturas, à ocorrência de temperaturas mais altas que o normal
no mar, normalmente no fim do ano – daí a designação, que significa “O Menino”,
referindo-se ao “Menino Jesus”, relacionado com o Natal.
Durante um ano “normal”, ou seja, sem a existência do fenômeno El Niño, os ventos
alísios sopram na direção oeste através do Oceano Pacífico tropical, originando um
excesso de água no Pacífico ocidental, de tal modo que a superfície do mar é cerca de
meio metro mais alta nas costas da Indonésia que no Equador. Isto provoca a
ressurgência de águas profundas, mais frias e carregadas de nutrientes na costa ocidental
da América do Sul, que alimentam o ecossistema marinho, promovendo imensas
89
populações de peixes – a pescaria de anchoveta no Chile e Peru já foi a maior do
mundo, com uma captura superior a 12 milhões de toneladas por ano. Estes peixes, por
sua vez, também servem de sustento aos pássaros marinhos abundantes, cujas fezes
depositadas em terra, o guano, servem de matéria prima para a indústria de fertilizantes.
Quando acontece um El Niño, que ocorre irregularmente em intervalos de 2 a 7 anos,
com uma média de 3 a 4 anos, os ventos sopram com menos força em todo o centro do
Oceano Pacífico, resultando numa diminuição da ressurgência de águas profundas e na
acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul e,
conseqüentemente, na diminuição da produtividade primária e das populações de peixe.
Outra conseqüência de um El Niño é a alteração do clima em todo o Pacífico equatorial:
as massas de ar quentes e úmidas acompanham a água mais quente, provocando chuvas
excepcionais na costa oeste da América do Sul e secas na Indonésia e Austrália. Pensa-
se que este fenômeno é acompanhado pela deslocação de massas de ar a nível global,
provocando alterações do clima em todo o mundo. Por exemplo, durante um ano com El
Niño, o inverno é mais quente que a média nos estados centrais dos Estados Unidos,
enquanto que nos do sul há mais chuva; por outro lado, os estados do noroeste do
Pacífico (Oregon, Washington, Colúmbia Britânica) têm um inverno mais seco. Os
verões excepcionalmente quentes na Europa e as secas em África parecem estar
igualmente relacionados com o aparecimento do El Niño.
La Niña é o fenômeno inverso, caracterizado por temperaturas anormalmente frias,
também no fim do ano, na região equatorial do Oceano Pacifico, muitas vezes (mas não
sempre) seguindo-se a um El Niño. Também já foi denominado como “El Viejo” (“O
Velho”, ou seja, a antítese do “menino”) ou ainda o “Anti-El Niño”.
5.2 CARACTERISTICAS
Evento de El Niño e La Niña tem uma tendência a se alternar cada 3-7 anos. Porém, de
um evento ao seguinte o intervalo pode mudar de 1 a 10 anos;
As intensidades dos eventos variam bastante de caso a caso. O El Niño mais intenso
desde a existência de "observações" de TSM ocorreu em 1982-83 e 1997-98.
Algumas vezes, os eventos El Niño e La Niña tendem a ser intercalado por condições
normais. Como funciona a atmosfera durante uma situação normal e durante uma
situação de El Niño?: El Niño resulta de uma interação entre a superfície do mar e a
baixa atmosfera sobre o Oceano Pacifico tropical. O inicio e fim do El Niño e
determinado pela dinâmica do sistema oceano-atmosfera, e uma explicação física do
90
processo é complicada Para que o leitor possa entender um pouco sobre isso, propõe-se
um "modelinho simples", extraído do livro El Niño e Você, de Gilvan Sampaio de
Oliveira.
91
de nuvens numa grande área. Para que haja a formação de nuvens o ar teve que subir. O
contrário, em regiões com o ar vindo dos altos níveis da troposfera (região da atmosfera
entre a superfície e cerca de 15 km de altura) para os baixos níveis raramente há a
formação de nuvens de chuva. Mas até onde e para onde vai este ar ? Um modo
simplista de entender isso é imaginar que a atmosfera é compensatória, ou seja, se o ar
sobe numa determinada região, deverá descer em outra. Se em baixos níveis da
atmosfera (próximo à superfície) os ventos são de oeste para leste, em altos níveis
ocorre o contrário, ou seja, os ventos são de leste para oeste. Com isso, o ar que sobe no
Pacífico Equatorial Central e Oeste e desce no Pacífico Leste (junto à costa oeste da
América do Sul), juntamente com os ventos alísios em baixos níveis da atmosfera (de
leste para oeste) e os ventos de oeste para leste em altos níveis da atmosfera, forma o
que os Meteorologistas chamam de célula de circulação de Walker, nome dado ao Sir
Gilbert Walker. A abaixo mostra a célula de circulação de Walker, bem como o padrão
de circulação em todo o Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a presença
do fenômeno El Niño. Outro ponto importante é que os ventos alísios, junto à costa da
América do Sul, favorecem um mecanismo chamado pelos oceanógrafos de
ressurgência, que seria o afloramento de águas mais profundas do oceano. Estas águas
mais frias têm mais oxigênio dissolvido e vêm carregadas de nutrientes e micro-
organismos vindos de maiores profundidades do mar, que vão servir de alimento para os
peixes daquela região. Não é por acaso que a costa oeste da América do Sul é uma das
regiões mais piscosas do mundo. O que surge também é uma cadeia alimentar, pois os
pássaros que vivem naquela região se alimentam dos peixes, que por sua vez se
alimentam dos microorganismos e nutrientes daquela região.
92
Circulação observada no Oceano Pacífico Equatorial em anos sem a presença do El
Niño ou La Niña, ou seja, anos normais. A célula de circulação com movimentos
ascendentes no Pacífico Central/Ocidental e movimentos descendentes no oeste da
América do Sul e com ventos de leste para oeste próximo à superfície (ventos alísios,
setas brancas) e de oeste para leste em altos níveis da troposfera é a chamada célula de
Walker. No Oceano Pacífico, pode-se ver a região com águas mais quentes
representadas pelas cores avermelhadas e mais frias pelas cores azuladas. Pode-se ver
também a inclinação da termoclima, mais rasa junto à costa oeste da América do Sul e
mais profunda no Pacífico Ocidental. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael
McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle,
Washington, EUA.
Deve ser notado, na figura acima, que existe uma região chamada de termoclina onde há
uma rápida mudança na temperatura do oceano. Esta região separa as águas mais
quentes (acima desta região) das águas mais frias (abaixo desta região). Os ventos
alísios "empurrando" as águas mais quentes para oeste faz com que a termoclina fique
mais rasa do lado leste, expondo as águas mais frias.
Vamos agora voltar ao nosso "modelinho". Vamos imaginar o seguinte:
Desligue o ventilador, ou coloque-o em potência mínima. O que irá acontecer?
Agora, o arrasto que o vento estava provocando na água da piscina irá desaparecer ou
diminuir. As águas do lado oposto ao ventilador irão então refluir para que o mesmo
nível seja observado em toda a piscina. O Sol continuará aquecendo a piscina e as águas
deverão, teoricamente, estar aquecidas igualmente em todos os pontos da piscina.
Certo?
Então vamos correlacionar novamente com o Oceano Pacífico. O ventilador desligado
ou em potência mínima, significa neste caso o enfraquecimento dos ventos alísios. Veja
que os ventos não param de soprar. Em algumas regiões do Pacífico ocorre até a
inversão dos ventos, ficando estes de oeste para leste. Agora, todo o Oceano Pacífico
Equatorial começa a aquecer. E como dito anteriormente: aquecimento gera evaporação
com movimento ascendente que por sua vez gera a formação de nuvens. A diferença
agora é que ao invés de observarmos a formação de nuvens com intensas chuvas no
Pacífico Equatorial Ocidental, vamos observar a formação de nuvens principalmente no
Pacífico Equatorial Central e Oriental.
93
Figura 21 – Anomalia de TSM para o mês de dezembro de 1997. Fonte:
NCEP/CPTEC/INPE.
Impactos em diversas partes do globo são verificados em anos de El-Niño. A figura 22
sintetiza.
94
6. LA-NIÑA
6.1 INTRODUÇÃO
O fenômeno La Niña, que é oposto ao El Niño, corresponde ao resfriamento anômalo
das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial Central e Oriental formando uma
“piscina de águas frias” nesse oceano. À semelhança do El Niño, porém apresentando
uma maior variabilidade do que este, trata-se de um fenômeno natural que produz fortes
mudanças na dinâmica geral da atmosfera, alterando o comportamento climático. Nele,
os ventos alísios mostram-se mais intensos que o habitual (média climatológica) e as
águas mais frias, que caracterizam o fenômeno, estendem-se numa faixa de largura de
cerca de 10 graus de latitude ao longo do Equador desde a costa peruana até
aproximadamente 180 graus de longitude no Pacífico Central. Observa-se, ainda, uma
intensificação da pressão atmosférica no Pacífico Central e Oriental em relação à
pressão no Pacífico Ocidental.
6.2 ESTRUTURA
Para entender sobre La Niña, vamos retornar ao nosso "modelinho" descrito no item
sobre El Niño. Imagine a situação normal que ocorre no Pacífico Equatorial, que seria o
exemplo da piscina com o ventilador ligado, o que faria com que as águas da piscina
fossem empurradas para o lado oposto ao ventilador, onde há então acúmulo de águas.
Voltando para o Oceano Pacífico, sabemos que o ventilador faz o papel dos ventos
alísios e que o acúmulo de águas se dá no Pacífico Equatorial Ocidental, onde as águas
estão mais quentes. Há também aquele mecanismo que citei anteriormente, o qual é
chamado de ressurgência, que faz com que as águas das camadas inferiores do Oceano,
junto à costa oeste da América do Sul aflorem, trazendo nutrientes e que por isso, é uma
das regiões mais piscosas do mundo. Até aqui tudo bem, esse é o mecanismo de
circulação que observamos no Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a
presença do El Niño ou La Niña.
Pois bem. Agora, ao invés de desligar o ventilador, vamos ligá-lo com potência maior,
ou seja, fazer com que ele produza ventos mais intensos. O que vai acontecer?
Vamos tentar imaginar? Com os ventos mais intensos, maior quantidade de água vai se
acumular no lado oposto ao ventilador na piscina. Com isso, o desnível entre um lado e
outro da piscina também vai aumentar. Vamos retornar ao Oceano Pacífico. Com os
ventos alísios (que seriam os ventos do ventilador) mais intensos, mais águas irão ficar
"represadas" no Pacífico Equatorial Oeste e o desnível entre o Pacífico Ocidental e
95
Oriental irá aumentar. Com os ventos mais intensos a ressurgência também irá aumentar
no Pacífico Equatorial Oriental, e portanto virão mais nutrientes das profundezas para a
superfície do Oceano, ou seja, aumenta a chamada ressurgência no lado Leste do
Pacífico Equatorial. Por outro lado, devido à maior intensidade dos ventos alísios as
águas mais quentes irão ficar represadas mais a oeste do que o normal e portanto
novamente teríamos aquela velha história: águas mais quente geram evaporação e
conseqüentemente movimentos ascendentes, que por sua vez geram nuvens de chuva e
que geram a célula de Walker, que em anos de La Niña fica mais alongada que o
normal. A região com grande quantidade de chuvas é do nordeste do Oceano Índico à
oeste do Oceano Pacífico passando pela Indonésia, e a região com movimentos
descendentes da célula de Walker é no Pacífico Equatorial Central e Oriental. É
importante ressaltar que tais movimentos descendentes da célula de Walker no Pacífico
Equatorial Oriental ficam mais intensos que o normal o que inibe, e muito, a formação
de nuvens de chuva.
Em geral, episódios La Niñas também têm freqüência de 2 a 7 anos, todavia tem
ocorrido em menor quantidade que o El Niño durante as últimas décadas. Além do
mais, os episódios La Niña têm períodos de aproximadamente 9 a 12 meses, e somente
alguns episódios persistem por mais que 2 anos. Outro ponto interessante é que os
valores das anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) em anos de La Niña
têm desvios menores que em anos de El Niño, ou seja, enquanto observam-se anomalias
de até 4, 5ºC acima da média em alguns anos de El Niño, em anos de La Niña as
maiores anomalias observadas não chegam a 4ºC abaixo da média.
Episódios recentes do La Niña ocorreram nos anos de 1988/89 (que foi um dos mais
intensos), em 1995/96 e em 1998/99. "
96
Figura 23 - Circulação atmosférica em anos de La-Niña
Assim como o El-Niño, a La-Niña também tem seus impactos em determinadas regiões
do globo.
97
7. NORTH ATLANTIC OSCILATION (OSCILAÇÃO DO ATLÂNTICO NORTE)
7.1 INTRODUÇÃO
A história do NAO é bastante longa: o missionário Hans Egede Saabye fez uma
observação no seu diário de 1770 a 78: "Quando o Inverno na Dinamarca era severo, tal
como nos apercebemos, o inverno na Groenlândia era moderado, e reciprocamente."
Simultaneamente, flutuações coerentes na temperatura, precipitação e pressão ao nível
do mar foram sendo registradas, em locais tão a Este quanto a Europa Central, tão a Sul
como a África Ocidental Subtropical e tão a Oeste como a América do Norte.
As flutuações de NAO influenciam o clima da América do Norte à Sibéria e do Oceano
Ártico ao equador.
7.2 CARACTERISTICA E ÍNDICE
A intensidade da NAO é descrita pelo índice da NAO. O índice da NAO é a diferença
de pressão ao nível do mar entre duas estações meteorológicas situadas perto dos
centros da depressão da Islândia e do Anticiclone dos Açores. A estação de
Stykkisholmur (na Islândia) é usado como a estação a Norte enquanto que as estações
de Ponta Delgada (Açores), Lisboa (Portugal Continental) ou Gibraltar podem ser
utilizada como a estação a Sul.
Tal índice, tão simples, não pode ter em conta a possibilidade de os centros de ação do
padrão atual não coincidam com estas estações, ou pode não conseguir capturar as
variações sazonais com a devida precisão. Contudo, tal como se define, tal índice
apresenta uma vantagem fundamental que consiste na existência de registros que se
estendem até, pelo menos, 1864. Quando se correlaciona o índice com dados de pressão
à superfície em nós de uma rede surge o padrão dipolar norte-sul que define o padrão
espacial da NAO.
