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Por David Mendes

Pesquisado do Grupo de Mudanças Climáticas


Do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

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PARTE 1

COMPONENTES DA ATMOSFERA, CRIOSFERA, BIOSFERA E OCEANOS

1. ATMOSFERA
1.1 INTRODUÇÃO
A atmosfera terrestre consiste na fina camada gasosa, inodora, incolor e insípida, que
envolve o planeta devido à ação da força da gravidade terrestre e que se estende até
várias centenas de quilômetros de altitude. A atmosfera apresenta uma massa total
inferior a um milionésimo da massa do planeta e representa apenas cerca de 1% do
diâmetro da Terra. Não obstante, ela é responsável, por exemplo, pelas distribuições de
temperatura e de níveis de energia solar (radiação) à superfície. A cor azul do céu
também resulta da presença da atmosfera terrestre. Sem a presença de uma atmosfera
com a sua atual composição, não seria possível dispor de água no estado liquido. Desta
forma, uma atmosfera com a sua composição atual é crucial para garantir as condições
indispensáveis para a existência de vida no planeta.
1.2 COMPOSIÇÃO
A atmosfera terrestre é composta por uma mistura de gases, são eles:
Constituinte Fórmula %em volume Ppm
Nitrogênio N 78,08 780.800
2
Oxigênio O 20,95 209.500
2
Argônio Ar 0,93 9300
Dióxido de carbono CO 0,0358 358*
2
Neônio Ne 0,0018 18
Helio He 0,00052 5,2
Metano CH 0,00017 1,7
4
Criptônio Kr 0,00011 1,1
Hidrogênio H 0,00005 0,5
2
Oxido nitroso NO 0,00003 0,3
2
Ozônio O
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Tabela 1 – Mostra os gases que compõe a atmosfera, suas formulas, volumes e


contribuições (parte por milhão – PPM).

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Exemplos: Para ajudar a compreender as grandezas:
 Imagina-se que a massa do planeta é 1 (1 000 kg = 1 000 000 g). Neste caso, a
massa total da atmosfera seria inferior a 1g;
 Imagina-se que o diâmetro da Terra é 1 m (100 cm). Neste caso, a dimensão da
atmosfera seria de apenas 1 cm.
Existem ainda diversos outros gases, em quantidade muito reduzida, motivo pelo qual
se designam componentes minoritários. Pelo fato de pequenas alterações na sua
concentração se traduzirem em poluição do ar, destaca-se o dióxido de carbono (CO2), o
metano (CH4), óxido nitroso (N2O), ozônio (O3), as partículas e os clorofluorcarbonetos
(CFCs). As concentrações destes componentes variam substancialmente de local para
local. A composição média da atmosfera, considerando ar seco, junto à superfície é
verificada na tabela 1.
Exemplos: Para ajudar a compreender as grandezas:
Afirmar que a concentração de dióxido de carbono é 360 ppm significa que em cada
metro cúbico (m3) de ar (representado pelo cubo abaixo) existem 360 cm3 de CO2
(representado pelo cubo vermelho na figura abaixo).

Figura 1 – Representação do significado PPM (parte por milhão).

1.2 ESTRUTURA DA ATMOSFERA


A Figura abaixo (figura 2) ajuda a compreender a distribuição de massa na atmosfera e
a sua conseqüência na variação vertical da pressão atmosférica. Aproximadamente 99 %
da sua massa encontram-se nos primeiros 30 km de altitude.

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Figura 2 – Distribuição de massa na atmosfera terrestre e variação de densidade do ar e
da pressão com a altitude (1mb = 1 hPa = 100 N.m-2; N.m-2 = PA). (Adaptado de
Meteorology Today).
O inicio dos vôos de balões e aviões permitiram efetuar medições diretas das
propriedades médias da atmosfera terrestre. Estas medições evidenciaram que nos
primeiros 12 km da atmosfera, a pressão decresce muito rapidamente (exponencial) com
a altitude enquanto que a temperatura decresce de forma linear, a uma taxa de
aproximadamente 6.5°C por km, conforme a Figura 3.
A pressão (p) mede o peso (P) por unidade de área (A) da coluna de ar acima do ponto
de medição:
P
p= (1)
A
Por sua vez, o peso da coluna de ar resulta do produto da massa dessa coluna de ar (m)
pela aceleração da gravidade (g ≅ 9.8 ms-2):
P = m⋅ g (2)

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Figura 3 – Estrutura térmica da atmosfera (Adaptado de Meteorology Today).
Desta maneira, é fácil concluir que, se as medições evidenciam um decréscimo
exponencial da pressão com a altitude, a maior parte da massa atmosférica nas camadas
inferiores da atmosfera.
Próximo a superfície, ao nível do mar, a pressão é aproximadamente 760 mm Hg ≈
101325 Pa ou 1013,25 hPa. Nos primeiros 20 km da atmosfera encontra-se 90% da
massa total, enquanto que abaixo dos 50 km se encontra cerca de 99.9%

1.2.1 Camadas
1. Troposfera (0-12 km) – Camada atmosférica imediatamente acima da superfície.
Caracteriza-se pelo decréscimo da temperatura com a altitude designa-se por gradiente
térmica e assume valores médio de 6 a 7°C/km na metade inferior da Troposfera e 7 a
8°C na metade superior. É freqüente acorrerem zonas onde a temperatura aumenta com
a altitude, denominadas inversão térmica.

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A maior parte dos fenômenos meteorológicos (chuva, trovoadas, tornados, etc.) ocorrem
nesta Camada. Não obstante se a camada atmosférica mais fina é nela que se
concentram cerca de 80% da massa total da atmosfera e praticamente a totalidade do
vapor de água.
2. Estratosfera (12-50 km) – Camada imediatamente acima da Troposfera e que se
prolonga até cerca de 55 km de altitude. No limite inferior desta camada,
aproximadamente 20 km de altitude, as temperaturas matem-se praticamente constante,
esta camada isotérmica designa-se Tropopausa. A altitude que se inicia a Tropopausa
varia com a altitude, desde a Tropopausa Polar, aproximadamente 8 km, até a
Tropopausa Tropical em aproximadamente 18 km. Acima da Tropopausa, a temperatura
aumenta até que no limite superior da Estratosfera, se atingem valores próximos dos
verificados à superfície. Este aumento da temperatura deve-se à existência do ozônio
(O3) que absorve a radiação ultravioleta (UV) provenientes do Sol, esta radiação é muito
energética e, como a este nível a atmosfera já apresenta uma densidade reduzida, a
energia absorvida é transferida para um diminuto número de moléculas que aderem
elevada energia cinética promovendo o aumento da temperatura do ar.
Esta energia calorífica é transferida para baixo através de movimentos verticais
descendentes (subsidência) e radiação. Desta forma, a Estratosfera é aquecida a partir
dos seus níveis superiores, ao passo que a Troposfera é essencialmente aquecida pela
superfície terrestre.
A Troposfera e a Estratosfera apresentam condições meteorológicas muito diferentes,
devido ao fato de a Troposfera se aquecida a partir dos seus níveis inferiores, os
movimentos verticais ascendentes (convecção) encontram-se favorecidos; pelo
contrario, na Estratosfera este movimento são aplicados inexistentes e ela é
praticamente isenta de nuvens.
Observação: Os conceitos de Temperatura e Calor são vulgarmente confundidos.
Fisicamente a Temperatura é uma variável de estado de um sistema e Calor corresponde
a uma particular de transferência de energia entre dois sistemas.
O valor da Temperatura de uma determinada substância é função da Energia Cinética
média dos átomos e moléculas que a forma.

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Figura 4 – Esquema da convecção.
3. Mesosfera (50-80 km) – Acerca de 50 km de altitude a temperatura deixa de
aumentar. Este nível designa-se por Estratopausa e marca o limite inferior da Mesosfera
onde a temperatura decresce com a altura. A cerca dos 80 km de altitude a temperatura
decresce com a altura. A cerca dos 80 km de altitude a temperatura atinge um valor
mínimo de aproximadamente -95°C. A Mesopausa marca o fim da Homosfera, onde a
temperatura é mais baixa em relação a qualquer outro nível da atmosfera.
4. Termosfera (acima dos 80 km) – Por volta dos 80 km de altitude, a temperatura
estabiliza – Mesopausa é que marca o fim da Homosfera e inicio da Heteroesfera. Na
camada acima da Mesopausa, a Termosfera, verifica-se novo aumento da temperatura
com a altitude. Em um período de atividade solar reduzido, esta camada estende-se até
aos 400 km, podendo atingir os 500 km de altitude.
A composição da atmosfera altera-se significativamente e passam a abundar as espécies
atômicas, resultantes da fotodissociação das moléculas por ação dos raios X e UV.

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Figura 5 – As quatro camadas da atmosfera.
A figura 5 representa às quatro camadas da atmosfera, assim como, a altitude de
influência de cada camada.
Acima da Termosfera vem a Exosfera, onde a densidade é muito reduzida; as colisões
entre partículas neutras são extremamente raras e o percurso livre médio torna-se tão
grande que estas podem escapar-se à atração gravitacional terrestre.

Figura 6 – Camadas da atmosfera em função da variação de temperatura, composição e


propriedades elétricas (Adaptado de Meteorology Today).

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Conforme se pode observar na figura 6, o perfil vertical de temperatura da atmosfera
apresenta 3 máximos relativos da temperatura, resultantes da existência de 3 zonas de
absorção preferencial da radiação solar, são:
 a superfície terrestre onde é absorvida grande parte da radiação solar incidente;
 a Termosfera, onde é absorvida a radiação de muito baixo comprimento de onda
(UV longínquo, radiação X e γ) e;
 a camada de ozônio onde é absorvida a radiação UV, com um máximo na
Estratopausa.
A Ionosfera não é propriamente uma camada atmosférica mais sim uma região da alta
atmosfera onde a existência de iões e elétrons livres lhe conferem propriedades
elétricas. Os átomos perdem elétrons e adquirem carga positiva (catiões) quando não
conseguem absorver a totalidade de energia de uma partícula que com eles colida ou da
energia solar. O limite inferior da Inosfera situa-se a cerca de 60 km da superfície
terrestre e o superior coincide com o topo da atmosfera.

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2. OCEANOS
2.1 INTRODUÇÃO
Um oceano (de Ωκεανός, "Okeanos" em grego) é um corpo principal da água salina, e
um componente principal da hidrosfera. Aproximadamente 71% da superfície de Terra
(uma área de uns 361 milhões de quilômetros quadrados) é coberta pelo oceano, um
corpo de água contínuo que geralmente é dividido em diversos oceanos principais e
mares menores. Mais do que a metade desta área está sob mais 3.000 metros (9.800 pés)
de profundidade.
Quase três quartos (71%) da superfície da Terra é coberta pelo oceano (Cerca de 61%
do Hemisfério Norte e de 81% do Hemisfério Sul). Este oceano global interconectado
de água salgada é dividido pelos continentes e grandes arquipélagos em cinco oceanos,
como segue:
 Oceano Pacífico
 Oceano Atlântico
 Oceano Índico
 Oceano Glacial Ártico
 Oceano Glacial Antártico

2.2 FENOMENOS CARACTERISTICOS


Os oceanos são ambientes totalmente diferentes do terrestre. Assim, esse ambiente é
dominado por fenômenos muito peculiares que não ocorrem em terra, como as marés, as
ondas, as correntes marinhas, vórtices, entre outros.

2.2.1 Marés
Num campo gravitacional terrestre ideal, ou seja, sem interferências, as águas à
superfície da Terra sofreriam uma aceleração idêntica na direção do centro de massa
terrestre, encontrando-se assim numa situação isopotencial. Mas devido à existência de
corpos com campos gravitacionais significativos a interferirem com o da Terra (Lua e
Sol), estes provocam acelerações que atuam na massa terrestre com intensidades
diferentes. Como os campos gravitacionais atuam com uma intensidade inversamente
proporcional ao quadrado da distância, as acelerações sentidas nos diversos pontos da
Terra não são as mesmas. Assim a aceleração provocada pela Lua tem intensidades
significativamente diferentes entre os pontos mais próximos e mais afastados da Lua.

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Desta forma as massas oceânicas que estão mais próximas da Lua sofrem uma
aceleração de intensidade significativamente superior às massas oceânicas mais
afastadas da Lua. É este diferencial que provoca as alterações da altura das massas de
água à superfície da Terra.
Quando a maré está em seu ápice chama-se maré alta, maré cheia ou preamar; quando
está no seu menor nível chama-se maré baixa ou baixa-mar. Em média, as marés
oscilam em um período de 12 horas e 24 minutos. Doze horas devido à rotação da Terra
e 24 minutos devido à órbita lunar.
A altura das marés alta e baixa (relativa ao nível do mar médio) também varia. Na lua
nova e cheia, as forças gravitacionais do Sol estão na mesma direção das da Lua,
produzindo marés mais altas, chamadas marés de sizígia. Na lua minguante e crescente
as forças gravitacionais do Sol estão em direções diferentes das da Lua, anulando parte
delas, produzindo marés mais baixas chamadas marés de quadratura.
1.2.2 Ondas
Em física, uma onda é uma perturbação oscilante de alguma grandeza física no espaço e
periódica no tempo. A oscilação espacial é caracterizada pelo comprimento de onda e a
periodicidade no tempo é medida pela freqüência da onda, que é o inverso do seu
período. Estas duas grandezas estão relacionadas pela velocidade de propagação da
onda.
Fisicamente, uma onda é um pulso energético que se propaga através do espaço ou
através de um meio (líquido, sólido ou gasoso). Segundo alguns estudiosos e até agora
observado, nada impede que uma onda magnética se propague no vácuo ou através da
matéria, como é o caso das ondas eletromagnéticas no vácuo ou dos neutrinos através da
matéria, onde as partículas do meio oscilam à volta de um ponto médio, mas não se
deslocam. Exceto pela radiação eletromagnética, e provavelmente as ondas
gravitacionais, que podem se propagar através do vácuo, as ondas existem em um meio
cuja deformação é capaz de produzir forças de restauração através das quais elas viajam
e podem transferir energia de um lugar para outro sem que qualquer das partículas do
meio seja deslocada; isto é, a onda não transporta matéria. Há, entretanto, oscilações
sempre associadas ao meio de propagação.
Uma onda pode ser longitudinal quando a oscilação ocorre na direção da propagação, ou
transversal quando a oscilação ocorre na direção perpendicular à direção de propagação
da onda.

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Exemplos de onda oceânica:
As ondas oceânicas de superfície são ondas de superfície que ocorrem nos oceanos. São
provocadas pelo vento que cria forças de pressão e fricção que perturbam o equilíbrio da
superfície dos oceanos. O vento transfere parte da sua energia para a água através da
fricção entre o vento e a água. Isso faz com que as partículas à superfície tenham um
movimento elíptico, que é uma combinação de ondas longitudinais (para frente e para
trás) e transversais (para cima e para baixo).
Se pusermos um pedaço de madeira a flutuar na água do mar ele move-se um pouco
para frente na crista de cada onda e depois um pouco para trás quando o vale entre as
ondas passa. Ou seja, a forma de onda vai-se aproximando da praia, mas cada porção de
água só se move para frente e para trás. Se pusermos o pedaço de madeira a flutuar a
várias profundidades dentro de água, veremos que eles se movem no interior da água
em órbitas aproximadamente circulares.
As órbitas têm um raio maior perto da superfície e vão tendo cada vez um raio menor
até que deixam de existir a uma profundidade que é cerca de metade da distância entre
as cristas das ondas (ou seja, metade do comprimento de onda de propagação).
A uma distância da praia em que o fundo está a uma distância igual à cerca de metade
do comprimento de onda, os movimentos orbitais dos níveis mais profundos começam a
ser restringidos porque a água já não se pode mover verticalmente; apenas se pode
mover para frente e para trás, na horizontal. Um pouco acima, a água já se pode mover
um pouco verticalmente e as órbitas passam de circulares a elípticas. À superfície, as
órbitas podem ainda ser circulares.
Este fenômeno de distorção das órbitas, que se dá quando as ondas «sentem o fundo»,
faz com que a onda seja retardada, diminuindo o comprimento de onda de propagação,
porque a distância à próxima crista vai diminuindo. Como resultado, a água que chega
acumula-se e faz com que a crista da onda cresça e se torne mais angulosa. A inclinação
da onda (a razão entre a sua altura e o comprimento de onda) aumenta até que, ao
chegar a um valor de cerca de 1/7, a água já não se consegue suportar a si própria e a
onda rebenta. A profundidade da água é então cerca de 1,3 vezes a altura da onda (a
distância vertical entre um vale e a crista que se lhe segue).
A distância à costa em que este fenômeno ocorre depende da inclinação do fundo. Se o
fundo da costa for muito inclinado, muitas ondas pequenas rebentarão na costa. Se o
fundo é mais suavemente inclinado, as ondas rebentarão mais longe. Por isso, o sítio de
rebentação das ondas é um bom indício para sabermos qual é a profundidade da água.

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Para estimar a altura de uma crista de onda que rebenta mais longe da praia, podemos
procurar o local de onde vemos a crista da onda alinhada com o horizonte. A altura da
onda é igual à distância vertical entre os olhos e o ponto mais baixo para o qual a água
desce no seu movimento de vaivém na praia.

Figura 7 – Movimento das partículas da água numa onda. Onde A é o movimento


orbital em água profunda, B é o movimento orbital elíptico em água rasas, 1 é a direção
de propagação da onda, 2 é a crista e 3 o vale.

Figura 8 – Comprimento de onda de uma onduleta oceânica.

2.3 CORRENTES OCEANICAS


Em oceanografia, chamam-se correntes oceânicas ou correntes marítimas ao fluxo das
águas dos oceanos, ordenadas ou não, decorrentes da inércia da rotação do planeta
Terra, dos ventos e da diferença de densidade. Suas movimentações não são bem
definidas por haver continentes e ilhas ao longo da sua movimentação, portanto, correm
com grande variabilidade. Influenciam na pesca, na vida marinha e no clima.

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A costa sul do Brasil é, durante certa parte do ano, banhada por uma terceira corrente
marinha a Corrente das Malvinas, proveniente da região do círculo polar antártico que
traz águas frias e costuma adentrar sob as águas mais aquecidas de procedência tropical,
enquanto que no Atlântico Norte, na região da península ibérica, as mesmas águas que
entram e saem pelo Estreito de Gibraltar no Mar Mediterrâneo não respeitam esse
princípio, devido no percurso, modificarem o grau de salinidade das águas mais
aquecidas tornando-as mais pesadas.
As correntes marítimas se dividem em plantas oceanográficas confiáveis que se juntam
ao utilizar o mesmo método de distribuição fluvial, se dividem em correntes frias e
correntes quentes:
 Correntes quentes: formam-se na zona intertropical, próxima à Linha do
Equador, e movimentam-se em direção às zonas polares.
 Correntes frias: formam-se nas zonas polares e movimentam-se em direção à
região equatorial.

Figura 9 – Visualização das correntes oceânicas quentes (vermelho) e corrente


oceânicas frias (azul).

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3. CRIOSFERA
3.1 INTRODUÇÃO
A Criosfera tem um papel muito importante no clima devido à natureza e às
propriedades físicas do gelo e da neve e devido à união da Criosfera com os outros
componentes do sistema climático. É um termo que descreve as porções de água no
estado sólido na superfície da Terra, incluindo gelo do mar, dos lagos, rios, coberturas
de neve, glaciares, placas de gelo da Groelândia e Antarctica, e gelos permanentes na
América do Norte e Sibéria.
A Criosfera também inclui alguns dos maiores sistemas glaciares (montanhas), como
por exemplo, Ártico Canadense, Alaska, os Alpes e os Spitsbergen. Os gelos
permanentes sustentam regiões extensas cobrindo 15 a 20 % da superfície da Terra,
principalmente fronteiras polares continentais na América do Norte e Sibéria.

3.2 CARACTERISTICAS DA CRIOSFERA


Estima-se que aproximadamente 2 % de toda a água da Terra é gelada. Esta água
representa aproximadamente 80 % de toda a água doce disponível na Terra. É
distribuída em proporções muito diferentes entre as várias componentes da Criosfera e
também representa tempos de residência muito diferentes de cada componente.

Figura 10 – Extensão máxima de neve e gelo durante o Inverno (a) e extensão mínima
durante o Verão (b) no Hemisfério Norte. Regiões de gelos permanentes estão
representados em (b).

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Figura 11 – Extensão máxima de gelo durante o Inverno (a) e extensão mínima durante
o Verão (b) no Hemisfério Sul.
As mudanças dominantes são as enormes mudanças sazonais da cobertura de neve nos
continentes do Hemisfério Norte, e as variações sazonais na cobertura de gelo nos
oceanos do sul que cercam a Antarctica.
A Criosfera influencia o clima local em todas as escalas de tempo, mas a influência do
clima local é predominante para escalas de tempo de anos ou mais.
A figura abaixo representa a Criosfera no Hemisfério Norte e sul respectivamente.

(a) (b)
Figura 12 – Extensão máxima de neve e gelo durante o Inverno (a) e no Verão (b) no
Hemisfério Norte no ano de 2006. Regiões de gelos permanentes estão representadas
em (b).

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Figura 13 – Extensão de gelo em Maio de 2007 no Hemisfério Sul.
A distribuição de delo e neve é importante porque refletem radiação solar de curto
comprimento de onda durante o dia e atuam como um corpo negro, quase perfeito, e é
irradiador de radiação de onda longa durante a noite. O gelo e a neve têm uma alta
refletividade quando comparada com a água ou superfície de Terra. A Criosfera atua
como um receptor de calor efetivo para a atmosfera e oceanos pelo albedo relativamente
elevado e grande calor latente de liquidificação. A variação das distribuições globais de
gelo e neve tem um efeito significativo no albedo planetário.
Devido à condutividade térmica baixa, o gelo e a neve constituem excelentes isoladores,
reduzindo assim a quantidade de calor trocada entre a Terra e oceanos e a atmosfera
sobrejacente.
O gelo funciona como uma camada isoladora entre massas de ar polares frias e água
relativamente quente em baixo do gelo. Todos estes efeitos combinados tendem a
reforçar o arrefecimento da atmosfera e induzir climas frios locais. Esta interação entre
gelo e neve e a temperatura atmosférica pode conduzir a um processo de feedback
positivo.
Contudo, tão forte processo de feedback positivo não pode ser considerado na
insolação, mas em conjunto com outros fatores podem alterar o balanço de radiação. Por
exemplo, o feedback só será efetivo quando houver um aumento adequado da
precipitação (neve) disponível de forma a garantir a duração e extensão espacial do gelo
e neve.
O arrefecimento da atmosfera polar, por vezes, conduz a um forte gradiente meridional
da temperatura, e a um aumento na intensidade da circulação zonal na atmosfera. O
congelamento da água tende a aumentar a salinidade das camadas superficiais do

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oceano pela remoção de água doce das camadas de superfície. Os derretimentos da neve
e do gelo fazem diminuir a salinidade das camadas superficiais.
As mudanças resultantes da estrutura vertical da temperatura e salinidade afetam a
estabilidade do oceano e pode conduzir a mudanças na circulação geral do oceano. A
variação de volume das placas de gelo e glaciares por vezes tem uma influência indireta
no clima, podem mudar o nível médio do mar e afetar a área coberta por oceano. Outros
aspectos importantes da Criosfera dizem respeito a trocas de massa e energia e ao ciclo
hidrológico.
Existem diferenças notáveis na natureza da superfície da terra entre as regiões do Ártico
e da Antarctica. Por exemplo, se compararmos os dois capuchos polares, o oceano cobre
72% da área superficial no norte, enquanto que no sul cobre apenas 22% (ver tabela 1).
Isto sugere que o papel do oceano na troca de algumas quantidades como, o vapor de
água e a energia, com a atmosfera sobrejacente tem uma importância maior no pólo
Norte do que no pólo Sul. Se os capuchos polares se estendem desde os 70º até 60º de
latitude a percentagem de terra e oceano cobertos torna se quase igual. Os 3 a 4 km de
altura das placas de gelo na Antarctica e a topografia baixa (exceto a Groenlândia) nas
fronteiras terrestres do oceano Ártico representam outra importante diferença entre as
duas regiões polares.

Fração Cobertura Cobertura da


Área (1014 m2)
Hemisférica oceânica Terra
70° N-NP 0.15 6% 72% 28%
70° S-SP 0.15 6% 22% 78%
60° N-NP 0.34 13.4% 46% 54%
60° S-SP 0.34 13.4% 60% 40%
Tabela 1 - Algumas características da superfície dos capuchos polares nos Hemisférios
Norte e Sul.
O fator dominante do clima polar é o grande ciclo anual de insolação, sem radiação
solar durante o Inverno e com um máximo absoluto de radiação solar no topo da
atmosfera durante o Verão, que corresponde ao maior valor de insolação em qualquer
parte do globo.

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Muito do conhecimento da atmosfera polar baseia se em resultados de radiossondas que
estão distribuídas em estações nas duas regiões polares, sendo que a atmosfera do pólo
Norte é mais conhecida

4. BIOSFERA
4.1 INTRODUÇÃO
Biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra. É um conceito da Ecologia,
relacionado com os conceitos de litosfera, hidrosfera e atmosfera. Incluem-se na
biosfera todos os organismos vivos que vivem no planeta, embora o conceito seja
geralmente alargado para incluir também os seus habitats.
O termo "Biosfera" foi introduzido, em 1875, pelo geólogo austríaco Eduard Suess.
Entre 1920 e 1930 começou-se a aplicar o termo biosfera para designar a parte do
planeta ocupada pelos seres vivos. O conceito foi criado por analogia a outros conceitos
empregues para nomear partes do planeta, como, por exemplo, litosfera, camada
rochosa que constitui a crosta, e atmosfera, camada de ar que circunda a Terra. Biosfera
é o conjunto de todas as partes do planeta Terra onde existe ou pode existir vida. A
biosfera é um tanto irregular, devido à escassez, ou mesmo inexistência, de formas de
vida em algumas áreas. Os seus limites vãos dos fins das mais altas montanhas até as
profundezas das fossas abissais marinhas. A vida na Terra terá surgido há cerca de 3800
milhões de anos.

4.2 O HOMEM E A BIOSFERA


O homem, como ser vivo, faz parte da biosfera, modificando-a positiva ou
negativamente.
Os seres vivos dependem uns dos outros e mantêm relações específicas com o meio
ambiente. Com exceção do homem, que consegue se fixar e viver em quase todos os
lugares do planeta, devido ao alto grau de adaptabilidade que lhe é natural, cada ser vivo
tem um ambiente em que se adapta melhor e que, sendo modificado, pode afetar o
ecossistema. Por isso, o homem tem uma responsabilidade acrescida na saúde da
biosfera.
Neste sentido, a UNESCO lançou, em 1971, o programa internacional "O Homem e a
Biosfera" para incentivar a cooperação entre os países no sentido de conhecer e
encontrar formas de evitar a degradação da biosfera.

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Figura 14 – Esquema sistemático da biosfera.

4.3 DEGRADAÇÃO DA BIOSFERA


Com o avanço da ocupação humana sobre os mais diversos ecossistemas, várias têm
sido as formas de impacto sobre o equilíbrio ecológico. Os seres vivos e o meio
ambiente estabelecem uma interação dinâmica, porém frágil. O grande dilema das
sociedades modernas é conciliar o desenvolvimento tecnológico e a carência cada vez
maior de recursos naturais com o equilíbrio da natureza.
A tentativa de conciliação ou harmonização começou a ser intensificada na década de
1980, quando se tornaram muito mais visíveis e preocupantes várias conseqüências da
profunda interferência do homem na paisagem: o efeito estufa, as chuvas ácidas, as ilhas
de calor nas cidades, o buraco de ozônio, a poluição dos oceanos, a grande extensão dos
desmatamentos e extinção de espécies animais, o rápido esgotamento dos recursos não-
renováveis, etc.

5. CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA

Aristóteles foi o primeiro a atribuir ao aquecimento do sol os ventos globais, cerca de


2000 anos atrás, na sua “Meteorológica”.

O Sol aquece toda a Terra, mas verifica-se uma distribuição desigual de energia à
superfície do globo: a região equatorial e tropical recebe mais energia solar que as
latitudes médias e as regiões polares.
A energia radiante recebida nos trópicos é superior à que essa região é capaz de emitir
enquanto as regiões polares emitem mais do que recebem. Se não se verificasse um
transporte de energia dos trópicos para as regiões polares, a temperatura da região

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tropical aumentaria indefinidamente enquanto as regiões polares ficariam com uma
temperatura cada vez menor. É este desequilíbrio térmico que induz a circulação da
Atmosfera e dos Oceanos. A energia é redistribuída pela circulação atmosférica (60%) e
pelas correntes oceânicas (40%) das regiões onde há excesso para aquelas em que há
déficit.
Esta transferência de energia é efetuada de várias formas. Cada uma delas varia em
importância com a latitude:
 Trocas de calor sensível com a atmosfera pelo deslocamento de massas de ar;
 Transferências de calor latente, libertado durante o processo de condensação;
 Correntes oceânicas que transferem calor para os pólos.
A taxa de transferência máxima, da ordem de 5x1027 kW ocorre nas latitudes de 30º e
40º, e está associada à circulação de grande escala ou circulação planetária, distinta das
circulações regionais (monções), das circulações características dos sistemas sinópticos
transientes (escala ~ 1.000 km) e das circulações locais.
A estrutura média da circulação geral é de grande importância para a necessária
transferência meridional de energia. Um dos primeiros modelos clássicos da circulação
geral é devido a George Hadley, que em 1735, sugeriu que sobre a Terra sem rotação, o
movimento do ar teria a forma de uma grande célula de convecção em cada hemisfério,
conforme esquematizado na figura. 15.

Figura 15 - Circulação Geral numa terra sem rotação (Hadley, 1735).


A transferência de energia do equador para os pólos poderia, de acordo com Hadley, ser
efetuado por uma célula convectiva, com movimento ascendente nos trópicos,

21
movimento na direção dos pólos em altitude, movimento descendente sobre os pólos e
em direção ao equador à superfície.
Como a Terra tem movimento de rotação em torno de si própria, o eixo de rotação é
inclinado sobre o plano da órbita, e a percentagem da superfície coberta por continentes
é maior no hemisfério norte do que no hemisfério sul, o padrão de circulação é muito
mais complicado. Em 1856, o professor do ensino secundário William Ferrel,
aperfeiçoou o modelo de Hadley, introduzindo o primeiro modelo tricelular, que foi
melhorado por Tor Bergeron em 1928 e por Carl-Gustav Rossby em 1941. No modelo
proposto por Rossby, admite-se que a pressão a superfície do globo se distribui
zonalmente, i.e. ao longo dos paralelos, havendo faixas alternadas de baixas e altas
pressões, aproximadamente simétricas em relação ao equador térmico.
Associadas a esta distribuição de pressão, existem três células convectivas de circulação
meridional em ambos os hemisférios (figura 16). Estas três células são a célula tropical
(também denominada de célula de Hadley), a célula de das latitudes médias (célula de
Ferrel) e a célula polar.

Figura 16 – Esquema da circulação geral idealizada no modelo de três células.


São as células:

1. Célula Tropical (célula de Hadley) – Nas latitudes baixas, o movimento do ar é,


devido ao aquecimento, ascendente sobre o Equador, dirigindo-se no sentido dos
pólos nos níveis superiores da atmosfera; sobre as latitudes subtropicais o ar
arrefecido subside, retornando para o Equador à superfície. Esta circulação
forma a célula convectiva que domina o clima tropical e subtropical. O ramo

22
descendente da célula de Hadley está associado aos grandes centros permanentes
de altas pressões subtropicais (anticiclones subtropicais), de que são exemplo o
anticiclone dos Açores e o anticiclone do Pacífico. Nesta célula, a rotação do
globo determina ventos de oeste em altitude e ventos de leste à superfície
(ventos alísios).
2. Célula das latitudes médias (célula de Ferrel) – É uma célula de circulação
atmosférica média nas latitudes extratropicais, reconhecida por Ferrel no século
XIX. Nesta célula, o ar move-se para os pólos e para leste junto à superfície, e
no sentido do Equador e para oeste em altitude, fechando-se a circulação por
subsidência nos subtrópicos.
3. Célula Polar - Nesta célula, o ar sobe, diverge, e desloca-se em altitude para os
pólos. Uma vez sobre os pólos, o ar arrefecido desce, dando origem a altas
pressões à superfície nas regiões polares; nestas regiões, o ar diverge para fora
dos centros de altas pressões e retorna para sul, fechando a circulação celular.
Na célula polar, à superfície, os ventos estão dirigidos para Oeste e em altitude
para Leste.

Figura 17 - Circulação Geral da Atmosfera.

Depressões Equatoriais – Uma cintura de baixas pressões associada à ascensão do ar na


ZCIT. A ascensão do ar quente aquecido no equador dá origem a uma região de baixas
pressões denominada de Vale Equatorial. À medida que o ar sobe formam-se nuvens e
ocorre precipitação.

23
Anticiclones Subtropicais – Uma cintura de altas pressões associada à subsidência do ar
nas latitudes do cavalo, i.e. nas zonas de ventos muito fracos ou calmarias. Nas latitudes
subtropicais o ar arrefece e desce criando áreas de altas pressões com céu limpo e pouca
precipitação, denominadas de Anticiclones Subtropicais. A subsidência do ar seco (após
precipitação na ZCIT) e quente (devido à própria subsidência, que provoca aquecimento
adiabático) está na origem dos desertos nestas latitudes.
Depressões Subpolares – Uma cintura de baixas pressões associadas à frente polar.
Anticiclones Polares – Sistemas de altas pressões associados ao ar polar frio e denso.
O modelo descrito de três células é útil, mas é muito simplificado e idealizado, pois
descreve apenas a circulação atmosférica, simétrica em relação ao eixo de rotação, ou
axialmente simétrica, i.e. independente da longitude. No entanto, o modelo fornece um
bom ponto de partida para descrever as características principais da circulação
atmosférica de larga escala.
Como acabado de referir, o modelo das três células é uma idealização; na realidade os
ventos não são estacionários, e as regiões de altas/baixas pressões não são contínuas
(Figura 17), implicando variações importantes da circulação atmosférica com a
longitude.
A Terra real contém descontinuidades no padrão zonal dos ventos/pressão causados
pelas grandes massas continentais.
Estes condicionalismos rompem as cinturas de pressão em regiões de baixas e altas
pressões semi-permanentes.
Existem três razões fundamentais para a diferença entre a distribuição "ideal" e a "real":
 A superfície da Terra não é uniforme, ou alisada. Verifica-se um aquecimento
diferenciado devido aos contrastes solo/oceano (mar).
 A circulação pode desenvolver vórtices ou turbilhões.
 O Sol não "permanece sobre o Equador", mas move-se entre 23.5°N e 23.5°S ao
longo do ano.
5.1 CIRCULAÇÃO MÉDIA EM SUPERFÍCIE
Devido ao efeito da força de Coriolis, que desvia o movimento para direita (esquerda)
no hemisfério Norte (hemisfério Sul), a circulação meridional nas três células é alterada.
Surgem então, três ventos característicos à superfície:
 Os ventos alísios nos Trópicos;
 Os ventos predominantes de Oeste nas latitudes médias;
 Os ventos polares de Este.