A fase positiva do índice NAO é caracterizada por um centro de altas pressões
subtropical mais intenso que o habitual e uma depressão mais cavada que o normal
sobre a Islândia. O aumento da diferença de pressão resulta num maior número e mais
intensas tempestades de Inverno a atravessar o Oceano Atlântico numa trajetória mais a
Norte. Nestas condições, os invernos na Europa são mais amenos e mais úmidos
enquanto que no Canadá e Groenlândia são mais secos e frios. Neste caso, a região
Leste dos EUA verifica invernos úmidos e amenos. Por exemplo, os
Invernos/Primaveras de 1989, 1990 e 1995 foram provocados por um deslocamento do
ar sobre o Ártico e Groenlândia para a cintura subtropical junto ao arquipélago dos
Açores e Península Ibérica, intensificando os ventos de Oeste sobre o Norte do Oceano
98
Atlântico. Ventos de Oeste mais intensos transportam mais umidade sobre o Continente
Europeu dando origem a invernos marítimos mais amenos.
A fase negativa do índice NAO revela o anticiclone subtropical e a depressão da
Islândia pouco intensa. A redução do gradiente de pressão resulta num menor número
de tempestades, de menor intensidade e com trajetória mais zonal (Oeste-Este). Esta
circulação transporta ar úmido para a região Mediterrânica e ar frio com possibilidade
de queda de neve mais a Norte. No entanto a Groenlândia verificará temperaturas de
inverno mais amenas. Os Invernos/Primaveras em que se verificaram baixos valores do
índice NAO como os de 1917, 1936, 1963 e 1969 caracterizaram-se por ventos de Oeste
menos intensos que a média sobre o Norte do Oceano Atlântico verificando a Europa
Invernos mais frios que a média.
99
de 1940 até ao princípio da década de 1970, o índice NAO apresentou uma tendência
decrescente a que correspondeu um período em que a temperatura de inverno na Europa
foram freqüentemente abaixo da média. Um aumento significativo verificou-se nos
últimos 25 anos. Desde 1980, o índice NAO de inverno tem-se mantido numa fase
positiva intensa e verificado uma tendência positiva de forma que no final do século XX
o índice apresentava os mais elevados valores alguma vez registrados (exceto 1996).
Esta situação tem contribuído para o aquecimento observado no Hemisfério Norte nas
duas últimas décadas.
Recentemente vários autores (e.g. Kidson, 1988; Yoden et al., 1987; Shiotani, 1990;
Wang, 1992; Hartmann e Lo, 1998; Gong e Wang, 1999; e Thompson e Wallace, 2000)
estudaram o primeiro modo de variabilidade da atmosfera no HS, ou seja a Antarctic
Oscillation (Oscilação Antárctica – AAO), com o objectivo de analisar a sua influência
no clima das latitudes médias-altas. A AAO, tal como a sua análoga no Hemisfério
Norte – a Artic Oscillation (AO, e.g., Thompson and Wallace, 1998) – corresponde a
uma oscilação de larga escala de massa atmosférica (ou do campo da pressão) entre as
latitudes médias e altas. A assinatura da AAO, também designada por modo anular do
sul (SAM de Southern Anular Mode, e.g., Limpasuvan and Hartmann 1999) tem um
carácter essencialmente barotrópico, podendo ser identificável com a primeira função
empírica ortogonal de diversos campos meteorológicos, quer à superfície quer na
média-alta troposfera, e.g, PNMM, geopotencial aos 1000 hPa ou 500 hPa, vento zonal,
ou temperatura (Thompson and Wallace, 2000). Assim, existem vários índices
possíveis, que condensam a variabilidade da AAO, tal como a primeira componente
principal do campo da PNMM, ou do geopotencial aos 850 hPa (Thompson and
100
Wallace, 2000), ou simplesmente como a diferença entre a média zonal da PNMM
normalizada a 40ºS e a 65ºS (Gong e Wang, 1999).
Diversos estudos salientam que a AAO explica uma fracção importante da variabilidade
interanual do HS, tal como a AO, a Oscilação do Atlântico Norte (NAO) e a Oscilação
do Pacífico Norte (PAO) no HN. A série temporal do índice da AAO (IOA) mensal
obtido por Gong e Wang (1999) (Figura 27) apresenta flutuações muito significativas ao
longo das últimas quatro décadas, incluindo uma tendência marcadamente positiva
detectada em índices obtidos quer a partir de dados de reanálises, quer puramente
observacionais.
A AAO é um tema bastante recetente, e por isso há muito puca avaliação de seus
impactos e no clima no hemosferio sul. Recentemente Mendes (2006) estudou a
influencia das fases da AAO na variabilidade dos ciclones extratropicais no hemisferio
sul, principalmente sobre a América do Sul. Eles encontraram pouca variabilidade em
ambas as fases da AAO, tendo um pequeno reflexo na intensidade dos ciclones em fase
negativa.
101
Figura 28 - Distribuição da pressão mínima de ciclones extratropicais no HS, para
Invernos e Verões dominados por modos negativos e positivos da AAO, conforme
indicado. Fonte: Mendes (2006).
102
Figura 30 – Anomalia de geopotencial em 500 hPa para novembro de 2003.
Anomalias positivas de geopotencial são verificadas sobre as Aleutas e
coincidentemente sobre a região centro-leste da América do Sul, encontra partida
anomalias negativas de geopotencial em 500 hPa são verificadas sobre o Pacifico
Central, criando com isso um dipolo positivo-negativo.
A PNA é observada em todos os meses com exceção de Junho e Julho, onde a fase
positiva tende a amplificar a crista troposferica em altos níveis na costa oeste da
América do Norte, o que leva a um forte escoamento meridional de ar polar para o sul
em direção ao EUA e América Central.
A fase positiva da PNA tende a ocorrer em anos de El-Niño, enquanto fases negativas
deste padrão são algumas vezes observadas durante episódios de La-Niña. Foi
verificado que entre 1991-92 e 1992-93 houve uma normalidade no sinal da PNA.
Entretanto, fase positiva e negativa desse padrão ocorre regularmente e o decaimento
desses padrões está direcionada amplamente pela dinâmica interna da atmosfera, mais
até do que uma resposta direta das forçantes externas atmosféricas.
103
Figura 31 - Índices da PNA entre 1900-2008.
A figura acima mostra o índice da PNA definida por:
1
PDO = [Z (20 N ,160W ) − Z (45 N ,165W ) + Z (55 N ,115W ) − Z (30 N ,85W )] (1)
4
Formulação essa definida por Wallace e Gutzler (1981).
A figura 30 mostra a PNA positivo, quando ocorre o PNA negativo (valores negativos
de geopotencial em 500 hPa) há uma inversão das anomalias em relação à figura 30.
104
A velocidade da MJO tem uma dependência geográfica, devido à interação com a
convecção, reduzindo a sua velocidade no Oceano Pacifico oeste e o Índico onde há
muita convecção associada a ela.
Figura 32 - Diversas fases do desenvolvimento da MJO (a) oeste do oceano Indico, (b)
perto da região de continente marítimo, (c) no Oceano Pacifico Oeste.
Segundo Innes (2002); Maloney e Hartmann (1998) também produziram um composto
do ciclo de vida da MJO com ventos tomados da Reanálise do NCEP, precipitação e
estimados de vapor de água a partir de dados de satélite. O trabalho confirmou a
importância do papel da convergência de umidade friccional a leste do complexo
convectivo. Eles adotaram como escala temporal da propagação para leste o tempo que
a convergência leva para estabelecer um nível crítico de umidade na coluna atmosférica
a leste do centro convectivo.
A maior incerteza sobre a relação exata da MJO com os campos de superfície, deve-se à
falta de medições in-situ. Zhang e McPhaden (2000) fizeram um estudo da variabilidade
intrasazonal dos fluxos de superfície no Pacífico Oeste, fazendo uso de bóias ancoradas.
Eles encontraram que os dados dos fluxos de superfície em regiões com dados dispersos
são sensitivos à formulação do modelo e, portanto não fornecem informação acurada.
Segundo McPhaden, isto se aplica a todas as análises e reanálises nos trópicos onde os
dados são poucos e dispersos.
ALGUMAS REFERENCIAS
105
SATYAMURTI, M.A.F. SILVA DIAS, I. GRAMMELSBACHER e E.
GRAMMELSBACHER, 1991: As chuvas de março de 1991 na região de São Paulo.
Climanálise, 6(5), 44-59.
106
PARTE 4
CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA
1. INTRODUÇÃO
A Classificação climática é de suma importância para o conhecimento das condições do
clima em uma determinada região, tanto a nível global como também regional, para isso
existe algumas classificações, mas as mais utilizadas são: Thornthwaite e Köppen.
Faremos neste capitulo uma abordagem das duas classificações climáticas, tanto a nível
global como também regional, neste caso para a América do Sul.
2. CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA
Clima tropical é a designação dada aos climas das regiões intertropicais caracterizados
por serem mega-térmicos, com temperatura média do ar em todos os meses do ano
superior a 18 °C, não terem estação invernosa e terem precipitação anual superior à
evapotranspiração potencial anual.
Nas regiões de clima tropical a variação diurna da temperatura (isto é, a diferença entre
os valores máximos e mínimos) é maior que a variação anual (ou sazonal) da
temperatura média, isto é, entre o mês mais quente e o mês mais frio do ano.
Os climas tropicais constituem a classe A da classificação climática de Köppen-Geiger,
a mais conhecida em geografia e ecologia, sendo subdivididos da seguinte maneira:
107
uma estação seca em que a precipitação média mensal é inferior a 60 mm em
pelo menos um mês por ano. São exemplos de cidades sitas em regiões com este
clima: Honolulu, Veracruz (no México) e Townsville (na Austrália). Estes
climas subdividem-se em dois grupos:
Aw — a estação seca ocorre durante a época de Sol mais baixo e dias mais
curtos (daí Aw, em que w é de winter, Inverno em inglês).
As — a estação seca ocorre durante a época de Sol mais alto e dias mais longos
(daí As, em que s é de summer, Verão em inglês).
108
Para encontrar o limiar de precipitação (em milímetros), multiplica-se a
temperatura anual média em °C por 20, acrescentar então 280 se 70% ou mais da
precipitação total ocorrer na metade do ano de sol alto (de Abril a Setembro no
Hemisfério Norte, ou de Outubro a Março no Hemisfério Sul), 140 se 30%-70%
da precipitação total for recebida durante o período aplicável, ou 0 se menos de
30% da precipitação total for recebida nesse período.
Algumas áreas de deserto, situadas ao longo das costas ocidentais dos continentes em
zonas tropicais ou semi-tropicais, são caracterizadas por temperaturas mais baixas do
que as que se podem encontrar em outros locais em latitudes comparáveis (devido à
vizinhança de correntes oceânicas frias) e por nevoeiro e nuvens baixas freqüentes. Isto
apesar do fato de se contarem entre os locais mais secos à face da Terra em termos de
precipitação recebida propriamente dita. Este clima é por vezes rotulado como BWn e
podem-se encontrar exemplos em Lima, Peru e em Walvis Bay, Namíbia.
Por vezes acrescenta-se uma quarta letra para indicar se seja o inverno, seja o verão, são
mais "molhados" do que a outra metade do ano. Para se incluir neste grupo, o mês mais
molhado deverá receber pelo menos 60 mm de precipitação média se todos os doze
meses estiverem acima dos 18°C, ou 30 mm (1.18 polegadas) se tal não for o caso; e
pelo menos 70% da precipitação total deverão ocorrer na mesma metade do ano que o
109
mês mais molhado - mas a letra utilizada indica quando a estação seca ocorre, não a
"molhada". Isto resultaria em Cartum, Sudão ser vista como BWhw, Niamey, Níger
como BShw, El Arish, Egipto como BWhs, Asbi'ah, Líbia como BShs, Umnugobi,
Mongólia como BWkw, e Xining, China como BSkw (os BWks e BSks não existem).
Se não se cumprirem os critérios nem para w nem para s, não se acrescenta qualquer
quarta letra.
J F M A M J J A S O N D
0 0 0 0 0 3 5 3 3 3 0 0
21 21 21 21 21 21 19 19 19 21 22 20
20 20 20 19 17 16 16 16 15 16 17 19
Temperaturas em °C • Precipitações em mm
Fonte: CDC/NOAA
J F M A M J J A S O N D
15 18 15 4 6 2 11 11 8 6 8 10
14 17 21 26 31 37 40 39 34 27 19 14
3 5 8 12 17 22 26 25 21 14 7 3
Temperaturas em °C • Precipitações em mm
Fonte: CDC/NOAA
Tabela 1 – Classificação das temperaturas máximas e mínimas para Lima (Peru) e Las
Vegas (EUA) assim como a precipitação média mensal respectivamente. Fonte:
CDC/NOAA.
O clima temperado caracteriza regiões cuja temperatura varia regularmente ao longo
do ano, com a média acima de 10°C, nos meses mais quentes e entre -3º e 18°C, nos
meses frios. Possuem quatro estações bem definidas: um verão relativamente quente,
um outono com temperaturas gradativamente mais baixas com o passar dos dias, um
inverno frio, e uma primavera, com temperaturas gradativamente mais altas com o
110
passar dos dias. Umidade depende da localização e condições geográficas de uma dada
região.
Nas regiões dos oceanos localizadas em regiões de climas temperados, diz-se que
possuem águas temperadas.
Nas siglas indicadas abaixo, a segunda letra indica o padrão de precipitação - w indica
invernos secos (a média do mês mais seco menor que um décimo da precipitação média
do mês de verão mais úmido, ou menos de 30 mm); s indica verões secos (a média do
mês mais seco com menos de 30 mm de precipitação e menos de um terço da
precipitação do mês de inverno mais chuvoso); f significa precipitação em todas as
estações.
A terceira letra indica o nível de temperaturas de verão - a indica que a média do mês
mais quente é superior a 22 °C; b indica que a média do mês mais quente é inferior a
22°C, com pelo menos 4 meses com médias acima de 10°C; c indica que 3 ou menos
meses têm temperaturas médias acima de 10°C.
Clima Temperado mediterrânico: Este clima caracteriza regiões situadas entre as
latitudes de 30º e 40º. O clima mediterrânico é o único onde a estação fria está associada
à estação das chuvas. Os invernos são caracterizados por temperaturas amenas, devido
às correntes marítimas quentes. É no inverno que se consegue observar algum índice de
precipitação, sendo que no verão a precipitação é quase nula. Os verões são quentes e
secos, devido aos centros barométricos de alta pressão. Nas áreas costeiras os verões são
mais frescos devido às correntes frias do oceano.
Exemplos:
Lisboa, Portugal
Madrid, Espanha
Roma, Itália
Santiago, Chile (Csb)
111
Ponta Delgada, Açores (Verão mais seco que o Inverno)
Limoges, França (Precipitação uniforme ao longo do ano)
Langebaanweg, África do Sul (Verão mais seco que o Inverno)
Prince Rupert, Colúmbia Britânica, Canadá (Verão mais seco que o Inverno).
Temperado sub-ártico (CfC): Tal clima acontece mais perto dos pólos que os climas
temperados marítimos e está limitado ou a estreitos litorais da parte ocidental dos
continentes, ou em ilhas de tais litorais, especialmente no Hemisfério Norte.
Exemplos:
Moscou, Rússia
Chicago, Estados Unidos
Clima continental: Esses climas apresentam temperatura média acima de 10ºC nos
meses de maior calor, e a média do mês mais frio é abaixo de -3ºC (ou 0ºC em algumas
versões). Normalmente ocorrem no interior dos continentes, ou em suas costas orientais,
ao norte da latitude 40º Norte. Climas do Grupo D não existem no Hemisfério Sul,
devido à massa menor de terras. A segunda e terceira letras são usadas como nos climas
do Grupo C, enquanto uma terceira letra do D indica 3 ou menos meses com
temperaturas médias acima de 10°C e uma temperatura no mês mais frio abaixo de -
38°C.
Climas do Grupo D se subdividem do seguinte modo:
Climas continentais com verões quentes (Dfa, Dwa, Dsa).
112
Gráfico climático para Pequim
J F M A M J J A S O N D
3 6 9 26 28 70 175 182 48 18 6 2
1 4 11 20 26 30 31 29 26 19 10 3
-9 -7 0 7 13 18 21 20 14 7 0 -7
Temperaturas em °C • Precipitações em mm
Fonte: CDC/NOAA
113
Exemplos: Sept-Iles, Quebeque (Dfc - distribuição uniforme da precipitação)
Anchorage, Alasca (Dfc, com verões mais úmidos que os invernos). Mount Robson,
Colúmbia Britânica (Dfc, verões mais secos que os invernos). Irkutsk, Rússia (Dwc).
O tipo Dsc, tal como os tipos Dsa e Dsb, está confinado a zonas elevadas localizadas
junto a zonas de climas mediterrânicos. É o mais raro destes três tipos, pois é necessária
altitude ainda mais elevada para que o clima ocorra. Exemplo: Galena Summit, Idaho.
Climas subárticos continentais com invernos extremamente rigorosos (Dfd, Dwd):
Ocorrem apenas na Sibéria Oriental. Os nomes de alguns dos lugares com tal clima -
principalmente Verkhoyansk e Oymyako - tornaram-se sinônimos de frio invernal
extremo e rigoroso.
O clima polar (ou clima glacial) ocorre nas costas eurasianas do Ártico, na
Groenlândia, ao norte do Canadá, no Alasca e na Antártida.
As temperaturas médias são muito baixas e ficam em torno de -30 ºC. No verão chegam
aos -10 ºC e no inverno podem alcançar os -60 ºC, sendo que na Antártida o inverno é
totalmente inóspito com temperaturas que podem chegar a -80 °C ou até mais baixas no
interior do continente. São regiões de ventos intensos e que ficam cobertas de gelo neve
durante todo o ano, com exceção das faixas litorâneas onde uma vegetação de tundra
aparece durante o curtíssimo verão. No inverno há dias em que o Sol não nasce, e certos
dias no verão ele não se põe (Sol da meia-noite). Também é um clima que apresenta
altas amplitudes térmicas diárias e anuais.
O índice pluviométrico é muito baixo, abaixo de 200 mm anuais, que se produzem em
forma de neve e ocorrem principalmente no verão.
A fauna das regiões mais conhecidas pelas suas baixas temperaturas e grandes
tempestades com velocidades de 10 ª por km/2º
bernacas
alcas
lagópodes
cachalotes
focas
porcelanárias-brancas
bacalhaus
baleias azuis
morsas
114
peixes-do-gelo
pingüins (de várias espécies como os imperadores)
ursos polares
belugas
lemingues
krill
elefantes-marinhos
leopardo-das-neves
fulmares-da-antártida (encontrados apenas na Antártida)
A tundra, formação vegetal própria do clima polar ou glacial, é muito rasteira,
constituída por ervas, musgos e líquens. Contudo, podem surgir alguns raros e dispersos
tufos de arbustos e árvores anãs. Uma característica muito peculiar da tundra é o
Permafrost (que se traduzido literalmente significa sempre gelado); o clima polar pode
conter também geleiras e regiões com camadas permanentes ou semi-permanentes de
gelo. E devido às condições climáticas das regiões polares ou glaciais, praticamente não
existe vegetação arbustiva e arbórea ou superior, e a tundra cresce somente na época do
degelo.
Na Terra, o único continente com predominância do clima polar de geleira é a
Antártida. Algumas regiões costeiras da Groenlândia também possuem essa
característica. Tais regiões, quando não completamente cobertas por gelo, apresentam a
tundra.
As partes ao norte da Eurásia, da costa da Escandinávia ao estreito de Bering, com
amplas áreas da Sibéria e no norte da Islândia também apresentam a tundra. Na parte
mais ao sul da América do Sul (como a Terra do Fogo) apresentam clima polar de
tundra.
115
Figura 1 – Classificação climática proposta por Köppen-Geiger. Fonte: The University
of Melbourne.
116
De acordo com a classificação climática de Arthur Strahler, predominam no Brasil
cinco grandes climas, a saber:
Quanto aos aspectos térmicos também ocorrem grandes variações. Como pode ser
observado no mapa das médias anuais de temperatura a seguir, a Região Norte e parte
do interior da Região Nordeste apresentam temperaturas médias anuais superiores a
25oC, enquanto na Região Sul do país e parte da Sudeste as temperaturas médias anuais
ficam abaixo de 20oC.
117
Figura 2 – Classificação climática Controlados por Massas de Ar Equatoriais e
Tropicais.
De acordo com dados da IBGE, temperaturas máximas absolutas, acima de 40oC, são
observadas em terras baixas interioranas da Região Nordeste; nas depressões, vales e
baixadas do Sudeste; no Pantanal e áreas rebaixadas do Centro-Oeste; e nas depressões
centrais e no vale do rio Uruguai, na Região Sul. Já as temperaturas mínimas absolutas,
com freqüentes valores negativos, são observadas nos cumes serranos do sudeste e em
grande parte da Região Sul, onde são acompanhadas de geadas e neve.
O quadro a seguir apresenta as temperaturas do ar, máximas e mínimas absolutas, das
capitais estaduais brasileiras.
118
UF CAPITAIS MÁXIMA MÍNIMA (oC)
o
( C)
RO Porto Velho (4) 34.8 15.0
AC Rio Branco (4) 35.6 -
AM. Manaus (5) 36.3 18.3
RO Boa Vista - -
PA Belém (5) 33.8 20.8
AP Macapá (1) 34.0 21.2
TO Palmas - -
MA São Luís (1) 32.8 20.6
PI Teresina (1) 38.1 17.8
CE Fortaleza (5) 33.3 21.3
RN Natal (5) 31.0 18.3
PB João Pessoa (5) 31.2 19.0
PE Recife (5) 32.0 18.4
AL Maceió (1) 34.4 18.0
SE Aracaju (3) 32.6 18.0
BA Salvador (1) 32.8 19.6
MG Belo Horizonte (3) 32.3 10.0
ES Vitória (1) 35.5 15.1
RJ Rio de Janeiro - -
SP São Paulo (5) 33.9 4.4
PR Curitiba (4) 31.6 -0.7
SC Florianópolis (3) 34.8 1.5
RS Porto Alegre (5) 37.2 -0.2
MS Campo Grande (4) 35.3 4.1
MT Cuiabá (5) 39.1 8.3
GO Goiânia (3) 36.2 8.9
DF Brasília (2) 31.6 7.0
Tabela 3 - Temperatura máxima e mínima para as capitais dos Estados Brasileiros.
Notas: (1) dados referentes a 1989; (2) dados referentes a 1990; (3) dados referentes a
1991; (4) dados referentes a 1992; e (5) dados referentes a 1993. Fonte: INMET.
Para uma caracterização mais detalhada, selecione a região de interesse.
Região Norte
Região Nordeste
Região Sudeste
Região Sul
Região Centro-Oeste
119
cortada, de um extremo a outro, pelo Equador e caracteriza-se por baixas altitudes (0 a
200 m). São quatro os principais sistemas de circulação atmosférica que atuam na
região, a saber: sistema de ventos de Nordeste (NE) a Leste (E) dos anticiclones
subtropicais do Atlântico Sul e dos Açores, geralmente acompanhados de tempo
estável; sistema de ventos de Oeste (O) da massa equatorial continental (mEc); sistema
de ventos de Norte (N) da Convergência Intertropical (CIT); e sistema de ventos de Sul
(S) do anticiclone Polar. Estes três últimos sistemas são responsáveis por instabilidade e
chuvas na área.
Quanto ao regime térmico, o clima é quente, com temperaturas médias anuais variando
entre 24o e 26oC.
Com relação à pluviosidade não há uma homogeneidade espacial como acontece com a
temperatura. Na foz do rio Amazonas, no litoral do Pará e no setor ocidental da região,
o total pluviométrico anual, em geral, excede a 3.000 mm. Na direção NO-SE, de
Roraima a leste do Pará, tem-se o corredor menos chuvoso, com totais anuais da ordem
de 1.500 a 1.700 mm.
O período chuvoso da região ocorre nos meses de verão - outono, a exceção de Roraima
e da parte norte do Amazonas, onde o máximo pluviométrico se dá no inverno, por
influência do regime do hemisfério Norte.
120
Por fim, o sistema de correntes de Oeste, trazidas pelas linhas de Instabilidade Tropical
(IT), ocorrem desde o final da primavera até o início do outono, raramente alcançando
os estados do Piauí e Maranhão.
Em relação ao regime térmico, suas temperaturas são elevadas, com médias anuais entre
20o e 28oC, tendo sido observado máximas em torno de 40oC no sul do Maranhão e
Piauí. Os meses de inverno, principalmente junho e julho, apresentam mínimas entre
12o e 16oC no litoral, e inferiores nos planaltos, tendo sido verificado 1oC na Chapada
da Diamantina após a passagem de uma frente polar.
A pluviosidade na região é complexa e fonte de preocupação, sendo que seus totais
anuais variam de 2.000 mm até valores inferiores a 500 mm no Raso da Catarina, entre
Bahia e Pernambuco, e na depressão de Patos na Paraíba. De forma geral, a precipitação
média anual na região nordeste é inferior a 1.000 mm, sendo que em Cabaceiras,
interior da Paraíba, foi registrado o menor índice pluviométrico anual já observado no
Brasil, 278 mm/ano. Além disso, no sertão desta região, o período chuvoso é,
normalmente, de apenas dois meses no ano, podendo, em alguns anos até não existir,
ocasionando as denominadas secas regionais.
121
Com relação ao regime de chuvas, são duas as áreas com maiores precipitações: uma,
acompanhando o litoral e a serra do Mar, onde as chuvas são trazidas pelas correntes de
sul; e outra, do oeste de Minas Gerais ao Município do Rio de Janeiro, em que as
chuvas são trazidas pelo sistema de Oeste. A altura anual da precipitação nestas áreas é
superior a 1.500 mm. Na serra da Mantiqueira estes índices ultrapassam 1.750 mm, e no
alto do Itatiaia, 2.340 mm.
Na serra do Mar, em São Paulo, chove em média mais de 3.600 mm. Próximo de
Paranapiacaba e Itapanhaú foi registrado o máximo de chuva do país (4.457,8 mm, em
um ano). Nos vales dos rios Jequitinhonha e Doce são registrados os menores índices
pluviométricos anuais, em torno de 900 mm.
O máximo pluviométrico da região Sudeste normalmente ocorre em janeiro e o mínimo
em julho, enquanto o período seco, normalmente centralizado no inverno, possui uma
duração desde seis meses, no caso do vale dos rios Jequitinhonha e São Francisco, até
cerca de dois meses nas serras do Mar e da Mantiqueira.
122
ou mesmo alcançar índices negativos, acompanhados de geada e neve, quando da
invasão das massas polares.
A pluviosidade média anual oscila entre 1.250 e 2.000 mm, exceto no litoral do Paraná
e oeste de Santa Catarina, onde os valores são superiores a 2.000 mm, e no norte do
Paraná e pequena área litorânea de Santa Catarina, com valores inferiores a 1.250 mm.
O máximo pluviométrico acontece no inverno e o mínimo no verão em quase toda a
região.
123
Figura 4 – Regime climático e gráfico com a temperatura média mensal e precipitação
para algumas cidades nas cinco regiões do Brasil. Fonte: IBGE – INMET.
ALGUMAS REFERENCIAS
124
PARTE 5
VARIABILIDADE CLIMÁTICA
1. INTRODUÇÃO
O clima de um local ou região varia, em geral, ao longo do ano como conseqüência do
movimento de translação em torno do Sol - variabilidade sazonal. Muitos elementos
climáticos (temperatura e umidade do ar, por exemplo) apresentam também marcadas
variações diurna, associada ao movimento de rotação da Terra.
Para além da variabilidade de tipo cíclico associada a movimentos astronômicos, muito
aproximadamente periódicos, o clima apresenta uma variabilidade natural interna, não
periódica, muito complexa, que faz com o clima num dado ano seja diferente do de anos
anteriores e de anos seguintes. Sabe-se que este tipo de variabilidade pode, em parte, ser
provocada por variações da intensidade da radiação solar e por variações na
transparência da atmosfera associadas, por exemplo, às erupções vulcânicas. No
entanto, existiria variabilidade climática mesmo que não existisse este tipo de variações
no forçamento pela radiação solar. De fato, existe variabilidade climática que está
apenas associada a fenômenos de interação, com realimentação, entre a atmosfera
(componente de variação rápida do sistema climático, com mudanças sucessivas do
estado do tempo) e os restantes componentes do sistema climático, de resposta mais
lenta, designadamente os oceanos, os gelos e a cobertura de neve.
Porque existe variabilidade climática os valores observados dos elementos climáticos
não são constantes. Ao longo do tempo ocorrem valores diversos com diversas
probabilidades, definidas pelas respectivas funções de distribuição.
125
analisando o caso mais recente de grande mudança climática (o último máximo glacial).
Este período (14.000–22.000 anos atrás) pode ser dividido nas fases de degelo
(aproximadamente 10.000–14.000 anos atrás), e do presente Holoceno interglacial (0-
10.000 anos atrás).
126
Figura 1 - Distribuição de gelo no hemisfério norte (terra e oceano) para janeiro há
18.000 anos.