24
Figura 18 - Circulação Geral da Atmosfera e os grandes sistemas de vento.
De acordo com este modelo (Figura 18), que incorpora o efeito da rotação da Terra,
para a zona equatorial de baixa pressão devem convergir ventos provenientes das
cinturas subtropicais de altas pressões (em torno de 30ºN e 30ºS), impulsionados pela
força de gradiente de pressão (dirigida para as pressões mais baixas) e defletidos por
efeito da rotação da Terra (força Coriolis). Os ramos inferiores das células de Hadley
justificam, portanto, a existência dos ventos alísios de nordeste no Hemisfério Norte e
dos alísios de sudeste no Hemisfério Sul.
Os ventos alísios (trade winds) estendem-se entre as latitudes 10º-25ºN e 5º-20ºS, são
particularmente bem desenvolvidos nos meses de Inverno sobre o lado oriental dos
maiores oceanos.
A faixa de encontro dos alísios de nordeste (procedentes do HN) com os de sudeste
(procedentes do HS) é conhecida como Zona de Convergência Intertropical ou ZCIT
(ou Zona Intertropical de Convergência, ZITC). A ZCIT é uma região de pressões
relativamente baixas, localizada entre 10ºN e 5ºS, caracterizada por uma acentuada
instabilidade atmosférica que favorece o desenvolvimento de intensas correntes
ascendentes, com formação de grandes nuvens convectivas, geradoras de precipitação
abundante.
Os três grandes centros anticiclônicos subtropicais, semi-permanentes, que se situam
sobre o oceano austral, em torno de 30ºS (Fig.5), e no Hemisfério Norte sobre os
oceanos e continentes, formam a cintura subtropical de altas pressões que praticamente
circunda o planeta, seriam os ramos descendentes das células de Hadley (e Ferrel) de

25
cada hemisfério. A subsidência neles observada provoca divergência a superfície
gerando ventos direcionados tanto para o equador (alísios) como para os pólos,
desviando-se estes últimos para leste, por ação da força de Coriolis, atingindo latitudes
próximas a 50º ou 60º, como ventos predominantes de Oeste.
A circulação atmosférica nas latitudes elevadas é menos bem definida. Acredita-se que
a subsidência nas proximidades dos pólos produz uma corrente superficial em direção
ao equador que é desviada, formando os ventos polares de leste, em ambos os
hemisférios. O ar frio proveniente da região circumpolar encontra-se com o ar quente
dos sub-trópicos; como a rotação da Terra impede a mistura das duas massas de ar, a
região de encontro entre as massas de ar polar de Este (frias) e as massas de ar
provenientes de Oeste (quentes) é uma região de descontinuidade, conhecida como
“Superfície Frontal Polar”; a intersecção desta “superfície” (na realidade uma camada
pouco espessa) com o globo é a “frente polar”. No hemisfério Sul, sobre o Oceano
Atlântico, a superfície frontal polar é também conhecida como Zona de Convergência
do Atlântico Sul (ZCAS).

5.2 CIRCULAÇÕES REGIONAIS E LOCAIS


Os ventos são causados por diferenças de pressão atmosférica que resultam do
aquecimento desigual da superfície terrestre e da atmosfera. O ar, aquecido na base
quando se desloca sobre superfícies quentes, torna se menos denso, implicando descida
de pressão e o estabelecimento de diferenças na distribuição da pressão à superfície, i.e.
de gradientes de pressão. Estes gradientes constituem uma força, a força do gradiente de
pressão, que põe o ar em movimento. Assim, à superfície, o ar flui das pressões mais
altas para as pressões mais baixas, forçando convergência de ar e movimento vertical
ascendente nas regiões em que a pressão é mais baixa e divergência, com movimento
vertical descendente (subsidência) nas regiões em que a pressão é mais alta. Gradientes
de pressão levam ao movimento do ar. Este movimento verifica-se a diferentes escalas:
à escala global (circulação global), à escala regional (depressão térmica de Verão sobre
a Península Ibérica) e à escala local (tornados, ventos de vale e de montanha, brisas,
etc.).
Ventos à escala global consistem nos movimentos ondulatórios de grande comprimento
de onda, nas correntes de jacto, enquanto os ventos locais envolvem gradientes de
escala local, afetando áreas de pequena dimensão.

26
5.2.1 BRISAS MARÍTIMA, TERRESTRE E LACUSTRE
Junto à costa, no fim da manhã, começa freqüentemente a fazer-se sentir, um vento
vindo do mar, que atinge o máximo no princípio da tarde e desaparece ao anoitecer.
Este vento é mais forte nos dias muito quentes, mas pode ser mais fraco quando o céu
está nublado. Chama-se brisa marítima (Fig.6).
A causa fundamental do movimento do ar é a diferença de aquecimento entre as
superfícies da terra e do mar, essencialmente devido às diferentes capacidades
caloríficas dos materiais à superfície; com efeito, a água tem uma maior capacidade
calorífica que o solo, e aquece muito mais lentamente que este.

Figura 19 – Brisa Marítima.


A brisa marítima desenvolve-se, num dia de Sol, quando a temperatura do solo
continental é mais elevada que a da superfície do mar. À medida que o solo aquece, o ar
na sua vizinhança expande-se, torna-se menos denso e começa a subir. Para substituir
este ar em movimento ascendente surge o ar, inicialmente sobre a superfície do mar, a
temperatura mais baixa. Onde o ar mais frio e mais quente se encontra, existe ascensão
do ar quente devido à diferença de densidades. Ao longo dessa linha de contacto,
freqüentemente denominada de frente de brisa, podem desenvolver-se nuvens
convectivas e tempestades. Isto ocorre freqüentemente durante o dia nas regiões
tropicais costeiras.
Durante a noite, a água não arrefece tanto como o continente e a circulação inverte-se,
verificando-se o deslocamento do ar à superfície, dirigido do continente para o mar.
Esta circulação denomina-se de brisa terrestre ou continental (Figura 20). Uma linha
de nuvens convectivas (cumulus) poderá freqüentemente formar-se ao longo da frente
de brisa, imediatamente fora da linha da costa. Ventos locais à superfície são geralmente

27
perpendiculares à linha de nuvens. Esse fenômeno pode ser observado em muitas
regiões durante as primeiras horas da manhã, e pode provocar chuva fraca nessa região,
até que a brisa terrestre (que, nos trópicos, intensifica os alísios) ganhe força.

Figura 20 – Brisa Terrestre.

A brisa de lago (lacustre) também se desenvolve de forma similar, em torno de massas


de água, dentro do continente. Frentes de brisa de lago ao longo das costas é também
um fenômeno freqüente. De forma similar, o ar sobre o lago permanece sem nuvens,
enquanto uma área de nuvens cumuliformes é aparente sobre a terra, indicando a brisa
de lago. Para ambos os sistemas, lagos e mar, o vento sopra em direção a costa, em
geral perpendicularmente a esta.

5.2.2 BRISAS DE VALE E DE MONTANHA

Nas regiões montanhosas verificam-se sistemas de vento particulares. As encostas mais


inclinadas e as partes mais estreitas dos vales são aquecidas pelo Sol de forma mais
intensa que as vastas superfícies dos vales ou os picos. Estas condições conduzem a
brisas de vale durante o dia e brisas de montanha durante a noite.
O ar em movimento ascendente é substituído pelo ar dos vales ou dos planaltos, com
menor declive. Assim, o vento durante o dia surge habitualmente das partes mais baixas
e sem declive, obrigando o ar a subir. Como a denominação do vento está associada à
sua origem, este denomina-se de brisa de vale (Figura 21).

28
Figura 21 – Brisa de vale.

Durante a noite, o ar frio desce sobre as encostas para o vale. A brisa segue o percurso
no sentido oposto. Vem das montanhas e dirige-se para o vale. Assim, denomina-se de
brisa de montanha (Figura 22). Tal como nas brisas marítimas e terrestres, o ar que se
move junto ao solo e ascende, em determinado período de tempo, tem de retornar e
descer novamente. Este movimento de retorno ocorre a altitudes mais elevadas. Assim
se geram circulações locais. O esquema acima indicado pode ser um pouco simplista,
porque as montanhas são estruturadas e têm muitos vales laterais. Mas representa os
processos fundamentais.

Figura 22 - Brisa da Montanha.

29
ALGUMAS REFERENCIAS
http://www.notapositiva.com/trab_estudantes/trab_estudantes/fisico_quimica/fisic
o_quimica_trabalhos/atmosferaterrestre.htm

http://web.ist.utl.pt/berberan/QF2/docs/Estrutura%20e%20composicao%20da%2
0atmosfera.pdf

30
PARTE 2

RADIAÇÃO SOLAR
1. LEIS DA RADIAÇÃO
A principal fonte de energia Terra-atmosfera utilizada nos processos físicos, químicos e
biológicos que ocorrem em superfície e na atmosfera é a radiação provenientes do Sol,
chamada de radiação solar. Desta maneira, qualquer mudança no fluxo incidente de
radiação solar resultará em diferentes respostas na atmosfera e superfície, podendo
haver mudanças em vários processos meteorológicos e climáticos.
Desta forma, alterações como, por exemplo, na constituição da atmosfera (composição
química-concentração de gases e aerossóis) que interagem com a radiação
eletromagnética podem afetar o perfil da temperatura e, por conseguinte, o perfil de
pressão.
Em relação ao clima da Terra, um dos assuntos mais abordados na atualidade é o
aumento da concentração dos chamados gases do efeito estufa e o conseqüente aumento
da temperatura da Terra. Por isso neste capitulo, faremos uma abordagem sobre as leis
de radiação e suas principais componentes.

2. PROCESSOS DA RADIAÇÃO SOLAR


A radiação solar é uma fonte primaria de energia para os processos biológicos e
meteorológicos que ocorrem em superfície e na atmosfera.
O calor emitido pela radiação solar pode ser transmitido na atmosfera através de três
processos: Condução, convecção e radiação.
O primeiro processo é chamado de condução, onde ocorre a transferência de energia de
molécula a molécula, porém o ar é um mau condutor de calor e por isso, esse não é o
processo preferencial.
O segundo processo é chamado de convecção, processo em que há movimentação de
uma massa (ar) em função de diferença de densidade. A elevação do ar quente acontece
porque esse é menos denso do que o ar frio (mais denso). Há também a convecção
horizontal a qual é denominada de advecção que ocorre em conseqüência da diferença
de pressão.

31
O terceiro processo, chamado de radiação, ocorre em função da transferência de energia
entre dois corpos sem haver um meio de conexão entre eles, sendo o principal processo
de troca de energia entre a Terra e o Sol.

3. GRANDEZAS DA RADIAÇÃO SOLAR


3.1 Espectro eletromagnético e Radiação
Todo corpo apresenta uma temperatura maior que o zero absoluto, representado por 0 K
e emite uma radiação em todos os comprimentos de onda. É definida como radiação a
emissão ou propagação de energia em forma de onda eletromagnética ou fóton (energia
transferida).
A energia de um fóton (U) está relacionada com o seu comprimento de onda (λ) ou sua
freqüência de oscilação (ν) por:
hc
U= = hv (1)
λ
Onde h é a constante de Planck (~ 6,626x10-34 Js) e c é a velocidade da luz (~ 2,998x108
ms-1 no vácuo).
De posse destas informações, podemos afirmar que o espectro eletromagnético pode ser
dividido em varias bandas ou intervalos espectrais (Figura 1), são eles:
 raios-gama: radiação com comprimento de onda menor que 1 nanômetro;
 raios-X: radiação com comprimento de onda entre 1 e 10 nm;
 ultravioleta: espectro compreendido entre 10 < λ < 400 nm;
 visível ou radiação fotossinteticamente ativa: compreendido entre 400 <
λ < 700 nm;
 infravermelho próximo: 0,7 µm < λ < 3,5 µm;
 infravermelho térmico: 3,5 µm < λ < 100,0 µm;
 microondas: radiação com comprimento de onda entre 3 mm e 300 mm
ou com freqüência entre 1 e 100 GHz;
 ondas de rádios: onde a radiação apresenta um comprimento de onda
maior que 300 mm.

32
Figure 1 – Ilustração das várias regiões do espectro eletromagnético de acordo com o
comprimento de onda da radiação.
A radiação solar está confinada basicamente em uma região espectral λ ≤ 4µm, sendo
por isso denominada radiação de onda curta. Já a radiação emitida por um corpo
terrestre (ex. a superfície terrestre) compreende a região espectral λ ≥ 4µm, denominada
radiação de onda longa ou térmica.

3.2 Fluxos, Intensidade, Irradiância e Radiância.


Em 1976, Paltridge e Platt, definiram que a nomenclatura dos termos associados à
radiação atmosférica tinha que ser padronizados, pois apresentavam diferentes
nomenclaturas de diferentes disciplinas, dessa forma, alguns termos podem ter
diferentes significados dependendo do autor. Aqui nesta apostila, adotaremos a
nomenclatura recomendada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).
1) Energia radiante (U): é a quantidade de energia na forma de radiação (emitida,
transferida, absorvida, incidente), onde a unidade no Sistema Internacional (SI) é
Joule (J);
2) Fluxo de radiação ou fluxo radioativo (φ): potência emitida, transferida ou
recebida na forma de radiação, com unidade Js-1 ou W (Watt);
dU
φ= (2)
dt
3) Intensidade radiante de uma fonte em uma determinada direção (I): é o
quociente entre a potência emitida pela fonte para uma dada direção do espaço e
o ângulo sólido infinitesimal de um cone representando a direção, com unidade
de Wsr-1

33
dφ d U
2

I= = (3)
dΩ dtdΩ
4) Irradiância em certo ponto da superfície (∈): é o quociente entre o fluxo de
radiação pela área de elemento de superfície, onde a unidade de área é Wm-2

dφ d U
2

∈= = (4)
dA dtdA
4) Radiância (L): é o quociente entre a intensidade de radiação de certo elemento
de superfície em uma determinada direção. Sua unidade é Wm-2sr-1

dU
3
dI
L= = (5)
cos θ × dA cos θ × dtdΩdA

Figure 2 – Esquema da geometria de radiância. O elemento área a ser considerado é


sempre perpendicular à direção de incidência. Visão tridimensional à esquerda e visão
em um plano vertical à direita.

4. LEIS DA RADIAÇÃO
4.1 Lei de Planck
A luz viaja no universo por pequenas partículas chamadas de fóton, onde o Quantum é a
energia de um fóton. Planck definiu que o comprimento de onda é a distância entre duas
cristas e outra de uma mesma onda.
A energia de um fóton é diretamente proporcional à freqüência da onda e inversamente
proporcional ao comprimento de onda. Quanto maior a freqüência de onda, maior a
quantidade de energia contida nos fótons, e quanto maior a energia contida menor o
comprimento de onda. Por essas definições, Planck, definiu que o comprimento de onda

34
é inversamente proporcional a freqüência, uma vez que o produto entre eles (freqüência
x comprimento) é uma constante, a velocidade da luz.
E = h⋅ f (6)
c
f = (7)
λ
c
E = h  (8)
λ
Onde,
E é a energia de um fóton de radiação (J);
h é a constante de Planck, com valor de ~ 6.6262 x 10-34 Js-1;
f é a freqüência da radiação (Hz ou s): é o número de cristas de ondas que ocorrem na
unidade de tempo;
c é a velocidade da luz (~ 3 x 108 ms-1);
λ é o comprimento de onda (µm).

4.2 Lei de Kirchhoff


Kirchhoff definiu que um dado comprimento de onda e uma dada temperatura, a
absortividade de um corpo é igual a sua emissividade, ou seja, para um determinado
comprimento de onda o poder emissivo de uma superfície é igual ao poder de absorção.
aλ = eλ (9)
Através da formulação 1, podemos chegar à conclusão que todo bom absorvedor é um
bom emissor.
Propriedade de uma superfície:
1) toda superfície tem um poder emissivo (eλ);
2) toda superfície tem um poder de reflexão (rλ);
3) toda superfície tem um poder de absorção (aλ);
4) toda superfície tem um poder de transmissão (tλ).
Algumas outras definições da lei de Kirchhoff.
Corpo Negro
O corpo negro é definido como um material hipotético capaz de absorver integralmente
toda a energia incidente sobre ele. O corpo negro tem absortividade e emissividade igual
a 1 e refletividade e transmissividade igual a 0.

35
Emissividade (eλ)
É a razão entre a emitância monocromática (uma cor) de um corpo e a correspondente
emitância monocromática de um corpo a mesma temperatura.
Absortividade (aλ)
É a razão entre a quantidade de energia radiante absorvida pela substância ou corpo e o
total incidente, para um dado comprimento de onda.
Refletividade (rλ)
É a razão entre a quantidade de energia radiante refletida pela substância e/ou corpo e o
total incidente, para um dado comprimento de onda.
Transmissividade (tλ)
É a razão entre a quantidade de energia radiante transmitida e o total incidente, para um
dado comprimento de onda.
Observação: Os valores de absortividade, refletividade e da transmitividade para um
dado material varia de 0 a 1, onde a soma destes terá que ser 1. Através da conservação
de energia, temos:
aλ + rλ + tλ = 1 (10)

4.3 Lei de Wien


A lei de Wien estabelece que o comprimento de onda de máxima emissão (máximo λ) é
inversamente proporcional a temperatura da superfície (T em K).
2897
λMAX = (11)
T
Onde,
λT = 2897 µm K ou 2,897 x 106 nm K (o produto entre λ e T é constante).
Alguns exemplos:
Terra: temperatura ~ 300 K ⇒ λ max = 9,66 µm (radiação infravermelha 9660 nm)
Sol: temperatura ~ 6000 K ⇒ λ max = 0,482 µm (radiação visível (cor verde) 482 nm)

4.4 Lei de Stefan-Boltzman


Essa lei afirma que a intensidade de fluxo de energia (energia por unidade de área e
tempo) emitida (Wm-2) é proporcional a quarta potência da sua temperatura absoluta
(K).
E = eλσT 4 (12)

36
Onde,
E é a densidade de fluxo de energia;
eλ é o poder emissivo do corpo, ou emissividade;
σ é a constante de Stefan-Boltzman ~ 5,67 X 10-8 W m2K-4
Para a maioria dos objetos o poder emissivo varia entre 0,95 e 1,0.
Observação:
Desta maneira, um corpo se aquece e se resfria numa razão proporcional a quarta
potência da sua própria temperatura e a quarta potencia do ambiente que a rodeia.

4.5 Lei de Lambert


A quantidade de energia recebida por uma superfície é função do ângulo de incidência
da radiação. Quanto um fluxo de energia radiante incide sobre uma superfície formando
um ângulo z com a normal a esta superfície, a irradiância sobre uma superfície
considerada será o produto da irradiância na superfície normal aos raios pelo co-seno do
ângulo de incidência.
I = I o cos z (13)
Onde,
I é a irradiãncia incidente sobre uma superfície;
Io é a irradiância normal incidente sobre essa superfície;
z é o ângulo de incidência

4.6 Lei de Beer


A lei de Beer apresenta a teoria de que um feixe monocromático de radiação ao
atravessar um meio homogêneo sofrerá uma atenuação exponencial.
Essa lei indica como obter a radiação solar instantânea incidente em uma superfície
horizontal considerando a atmosfera presente. Por essa lei verifica-se que a radiação ao
atravessar um meio isotrópico e homogêneo ela sofrerá uma atenuação exponencial a
qual é função da espessura e do coeficiente de extinção desse meio.

I = Io e
− kx
(14)

Onde,
I é a irradiância considerada;
Io é a irradiância normal;

37
K é o coeficiente de extinção que para uma comunidade do tipo vegetal com folhas
eretas o valor varia de 0,3 a 0,5 e para folhas horizontais varia entre 0,7 a 1,0; X é à
distância na qual o feixe atravessa esse meio.

5. RADIAÇÃO SOLAR E SUA TRANSFERÊNCIA RADIOATIVA


Para estudarmos a radiação solar e a transferência radioativa é necessário o
entendimento dos processos físicos que levam a esse evento, por isso faremos uma
abordagem ampla dos processos responsáveis pela radiação e transferência solar.

5.1 Radiação Solar


a) Sol
O Sol é a estrela mais próxima da Terra, constitui a principal fonte de energia do
planeta. Para se ter uma idéia, o Sol está aproximadamente 300.00 vezes mais perto do
que a segunda estrela mais próxima da Terra (Liou, 1984). A distância média entre a
Terra e o Sol é de aproximadamente:
d = 149597879 ± 2km = 1UA (Unidade astronômica).
Para um melhor entendimento, é feita o arredondamento para metros, ou seja:
d = 1,496 × 1011 m
Devido a orbita elíptica da Terra ao redor do Sol, a distância solar varia entre
1,471x1011m no periélio (Terra mais próxima do Sol) em Janeiro, a 1,521x1011m no
afélio (Terra mais afastada do Sol) em Julho.
O Sol apresenta uma massa da ordem de aproximadamente 1,9891 ± 0,0012) x 1030 kg,
constituída basicamente de hidrogênio (75% de sua massa) e hélio além de alguns
elementos mais pesados como o ferro, silício, neônio e carbono.
A fonte de energia do Sol está associada à fusão termonuclear de átomos de hidrogênio
para hélio que acontece no interior do Sol. É dessa forma que a Terra recebe energia do
Sol, integrada em todos os espectros eletromagnéticos, a irradiância do Sol à distância
média da Terra-Sol, denominada constante solar (∈08), vale, no topo da atmosfera e em
uma superfície perpendicular à direção do feixe incidente:
∈0 = 1367 ± 2Wm −2
Por conservação de energia é possível determinar a irradiância na superfície do Sol e
conseqüentemente, sua temperatura na superfície, com hipótese de que ele emite

38
radiação como um corpo negro, para isso há necessidade de aplicar a Lei de Stefan-
Boltzmann.
A constante solar (∈) pode ser calculada levando em consideração a variação da
atividade solar, que está diretamente influenciada pela distância Terra-Sol, ângulo
zenital, declinação solar (δ), latitude (ϕ) e pelo ângulo horário (h) por isso é necessário
fazer-se algumas correções.

b) Declinação solar
A declinação solar é o ângulo entre o plano do equador e o vetor posição de um astro
que é uma linha imaginaria que vai do centro da Terra ao Sol.
A Terra gira sempre inclinada com ângulo máximo de 23°27´ entre o plano do equador
e o plano da elipse. As posições do sol nas quais a sua declinação é igual aos valores
extremos são denominadas de solstício. As posições de declinação nula são
denominadas de equinócio, ou seja, quando o Sol, em seu movimento aparente
posiciona-se sobre o plano do equador terrestre (δ = 0°). Ocorrendo duas vezes ao ano
(21 de março e 23 de setembro), onde cada solstício ou equinócio define uma estação do
ano.
Os trópicos de Câncer e Capricórnio são definidos em função da declinação solar de
valores extremos (23°27´N e 23°27´S), respectivamente.
Data declinação Hemisfério Sul Hemisfério Norte
22 de dezembro
-23°27´ Inicio do verão Inicio do inverno
solstício
21 de março
0° Inicio do outono Inicio da primavera
equinócio
23 de junho
+23°27´ Inicio do Inverno Inicio do Verão
solstício
23 de setembro
0° Inicio da primavera Inicio do outono
equinócio
Tabela 1 – Estações do ano com suas declinações e datas.

39
c) Movimentos de rotação e translação da Terra
O Sol apresenta dois movimentos aparentes em relação à Terra, um no sentido leste-
oeste (E-W), e decorrente da rotação (ciclo dia/noite) da Terra, e outro no sentido norte-
sul (N-S) devido o movimento de translação.
Em seu movimento de translação, a Terra descreve uma elipse com excentricidade
muito pequena. Dessa maneira, durante uma época do ano, a Terra está mais próxima do
Sol, enquanto que seis meses mais tarde estará no ponto mais distante, por isso, defini-
se que o Afélio é o período de maior distância entre a Terra e o Sol (citado acima) (dia
04 de julho) e o Periélio é a distância mais próxima entre a Terra e o Sol (citado acima)
(dia 03 de janeiro).

Figura 3 – Inicio das estações do ano e plano da eclíptica ilustrando a excentricidade do


Sol.
Durante o equinócio, em todos os locais da Terra a área iluminada terá a mesma
duração, ou seja, aproximadamente 12 horas de fotoperíodo. No solstício de verão no
Hemisfério Sul este hemisfério fica iluminado por mais tempo do que o Hemisfério
Norte. Percebe-se que nessa data a região do círculo polar sul fica iluminada
continuamente (o Sol não se põe abaixo da linha do horizonte), por outro lado, no
círculo polar Ártico o Sol não aparece acima da linha do horizonte por
aproximadamente seis meses. Seis meses depois, em 23 de junho, a situação é invertida
com o Sol brilhando no círculo polar Ártico e sempre abaixo da linha do horizonte no
círculo polar Antártico.

40
A declinação solar pode ser estimada por:
 360  
δ = 23,45sen (284 + J ) (15)
 365  
onde, J é o dia Juliano.
Latitude (ϕ): é um valor constante para um local, pois é o ângulo formado pela vertical
do local com o plano do equador, variando de 0° a 90°.
Triângulo Astronômico: é caracterizado pelos pontos zenital, solar, prolongamento do
equador terrestre e pólo sul.
Ângulo Zenital (z): é o ângulo formado pela linha vertical do local e a linha que une o
centro da Terra ao centro do Sol. Assim, ao nascer e pôr do Sol z = 90°.
A relação entre o ângulo zenital (z) e os ângulos horários, declinação solar e latitude, é:
cos z = (senϕ ⋅ senδ + cos ϕ ⋅ cos δ ⋅ cosh ) (16)
Observações:
O ângulo zenital varia durante o dia;
O ângulo horário varia durante o dia, ao meio dia solar h = 0°, logo, z = ϕ − δ ;

A declinação solar varia a cada dia, considera-se constante durante o período de um dia;
A latitude é constante para um local determinado, por exemplo, Equador ϕ = 0°, e Pólo
Sul ϕ = -90°.
Ângulo de elevação do Sol (A): é o ângulo formado pela linha que une o centro da Terra
ao Sol e o plano do horizonte do observador, logo: A = 90° - z.
Ângulo horário (h): é o ângulo formado pelo plano do meridiano local (observador) com
o plano do meridiano do Sol. Meio dia solar é quando o Sol culmina sobre a cabeça do
observado (passa sobre o meridiano do local). Por conservação, o meio dia h = 0°, h é
negativo no período da manhã e positivo no período da tarde. O ângulo diminui 15° por
hora (360°/24h = 15°/h) antes do meio dia e aumenta 15° por hora após o meio dia
solar. Devemos considerar que o ângulo horário descreve entre o nascer e o pôr do Sol,
dois semi-arcos (H) idênticos.

41
Figura 4 – Ângulo do Sol.
Exemplo: As 1000 local temos o seguinte ângulo horário.
h = (TS − 12) ⋅ 15 
Fotoperíodo (N): é o intervalo de tempo decorrido entre o nascer e o acaso do Sol.
Depende apenas da latitude do local e do ângulo de declinação solar na data da
observação.
H = arccos− (tgδ ⋅ tgϕ ) (17)
N=H+H N = 2H 1 hora = 15°.
Exemplo:
ϕ = 22°42´ S no dia 03 de março, logo:
N = (2/15) arc cós –(tg-22,7 tg -6,85) = 12,38 h
Observação: Em locais de baixa latitude (região Tropical), o fotoperíodo é pequeno
durante o ano, com um período de iluminação praticamente constante ao longo do ano.

6. BALANÇO DE RADIAÇÃO
Durante o seu movimento anual de translação a Terra ora se afasta do Sol ora se
aproxima, portanto, a quantidade de energia interceptada diminui ou aumenta,
respectivamente.
A radiação solar que atinge um determinado ponto da superfície terrestre pode vir
diretamente do disco solar (radiação direta – RD), ou indiretamente (RC), pela ação do
espalhamento e da reflexão de nuvens, poeiras, vapor d´água, etc., existente na
atmosfera.
A radiação solar global (Rs ou Rg) é a soma dessas duas contribuições:
Rs ou Rg = Rd + Rc

42
Quando o céu está sem a cobertura de nuvens, à proporção de radiação difusa que atinge
a superfície é muito pequena, mais quando o céu está totalmente encoberto, toda a
radiação que chega à superfície é difusa.
Entre as diversas equações empíricas para estimar a irradiância solar global ao nível do
solo a equação de Angstron é uma das mais utilizadas:
 n
Rg = Ra *  a + b ⋅  (18)
 N
Onde,
a e b são coeficientes obtidos por análise de regressão linear para uma determinada
localidade e época do ano e indicam a transmissividade da atmosfera; n é o número de
horas de brilho solar; N é o fotoperíodo, ou seja, n/N é o índice de claridade (razão de
insolação).
Observação: O espalhamento proporcionado pela atmosfera terrestre é maior quanto
menor for o comprimento de onda de radiação. Na faixa do visível, a radiação violeta é
que sofre maior espalhamento, seguindo-se do azul. O céu apresenta coloração azulada,
ao invés de violeta, porque a transmissividade da atmosfera para o azul é maior do que
para o violeta.

Figura 5 – Representação do balanço de radiação de ondas curtas na superfície terrestre.

43
O espalhamento atmosférico da radiação solar é uma função contínua do comprimento
de onda, a absorção e em geral seletiva, sendo o vapor d´água, o ozônio e o gás
carbônico os principais absorvedores.
O ozônio atua na região do espectro ultravioleta e os outros dois no espectro
infravermelho. Além desses gases há outros elementos que atuam na absorção da
energia solar, como: CH4, N2O, O2, poeira, nuvens (gotículas de vapor), entre outras.
 1 
E = f 4  (2)
λ 
A atmosfera é praticamente transparente, com absorção nula aos comprimentos de onda
na faixa entre 300 e 800 nm, onde nesta faixa se encontra a radiação visível. Entre 800 e
1200 nm (espectro infravermelho) a absorção atmosférica também é mínima. Essa
janela é conhecida como “janela atmosférica”, porque em condições de céu claro, parte
da radiação emitida pela Terra perde-se para o espaço, sendo a atmosfera praticamente
transparente a radiação solar e opaca a radiação terrestre, com exceção na região da
“janela atmosféricas”. O efeito resultante é denominado Efeito Estufa, o qual permite a
entrada de radiação solar, mas impede a saída da radiação emitida pela superfície.
Para cada momento temporal, haverá um balanço de radiação característico da
superfície. Esse balanço de radiação é composto pelo balanço de ondas curtas (BOC) e
balanço de ondas longas (BOL), representados por:
Rn = BOC + BOL (3)

Figura 6 – Balanço global de radiação em superfície.

44
Onde,
Ra é a constante solar ou quantidade de radiação solar no topo da atmosfera;
Rs é o total de radiação solar que atinge a superfície.
Uma parte dessa radiação solar global que atinge a superfície é refletida (rRs) em
direção a atmosfera, sendo o restante utilizada para o aquecimento do solo e do ar,
através do calor sensível, para evaporação da água, através do calor latente e na
fotossíntese.
A fração de Rs que é refletida é chamada de albedo (r), logo, é um coeficiente de
reflexão.
rRs
r= (19)
Rs
O valor de r varia entre as diferentes superfícies e espécies vegetal, umidade do solo,
entre outros fatores.

6.1 BALANÇO DE ONDA LONGA (BOL)


O BOL é composto:
Qa ⇒ fluxo de energia radiante emitido pela atmosfera em direção a superfície, que
depende da quantidade de nuvens e de vapor d´água presente na atmosfera e da
temperatura do ar;
Qs ⇒ fluxo de energia emitido pela superfície em direção a atmosfera, que depende da
temperatura e da emissividade da superfície (aplicação da lei Stefan-Boltzman).
Quando calculamos o balanço total, temos que ter em consideração o sentido dos fluxos,
e sempre é adotado como positivo para o fluxo que entra e negativo para o fluxo que
saem, logo temos:
BOC = Rs – rRs BOC = Rs (1-r)
BOL = Qa-Qs
BOL = -σT4(0,56 – 0,092 √e) (0,1 + 0,9 n/N)
RN = BOC – BOL
RN = Rs (1-r) + Qa - Qs ou
Rn = Rs (1-r) + [-σT4 (0,56 – 0,092 √e) (0,1 + 0,9 n/N)]
Desta maneira, RN poderá ser positivo ou negativo, dependendo dos valores dos fluxos
envolvidos.
O BOC é positivo durante o período diurno e nulo no período noturno (ausência de Sol).
O valor diário do BOL é geralmente negativo, isso faz com que nas superfícies naturais

45
o valor diurno do BOC torna RN positivo (ganho líquido de energia) enquanto que a
noite o BOC é nulo (BOC = 0), logo Rn é negativo. Desta maneira, a superfície libera
parte da energia absorvida em calor sensível.

ALGUMAS REFERENCIAS

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American Elsevier Publishing Company.

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Instruments and Measurements". WMO/ICSU Joint Scientific Committee, publication
WMO/TD No.149.

Gibert, A., 1982: "Origens Históricas da Física Moderna - Introdução Abreviada".


Fundação Calouste Gulbenkian.

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Clarendon Press.

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46
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Observation and Modeling". Oxford University Press.

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Michalsky, J.J., 1988: The Astronomical Almanac's algorithm for approximate solar
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Paltridge, G.W. & C.M.R. Platt, 1976: "Radiative Processes in Meteorology and
Climatology". Elsevier Publishing.

Plana-Fattori, A. & J.C. Ceballos, 1996: "Glossário de Termos Técnicos em Radiação


Atmosférica". Contribuições do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de
São Paulo, série Ciências Atmosféricas, No.004, 14pp.

Sears, F.W. & G.L. Salinger, 1979: "Termodinâmica, Teoria Cinética e


Termodinâmica Estatística". Editora Guanabara Dois.

Stephens, G.L., 1984: The parameterization of radiation for numerical weather


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World Meteorological Organization, 1971: "Guide to Meteorological Instrument and


Observing Practices". Publication WMO No.8 (fourth edition), Geneva, Switzerland.

World Meteorological Organization, 1981: "Meteorological Aspects of the Utilization


of Solar Radiation as an Energy Source". Publication WMO No.557, Technical Note
No.172, Geneva, Switzerland.

World Meteorological Organization, 1983: "Guide to Meteorological Instruments and


Methods of Observation". Publication WMO No.8 (fifth edition), Geneva, Switzerland.

47
PARTE 3
DISTURBIOS ATMOSFERICOS

1. ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL – ZCIT


1.1 INTRODUÇÃO
A Zona de Convergência Intertropical - ZCIT é o sistema meteorológico mais
importante na determinação de quão abundante ou deficiente serão as chuvas no setor
Norte e Nordeste do Brasil. Normalmente a ZCIT migra sazonalmente de sua posição
mais ao norte, aproximadamente 12ºN, em agosto-setembro para posições mais ao sul e
aproximadamente 4°S, em março-abril.
A ZCIT é uma banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre
(Figura 1), formada principalmente pela confluência dos ventos alísios do hemisfério
norte com os ventos alísios do hemisfério sul. De maneira simplista, pode-se dizer que a
convergência dos ventos faz com que o ar, quente e úmido ascenda, carregando
umidade do oceano para os altos níveis da atmosfera ocorrendo à formação das nuvens.
A ZCIT é mais significativa sobre os Oceanos e por isso, a Temperatura da Superfície
do Mar-TSM é um dos fatores determinantes na sua posição e intensidade.

Figura 1 – Imagem de satélite que representa a ZCIT.

1.2 CARACTERISTICAS DA ZCIT


A ZCIT está inserida numa região onde ocorre a interação de características marcantes
atmosféricas e oceânicas, tais como:
 Zona de confluência dos Alísios (ZCA);
 Zona do Cavado Equatorial;
 Zona de Máxima Temperatura da Superfície do Mar (TSM);
 Zona de Máxima Convergência de Massa;

48
 Zona da banda de Máxima Cobertura de Nuvens Convectivas.
Todas essas características interagem próximas a faixa equatorial. Apesar dessa
interação as características não se apresentam, necessariamente ao mesmo tempo, sobre
a mesma latitude. No trabalho apresentado por Hastenrath e Lamb (1997) é mostrado
que, durante os meses de verão no HN junho, julho e agosto (JJA), a zona de
confluência dos ventos alísios aparece sobre o cavado equatorial e as regiões de máxima
cobertura de nuvens, precipitação e convergência de massa são quase coincidentes,
localizando-se aproximadamente a três graus ao sul da ZCA. Nos meses de dezembro,
janeiro e fevereiro (DJF), a zona de máxima cobertura de nuvens, precipitação e
convergência de massa localiza-se ao norte da ZCA. Para entendermos melhor,
podemos supor que nos meses de JJA a ZCA está posicionada em média a 17° N de
latitude, logo a ZCIT estará posicionada aproximadamente a 14° N de latitude, da
mesma forma podemos exemplificar para os meses de DJF, onde a ZCA estará
posicionada no hemisfério sul e então, a ZCIT estará acima da ZCA, porém a uns
poucos graus de latitude sul.
O conjunto de características associadas à ZCIT possui um deslocamento norte – sul ao
longo do ano. Fazendo-se referência aos trabalhos de Hastenrath e Heller (1997) e
Citeau et al. (1988), Ferreira escreveu que a marcha anual da ZCIT tem,
aproximadamente, o período de um ano, alcançando sua posição mais ao norte (8° HN)
durante o verão do hemisfério norte, e a sua posição mais ao sul (1° HN) durante o mês
de abril. Além dessa oscilação anual, a ZCIT apresenta oscilações com maiores
freqüências, com o período variando de semanas a dias. Esse resultado das posições
mais extremas da ZCIT discorda um pouco do trabalho escrito por Wallace, onde em
média a posição mais ao norte da ZCIT verifica-se a 14° HN nos meses de agosto a
setembro e sua posição mais ao sul 2° HS em março - abril (Nobre e Molion – 1998).
A ZCIT está estreitamente relacionada à TSM. Ela geralmente está situada sobre, ou
próxima as altas TSMs. Portanto, seria de se esperar que existisse uma relação entre a
distribuição geral de TSMs no Atlântico Tropical e a precipitação no Nordeste. De fato
essa relação parece ser válida para a maioria dos anos. Águas mais quente no Atlântico
Sul Tropical e mais frio no Atlântico Norte Tropical estão associadas com anos
chuvosos no nordeste do Brasil.

49
Figura 2 – Interação da ZCIT com a TSM em anos secos e chuvosos.

1.3 VARIÁVEIS UTILIZADAS PARA A LOCALIZAÇÃO E INTENSIDADE DA ZCIT


Podemos definir algumas variáveis importantes na localização e diagnostico da ZCIT.
Entre essas variáveis podemos citar algumas:
 Cobertura de nuvens;
 Componente meridional do vento;
 Pressão ao nível médio do mar;
 Radiação de Onda Longa;
 Brilho;
 TSM;

Figura 3 - Campo de ROL juntamente com o campo de pressão. (Fonte: Ferreira (1996).
Climanálise Especial, edição comemorativa dos dez anos.)

50
Figura 4 – Posicionamento médio da ZCIT através do ROL.

1.3 POSICIONAMENTO DA ZCIT


Como já foi dito, a influência dos continentes é bastante marcante no posicionamento da
ZCIT, mesmo levando-se em conta que a radiação solar anual média no topo da
atmosfera seja simétrica com relação ao equador. Wallace coloca a questão do
posicionamento da ZCIT ao norte do equador na região dos oceanos Atlântico e
Pacífico Leste. Ele apresenta uma citação do trabalho de Xie (1998), comentando que
apesar de existir uma maior assimetria na distribuição terra – mar na região onde se
encontra o Oceano Índico, a ZCIT se desloca entre os hemisférios seguindo a marcha
sazonal do Sol. Isso sugere que outros fatores importantes além da geometria
continental devem existir para que se possa avaliar o posicionamento da ZCIT.
Dessa forma, Wallace apresenta um mecanismo que pode ser uma causa ou até mesmo
uma conseqüência do posicionamento da ZCIT ao norte do equador. Por alguma razão
já se foi observado que os ventos alísios de sudeste soprando ao sul do equador são
muito mais intensos do que os ventos alísios de nordeste. Quando esses ventos de
sudeste cruzam o equador sofrem um desvio para a direita devido à força de Coriolis e
passam a soprar de sudoeste, o que reduz a intensidade dos alísios de nordeste

51
provenientes da Alta do Atlântico Norte ou Alta dos Açores. Dessa maneira com os
ventos de nordeste mais fracos a evaporação também fica reduzida, e isso resulta que a
maior parte da radiação que atinge a superfície do mar será utilizada para elevar a sua
temperatura e a do ar, ou seja, teremos menor resfriamento evaporativo. Contudo,
verificam-se temperaturas da superfície do mar (TSMs) mais elevadas. Esse mecanismo
de retroalimentação vento – evaporação – TSM é muito efetivo em ajustar a TSM. Um
fator de módulo 2 na diferença de velocidade do vento leva a uma diferença na TSM de
11° C (Xie e Philander – 1994). Finalmente sobre regiões com maiores valores de TSM
a camada atmosférica é mais instável e a ZCIT se estabelece nesta região.

2. ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL – ZCAS


2.1 INTRODUÇÃO
Convencionalmente definida como uma persistente faixa de nebulosidade orientada no
sentido noroeste-sudeste, que se estende do sul da Amazônia ao Atlântico Sul-Central
por alguns milhares de km, bem caracterizada nos meses de verão.
Estruturas semelhantes são encontradas no Pacífico Sul e Índico Sul, sendo que a ZCIS
não é tão marcante quanto às demais.
Estudos prévios mostram o importante papel dessas bandas de nebulosidade na
transferência de calor, momento e umidade dos trópicos para as latitudes mais altas.
Observações indicam evidente associação entre períodos de enchentes de verão na
região sudeste e veranicos na região sul com a permanência da ZCAS por períodos
prolongados sobre a região sudeste; por outro lado, períodos extremamente chuvosos no
sul coincidem com veranicos na região sudeste, indicando a presença de ZCAS mais ao
sul.

Figura 5 – Campo médio de ROL para o mês de Janeiro (período base de 1974 a
novembro de 1983).

52
2.2 ALGUMAS CARACTERISTICAS DA ZCAS
Níveis baixos: escoamento de norte-noroeste que começa junto à encosta leste dos
Andes e se prolonga até a região sudeste do Brasil em forma de jato, sendo muito
importante para o transporte de umidade da região amazônica para o Brasil Central e
regiões sul-sudeste.
Níveis altos: circulação anticiclônica (Alta da Bolívia) e um cavado quase-estacionário
sobre o nordeste do Brasil.

Figura 6 – Algumas variáveis utilizadas para o diagnostico das ZCAS, tais como:
Temperatura de brilho médio (imagem de satélite) em cima e a esquerda; Linha de
correntes e divergência de umidade em 850 hPa, em cima e a direita; linha de corrente e
velocidade vertical em 500 hPa, abaixo e no centro.
Em suma as condições mais importantes são:
 Predomínio de células de Hadley com presença de células de Walker;
 Parcelas oriundas da Alta Subtropical do Atlântico Norte entram na bacia
amazônica, sofre deflexão por Coriolis, pelos Andes e pela Alta Subtropical do
Atlântico Sul;

53
 Neste escoamento para sudeste, as parcelas se elevam conforme o conceito de
esteira transportadora úmida, a qual pode ser identificada como a banda de
nebulosidade associada à ZCAS (fenômeno semelhante ocorre no verão do HN
sobre o Pacífico Oeste: “Baiu Front”);
 A formação da Alta da Bolívia (alta quente) se dá pela intensa liberação de calor
latente da convecção no Brasil Central e pelo aquecimento no altiplano
boliviano;
 As parcelas que inicialmente se situam a leste da AB alcançam o equador, sendo
desviadas para leste por Coriolis; deste ponto podem seguir para o HN sobre a
Alta Subtropical do Atlântico Norte (caracterizando circulação de Hadley) ou
retornar para o HS sobre a Alta Subtropical do Atlântico Sul (circulação de
Walker);
 A magnitude do JST em torno de 30°S está ligada à atividade convectiva e sua
posição está relacionada com a borda da AB;
 A intensidade do cavado sobre o nordeste do Brasil está bem correlacionada com
a intensidade da AB; além disso, existe uma extensão para sul deste cavado e
uma região mais a leste com vorticidade anticiclônica sobre o Atlântico central;
 Todas essas características estão inter-relacionadas e dependem diretamente da
atividade convectiva na Amazônia/Brasil Central e na região da ZCAS sobre o
sul-sudeste;
 Existe, portanto um suporte dinâmico oferecido por um cavado de ar superior,
principalmente na região compreendida entre a região sul-sudeste e a extensão
da ZCAS sobre o Atlântico.

2.3 IDENTIFICAÇÃO DA ZCAS


Algumas características importantes têm que ser levadas para a identificação das ZCAS,
são elas:
 Forte indício de confluência entre o ar da Alta Subtropical do Atlântico Sul e o
ar oriundo de latitudes mais altas; esta confluência deve estar acompanhada de
convergência de umidade e nebulosidade;
 Em níveis superiores, a configuração mais favorável corresponde a um cavado a
leste dos Andes de maneira que a divergência em altitude seja incentivada;

54
 Além disso, deve haver persistência de pelo menos 4 dias desta configuração,
pois caso contrário a confluência pode ter sido gerada pela penetração de um
sistema frontal;
 A ZCAS nem sempre apresenta estrutura típica de um SF ao analisar os
gradientes de temperatura; porém o contraste de umidade em geral pode ser
identificado, principalmente se for utilizada a temperatura potencial equivalente;
 As observações indicam que a ZCAS tende a se posicionar mais ao norte no
início do verão, deslocando-se posteriormente para o sul podendo variar até 10-
15 graus de latitude; isto resulta em situações distintas para determinados locais,
conforme a região de estacionariedade da ZCAS;

2.3 ORIGEM E MANUTENÇÃO DA ZCAS


Liberação de calor latente na América do Sul:
1. A dinâmica da ZCAS indica que o aquecimento localizado sobre o continente da
AS exerce papel fundamental para as zonas de confluência;
2. Em estudos numéricos prévios, a resposta estacionária de um modelo
atmosférico a uma forçante simétrica e localizada de calor, com estado básico
semelhante ao observado na AS e sem topografia, indica a formação de um
cavado na baixa troposfera orientado na direção da ZCAS e também a formação
de um anticiclone em ar superior (neste caso, a advecção de vorticidade
planetária tem papel importante na resposta assimétrica à forçante simétrica);
3. Uma vez estabelecido o cavado orientado, inicia-se a convecção organizada em
forma de banda e a partir daí é possível que a convecção adquira um caráter
quase-estacionário tendo em vista o mecanismo CISK;
4. Trata-se, portanto de um sistema em que há importante influência do
acoplamento entre a escala convectiva (que fornece o aquecimento da atmosfera
via liberação de calor latente) e a dinâmica que permite o abaixamento da
pressão contribuindo para a manutenção e intensificação da convergência de
massa e vapor d’água que sustenta a própria convecção;
5. A princípio, o estabelecimento de condições quase-estacionárias a partir de
intensa liberação de calor latente é aparentemente contraditório no sentido que
fenômenos altamente convectivos tendem a excitar modos atmosféricos de alta
freqüência (ondas de gravidade); para esclarecer esta dúvida, uma análise do
efeito da liberação de calor latente num modelo simplificado da atmosfera,

55
baseado em equações de águas rasas linearizadas com relação a um estado
básico em repouso com altura média constante H, cuja parametrização da
liberação de calor latente se dá pela inclusão de um termo de fonte de massa
proporcional à divergência.

(1)

(2)

(3)
Se analisarmos a equação do geopotencial, nota-se que o papel da liberação de calor
latente corresponde a uma diminuição da altura equivalente H para a altura equivalente
efetiva Hef, temos:

(4)
Esta diminuição da altura equivalente tem efeito dinâmico que pode ser visto através do
raio de deformação de Rossby,

(5)
O que significa que perturbações que são pequenas com relação ao raio de deformação
calculado com a altura equivalente H, podem ser grandes ao incorporar o efeito da
liberação de calor latente que diminui a altura equivalente para Hef.
Assim a maior parte da energia da convecção é projetada nos modos mais lentos que se
tornam mais lentos devido à diminuição da altura equivalente efetiva; desta forma,
sistemas convectivos organizados devem apresentar longos ciclos de vida se não forem
sensivelmente perturbados.
 O movimento subsidente de compensação associado à presença de uma fonte de
calor depende do perfil vertical dessa fonte; fontes de calor com pico de
aquecimento em níveis médios e altos estão relacionadas a uma subsidência no
lado SW da fonte, enquanto que se o pico de aquecimento for localizado em

56
níveis mais baixos, o movimento subsidente vai ocorrer predominantemente no
lado NE da fonte;
 O posicionamento do pico de aquecimento em episódios de ZCAS varia
significativamente, mas em geral apresenta-se acima de 600 hPa, podendo
atingir 400hPa; isto indica que, na maioria dos casos, a subsidência associada à
ZCAS ocorre no lado polar, exceto em estágios de dissipação quando a fonte
apresenta pico nos níveis mais baixos induzindo subsidência no lado equatorial.

1. Influências remotas na manutenção do cavado associado:


a) O estabelecimento do cavado a leste dos Andes não tem como
principal mecanismo forçante a presença da barreira orográfica;
b) Os sistemas que provocam a formação de chuvas de verão na
região sul-sudeste estão freqüentemente associados à AB e ao
cavado em altitude; por outro lado, períodos persistentes de
chuvas/secas estão intimamente acoplados à presença de
cavados/cristas em altitude e do JST; sendo assim é pertinente
indagar se estes sistemas se devem a causas exclusivamente
regionais ou se existe influência remota na definição do
escoamento em altitude;
c) Estudos numéricos prévios mostraram uma forte conexão entre a
posição da ZCPS no Pacífico Oeste/Central e o estabelecimento
da ZCAS: alterações na posição da ZCPS podem levar à
formação de ZCAS via o ancoramento favorecido pelo cavado
em altitude;
d) Uma vez que a oscilação de Madden-Julian (ou oscilação de
30/60 dias) é uma possível forçante para a ZCPS, tem-se o
fechamento dinâmico entre ZCAS e ZCPS;
e) Da mesma forma, a ZCAS pode exercer certo controle sobre a
ZCIS.
2. Efeito da Cordilheira dos Andes no escoamento de baixos níveis:
a) Um estudo numérico com um modelo em coordenada eta mostra
que a influência dos Andes e a presença de uma fonte transiente
de calor (com ciclo diurno) parecem ser decisivas no

57
posicionamento do campo de pressão na baixa troposfera em
resposta à liberação de calor latente na Amazônia/Brasil Central;
b) A Baixa do Chaco deve seu confinamento à existência da barreira
orográfica imposta pelos Andes; a boa definição desta baixa e a
barreira dos Andes implicam numa significativa deflexão do
escoamento dos alíseos, o que estabelece a chamada esteira
transportadora que alimenta a convecção ao longo da ZCAS.
3. Efeitos de temperatura da superfície do mar:
a) Existe um alinhamento da ZCAS com uma região de forte
gradiente de TSM, o que torna possível a influência das
configurações de TSM na ZCAS;
b) Porém, é possível que as anomalias de TSM sejam uma resposta
oceânica à anomalia de vento à superfície do oceano, decorrente
da própria ZCAS;
c) De qualquer forma, uma vez estabelecida à circulação típica de
ZCAS, é razoável supor que haja uma realimentação positiva
entre a circulação atmosférica e as anomalias de TSM, ancorando
as configurações na atmosfera e no oceano.

3. CICLONES TROPICAIS OU FURAÇÕES


3.1 INTRODUÇÃO
Ciclone tropical é um sistema tempestuoso caracterizado por um sistema de baixa
pressão, por trovoadas e por um núcleo morno, que produz ventos fortes e chuvas
torrenciais. Este fenômeno meteorológico forma-se nas regiões trópicas, onde constitui
uma parte importante do sistema de circulação atmosférica ao mover calor da região
equatorial para as latitudes mais altas. Um ciclone tropical alimenta-se do calor
libertado quando ar úmido sobe e o vapor de água associado se condensa. Os ciclones
tropicais são alimentados por formas diferentes de libertação de calor do que outros
fenômenos ciclônicos, como os ciclones extratropicais, as tempestades de vento
européias e as baixas polares, permitindo a sua classificação como sistemas de “núcleo
morno”.
Estes ciclones são chamados de “'tropicais” porque se formam quase que
exclusivamente em regiões trópicas e também por se originarem de massas de ar
tropicais marítimas. Estes sistemas são chamados de “ciclones” devido a sua natureza

58
ciclônica. No hemisfério norte, os ciclones tropicais giram em sentido anti-horário e no
hemisfério sul gira em sentido horário. Dependendo de sua localização geográfica e de
sua intensidade, os ciclones tropicais podem ganhar vários outros nomes, tais como
furacão, tufão, tempestade tropical, tempestade ciclônica, depressão tropical ou
simplesmente ciclone.
Os ciclones tropicais produzem ventos fortes e chuvas torrenciais. Estes sistemas
também são capazes de gerar ondas fortes e a Maré de tempestade, uma elevação do
nível do mar associada ao sistema. Estes fatores secundários podem ser tão devastadores
quanto aos ventos e às chuvas fortes. Os ciclones tropicais formam-se sobre grandes
massas de água morna e perdem sua intensidade assim que se movem sobre terra. Esta é
a razão porque regiões costeiras são geralmente as áreas mais afetadas pela passagem de
um ciclone tropical; regiões afastadas da costa são geralmente poupadas dos ventos
mais fortes. Entretanto, as chuvas torrenciais podem causar enchentes severas e as
marés ciclônicas podem causar inundações costeiras extensivas, podendo chegar a mais
de 40 quilômetros da costa. Seus efeitos podem ser devastadores para a população
humana, embora possam amenizar estiagens.
Muitos ciclones tropicais formam-se quando as condições atmosféricas em torno de
uma perturbação fraca na atmosfera são favoráveis. Outros se formam quando outros
tipos de ciclones adquirem características tropicais. Estes sistemas tropicais movem-se
por meio de correntes de ar na troposfera. Quando as condições atmosféricas continuam
favoráveis, o ciclone tropical se intensifica e geralmente se forma no seu núcleo um
“olho”. Por outro lado, quando as condições atmosféricas tornam-se desfavoráveis ou o
sistema atinge a costa, o sistema começa a se enfraquecer e posteriormente se dissipa.

3.2 ESTRUTURA
Todos os ciclones tropicais são áreas de baixa pressão atmosférica próximos à superfície
terrestre. As medições da pressão atmosférica nos centros dos ciclones tropicais estão
entre as menores já registradas mundialmente ao nível do mar. Os ciclones tropicais são
caracterizados e guiados pela liberação de grandes quantidades de calor de condensação,
que ocorre quando ar úmido é levado para cima e seu vapor se condensa. Este calor é
distribuído verticalmente em torno do centro do ciclone. Desta forma, em qualquer
altitude, exceto ao nível do mar onde a temperatura da superfície do mar controla a
temperatura ambiente, o interior de um ciclone tropical é mais quente do que as partes
externas ou áreas em torno.

59
Bandas de tempestade são bandas de nuvens que produzem tempestades e trovoadas que
se movem de ciclonicamente e em espiral em direção ao centro do sistema. Ventos
fortes e aguaceiros freqüentemente ocorrem em bandas de tempestade individuais. Entre
bandas de tempestade podem ocorrer regiões de calmaria. Tornados freqüentemente
ocorrem nas bandas de tempestade de um ciclone tropical que está prestes a atingir a
costa. Ciclones tropicais anulares se distinguem de outros ciclones tropicais pela
ausência de bandas de tempestade. Os ciclones tropicais anulares apresentam uma
massiva área circular de distúrbios meteorológicos em torno de seus centros de baixa
pressão atmosférica. Enquanto todos os ciclones requerem divergências atmosféricas
acima para continuarem a se aprofundar, a divergência atmosférica sobre ciclones
tropicais está em todas as direções a partir de seus centros. Nos topos de ciclones
tropicais destacam-se ventos que saem de seus centros para as áreas externas, realizando
um movimento anticiclônico, devido ao efeito Coriolis. Ventos associados a um ciclone
tropical na superfície são extremamente ciclônicos, enfraquecem-se conforme a altitude
e num determinado instante conforme aumenta a altitude, começam a girar ao contrário.
Ciclones tropicais têm como única característica própria a necessidade de pouco ou
nenhum vento de cisalhamento para manterem seu núcleo morno nos seus centros.

Figura 7 – Estrutura vertical de um ciclone

Um ciclone tropical intenso irá acolher uma área de ar no centro de sua circulação. Se
esta área for suficientemente forte, poderá evoluir para um olho. As condições
meteorológicas no olho são normalmente calmas e livres de nuvens, embora o mar

60
poderá estar extremamente violento. O olho é normalmente circular em sua forma e
pode variar em tamanho entre 3 a 370 quilômetros de diâmetro. Ciclones tropicais
intensos e maduros pode às vezes exibir uma curvatura interna do topo de sua parede do
olho, o que pode lembrar um estádio de futebol; este fenômeno às vezes é referido como
efeito estádio.
Há outros destaques que podem estar em torno do olho ou cobri-lo. O centro denso
nublado é uma área concentrada onde há intensa atividade de trovoadas localizada perto
do centro do sistema; em ciclones tropicais fracos, o centro denso nublado poderá cobrir
o centro do sistema completamente. A parede do olho é um círculo de tempestades
violentas que envolve o olho; é nesta região de um ciclone tropical que são encontrados
os ventos mais fortes, onde as nuvens alcançam o pico de intensidade e também onde a
precipitação é a maior. Os maiores danos causados por um ciclone tropical são quando a
parede do olho passa sobre terra. Ciclos de substituição da parede do olho podem
ocorrer naturalmente em ciclones tropicais intensos. Quando os ciclones tropicais
atingem seu pico de intensidade, eles normalmente têm uma parede do olho e um raio
de vento máximo que podem se contrair para um tamanho muito pequeno em
comparação ao ciclone como um todo, por volta de 10 a 25 quilômetros. Bandas de
tempestade externas podem se organizar para formar outro anel de tempestades e
trovoadas (uma nova parede do olho) que move-se lentamente em direção ao olho e
começa a usurpar da umidade da parede do olho e de seus momentum angular. Quando
a parede do olho enfraquece-se, o ciclone tropical enfraquece (em outras palavras, o
vento máximo sustentado se enfraquece e a pressão atmosférica central sobe). A parede
do olho externa substitui completamente a outra parede do olho no fim do ciclo. O
ciclone pode voltar a ter a intensidade inicial ou em alguns casos, o ciclone poderá estar
mais forte após a substituição da parede do olho terminar. O ciclone poderá fortalecer-se
novamente assim que o sistema constrói uma nova parede do olho para o próximo ciclo
de substituição da parede do olho.
Uma medida de tamanho de um ciclone tropical é determinada pela medição da
distância de seu centro de circulação até a sua isóbara mais externa, também conhecida
como seu "ROCI". Se a medida do raio for menos do que dois graus de latitude (222
km), então o ciclone é “muito pequeno” ou “anão”. Se a medida do raio for entre 2 a 3
graus (222 a 333 km), então o ciclone é considerado “pequeno”. Se a medida do raio for
entre 3 a 6 graus (333 a 666 km), então o ciclone será considerado um ciclone de
“tamanho normal”. Ciclones tropicais são considerados “grandes” quando seu raio fica

61
entre 6 a 8 graus (666 km a 888 km). Ciclones tropicais são considerados ‘muito
grandes’ quando o seu raio ultrapassa 8 graus (mais de 888 km). Outros métodos de
determinar o tamanho de um ciclone tropical incluem a medida do raio de ventos
máximos no qual seu campo relativo de vorticidade diminui para 1×10-5 s-1 de seu
centro.

Classificação por tamanho dos ciclones tropicais


ROCI TIPO
Menor do que 2° de lat. Muito pequeno
2 a 3° de lat. Pequeno
3 a 6° de lat. Médio/normal
6 a 8° de lat. Grande
> 8° de lat. Muito grande
Tabela 1 – Classificação dos ciclones tropicais em relação ao seu tamanho.

3.2 DINÂMICA

A fonte primária de energia dos ciclones tropicais é a liberação do calor de condensação


pela condensação do vapor de água em altitudes altas, sendo que o aquecimento solar é
a fonte inicial do processo de evaporação. Portanto, um ciclone tropical pode ser visto
como uma máquina térmica gigante suportada pela mecânica guiada pelas forças físicas
tais como a rotação e a gravidade da Terra. Em outro ponto de vista, ciclones tropicais
podem ser vistos como um tipo especial de complexo convectivo de mesoescala, que
continua a se desenvolver sobre uma vasta fonte de calor relativo e umidade. A
condensação leva a uma maior velocidade do vento, assim como uma ínfima parte da
energia liberada é transformada em energia mecânica. Os ventos mais fortes e a baixa
pressão atmosférica associadas, por suas vezes, aumentam a evaporação de superfície e,
portanto, ainda mais condensação. Uma boa parte da energia liberada ascende, o que
aumenta a altura das nuvens da tempestade, acelerando a condensação. Esta
retroalimentação positiva continua se as condições continuarem favoráveis para o
desenvolvimento de ciclones tropicais. Fatores tais como uma contínua ausência de
equilíbrio na distribuição de massas de ar daria também energia de suporte ao ciclone. A

62
rotação da Terra faz que o sistema gire, um efeito conhecido como força de Coriolis,
dando-lhe uma característica ciclônica e afetando a trajetória da tempestade.

O que distingue primariamente um ciclone tropical de outros fenômenos meteorológicos


é a convecção profunda como força motriz. Sendo a convecção mais forte em clima
tropical, define o domínio principal do ciclone tropical. Em contrapartida, ciclones
extratropicais obtêm a maior parte de sua energia em gradientes de temperatura pré-
existentes na atmosfera. Para continuar a conduzir a sua máquina de calor, um ciclone
tropical deve continuar sobre águas mornas, que provê a umidade atmosférica
necessária para manter a retroalimentação positiva em funcionamento. Quando um
ciclone tropical passa sobre terra, é interrompido o fornecimento de calor e umidade e a
sua força diminui rapidamente.

Figura 8 - Ciclones tropicais formam-se quando a energia liberada pela condensação da


umidade em correntes de ar ascendentes causa uma retroalimentação positiva sobre as
águas mornas dos oceanos.

A passagem de um ciclone tropical sobre o oceano pode causar o resfriamento


substancial das camadas superiores do oceano, o que pode influenciar posteriormente o
desenvolvimento do ciclone. O resfriamento é causado principalmente pela ressurgência
das águas das profundezas do oceano, por causa ao vento que atinge a própria
tempestade induz sobre a superfície do mar. Resfriamentos adicionais podem vir na
forma de água fria das chuvas causadas pelo ciclone. A cobertura de nuvens também

63
pode desempenhar um papel no resfriamento do oceano, por impedir a chegada dos
raios solares antes ou ligeiramente depois da passagem da tempestade. Todos estes
efeitos podem combinar-se para produzir uma queda dramática na temperatura da
superfície do mar sobre uma grande área em apenas alguns dias.

Cientistas no Centro Nacional para Pesquisas Atmosféricas dos EUA estimam que um
ciclone tropical libera energia térmica à taxa de 50 a 200 exa-joules (1018 J) por dia,
equivalente a 1 PW (1015 watts). Esta quantidade de energia liberada equivale a 70
vezes o consumo humano mundial de energia e 200 vezes a capacidade de geração de
energia elétrica mundial ou também como se explodisse uma bomba nuclear de 10
megatons a cada 20 minutos.

Embora o movimento das nuvens mais evidentes seja em direção ao centro do sistema,
os ciclones tropicais também desenvolvem fluxos externos de nuvens em altos níveis
(alta atmosfera). Estes se originam do ar que libera a sua umidade e é expelido para
altas altitudes através da "chaminé" da "maquina da tempestade". Este fluxo externo
produz altas nuvens tipo cirrus tênue que se espiralam e distanciam-se do centro. Estes
altos cirrus podem ser os primeiros sinais da aproximação de um ciclone tropical.

3.3 CICLOGÊNESE TROPICAL


Ciclogênese tropical é um termo técnico que descreve o desenvolvimento e
fortalecimento de um ciclone tropical na atmosfera. Os mecanismos pelos quais
ocorrem as ciclogêneses tropicais são claramente diferentes das ciclogêneses que
ocorrem nas latitudes médias. A ciclogênese tropical envolve o desenvolvimento de um
ciclone de núcleo quente, devido à convecção significativa num ambiente atmosférico
favorável. Formam-se anualmente, em média, 86 ciclones tropicais com intensidade de
tempestades tropicais, sendo que 47 alcançam a força de um furacão/tufão, e 20 se
tornam ciclones tropicais intensos (no mínimo uma categoria 3 na Escala de Furacões
de Saffir-Simpson).

64
Figura 9 - Ondas dos ventos de troca em regiões de ventos convergentes do Oceano
Atlântico, que se movem lentamente pela mesma faixa das instabilidades
predominantemente criadas pelo vendo na atmosfera, e que podem levar à formação de
furacões.
3.3 PERIODO DE ATUAÇÃO
Mundialmente, a atividade de ciclones tropicais atinge o seu pico no final do verão,
quando a diferença entre a temperatura ambiente e a temperatura da superfície do mar é
a maior. No entanto, cada bacia em particular tem seus próprios padrões sazonais. Numa
escala mundial, Maio é o mês menos ativo enquanto Setembro é o mês mais ativo.
No Oceano Atlântico norte, uma temporada de furacões distinta ocorre entre 1º de
Junho a 30 de Novembro, sendo que o pico de atividade ocorre no final de Agosto e por
todo o mês de Setembro. O pico estatístico de uma temporada de furacões no Atlântico
ocorre em 10 de Setembro. O Oceano Pacífico nordeste possui um período maior de
atividade, mas num intervalo de tempo similar ao Atlântico. No Oceano Pacífico
noroeste, ciclones tropicais ocorrem durante todo o ano, com atividade mínima em
Fevereiro e Março e com atividade máxima no começo de Setembro. Na bacia do
Oceano Índico norte, as tempestades são mais comuns entre Abril e Dezembro, com
picos de atividade em Maio e Novembro.
No hemisfério sul, a atividade de ciclones tropicais começa no final de Outubro e
termina em Maio. O pico de atividade de ciclones tropicais no hemisfério sul ocorre em
meados de Fevereiro e no começo de Março.
A maioria dos ciclones tropicais forma-se de uma banda com atividade de tempestades e
trovoadas que pode receber vários nomes; a Frente Intertropical (ITF); a zona de

65
convergência intertropical (ZCIT) ou cavado de monção. Outra fonte importante de
instabilidade atmosférica é encontrada nas ondas tropicais, que causam cerca de 85%
dos ciclones tropicais intensos no Oceano Atlântico e tornam-se a maioria dos ciclones
tropicais na bacia do Pacífico nordeste.
Em geral, ciclones tropicais deslocam-se para oeste, gradualmente afastando-se da linha
do Equador, através da periferia de uma alta subtropical, intensificando-se enquanto se
movem. A maioria dos ciclones tropicais formam-se entre 10 a 30 graus de latitude
(1.000 a 3.000 km) de distância da linha do Equador e 87% formam-se a menos de 20
graus de latitude de distância da linha do Equador. Por causa do efeito Coriollis, que
inicia e mantém a rotação de um ciclone tropical, ciclones tropicais raramente formam-
se a menos de 5 graus de latitude da linha do Equador, onde o efeito de Coriolis é mais
fraco. Entretanto, é possível a formação de ciclones tropicais nessas latitudes, assim
como fez a tempestade tropical Vamei em 2001 e o Ciclone Agni em 2004.

Figura 10 – Regiões de formação e trajetória dos ciclones tropicais.