Numerosos registros indicam grandes mudanças do clima nas áreas que fazem fronteiras
com as camadas de gelo. Na América do Norte e Europa (fig. 2.3) a tundra se estendeu
para o sul a partir das margens do gelo, com a extensão geográfica muito maior no oeste
da Europa do que na América do Norte (algumas partes dos depósitos de tundra não são
bem datados, mas é razoável assumir que elas refletem condições inteiramente glaciais).
Na América do Norte, a fina faixa de tundra foi substituída ao sul por uma floresta
boreal de pinheiros espruce. Ao sul de 35oN, florestas de carvalho, vegetação local de
pradaria, e baixos níveis de rios davam uma visão da aridez global da idade do gelo. O
limite de 34oN tem sido interpretado como a posição média da frente polar, que hoje é
localizada aproximadamente 1200 km ao norte, no sul do Canadá. Nas regiões ao sul da
geleira de Laurentide, existem combinações de mamíferos (elementos frios e quentes)
que não ocorrem no presente.
127
mar expuseram o estreito de Bhering, o cinturão de estepe deve ter continuado através
da Sibéria até o Alaska. Apesar das condições severas, o corredor Sibéria-Alaska
(Beringia) é notável por seus grandes números de fósseis de grandes vertebrados
(mamutes, bisões (búfalo norte-americano), veados, cavalos). Existe evidência que o
homem primitivo caçou essas populações durante sua migração para a América do
Norte.
Com poucas exceções, a maior parte do planeta parece ter sido seca durante a última
idade do gelo. Padrões de precipitação variaram por cinturão de latitude. Nas altas
latitudes, mudanças da taxa de acumulação nos núcleos de gelo da Groenlândia e
Antártica sugerem que a precipitação decresceu aproximadamente 50% nas regiões
polares.
As condições eram úmidas em algumas regiões terrestres das latitudes médias afetadas
pelos oestes deslocados equatorialmente e sistemas de baixa pressão que se formam
neste cinturão. Extensivo lagos (fig. 2.4) desenvolveu-se na “Great Basin” do oeste da
América do Norte e Rússia Européia. A proximidade das camadas de gelo podem ter
contribuído para a formação desses lagos por uma combinação de temperaturas do ar
inferiores (implicando menor evaporação), algum aumento de precipitação, e/ou água de
degelo glacial/ bloqueio físico de sistemas de drenagem. Uma combinação de aumento
de precipitação (cerca de 2.4 vezes) e declínio de temperatura (5-7oC) pode explicar
algumas mudanças no nível dos lagos no Pleistoceno no oeste dos Estados Unidos.
Contudo, como existe um número de incertezas nesses cálculos, estas estimativas
devem ser tratadas com cautela.
128
O clima foi relativamente úmido no noroeste da África, no “Middle East”, no sul da
Austrália, e no sul da América do Sul. Essas regiões, presentemente nas margens
polares dos cinturões áridos subtropicais, se beneficiaram dos deslocamentos dos
sistemas de baixa pressão das latitudes médias para o equador, que poderia
presumivelmente se deslocar ao longo da fronteira do gradiente máximo de temperatura
(margens do mar de gelo) em ambos os hemisférios (Figura 1).
O aumento total na aridez à superfície há 18.000 anos é consistente com um aumento
nas concentrações de poeiras atmosféricas, como registrado nos núcleos de gelo da
Groenlândia e Antártica e aumentos nos sedimentos eólicos soprados pelo vento nos
núcleos do mar profundo equatorial Atlântico. A aridez da Idade do Gelo é também
consistente com uma maciça transferência de carbono dos reservatórios terrestres para
os marinhos. A transferência de carbono glacial-interglacial é aproximadamente
equivalente a aproximadamente 1/4 a 1/3 da quantidade total de carbono armazenado
nas plantas, solos e na plataforma continental, i. e., aproximadamente 0.5-0.7 x 1018 g
de carbono. Como resultado do aumento da aridez e extensão do gelo, o albedo da
superfície (verão) aumentou de 0.14 para 0.22.
Além da evidência de rebaixamento do limite de acumulação de neve nas montanhas
tropicais, ocorreram também mudanças no clima nas regiões baixas. Nosso
conhecimento sobre mudanças na precipitação é melhor do que sobre mudanças na
temperatura. Estimativas esparsas da última são de aproximadamente 4-5oC.
Existe uma evidência moderadamente boa de que as regiões baixas tropicais foram mais
secas durante o último máximo glacial. Os níveis dos rios na África tropical e América
Central eram muito baixos, com níveis de água em alguns dos maiores lagos do leste
africano 250-500 m abaixo dos níveis presentes. Dunas de areia expandiram-se no sub-
Sahara e América Central. Tem sido sugerido que a floresta Amazônica pode ter sido
reduzida a poucos refúgios (regiões localizadas de precipitação mais elevada). Esta
hipótese é baseada em observações biológicas das variações geográficas presentes na
diversidade de vários tipos de biota da Bacia Amazônica, ex. angiospermas (plantas
com flores) e borboletas (Figura 5). As ilhas de alta diversidade podem refletir regiões
mais úmidas, enquanto regiões de baixa diversidade têm sido interpretadas como
savanas.
129
Figura 4 - Áreas de refúgio propostas para certas espécies de (a) angiospermas e (b)
borboletas na Bacia Amazônica durante as fases do clima seco no Pleistoceno.
Inferências sobre a história do clima tropical podem ser consideradas suspeitas devido à
escassez de boas localizações de regiões de baixadas. Dada às limitações da amostra,
existe uma razoável quantidade de evidências do decréscimo da precipitação tropical.
Por exemplo, existem acentuadas concentrações de feldspato e argila mineral ilita
(argilomineral) nos sedimentos do fundo do mar, originários dos rios Amazonas e Zaire
(Congo). Feldspato e ilita são normalmente alterados sob condições úmidas; então sua
preservação sugere condições mais secas. Pólen, esporos e fluxos de diatomácia nos
sedimentos do rio Zaire também indicam condições secas.
Existiram também mudanças na direção e velocidade do vento na idade do gelo.
Direções do vento médio mudaram dos presentes sudoestes para noroestes da idade do
gelo. A advecção de ar muito frio pelos fortes noroestes podem ter tido um significante
efeito nas taxas de evaporação na Corrente do Golfo. A maior quantidade de
130
transferência de calor latente do oceano para a atmosfera presentemente ocorre em tais
regiões, com eventos de escala sinótica associados com enormes fluxos de cerca de
800-1000 W/m2. Tais valores devem ter sido excedidos no último máximo glacial.
Estudos de índices de ressurgência e material transportado pelo vento em núcleos de
mares profundos sugerem aumentos de aproximadamente 20% para os oestes do
Pacífico Norte, aproximadamente 30% para os alíseos do Pacífico Norte e 50% para os
alíseos do Atlântico Norte. Variações na ressurgência ao longo da corrente do Peru são
consistentes com um aumento de 30-50% nos alíseos do Pacífico Sul. Apesar destas
mudanças, registros do Atlântico Norte equatorial leste indicam que os cinturões de
vento não mudam latitudinalmente com velocidades acentuadas.
Núcleos de gelo também registram informação sobre mudanças nos ventos na idade do
gelo. As estimativas são baseadas nas medições de concentrações de cloreto nos
núcleos. O cloreto origina-se como um sal marinho atmosférico. A concentração de sal
marinho sobre o oceano é uma função da altura acima da superfície do mar e da
velocidade dos ventos (quanto mais fortes os ventos, maior a concentração de sal
marinho).
Variados conjuntos de dados consistentemente indicaram que as velocidades do vento
global a superfície pode ter aumentado de 20 para 50% e talvez mais. Tais mudanças
nessa forçante podem ter exercido um forte efeito na circulação oceânica. Os ventos
mais fortes podem ter também afetado a formação de gelo marinho. Por exemplo, vento
mais forte no Oceano Sul podem ter causado um aumento da perda de calor oceânico
para a atmosfera de cerca de 100 W/m2.
Além dos altos níveis de poeira, os registros dos núcleos de gelo registram outro aspecto
notável da idade do gelo. Estudos com núcleos de gelo na Groenlândia e Antártica
indicam concentrações glaciais de CO2 (Figura 5) de aproximadamente 200 ppm,
aproximadamente 75-80 ppm menos do que o valor pré-industrial estimado de
aproximadamente 280 ppm. Concentrações de metano também caíram pela metade. As
variações de CO2 podem ser devido a variações na produtividade biológica marinha.
Causas para as variações de metano atmosférico não têm sido esclarecidas, mas podem
refletir aumento da aridez, já que terras úmidas são importantes fontes de metano.
Desde que ambos CO2 e CH4 absorvem radiação infravermelha que é emitida pela terra,
mudanças em suas concentrações irão causar uma realimentação climática. A
perturbação na forçante radiativa do CO2 é de aproximadamente 1.7 W/m2 e para o
metano é de aproximadamente 0.1-0.2 W/m2. Com a realimentação, as mudanças do
131
CO2 passam para 1.5oC nas temperaturas médias globais – aproximadamente 40% do
sinal do interglacial. Então as mudanças no CO2 representam uma amplificação muito
importante da mudança climática glacial-interglacial. Contudo as variações no metano
parecem ser muito pequenas para ter um efeito significante no efeito climático (~0.1-
0.2oC).
132
Figura 6 - Diferença entre a TSM moderna em Agosto e a TSM estimada no último
máximo glacial há 18.000 anos.
1.3.1 O HOLOCENO
Apesar dos remanescentes da geleira de Laurentide não terem desaparecido até
aproximadamente 7.000 anos atrás, o Holoceno inicial (aproximadamente 4.500-10.000
anos atrás) tem sido considerado mais quente do que os últimos 4500 anos.
As conclusões sobre o aquecimento do Holoceno inicial são baseadas em várias linhas
de evidência – deslocamentos latitudinais das zonas de vegetação no leste da América
do Norte e oeste da Europa e deslocamentos verticais de vegetação e/ou glaciais
montanhosos no oeste da América do Norte, Europa Alpina e Nova Guiné. Um exemplo
particularmente dramático envolve um pulso do aquecimento do Holoceno no norte do
Canadá em torno de 9.000 anos atrás. Vários sítios nas latitudes médias e altas do
Hemisfério Sul também registraram condições mais quentes durante o Holoceno inicial.
133
profundo são suficientemente baixas, impedindo algumas vezes a discriminação
temporal confiável. Além disso, técnicas de testemunha usadas para recuperar
sedimentos em mar profundo muito freqüentemente perdem os primeiros 20-30 cm do
testemunho – um intervalo que compreende o Holoceno final.
Existe informação suficiente dos núcleos de mar profundo para descrever as seguintes
conclusões sobre diferenças entre o Holoceno inicial e final. Deslocamentos da fauna no
sul das regiões polares indicam que águas aquecidas penetram em latitudes mais altas
no Holoceno inicial. A evidência para maior aquecimento no Holoceno inicial é muito
mais ambíguo no Atlântico Norte, uma conclusão que parece ter surgido por diferenças
negligenciáveis entre os valores de δ18O nos núcleos de gelo da Groenlândia entre o
Holoceno final e inicial.
A transição de aproximadamente 3500-4500 anos atrás marca o retorno dos climas mais
frios e mais secos do final do Holoceno. O resfriamento do Holoceno final é algumas
vezes denominado Neoglaciação. Desde este período, a circulação no Atlântico Norte
tem estado aproximadamente na sua posição presente.
A primeira metade do Holoceno foi também marcada por diferenças significantes nos
padrões de precipitação (Figura 7). Por exemplo, existiu uma extensão leste da
“Península de Pradaria” nas Grandes Planícies da América do Norte com um
decréscimo estimado de 20% na precipitação. O oeste da América do Norte foi também
mais seco (um intervalo conhecido como “Altithermal” nesta região).
134
mais forte em sedimentos longe da costa. No Mar das Arábias oeste, fora da costa da
Arábia Saudita, a fauna do Holoceno inicial indica maior ressurgência, causada por um
escoamento sudoeste mais forte (e então acentuado transporte de Ekman das águas
superficiais frias para a superfície). No norte da Baia de Bengália (Índia), uma espécie
foraminífera, indicativa de baixa salinidade aumentou em abundância. Este aumento
pode ser interpretado em termos de maior escoamento dos rios Ganges e Brahmaputra.
Camada de baixa salinidade superficial no leste dos Mares Mediterrâneo e Vermelho,
provavelmente resultantes de acentuada vazão, impediu o transbordamento, levando a
sedimentos ricos em matéria orgânica no Mediterrâneo e acumulação de salmoura rica
em metal no Mar Vermelho.
Figura 7 - Reconstrução dos níveis dos lagos durante a parte inicial do presente
Holoceno interglacial (6.000 anos atrás), mostrando que muitas áreas nos trópicos eram
mais úmidas do que no presente.
14
Outro aspecto do Holoceno envolve mudanças nos níveis de C atmosférico. Sabe-se
14
que existe um desvio secular nos registros de C atmosférico. Contudo até
recentemente não era possível distinguir satisfatoriamente entre várias hipóteses (desvio
geomagnético, mudanças na radiação solar, ou mudanças no clima) que pudessem afetar
14
o reservatório de C atmosférico. Por exemplo, a variação das taxas de produção de
14
águas profundas poderia variar as taxas pelas quais a água antiga reduzida de C é
ressurgida e exposta à atmosfera. Variações no campo geomagnético da Terra podem
ser primariamente responsáveis pelas flutuações indicadas na figura 8. Esta
interpretação é suportada por medições paleomagnéticas diretas.
135
Figura 8 - Variações de 14C atmosférico nos últimos 10.000 anos.
136
Figura 9 - Ciclos de Milankovitch (Fonte: Moran e Morgan, 1991).
A órbita da Terra torna-se mais excêntrica (elíptica) e depois mais circular num ciclo de
aproximadamente 100.000 anos. O fluxo médio anual incidente varia em função da
excentricidade da órbita, E.
da − d p
E= (1)
da + d p
onde:
da= distância Terra-Sol no afélio (Terra mais afastada do Sol, atualmente em torno do
dia 05 de julho)
dp = distância Terra-Sol no periélio (Terra mais próxima ao Sol, atualmente em torno
do dia 03 de janeiro)
A excentricidade da órbita de um planeta indica o quanto sua órbita se desvia de um
círculo. Quanto maior a excentricidade maior o valor de E e para o círculo E = 0.
Para maiores valores de E existe menor fluxo anual incidente. O valor corrente de E é
0.017. Nos últimos 5 milhões de anos ele tem variado de 0.000483 a 0.060791. Essas
137
variações têm resultado em mudanças no fluxo incidente de +0.014 a –0.17% do valor
corrente.