3.4 DISSIPAÇÃO

Um ciclone tropical pode perder suas características por meio de vários modos
diferentes. Quando o ciclone tropical move-se sobre terra, ele mesmo priva-se da água
morna que ele precisa para fortalecer a si mesmo. A maioria das tempestades fortes
perde sua força muito rapidamente após o landfall e tornam-se áreas de baixa pressão
desorganizadas dentro de um dia ou dois, ou tornam-se ciclones extratropicais.
Enquanto que há uma chance de um ciclone tropical se regenerar se ele conseguir
recordar sobre águas mornas abertas, há a chance dele permanecer sobre áreas

66
montanhosas, mesmo por pouco tempo, irá enfraquecer-se rapidamente. Muitas
fatalidades causadas pela tempestade ocorrem em terrenos montanhosos quando a
tempestade agonizante despeja chuvas torrenciais, levando a enchentes e deslizamentos
de terras potencialmente mortíferas, de forma semelhante àquelas que aconteceram com
o Furacão Mitch em 1998. Além do mais, a dissipação pode ocorrer se a tempestade
permanecer na mesma área por muito tempo, misturando as águas dos primeiros 30
metros a partir da superfície com as águas das profundezas. Isto ocorre porque o ciclone
faz com que as águas das profundezas do mar subam para a superfície através da
ressurgência e isto causa o esfriamento da superfície do mar, não mais suportando a
tempestade. Sem águas mornas, a tempestade não pode sobreviver.

Um ciclone tropical pode dissipar-se quando se move sobre águas com temperaturas
significativamente menores do que 26,5°C. Isto causará a tempestade a perder suas
características tropicais (ou seja, tempestades e trovoadas próximas ao centro e ao
núcleo morno) e torna-se uma área de baixa pressão remanescente, que pode persistir
por vários dias. Este é o mecanismo principal no Oceano Pacífico nordeste. O
enfraquecimento ou a dissipação pode ocorrer se o ciclone experimentar ventos de
cisalhamento verticais, causando o afastamento das áreas de convecção e da máquina de
calor do centro do sistema; isto normalmente cessa o desenvolvimento de um ciclone
tropical. Além do mais, a sua interação com as correntes principais de ventos ocidentais,
por meio de sua fusão com uma zona frontal pode causar a evolução dos ciclones para
ciclones extratropicais. Esta transição pode levar de um a três dias. Mesmo se for dito
que um ciclone tropical tornou-se um ciclone extratropical ou dissipou-se, ainda pode
ter ventos com força de tempestade tropical (ou ocasionalmente ventos com força de
furacão/tufão) e produzir vários milímetros de precipitação acumulada. No Oceano
Pacífico e no Oceano Atlântico, tais ciclones derivados de ciclones tropicais em
latitudes altas podem ser violentos e podem continuar ocasionalmente com ventos
equivalentes a de furacões/tufões quando eles alcançam à costa oeste da América do
Norte. Estes fenômenos também podem afetar a Europa, onde eles são conhecidos como
tempestades de vento européias; os remanescentes extratropicais do furacão Iris são um
exemplo de tempestade de vento em 1995. Além disso, um ciclone pode fundir-se com
outra área de baixa pressão, tornando-se uma área de baixa pressão maior. Isto pode
fortalecer o sistema resultante, embora ele não seja mais considerado um ciclone
tropical.

67
Figura 11 - A tempestade tropical Franklin, um exemplo de ciclone tropical sendo
afetado por fortes ventos de cisalhamento na bacia do Atlântico durante 2005.

3.5 CLASSIFICAÇÕES DE INTENSIDADE


Ciclones tropicais são classificados em três grupos principais, baseados na intensidade:
depressões tropicais, tempestades tropicais e um terceiro grupo de tempestades mais
intensas, cujo nome depende da região. Por exemplo, se uma tempestade tropical no
Pacífico noroeste alcança força de furacão na escala de Beaufort, o sistema é referido
como um tufão; se uma tempestade tropical atingir a mesma força mencionada
anteriormente na bacia do Pacífico nordeste ou no Atlântico, então o sistema é chamado
de furacão. Nem "furacão" ou "tufão" são usados no Pacífico sul.
Além disso, como indicado na tabela abaixo, cada bacia usa um sistema de
terminologia, fazendo da comparação entre diferentes bacias dificultosa. No Oceano
Pacífico, furacões do Pacífico centro-norte às vezes cruzam a Linha Internacional de
Data, adentrando a bacia do Pacífico noroeste, tornando-se tufões (tal como o
furacão/tufão Ioke em 2006); em ocasiões raras, o inverso também ocorre. Também
deve ser notado que tufões com ventos sustentados maiores do que 130 nós (240 km/h
ou 150 mph) são chamados de Super Tufões pelo Joint Typhoon Warning Center.
Uma depressão tropical é um sistema organizado de nuvens e trovoadas com uma
circulação definida e fechada com ventos máximos sustentados de menos que 17 m/s
(33 nó, 62 km/h ou 38 mph. O sistema não tem olho e normalmente não tem a

68
organização ou a forma de tempestades mais fortes. No entanto, o sistema já é um
sistema de baixa pressão e, portanto, adquirindo a designação "depressão". As Filipinas
normalmente atribuem nomes às depressões tropicais quando estas estão dentro da área
de responsabilidade do país.
Uma tempestade tropical é um sistema organizado de fortes trovoadas com uma
circulação de superfície definida e com ventos máximos sustentados entre 17 e 32 m/s
(34-63 kt, 62-117 km/h ou 39-73 mph). Neste momento, uma forma ciclônica distinta
começa a se desenvolver, embora um olho não esteja normalmente presente. Serviços de
meteorologia governamentais, exceto as Filipinas, atribuem nomes aos sistemas que
atingem esta intensidade (mesmo que o termo tempestade nomeada). Um furacão ou
tufão (às vezes referido simplesmente como um ciclone tropical, para diferenciar de
uma tempestade ou depressão tropical) é um sistema com ventos máximos sustentados
de no mínimo 33 m/s (64 kt, 118 km/h ou 74 mph). Um ciclone nesta intensidade tende
a desenvolver um olho, uma área de calmaria relativa (e a região cuja medida da pressão
atmosférica é a mais baixa) no centro da circulação. O olho é freqüentemente visível em
imagens de satélite como uma mancha circular, pequena e livre de nuvens. Cercando o
olho encontra-se a parede do olho, uma área de cerca de 16-80 km (10-50 mi) de
diâmetro no qual as trovoadas mais fortes e os ventos circulam em volta do centro da
tempestade. Os ventos máximos sustentados nos ciclones mais fortes têm sido
estimados em cerca de 85 m/s (305 km/h, 190 mph ou 165 kt).

Tabela 2 – Classificação dos ciclones tropicais de acordo com a sua velocidade em


diferentes regiões do globo.

69
4. CICLONES EXTRATROPICAIS
4.1 INTRODUÇÃO
Ciclone extratropical é um fenômeno meteorológico caracterizado por fortes
tempestades e ventos, que faz parte de uma família maior de fenômenos meteorológicos,
a família dos ciclones. São definidos como sistemas de baixa pressão atmosférica de
escala sinótica que ocorrem nas regiões de latitudes médias, onde constituem uma parte
importante da circulação atmosférica ao contribuírem para o equilíbrio térmico das
regiões equatoriais e das regiões polares. Um ciclone extratropical desenvolve-se
através de gradientes, ou seja, diferenças de temperatura e de ponto de orvalho. A região
onde ocorrem tais diferenças é conhecida como zona baroclínica. Os ciclones
extratropicais obtêm sua energia por métodos diferentes daqueles usados por outros
fenômenos ciclônicos, tais como ciclones tropicais e as baixas polares, permitindo a sua
classificação como sistemas de "núcleo frio".
Estes ciclones são chamados de "extratropicais" porque se formam quase que
exclusivamente fora das regiões tropicais, e também por se originarem de massas de ar
de origem não-tropical. Estes sistemas também são chamados de "ciclones" devido à
sua natureza ciclônica. No Hemisfério norte, os ciclones extratropicais giram em sentido
anti-horário e, no Hemisfério sul, giram em sentido horário. Dependendo de sua
localização geográfica e de sua intensidade, os ciclones extratropicais recebem outras
designações, tais como ciclone de médias latitudes, depressão extratropical, baixa
extratropical, ciclone frontal, baixa não-tropical e, em casos específicos, ciclone pós-
tropical.
A maioria dos ciclones extratropicais produz ventos fortes e chuvas moderadas a
torrenciais. Assim como o ciclone tropical, intensos ciclones extratropicais também são
capazes de causar a maré de tempestade, uma elevação do nível do mar associada ao
sistema. Dependendo da intensidade do sistema, estes fatores secundários podem
provocar tantos estragos quanto o próprio ciclone. Os ciclones extratropicais formam-se
em massas atmosféricas com alta instabilidade meteorológica e perdem a sua força
quando se tornam barotrópicos, ou seja, quando as diferenças de temperatura ocorrem
juntamente com as diferenças de pressão. Algumas regiões costeiras são freqüentemente
afetadas por ciclones extratropicais, embora alguns sistemas particularmente intensos
possam causar tanta destruição quanto um ciclone tropical.

70
Figura 12 – Ciclone extratropical visto através de uma imagem de satélite.

4.2 ESTRUTURA
Os ventos associados a um ciclone tropical normalmente diminuem com a distância em
relação ao ponto no ciclone onde a pressão atmosférica é a menor, que geralmente se
localiza próximo ao centro do sistema. Os ventos mais fortes são encontrados
normalmente no lado mais frio e/ou polar das frentes quentes, nas oclusões e nas frentes
frias, onde as forças de gradiente de pressão, ou seja, a aceleração do ar imposta pelas
diferenças na pressão atmosférica são as maiores. A área ao norte e a oeste das frentes
quentes e frias conectadas aos ciclones extratropicais é conhecida como o setor frio,
enquanto que a área ao sul e a leste de suas frentes frias e quentes associadas é
conhecida como o setor quente.
Os ventos fluem anti-horariamente em volta de um centro ciclônico no Hemisfério
norte, e horariamente no Hemisfério sul, devido ao efeito Coriolis (esta maneira de
rotação é geralmente referida como ciclônica). Perto do centro do ciclone, a força de
gradiente de pressão e o efeito Coriolis devem estar num balanço aproximado para
evitar o colapso do ciclone sobre ele mesmo como resultado da própria diferença de
pressão. A pressão atmosférica do ciclone baixará com a crescente maturidade do
ciclone, enquanto que na parte externa do ciclone a pressão atmosférica ao nível do mar
não é muito baixa; o seu valor típico é por volta de 1013 milibares, que é a medida
média da pressão atmosférica na Terra ao nível do mar. Na maioria dos ciclones
extratropicais, a parte da frente fria a frente do ciclone desenvolver-se-á numa frente
quente, dando à zona frontal uma forma semelhante à de uma onda (como desenhado
em mapas meteorológicos de superfície). Devido à sua aparência em imagens de
satélite, os ciclones extratropicais podem ser também referidos como ondas frontais no

71
começo de seu período de existência. Nos Estados Unidos, um antigo nome para tal
sistema nesse estágio é "onda quente".
Os ciclones extratropicais inclinam-se em direção às massas de ar frias e se fortalecem
com a altura, às vezes excedendo 10 km (30 000 pés) em altitude. Logo acima da
superfície, a temperatura diminui da periferia para o centro do ciclone. Estas
características estão em oposição direta àquelas encontradas em ciclones tropicais. Por
isso, às vezes, os ciclones extratropicais são chamados de "áreas de baixa pressão de
núcleo frio". Vários mapas meteorológicos podem ser examinados para verificar as
características de um sistema de núcleo frio com a altitude, tais como os mapas
meteorológicos de 700 mbar (hPa), que é um mapa sinótico mostrando as diferenças na
pressão atmosférica a uma altitude de aproximadamente 3.000 metros. Diagramas
espaciais de fase de ciclones são usados para descobrir se o ciclone em questão é
tropical, subtropical ou extratropical.

Figura 13 – Estrutura de um ciclone extratropical para o hemisfério norte.

4.3 FORMAÇÃO
Os ciclones extratropicais formam-se em qualquer área dentro das regiões extratropicais
da Terra, normalmente entre as latitudes 30° e 60° de cada hemisfério, mesmo quando
estão em processo de ciclogênese ou transição extratropical. Um estudo sobre ciclones
extratropicais no Hemisfério sul revela que, entre os paralelos 30° e 70°, há uma média
de 37 ciclones extratropicais em existência durante um período de 6 horas. Um estudo

72
separado no Hemisfério norte sugere que aproximadamente 234 ciclones extratropicais
significativos se formam a cada inverno.

4.4 CICLOGÊNESES

A formação e o comportamento dos ciclones extratropicais vêm sendo estudados há


muito tempo, devido quer à importância que esses sistemas possuem no transporte de
calor, vapor de água quer ao seu impacto humano quando a sua trajetória passa sobre
regiões povoadas. As primeiras teorias que tentaram explicar o processo de formação e
desenvolvimento destes sistemas basearam-se em conceitos termodinâmicos. Porém, o
primeiro modelo conceptual suficientemente realista, inicialmente descrito por Bjerknes
(1919) e Bjerknes e Solberg (1922), relaciona o desenvolvimento de um ciclone
extratropical à amplificação de uma perturbação na frente polar que dá origem a uma
depressão frontal que evolui num ciclo de vida típico até ao processo de oclusão.

Apesar do seu caráter eminente qualitativo o modelo de Bjerknes e Solberg (1922)


manteve-se como o modelo de referência no estudo de depressões extratropicais. Em
1947, Sutcliffe propôs que o desenvolvimento de ciclones poderia ser deduzido por
expressões simplificadas, que têm como medida a divergência relativa entre a troposfera
superior e a inferior. Sutcliffe (1947) também propôs que os mecanismos dominantes
para a ciclogênese à superfície são a advecção de vorticidade no nível de divergência
nula (NDN) e o aquecimento diferencial entre a superfície e o NDN. Petterssen (1956)
deu continuidade às pesquisas realizadas por Sutcliffe e incluiu o efeito do aquecimento
e arrefecimento, propondo que o desenvolvimento dos ciclones extratropicais ocorre
onde e quando a advecção de vorticidade ciclônica em altos níveis se sobrepõe a uma
zona baroclínica na baixa troposfera.

Petterssen e Smebye (1971), após efetuarem uma análise da formação de vários ciclones
extratropicais, mostraram que a hipótese da ciclogênese estar associada à advecção de
vorticidade era raramente satisfeita. Logo, concluíram que outros mecanismos deveriam
influenciar o desenvolvimento dos ciclones extratropicais. Assim, Petterssen e Smebye
(1971) classificaram dois tipos (A e B) de ciclones, de acordo com o mecanismo de
formação. Os ciclones do tipo A associam-se ao desenvolvimento de uma onda na
superfície frontal; e os do tipo B formam-se a sotavento das montanhas (“lee
cyclogenesis”).

73
4.4.1 CICLOGÉNESE DEVIDA A INSTABILIDADE BAROCLÍNICA

Charney (1947) e Eady (1949), utilizando a aproximação quase-geostrófica,


interpretaram os ciclones extratropicais como uma manifestação de mecanismos de
instabilidade baroclínica. Charney (1947) estudou o problema de instabilidade
baroclínica num plano beta, utilizando um escoamento que variava linearmente na
vertical, numa atmosfera semi-infinita e estratificada. Os seus resultados mostraram que
todas as ondas mais curtas que um determinado valor são baroclinicamente instáveis.

Apesar desses resultados terem mostrado muitos fatores importantes sobre o


desenvolvimento de perturbações transientes, um dos problemas detectados foi o
tratamento da instabilidade baroclínica pelo método dos modos normais, ou seja, com as
perturbações no seu estágio inicial sendo tratadas como se fossem de amplitude
infinitesimal, crescendo até atingir uma amplitude finita. Numa atmosfera real, verifica-
se que as perturbações atmosféricas são sempre de amplitude finita. Farrel (1982; 1984;
1985) incluiu o espectro contínuo de ondas neutras num modelo de valor inicial, com a
finalidade de contornar o problema verificado por Eady (1949). A inclusão dessas ondas
permitiu a introdução de condições inicias com amplitude finita. Assim, a ciclogênese
pode ser iniciada através de uma perturbação de amplitude finita. Enquanto os modos
normais não são formados, a perturbação atmosférica em desenvolvimento deve exibir
uma inclinação para oeste a fim de extrair energia potencial disponível do estado básico
(Ferrel, 1982). Essa energia extraída durante o período de desenvolvimento das
perturbações excita os modos normais persistentes (Ferrel, 1984); se incluída a
dissipação através de atrito, ocorrerá ciclogênese intensa de escala sinóptica num
espectro contínuo (Farrel, 1985).
Os estudos teóricos sobre a instabilidade baroclínica linear como os de Charney (1947)
e Eady (1949), entre outros, conseguem explicar o crescimento das perturbações na sua
fase inicial de crescimento. Entretanto, o mesmo não se verifica quando as perturbações
atingem o estádio maduro ou de decaimento, pois nestes estádios os termos não lineares
tornam-se extremamente importantes. Portanto, um modelo não linear pode representar
melhor o ciclo de vida das perturbações baroclínicas, como mostrado por Simmons e
Hoskins (1978), que simularam o ciclo de vida de uma perturbação baroclínica de
latitudes médias do HN. Simmons e Hoskins (1978) utilizaram um modelo não linear
cujos resultados mostraram que as perturbações crescem por efeito da instabilidade
baroclínica, atingindo um estágio de maturidade e depois decaem barotropicamente.

74
Entretanto, as teorias lineares e não linear tratam o vento zonal como zonalmente
simétrico. Contudo, sabe-se que na atmosfera real o vento zonal não é simétrico e que
existem regiões de preferência na formação de ciclones extratropicais, que são
conhecidas como “storm tracks” (Blackmon, 1976; Lau e Wallace, 1979; entre outros).
Frederiksen (1983a), através de dados observacionais, desenvolveu uma teoria da
instabilidade em 3 dimensões, a qual mostra que ao utilizar um estado básico que
contenha uma onda planetária em vez de um campo médio zonal, se obtém um aumento
maior na taxa de crescimento de ondas de escala sinóptica. Isso mostra a existência de
regiões preferenciais de desenvolvimento de perturbações baroclínicas sobre os oceanos
Atlântico e Pacífico Norte e no Hemisfério Sul, no lado polar, e a jusante das principais
correntes de jacto (Frederiksen, 1983b).

4.4.2 CICLOGÉNESE OROGRÁFICA


As cordilheiras e montanhas, assim como as regiões de contraste oceano-continente,
exercem forte influência na circulação atmosférica, induzindo ondas planetárias
estacionárias, que quebram a simetria zonal do fluxo médio. Essas barreiras naturais
afetam a distribuição da freqüência de ciclogênese assim como a trajetória de ciclones
extratropicais (Buzzi, 1986). As cadeias de montanhas exercem forte influência na
instabilidade baroclínica, afetando localmente a estrutura espacial, taxa de crescimento,
e propagação dessas perturbações (Buzzi et al. 1987). Um padrão barotrópico de baixa
freqüência sobre as regiões oceânicas e a Europa e um padrão baroclínico sobre as
montanhas rochosas foram verificados por Blackmon et al. (1979) e Hsu (1987). Esse
perfil está associado ao deslocamento paralelo às montanhas Rochosas das perturbações
na baixa troposfera, provocado pela geração de uma onda topográfica de Rossby
(Wallace, 1986).

Um dos fatores importantes quando se estuda ciclogênese orográfica é a característica


geométrica das cordilheiras, como a orientação em relação ao fluxo localmente
predominante. Algumas características comuns na formação de ciclones a sotavento dos
Alpes e montanhas Rochosas foram observadas, como, por exemplo, a ocorrência de um
ciclone pré-existente no lado barlavento da montanha, que se dissipa ao cruzar a
cordilheira e, em conseqüência, surge um novo ciclone mais ao sul no lado sotavento.

Um dos principais estudos numéricos realizados para um melhor entendimento dos


efeitos da montanha na formação de ciclones extratropicais foi realizado por Egger

75
(1972) no qual, através de um modelo de equações primitivas que possuía uma
montanha representada por uma barreira vertical, se mostra a importância de um fluxo
médio baroclínico e da interação direta de uma depressão pré-existente com a
topografia.

Speranza et al. (1985) desenvolveram um modelo teórico para a ciclogênese no qual os


ciclones formados no lado sotavento das montanhas estão relacionados com o
movimento ascendente e descendente do fluxo de ar das ondas baroclínicas, e não com
o estado básico. Buzzi et al. (1987) utilizaram o modelo de Speranza et al. (1985) para
as montanhas Rochosas e planalto do Tibete, e encontraram uma estrutura com modos
normais das perturbações baroclínicas na presença de montanhas.

Hayes et al. (1987) propuseram que a ciclogênese a sotavento de uma montanha possa
ser resultado de sobreposição de ondas permanentes formada pelo efeito de montanha e
uma onda baroclínica transiente. Numa montanha alta, o desenvolvimento ciclogenético
pode aparecer como um rápido aprofundamento e a formação de um ciclone em
superfície. Essa teoria descrita por Hayes et al. (1987) é aplicável em alguns casos de
desenvolvimento de ciclones extratropicais sobre a região da América do Sul, pois,
muitas vezes, uma perturbação oriunda do Pacífico intensifica-se ao cruzar os Andes e
gera ciclogênese na superfície. Seluchi (1995) verificou que 3 dias antes da formação de
ciclones extratropicais a sotavento dos Andes, há presença de perturbações na troposfera
média (∼500 hPa) no lado barlavento dos Andes, provocando advecção de vorticidade
ciclônica sobre a região de maior baroclinicidade. Quando essa perturbação ultrapassa
os Andes gera ciclogênese na superfície, concordando com a formulação descrita por
Hayes et al. (1987).

Apesar de estudos observacionais e teóricos terem destacado a importância da interação


entre perturbações baroclínicas e cordilheiras, a análise estatística teve uma importância
conclusiva no estudo dessa interação, mostrando a existência de ondas de Rossby e de
Kelvin topográficas. Hsu (1987) verificou que durante a evolução dos campos de
correlação da pressão ao nível do mar entre um ponto localizado próximo das
montanhas Rochosas com outros pontos da grelha, o centro de máxima correlação se
alonga no lado sotavento das montanhas Rochosas. Este alongamento é reflexo da
sobreposição da onda quase-estacionária com a circulação induzida pela topografia.

76
4.5 REGIÕES CICLOGÊNETICAS
4.5.1 CICLONES EXTRATROPICAIS NO HEMISFÉRIO SUL

Os ciclones no HS começaram a ser estudados na segunda metade do século XX,


quando Taljaard (1967) usando dados do “International Geophysical Year” (IGY, 1957-
58) localizou uma região predominante de formação de ciclones sobre o Paraguai, com
uma média de 20 ciclones por estação do ano. Esses resultados foram confirmados por
Streten e Troup (1973), que realizaram uma classificação de sistemas com grande
nebulosidade através de imagem diárias de satélite, e reforçados por Carlenton (1979)
que utilizando uma metodologia similar obteve máximos de ciclogênese no litoral da
América do Sul durante o Inverno.

Mais recentemente, vários autores utilizaram métodos automáticos para a detecção de


ciclones, tanto para o HN quanto para o HS, dentre os quais pode-se destacar: Murray e
Simmonds (1991); Sinclair (1995); Blender et al. (1997); Trigo et al. (1999), entre
outros. Esses métodos baseiam-se na detecção do mínimo valor de pressão num
determinado ponto de grelha, usando dados geralmente obtidos de diversas reanálises
com diferentes formatos espaciais, com destaque para as reanálises do NCEP/NCAR e
as do ECMWF.

Sinclair (1994), utilizando uma versão adaptada do método proposto por Murray e
Simmonds (1991), usou a vorticidade geostrófica (ζg) para localizar a posição da
ciclogénese nas análises produzidas pelo ECMWF para 0 e 12 UTC, para o período de
1980-86. Ele verificou quatro regiões de máxima atividade ciclônica, localizadas sobre
a América do Sul, Sul do Continente Africano; Oceania e ao redor da Antarctica (Figura
14).

77
Figura 14 - Densidade de ciclones no Verão (esquerda) e Inverno (direita) para um
período de 7 anos, obtidos através das reanálises do ECMWF. Fonte: Sinclair (1994).

Simmonds e Keay (2000) criaram uma climatologia de ciclones para o HS, com 40 anos
de dados das reanálises do NCEP/NCAR, confirmando os resultados obtidos por
Sinclair (1994), ou seja: o Verão apresenta máximo de ciclones localizados sobre o
litoral Atlântico da América do Sul, Austrália (devido a “baixas térmicas”) e na
vizinhança da Antarctica. No Inverno os máximos estão localizados sobre o Mar de
Weddell e Belling (Antarctica), América do Sul e Nova Zelândia (Figura 15), sendo o
Inverno a estação com maior freqüência de ciclones extratropicais.

Figura 15 - Densidade de ciclones, obtidas através de uma climatologia de 40 anos das


reanálises do NCEP/NCAR. Fonte: Simmonds e Keay (2000).

78
Simmonds e Keay (2000) também obtiveram estatísticas de alguns parâmetros dos
ciclones, entre eles: a distância total média percorrida e o tempo de vida (“lifetime”).
Segundo esses autores, os ciclones extratropicais no HS possuem um tempo de vida
médio de aproximadamente 3.69 dias no Verão e 3.57 dias no Inverno para ciclones
sub-antárcticos (50°-70°S). Para ciclones originados em latitudes médias (30°-50°S) o
tempo de vida é menor, em média de 2.60 dias no Verão e 2.92 dias no Inverno. A
distância média total varia de maneira considerável entre o Verão e o Inverno. No Verão
a distância média é de 1946 km e no Inverno é de 2315 km.

4.5.2 CICLOGÊNESES NA AMÉRICA DO SUL

Como já citado anteriormente, a AS (ao sul de 15°S) é uma região ciclogenética (e.g.
Taljaard, 1967; Necco, 1982; Gan e Rao, 1991; Sinclair, 1994; e Simmonds e Keay,
2000). Porém foram poucos os trabalhos realizados no sentido de definir uma
climatologia de ciclogênese para essa região. Por exemplo, ainda não foi realizada uma
análise estatística de alguns parâmetros dos ciclones extratropicais originados nessa
região, tema do Capítulo 3 desta tese.
Taljaard (1967) observou a existência de uma região de máximo de ciclogênese
localizada sobre o Paraguai e um mínimo de ciclogênese a leste da América do Sul,
entre 40°-50°S. Nesse estudo Taljaard (1967) não levou em conta possível baixas
térmica que podem surgir em áreas subtropicais. Necco (1982) utilizou dados do FGGE
(First GARP Global Experiment) para um sector do HS (0-90°W - 10°S-55°S), onde
identificou aproximadamente 120 centros ciclónicos, dos quais aproximadamente 70%
se formaram sobre a região estudada, sendo os restantes sistemas migratórios oriundos
de outras regiões. Destes, aproximadamente 20% dos ciclones gerados na área de estudo
tinham origem no Pacífico Sul e os restantes, aproximadamente 80% tinham origem no
sector continental da AS e Atlântico Sul (ATLS). Necco (1982) também verificou que o
Verão é a estação do ano com menor freqüência de ciclogênese sobre a área continental.
Isso porque ocorre muita formação de ciclones no litoral sul do Brasil.

Satyamurty et al. (1990) calcularam uma climatologia de ciclogênese sobre a AS para o


período de 1980 a 1986, utilizando imagens de satélite, na qual determinaram
aproximadamente 750 casos, dos quais 280 ao norte de 30°S. O ano de El-Niño de 1983
contribuiu com uma anomalia positiva de 25%, acima da média climática, na freqüência
de ciclogênese. Estes autores notaram também que o Verão apresentou maior freqüência

79
de ciclogênese do que as demais estações do ano, contrariando os resultados obtidos por
Necco (1982).

Gan e Rao (1991), através de dados observacionais somente para o continente, para um
período de 1979 a 1988, confirmaram os resultados obtidos por Taljaard (1967) e Necco
(1982). Eles verificaram que a maior freqüência de ciclogênese é observada sobre o
Uruguai e nordeste da Argentina. Gan e Rao (1991) também verificaram que o Inverno
é a estação do ano com maior quantidade de eventos de ciclogênese e o Verão a estação
com menor quantidade, discordando dos resultados obtidos por Satyamurty et al.
(1990).

Figura 16 - Média climatológica de eventos de ciclogênese para o Inverno (a);


primavera (b); Verão (c) e Outono (d) para o período de 1979 a 1988. Fonte: Gan e Rao
(1991).
Mendes et al. (2009) criaram uma climatologia muito ampla de ciclones extratropicais
para o setor da América do Sul, climatologia essa baseada nas reanalises do
NCEP/NCAR e foram diagnosticas através de um método automático de detecção
elaborado pelo autor. Eles verificaram que os ciclones extratropicais originados sobre o
continente sul-americano apresentam em média 3 dias de “vida” e um deslocamento
médio de aproximadamente 1300 km. Os autores também verificaram que o inverno é a

80
estação do ano com maior quantidade de eventos, em média 33 e o verão a estação com
menor quantidade, média de 27.

Figura 17 - Distribuição espacial do número de ciclogêneses detectadas numa área de


3×3 pontos de grelha nas 4 estações do ano para o período de 56 anos de dados (1948-
2003). Fonte: Mendes 2006, 2009.
Mendes et al. (2007) verificaram que os ciclones extratropicais formados sobre essa
região ciclogénetica (Figura 17) sofrem de maneira direta uma influência da circulação
em baixos níveis (850 hPa), onde o transporte de umidade da Amazônia influência
diretamente no período de pré-formação e intensificação dos ciclones nas primeiras
horas de intensificação do mesmo (Figura 18).

81
Figura 18 – campos anômalos da temperatura potencial equivalente aos 1000 hPa
(sombreado; K), e do vento (vetores; m s-1), para o inverno e verão. Fonte: Mendes et al.
(2007).

4.6 TEORIAS DA FORMAÇÃO DE CICLONES EXTRATROPICAIS

Uma das teorias mais fundamentadas aplicadas ao calculo das componentes dinâmicas é
a teoria de Sutcliffer. Sutcliffe (1947) admitindo que no conjunto total da atmosfera, a
divergência deverá ser sempre nula, propondo a análise diferencial da divergência do
vento horizontal em dois níveis, um junto à superfície e outro na alta troposfera, para
identificar situações associadas a depressões (e a anticiclones).

Os mecanismos preferenciais para o desenvolvimento de ciclogênese à superfície


propostos por Sutcliffe (1947), incluem a advecção de vorticidade no nível de
divergência nula (NDN) e o aquecimento diferencial entre a superfície e o NDN.

4.6.1 ESTRUTURA VERTICAL DA TEORIA EM CICLONES EXTRATROPICAIS


Os sistemas de baixa pressão apresentam inclinações na direção da região de ar mais
frio, sendo essas inclinações necessárias para que ocorra intensificação, implicando na
conversão de energia potencial em energia cinética. Uma segunda conseqüência da
instabilidade baroclínica, está relacionada ao vento de oeste que aumenta sua magnitude
com o aumento da altura. Isso dá-se devido os sistemas sinóticos viajarem a uma
velocidade aproximadamente igual à do vento médio na troposfera, onde o cisalhamento
vertical produzido em regiões com forte instabilidade baroclínica implica que o ar em
baixos níveis move-se mais vagarosamente. Mudança essa resulta na variação de
vorticidade, onde verifica-se através da Equação:

d
(ξ + f ) = −(ξ + f )∇p ⋅ V +  ∂ω ∂u − ∂ω ∂v  (1)
dt  ∂y ∂p ∂x ∂p 
desprezando o termo de inclinação, temos uma equação que nos dá valores de
divergência e/ou convergência.

d
(ξ + f ) = −(ξ + f )∇p ⋅ V (2)
dt
Se olharmos para frente de um sistema de baixa pressão em superfície, vemos que o ar
ganha vorticidade ciclônica (Eq. 2), implicando em convergência. Na retaguarda de um

82
sistema de baixa pressão em superfície, o ar ganha vorticidade anticiclônica, implicando

divergência, onde: ∂ (ζ + f ) < 0 (convergência) e



(ζ + f ) > 0 (divergência).
∂t ∂t
Uma segunda “maneira” de chegar às conclusões mencionadas acima, tem haver com a
expansão da derivada total da Equação 2 em função do termo da variação local e da
variação advectiva. A variação advectiva depende da magnitude do vento e a variação
local depende do deslocamento do sistema, logo conclui-se que em baixos níveis (entre
1000 e 850 hPa) o termo da variação local domina o termo da variação advectiva, sendo
assim a Equação 2 pode ser rescrita através de um sentido qualitativo:
∂ α − (ζ + f )∇ ⋅ V
(ζ + f ) p
(3)
∂t
Da mesma forma que aplica-se a Equação 2 para a baixa troposfera, aplica-se também
essa mesma equação para níveis troposféricos superiores, onde a magnitude dos ventos
é consideravelmente maior se comparado com a taxa de deslocamento dos sistemas de
pressão, logo verifica-se que na frente do cavado o ar ganha vorticidade anticiclônica,
enquanto atrás do cavado o ar ganha vorticidade ciclônica, chegando nas configurações
de convergência e divergência, respectivamente.
Nos níveis superiores da troposfera, as variações convectivas são maiores do que as
variações locais de vorticidade, em virtude da maior magnitude do vento, logo essas
analises entram em contraste com as condições em baixos níveis, sendo uma forma de
aproximação da equação 2:
V ⋅ ∇(ζ + F ) α − (ζ + F )∇ ⋅ V P
(4)
logo temos,

Aζ α (ζ + F )∇ ⋅ V p
(5)

onde Aζ = −V ⋅ ∇(ζ + f ) é a advecção da componente vertical da vorticidade absoluta.

Se olharmos para a Equação 5, vê-se que existe uma relação entre a advecção de
vorticidade e a divergência nos níveis troposféricos superiores. Para o Hemisfério Sul é
verificado advecção de vorticidade positiva (AVP) localizada sempre a leste das cristas
e a advecção de vorticidade negativa (AVN) sempre a leste do cavado (ζ + f ) < 0,
onde através da AVP há convergência e AVN há divergência.
Para os níveis troposféricos médios (em 500 hPa) o termo de variação local
∂ (ζ + f ) / ∂t é aproximadamente igual em magnitude ao termo de variação advectiva,

83
− V ⋅ ∇(ζ + f ) , sendo que neste nível há pouca divergência ou convergência, logo a
Equação 2 pode ser rescrita:
d
= (ζ + f ) ≅ 0 (6)
dt
A Equação 6 é aplicada no Nível não-divergente (NND), onde em geral este nível é
função do espaço e do tempo, admitindo-se somente em 500 hPa se for do ponto de
vista qualitativo e não quantitativo.

4.6.2 EQUAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE CICLONES EXTRATROPICAIS


Em suma, grande parte das ciclogêneses que se observam em superfície, ocorre em
associação a zonas frontais. Em conjunto com um ciclone extratropical em
desenvolvimento, encontra-se também uma região de advecção de vorticidade ciclônica
em altos níveis, fatores esses principais para produzir um ciclone extratropical
(Petterssen, 1956).
Há outros fatores que contribuem para o desenvolvimento dos ciclones extratropicais,
sendo esses fatores de caráter secundários, onde somente servem para modificar os
sistemas existentes. Citamos o aquecimento do tipo sensível e o aquecimento da
atmosfera por liberação de calor latente devido à condensação.
1. Equação do desenvolvimento de Sutcliffe.
Admitindo-se primeiramente que a quantidade de divergência/convergência é
diretamente proporcional à taxa de desenvolvimento, onde através da equação de
vorticidade, verifica-se que a quantidade de convergência e/ou divergência é
proporcional à taxa de produção de vorticidade absoluta (ciclônica e/ou anticiclônica)
verificada através da Equação 2.
Se considerarmos um sistema de coordenada fixa em relação ao sistema de superfície
(ciclone extratropical), defini-se ζ + f =ζ
r
e δζ / δt como a taxa de variação local

da vorticidade neste sistema (intensificação). Logo, a taxa de variação de ζ no sistema


em relação à superfície (∂ζ / ∂t ) será igual à taxa de variação local de ζ no sistema de

coordenadas dos ciclones extratropicais (δζ / δt ) mais a variação de ζ em virtude da


translação dos ciclones extratropicais, onde essa teoria é matematicamente escrita da
seguinte maneira:
∂ζ δζ (7)
= − C ⋅ ∇ζ
∂t δt

84
Quando há uma desintensificação do sistema, as variações locais de ζ estão presentes

somente em virtude do movimento dos sistemas de pressão, onde C representa a


velocidade do sistema de pressão.
Se a Equação 7 for aplicada no nível de 1000 hPa, temos essa equação para a
intensificação:
δζ ∂ζ (8)
=0
+ C ⋅ ∇ζ
0

δt ∂t
0

sendo ζ a componente vertical da velocidade absoluta no nível de 1000 hPa.


0

Para obter essa expressão ∂ ζ 0 / ∂t , é utilizada a equação da vorticidade no NND, e a

equação do vento térmico, onde o vento térmico fornece o acoplamento vertical entre os
sistemas troposféricos baixos com os sistemas da troposfera média e alta.
A Equação 2 quando aplicada ao NND, expande-se através das coordenadas de pressão.
∂ζ ∂ζ (9)
+V ⋅∇ ζ + ω =0
∂t
p
∂p
O vento térmico entre 1000 hPa e o NND (500 hPa) é definido como:
V = V −V
T 0
(10)
sendo V 0 o vento geostrófico em 1000 hPa e V vento geostrófico no NND.
Ao aplicarmos a Equação 10 para V , obtemos:
V = V +V T 0
(11)
Aplicando o rotacional da Equação 11, teremos:
∇ × V = ∇ × V + ∇V T 0
(12)
Através da Equação 12, pode-se aplicar o produto escalar, vector unitário k , somando
f em ambos os lados da equação, temos:
k ⋅ (∇ × V ) + f = k ⋅ (∇ × V ) + k ⋅ (∇ × V ) + fT 0
(13)
logo a Equação da vorticidade em relação ao vento térmico é escrita,
ζ = ζ +ζ T 0
(14)

onde ζ T é a vorticidade relativa do vento térmico.

Se substituirmos a expressão acima para ζ no primeiro e no terceiro termos da Equação


9, temos:
∂ζ ∂ζ ∂ζ ∂ζ (15)
+ T
+V ⋅∇ ζ + ω 0
+ω =0 T 0

∂t ∂t
p
∂p ∂p

85
Desta maneira podemos aplicar a Equação 15 para ∂ ζ 0 / ∂t , onde teremos:

∂ζ ∂ζ ∂ζ ∂ζ (16)
=− 0
−V ⋅∇ ζ − ω
T
−ω T 0

∂t ∂t
p
∂p ∂p
Se analisarmos a vorticidade em 1000 hPa, como não sendo uma função de pressão,
teremos, ∂ ζ / ∂p = 0 .
0

ζ T
é a vorticidade relativa do vento térmico, definida para uma determinada camada de

pressão. Se for admitida uma camada de pressão constante, então o termo


∂ ζ / ∂p = 0 . Na pratica o NND não é constante em um determinado nível e, portanto,
T

a camada de pressão não é constante, logo admitimos que a advecção de vorticidade no


NND seja definida:

Aζ = −V ⋅ ∇ ζ P
(17)
De modo simplificado, podemos obter a Equação 16 da seguinte maneira:
∂ζ ∂ζ (18)
=− 0
+ Aζ T

∂t ∂t
Observando a Equação 18, pode-se verificar que a variação local de ζ 0
depende

basicamente da variação local da vorticidade relativa do vento térmico bem como a


advecção de vorticidade absoluta no NND.
Para obter uma expressão matematicamente mais detalhada para ∂ ζ T / ∂t , Sutcliffe

(1947) fez uso da Primeira Lei da Termodinâmica:


1 (19)
ψH = c P dT − dp
ρ
onde ψ a diferencial inexata. Se a expressão acima for dividida por c dt , temos:
p

1 ψΗ dT 1 (20)
= − ω
c p dt dt ρ c p
onde ω = dp / dt .

A Equação 19 pode ser utilizada para mostra que a taxa de variação vertical de
temperatura adiabática em coordenadas de pressão é representada por:
∂T 1 (21)
γ = =
∂p ρ c
d
p

Se substituirmos a Equação 21 em 20, obtemos:

86
dT 1 ψH (22)
= +γ ω
dt c dt
d
p

Um fator importante é que a temperatura está relacionada com a espessura e o vento


térmico também, logo, usando a equação hidrostática para substituir T na Equação 22
obter-se-ia mediante integração uma equação de tendência da espessura a partir da qual
é possível fazer à derivada da expressão para ∂ ζ T / ∂t .

Se a Equação 22 for expandida, o lado esquerdo fica da seguinte maneira:


∂T ∂T 1 ψH (23)
+V ⋅∇ T + ω = +γ ω
∂t
p
∂p c dt
d
p

Se a Equação 23 for resolvida para ∂T / ∂t e substituindo γ por ∂T / ∂p , temos:


∂T 1 ψH
= −V ⋅ ∇ T + ω (γ − γ ) + (24)
∂t
p
c dt
d
p

Através da equação hidrostática ∂p = − ρg , pode obter uma expressão para T:


∂z RT
g ∂z (25)
T =−
R ∂ ln p
Ao substituirmos a Equação 25 em 24 obtemos:

g ∂  ∂z  g  ∂z  1 ψH
− = V ⋅∇ + (γ − γ )ω + (26)
R ∂t  ∂ ln p  R  ∂ ln p 
p
c dt
d
  p

Através da Equação 26, temos a advecção da espessura:

A = −V ⋅ ∇ ( z − z )
∆Z p 0
(27)

onde V representa o vento médio para a camada entre p e p.


0

Logo a Equação 26 pode ser rescrita como:


g ∂
( z − z ) = − g A + (γ − γ )ω + 1 ψH  ln p
∆Z
(28)
R ∂t
0
R c dt  p
d
 p 0

Sendo a Equação 28 representativa da Equação da tendência de espessura.


Ao aplicarmos o laplaciano na Equação 28, obtemos:

g ∂ 2 g 2  1 ψH  p 0 
∇ ( z − z 0 ) = ∇ A∆z + ∇ (γ d − γ )ω +  ln 
(29)
2

R ∂t R  c p dt  p 
Logo define-se:

87
p
S ≡ (γ d − γ )ω ln 0 (30)
p
Onde a Equação 30 representa o termo de estabilidade, e:
1 ψH p 0 (31)
H≡ ln
cp dt p
Representa o termo de aquecimento diabático.
Se resolvermos a Equação 29, aplicando ∂ ζ T / ∂t obtém-se:

∂ζ T g 2 R R (32)
= ∇ A∆Z + ∇2 S + ∇2
∂t f f f
Ao substituímos a Equação 32 em 18, teremos:
δζ0 g R R (33)
= − ∇2 A∆Z − ∇2 S − ∇2 H + Aζ
δt f f f
Esta equação acima representa a variação local da vorticidade absoluta em baixos níveis
(1000 hPa), onde, substituindo-se a Equação 33 na Equação 8 obtemos a equação de
desenvolvimento:
δζ0 g R R (34)
= Aζ − ∇2 A∆Z − ∇2 S − ∇2 H + C ⋅ ∇ ζ 0
δt f f f
Através da Equação 34, temos a intensificação: δ ζ 0 / δt .

Logo, cada termo é representado por:

Aζ advecção de vorticidade absoluta no NND;


g 2
− ∇ A∆Z advecção de espessura;
f
R 2 movimento vertical adiabático;
− ∇S
f
R 2 aquecimento diabático;
− ∇H
f
C ⋅ ∇ ζ 0 variação em ζ 0 devido à translação, ou o termo de deslocamento.

88
Figura 18 - Configuração dos sistemas de baixa pressão em 500 hPa, sem confluência e
sem difluência para o Hemisfério Sul.

5. EL-NIÑO
5.1 INTRODUÇÃO
El Niño e La Niña são alterações significativas de curta duração (12 a 18 meses) na
distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, com profundos
efeitos no clima. Estes eventos modificam um sistema de flutuação das temperaturas
daquele oceano chamado Oscilação Sul e, por essa razão, são referidos muitas vezes
como OSEN (Oscilação Sul-El Niño – ver abaixo). Seu papel no aquecimento e
arrefecimento global é uma área de intensa pesquisa, ainda sem um consenso.
O El Niño foi originalmente reconhecido por pescadores da costa oeste da América do
Sul, observando baixas capturas, à ocorrência de temperaturas mais altas que o normal
no mar, normalmente no fim do ano – daí a designação, que significa “O Menino”,
referindo-se ao “Menino Jesus”, relacionado com o Natal.
Durante um ano “normal”, ou seja, sem a existência do fenômeno El Niño, os ventos
alísios sopram na direção oeste através do Oceano Pacífico tropical, originando um
excesso de água no Pacífico ocidental, de tal modo que a superfície do mar é cerca de
meio metro mais alta nas costas da Indonésia que no Equador. Isto provoca a
ressurgência de águas profundas, mais frias e carregadas de nutrientes na costa ocidental
da América do Sul, que alimentam o ecossistema marinho, promovendo imensas

89
populações de peixes – a pescaria de anchoveta no Chile e Peru já foi a maior do
mundo, com uma captura superior a 12 milhões de toneladas por ano. Estes peixes, por
sua vez, também servem de sustento aos pássaros marinhos abundantes, cujas fezes
depositadas em terra, o guano, servem de matéria prima para a indústria de fertilizantes.
Quando acontece um El Niño, que ocorre irregularmente em intervalos de 2 a 7 anos,
com uma média de 3 a 4 anos, os ventos sopram com menos força em todo o centro do
Oceano Pacífico, resultando numa diminuição da ressurgência de águas profundas e na
acumulação de água mais quente que o normal na costa oeste da América do Sul e,
conseqüentemente, na diminuição da produtividade primária e das populações de peixe.
Outra conseqüência de um El Niño é a alteração do clima em todo o Pacífico equatorial:
as massas de ar quentes e úmidas acompanham a água mais quente, provocando chuvas
excepcionais na costa oeste da América do Sul e secas na Indonésia e Austrália. Pensa-
se que este fenômeno é acompanhado pela deslocação de massas de ar a nível global,
provocando alterações do clima em todo o mundo. Por exemplo, durante um ano com El
Niño, o inverno é mais quente que a média nos estados centrais dos Estados Unidos,
enquanto que nos do sul há mais chuva; por outro lado, os estados do noroeste do
Pacífico (Oregon, Washington, Colúmbia Britânica) têm um inverno mais seco. Os
verões excepcionalmente quentes na Europa e as secas em África parecem estar
igualmente relacionados com o aparecimento do El Niño.
La Niña é o fenômeno inverso, caracterizado por temperaturas anormalmente frias,
também no fim do ano, na região equatorial do Oceano Pacifico, muitas vezes (mas não
sempre) seguindo-se a um El Niño. Também já foi denominado como “El Viejo” (“O
Velho”, ou seja, a antítese do “menino”) ou ainda o “Anti-El Niño”.

5.2 CARACTERISTICAS
Evento de El Niño e La Niña tem uma tendência a se alternar cada 3-7 anos. Porém, de
um evento ao seguinte o intervalo pode mudar de 1 a 10 anos;
As intensidades dos eventos variam bastante de caso a caso. O El Niño mais intenso
desde a existência de "observações" de TSM ocorreu em 1982-83 e 1997-98.
Algumas vezes, os eventos El Niño e La Niña tendem a ser intercalado por condições
normais. Como funciona a atmosfera durante uma situação normal e durante uma
situação de El Niño?: El Niño resulta de uma interação entre a superfície do mar e a
baixa atmosfera sobre o Oceano Pacifico tropical. O inicio e fim do El Niño e
determinado pela dinâmica do sistema oceano-atmosfera, e uma explicação física do

90
processo é complicada Para que o leitor possa entender um pouco sobre isso, propõe-se
um "modelinho simples", extraído do livro El Niño e Você, de Gilvan Sampaio de
Oliveira.

Figura 19 – Condições de ENSO e normais.


De uma maneira bastante simples, podemos definir o ENSO como:
1) Imagine uma piscina (obviamente com água dentro), num dia ensolarado;
2) Coloque numa das bordas da piscina um grande ventilador, de modo que este seja da
largura da piscina;
3) Ligue o ventilador;
4) O vento irá gerar turbulência na água da piscina;
5) Com o passar do tempo, você observará um represamento da água no lado da piscina
oposto ao ventilador e até um desnível, ou seja, o nível da água próximo ao ventilador
será menor que do lado oposto a ele, e isto ocorre, pois o vento está "empurrando" as
águas quentes superficiais para o outro lado, expondo águas mais frias das partes mais
profundas da piscina.
É exatamente isso que ocorre no Oceano Pacífico sem a presença do El Niño, ou seja, é
esse o padrão de circulação que é observado. O ventilador faz o papel dos ventos alísios
e a piscina, é claro, do Oceano Pacífico Equatorial. Águas mais quente são observadas
no Oceano Pacífico Equatorial Oeste. Junto à costa oeste da América do Sul as águas do
Pacífico são um pouco mais frias. Com isso, no Pacífico Oeste, devido às águas do
Oceano serem mais quentes, há mais evaporação. Havendo evaporação, há a formação

91
de nuvens numa grande área. Para que haja a formação de nuvens o ar teve que subir. O
contrário, em regiões com o ar vindo dos altos níveis da troposfera (região da atmosfera
entre a superfície e cerca de 15 km de altura) para os baixos níveis raramente há a
formação de nuvens de chuva. Mas até onde e para onde vai este ar ? Um modo
simplista de entender isso é imaginar que a atmosfera é compensatória, ou seja, se o ar
sobe numa determinada região, deverá descer em outra. Se em baixos níveis da
atmosfera (próximo à superfície) os ventos são de oeste para leste, em altos níveis
ocorre o contrário, ou seja, os ventos são de leste para oeste. Com isso, o ar que sobe no
Pacífico Equatorial Central e Oeste e desce no Pacífico Leste (junto à costa oeste da
América do Sul), juntamente com os ventos alísios em baixos níveis da atmosfera (de
leste para oeste) e os ventos de oeste para leste em altos níveis da atmosfera, forma o
que os Meteorologistas chamam de célula de circulação de Walker, nome dado ao Sir
Gilbert Walker. A abaixo mostra a célula de circulação de Walker, bem como o padrão
de circulação em todo o Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a presença
do fenômeno El Niño. Outro ponto importante é que os ventos alísios, junto à costa da
América do Sul, favorecem um mecanismo chamado pelos oceanógrafos de
ressurgência, que seria o afloramento de águas mais profundas do oceano. Estas águas
mais frias têm mais oxigênio dissolvido e vêm carregadas de nutrientes e micro-
organismos vindos de maiores profundidades do mar, que vão servir de alimento para os
peixes daquela região. Não é por acaso que a costa oeste da América do Sul é uma das
regiões mais piscosas do mundo. O que surge também é uma cadeia alimentar, pois os
pássaros que vivem naquela região se alimentam dos peixes, que por sua vez se
alimentam dos microorganismos e nutrientes daquela região.

Figura 20 – Corte vertical das características do ENSO.

92
Circulação observada no Oceano Pacífico Equatorial em anos sem a presença do El
Niño ou La Niña, ou seja, anos normais. A célula de circulação com movimentos
ascendentes no Pacífico Central/Ocidental e movimentos descendentes no oeste da
América do Sul e com ventos de leste para oeste próximo à superfície (ventos alísios,
setas brancas) e de oeste para leste em altos níveis da troposfera é a chamada célula de
Walker. No Oceano Pacífico, pode-se ver a região com águas mais quentes
representadas pelas cores avermelhadas e mais frias pelas cores azuladas. Pode-se ver
também a inclinação da termoclima, mais rasa junto à costa oeste da América do Sul e
mais profunda no Pacífico Ocidental. Figura gentilmente cedida pelo Dr. Michael
McPhaden do Pacific Marine Environmental Laboratory (PMEL)/NOAA, Seattle,
Washington, EUA.
Deve ser notado, na figura acima, que existe uma região chamada de termoclina onde há
uma rápida mudança na temperatura do oceano. Esta região separa as águas mais
quentes (acima desta região) das águas mais frias (abaixo desta região). Os ventos
alísios "empurrando" as águas mais quentes para oeste faz com que a termoclina fique
mais rasa do lado leste, expondo as águas mais frias.
Vamos agora voltar ao nosso "modelinho". Vamos imaginar o seguinte:
Desligue o ventilador, ou coloque-o em potência mínima. O que irá acontecer?
Agora, o arrasto que o vento estava provocando na água da piscina irá desaparecer ou
diminuir. As águas do lado oposto ao ventilador irão então refluir para que o mesmo
nível seja observado em toda a piscina. O Sol continuará aquecendo a piscina e as águas
deverão, teoricamente, estar aquecidas igualmente em todos os pontos da piscina.
Certo?
Então vamos correlacionar novamente com o Oceano Pacífico. O ventilador desligado
ou em potência mínima, significa neste caso o enfraquecimento dos ventos alísios. Veja
que os ventos não param de soprar. Em algumas regiões do Pacífico ocorre até a
inversão dos ventos, ficando estes de oeste para leste. Agora, todo o Oceano Pacífico
Equatorial começa a aquecer. E como dito anteriormente: aquecimento gera evaporação
com movimento ascendente que por sua vez gera a formação de nuvens. A diferença
agora é que ao invés de observarmos a formação de nuvens com intensas chuvas no
Pacífico Equatorial Ocidental, vamos observar a formação de nuvens principalmente no
Pacífico Equatorial Central e Oriental.

93
Figura 21 – Anomalia de TSM para o mês de dezembro de 1997. Fonte:
NCEP/CPTEC/INPE.
Impactos em diversas partes do globo são verificados em anos de El-Niño. A figura 22
sintetiza.

Figura 22 – Regiões que sofrem impactos em anos de El-Niño.

94
6. LA-NIÑA
6.1 INTRODUÇÃO
O fenômeno La Niña, que é oposto ao El Niño, corresponde ao resfriamento anômalo
das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial Central e Oriental formando uma
“piscina de águas frias” nesse oceano. À semelhança do El Niño, porém apresentando
uma maior variabilidade do que este, trata-se de um fenômeno natural que produz fortes
mudanças na dinâmica geral da atmosfera, alterando o comportamento climático. Nele,
os ventos alísios mostram-se mais intensos que o habitual (média climatológica) e as
águas mais frias, que caracterizam o fenômeno, estendem-se numa faixa de largura de
cerca de 10 graus de latitude ao longo do Equador desde a costa peruana até
aproximadamente 180 graus de longitude no Pacífico Central. Observa-se, ainda, uma
intensificação da pressão atmosférica no Pacífico Central e Oriental em relação à
pressão no Pacífico Ocidental.

6.2 ESTRUTURA
Para entender sobre La Niña, vamos retornar ao nosso "modelinho" descrito no item
sobre El Niño. Imagine a situação normal que ocorre no Pacífico Equatorial, que seria o
exemplo da piscina com o ventilador ligado, o que faria com que as águas da piscina
fossem empurradas para o lado oposto ao ventilador, onde há então acúmulo de águas.
Voltando para o Oceano Pacífico, sabemos que o ventilador faz o papel dos ventos
alísios e que o acúmulo de águas se dá no Pacífico Equatorial Ocidental, onde as águas
estão mais quentes. Há também aquele mecanismo que citei anteriormente, o qual é
chamado de ressurgência, que faz com que as águas das camadas inferiores do Oceano,
junto à costa oeste da América do Sul aflorem, trazendo nutrientes e que por isso, é uma
das regiões mais piscosas do mundo. Até aqui tudo bem, esse é o mecanismo de
circulação que observamos no Pacífico Equatorial em anos normais, ou seja, sem a
presença do El Niño ou La Niña.
Pois bem. Agora, ao invés de desligar o ventilador, vamos ligá-lo com potência maior,
ou seja, fazer com que ele produza ventos mais intensos. O que vai acontecer?
Vamos tentar imaginar? Com os ventos mais intensos, maior quantidade de água vai se
acumular no lado oposto ao ventilador na piscina. Com isso, o desnível entre um lado e
outro da piscina também vai aumentar. Vamos retornar ao Oceano Pacífico. Com os
ventos alísios (que seriam os ventos do ventilador) mais intensos, mais águas irão ficar
"represadas" no Pacífico Equatorial Oeste e o desnível entre o Pacífico Ocidental e

95
Oriental irá aumentar. Com os ventos mais intensos a ressurgência também irá aumentar
no Pacífico Equatorial Oriental, e portanto virão mais nutrientes das profundezas para a
superfície do Oceano, ou seja, aumenta a chamada ressurgência no lado Leste do
Pacífico Equatorial. Por outro lado, devido à maior intensidade dos ventos alísios as
águas mais quentes irão ficar represadas mais a oeste do que o normal e portanto
novamente teríamos aquela velha história: águas mais quente geram evaporação e
conseqüentemente movimentos ascendentes, que por sua vez geram nuvens de chuva e
que geram a célula de Walker, que em anos de La Niña fica mais alongada que o
normal. A região com grande quantidade de chuvas é do nordeste do Oceano Índico à
oeste do Oceano Pacífico passando pela Indonésia, e a região com movimentos
descendentes da célula de Walker é no Pacífico Equatorial Central e Oriental. É
importante ressaltar que tais movimentos descendentes da célula de Walker no Pacífico
Equatorial Oriental ficam mais intensos que o normal o que inibe, e muito, a formação
de nuvens de chuva.
Em geral, episódios La Niñas também têm freqüência de 2 a 7 anos, todavia tem
ocorrido em menor quantidade que o El Niño durante as últimas décadas. Além do
mais, os episódios La Niña têm períodos de aproximadamente 9 a 12 meses, e somente
alguns episódios persistem por mais que 2 anos. Outro ponto interessante é que os
valores das anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) em anos de La Niña
têm desvios menores que em anos de El Niño, ou seja, enquanto observam-se anomalias
de até 4, 5ºC acima da média em alguns anos de El Niño, em anos de La Niña as
maiores anomalias observadas não chegam a 4ºC abaixo da média.
Episódios recentes do La Niña ocorreram nos anos de 1988/89 (que foi um dos mais
intensos), em 1995/96 e em 1998/99. "

96
Figura 23 - Circulação atmosférica em anos de La-Niña
Assim como o El-Niño, a La-Niña também tem seus impactos em determinadas regiões
do globo.

Figura 24 – Regiões que sofrem impactos da La-Niña.

97
7. NORTH ATLANTIC OSCILATION (OSCILAÇÃO DO ATLÂNTICO NORTE)
7.1 INTRODUÇÃO
A história do NAO é bastante longa: o missionário Hans Egede Saabye fez uma
observação no seu diário de 1770 a 78: "Quando o Inverno na Dinamarca era severo, tal
como nos apercebemos, o inverno na Groenlândia era moderado, e reciprocamente."
Simultaneamente, flutuações coerentes na temperatura, precipitação e pressão ao nível
do mar foram sendo registradas, em locais tão a Este quanto a Europa Central, tão a Sul
como a África Ocidental Subtropical e tão a Oeste como a América do Norte.
As flutuações de NAO influenciam o clima da América do Norte à Sibéria e do Oceano
Ártico ao equador.
7.2 CARACTERISTICA E ÍNDICE
A intensidade da NAO é descrita pelo índice da NAO. O índice da NAO é a diferença
de pressão ao nível do mar entre duas estações meteorológicas situadas perto dos
centros da depressão da Islândia e do Anticiclone dos Açores. A estação de
Stykkisholmur (na Islândia) é usado como a estação a Norte enquanto que as estações
de Ponta Delgada (Açores), Lisboa (Portugal Continental) ou Gibraltar podem ser
utilizada como a estação a Sul.
Tal índice, tão simples, não pode ter em conta a possibilidade de os centros de ação do
padrão atual não coincidam com estas estações, ou pode não conseguir capturar as
variações sazonais com a devida precisão. Contudo, tal como se define, tal índice
apresenta uma vantagem fundamental que consiste na existência de registros que se
estendem até, pelo menos, 1864. Quando se correlaciona o índice com dados de pressão
à superfície em nós de uma rede surge o padrão dipolar norte-sul que define o padrão
espacial da NAO.
A fase positiva do índice NAO é caracterizada por um centro de altas pressões
subtropical mais intenso que o habitual e uma depressão mais cavada que o normal
sobre a Islândia. O aumento da diferença de pressão resulta num maior número e mais
intensas tempestades de Inverno a atravessar o Oceano Atlântico numa trajetória mais a
Norte. Nestas condições, os invernos na Europa são mais amenos e mais úmidos
enquanto que no Canadá e Groenlândia são mais secos e frios. Neste caso, a região
Leste dos EUA verifica invernos úmidos e amenos. Por exemplo, os
Invernos/Primaveras de 1989, 1990 e 1995 foram provocados por um deslocamento do
ar sobre o Ártico e Groenlândia para a cintura subtropical junto ao arquipélago dos
Açores e Península Ibérica, intensificando os ventos de Oeste sobre o Norte do Oceano

98
Atlântico. Ventos de Oeste mais intensos transportam mais umidade sobre o Continente
Europeu dando origem a invernos marítimos mais amenos.
A fase negativa do índice NAO revela o anticiclone subtropical e a depressão da
Islândia pouco intensa. A redução do gradiente de pressão resulta num menor número
de tempestades, de menor intensidade e com trajetória mais zonal (Oeste-Este). Esta
circulação transporta ar úmido para a região Mediterrânica e ar frio com possibilidade
de queda de neve mais a Norte. No entanto a Groenlândia verificará temperaturas de
inverno mais amenas. Os Invernos/Primaveras em que se verificaram baixos valores do
índice NAO como os de 1917, 1936, 1963 e 1969 caracterizaram-se por ventos de Oeste
menos intensos que a média sobre o Norte do Oceano Atlântico verificando a Europa
Invernos mais frios que a média.

Figura 25 – Fases da NÃO.


O índice NAO de Inverno é definido como diferença da anomalia da pressão do centro
da depressão polar e do anticiclone subtropical durante a estação do Inverno (Dezembro
a Março).
O índice NAO tem revelado uma variabilidade considerável nos últimos 100 anos.
Desde o início do século XX até cerca de 1930 (excetuando os invernos de 1916 e
1919), o índice NAO manteve-se elevado e ventos com intensidade tão acima da média
transportaram a influencia moderadora do oceano sobre a Europa contribuindo para a
temperatura acima da média nesta região durante este período. Do princípio da década

99
de 1940 até ao princípio da década de 1970, o índice NAO apresentou uma tendência
decrescente a que correspondeu um período em que a temperatura de inverno na Europa
foram freqüentemente abaixo da média. Um aumento significativo verificou-se nos
últimos 25 anos. Desde 1980, o índice NAO de inverno tem-se mantido numa fase
positiva intensa e verificado uma tendência positiva de forma que no final do século XX
o índice apresentava os mais elevados valores alguma vez registrados (exceto 1996).
Esta situação tem contribuído para o aquecimento observado no Hemisfério Norte nas
duas últimas décadas.

Figura 26 – Índice da NÃO.

8. ANTARCTIC OSCILLATION (OSCILAÇÃO ANTARCTICA)


8.1 INTRODUÇÃO

Recentemente vários autores (e.g. Kidson, 1988; Yoden et al., 1987; Shiotani, 1990;
Wang, 1992; Hartmann e Lo, 1998; Gong e Wang, 1999; e Thompson e Wallace, 2000)
estudaram o primeiro modo de variabilidade da atmosfera no HS, ou seja a Antarctic
Oscillation (Oscilação Antárctica – AAO), com o objectivo de analisar a sua influência
no clima das latitudes médias-altas. A AAO, tal como a sua análoga no Hemisfério
Norte – a Artic Oscillation (AO, e.g., Thompson and Wallace, 1998) – corresponde a
uma oscilação de larga escala de massa atmosférica (ou do campo da pressão) entre as
latitudes médias e altas. A assinatura da AAO, também designada por modo anular do
sul (SAM de Southern Anular Mode, e.g., Limpasuvan and Hartmann 1999) tem um
carácter essencialmente barotrópico, podendo ser identificável com a primeira função
empírica ortogonal de diversos campos meteorológicos, quer à superfície quer na
média-alta troposfera, e.g, PNMM, geopotencial aos 1000 hPa ou 500 hPa, vento zonal,
ou temperatura (Thompson and Wallace, 2000). Assim, existem vários índices
possíveis, que condensam a variabilidade da AAO, tal como a primeira componente
principal do campo da PNMM, ou do geopotencial aos 850 hPa (Thompson and

100
Wallace, 2000), ou simplesmente como a diferença entre a média zonal da PNMM
normalizada a 40ºS e a 65ºS (Gong e Wang, 1999).

Diversos estudos salientam que a AAO explica uma fracção importante da variabilidade
interanual do HS, tal como a AO, a Oscilação do Atlântico Norte (NAO) e a Oscilação
do Pacífico Norte (PAO) no HN. A série temporal do índice da AAO (IOA) mensal
obtido por Gong e Wang (1999) (Figura 27) apresenta flutuações muito significativas ao
longo das últimas quatro décadas, incluindo uma tendência marcadamente positiva
detectada em índices obtidos quer a partir de dados de reanálises, quer puramente
observacionais.

Figura 27 - Série temporal do índice mensal da Oscilação Antárctica (IOA). Fonte:


Gong e Wang (1999).

A AAO é um tema bastante recetente, e por isso há muito puca avaliação de seus
impactos e no clima no hemosferio sul. Recentemente Mendes (2006) estudou a
influencia das fases da AAO na variabilidade dos ciclones extratropicais no hemisferio
sul, principalmente sobre a América do Sul. Eles encontraram pouca variabilidade em
ambas as fases da AAO, tendo um pequeno reflexo na intensidade dos ciclones em fase
negativa.

101
Figura 28 - Distribuição da pressão mínima de ciclones extratropicais no HS, para
Invernos e Verões dominados por modos negativos e positivos da AAO, conforme
indicado. Fonte: Mendes (2006).

Figura 29 – Corte vertical da anomalia do geopotencial entre 65°-90°S e o Índice da


AAO em 700 mb através da anomalia de geopotencial. Fonte: CPC/NOAA.

9. PACIFIC/NORTH AMERICAN OSCILLATION


É uma teleconexão de baixa freqüência, ou seja, baixa variabilidade climática,
especialmente durante o inverno no hemisfério norte (Wallace e Gutzler, 1981). Essa
oscilação se manifesta através da anomalia de geopotencial entre 700 e 500 mb.

102
Figura 30 – Anomalia de geopotencial em 500 hPa para novembro de 2003.
Anomalias positivas de geopotencial são verificadas sobre as Aleutas e
coincidentemente sobre a região centro-leste da América do Sul, encontra partida
anomalias negativas de geopotencial em 500 hPa são verificadas sobre o Pacifico
Central, criando com isso um dipolo positivo-negativo.
A PNA é observada em todos os meses com exceção de Junho e Julho, onde a fase
positiva tende a amplificar a crista troposferica em altos níveis na costa oeste da
América do Norte, o que leva a um forte escoamento meridional de ar polar para o sul
em direção ao EUA e América Central.
A fase positiva da PNA tende a ocorrer em anos de El-Niño, enquanto fases negativas
deste padrão são algumas vezes observadas durante episódios de La-Niña. Foi
verificado que entre 1991-92 e 1992-93 houve uma normalidade no sinal da PNA.
Entretanto, fase positiva e negativa desse padrão ocorre regularmente e o decaimento
desses padrões está direcionada amplamente pela dinâmica interna da atmosfera, mais
até do que uma resposta direta das forçantes externas atmosféricas.

103
Figura 31 - Índices da PNA entre 1900-2008.
A figura acima mostra o índice da PNA definida por:
1
PDO = [Z (20 N ,160W ) − Z (45 N ,165W ) + Z (55 N ,115W ) − Z (30 N ,85W )] (1)
4
Formulação essa definida por Wallace e Gutzler (1981).
A figura 30 mostra a PNA positivo, quando ocorre o PNA negativo (valores negativos
de geopotencial em 500 hPa) há uma inversão das anomalias em relação à figura 30.