A obliqüidade, a inclinação do eixo da Terra, é o ângulo entre o eixo da Terra e o plano
de eclíptica (o plano no qual situam-se os corpos do sistema solar). Esta inclinação varia
de aproximadamente 22o a 24.5o, com um período de aproximadamente 41.000 anos. O
valor corrente é 23.5o. Variações sazonais dependem da obliqüidade: se a obliqüidade é
grande, os contrastes sazonais também aumentam de forma que os invernos são mais
frios e os verões mais quentes em ambos os hemisférios. As mudanças na obliqüidade
têm relativamente pouco efeito na radiação recebida nas baixas latitudes, mas o efeito
aumenta em direção aos pólos.
A órbita da Terra é uma elipse em torno do Sol, que fica em um dos focos. Devido à
interação gravitacional com os outros planetas, Júpiter primariamente, o periélio (o
ponto da órbita terrestre mais próxima ao Sol) move-se no espaço de forma que a elipse
é modificada ao longo do espaço. A precessão orbital irá causar uma progressiva
mudança na época dos equinócios. Essas mudanças ocorrem de tal forma que duas
periodicidades são aparentes: 23.000 anos e 18.800 anos. Essa mudança, assim como a
obliqüidade, não altera a radiação total recebida, mas afeta sua distribuição temporal e
espacial. Por exemplo, o periélio ocorre atualmente em 5 de janeiro, no meio do verão
do hemisfério sul, mas daqui há 11.000–15.000 anos ele irá ocorrer em julho. No atual
valor da excentricidade existe uma variação de 6% na constante solar entre o periélio e
o afélio (1411-1329 W/m2).
CteSolarxπr 2
(2)
4πr 2
138
Por conveniência vamos considerar este valor como 100 unidades, distribuídas da
seguinte forma (Figura 10):
3 são absorvidas na estratosfera principalmente pelo ozônio.
18 são absorvidas na troposfera (1 unidade pelo dióxido de carbono, 12 pelo
vapor d’água, 2 pelas poeiras e 3 pelas gotas de água nas nuvens).
20 são refletidas para o espaço a partir das nuvens
8 são refletidas para o espaço pela superfície
3 são refletidas para o espaço pelo espalhamento atmosférico
27 alcançam a terra diretamente
21 alcançam a terra como radiação difusa
139
T =4
(0,69 * 342Wm ) −2
0
(5,67 *10 −8
Wm − 2 K − 4 ) = 254K = −19 C (3)
140
Figura 11 - Contribuição de cada um dos gases de efeito estufa antropogênicos para a
forçante radiativa, no período 1980 a 1990. A contribuição do ozônio, apesar de
significativa, ainda não pode ser quantificada.
141
Figura 12 - Concentração de gases de efeito estufa no período 1750-1990.
a) Dióxido de carbono
Entre os gases liberados na atmosfera pelas atividades humanas, um dos mais
importantes é o CO2 . O dióxido de carbono é bem misturado na atmosfera com uma
razão de mistura quase uniforme de, atualmente, 350 ppbv. Junto com o vapor d’água e
o ozônio ele desempenha um papel importante no aquecimento da atmosfera, podendo
permanecer de 50 a 200 anos na atmosfera e sendo responsável por cerca de 55% do
efeito estufa. As moléculas de CO2 são transparentes a radiação solar de onda curta mas
são fortes absorvedoras da radiação infravermelha emitida pela superfície da terra.
Através da absorção o CO2 impede que parte da radiação emitida pela superfície seja
perdida no espaço. Quanto mais CO2 existir na atmosfera maior será a quantidade de
radiação absorvida, levando ao aquecimento na atmosfera inferior. Então o aumento de
CO2 e outros gases traços podem ter profundo efeito no clima.
A quantidade de CO2 tem aumentado cerca de 25% desde o início da revolução
industrial (~1850) quando sua razão de mistura era da ordem de 280 ppmv. A fig. 3.7 dá
a série temporal da razão de mistura do CO2 medida desde 1958 no observatório da
montanha de Mauna Loa no Hawaii. Nota-se que a taxa de aumento tem sido em média
1 ppmv/ano, mas têm aumentado 1.5 ppmv/ano nos anos recentes, parcialmente em
resposta as taxas de queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás
natural e turfa). Além desta fonte antropogênica existem também importantes trocas de
CO2 com os oceanos e a biosfera. As interações com a biosfera ocorrem através da
fotossíntese e processos de oxidação. O efeito líquido do desflorestamento, tais como a
redução das florestas tropicais, o uso extensivo de fertilizantes, e o decaimento geral da
matéria orgânica podem constituir uma pequena fonte de CO2 atmosférico comparado
ao “input” de combustíveis fósseis, mas ainda é considerável.
142
Figura 13 – Série temporal da concentração de CO2 atmosférico em partes por milhão
por volume (ppmv) medido no observatório Mauna Loa, Hawaii (19.5oN/155oW) entre
1958 e 1988.
A variação anual quase senoidal na figura 13, de aproximadamente 6 ppmv, é associada
ao ciclo anual da fotossíntese. A fase desta respiração regular da biosfera global é
dominada pelo ciclo de vegetação do HN, com consumo de CO2 durante a primavera e
verão, levando a uma concentração mínima em Mauna Loa no final do outono e, com
liberação de CO2 na atmosfera durante o final de outono e inverno, levando a uma
concentração máxima em Mauna Loa na primavera.
Dados paleoclimáticos obtidos a partir de testemunhos de gelo mostram que existe uma
forte relação entre as alterações na temperatura média da Terra e a concentração de CO2
na atmosfera nos últimos 160 mil anos (Figura 14).
143
Figura 14 – As análises de bolhas de ar dos testemunhos de gelo da estação Vostok na
Antártica revelam que nos últimos 160 mil anos, os níveis de CO2 (curva superior)
estiveram bem correlacionados com as variações de temperatura do ar (curva inferior).
As temperaturas são derivadas das análises dos isótopos de oxigênio.
b) Metano
Depois do CO2, o metano (CH4) é o segundo gás mais importante do efeito estufa. O
metano é produzido naturalmente por bactérias no aparelho digestivo do gado, aterros
sanitários, plantações inundadas, mineração e queima de biomassa. Além dessas fontes
naturais estão as plantações de arroz, fermentação entérica (intestinal), digestão de
biomassa, manejo de resíduos, manipulação de combustíveis fósseis e perdas de gás
natural. Apesar de ter um tempo de permanência na atmosfera de cerca de 15 anos, ele
contribui com aproximadamente 15% do efeito estufa e absorve 20 vezes mais calor que
o CO2. A sua concentração desde o período pré-industrial, que era de 700 ppbv
aumentou em 140%.
c) Ozônio troposférico
144
indicam haver uma maior concentração de ozônio troposférico no hemisfério norte. Essa
concentração pode variar espacialmente e temporalmente, aumentando entre 0,5-4,0%
ao ano. Um número adotado por diversos pesquisadores, a partir de algumas
observações em todo o mundo é de cerca de 40 ppbv para a concentração de ozônio nos
dias atuais.
d) Óxido nitroso
O óxido nitroso (N2O) é liberado naturalmente por micróbios no solo (por um processo
denominado nitrificação). Sua concentração aumentou drasticamente em função do uso
de fertilizantes químicos, produção de nylon, ácido nítrico, queima de biomassa,
desmatamento e emissões associadas à queima de combustíveis fósseis. Apresenta uma
absorção cerca de 300 vezes mais eficiente que o dióxido de carbono e participa com
cerca de 6% do efeito estufa. Desde os tempos pré-revolução industrial, a sua
concentração atmosférica elevou-se em mais de 10%, de 280 até 309 ppbv.
e) Halocarbonos
Os halocarbonos (CFCs, HCFCs e outros) são compostos químicos produzidos pelo
homem, contendo em sua estrutura molecular átomos halógenos, principalmente flúor,
cloro e bromo. Os clorofluorcarbonos conhecidos como gás freon são inodoros, não
tóxicos, não inflamáveis, não explosivos e estáveis na atmosfera. Sua produção
começou na década de 30 com o avanço da refrigeração e antes da Segunda Guerra
Mundial, o seu uso ainda era limitado. Desde então vêm sendo utilizados em geladeiras,
aparelhos de ar-condicionado, isolamento térmico, espumas, como propelente de
aerossóis, etc. Os halocarbonos são pouco reativos, sendo transportados para a
estratosfera, onde suas moléculas são quebradas pelos raios ultravioletas, liberando
átomos de cloro que atuam na destruição da camada de ozônio.
145
na figura 15 de Naujokat (1986). A figura mostra um padrão de ventos oeste e leste se
alternando sobre o equador, com um período médio de aproximadamente 27 meses e
que alcançam valores extremos da ordem de –30 a 20 m/s. Parece haver uma
propagação para baixo do sinal da OQB com uma velocidade de aproximadamente 1
km/mês. A amplitude da oscilação não muda muito com a altura acima de 50 hPa mas
decresce rapidamente abaixo deste nível.
Esta oscilação pode ser prevista com alguma confiança com quase um ano de
antecedência. A fase leste da OQB é associada com fortes ventos leste na estratosfera
inferior entre 10oN e 15oN, produzindo um grande cisalhamento vertical do vento. Esta
fase persiste geralmente por 12 a 15 meses e inibe a formação de furacões. A fase oeste
da OQB exibe fracos ventos leste na estratosfera inferior e fraco cisalhamento vertical
do vento. Esta fase, que dura tipicamente entre 13 e 16 meses, é associada com
acréscimo de 50% de tempestades, 60% de furacões e 200% de furacões mais intensos
com relação à fase leste.
146
2.3.2 A TÉCNICA DA PREVISÃO CLIMÁTICA POR CONJUNTO CONDUZIDA:
CPTEC/INPE
Uma forma de maximizar e prever a “priori” o desempenho da previsão é utilizar a
técnica da previsão por conjunto (“ensemble forecasting”), esquematizada na figura 4.2.
Como a noção de previsibilidade está relacionada à taxa de divergência de previsões
inicializadas a partir de estados iniciais quase idênticos, uma técnica para estimar a
previsibilidade pode ser construir um conjunto de possíveis estados iniciais,
ligeiramente diferentes da análise inicial e rodar o modelo numérico a partir de cada
estado inicial, produzindo um conjunto de previsões para cada condição inicial. A partir
daí, a previsão final pode ser obtida utilizando-se métodos estatísticos, como a média
das várias previsões produzidas.
147
gerar as perturbações iniciais (Vukicevic, 1991; Palmer, 1993) é muito maior nas
situações de previsões de médio prazo ou estendidas (até 30 dias) pois nestes casos a
previsibilidade é muito mais uma função das condições iniciais. No caso da previsão
climática sazonal um método simples para gerar o conjunto de estados iniciais é
escolher condições iniciais intercaladas de 24 horas. A simplicidade na escolha das
condições iniciais pode ser justificada pela escala temporal do problema. Nesta escala
de tempo sazonal assume-se que a previsibilidade não é uma função do estado inicial,
mas sim uma resposta da atmosfera às condições de contorno (Stern e Miyakoda, 1995).
No CPTEC são geradas mensalmente, desde janeiro de 1995, previsões sazonais
utilizando-se o modelo de circulação geral atmosférico (MCGA) CPTEC/COLA,
inicialmente com 4 e atualmente com 25 membros (Cavalcanti, 1996). Previsões
consecutivas, com intervalo de 24 horas, são inicializadas a partir de análises do NCEP
de 00Z, cada uma representando um membro da previsão por conjunto. Atualmente os
conjuntos são formados por vinte e cinco membros, inicializados cerca de dois meses e
meio antes do início do período a ser previsto. Por exemplo, a previsão para o período
abril a junho de 1999, rodada no início de abril de 1999, utiliza condições iniciais de
janeiro de 1999, fazendo-se o membro 13 coincidir com a metade deste mês, dia
15/01/99 (tabela 2). Neste caso, nos meses de fevereiro e março de 1999 são realizadas
simulações, uma vez que se utilizam dados observados de TSM.
148
Para cada condição inicial, o modelo é integrado três vezes, dependendo das condições
de contorno inferior utilizadas. Tais integrações serão denominadas aqui controle,
ATSM persistida e TSM prevista: a) controle – utilizam-se valores climatológicos da
TSM; b) ATSM persistida – utilizam-se TSMs diárias observadas entre a data da
condição inicial até o final do mês anterior àquele no qual está sendo feita a integração,
e para os meses de previsão ATSMs persistidas somadas ao campo médio climatológico
de TSM do mês em questão; e c) TSM prevista - TSMs diárias observadas entre a data
da condição inicial até o final do mês anterior àquele no qual está sendo feita a
integração, e para os meses de previsão utiliza-se TSMs previstas pelo “Statistical
Modeling System of the Oceans” (SIMOC) sobre o Atlântico tropical (Repelli & Nobre,
1998) e pelo modelo acoplado oceano-atmosfera do NCEP sobre o Pacífico equatorial.
Nos demais oceanos utilizam-se ATSMs persistidas somadas à climatologia de TSM do
mês em questão. Os dados observados de TSM são ajustados por interpolação ótima de
Reynolds (Reynolds & Smith, 1994).
A seguir são calculadas as médias dos 25 membros das diferenças entre as integrações
TSM persistida e controle e das diferenças entre as integrações TSM previstas e
controle, de modo a fornecer a previsão da anomalia do conjunto. Calcula-se a anomalia
de um campo qualquer ao invés do próprio campo para diminuir o impacto dos erros
sistemáticos do modelo ao representar a climatologia.
Ao final das integrações da previsão por conjunto os resultados para cada membro do
conjunto devem ser analisados. Normalmente comparam-se as anomalias de uma dada
variável (por exemplo, precipitação) em um determinado domínio geográfico (por
exemplo, Nordeste do Brasil) através de um diagrama conhecido como diagrama de
"plumas" (Figura 17). Muitas vezes as previsões de cada membro apresentam uma
mesma tendência, como mostra o exemplo da figura 17.
149
Figura 17 - Previsão climática de anomalia de precipitação (com 25 membros) para a
região norte do Nordeste do Brasil.
Alguns exemplos de mapas de previsão feita pelo CPTEC/INPE e pelo International
Research Institute for Climate and Society (IRI).
150
2.4 PROJEÇÕES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ATÉ 2100
O objetivo desta unidade é apresentar um conjunto de caracterizações possíveis de
mudanças climáticas durante o século XXI, preparado por Carter e Hulme (1999),
utilizando cenários provisórios de emissões do Special Report on Emissions Scenarios
(SRES). Tais resultados serviram como guia para o Terceiro Relatório de Avaliação do
Grupo II do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change).