10. OSCILAÇÃO DE MADDEN-JULIAN (MJ)


Vários trabalhos têm sido feitos com a finalidade de entender a estrutura da oscilação de
Madden Julian (Rui e Wang 1990; Hendon e Salvy 1994; Maloney e Hartmann 1998).
Estes estudos usaram compostos, identificando os eventos com dados de Radiação de
Onda Longa (ROL). Hendon e Salvy (1994) fizeram compostos da MJO usando
covariância cruzada entre temperatura média e ROL obtida de satélites e da reanálise do
“European Centre Reanalysis” (ERA). Em todos os casos não foi possível ter uma
explicação simples para considerar as diversas fases que a MJO adota de acordo com o
estágio de seu desenvolvimento.
A maioria de trabalhos tem como consenso que antes da ocorrência da MJO, existe um
pré-condicionamento da camada limite, acumulando grandes quantidades de CAPE, e as
perturbações no campo de ventos neste estágio são muito parecidas com ondas de
Kelvin. Nos estágios seguintes, a convecção profunda se intensifica. Ao mesmo tempo,
perturbações no campo de ventos do tipo Rossby são observadas. São estas perturbações
uma manifestação de ondas planetárias chegando a Região é intensificando a
convecção, ou São as respostas dinâmicas as fontes de calor? Estas perguntas ainda não
foram bem respondidas apesar da grande quantidade de trabalhos sobre o assunto.

104
A velocidade da MJO tem uma dependência geográfica, devido à interação com a
convecção, reduzindo a sua velocidade no Oceano Pacifico oeste e o Índico onde há
muita convecção associada a ela.

Figura 32 - Diversas fases do desenvolvimento da MJO (a) oeste do oceano Indico, (b)
perto da região de continente marítimo, (c) no Oceano Pacifico Oeste.
Segundo Innes (2002); Maloney e Hartmann (1998) também produziram um composto
do ciclo de vida da MJO com ventos tomados da Reanálise do NCEP, precipitação e
estimados de vapor de água a partir de dados de satélite. O trabalho confirmou a
importância do papel da convergência de umidade friccional a leste do complexo
convectivo. Eles adotaram como escala temporal da propagação para leste o tempo que
a convergência leva para estabelecer um nível crítico de umidade na coluna atmosférica
a leste do centro convectivo.
A maior incerteza sobre a relação exata da MJO com os campos de superfície, deve-se à
falta de medições in-situ. Zhang e McPhaden (2000) fizeram um estudo da variabilidade
intrasazonal dos fluxos de superfície no Pacífico Oeste, fazendo uso de bóias ancoradas.
Eles encontraram que os dados dos fluxos de superfície em regiões com dados dispersos
são sensitivos à formulação do modelo e, portanto não fornecem informação acurada.
Segundo McPhaden, isto se aplica a todas as análises e reanálises nos trópicos onde os
dados são poucos e dispersos.

ALGUMAS REFERENCIAS

SILVA DIAS, P.L. 1995: A Zona de Convergência do Atlântico Sul. IV Curso de


Interpretação de Imagens e Análise Meteorológica, UNIVAP.

SILVA DIAS, P.L., P. ETCHICHURY, J. SCOLAR, A.J. PEREIRA FILHO, P.

105
SATYAMURTI, M.A.F. SILVA DIAS, I. GRAMMELSBACHER e E.
GRAMMELSBACHER, 1991: As chuvas de março de 1991 na região de São Paulo.
Climanálise, 6(5), 44-59.

KODAMA, Y., 1982: Large-scale common features of subtropical precipitation zones


(the Baiu Frontal Zone, the SPCZ, and the SACZ). Part I: Characteristics of
Subtropical Frontal Zones. J. Meteor. Soc. Japan, 70, 813-835.

KODAMA, Y., 1982: Large-scale common features of subtropical precipitation zones


(the Baiu Frontal Zone, the SPCZ, and the SACZ). Part II: Conditions for gerenating
the STCZs. J. Meteor. Soc. Japan, 71, 581-610.

Ferreira, N. S., 1996: Zona de Convergência Intertropical. Climanálise Especial.


Edição Comemorativa de 10 anos. FUNCEME. 136 – 139.
Nobre, C. A. e Molion, 1986: Climanálise Especial. Edição Comemorativa de 10 anos.

Uvo, C. R. B. e Nobre, C. A., 1989: A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e a


precipitação no norte do Nordeste do Brasil. Parte I: A Posição da ZCIT no Atlântico
Equatorial. Climanalise, Vol. 4, número 07, 34 – 40.

Uvo, C. R. B. e Nobre, C. A., 1989: A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e a


precipitação no norte do Nordeste do Brasil. Parte II: A Influência dos Ventos e TSM
do Atlântico Tropical. Climanalise, Vol. 4, número 10, 39 – 48.

106
PARTE 4
CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA

1. INTRODUÇÃO
A Classificação climática é de suma importância para o conhecimento das condições do
clima em uma determinada região, tanto a nível global como também regional, para isso
existe algumas classificações, mas as mais utilizadas são: Thornthwaite e Köppen.
Faremos neste capitulo uma abordagem das duas classificações climáticas, tanto a nível
global como também regional, neste caso para a América do Sul.

2. CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA
Clima tropical é a designação dada aos climas das regiões intertropicais caracterizados
por serem mega-térmicos, com temperatura média do ar em todos os meses do ano
superior a 18 °C, não terem estação invernosa e terem precipitação anual superior à
evapotranspiração potencial anual.
Nas regiões de clima tropical a variação diurna da temperatura (isto é, a diferença entre
os valores máximos e mínimos) é maior que a variação anual (ou sazonal) da
temperatura média, isto é, entre o mês mais quente e o mês mais frio do ano.
Os climas tropicais constituem a classe A da classificação climática de Köppen-Geiger,
a mais conhecida em geografia e ecologia, sendo subdivididos da seguinte maneira:

 Af (clima equatorial, tropical de floresta ou equatorial úmido) — A


precipitação média mensal é superior a 60 mm em todos os meses do ano. Estes
climas são típicos de regiões próximas do equador, não tendo estações do ano.
As regiões que apresentam este clima têm em geral fraca variabilidade da
precipitação ao longo do ano, mas podem ocorrer dois máximos de precipitação,
coincidentes com o período em que a Zona de Convergência Intertropical e a
célula de Hadley associada estão centradas sobre a região durante a sua
oscilação latitudinal anual. São exemplos de cidades sitas em regiões com este
clima: Singapura, Belém do Pará e Cabinda.

 Aw/As (clima tropical de estações úmida e seca, tropical de savana, tropical


com estação seca ou equatorial seco) — Grupo de climas mega-térmicos com

107
uma estação seca em que a precipitação média mensal é inferior a 60 mm em
pelo menos um mês por ano. São exemplos de cidades sitas em regiões com este
clima: Honolulu, Veracruz (no México) e Townsville (na Austrália). Estes
climas subdividem-se em dois grupos:

 Aw — a estação seca ocorre durante a época de Sol mais baixo e dias mais
curtos (daí Aw, em que w é de winter, Inverno em inglês).

 As — a estação seca ocorre durante a época de Sol mais alto e dias mais longos
(daí As, em que s é de summer, Verão em inglês).

 Am (clima tropical de monção ou clima monçónico) — Climas com pelo menos


um mês com precipitação inferior a 60 mm, caracterizados pela existência de
monções às quais se associa o período de máxima precipitação. Nalguns casos, a
quase totalidade da precipitação anual está concentrada no período em que sopra
a monção. Este tipo de clima, mais comum no sul da Ásia e leste da África,
resulta dos ventos de monções que mudam de direção de acordo com a estação
do ano. São exemplos de cidades sitas em regiões com este clima: Bangalore (na
Índia), Mombaça (no Quênia) e Colombo (no Sri Lanka).

 ET (clima tropical de altitude) — Este clima embora não se enquadre


estritamente entre os climas tropicais (não pertence à classe A), apresenta o
mesmo regime pluviométrico do clima tropical de savana, mas um regime de
temperaturas igual ao dos climas subtropicais, podendo ter ocasionalmente
geadas e, muito raramente, precipitação sob a forma de neve. Um exemplo desse
tipo de clima encontra-se na região da Serra da Mantiqueira, no Brasil. A
maioria das zonas com esse clima encontram-se nas margens externas das zonas
tropicais, mas ocasionalmente tem localização intratropical. São exemplos de
cidades sitas em regiões com este clima: San Marcos (Colômbia) e Quito
(Equador).

Os Climas secos (áridos e semi-áridos) são caracterizados pelo fato da precipitação


(volume de chuvas) ser menor do que a taxa de evaporação e transpiração. O limiar é
determinado da seguinte forma:

108
 Para encontrar o limiar de precipitação (em milímetros), multiplica-se a
temperatura anual média em °C por 20, acrescentar então 280 se 70% ou mais da
precipitação total ocorrer na metade do ano de sol alto (de Abril a Setembro no
Hemisfério Norte, ou de Outubro a Março no Hemisfério Sul), 140 se 30%-70%
da precipitação total for recebida durante o período aplicável, ou 0 se menos de
30% da precipitação total for recebida nesse período.

Se a precipitação anual for menos de metade do limiar do Grupo B, será classificado


como BW (clima desértico) - se for inferior ao limiar, mas superior a metade deste, será
classificado como BS (clima de estepe).
Pode-se incluir uma terceira letra para indicar a temperatura. Inicialmente, h significava
um clima de latitude baixa (temperatura média anual acima dos 18°C) ao passo que k
significa um clima de latitude mediana (temperatura média anual inferior a 18°C), mas a
prática mais comum hoje em dia (especialmente nos Estados Unidos) é a utilização de h
para significar que o mês mais frio tem um temperatura média superior a 0 °C (32 °F), e
de k para significar que pelo menos um dos meses tem uma temperatura média abaixo
de 0 °C. Exemplos:

 Yuma, Arizona - EUA (BWh)


 Turpan, China (BWk)
 Cobar, Austrália (BSh)
 Medicine Hat, Alberta - Canadá (BSk).

Algumas áreas de deserto, situadas ao longo das costas ocidentais dos continentes em
zonas tropicais ou semi-tropicais, são caracterizadas por temperaturas mais baixas do
que as que se podem encontrar em outros locais em latitudes comparáveis (devido à
vizinhança de correntes oceânicas frias) e por nevoeiro e nuvens baixas freqüentes. Isto
apesar do fato de se contarem entre os locais mais secos à face da Terra em termos de
precipitação recebida propriamente dita. Este clima é por vezes rotulado como BWn e
podem-se encontrar exemplos em Lima, Peru e em Walvis Bay, Namíbia.
Por vezes acrescenta-se uma quarta letra para indicar se seja o inverno, seja o verão, são
mais "molhados" do que a outra metade do ano. Para se incluir neste grupo, o mês mais
molhado deverá receber pelo menos 60 mm de precipitação média se todos os doze
meses estiverem acima dos 18°C, ou 30 mm (1.18 polegadas) se tal não for o caso; e
pelo menos 70% da precipitação total deverão ocorrer na mesma metade do ano que o

109
mês mais molhado - mas a letra utilizada indica quando a estação seca ocorre, não a
"molhada". Isto resultaria em Cartum, Sudão ser vista como BWhw, Niamey, Níger
como BShw, El Arish, Egipto como BWhs, Asbi'ah, Líbia como BShs, Umnugobi,
Mongólia como BWkw, e Xining, China como BSkw (os BWks e BSks não existem).
Se não se cumprirem os critérios nem para w nem para s, não se acrescenta qualquer
quarta letra.

Gráfico climático para Lima

J F M A M J J A S O N D

0 0 0 0 0 3 5 3 3 3 0 0
21 21 21 21 21 21 19 19 19 21 22 20
20 20 20 19 17 16 16 16 15 16 17 19
Temperaturas em °C • Precipitações em mm
Fonte: CDC/NOAA

Gráfico climático para Las Vegas

J F M A M J J A S O N D

15 18 15 4 6 2 11 11 8 6 8 10
14 17 21 26 31 37 40 39 34 27 19 14
3 5 8 12 17 22 26 25 21 14 7 3

Temperaturas em °C • Precipitações em mm
Fonte: CDC/NOAA

Tabela 1 – Classificação das temperaturas máximas e mínimas para Lima (Peru) e Las
Vegas (EUA) assim como a precipitação média mensal respectivamente. Fonte:
CDC/NOAA.
O clima temperado caracteriza regiões cuja temperatura varia regularmente ao longo
do ano, com a média acima de 10°C, nos meses mais quentes e entre -3º e 18°C, nos
meses frios. Possuem quatro estações bem definidas: um verão relativamente quente,
um outono com temperaturas gradativamente mais baixas com o passar dos dias, um
inverno frio, e uma primavera, com temperaturas gradativamente mais altas com o

110
passar dos dias. Umidade depende da localização e condições geográficas de uma dada
região.
Nas regiões dos oceanos localizadas em regiões de climas temperados, diz-se que
possuem águas temperadas.
Nas siglas indicadas abaixo, a segunda letra indica o padrão de precipitação - w indica
invernos secos (a média do mês mais seco menor que um décimo da precipitação média
do mês de verão mais úmido, ou menos de 30 mm); s indica verões secos (a média do
mês mais seco com menos de 30 mm de precipitação e menos de um terço da
precipitação do mês de inverno mais chuvoso); f significa precipitação em todas as
estações.
A terceira letra indica o nível de temperaturas de verão - a indica que a média do mês
mais quente é superior a 22 °C; b indica que a média do mês mais quente é inferior a
22°C, com pelo menos 4 meses com médias acima de 10°C; c indica que 3 ou menos
meses têm temperaturas médias acima de 10°C.
Clima Temperado mediterrânico: Este clima caracteriza regiões situadas entre as
latitudes de 30º e 40º. O clima mediterrânico é o único onde a estação fria está associada
à estação das chuvas. Os invernos são caracterizados por temperaturas amenas, devido
às correntes marítimas quentes. É no inverno que se consegue observar algum índice de
precipitação, sendo que no verão a precipitação é quase nula. Os verões são quentes e
secos, devido aos centros barométricos de alta pressão. Nas áreas costeiras os verões são
mais frescos devido às correntes frias do oceano.
Exemplos:

 Lisboa, Portugal
 Madrid, Espanha
 Roma, Itália
 Santiago, Chile (Csb)

Os climas temperados marítimos situam-se entre as latitudes de 45º e 55º. Estão


normalmente, ao lado dos climas mediterrânicos. No entanto na Austrália encontra-se
ao lado do subtropical úmido, e a uma latitude mais baixa. Estes climas são dominantes
ao longo do ano. Os verões são frescos e nublados. Os invernos são frios, porém
amenos comparados aos de outros climas, a uma latitude semelhante.
Exemplos:

111
 Ponta Delgada, Açores (Verão mais seco que o Inverno)
 Limoges, França (Precipitação uniforme ao longo do ano)
 Langebaanweg, África do Sul (Verão mais seco que o Inverno)
 Prince Rupert, Colúmbia Britânica, Canadá (Verão mais seco que o Inverno).

Temperado sub-ártico (CfC): Tal clima acontece mais perto dos pólos que os climas
temperados marítimos e está limitado ou a estreitos litorais da parte ocidental dos
continentes, ou em ilhas de tais litorais, especialmente no Hemisfério Norte.
Exemplos:

 Punta Arenas, Chile (precipitação uniforme ao longo do ano)


 Monte Dinero, Argentina (verão mais úmido que o inverno)
 Torshavn, Ilhas Faroe (verão mais seco que o inverno)
Clima Temperado continental: Este clima é próprio das regiões do interior dos
continentes em latitudes superiores a 45º. Caracteriza-se por uma relativa escassez de
chuvas, sobretudo no inverno, devido à distância que as separa das áreas de influencia
marítima, e por uma notável amplitude térmica estacional, com as temperaturas de verão
bastante altas que contrastam fortemente com os invernos, muito frios. A temperatura
média anual é inferior a 10°C.
Exemplos:

 Moscou, Rússia
 Chicago, Estados Unidos

Clima continental: Esses climas apresentam temperatura média acima de 10ºC nos
meses de maior calor, e a média do mês mais frio é abaixo de -3ºC (ou 0ºC em algumas
versões). Normalmente ocorrem no interior dos continentes, ou em suas costas orientais,
ao norte da latitude 40º Norte. Climas do Grupo D não existem no Hemisfério Sul,
devido à massa menor de terras. A segunda e terceira letras são usadas como nos climas
do Grupo C, enquanto uma terceira letra do D indica 3 ou menos meses com
temperaturas médias acima de 10°C e uma temperatura no mês mais frio abaixo de -
38°C.
Climas do Grupo D se subdividem do seguinte modo:
Climas continentais com verões quentes (Dfa, Dwa, Dsa).

112
Gráfico climático para Pequim

J F M A M J J A S O N D

3 6 9 26 28 70 175 182 48 18 6 2
1 4 11 20 26 30 31 29 26 19 10 3
-9 -7 0 7 13 18 21 20 14 7 0 -7

Temperaturas em °C • Precipitações em mm
Fonte: CDC/NOAA

Tabela 2 - Classificação das temperaturas máximas e mínimas para Pequim (China)


assim como a precipitação média mensal.
Climas Dfa normalmente ocorrem nas latitudes entre 40º e 50º, e na Ásia Oriental
climas Dfa se estendem mais ao sul, devido à influência do sistema de alta pressão
siberiano, o qual também provoca invernos secos, com os verões podendo ser muito
úmidos em razão da circulação das monções.
Exemplos: Lowell, Massachusetts (Dfa - distribuição uniforme da precipitação) Peoria,
Illinois (Dfa - verão mais úmido que o inverno) Santaquin, Utah (Dfa - verão mais seco
que o inverno) Beijing, China (Dwa).
Dsa existe somente nas elevações adjacentes a áreas com climas mediterrâneos, como
Cambridge, Idaho (EUA) e Saqqez, no Curdistão Iraniano.
Climas continentais de verões brandos (Dfb, Dwb, Dsb): Climas Dfb e Dwb estão
logo ao norte do clima Quente Verão Continental, e também na Europa Central e
Oriental, entre o Temperado Marítimo e clima Continental Sub-Ártico.
Exemplos: Moncton, New Brunswick (Dfb - precipitação uniformemente distribuída)
Minsk, Belarus (Dfb - verão mais úmido que o inverno) Revelstoke, Colúmbia Britânica
(Dfb - verão mais seco que o inverno) Rudnaya Pristan, Rússia (Dwb).
Dsb surge do mesmo cenário que Dsa, mas em altitudes até maiores, e principalmente
na América do Norte já que ali o clima Mediterrâneo chega mais próximo aos pólos do
que na Eurásia. Mazama (Eurásia), Washington (América do Norte) tem localizações
semelhantes, mas climas bem diferentes.
Climas continentais Sub-Árticos (Dfc, Dwc, Dsc): Os climas dos tipos Dfc e Dwc,
relativamente a outros climas do grupo D, ocorrem em zonas mais próximas dos pólos,
sobretudo a norte da latitude 50º Norte.

113
Exemplos: Sept-Iles, Quebeque (Dfc - distribuição uniforme da precipitação)
Anchorage, Alasca (Dfc, com verões mais úmidos que os invernos). Mount Robson,
Colúmbia Britânica (Dfc, verões mais secos que os invernos). Irkutsk, Rússia (Dwc).
O tipo Dsc, tal como os tipos Dsa e Dsb, está confinado a zonas elevadas localizadas
junto a zonas de climas mediterrânicos. É o mais raro destes três tipos, pois é necessária
altitude ainda mais elevada para que o clima ocorra. Exemplo: Galena Summit, Idaho.
Climas subárticos continentais com invernos extremamente rigorosos (Dfd, Dwd):
Ocorrem apenas na Sibéria Oriental. Os nomes de alguns dos lugares com tal clima -
principalmente Verkhoyansk e Oymyako - tornaram-se sinônimos de frio invernal
extremo e rigoroso.
O clima polar (ou clima glacial) ocorre nas costas eurasianas do Ártico, na
Groenlândia, ao norte do Canadá, no Alasca e na Antártida.
As temperaturas médias são muito baixas e ficam em torno de -30 ºC. No verão chegam
aos -10 ºC e no inverno podem alcançar os -60 ºC, sendo que na Antártida o inverno é
totalmente inóspito com temperaturas que podem chegar a -80 °C ou até mais baixas no
interior do continente. São regiões de ventos intensos e que ficam cobertas de gelo neve
durante todo o ano, com exceção das faixas litorâneas onde uma vegetação de tundra
aparece durante o curtíssimo verão. No inverno há dias em que o Sol não nasce, e certos
dias no verão ele não se põe (Sol da meia-noite). Também é um clima que apresenta
altas amplitudes térmicas diárias e anuais.
O índice pluviométrico é muito baixo, abaixo de 200 mm anuais, que se produzem em
forma de neve e ocorrem principalmente no verão.
A fauna das regiões mais conhecidas pelas suas baixas temperaturas e grandes
tempestades com velocidades de 10 ª por km/2º

 bernacas
 alcas
 lagópodes
 cachalotes
 focas
 porcelanárias-brancas
 bacalhaus
 baleias azuis
 morsas

114
 peixes-do-gelo
 pingüins (de várias espécies como os imperadores)
 ursos polares
 belugas
 lemingues
 krill
 elefantes-marinhos
 leopardo-das-neves
 fulmares-da-antártida (encontrados apenas na Antártida)
A tundra, formação vegetal própria do clima polar ou glacial, é muito rasteira,
constituída por ervas, musgos e líquens. Contudo, podem surgir alguns raros e dispersos
tufos de arbustos e árvores anãs. Uma característica muito peculiar da tundra é o
Permafrost (que se traduzido literalmente significa sempre gelado); o clima polar pode
conter também geleiras e regiões com camadas permanentes ou semi-permanentes de
gelo. E devido às condições climáticas das regiões polares ou glaciais, praticamente não
existe vegetação arbustiva e arbórea ou superior, e a tundra cresce somente na época do
degelo.
Na Terra, o único continente com predominância do clima polar de geleira é a
Antártida. Algumas regiões costeiras da Groenlândia também possuem essa
característica. Tais regiões, quando não completamente cobertas por gelo, apresentam a
tundra.
As partes ao norte da Eurásia, da costa da Escandinávia ao estreito de Bering, com
amplas áreas da Sibéria e no norte da Islândia também apresentam a tundra. Na parte
mais ao sul da América do Sul (como a Terra do Fogo) apresentam clima polar de
tundra.

115
Figura 1 – Classificação climática proposta por Köppen-Geiger. Fonte: The University
of Melbourne.

3. CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA PARA O BRASIL


O Brasil, pelas suas dimensões continentais, possui uma diversificação climática bem
costeira, seu relevo e a dinâmica das massas de ar sobre seu território. Esse último fator
assume ampla, influenciada pela sua configuração geográfica, sua significativa extensão
grande importância, pois atua diretamente sobre as temperaturas e os índices
pluviométricos nas diferentes regiões do país.
Em especial, as massas de ar que interferem mais diretamente no Brasil, segundo o
Anuário Estatístico do Brasil, do IBGE, são a Equatorial, tanto Continental como
Atlântica; a Tropical, também Continental e Atlântica; e a Polar Atlântica,
proporcionando as diferenciações climáticas.
Nessa direção, são verificados no país desde climas super-úmidos quentes, provenientes
das massas Equatoriais, como é o caso de grande parte da região Amazônica, até climas
semi-áridos muito fortes, próprios do sertão nordestino. O clima de uma dada região é
condicionado por diversos fatores, dentre eles pode-se citar temperatura, chuvas,
umidade do ar, ventos e pressão atmosférica, os quais, por sua vez, são condicionados
por fatores como altitude, latitude, condições de relevo, vegetação e continentalidade.

116
De acordo com a classificação climática de Arthur Strahler, predominam no Brasil
cinco grandes climas, a saber:

 clima equatorial úmido da convergência dos alísios, que engloba a Amazônia;


 clima tropical alternadamente úmido e seco, englobando grande parte da área
central do país e litoral do meio-norte;
 clima tropical tendendo a ser seco pela irregularidade da ação das massas de ar,
englobando o sertão nordestino e vale médio do rio São Francisco; e
 clima litorâneo úmido exposto às massas tropicais marítimas, englobando
estreita faixa do litoral leste e nordeste;
 clima subtropical úmido das costas orientais e subtropicais, dominado
largamente por massa tropical marítima, englobando a Região Sul do Brasil.

Quanto aos aspectos térmicos também ocorrem grandes variações. Como pode ser
observado no mapa das médias anuais de temperatura a seguir, a Região Norte e parte
do interior da Região Nordeste apresentam temperaturas médias anuais superiores a
25oC, enquanto na Região Sul do país e parte da Sudeste as temperaturas médias anuais
ficam abaixo de 20oC.

117
Figura 2 – Classificação climática Controlados por Massas de Ar Equatoriais e
Tropicais.

Figura 3 – Classificação climática no Brasil através da temperatura. Fonte: IBGE.

De acordo com dados da IBGE, temperaturas máximas absolutas, acima de 40oC, são
observadas em terras baixas interioranas da Região Nordeste; nas depressões, vales e
baixadas do Sudeste; no Pantanal e áreas rebaixadas do Centro-Oeste; e nas depressões
centrais e no vale do rio Uruguai, na Região Sul. Já as temperaturas mínimas absolutas,
com freqüentes valores negativos, são observadas nos cumes serranos do sudeste e em
grande parte da Região Sul, onde são acompanhadas de geadas e neve.
O quadro a seguir apresenta as temperaturas do ar, máximas e mínimas absolutas, das
capitais estaduais brasileiras.

118
UF CAPITAIS MÁXIMA MÍNIMA (oC)
o
( C)
RO Porto Velho (4) 34.8 15.0
AC Rio Branco (4) 35.6 -
AM. Manaus (5) 36.3 18.3
RO Boa Vista - -
PA Belém (5) 33.8 20.8
AP Macapá (1) 34.0 21.2
TO Palmas - -
MA São Luís (1) 32.8 20.6
PI Teresina (1) 38.1 17.8
CE Fortaleza (5) 33.3 21.3
RN Natal (5) 31.0 18.3
PB João Pessoa (5) 31.2 19.0
PE Recife (5) 32.0 18.4
AL Maceió (1) 34.4 18.0
SE Aracaju (3) 32.6 18.0
BA Salvador (1) 32.8 19.6
MG Belo Horizonte (3) 32.3 10.0
ES Vitória (1) 35.5 15.1
RJ Rio de Janeiro - -
SP São Paulo (5) 33.9 4.4
PR Curitiba (4) 31.6 -0.7
SC Florianópolis (3) 34.8 1.5
RS Porto Alegre (5) 37.2 -0.2
MS Campo Grande (4) 35.3 4.1
MT Cuiabá (5) 39.1 8.3
GO Goiânia (3) 36.2 8.9
DF Brasília (2) 31.6 7.0
Tabela 3 - Temperatura máxima e mínima para as capitais dos Estados Brasileiros.
Notas: (1) dados referentes a 1989; (2) dados referentes a 1990; (3) dados referentes a
1991; (4) dados referentes a 1992; e (5) dados referentes a 1993. Fonte: INMET.
Para uma caracterização mais detalhada, selecione a região de interesse.

 Região Norte
 Região Nordeste
 Região Sudeste
 Região Sul
 Região Centro-Oeste

3.1 REGIÃO NORTE


A região Norte do Brasil compreende grande parte da denominada região Amazônica,
representando a maior extensão de floresta quente e úmida do planeta. A região é

119
cortada, de um extremo a outro, pelo Equador e caracteriza-se por baixas altitudes (0 a
200 m). São quatro os principais sistemas de circulação atmosférica que atuam na
região, a saber: sistema de ventos de Nordeste (NE) a Leste (E) dos anticiclones
subtropicais do Atlântico Sul e dos Açores, geralmente acompanhados de tempo
estável; sistema de ventos de Oeste (O) da massa equatorial continental (mEc); sistema
de ventos de Norte (N) da Convergência Intertropical (CIT); e sistema de ventos de Sul
(S) do anticiclone Polar. Estes três últimos sistemas são responsáveis por instabilidade e
chuvas na área.
Quanto ao regime térmico, o clima é quente, com temperaturas médias anuais variando
entre 24o e 26oC.
Com relação à pluviosidade não há uma homogeneidade espacial como acontece com a
temperatura. Na foz do rio Amazonas, no litoral do Pará e no setor ocidental da região,
o total pluviométrico anual, em geral, excede a 3.000 mm. Na direção NO-SE, de
Roraima a leste do Pará, tem-se o corredor menos chuvoso, com totais anuais da ordem
de 1.500 a 1.700 mm.
O período chuvoso da região ocorre nos meses de verão - outono, a exceção de Roraima
e da parte norte do Amazonas, onde o máximo pluviométrico se dá no inverno, por
influência do regime do hemisfério Norte.

3.2 REGIÃO NORDESTE


A caracterização climática da região Nordeste é um pouco complexa, sendo que os
quatro sistemas de circulação que influenciam na mesma são denominados Sistemas de
Correntes Perturbadas de Sul, Norte, Leste e Oeste.
O proveniente do Sul, representado pelas frentes polares que alcançam a região na
primavera - verão nas áreas litorâneas até o sul da Bahia traz chuvas frontais e pós-
frontais, sendo que no inverno atingem até o litoral de Pernambuco, enquanto o sertão
permanece sob ação da alta tropical.
O sistema de correntes perturbadas de Norte, representadas pela CIT, provoca chuvas do
verão ao outono até Pernambuco, nas imediações do Raso da Catarina. Por outro lado,
as correntes de Leste são mais freqüentes no inverno e normalmente provocam chuvas
abundantes no litoral, raramente alcançando as escarpas do Planalto da Borborema (800
m) e da Chapada Diamantina (1.200 m).

120
Por fim, o sistema de correntes de Oeste, trazidas pelas linhas de Instabilidade Tropical
(IT), ocorrem desde o final da primavera até o início do outono, raramente alcançando
os estados do Piauí e Maranhão.
Em relação ao regime térmico, suas temperaturas são elevadas, com médias anuais entre
20o e 28oC, tendo sido observado máximas em torno de 40oC no sul do Maranhão e
Piauí. Os meses de inverno, principalmente junho e julho, apresentam mínimas entre
12o e 16oC no litoral, e inferiores nos planaltos, tendo sido verificado 1oC na Chapada
da Diamantina após a passagem de uma frente polar.
A pluviosidade na região é complexa e fonte de preocupação, sendo que seus totais
anuais variam de 2.000 mm até valores inferiores a 500 mm no Raso da Catarina, entre
Bahia e Pernambuco, e na depressão de Patos na Paraíba. De forma geral, a precipitação
média anual na região nordeste é inferior a 1.000 mm, sendo que em Cabaceiras,
interior da Paraíba, foi registrado o menor índice pluviométrico anual já observado no
Brasil, 278 mm/ano. Além disso, no sertão desta região, o período chuvoso é,
normalmente, de apenas dois meses no ano, podendo, em alguns anos até não existir,
ocasionando as denominadas secas regionais.

3.3 REGIÃO SUDESTE


A posição latitudinal cortada pelo Trópico de Capricórnio, sua topografia bastante
acidentada e a influência dos sistemas de circulação perturbada são fatores que
conduzem à climatologia da região Sudeste ser bastante diversificada em relação à
temperatura.
A temperatura média anual situa-se entre 20oC, no limite de São Paulo e Paraná, e 24oC,
ao norte de Minas Gerais, enquanto nas áreas mais elevadas das serras do Espinhaço,
Mantiqueira e do Mar, a média pode ser inferior a 18oC, devido ao efeito conjugado da
latitude com a freqüência das correntes polares.
No verão, principalmente no mês de janeiro, são comuns médias das máximas de 30oC a
32oC nos vales dos rios São Francisco e Jequitinhonha, na Zona da Mata de Minas
Gerais, na baixada litorânea e a oeste do estado de São Paulo.
No inverno, a média das temperaturas mínimas varia de 6oC a 20oC, com mínimas
absolutas de -4o a 8oC, sendo que as temperaturas mais baixas são registradas nas áreas
mais elevadas. Vastas extensões de Minas Gerais e São Paulo registram ocorrências de
geadas, após a passagem das frentes polares.

121
Com relação ao regime de chuvas, são duas as áreas com maiores precipitações: uma,
acompanhando o litoral e a serra do Mar, onde as chuvas são trazidas pelas correntes de
sul; e outra, do oeste de Minas Gerais ao Município do Rio de Janeiro, em que as
chuvas são trazidas pelo sistema de Oeste. A altura anual da precipitação nestas áreas é
superior a 1.500 mm. Na serra da Mantiqueira estes índices ultrapassam 1.750 mm, e no
alto do Itatiaia, 2.340 mm.
Na serra do Mar, em São Paulo, chove em média mais de 3.600 mm. Próximo de
Paranapiacaba e Itapanhaú foi registrado o máximo de chuva do país (4.457,8 mm, em
um ano). Nos vales dos rios Jequitinhonha e Doce são registrados os menores índices
pluviométricos anuais, em torno de 900 mm.
O máximo pluviométrico da região Sudeste normalmente ocorre em janeiro e o mínimo
em julho, enquanto o período seco, normalmente centralizado no inverno, possui uma
duração desde seis meses, no caso do vale dos rios Jequitinhonha e São Francisco, até
cerca de dois meses nas serras do Mar e da Mantiqueira.

3.4 REGIÃO SUL


A região Sul está localizada abaixo do Trópico de Capricórnio, em uma zona
temperada. É influenciada pelo sistema de circulação perturbada de Sul, responsável
pelas chuvas, principalmente no verão, e pelo sistema de circulação de Oeste, que
acarreta chuvas e trovoadas, por vezes granizo, com ventos com rajadas de 60 a 90
km/h.
Quanto ao regime térmico, o inverno é frio e o verão é quente. A temperatura média
anual situa-se entre 14o e 22oC, sendo que nos locais com altitudes acima de 1.100 m,
cai para aproximadamente 10oC.
No verão, principalmente em janeiro, nos vales dos rios Paranapanema, Paraná, Ibicuí-
Jacuí, a temperatura média é superior a 24oC, e do rio Uruguai ultrapassa a 26oC. A
média das máximas mantém-se em torno de 24o a 27oC nas superfícies mais elevadas do
planalto e, nas áreas mais baixas, entre 30o e 32oC.
No inverno, principalmente em julho, a temperatura média se mantém relativamente
baixa, oscilando entre 10o e 15oC, com exceção dos vales dos rios Paranapanema e
Paraná, além do litoral do Paraná e Santa Catarina, onde as médias são de
aproximadamente 15o a 18oC. A média das máximas também é baixa, em torno de 20o a
24oC, nos grandes vales e no litoral, e 16o a 20oC no planalto. A média das mínimas
varia de 6o a 12oC, sendo comum o termômetro atingir temperaturas próximas de 0oC,

122
ou mesmo alcançar índices negativos, acompanhados de geada e neve, quando da
invasão das massas polares.
A pluviosidade média anual oscila entre 1.250 e 2.000 mm, exceto no litoral do Paraná
e oeste de Santa Catarina, onde os valores são superiores a 2.000 mm, e no norte do
Paraná e pequena área litorânea de Santa Catarina, com valores inferiores a 1.250 mm.
O máximo pluviométrico acontece no inverno e o mínimo no verão em quase toda a
região.

3.5 REGIÃO CENTRO-OESTE


Três sistemas de circulação interferem na região Centro-Oeste: sistema de correntes
perturbadas de Oeste, representado por tempo instável no verão; sistema de correntes
perturbadas de Norte, representado pela CIT, que provoca chuvas no verão, outono e
inverno no norte da região; e sistema de correntes perturbadas de Sul, representado
pelas frentes polares, invadindo a região no inverno com grande freqüência, provocando
chuvas de um a três dias de duração.
Nos extremos norte e sul da região, a temperatura média anual é de 22oC e nas chapadas
varia de 20o a 22oC. Na primavera-verão, são comuns temperaturas elevadas, quando a
média do mês mais quente varia de 24o a 26oC. A média das máximas de setembro (mês
mais quente) oscila entre 30o e 36oC.
O inverno é uma estação amena, embora ocorram com freqüência temperaturas baixas,
em razão da invasão polar, que provoca as friagens, muito comuns nesta época do ano.
A temperatura média do mês mais frio oscila entre 15o e 24oC, e a média das mínimas,
de 8o a 18oC, não sendo rara a ocorrência de mínimas absolutas negativas.
A caracterização da pluviosidade da região se deve quase que exclusivamente ao
sistema de circulação atmosférica. A pluviosidade média anual varia de 2.000 a 3.000
mm ao norte de Mato Grosso a 1.250 mm no Pantanal mato-grossense.
Apesar dessa desigualdade, a região é bem provida de chuvas. Sua sazonalidade é
tipicamente tropical, com máxima no verão e mínima no inverno. Mais de 70% do total
de chuvas acumuladas durante o ano se precipitam de novembro a março. O inverno é
excessivamente seco, pois as chuvas são muito raras.

123
Figura 4 – Regime climático e gráfico com a temperatura média mensal e precipitação
para algumas cidades nas cinco regiões do Brasil. Fonte: IBGE – INMET.

ALGUMAS REFERENCIAS

Peel, M. C. and Finlayson, B. L. and McMahon, T. A. (2007). "Updated world map of


the Köppen-Geiger climate classification". 'Hydrol. Earth Syst. Sci.' 11: 1633-1644.
ISSN 1027-5606. (direct: Documento final.)

McKnight, Tom L; Hess, Darrel,. 'Physical Geography: A Landscape Appreciation'.


Upper Saddle River, NJ: pp. pp. 200-1. ISBN 0-13-020263-0

124
PARTE 5
VARIABILIDADE CLIMÁTICA
1. INTRODUÇÃO
O clima de um local ou região varia, em geral, ao longo do ano como conseqüência do
movimento de translação em torno do Sol - variabilidade sazonal. Muitos elementos
climáticos (temperatura e umidade do ar, por exemplo) apresentam também marcadas
variações diurna, associada ao movimento de rotação da Terra.
Para além da variabilidade de tipo cíclico associada a movimentos astronômicos, muito
aproximadamente periódicos, o clima apresenta uma variabilidade natural interna, não
periódica, muito complexa, que faz com o clima num dado ano seja diferente do de anos
anteriores e de anos seguintes. Sabe-se que este tipo de variabilidade pode, em parte, ser
provocada por variações da intensidade da radiação solar e por variações na
transparência da atmosfera associadas, por exemplo, às erupções vulcânicas. No
entanto, existiria variabilidade climática mesmo que não existisse este tipo de variações
no forçamento pela radiação solar. De fato, existe variabilidade climática que está
apenas associada a fenômenos de interação, com realimentação, entre a atmosfera
(componente de variação rápida do sistema climático, com mudanças sucessivas do
estado do tempo) e os restantes componentes do sistema climático, de resposta mais
lenta, designadamente os oceanos, os gelos e a cobertura de neve.
Porque existe variabilidade climática os valores observados dos elementos climáticos
não são constantes. Ao longo do tempo ocorrem valores diversos com diversas
probabilidades, definidas pelas respectivas funções de distribuição.

1.1 HISTORIA DA VARIABILIDADE


Estima-se que a Terra foi formada há aproximadamente 5 bilhões de anos a partir de
uma nuvem de poeira e gases à deriva no espaço (nebulosa solar). Os minerais densos
afundaram, concentrando-se no centro, e os mais leves formaram uma fina crosta
rochosa. Existem poucas evidências para nos contar como o clima mudou em cerca de
90% do tempo de vida da Terra. Nós não sabemos a onde os oceanos e continentes
estavam, ou quais eram precisamente os constituintes da atmosfera.
1.2 O clima dos últimos 20.000 anos
Diversos tipos de evidências geológicas indicaram que os climas passados da Terra
flutuaram entre glaciações e períodos livres de gelo. Vamos começar nosso estudo

125
analisando o caso mais recente de grande mudança climática (o último máximo glacial).
Este período (14.000–22.000 anos atrás) pode ser dividido nas fases de degelo
(aproximadamente 10.000–14.000 anos atrás), e do presente Holoceno interglacial (0-
10.000 anos atrás).

1.2.1 O último máximo glacial


O último máximo glacial estendeu-se de aproximadamente 22.000 a 14.000 anos atrás.
A glaciação tem sido chamada de Wisconsin, Weichselian, ou Wurm, dependendo da
região aonde é referida, América do Norte, oeste da Europa ou Alpes. A reconstrução
dos eventos tem sido grandemente ajudada pela datação com radiocarbono, que tem
uma precisão de 1000–2000 anos na maior parte do período estudado.

1.2.1.1 Mudanças na cobertura de neve e gelo


Os aspectos mais dramáticos do último máximo glacial foram as grandes geleiras
(Figura abaixo). Apesar da cobertura de gelo ter aumentado em muitas áreas, as maiores
acumulações foram no leste da América do Norte (Laurentide) e no noroeste da Europa
(Fennoscandian = Finlândia + Escandinávia)). A espessura das geleiras Laurentide e
Fennoscandian é da ordem de 3500–4000 m. Suas formações requereram evaporação de
50–60 x 106 km3 de água dos oceanos. A melhor estimativa para o conseqüente
rebaixamento do nível do mar é de 121 ± 5 m. Aproximadamente 1/2 ou 2/3 do volume
global do gelo foi usado na formação da enorme geleira de Laurentide. Ela se estendeu
desde as Montanhas Rochosas até a costa do Atlântico e do Oceano Ártico para o sul,
até as posições presentes dos rios Missouri e Ohio. Na Europa a geleira Fennoscandian
alcançou o norte da Alemanha e a Holanda.

126
Figura 1 - Distribuição de gelo no hemisfério norte (terra e oceano) para janeiro há
18.000 anos.
Numerosos registros indicam grandes mudanças do clima nas áreas que fazem fronteiras
com as camadas de gelo. Na América do Norte e Europa (fig. 2.3) a tundra se estendeu
para o sul a partir das margens do gelo, com a extensão geográfica muito maior no oeste
da Europa do que na América do Norte (algumas partes dos depósitos de tundra não são
bem datados, mas é razoável assumir que elas refletem condições inteiramente glaciais).
Na América do Norte, a fina faixa de tundra foi substituída ao sul por uma floresta
boreal de pinheiros espruce. Ao sul de 35oN, florestas de carvalho, vegetação local de
pradaria, e baixos níveis de rios davam uma visão da aridez global da idade do gelo. O
limite de 34oN tem sido interpretado como a posição média da frente polar, que hoje é
localizada aproximadamente 1200 km ao norte, no sul do Canadá. Nas regiões ao sul da
geleira de Laurentide, existem combinações de mamíferos (elementos frios e quentes)
que não ocorrem no presente.

Figura 2 - Mapa esquemático dos padrões inferidos de vegetação na Europa durante o


último máximo glacial.
Na Europa, desertos polares devem ter coberto a maior parte da área entre a margem sul
da geleira de Fennoscandian e a margem norte dos glaciais alpinos expandidos (Figura
2). Esta região foi povoada por vertebrados típicos do Ártico tais como veados,
mamutes e raposas do Ártico. Mais a leste, depósitos eólicos soprados pelo vento
(loess), típicos de condições secas e frias das estepes, se estenderam das planícies leste
europeu através da Eurásia até a China central. Como as mudanças no nível médio do

127
mar expuseram o estreito de Bhering, o cinturão de estepe deve ter continuado através
da Sibéria até o Alaska. Apesar das condições severas, o corredor Sibéria-Alaska
(Beringia) é notável por seus grandes números de fósseis de grandes vertebrados
(mamutes, bisões (búfalo norte-americano), veados, cavalos). Existe evidência que o
homem primitivo caçou essas populações durante sua migração para a América do
Norte.
Com poucas exceções, a maior parte do planeta parece ter sido seca durante a última
idade do gelo. Padrões de precipitação variaram por cinturão de latitude. Nas altas
latitudes, mudanças da taxa de acumulação nos núcleos de gelo da Groenlândia e
Antártica sugerem que a precipitação decresceu aproximadamente 50% nas regiões
polares.
As condições eram úmidas em algumas regiões terrestres das latitudes médias afetadas
pelos oestes deslocados equatorialmente e sistemas de baixa pressão que se formam
neste cinturão. Extensivo lagos (fig. 2.4) desenvolveu-se na “Great Basin” do oeste da
América do Norte e Rússia Européia. A proximidade das camadas de gelo podem ter
contribuído para a formação desses lagos por uma combinação de temperaturas do ar
inferiores (implicando menor evaporação), algum aumento de precipitação, e/ou água de
degelo glacial/ bloqueio físico de sistemas de drenagem. Uma combinação de aumento
de precipitação (cerca de 2.4 vezes) e declínio de temperatura (5-7oC) pode explicar
algumas mudanças no nível dos lagos no Pleistoceno no oeste dos Estados Unidos.
Contudo, como existe um número de incertezas nesses cálculos, estas estimativas
devem ser tratadas com cautela.

Figura 3 - Mapa global dos níveis dos lagos há 18.000 anos.

128
O clima foi relativamente úmido no noroeste da África, no “Middle East”, no sul da
Austrália, e no sul da América do Sul. Essas regiões, presentemente nas margens
polares dos cinturões áridos subtropicais, se beneficiaram dos deslocamentos dos
sistemas de baixa pressão das latitudes médias para o equador, que poderia
presumivelmente se deslocar ao longo da fronteira do gradiente máximo de temperatura
(margens do mar de gelo) em ambos os hemisférios (Figura 1).
O aumento total na aridez à superfície há 18.000 anos é consistente com um aumento
nas concentrações de poeiras atmosféricas, como registrado nos núcleos de gelo da
Groenlândia e Antártica e aumentos nos sedimentos eólicos soprados pelo vento nos
núcleos do mar profundo equatorial Atlântico. A aridez da Idade do Gelo é também
consistente com uma maciça transferência de carbono dos reservatórios terrestres para
os marinhos. A transferência de carbono glacial-interglacial é aproximadamente
equivalente a aproximadamente 1/4 a 1/3 da quantidade total de carbono armazenado
nas plantas, solos e na plataforma continental, i. e., aproximadamente 0.5-0.7 x 1018 g
de carbono. Como resultado do aumento da aridez e extensão do gelo, o albedo da
superfície (verão) aumentou de 0.14 para 0.22.
Além da evidência de rebaixamento do limite de acumulação de neve nas montanhas
tropicais, ocorreram também mudanças no clima nas regiões baixas. Nosso
conhecimento sobre mudanças na precipitação é melhor do que sobre mudanças na
temperatura. Estimativas esparsas da última são de aproximadamente 4-5oC.
Existe uma evidência moderadamente boa de que as regiões baixas tropicais foram mais
secas durante o último máximo glacial. Os níveis dos rios na África tropical e América
Central eram muito baixos, com níveis de água em alguns dos maiores lagos do leste
africano 250-500 m abaixo dos níveis presentes. Dunas de areia expandiram-se no sub-
Sahara e América Central. Tem sido sugerido que a floresta Amazônica pode ter sido
reduzida a poucos refúgios (regiões localizadas de precipitação mais elevada). Esta
hipótese é baseada em observações biológicas das variações geográficas presentes na
diversidade de vários tipos de biota da Bacia Amazônica, ex. angiospermas (plantas
com flores) e borboletas (Figura 5). As ilhas de alta diversidade podem refletir regiões
mais úmidas, enquanto regiões de baixa diversidade têm sido interpretadas como
savanas.

129
Figura 4 - Áreas de refúgio propostas para certas espécies de (a) angiospermas e (b)
borboletas na Bacia Amazônica durante as fases do clima seco no Pleistoceno.
Inferências sobre a história do clima tropical podem ser consideradas suspeitas devido à
escassez de boas localizações de regiões de baixadas. Dada às limitações da amostra,
existe uma razoável quantidade de evidências do decréscimo da precipitação tropical.
Por exemplo, existem acentuadas concentrações de feldspato e argila mineral ilita
(argilomineral) nos sedimentos do fundo do mar, originários dos rios Amazonas e Zaire
(Congo). Feldspato e ilita são normalmente alterados sob condições úmidas; então sua
preservação sugere condições mais secas. Pólen, esporos e fluxos de diatomácia nos
sedimentos do rio Zaire também indicam condições secas.
Existiram também mudanças na direção e velocidade do vento na idade do gelo.
Direções do vento médio mudaram dos presentes sudoestes para noroestes da idade do
gelo. A advecção de ar muito frio pelos fortes noroestes podem ter tido um significante
efeito nas taxas de evaporação na Corrente do Golfo. A maior quantidade de

130
transferência de calor latente do oceano para a atmosfera presentemente ocorre em tais
regiões, com eventos de escala sinótica associados com enormes fluxos de cerca de
800-1000 W/m2. Tais valores devem ter sido excedidos no último máximo glacial.
Estudos de índices de ressurgência e material transportado pelo vento em núcleos de
mares profundos sugerem aumentos de aproximadamente 20% para os oestes do
Pacífico Norte, aproximadamente 30% para os alíseos do Pacífico Norte e 50% para os
alíseos do Atlântico Norte. Variações na ressurgência ao longo da corrente do Peru são
consistentes com um aumento de 30-50% nos alíseos do Pacífico Sul. Apesar destas
mudanças, registros do Atlântico Norte equatorial leste indicam que os cinturões de
vento não mudam latitudinalmente com velocidades acentuadas.
Núcleos de gelo também registram informação sobre mudanças nos ventos na idade do
gelo. As estimativas são baseadas nas medições de concentrações de cloreto nos
núcleos. O cloreto origina-se como um sal marinho atmosférico. A concentração de sal
marinho sobre o oceano é uma função da altura acima da superfície do mar e da
velocidade dos ventos (quanto mais fortes os ventos, maior a concentração de sal
marinho).
Variados conjuntos de dados consistentemente indicaram que as velocidades do vento
global a superfície pode ter aumentado de 20 para 50% e talvez mais. Tais mudanças
nessa forçante podem ter exercido um forte efeito na circulação oceânica. Os ventos
mais fortes podem ter também afetado a formação de gelo marinho. Por exemplo, vento
mais forte no Oceano Sul podem ter causado um aumento da perda de calor oceânico
para a atmosfera de cerca de 100 W/m2.
Além dos altos níveis de poeira, os registros dos núcleos de gelo registram outro aspecto
notável da idade do gelo. Estudos com núcleos de gelo na Groenlândia e Antártica
indicam concentrações glaciais de CO2 (Figura 5) de aproximadamente 200 ppm,
aproximadamente 75-80 ppm menos do que o valor pré-industrial estimado de
aproximadamente 280 ppm. Concentrações de metano também caíram pela metade. As
variações de CO2 podem ser devido a variações na produtividade biológica marinha.
Causas para as variações de metano atmosférico não têm sido esclarecidas, mas podem
refletir aumento da aridez, já que terras úmidas são importantes fontes de metano.
Desde que ambos CO2 e CH4 absorvem radiação infravermelha que é emitida pela terra,
mudanças em suas concentrações irão causar uma realimentação climática. A
perturbação na forçante radiativa do CO2 é de aproximadamente 1.7 W/m2 e para o
metano é de aproximadamente 0.1-0.2 W/m2. Com a realimentação, as mudanças do

131
CO2 passam para 1.5oC nas temperaturas médias globais – aproximadamente 40% do
sinal do interglacial. Então as mudanças no CO2 representam uma amplificação muito
importante da mudança climática glacial-interglacial. Contudo as variações no metano
parecem ser muito pequenas para ter um efeito significante no efeito climático (~0.1-
0.2oC).

Figura 5 - Concentração de CO2 atmosférico nos testemunhos de gelo em Byrd


(Antártica).
Em regiões afetadas pelas migrações de gelo marinho e frentes oceânicas polares, a
temperatura da superfície do mar (TSM) decresceu cerca de 6-10oC (Figura 6).
Condições frias algumas vezes se estenderam nas regiões lestes dos oceanos equatoriais
e provavelmente refletem, em parte, um aumento da ressurgência ao longo do equador.
Sobre grandes partes dos oceanos tropicais restantes, mudanças de TSM foram
aparentemente muito menores – apenas 1-2oC. Na maior parte das áreas, esta zona de
TSM estável se estendeu em direção ao pólo até 40o de latitude. Como as condições
tropicais não mudaram muito e as condições polares mudaram grandemente, existiu
uma compactação dos “espaços de vida” nas regiões de transição. O decréscimo de
TSM globalmente mediado foi de aproximadamente 1.6oC.
Muito menos é conhecido sobre variações na salinidade durante o último máximo
glacial. Salinidades a superfície foram provavelmente inferiores na área de
deslocamento das frentes polares. Salinidades aumentaram nas bacias marginais dos
mares Mediterrâneo e Vermelho. Diferenças presentes nas salinidades entre o Atlântico
Norte e o Pacífico Norte foram acentuadas de aproximadamente 50%, com salinidades
nas baixas latitudes do Atlântico aumentando de talvez 1.0%o

132
Figura 6 - Diferença entre a TSM moderna em Agosto e a TSM estimada no último
máximo glacial há 18.000 anos.

1.3.1 O HOLOCENO
Apesar dos remanescentes da geleira de Laurentide não terem desaparecido até
aproximadamente 7.000 anos atrás, o Holoceno inicial (aproximadamente 4.500-10.000
anos atrás) tem sido considerado mais quente do que os últimos 4500 anos.
As conclusões sobre o aquecimento do Holoceno inicial são baseadas em várias linhas
de evidência – deslocamentos latitudinais das zonas de vegetação no leste da América
do Norte e oeste da Europa e deslocamentos verticais de vegetação e/ou glaciais
montanhosos no oeste da América do Norte, Europa Alpina e Nova Guiné. Um exemplo
particularmente dramático envolve um pulso do aquecimento do Holoceno no norte do
Canadá em torno de 9.000 anos atrás. Vários sítios nas latitudes médias e altas do
Hemisfério Sul também registraram condições mais quentes durante o Holoceno inicial.

Estimativas quantitativas das mudanças de temperatura no Holoceno são disponíveis


para algumas regiões. No meio-oeste dos EUA, temperaturas médias anuais do
Holoceno inicial foram aproximadamente 2oC mais quentes do que no presente, com a
maior parte das mudanças devido ao aumento do aquecimento no verão. As
temperaturas no verão também aumentaram cerca de 2oC na Europa. A migração
vertical sugere aquecimento de cerca de 2oC na Nova Guiné, 4oC nos Alpes e
aproximadamente 1oC no oeste dos EUA. As temperaturas foram 0.5-1.0oC mais
quentes do que no presente no sul da Ilha da Georgia (54oS) e na Antártica.
Sobre o oceano existe menos informação sobre diferenças entre o Holoceno inicial e
final. Existem 2 razões para isso. As taxas de sedimentação de muitos núcleos em mar

133
profundo são suficientemente baixas, impedindo algumas vezes a discriminação
temporal confiável. Além disso, técnicas de testemunha usadas para recuperar
sedimentos em mar profundo muito freqüentemente perdem os primeiros 20-30 cm do
testemunho – um intervalo que compreende o Holoceno final.
Existe informação suficiente dos núcleos de mar profundo para descrever as seguintes
conclusões sobre diferenças entre o Holoceno inicial e final. Deslocamentos da fauna no
sul das regiões polares indicam que águas aquecidas penetram em latitudes mais altas
no Holoceno inicial. A evidência para maior aquecimento no Holoceno inicial é muito
mais ambíguo no Atlântico Norte, uma conclusão que parece ter surgido por diferenças
negligenciáveis entre os valores de δ18O nos núcleos de gelo da Groenlândia entre o
Holoceno final e inicial.
A transição de aproximadamente 3500-4500 anos atrás marca o retorno dos climas mais
frios e mais secos do final do Holoceno. O resfriamento do Holoceno final é algumas
vezes denominado Neoglaciação. Desde este período, a circulação no Atlântico Norte
tem estado aproximadamente na sua posição presente.

A primeira metade do Holoceno foi também marcada por diferenças significantes nos
padrões de precipitação (Figura 7). Por exemplo, existiu uma extensão leste da
“Península de Pradaria” nas Grandes Planícies da América do Norte com um
decréscimo estimado de 20% na precipitação. O oeste da América do Norte foi também
mais seco (um intervalo conhecido como “Altithermal” nesta região).

As mudanças mais pronunciadas nos padrões de precipitação ocorreram no cinturão das


monções da África e Ásia (fig. 2.8). Os níveis dos lagos subiram a um máximo através
da maior parte da África, desde o deserto da Namíbia a 26oS até os trópicos norte.
Regiões agora bem dentro do hiper árido núcleo do Sahara, indicam condições úmidas e
uma virada para o norte do cinturão de chuvas de verão (monção) por pelo menos 600
km. Remanescentes crocodilos, girafas, elefantes gazelas e hipopótamos têm sido
encontrados ao longo dos presentemente secos leitos fluviais (wadis). Papyrus, que
presentemente é restrito a metade sul do Sudão, estendeu-se 1500 km para o norte, no
Egito. A umidade crescente contribuiu para depósitos extensivos de água subterrânea
sob o Sahara.
A umidade acentuada no Holoceno inicial, indicativo de uma monção sudeste mais
forte, se estendeu através do leste da Arábia Saudita, Mesopotâmia e na presentemente
seca região da Rajastan no noroeste da Índia. Existe evidência também de uma monção

134
mais forte em sedimentos longe da costa. No Mar das Arábias oeste, fora da costa da
Arábia Saudita, a fauna do Holoceno inicial indica maior ressurgência, causada por um
escoamento sudoeste mais forte (e então acentuado transporte de Ekman das águas
superficiais frias para a superfície). No norte da Baia de Bengália (Índia), uma espécie
foraminífera, indicativa de baixa salinidade aumentou em abundância. Este aumento
pode ser interpretado em termos de maior escoamento dos rios Ganges e Brahmaputra.
Camada de baixa salinidade superficial no leste dos Mares Mediterrâneo e Vermelho,
provavelmente resultantes de acentuada vazão, impediu o transbordamento, levando a
sedimentos ricos em matéria orgânica no Mediterrâneo e acumulação de salmoura rica
em metal no Mar Vermelho.

Figura 7 - Reconstrução dos níveis dos lagos durante a parte inicial do presente
Holoceno interglacial (6.000 anos atrás), mostrando que muitas áreas nos trópicos eram
mais úmidas do que no presente.
14
Outro aspecto do Holoceno envolve mudanças nos níveis de C atmosférico. Sabe-se
14
que existe um desvio secular nos registros de C atmosférico. Contudo até
recentemente não era possível distinguir satisfatoriamente entre várias hipóteses (desvio
geomagnético, mudanças na radiação solar, ou mudanças no clima) que pudessem afetar
14
o reservatório de C atmosférico. Por exemplo, a variação das taxas de produção de
14
águas profundas poderia variar as taxas pelas quais a água antiga reduzida de C é
ressurgida e exposta à atmosfera. Variações no campo geomagnético da Terra podem
ser primariamente responsáveis pelas flutuações indicadas na figura 8. Esta
interpretação é suportada por medições paleomagnéticas diretas.

135
Figura 8 - Variações de 14C atmosférico nos últimos 10.000 anos.

2. AS CAUSAS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS


2.1 CAUSAS EXTERNAS
2.1.1 VARIAÇÕES DE MILANKOVITCH
A teoria astronômica das variações do clima, também chamada de teoria de
Milankovitch, é uma tentativa de relacionar variações climáticas a parâmetros da órbita
terrestre em torno do Sol. Existem diversas formas nas quais a configuração orbital
pode afetar a radiação solar recebida, e então possivelmente o clima. Elas são:

 mudanças na excentricidade – período de 100.000 anos


 mudanças na obliqüidade – período de 41.100 anos
 mudanças na precessão orbital – período de 23.000 anos

136
Figura 9 - Ciclos de Milankovitch (Fonte: Moran e Morgan, 1991).
A órbita da Terra torna-se mais excêntrica (elíptica) e depois mais circular num ciclo de
aproximadamente 100.000 anos. O fluxo médio anual incidente varia em função da
excentricidade da órbita, E.
da − d p
E= (1)
da + d p

onde:
da= distância Terra-Sol no afélio (Terra mais afastada do Sol, atualmente em torno do
dia 05 de julho)
dp = distância Terra-Sol no periélio (Terra mais próxima ao Sol, atualmente em torno
do dia 03 de janeiro)
A excentricidade da órbita de um planeta indica o quanto sua órbita se desvia de um
círculo. Quanto maior a excentricidade maior o valor de E e para o círculo E = 0.
Para maiores valores de E existe menor fluxo anual incidente. O valor corrente de E é
0.017. Nos últimos 5 milhões de anos ele tem variado de 0.000483 a 0.060791. Essas

137
variações têm resultado em mudanças no fluxo incidente de +0.014 a –0.17% do valor
corrente.
A obliqüidade, a inclinação do eixo da Terra, é o ângulo entre o eixo da Terra e o plano
de eclíptica (o plano no qual situam-se os corpos do sistema solar). Esta inclinação varia
de aproximadamente 22o a 24.5o, com um período de aproximadamente 41.000 anos. O
valor corrente é 23.5o. Variações sazonais dependem da obliqüidade: se a obliqüidade é
grande, os contrastes sazonais também aumentam de forma que os invernos são mais
frios e os verões mais quentes em ambos os hemisférios. As mudanças na obliqüidade
têm relativamente pouco efeito na radiação recebida nas baixas latitudes, mas o efeito
aumenta em direção aos pólos.
A órbita da Terra é uma elipse em torno do Sol, que fica em um dos focos. Devido à
interação gravitacional com os outros planetas, Júpiter primariamente, o periélio (o
ponto da órbita terrestre mais próxima ao Sol) move-se no espaço de forma que a elipse
é modificada ao longo do espaço. A precessão orbital irá causar uma progressiva
mudança na época dos equinócios. Essas mudanças ocorrem de tal forma que duas
periodicidades são aparentes: 23.000 anos e 18.800 anos. Essa mudança, assim como a
obliqüidade, não altera a radiação total recebida, mas afeta sua distribuição temporal e
espacial. Por exemplo, o periélio ocorre atualmente em 5 de janeiro, no meio do verão
do hemisfério sul, mas daqui há 11.000–15.000 anos ele irá ocorrer em julho. No atual
valor da excentricidade existe uma variação de 6% na constante solar entre o periélio e
o afélio (1411-1329 W/m2).

2.2 MUDANÇAS INDUZIDAS PELO HOMEM


2.2.1. O EFEITO ESTUFA NATURAL
Se a atmosfera não existisse, a temperatura da Terra seria muito elevada durante o dia e
muito baixa a noite, e a temperatura média seria aproximadamente 34oC inferior a
temperatura média observada que é de 15oC. Esse valor é calculado da seguinte forma:
A radiação solar incidente mediada sobre o globo é dada por:

CteSolarxπr 2
(2)
4πr 2

onde: r = raio da Terra


4πr 2 = é a área da superfície da esfera.
Como S=1367 Wm-2, este valor (S/4) é 342 Wm-2

138
Por conveniência vamos considerar este valor como 100 unidades, distribuídas da
seguinte forma (Figura 10):
 3 são absorvidas na estratosfera principalmente pelo ozônio.
 18 são absorvidas na troposfera (1 unidade pelo dióxido de carbono, 12 pelo
vapor d’água, 2 pelas poeiras e 3 pelas gotas de água nas nuvens).
 20 são refletidas para o espaço a partir das nuvens
 8 são refletidas para o espaço pela superfície
 3 são refletidas para o espaço pelo espalhamento atmosférico
 27 alcançam a terra diretamente
 21 alcançam a terra como radiação difusa

Figura 10 - Balanço da radiação de onda curta proveniente do Sol.


O total de radiação refletida é o albedo planetário (31%).
Considerando a Lei de Stefan-Boltzmann: F = σT 4 (a energia total emitida por um
corpo negro é proporcional a quarta potência da temperatura absoluta do corpo)
aonde σ = 5.67 × 10 −8 Wm −2 K −4 (constante de Stefan-Boltzmann)
Podemos calcular qual seria a temperatura da atmosfera terrestre sem a presença do
efeito estufa:

139
T =4
(0,69 * 342Wm ) −2
0

(5,67 *10 −8
Wm − 2 K − 4 ) = 254K = −19 C (3)

A atmosfera age, portanto, como uma camada protetora, aquecendo a Terra, e


mantendo um balanço constante entre a radiação solar absorvida e o calor refletido de
volta para o espaço na forma de radiação infravermelha.
2.2.2 OS GASES DE EFEITO ESTUFA
Os gases que predominam na atmosfera são o nitrogênio (78%) e o oxigênio (21%), que
são praticamente transparentes à radiação infravermelha. Existem, contudo, gases de
efeito estufa que absorvem e reirradiam a radiação infravermelha para a Terra. Este
processo de aquecimento, que permite que exista vida na Terra é conhecido como efeito
estufa.
Os principais gases do efeito estufa são o vapor d’água, ozônio e o dióxido de carbono.
Outros gases traços tais como metano, clorofluorcarbonos (CFCs), óxido nitroso e
dióxido sulfúrico também contribuem para o efeito estufa. As atividades humanas, tais
como a queima de combustíveis fósseis, estão elevando a concentração de gases do
efeito estufa, ampliando o efeito estufa natural. A figura 3.5 mostra a contribuição de
cada um dos gases de efeito estufa de origem antropogênica para a forçante radiativa. A
fim de comparar esta contribuição relativa de cada gás do efeito estufa, foi criado um
índice chamado Potencial de Aquecimento Global (GWP – Global Warming Potential).
Este índice representa o potencial que um quilograma de um gás estufa tem para reter
radiação infravermelha (direta ou indiretamente) em comparação a um quilograma de
dióxido de carbono, utilizado como gás de referência, em um determinado período de
tempo. Assim, na tabela 3.1 observa-se que em 100 anos, o CH4 absorve cerca de 21
vezes mais radiação infravermelha do que o CO2; o N2O absorve 310 vezes mais e os
halocarbonos são os que têm maior capacidade de absorção.

140
Figura 11 - Contribuição de cada um dos gases de efeito estufa antropogênicos para a
forçante radiativa, no período 1980 a 1990. A contribuição do ozônio, apesar de
significativa, ainda não pode ser quantificada.

Gás Concentração Concentração Principais fontes Potencial de Tempo de


estufa em 1750 em 1992 antropogênicas aquecimento vida
global (GWP) atmosférico
100 anos (anos)
CO2 280 ppmv 355 ppmv queima de combustível 1 50-200
fóssil; desmatamento e
uso do solo
CH4 700 ppbv 1714 ppbv cultivo de arroz; criação 21 12-17
de gado; decomposição
anaeróbica de biomassa;
liberação na cadeia
produtiva de
combustíveis derivados
do petróleo
N2O 275 ppbv 311 ppbv fertilizantes; queima de 310 120
combustíveis fósseis;
conversão da terra para a
agricultura
O3 nd variável nd nd 0,1-0,3
CFC- 0 503 pptv fabricação de solventes, 8500 102
12 refrigerantes, aerossóis.
Tabela 1 - Principais gases do efeito estufa e suas características
Fonte: IPCC - 1995
Abreviações:
ppmv - parte por bilhão em volume
ppbv - parte por bilhão em volume
pptv - parte por trilhão em volume
nd - não determinado.
A figura 12 mostra o aumento da emissão dos gases de efeito estufa no período 1750 a
1990. Verifica-se que as concentrações de dióxido de carbono e metano, após
permanecerem relativamente constantes até o século XVIII, têm crescido
acentuadamente devido as atividades humanas. Concentrações de óxido nitroso têm se
elevado desde a metade do século XVIII, especialmente nas últimas décadas. Os CFCs
não estavam presentes na atmosfera antes da década de 1930.

141
Figura 12 - Concentração de gases de efeito estufa no período 1750-1990.
a) Dióxido de carbono
Entre os gases liberados na atmosfera pelas atividades humanas, um dos mais
importantes é o CO2 . O dióxido de carbono é bem misturado na atmosfera com uma
razão de mistura quase uniforme de, atualmente, 350 ppbv. Junto com o vapor d’água e
o ozônio ele desempenha um papel importante no aquecimento da atmosfera, podendo
permanecer de 50 a 200 anos na atmosfera e sendo responsável por cerca de 55% do
efeito estufa. As moléculas de CO2 são transparentes a radiação solar de onda curta mas
são fortes absorvedoras da radiação infravermelha emitida pela superfície da terra.
Através da absorção o CO2 impede que parte da radiação emitida pela superfície seja
perdida no espaço. Quanto mais CO2 existir na atmosfera maior será a quantidade de
radiação absorvida, levando ao aquecimento na atmosfera inferior. Então o aumento de
CO2 e outros gases traços podem ter profundo efeito no clima.
A quantidade de CO2 tem aumentado cerca de 25% desde o início da revolução
industrial (~1850) quando sua razão de mistura era da ordem de 280 ppmv. A fig. 3.7 dá
a série temporal da razão de mistura do CO2 medida desde 1958 no observatório da
montanha de Mauna Loa no Hawaii. Nota-se que a taxa de aumento tem sido em média
1 ppmv/ano, mas têm aumentado 1.5 ppmv/ano nos anos recentes, parcialmente em
resposta as taxas de queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás
natural e turfa). Além desta fonte antropogênica existem também importantes trocas de
CO2 com os oceanos e a biosfera. As interações com a biosfera ocorrem através da
fotossíntese e processos de oxidação. O efeito líquido do desflorestamento, tais como a
redução das florestas tropicais, o uso extensivo de fertilizantes, e o decaimento geral da
matéria orgânica podem constituir uma pequena fonte de CO2 atmosférico comparado
ao “input” de combustíveis fósseis, mas ainda é considerável.