Representantes de 178 países estiveram presentes na Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio de Janeiro entre 03 e 14 de junho de
1992 (CNUMAD). Simultaneamente a este evento oficial de caráter
intergovernamental, realizou-se o Fórum Global das Organizações Não Governamentais
(ONGs), reunindo cerca de 4000 entidades da sociedade civil do mundo todo, um
evento sem precedentes até então, quer pelo número de entidades e pessoas envolvidas,
quer pelos seus resultados: 36 documentos e planos de ação elaborados durante este
Fórum. A esses dois eventos se denominou popularmente de Eco-92 ou Rio-92.
A CNUMAD teve como resultado a aprovação de vários documentos envolvendo
convenções, declarações de princípios e a Agenda 21, considerada como um de seus
resultados mais importantes. Os documentos oficiais aprovados nessa Conferência são
os seguintes:
Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento;
Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas
A Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas (CQMC) foi criada pela Organização
das Nações Unidas (ONU), diante dos crescentes problemas ambientais de origem
antropogênica, tais como intensificação do efeito estufa, depleção na camada de ozônio,
chuva ácida, desmatamento, e outros. A negociação da CQMC foi iniciada em 1990 e
foi assinada inicialmente pelo Brasil durante a Eco-92. Depois da assinatura do Brasil
seguiram-se mais 170 países. A Convenção entrou em vigor no dia 21/03/94. Ao
contrário da maioria dos outros instrumentos legais internacionais, a CQMC teve
origem no conhecimento científico: O Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática, conhecido como IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change).
151
O IPCC, estabelecido em 1988 pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) e pelo
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o meio Ambiente), é composto por cerca
de dois mil cientistas. Em 1990 o IPCC terminou o seu primeiro relatório de avaliação
que serviu de base para a Eco-92. Em 1995 o IPCC concluiu seu segundo relatório de
avaliação, chegando à conclusão que as evidências científicas indicavam uma influência
perceptível no clima global, no que se refere às atividades humanas. O IPCC é
composto por três grupos: o primeiro se preocupa com as questões físicas que envolvem
as mudanças climáticas, o segundo ocupa-se das avaliações ambientais e dos impactos
sócio-econômicos relacionados às mudanças climáticas e o terceiro dedica-se às
medidas de mitigação, ou seja, formulam as estratégias de respostas as mudanças
climáticas.
Voltando ao CQMC, o seu objetivo central é o de alcançar a estabilização das
concentrações dos gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma
interferência antrópica perigosa no sistema climático. Este nível deverá ser alcançado
num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à
mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos não seja ameaçada e que
permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de maneira sustentável.
A Convenção é baseada em dois princípios básicos: O primeiro deles é o da precaução,
segundo o qual a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para
que os países posterguem a adoção de medidas para prever, evitar ou minimizar as
causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. O segundo é o da
responsabilidade comum, porém diferenciada. De acordo com este princípio, a maior
parcela das emissões globais, históricas e atuais, de gases de efeito estufa é originária
dos países desenvolvidos. As emissões per capita dos países em desenvolvimento ainda
são relativamente baixas e a parcela de emissões globais originárias dos países em
desenvolvimento crescerá para que eles possam satisfazer suas necessidades sociais e de
desenvolvimento.
No âmbito da CQMC, com base no princípio da responsabilidade comum, porém
diferenciada, foram estabelecidas, basicamente, dois grupos de países: as Partes do
Anexo I, ou seja, países que são listados no Anexo I do texto da Convenção, e as Partes
não-Anexo I, ou seja, que não são listados no referido Anexo. O chamado Anexo I da
CQMC inclui os países industrializados que eram membros da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos) em 1992 mais a Comunidade
Européia e países da ex-União Soviética e do Leste Europeu. São as Partes do Anexo I:
152
Alemanha, Austrália, Belarus, Bélgica, Bulgária, Canadá, Comunidade Européia,
Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos da América,
Estônia, Federação Russa, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália,
Japão, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Nova
Zelândia, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do
Norte, República Tcheca, Romênia, Suécia, Suíça e Turquia, Ucrânia. Entre os países
do não-Anexo I estão incluídos todas as outras partes da CQMC que não estão listados
no Anexo I.
De acordo com a própria CQMC os países pertencentes ao Anexo I tinham se
comprometido a voltar em 2000 aos níveis de emissões antrópicas de gases de efeito
estufa de 1990. A maioria dos países não conseguiu honrar seus compromissos, com
exceção do Reino Unido (devido a significativas alterações na sua matriz energética,
pela descoberta de grandes reservas de gás natural no Mar do Norte e a conseqüente
desativação de minas de carvão mineral) e a Alemanha (pela reestruturação de seu
parque industrial após unificação com a ex-Alemanha Oriental). Os países
industrializados da ex-União Soviética e maioria dos países do leste Europeu
encontravam-se numa situação sui generis de redução de emissões devido à crise
econômica que havia se abatido sobre esses países.
Assim, avaliados que os compromissos assumidos pelas Partes do Anexo I não seriam
cumpridos, foi adotado em Berlim, em 1995, na I Conferência das Partes da Convenção
do Clima, uma resolução denominada “Mandato de Berlim”, com o objetivo de rever os
compromissos anteriormente assumidos na Convenção. O Mandato de Berlim
estabelece que os países desenvolvidos deveriam, com base no princípio da
responsabilidade comum, porém diferenciada, definir num Protocolo, limitações
quantificadas e objetivos de redução dentro dos prazos de 2005, 2010 e 2020 para suas
emissões antrópicas por fontes e remoções por sumidouro de todos os gases de efeito
estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal, bem como descrever as políticas e
medidas que seriam necessárias para alcançar essas metas, com um prazo até a III
Conferência das Partes.
Na III Conferência das Partes, realizada em Kyoto (Japão) em 12/97, foi adotado um
Protocolo à Convenção sobre Mudança do Clima, conforme estabelecido no Mandato
de Berlim, resultado de 2 anos de negociação desde aquela resolução. Tal protocolo
estabelece uma redução de pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 das emissões
antrópicas combinadas de gases de efeito estufa para os períodos de 2008 e 2012.
153
A grande inovação do Protocolo de Kyoto consiste na possibilidade de utilização dos
mecanismos de flexibilidade para que os países do Anexo I possam atingir os objetivos
de redução de gases de efeito estufa. São três as medidas de flexibilidade:
implementação conjunta, mecanismo de desenvolvimento limpo e comércio de
emissões.
Implementação conjunta (joint implementation): consiste na possibilidade de um
país financiar projetos em outros países (apenas entre países do Anexo I) como
forma de cumprir seus compromissos. Por exemplo, a França doa tecnologia de
ponta para uma termelétrica a gás polonês para que esta substitua outra antiga a
carvão. A Polônia vai subtrair uma quantidade de CO2 não emitida em função da
melhoria tecnológica de suas “quantias alocadas de emissões” que são somadas
à conta da França. A idéia então é de que um projeto gere unidades de redução
de emissões que poderão ser posteriormente utilizadas pelo país investidor para
adicionar à sua quota de emissões, sendo reduzidas das cotas de emissão do país
beneficiado.
154
comércio de emissões, suplementar às ações domésticas. Nesse caso, o país
vendedor subtrai a quantia transferida do seu total e o país comprador acrescenta
a mesma ao seu total, portanto, não há margem para contar o mesmo carbono
duas vezes.
Esta Agenda 21, transformada em Programa 21 pela ONU, é um plano de ação para
alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável. Ela é uma espécie de
consolidação de diversos relatórios, tratados, protocolos e outros documentos
elaborados durante décadas na esfera da ONU (Assembléia Geral, FAO, PNUMA,
UNESCO etc.). A Agenda 21 é um documento longo, mais de 800 folhas, dividido em 4
seções, com 40 capítulos, com a seguinte organização: Preâmbulo; Seção I com 7
capítulos que tratam das dimensões sociais do desenvolvimento sustentável (cooperação
internacional, padrão de consumo, população, saúde etc.); Seção II, sem título, com 14
capítulos que abordam as dimensões ambientais (atmosfera, oceanos, ecossistemas
frágeis, biodiversidade etc.); a Seção III dedica 9 capítulos aos principais grupos sociais,
mulheres, jovens, populações indígenas, trabalhadores, empresários, ONGs, autoridades
locais e outros cuja atenção e participação efetiva são consideradas decisivas para
alcançar este novo tipo de desenvolvimento; a Seção IV refere-se aos meios para
implantar os programas e as atividades recomendadas nas seções anteriores (recursos
financeiros, transferência de tecnologia, educação, etc.). O Anexo I de Barbieri (2000)
apresenta um resumo comentado da Agenda 21, destacando de cada capítulo as questões
centrais de problema tratado.
155
A1: Um mundo futuro de crescimento econômico muito rápido, baixo crescimento
populacional e rápida introdução de tecnologias novas e mais eficientes. Os principais
temas subjacentes são a convergência econômica e cultural e a capacidade de
construção, com uma redução substancial nas diferenças regionais de renda per capita.
Neste mundo as pessoas perseguem a saúde pessoal mais do que a qualidade ambiental.
A2: Um mundo diferenciado. O tema subjacente é de intensificação de identidades
culturais regionais, com ênfase nos valores da família e tradições locais, elevado
crescimento populacional, e menor preocupação com o rápido desenvolvimento
econômico.
B1: Um mundo convergente com rápida mudança nas estruturas econômicas,
“desmaterialização” e introdução de tecnologias limpas. A ênfase é dada nas soluções
globais para a sustentabilidade ambiental e social, incluindo esforços no rápido
desenvolvimento tecnológico, desmaterialização da economia, e aumento da igualdade.
B2: Um mundo no qual a ênfase está em soluções locais para a sustentabilidade
econômica, social e ambiental. É um mundo heterogêneo com mudanças tecnológicas
menos rápidas, e maiores e diversas modificações tecnológicas, mas com uma forte
ênfase na iniciativa da comunidade e inovação social para encontrar soluções locais ao
invés de globais.
Na tabela a seguir encontram-se os dados de população, Produto Interno Bruto (PIB),
PIB per capita, intensidade de energia e cobertura de floresta para todo o globo em 1990
e projeções para 2020, 2050 e 2100 referentes aos quatro cenários.
156
Cenários Ano População PIB PIB per intensidade floresta
(milhões) capita de energia (milhões de
(MJ/$) ha)
A1 1990 5262 20.9 4.0 11.3 4249
2020 7493 56.5 7.5 8.8 3811
2050 8704 181.3 20.8 5.5 3874
2100 7056 528.5 74.9 3.3 4326
A2 1990 5263 20.9 4.0 12.8 NA
2020 8191 40.5 4.9 12.4 NA
2050 11296 81.6 7.2 10.0 NA
2100 15068 242.8 16.1 5.7 NA
B1 1990 5297 21.0 4.0 NA 4277.0
2020 7767 48.2 6.2 NA 4095.0
2050 8933 113.9 12.8 NA 4207.7
2100 7239 338.3 46.7 NA 5075.5
B2 1990 5262 20.9 4.0 12.9 4249.5
2020 7672 50.7 6.6 8.5 3775.9
2050 9367 109.5 11.7 6.0 3906.7
2100 10414 234.9 22.6 4.0 4121.7
Tabela 3 - Cenários SRES A1, A2, B1 e B2: quantificação da população, Produto
Interno Bruto (PIB), PIB per capita, intensidade de energia e cobertura de floresta para o
globo em 1990 e projeções para 2020, 2050 e 2100.
157
Foram utilizados os mesmos conjuntos de simples modelos aplicados Segundo
Relatório de Avaliação do IPCC para converter os cenários de emissões em
concentrações atmosféricas, forçante radiativa (isto é, o efeito agregado de
concentrações no balanço de radiação da Terra), variação da temperatura média anual e
elevação do nível médio do mar. A tabela 5.2 compara as saídas globais dos quatro
cenários SRES para 2050 assumindo uma sensibilidade climática de 2.5oC e sem a
forçante aerosol. A variação da temperatura média global anual varia entre 1.39oC com
cenário B1 a 1.81oC com cenário A2. A tabela 4 também mostra o cenário IS92a para
comparação.
População Emissões de C Emissão pCO2 ΔT global ΔSL
(bilhões) de energia total de S (ppmv) (oC) global
(GtC) (TgS) (cm)
2000 6.00 7.0 75 370 0.30 N/a
2050
IS92a 9.57 14.2 152 528 1.68 38
SRES B1 8.76 9.7 51 479 1.39 35
SRES B2 9.53 11.3 55 492 1.49 36
SRES A1 8.54 16.1 58 555 1.76 39
SRES A2 11.67 17.3 96 559 1.81 39
Tabela 4 - Cenários SRES provisórios comparados com o cenário IS92a e com
estimativas para ano 2000. C é a emissão anual de carbono a partir de fontes de
combustíveis fósseis. S é a emissão anual de enxofre e pCO2 é a concentração de
dióxido de carbono atmosférico. As variações de temperatura Δ
( T) e do nível do mar
(ΔSL) assumem uma sensibilidade climática de 2.5 oC e nenhum efeito aerosol.
As estimativas de variação da temperatura e nível médio do mar na tabela anterior
cobriram todos os cenários de emissões, mas assumiram uma sensibilidade fixa, de
médio termo para uma dada forçante radiativa (2.5oC). De forma a estudar uma faixa
maior de incertezas, combinações de cenários de emissões e valores de sensibilidade
climática foram selecionadas como se seguem:
Esses cenários foram denominados de cenários WG2 (Working Group 2). Os resultados
das combinações desses quatro cenários são mostrados na tabela 5.3. Verifica-se que a
inclusão da faixa de incertezas da sensibilidade climática provocou um aumento na
158
faixa de aquecimento global para os anos 2050, de 1.39-1.81oC mostrado na tabela 5.2,
para 0.93-2.61oC na tabela 5.
159
elevação dos níveis do mar também requer alguma avaliação do ambiente e as formas
nas quais o nível médio do mar se eleva, regimes de tempestades e topografia offshore
podem se combinar para alterar os períodos de retorno dos altos níveis das marés.
Abaixo uma síntese dos modelos para cenários climáticos utilizados e disponíveis para a
utilização de pesquisas voltadas a variabilidade climática.
ALGUMAS REFERENCIAS
ASSAD, E. D.; LUCHIARI Jr., A. A future scenario and agricultural strategies against
climatic changes: the case of tropical savannas. In: Mudanças Climáticas e
Estratégias Futuras. USP. Outubro de 1989. São Paulo. SP
GUSEV, A. A.; MARTIN, I. M.; PUGACHEVA, G. I.; SILVA, M. G.; PINTO, H. S.;
ZULLO Jr., J.; BEZERRA, P.C.; KUDELA, K. The study of solar-terrestrial
connections in the Brazilian magnetic anomaly region. Revista Brasileira de
Geofísica. v. 13, n. 2, p. 119-125, 1995.
160
PARTE 6
METODOS ESTATISTICOS EM METEOROLOGIA
1. INTRODUÇÃO
Os métodos estatísticos que hoje são utilizados para validação e controles
meteorológicos possuem diversas variantes, tanto probabilísticas como estatísticas, por
isso há necessidade de um levantamento mais amplo de suas aplicações e
funcionalidades. Neste tópico, faremos um “apanhado” geral por diversos métodos
estatísticos e probabilísticos.
2. VERIFICAÇÃO PADRÃO
2.1 VISUAL
Essa verificação tem a característica padrão de visualização versus resultados, ou seja,
através da analise visual de um campo ou gráfico, para isso o mínimo de conhecimento
é utilizado.
161
método é bastante utilizado para um diagnostico rápido e simples do comportamento de
uma determinada variável em relação à observação.
162
Tabela 1 Temperatura média, previsão e observação
Dias: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Previsão: 5 10 9 15 22 13 17 17 19 23
Observação: -1 8 12 13 18 10 16 19 23 24
Fi -Oi: 6 2 -3 2 4 3 1 -2 -4 -1
Bias: 0.8
Tabela 1 – Bias de temperatura.
1
EM =
N
∑ (F − A ) V (2)
163
onde C é a climatologia da reanálise do NCEP interpolada para o dia da previsão. A
barra sobre a variável indica média na área.
Desvio padrão da anomalia da previsão
1/ 2
1 2
DPP = ∑ (( F − C ) − ( F − C )) (5)
n
2.6 COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO
O coeficiente de correlação de anomalias é uma medida que complementa o índice
EMQ e é usado para definir o limite de previsão útil (r ≥ 0,6). É calculado através da
expressão:
r=
∑ (F − C )( A − C )
V
(6)
[(∑ (F − C ) (∑ ( A − C ) ))]
2
V
2
NC
TS = (7)
NP + NO − NC
onde NP é o número de pontos previstos pelo modelo para receber uma quantidade de
precipitação acima de um limiar especificado, NO é o número de pontos em que foi
observado precipitação acima deste limiar e NC é o número de pontos previstos
corretamente para receber a quantidade de precipitação acima do limiar estabelecido. As
categorias de precipitação são classificadas de acordo com a intensidade da precipitação
como: chuva-não chuva, chuva fraca, moderada e forte. Os limiares de precipitação a
que correspondem estas categorias estão indicados na Tabela 2.
164
Classificação da Intensidade das chuvas Limiares de precipitação (mm)
Chuva-não chuva 0.3
Fraca 2.5 – 6.3
Moderada 12.7 – 19.0
Forte 25.4-50.8
Tabela 2 – Classificação das chuvas e limiares. Fonte: Chou e Silva (draft-1999).
Os critérios utilizados para identificar uma boa previsão, para os campos existentes na
análise, são aqueles descritos por Bitencourt (1996), onde considera-se que a previsão é
adequada quando o valor do desvio padrão da anomalia da análise (DPA) está próximo
do valor do desvio padrão da anomalia da previsão (DPP). Esses dois parâmetros não
são considerados próximos quando o valor do desvio padrão de um campo é o dobro ou
mais do valor do desvio padrão do outro campo. Em seguida, é verificado se o erro
quadrático médio da previsão (EMQ) é menor ou próximo do desvio padrão da
anomalia da previsão (DPP) e, por fim, se o coeficiente de correlação entre as anomalias
dos campos analisados e previstos é igual ou superior a 0,6. Para o threat score, o
critério utilizado é baseado em Anthes (1983), quanto mais próximo o TS estiver de 1,0
melhor terá sido a previsão de precipitação.
165
freqüência entre as duas séries temporais do vento zonal e do IOS, com relação aos anos
de El Niño. Além disso, a AO mostra que o IOS na banda de baixa freqüência parece
disparar sinais de alta freqüência. Na atmosfera, as frentes frias representam zonas de
forte transição entre massas de ar com características físicas diferentes, associadas a
ondas baroclínicas de latitudes médias. Gamage e Blumen (1993) utilizaram a TO para
detectar as características das frentes frias. Meyers et al. (1993) demonstraram as
vantagens da TO estudando a dispersão das ondas Yanai no modelo equatorial de
gravidade reduzida.
Weng e Lau (1994) utilizaram duas séries temporais, uma sintética, derivada de mapa
logístico e outra de radiância do satélite meteorológico japonês para ilha de Java,
durante o período de 1987 a 1988. Foi aplicado o método da TO, com as ondeletas de
Haar e de Morlet, e da Transformada de Fourier (TF) para analisar as séries temporais
em múltiplas escalas de tempo. Eles observaram que na série de dados sintéticos
aparecem múltiplas freqüências em seqüência de períodos duplos. O processo de
períodos duplos gera uma multiplicidade de freqüências intermediárias, as quais são
manifestadas pela não uniformidade no tempo, com respeito à fase de oscilações de
freqüências mais baixas. No caso dos dados de radiância, a TO indica a presença de
múltiplas escalas de tempo com 1, 2-3, 4-6, 10-15, 20-30 e 50—60 dias. No verão
(estação úmida) a variação diurna de convecção é mais intensa sobre a ilha de Java.
Quando esta variação está pronunciada, as variações nas escalas semi-diurna e sinótica
ficam mais ativas. O sinal da oscilação intrasazonal de 50-60 dias é o mais destacado,
acompanhado pelas fracas oscilações de 25 e 14-16 dias. A relação de bloqueio das
oscilações nas diferentes escalas de tempo sugere que ambas as variações intrasazonal e
sinótica possam ser oscilações mistas, devido à interação entre oscilações auto-excitadas
na atmosfera tropical e forçantes externas, tal como as variações da radiação solar anual
e diurna. Vários estudos indicam relação significativa entre o ENOS, a monção de verão
na Índia e a Oscilação Sul (OS). Recentes pesquisas mostram que a técnica de TO
contribuiu com informações adicionais, através da localização de freqüências, para um
melhor entendimento da variabilidade temporal do sistema monção-ENOS-OS. Wang e
Wang (1996) aplicaram a TO de Morlet e a transformada de Gabor para analisar a
estrutura temporal da oscilação sul, a partir de dados de TSM no Pacífico central e leste
equatorial (1950-1992), e da pressão ao nível do mar em Darwin (1872-1995).
Os autores observaram a partir da TO que a energia da oscilação sul nas duas primeiras
décadas (1872-1891) foi caracterizada pelas oscilações de 4 anos. No período de 1891-
166
1910 as oscilações com maior energia ocorreram associadas com o período de 3 anos.
Durante as cinco décadas de 1911-1960 as oscilações predominantes foram de 5-7 anos,
embora a amplitude do período de 1921-1938 tenha sido pequena. As duas últimas
décadas (1972-1992) estiveram relacionadas com oscilações de 4-5 anos. As mudanças
abruptas de oscilações ocorreram na metade de 1960 (6 para 2-3 anos) e em torno de
1910 (3 para 7 anos). O espectro médio da transformada de Gabor mostra oscilações na
banda de 2,5 a 7 anos, no qual resulta das bandas de 2,5-3, 3-4 e 5-6 anos. Eles
concluíram que a interação entre o ciclo anual e o ENOS envolve processos dinâmicos
não-lineares complexos, e que possivelmente apresentam profundos impactos na
aperiodicidade e previsibilidade do ENOS. Gu e Philander (1995) aplicaram a TO de
Morlet com dados da velocidade do vento zonal e meridional, e de TSM sobre os
oceanos Índico, Atlântico, Pacífico Leste e Central para o período de 1870 a 1988. Os
resultados indicaram que a amplitude do ENOS foi relativamente maior no período de
1885-1915, menor entre 1915 a 1950 e aumentou rapidamente após 1960. As escalas de
tempo de 2-5 anos do ENOS foram fortemente influenciadas pelo ciclo anual em certas
regiões do Pacífico tropical leste e central. Os autores interpretaram que o aumento do
ciclo anual durante os episódios ENOS estarem associado com a termoclina rasa,
durante a La Niña. No entanto, durante os episódios de El-Niño o ciclo anual diminui e
a termoclina fica profunda. Isto sugere que a amplitude do ciclo sazonal é afetada pelas
variações interanuais, devido à profundidade da termoclina e a intensidade dos ventos
alísios. Por outro lado, Weng e Lau (1996) investigaram os regimes múlti-escalas de
espaço-tempo, associados à atividade convectiva de baixa freqüência sobre o continente
marítimo e Pacífico oeste tropical. Para isso eles aplicaram a TO de Morlet e a Função
Ortogonal Empírica Complexa (FOEC) aos dados de radiância (satélite meteorológico
geoestacionário) mensal, sobre a região de 5°S-9°S e 80°E-160°W para o período de
1980-1993. Eles aplicaram a TO de Morlet as três primeiras componentes principais da
FOEC. Os resultados mostraram que o ENOS é uma mistura de várias escalas de tempo.
Os eventos de El-Niño e La Niña estão associados com escalas de tempo em torno de
4,8 anos e/ou a Oscilação Quase-Bienal (OQB). Os ciclos anômalos anuais e semi-anual
podem ser importantes para a ocorrência dos eventos, mas, pode ser necessária a
oscilação de alta frequência em fase para que os mesmos persistam. O evento de
1982/83 foi dominado pela escala da OQB em torno de 2,4 anos. O evento de 1986/87
esteve associado à escala de 4,8 anos. Os eventos de 1991 e 1993 não foram dominados
nem pela OQB, nem pela escala de 4,8 anos. Estes eventos sofrem influência da
167
interferência de várias escalas de tempo interanuais em fase, dos ciclos anômalos anual
e semi-anual, e da variabilidade de alta freqüência.
Torrence e Webster (1999) estudaram a mudança interdecadal no sistema monção-
ENOS, aplicando a TO de Morlet e analisando a coerência de ondeleta no que se refere
aos índices da TSM-Niño3, do IOS e da precipitação sobre a Índia, para o período de
1871 a 1998. Os resultados mostram mudanças interdecadais de variância de 2-7 anos
com intervalos de alta (1875-1920 e 1960-1990) e baixa variância (1920-1960). A
variância monção-ENOS também apresenta uma modulação de amplitudes na escala de
tempo de 12-20 anos, entre a monção-ENOS. A coerência entre a TSM Niño3 e a
precipitação na Índia é muito alta na banda de 2-8 anos. Na mesma linha de pesquisa,
Kulkarni (2000) também aplicou a TO com dados de precipitação da Índia e de OS
(1871-1998). Para isso usou a função ondeleta de Haar para o estudo da variabilidade
climática da monção-OS em anos de ENOS. Esse estudo revelou que a contribuição
total dos modos de 2,4 e 8 anos do IOS está relacionado às anomalias de precipitação
em anos de ENOS. A variabilidade temporal dos modos de 2 e 8 anos em precipitação e
IOS mostram modulação através de uma onda de baixa freqüência. Ainda sobre a
aplicação da TO a séries temporais da Índia, Ouergli e Felice (1997) utilizaram dados
diários das componentes zonal e meridional do vento sobre a costa da Somália na África
(51-55E, 10N) para o per íodo de 1954
-1976. Eles analisaram o comportamento
dos modos de 10-20 e 25-50 dias durante a monção de verão da Índia, através da TO de
Morlet. Os resultados mostram que 63% dos casos indicam relação entre a monção de
verão e as bandas de 10-20 e 25-50 dias. Sobre o mar do Japão ocorrem durante o
inverno muitas perturbações atmosféricas que variam desde as escalas de tempo
mesogama à escala sinótica. Takeuchi et al. (1994) aplicaram a TO de Chapéu
Mexicano a dados de pressão atmosférica e velocidade de vento para estudar as
tempestades sobre a costa do mar do Japão. Eles detectaram uma forte correlação entre
os coeficientes de ondeleta da pressão e do vento na escala de segundos.
Torrence e Compo (1998) aplicaram as TO de Morlet e de Chapéu Mexicano com dados
de TSM na região do Niño3 (1871_1996) e do Índice de Oscilação Sul (IOS), obtido da
pressão ao nível do mar (1871-1994) entre o Pacífico leste e oeste. Os resultados
mostraram que a variância do ENOS mais intensa ocorre nas escalas de tempo
interdecadal de 1880-1920 e 1960-1990, com um período de baixa variância entre 1920
a 1960. Estes períodos estiveram relacionados com maior variância nas escalas de
tempo de 2 a 8 anos. Outra aplicação foi realizada por Desrochers e Yee (1999) que
168
aplicaram as ondeletas de Haar e B-spline com dados de radar doppler em Oklahoma,
com o objetivo de extrair das observações de radar os sinais relevantes para
identificação da forma e da localização de mesociclones, e das escalas associadas, que
podem evoluir para a formação de um tornado. A variabilidade climática temporal e
espacial no leste da China foi investigada por Jiang et al. (1997). Eles analisaram seis
regiões no leste da China com 1033 anos de dados de umidade, que foram submetidos à
análise em tempo escala via a TO de Chapéu Mexicano. Os resultados indicaram
variações de diferentes freqüências num tempo particular, anomalias persistentes e
mudanças abruptas entre as anomalias de umidade. Notaram que nas regiões costeiras
ocorreram períodos secos (1120-1220) e úmidos (1280-1390). As variações climáticas
de escalas de tempo de alta freqüência (10 a 20 anos) ocorrem praticamente em todas as
regiões. No entanto, as escalas de tempo de baixa freqüência (80 anos) com flutuações
sincrônicas foram observadas durante poucos anos. Lin et al. (1996) investigaram a
hierarquia do sistema climático a partir da TO Chapéu Mexicano e de dados de
temperatura média global, através da caracterização de períodos úmido-seco. Eles
concluíram que, para diferentes escalas de tempo um sistema climático pode ter vários
períodos de alternância quente-frio e pontos de catástrofes climáticas, que ocorrem em
intervalos de tempo desiguais. Breaker et al. (2001) estudaram as oscilações
intrasazonais de 30-70 dias na costa central da Califórnia. Para isso eles utilizaram
dados diários de TSM, tensão de cisalhamento do vento à superfície e informações do
nível do mar para o período de 1974-1991, submetidos à análise de tempo-escala via a
TO de Morlet. Eles observaram que as oscilações de 30-70 dias estão associadas com
eventos de natureza não-estacionária. Os picos de energia das variáveis utilizadas
caracterizam esses eventos no período de 3 a 4 meses. Para alguns casos o pico de
energia na tensão de cisalhamento coincide com os picos de energia de informações do
nível do mar e/ou de TSM. Além disso, foi aplicada a coerência de ondeleta para indicar
o grau de relação entre as variáveis. Em geral, eles notaram que a correlação entre a
tensão de cisalhamento e a TSM apresenta períodos de alta coerência, mas a fraca
relação entre a tensão de cisalhamento e o nível do mar, pode estar relacionada a uma
contribuição independente do nível do mar, a partir da forçante remota pelo oceano,
originada nos trópicos.
Na América do Sul alguns estudos foram realizados com a TO. Chapa et al. (1998)
aplicaram a TO de Morlet ao índice de nebulosidade convectiva, obtido a partir das
imagens do METEOSAT (Meteorological Satellite), para o período de novembro de
169
1994 a maio de 1995. Dentre as diversas escalas temporais de variabilidade
apresentadas pela convecção na região tropical da América do Sul, foram observados
sinais de oscilações associadas à freqüência mista ou intermediária (4-30 dias) sobre as
áreas tropical e extratropical. Oscilações de 20 dias foram observadas nas áreas tropicais
(4,5°e 22,5°S) no outono e inverno. Na região sul dos extratrópicos foram observados
ocorrência de eventos em torno de 10 a 20 dias, relacionados com as ondas baroclínicas.
Lucero e Rodríquez (1999) analisaram as flutuações interdecadais da precipitação anual
na região central da Argentina, através da TO Morlet, para o período de 1905-1983.
Eles detectaram uma flutuação que se amplifica a partir da metade de 1930. A escala de
tempo inicial associada a esta flutuação é de 10 anos, e aumenta rapidamente para 20
anos. A estrutura da flutuação de precipitação se apresenta como um trem de centros
positivo e negativo, alternando-se no tempo. No Nordeste brasileiro, Datsenko et al.
(1995) aplicaram a TO Chapéu Mexicano a séries de totais anuais de precipitação para a
cidade de Fortaleza-CE, durante o período de 1850 a 1994. Os resultados indicaram
variações irregulares na precipitação, sugerindo uma diminuição da precipitação média
sobre a região à partir da metade dos anos 90. Recentemente, Obregón (2001) aplicou a
TO Morlet com dados de precipitação diária, observada no Brasil durante o período de
1979 a 1993. Ele analisou o espectro de energia de ondeleta para o sul da Amazônia,
sudeste e sul do Brasil. Segundo o autor, a análise de ondeleta apresenta sinal
significativo nas diferentes escalas de tempo (2 a 64 dias), com características de não
estacionaridade e intermitência, determinando com precisão o início e fim de cada um
dos eventos. Mais recentemente, Cassati e Stephenson (2002) aplicaram a AO de
Chapéu Mexicano para avaliar o erro médio quadrático associado às diferentes escalas
espaciais, no modelo numérico de previsão de tempo. Pode ser notado nesta revisão
bibliográfica que a aplicação da TO ao estudo das oscilações intrasazonais sobre a
América do Sul e regiões vizinhas, ainda é uma prática bastante incipiente. Neste
trabalho serão apresentadas as oscilações intrasazonais, obtidas a partir da análise via
TO de várias variáveis meteorológicas em regiões distintas da América do Sul e regiões
adjacentes.
170
Figura 2 – Transformada de onduletas para a TSM na região do Niño3 ao longo de 100
anos.
171
Ex: Ho - µ = 1,65 m
H1 - µ 1,65 m
“EXISTEM DOIS TIPOS DE ERRO DE HIPÓTESE.”, são elas:
Erro tipo 1 - rejeição de uma hipótese verdadeira;
Erro tipo 2 – aceitação de uma hipótese falsa.
As probabilidades desses dois tipos de erros são designadas α e β.
A probabilidade α do erro tipo I é denominada “nível de significância”
do teste.
2.9.3 LÓGICA DO TESTE DE SIGNIFICÂNCIA
Atribuem-se baixos valores para α, geralmente 1-10%;
Formula-se Ho com a pretensão de rejeitá-la, daí o nome de hipótese nula;
se o teste indicar a rejeição de Ho tem-se um indicador mais seguro da decisão;
caso o teste indique a aceitação de Ho, diz-se que, com o nível de significância
α, não se pode rejeitar Ho.
2.9.4 OUTROS TESTES
As técnicas de estatística não paramétrica são particularmente adaptáveis aos
dados das ciências do comportamento.
A aplicação dessas técnicas não exige suposições quanto à distribuição da
população da qual se tenha retirado amostras para análises.
Podem ser aplicadas a dados que se disponham simplesmente em ordem, ou
mesmo para estudo de variáveis nominais. Contrariamente à estatística
paramétrica, onde as variáveis são, na maioria das vezes, intervalares.
Exigem poucos cálculos e são aplicáveis para análise de pequenas amostras.
Independe dos parâmetros populacionais e amostrais (média, variância, desvio
padrão).
2.9.4.1 TIPOS DE TESTE
Qui-Quadrado
Teste dos sinais
Teste de Wilcoxon
Teste de Mann-Whitney
Teste da Mediana
Teste de Kruskal-Wallis
172
1) QUI-QUADRADO (χ2)
Testes de Adequação de amostras e Associação entre variáveis.
Restrições ao uso:
Se o número de classes é k=2, a freqüência esperada mínima deve ser ≥5;
Se k >2, o teste não deve ser usado se mais de 20% das freqüências esperadas forem
abaixo de 5 ou se qualquer uma delas for inferior a 1.
2) TESTE DE WILCOXON
É uma extensão do teste de sinais. É mais interessante pois leva em consideração
a magnitude da diferença para cada par.
Exemplo: um processo de emagrecimento em teste. Cada par no caso é o mesmo
indivíduo com peso antes e depois do processo.
3) TESTE MANN-WHITNEY
É usado para testar se das amostras independentes foram retiradas de populações
com média iguais.
Trata-se de uma interessante alternativa ao teste paramétrico para igualdade de
médias, pois o teste não exige considerações sobre a distribuição populacional.
Aplicado às variáveis intervalares e ordinais.
Exemplo: a média de vendas de dois shoppings são diferentes?
173
4) TESTE DA MEDIANA
Trata-se de uma alternativa ao teste de Mann-Whitney. Testa as hipótese se dois
grupos independentes possuem mesma mediana. Dados ordinais e intervalares.
5) TESTE KRUSKAL-WALLIS
Trata-se de um teste para decidir se K amostras (K>2) independentes provêm de
populações co médias iguais.
Exemplo: testar, no nível de 5% de probabilidade, a hipótese de igualdade das
médias para os três grupos de alunos que foram submetidos a esquemas
diferentes de aulas. Notas para uma mesma prova.
ALGUMAS REFERENCIAS
BROWN, M. B.; FORSYTHE, A. B.Robust tests for the equality of variances. J. Amer.
Statistical Assoc., v.69, n.346, p.364-367. 1974.
Vislocky R.L. and Young G.S., 1989: The use of perfect prog forecasts to improve
model output statistics forecasts of precipitation probability. Wea. Forecasting, 4, 202-
209.
Wilks, D. S., 1995: Statistical Methods in the Atmospheric Sciences. Academic Press,
467 pp.
Wilks, D.S, 1997: Resampling hypothesis tests for autocorrelated fields. J.Climate, 10,
66–82.
174
PARTE 7
MODELAGEM CLIMÁTICA
1. MODELAGEM NÚMERICA
1.1 MODELO NUMÉRICO
O Modelo numérico tanto para a previsão do tempo como do clima é um código
computacional complexo (mais de 100 mil linhas de instrução), com representações
numéricas aproximadas das equações matemáticas que representam as Leis da Física, as
quais governam os movimentos na atmosfera e as interações com a superfície.
Atmosfera é dividida em alguns milhões de volumes discretos (~100 km x 100 km x 0,5
km) e, em cada um desses volumes, computa-se a temperatura e umidade do ar, vento e
pressão para instantes de tempo futuros (previsão).
Os modelos climáticos são extensões dos modelos de previsão de tempo.
Estas equações governam:
Fluxos de ar e água – ventos na atmosfera, correntes nos oceanos.
Trocas de calor, água e momentum entre a atmosfera e a superfície
terrestre.
Liberação de calor latente por condensação durante a formação de
Nuvens e gotas de chuva.
Absorção da radiação solar e emissão da radiação térmica
(infravermelha).
Processos que ocorrem na escala sub-grid são modelados por parametrizações.
Sistema de equações em coordenada η
175
Acima a equação hidrostática.
Onde,
(1)
(2)
(3)
As equações 1, 2 e 3 representam a equação da continuidade.
Código computacional (centenas de milhares de linhas de código) que representa
aproximações numéricas de equações matemáticas, equações estas representativas das
Leis Físicas que regem os movimentos da atmosfera e as interações com a superfície; o
cálculo é feito para até 15 dias de previsão.
176
Figura 1 – Representa através deste exemplo o domínio espacial utilizado por alguns
modelos.
177
Condições de parametrizações físicas nos modelos atmosféricos
Processos que não são explicitamente representados pelas variáveis básicas dinâmicas e
termodinâmicas nas equações básicas (dinâmica, continuidade, termodinâmica, equação
do estado) na grade do modelo precisam ser incluídas por parametrizações.
A figura 3, abaixo representa a esquematização dos elementos atmosféricos envolvidos
na modelagem numérica.
Tais como:
Parametrização de nuvens;
Transferência de calor entre o solo e a atmosfera;
Radiação solar incidente e refletida;
Turbulência difusa; entre outras.
178
Processos que ocorrem em escalas menores do que a escala da grade, os quais por esta
razão não são explicitamente representados:
Processos que envolvem variáveis adicionais para as variáveis básicas do modelo. e.g.
processos superficiais, ciclo de carbono, química, aerossóis, etc).
179
Figura 5 – Processos dinâmicos entre a interação vegetação-atmosfera.
Outro processo dinâmico da interação superfície-atmosfera é os processos em solo
(superfície baixa). A figura 6 mostra uma representação simplificada deste processo.
180
Nos últimos anos o processo em baixa superfície (solo) está sendo mais utilizado nos
modelos numéricos, principalmente nos modelos regionais e com finalidades de simular
condições entre a superfície e a baixa atmosfera.
181
Figura 8 – Escala topográfica em duas resoluções de 200 x 200 km (esquerda) e de 100
x 100 km (a direita).
A resolução espacial do produto final, ou seja, a previsão através das variáveis pode
variar através de diversas escalas, quanto mais fina a escala melhor a representação da
previsão, por isso alguns modelos de resolução global estão adotando uma resolução
espacial alta, ou seja, com escala espacial de apenas dezenas de quilômetros, ao invés de
centenas de quilômetros, mais para isso há a necessidade de utilizar-se uma “carga”
computacional grande.
182
Figura 10 – Assim como para a figura 9, mais em uma escala mais “grossa”, geralmente
utilizada em modelos de escala regional.
183
Figura 11 – Evolução dos modelos ao longo do século XX.
184
Figura 13 – Absorção da radiação solar de acordo com a profundidade.
185
186
Figura 14 – Esquema da interação do fluxo de carbono entre o oceano e a atmosfera.
187
Figura 16 – Fluxo meridional de calor anualmente.
O fluxo de calor latente (QL) é taxa de energia necessária para transformar uma parcela
de água líquida em vapor d´água é dado por:
QL = L × E
onde L é o Calor Latente de Vaporização = 2,26 E +06 J/kg e E é a evaporação
(kg/m2s).
Aproximadamente 23% da constante solar é transformada em calor latente no globo.
Então, QL = 23% de 342 W/m2 = 78,7 W/m2
e E = 78,7 / 2,26 E+06E = 3,5 E -05 kg/m2s = 3,0 kg/m2dia
Sabendo que a densidade da água = 1000 kg/m3, E = 3,0 mm/dia
Sabendo que aproximadamente 86% de todo o calor latente (evaporação) provêm dos
oceanos, então, dos 3 mm/dia que a atmosfera recebe, aproximadamente 2,6 mm/dia
provêm dos oceanos.
Os fluxos de calor podem ser estimados através de fórmulas empíricas.
188
V10 é a velocidade do vento a 10 m de altura;
qs é a umidade específica (kg de vapor/kg) do ar à temperatura da superfície
do mar;
qar é a umidade específica do ar à 10 m.
onde
CS é o coeficiente de troca de calor sensível;
Ts é a temperatura da superfície do mar;
Tar é a temperatura do ar à 10 m.
189
1.3 CARACTERISTICAS DA MODELAGEM ATMOSFERICA
São necessárias algumas motivações para podermos entender a modelagem e suas
aplicações, tais como:
Calibração:
Porque é necessário?
Qual a melhor maneira de se calibrar?
Como obter estimativas de probabilidade?
Quem deve fazer?
Combinação:
Porque é necessário?
Atribuir pesos ou fazer seleção de previsões?
Qual a melhor maneira de se combinar?
Quem deve fazer?
Esquema conceitual para calibração e combinação de previsões
Assimilação de dados
p( yi | xi ) p ( xi )
p ( xi | yi ) =
p ( yi )
190
“Assimilação de previsões”
p( x f | y f ) p( y f )
p( y f | x f ) =
p( x f )
191
A esquematização das incertezas e soluções para a modelagem atmosférica é verificada
acima.
192
Em 1818, Laplace propôs a utilização de combinações para associar a estimadores,
através da utilização dos mínimos quadrados e de uma reformulação da equação
proposta por Boscovich, 1757.
193
modelos utilizados e a regressão da média do conjunto também dos modelos utilizados
na previsão.
194
195
O método Bayesiano foi proposto por Thomas Bayer e tem como fundamento a
utilização de combinações probabilísticas entre duas variáveis, ou seja, quando um
conjunto em Y foi atualizado disponibilizando uma nova informação em X.
196
Algumas conclusões:
ALGUMAS REFERENCIAS
Anderson, J. L., H. van den Dool, A. Barnston, W. Chen, W. Stern, and J. Ploshay, 1999:
Present-day capabilities of numerical and statistical models for atmospheric extratropical
seasonal simulation and prediction. Bull. Am. Meteorol. Soc., 80, 1349–1361.
Barnston, A. G., M. H. Glantz, and Y. He, 1999: Predictive skill of statistical and dynamical
climate models in SST forecasts during the 1997-98 El Ni˜no episode and the 1998 La Ni˜na
onset. Bull. Am. Meteorol. Soc., 80, 217–243.
Brier, G. W., 1950: Verification of forecasts expressed in terms of probability. Mon. Wea. Rev.,
78, 1–3.
von Storch, H. and F. W. Zwiers, 1999: Statistical Analysis in Climate Research. Cambridge
University Press, ISBN 0521 450713. 484 pp.
197
198