142
Figura 13 – Série temporal da concentração de CO2 atmosférico em partes por milhão
por volume (ppmv) medido no observatório Mauna Loa, Hawaii (19.5oN/155oW) entre
1958 e 1988.
A variação anual quase senoidal na figura 13, de aproximadamente 6 ppmv, é associada
ao ciclo anual da fotossíntese. A fase desta respiração regular da biosfera global é
dominada pelo ciclo de vegetação do HN, com consumo de CO2 durante a primavera e
verão, levando a uma concentração mínima em Mauna Loa no final do outono e, com
liberação de CO2 na atmosfera durante o final de outono e inverno, levando a uma
concentração máxima em Mauna Loa na primavera.
Dados paleoclimáticos obtidos a partir de testemunhos de gelo mostram que existe uma
forte relação entre as alterações na temperatura média da Terra e a concentração de CO2
na atmosfera nos últimos 160 mil anos (Figura 14).

143
Figura 14 – As análises de bolhas de ar dos testemunhos de gelo da estação Vostok na
Antártica revelam que nos últimos 160 mil anos, os níveis de CO2 (curva superior)
estiveram bem correlacionados com as variações de temperatura do ar (curva inferior).
As temperaturas são derivadas das análises dos isótopos de oxigênio.

b) Metano

Depois do CO2, o metano (CH4) é o segundo gás mais importante do efeito estufa. O
metano é produzido naturalmente por bactérias no aparelho digestivo do gado, aterros
sanitários, plantações inundadas, mineração e queima de biomassa. Além dessas fontes
naturais estão as plantações de arroz, fermentação entérica (intestinal), digestão de
biomassa, manejo de resíduos, manipulação de combustíveis fósseis e perdas de gás
natural. Apesar de ter um tempo de permanência na atmosfera de cerca de 15 anos, ele
contribui com aproximadamente 15% do efeito estufa e absorve 20 vezes mais calor que
o CO2. A sua concentração desde o período pré-industrial, que era de 700 ppbv
aumentou em 140%.

c) Ozônio troposférico

O ozônio troposférico é produzido por reações fotoquímicas complexas associadas à


emissão de gases pelo homem. Esses gases podem ser o monóxido de carbono (CO),
óxido de nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos não metano (HCNM), e como resultado de
reações químicas envolvendo o composto CH4.
As primeiras medições da concentração de O3 na atmosfera próximo à superfície
terrestre datam dos anos 30 e figuravam entre 10-25 ppbv. Medições mais recentes

144
indicam haver uma maior concentração de ozônio troposférico no hemisfério norte. Essa
concentração pode variar espacialmente e temporalmente, aumentando entre 0,5-4,0%
ao ano. Um número adotado por diversos pesquisadores, a partir de algumas
observações em todo o mundo é de cerca de 40 ppbv para a concentração de ozônio nos
dias atuais.

d) Óxido nitroso
O óxido nitroso (N2O) é liberado naturalmente por micróbios no solo (por um processo
denominado nitrificação). Sua concentração aumentou drasticamente em função do uso
de fertilizantes químicos, produção de nylon, ácido nítrico, queima de biomassa,
desmatamento e emissões associadas à queima de combustíveis fósseis. Apresenta uma
absorção cerca de 300 vezes mais eficiente que o dióxido de carbono e participa com
cerca de 6% do efeito estufa. Desde os tempos pré-revolução industrial, a sua
concentração atmosférica elevou-se em mais de 10%, de 280 até 309 ppbv.

e) Halocarbonos
Os halocarbonos (CFCs, HCFCs e outros) são compostos químicos produzidos pelo
homem, contendo em sua estrutura molecular átomos halógenos, principalmente flúor,
cloro e bromo. Os clorofluorcarbonos conhecidos como gás freon são inodoros, não
tóxicos, não inflamáveis, não explosivos e estáveis na atmosfera. Sua produção
começou na década de 30 com o avanço da refrigeração e antes da Segunda Guerra
Mundial, o seu uso ainda era limitado. Desde então vêm sendo utilizados em geladeiras,
aparelhos de ar-condicionado, isolamento térmico, espumas, como propelente de
aerossóis, etc. Os halocarbonos são pouco reativos, sendo transportados para a
estratosfera, onde suas moléculas são quebradas pelos raios ultravioletas, liberando
átomos de cloro que atuam na destruição da camada de ozônio.

2.3 A VARIABILIDADE INTERANUAL DO SISTEMA CLIMÁTICO E A


PREVISIBILIDADE CLIMÁTICA SAZONAL
2.3.1 OSCILAÇÃO QUASE-BIANUAL

A oscilação quase-bianual (OQB) é uma oscilação observada na estratosfera tropical


principalmente nos campos do vento zonal e temperatura, com um período irregular
geralmente um pouco superior a dois anos. O sinal da OQB nos ventos zonais, descrito
em detalhes por Reed et al. (1961) e Veryard e Ebdon (1961), é mostrado em detalhes

145
na figura 15 de Naujokat (1986). A figura mostra um padrão de ventos oeste e leste se
alternando sobre o equador, com um período médio de aproximadamente 27 meses e
que alcançam valores extremos da ordem de –30 a 20 m/s. Parece haver uma
propagação para baixo do sinal da OQB com uma velocidade de aproximadamente 1
km/mês. A amplitude da oscilação não muda muito com a altura acima de 50 hPa mas
decresce rapidamente abaixo deste nível.
Esta oscilação pode ser prevista com alguma confiança com quase um ano de
antecedência. A fase leste da OQB é associada com fortes ventos leste na estratosfera
inferior entre 10oN e 15oN, produzindo um grande cisalhamento vertical do vento. Esta
fase persiste geralmente por 12 a 15 meses e inibe a formação de furacões. A fase oeste
da OQB exibe fracos ventos leste na estratosfera inferior e fraco cisalhamento vertical
do vento. Esta fase, que dura tipicamente entre 13 e 16 meses, é associada com
acréscimo de 50% de tempestades, 60% de furacões e 200% de furacões mais intensos
com relação à fase leste.

Figura 15 - Seção tempo-altura da componente zonal do vento mensalmente mediada


próxima ao equador (em m/s), mostrando o sinal da OQB alternando-se de oeste para
leste. Esta seção é baseada em dados da Ilha de Cantão (3oS/172oW; 1953-1967), Gan
(1oS/73oE; 1967-1975) e Singapura (1oN/104oE; 1976-1985).

146
2.3.2 A TÉCNICA DA PREVISÃO CLIMÁTICA POR CONJUNTO CONDUZIDA:
CPTEC/INPE
Uma forma de maximizar e prever a “priori” o desempenho da previsão é utilizar a
técnica da previsão por conjunto (“ensemble forecasting”), esquematizada na figura 4.2.
Como a noção de previsibilidade está relacionada à taxa de divergência de previsões
inicializadas a partir de estados iniciais quase idênticos, uma técnica para estimar a
previsibilidade pode ser construir um conjunto de possíveis estados iniciais,
ligeiramente diferentes da análise inicial e rodar o modelo numérico a partir de cada
estado inicial, produzindo um conjunto de previsões para cada condição inicial. A partir
daí, a previsão final pode ser obtida utilizando-se métodos estatísticos, como a média
das várias previsões produzidas.

instante previsão previsão


inicial intermediária final

Figura 16 - Representação esquemática do conceito de previsão por conjuntos. A linha


mais grossa representa a evolução da análise do estado inicial da atmosfera,
correspondendo à previsão simples tradicional. As linhas mais finas representam a
evolução de cada um dos outros elementos no conjunto de estados iniciais. A elipse na
qual essas linhas originam-se representa a distribuição estatística dos estados iniciais da
atmosfera, que são muito próximos entre si. Numa previsão intermediária, todos os
elementos ainda são razoavelmente similares. Na previsão final, alguns elementos
sofrem grandes mudanças e representam trajetórias da evolução da atmosfera
qualitativamente distintas. Todas as trajetórias são plausíveis e não há como saber com
antecedência qual a melhor. De Wilks (1995), adaptada por Coutinho (1998).
Os métodos utilizados para gerar o conjunto de estados iniciais para a previsão sazonal
podem ser tão complexos quanto aqueles utilizados para a previsão a médio prazo
(Palmer & Anderson, 1994). Contudo a preocupação com a escolha da técnica para

147
gerar as perturbações iniciais (Vukicevic, 1991; Palmer, 1993) é muito maior nas
situações de previsões de médio prazo ou estendidas (até 30 dias) pois nestes casos a
previsibilidade é muito mais uma função das condições iniciais. No caso da previsão
climática sazonal um método simples para gerar o conjunto de estados iniciais é
escolher condições iniciais intercaladas de 24 horas. A simplicidade na escolha das
condições iniciais pode ser justificada pela escala temporal do problema. Nesta escala
de tempo sazonal assume-se que a previsibilidade não é uma função do estado inicial,
mas sim uma resposta da atmosfera às condições de contorno (Stern e Miyakoda, 1995).
No CPTEC são geradas mensalmente, desde janeiro de 1995, previsões sazonais
utilizando-se o modelo de circulação geral atmosférico (MCGA) CPTEC/COLA,
inicialmente com 4 e atualmente com 25 membros (Cavalcanti, 1996). Previsões
consecutivas, com intervalo de 24 horas, são inicializadas a partir de análises do NCEP
de 00Z, cada uma representando um membro da previsão por conjunto. Atualmente os
conjuntos são formados por vinte e cinco membros, inicializados cerca de dois meses e
meio antes do início do período a ser previsto. Por exemplo, a previsão para o período
abril a junho de 1999, rodada no início de abril de 1999, utiliza condições iniciais de
janeiro de 1999, fazendo-se o membro 13 coincidir com a metade deste mês, dia
15/01/99 (tabela 2). Neste caso, nos meses de fevereiro e março de 1999 são realizadas
simulações, uma vez que se utilizam dados observados de TSM.

Membro Dia inicial Membro Dia inicial Membro Dia inicial


1 03 janeiro 10 12 janeiro 19 21 janeiro
2008 2008 2008
2 04 janeiro 11 13 janeiro 20 22 janeiro
2008 2008 2008
3 05 janeiro 12 14 janeiro 21 23 janeiro
2008 2008 2008
4 06 janeiro 13 15 janeiro 22 24 janeiro
2008 2008 2008
5 07 janeiro 14 16 janeiro 23 25 janeiro
2008 2008 2008
6 08 janeiro 15 17 janeiro 24 26 janeiro
2008 2008 2008
7 09 janeiro 16 18 janeiro 25 27 janeiro
2008 2008 2008
8 10 janeiro 17 19 janeiro
2008 2008
9 11 janeiro 18 20 janeiro
2008 2008
Tabela 2 – Exemplo: Datas iniciais para a previsão do período abril a junho de 2008.

148
Para cada condição inicial, o modelo é integrado três vezes, dependendo das condições
de contorno inferior utilizadas. Tais integrações serão denominadas aqui controle,
ATSM persistida e TSM prevista: a) controle – utilizam-se valores climatológicos da
TSM; b) ATSM persistida – utilizam-se TSMs diárias observadas entre a data da
condição inicial até o final do mês anterior àquele no qual está sendo feita a integração,
e para os meses de previsão ATSMs persistidas somadas ao campo médio climatológico
de TSM do mês em questão; e c) TSM prevista - TSMs diárias observadas entre a data
da condição inicial até o final do mês anterior àquele no qual está sendo feita a
integração, e para os meses de previsão utiliza-se TSMs previstas pelo “Statistical
Modeling System of the Oceans” (SIMOC) sobre o Atlântico tropical (Repelli & Nobre,
1998) e pelo modelo acoplado oceano-atmosfera do NCEP sobre o Pacífico equatorial.
Nos demais oceanos utilizam-se ATSMs persistidas somadas à climatologia de TSM do
mês em questão. Os dados observados de TSM são ajustados por interpolação ótima de
Reynolds (Reynolds & Smith, 1994).
A seguir são calculadas as médias dos 25 membros das diferenças entre as integrações
TSM persistida e controle e das diferenças entre as integrações TSM previstas e
controle, de modo a fornecer a previsão da anomalia do conjunto. Calcula-se a anomalia
de um campo qualquer ao invés do próprio campo para diminuir o impacto dos erros
sistemáticos do modelo ao representar a climatologia.
Ao final das integrações da previsão por conjunto os resultados para cada membro do
conjunto devem ser analisados. Normalmente comparam-se as anomalias de uma dada
variável (por exemplo, precipitação) em um determinado domínio geográfico (por
exemplo, Nordeste do Brasil) através de um diagrama conhecido como diagrama de
"plumas" (Figura 17). Muitas vezes as previsões de cada membro apresentam uma
mesma tendência, como mostra o exemplo da figura 17.

149
Figura 17 - Previsão climática de anomalia de precipitação (com 25 membros) para a
região norte do Nordeste do Brasil.
Alguns exemplos de mapas de previsão feita pelo CPTEC/INPE e pelo International
Research Institute for Climate and Society (IRI).

Figura 18 – Previsão probabilística para precipitação (esquerda) e temperatura (direita)


feita pelo IRI. Fonte: IRI.

Figura 19 – Previsão Probabilística feita pelo CPTEC/INPE para a precipitação. Fonte:


CPTEC/INPE.

150
2.4 PROJEÇÕES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ATÉ 2100
O objetivo desta unidade é apresentar um conjunto de caracterizações possíveis de
mudanças climáticas durante o século XXI, preparado por Carter e Hulme (1999),
utilizando cenários provisórios de emissões do Special Report on Emissions Scenarios
(SRES). Tais resultados serviram como guia para o Terceiro Relatório de Avaliação do
Grupo II do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change).
Representantes de 178 países estiveram presentes na Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio de Janeiro entre 03 e 14 de junho de
1992 (CNUMAD). Simultaneamente a este evento oficial de caráter
intergovernamental, realizou-se o Fórum Global das Organizações Não Governamentais
(ONGs), reunindo cerca de 4000 entidades da sociedade civil do mundo todo, um
evento sem precedentes até então, quer pelo número de entidades e pessoas envolvidas,
quer pelos seus resultados: 36 documentos e planos de ação elaborados durante este
Fórum. A esses dois eventos se denominou popularmente de Eco-92 ou Rio-92.
A CNUMAD teve como resultado a aprovação de vários documentos envolvendo
convenções, declarações de princípios e a Agenda 21, considerada como um de seus
resultados mais importantes. Os documentos oficiais aprovados nessa Conferência são
os seguintes:
 Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento;
 Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas

 Declaração dos Princípios sobre Florestas;


 Convenção sobre a Biodiversidade; e
 Agenda 21.

A Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas (CQMC) foi criada pela Organização
das Nações Unidas (ONU), diante dos crescentes problemas ambientais de origem
antropogênica, tais como intensificação do efeito estufa, depleção na camada de ozônio,
chuva ácida, desmatamento, e outros. A negociação da CQMC foi iniciada em 1990 e
foi assinada inicialmente pelo Brasil durante a Eco-92. Depois da assinatura do Brasil
seguiram-se mais 170 países. A Convenção entrou em vigor no dia 21/03/94. Ao
contrário da maioria dos outros instrumentos legais internacionais, a CQMC teve
origem no conhecimento científico: O Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática, conhecido como IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change).

151
O IPCC, estabelecido em 1988 pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) e pelo
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o meio Ambiente), é composto por cerca
de dois mil cientistas. Em 1990 o IPCC terminou o seu primeiro relatório de avaliação
que serviu de base para a Eco-92. Em 1995 o IPCC concluiu seu segundo relatório de
avaliação, chegando à conclusão que as evidências científicas indicavam uma influência
perceptível no clima global, no que se refere às atividades humanas. O IPCC é
composto por três grupos: o primeiro se preocupa com as questões físicas que envolvem
as mudanças climáticas, o segundo ocupa-se das avaliações ambientais e dos impactos
sócio-econômicos relacionados às mudanças climáticas e o terceiro dedica-se às
medidas de mitigação, ou seja, formulam as estratégias de respostas as mudanças
climáticas.
Voltando ao CQMC, o seu objetivo central é o de alcançar a estabilização das
concentrações dos gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma
interferência antrópica perigosa no sistema climático. Este nível deverá ser alcançado
num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à
mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos não seja ameaçada e que
permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de maneira sustentável.
A Convenção é baseada em dois princípios básicos: O primeiro deles é o da precaução,
segundo o qual a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para
que os países posterguem a adoção de medidas para prever, evitar ou minimizar as
causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. O segundo é o da
responsabilidade comum, porém diferenciada. De acordo com este princípio, a maior
parcela das emissões globais, históricas e atuais, de gases de efeito estufa é originária
dos países desenvolvidos. As emissões per capita dos países em desenvolvimento ainda
são relativamente baixas e a parcela de emissões globais originárias dos países em
desenvolvimento crescerá para que eles possam satisfazer suas necessidades sociais e de
desenvolvimento.
No âmbito da CQMC, com base no princípio da responsabilidade comum, porém
diferenciada, foram estabelecidas, basicamente, dois grupos de países: as Partes do
Anexo I, ou seja, países que são listados no Anexo I do texto da Convenção, e as Partes
não-Anexo I, ou seja, que não são listados no referido Anexo. O chamado Anexo I da
CQMC inclui os países industrializados que eram membros da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos) em 1992 mais a Comunidade
Européia e países da ex-União Soviética e do Leste Europeu. São as Partes do Anexo I:

152
Alemanha, Austrália, Belarus, Bélgica, Bulgária, Canadá, Comunidade Européia,
Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos da América,
Estônia, Federação Russa, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália,
Japão, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Nova
Zelândia, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do
Norte, República Tcheca, Romênia, Suécia, Suíça e Turquia, Ucrânia. Entre os países
do não-Anexo I estão incluídos todas as outras partes da CQMC que não estão listados
no Anexo I.
De acordo com a própria CQMC os países pertencentes ao Anexo I tinham se
comprometido a voltar em 2000 aos níveis de emissões antrópicas de gases de efeito
estufa de 1990. A maioria dos países não conseguiu honrar seus compromissos, com
exceção do Reino Unido (devido a significativas alterações na sua matriz energética,
pela descoberta de grandes reservas de gás natural no Mar do Norte e a conseqüente
desativação de minas de carvão mineral) e a Alemanha (pela reestruturação de seu
parque industrial após unificação com a ex-Alemanha Oriental). Os países
industrializados da ex-União Soviética e maioria dos países do leste Europeu
encontravam-se numa situação sui generis de redução de emissões devido à crise
econômica que havia se abatido sobre esses países.
Assim, avaliados que os compromissos assumidos pelas Partes do Anexo I não seriam
cumpridos, foi adotado em Berlim, em 1995, na I Conferência das Partes da Convenção
do Clima, uma resolução denominada “Mandato de Berlim”, com o objetivo de rever os
compromissos anteriormente assumidos na Convenção. O Mandato de Berlim
estabelece que os países desenvolvidos deveriam, com base no princípio da
responsabilidade comum, porém diferenciada, definir num Protocolo, limitações
quantificadas e objetivos de redução dentro dos prazos de 2005, 2010 e 2020 para suas
emissões antrópicas por fontes e remoções por sumidouro de todos os gases de efeito
estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal, bem como descrever as políticas e
medidas que seriam necessárias para alcançar essas metas, com um prazo até a III
Conferência das Partes.
Na III Conferência das Partes, realizada em Kyoto (Japão) em 12/97, foi adotado um
Protocolo à Convenção sobre Mudança do Clima, conforme estabelecido no Mandato
de Berlim, resultado de 2 anos de negociação desde aquela resolução. Tal protocolo
estabelece uma redução de pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 das emissões
antrópicas combinadas de gases de efeito estufa para os períodos de 2008 e 2012.

153
A grande inovação do Protocolo de Kyoto consiste na possibilidade de utilização dos
mecanismos de flexibilidade para que os países do Anexo I possam atingir os objetivos
de redução de gases de efeito estufa. São três as medidas de flexibilidade:
implementação conjunta, mecanismo de desenvolvimento limpo e comércio de
emissões.
 Implementação conjunta (joint implementation): consiste na possibilidade de um
país financiar projetos em outros países (apenas entre países do Anexo I) como
forma de cumprir seus compromissos. Por exemplo, a França doa tecnologia de
ponta para uma termelétrica a gás polonês para que esta substitua outra antiga a
carvão. A Polônia vai subtrair uma quantidade de CO2 não emitida em função da
melhoria tecnológica de suas “quantias alocadas de emissões” que são somadas
à conta da França. A idéia então é de que um projeto gere unidades de redução
de emissões que poderão ser posteriormente utilizadas pelo país investidor para
adicionar à sua quota de emissões, sendo reduzidas das cotas de emissão do país
beneficiado.

 b) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL (Clean Development


Mechanism – CDM): O MDL teve origem na proposta brasileira que consistia
num Fundo de Desenvolvimento Limpo, a ser formado por meio de
contribuições dos países desenvolvidos que não cumprissem suas metas de
redução. Tal fundo seria utilizado para desenvolver projetos em países em
desenvolvimento. Em Kyoto a idéia do fundo foi transformada, estabelecendo-se
o MDL, que consiste na possibilidade de que um país que tenha compromisso de
redução (países do Anexo I) financie projetos nos países em desenvolvimento
como forma de cumprir parte de seus compromissos. A idéia consiste em que
um projeto gere certificados de redução de emissões. Tais projetos devem
implicar redução de emissões adicionais àquelas que ocorreriam na ausência do
projeto, garantindo benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo para a
mitigação da mudança do clima. Assim, as reduções certificadas que resultarem
desses projetos pode ser utilizado pelos países do Anexo I para cumprir suas
obrigações.

 c) Comércio de emissões (emission trading): O comércio de emissões ainda está


se definindo. As Partes do Anexo I teriam a possibilidade de participar de um

154
comércio de emissões, suplementar às ações domésticas. Nesse caso, o país
vendedor subtrai a quantia transferida do seu total e o país comprador acrescenta
a mesma ao seu total, portanto, não há margem para contar o mesmo carbono
duas vezes.
Esta Agenda 21, transformada em Programa 21 pela ONU, é um plano de ação para
alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável. Ela é uma espécie de
consolidação de diversos relatórios, tratados, protocolos e outros documentos
elaborados durante décadas na esfera da ONU (Assembléia Geral, FAO, PNUMA,
UNESCO etc.). A Agenda 21 é um documento longo, mais de 800 folhas, dividido em 4
seções, com 40 capítulos, com a seguinte organização: Preâmbulo; Seção I com 7
capítulos que tratam das dimensões sociais do desenvolvimento sustentável (cooperação
internacional, padrão de consumo, população, saúde etc.); Seção II, sem título, com 14
capítulos que abordam as dimensões ambientais (atmosfera, oceanos, ecossistemas
frágeis, biodiversidade etc.); a Seção III dedica 9 capítulos aos principais grupos sociais,
mulheres, jovens, populações indígenas, trabalhadores, empresários, ONGs, autoridades
locais e outros cuja atenção e participação efetiva são consideradas decisivas para
alcançar este novo tipo de desenvolvimento; a Seção IV refere-se aos meios para
implantar os programas e as atividades recomendadas nas seções anteriores (recursos
financeiros, transferência de tecnologia, educação, etc.). O Anexo I de Barbieri (2000)
apresenta um resumo comentado da Agenda 21, destacando de cada capítulo as questões
centrais de problema tratado.

2.4.1 CENÁRIOS DO SPECIAL REPORT ON EMISSIONS SCENARIOS (SRES-2000)


Os trabalhos do SRES ainda estão sob revisão, mas um conjunto provisório de quatro
cenários de emissões e suas forças sócio-econômicas associadas foram liberados para
utilização. Os cenários SRES foram construídos de forma muito diferente dos antigos
cenários IS92 (IPCC, 1995). Os atuais são cenários de referência que procuram
especificamente excluir os efeitos da mudança e da política climática na sociedade e na
economia (“não-intervenção”). São baseados num conjunto de estórias narrativas que
são subseqüentemente quantificadas usando diferentes modelos. Em resumo, os quatro
cenários combinam dois conjuntos de tendências divergentes: um conjunto varia entre
fortes valores econômicos e fortes valores ambientais e o outro conjunto entre o
aumento da globalização e o aumento da regionalização. As estórias são sumarizadas a
seguir:

155
A1: Um mundo futuro de crescimento econômico muito rápido, baixo crescimento
populacional e rápida introdução de tecnologias novas e mais eficientes. Os principais
temas subjacentes são a convergência econômica e cultural e a capacidade de
construção, com uma redução substancial nas diferenças regionais de renda per capita.
Neste mundo as pessoas perseguem a saúde pessoal mais do que a qualidade ambiental.
A2: Um mundo diferenciado. O tema subjacente é de intensificação de identidades
culturais regionais, com ênfase nos valores da família e tradições locais, elevado
crescimento populacional, e menor preocupação com o rápido desenvolvimento
econômico.
B1: Um mundo convergente com rápida mudança nas estruturas econômicas,
“desmaterialização” e introdução de tecnologias limpas. A ênfase é dada nas soluções
globais para a sustentabilidade ambiental e social, incluindo esforços no rápido
desenvolvimento tecnológico, desmaterialização da economia, e aumento da igualdade.
B2: Um mundo no qual a ênfase está em soluções locais para a sustentabilidade
econômica, social e ambiental. É um mundo heterogêneo com mudanças tecnológicas
menos rápidas, e maiores e diversas modificações tecnológicas, mas com uma forte
ênfase na iniciativa da comunidade e inovação social para encontrar soluções locais ao
invés de globais.
Na tabela a seguir encontram-se os dados de população, Produto Interno Bruto (PIB),
PIB per capita, intensidade de energia e cobertura de floresta para todo o globo em 1990
e projeções para 2020, 2050 e 2100 referentes aos quatro cenários.

156
Cenários Ano População PIB PIB per intensidade floresta
(milhões) capita de energia (milhões de
(MJ/$) ha)
A1 1990 5262 20.9 4.0 11.3 4249
2020 7493 56.5 7.5 8.8 3811
2050 8704 181.3 20.8 5.5 3874
2100 7056 528.5 74.9 3.3 4326
A2 1990 5263 20.9 4.0 12.8 NA
2020 8191 40.5 4.9 12.4 NA
2050 11296 81.6 7.2 10.0 NA
2100 15068 242.8 16.1 5.7 NA
B1 1990 5297 21.0 4.0 NA 4277.0
2020 7767 48.2 6.2 NA 4095.0
2050 8933 113.9 12.8 NA 4207.7
2100 7239 338.3 46.7 NA 5075.5
B2 1990 5262 20.9 4.0 12.9 4249.5
2020 7672 50.7 6.6 8.5 3775.9
2050 9367 109.5 11.7 6.0 3906.7
2100 10414 234.9 22.6 4.0 4121.7
Tabela 3 - Cenários SRES A1, A2, B1 e B2: quantificação da população, Produto
Interno Bruto (PIB), PIB per capita, intensidade de energia e cobertura de floresta para o
globo em 1990 e projeções para 2020, 2050 e 2100.

2.4.2 ESTIMATIVA DA RESPOSTA CLIMÁTICA PARA DIFERENTES CENÁRIOS DE


EMISSÕES
As forças propulsoras descritas e quantificadas na seção anterior dão origem a uma
variedade de cenários de emissões gases de efeito estufa na atmosfera. Tais emissões
foram quantificadas para o SRES usando diferentes modelos de energia, e perfis de
emissões selecionados. As implicações dessas emissões para concentrações
atmosféricas e conseqüentemente para o clima podem ser estudadas usando-se modelos
complexos ou simples. Modelos complexos são modelos de circulação geral da
atmosfera (MCGAs) que descrevem os processos dinâmicos e físicos que operam na
atmosfera. Tais modelos são capazes de fornecer estimativas regionais de mudanças na
composição atmosférica ou do clima para um dado cenário de emissão. Contudo tais
modelos demandam grande capacidade computacional. Uma alternativa é utilizar
modelos simples, freqüentemente operando sobre grandes regiões ou globalmente,
fornecendo representações simplificadas dos principais processos que operam na
atmosfera. Esses modelos são ferramentas úteis para explorar rapidamente as
implicações em grande escala de grandes números de cenários de emissões.

157
Foram utilizados os mesmos conjuntos de simples modelos aplicados Segundo
Relatório de Avaliação do IPCC para converter os cenários de emissões em
concentrações atmosféricas, forçante radiativa (isto é, o efeito agregado de
concentrações no balanço de radiação da Terra), variação da temperatura média anual e
elevação do nível médio do mar. A tabela 5.2 compara as saídas globais dos quatro
cenários SRES para 2050 assumindo uma sensibilidade climática de 2.5oC e sem a
forçante aerosol. A variação da temperatura média global anual varia entre 1.39oC com
cenário B1 a 1.81oC com cenário A2. A tabela 4 também mostra o cenário IS92a para
comparação.
População Emissões de C Emissão pCO2 ΔT global ΔSL
(bilhões) de energia total de S (ppmv) (oC) global
(GtC) (TgS) (cm)
2000 6.00 7.0 75 370 0.30 N/a
2050
IS92a 9.57 14.2 152 528 1.68 38
SRES B1 8.76 9.7 51 479 1.39 35
SRES B2 9.53 11.3 55 492 1.49 36
SRES A1 8.54 16.1 58 555 1.76 39
SRES A2 11.67 17.3 96 559 1.81 39
Tabela 4 - Cenários SRES provisórios comparados com o cenário IS92a e com
estimativas para ano 2000. C é a emissão anual de carbono a partir de fontes de
combustíveis fósseis. S é a emissão anual de enxofre e pCO2 é a concentração de
dióxido de carbono atmosférico. As variações de temperatura Δ
( T) e do nível do mar
(ΔSL) assumem uma sensibilidade climática de 2.5 oC e nenhum efeito aerosol.
As estimativas de variação da temperatura e nível médio do mar na tabela anterior
cobriram todos os cenários de emissões, mas assumiram uma sensibilidade fixa, de
médio termo para uma dada forçante radiativa (2.5oC). De forma a estudar uma faixa
maior de incertezas, combinações de cenários de emissões e valores de sensibilidade
climática foram selecionadas como se seguem:

 B1-baixo, combinando emissões de B1 com uma sensibilidade climática de


1.5oC
 B2-médio (emissões de B2 e sensibilidade climática de 2.5oC)
 A1-médio (emissões de A1 e sensibilidade climática de 2.5oC)
 A2-alto (emissões de A2 e sensibilidade climática de 4.5oC)

Esses cenários foram denominados de cenários WG2 (Working Group 2). Os resultados
das combinações desses quatro cenários são mostrados na tabela 5.3. Verifica-se que a
inclusão da faixa de incertezas da sensibilidade climática provocou um aumento na

158
faixa de aquecimento global para os anos 2050, de 1.39-1.81oC mostrado na tabela 5.2,
para 0.93-2.61oC na tabela 5.

2025 2055 2085 2100


Emissões de C da energia (GtC)
B1 8.35 9.72 8.20 6.50
B2 9.45 11.30 12.74 13.70
A1 13.20 16.05 14.55 13.20
A2 12.10 17.30 24.15 28.80
Emissões totais de S (TgS)
B1 54.9 51.3 38.0 28.6
B2 62.5 55.4 48.5 47.3
A1 96.1 57.7 29.9 27.4
A2 105.7 95.8 63.1 60.3
Eoncentração de CO2 (ppmv)
B1 421 479 532 547
B2 429 492 561 601
A1 448 555 646 680
440 559 721 834
A2
Mudança global de temperatura (°C)
B1 0.60 0.93 1.21 1.28
B2 0.93 1.49 1.96 2.18
A1 1.02 1.76 2.25 2.41
A2 1.40 2.61 3.94 4.65
Mudança global no nível do mar (cm)
B1 7 13 19 22
B2 20 36 53 61
A1 21 39 58 67
A2 38 68 104 124
Tabela 5 - Os quatro cenários WG2 e suas implicações para a concentração de CO2,
temperatura do ar e nível do mar médias globais anuais para 2025, 2055, 2085 e 2100. C
é a emissão de carbono anual proveniente de fontes fósseis de energia. S é a emissão
anual de enxofre. Mudanças na temperatura e no nível do mar não assumem efeitos de
aerossóis sulfatos e são calculados de 1961-1990.
Os cenários de mudança na temperatura do ar podem ser interpretados em termos de
seus efeitos no nível médio do mar usando modelos simples (tabela 5). Esses cálculos
incluem estimativas devido à expansão térmica, derretimento de gelo glacial e
mudanças nos balanços de massa das banquisas de gelo, mas não faz referência a
diferenças regionais na elevação do nível do mar devido aos efeitos da circulação
oceânica e atmosférica. Além disso, a tabela 5 não faz referência aos movimentos
verticais naturais da terra devido a causas geológicas: algumas regiões da Terra estão
subsidindo; outras estão emergindo dos oceanos. A consideração dos impactos da

159
elevação dos níveis do mar também requer alguma avaliação do ambiente e as formas
nas quais o nível médio do mar se eleva, regimes de tempestades e topografia offshore
podem se combinar para alterar os períodos de retorno dos altos níveis das marés.
Abaixo uma síntese dos modelos para cenários climáticos utilizados e disponíveis para a
utilização de pesquisas voltadas a variabilidade climática.

ALGUMAS REFERENCIAS

ASSAD, E. D.; LUCHIARI Jr., A. A future scenario and agricultural strategies against
climatic changes: the case of tropical savannas. In: Mudanças Climáticas e
Estratégias Futuras. USP. Outubro de 1989. São Paulo. SP

COBB, K. M.; CHARLES, C. D.; CHENG, H.; EDWARDS, R. L. Nature. v. 424, p.


271-276, 2003.

GUSEV, A. A.; MARTIN, I. M.; PUGACHEVA, G. I.; SILVA, M. G.; PINTO, H. S.;
ZULLO Jr., J.; BEZERRA, P.C.; KUDELA, K. The study of solar-terrestrial
connections in the Brazilian magnetic anomaly region. Revista Brasileira de
Geofísica. v. 13, n. 2, p. 119-125, 1995.

IPCC. Intergovernmental panel on climate change. Climate Change 2001: Impacts,


Adaptation and Vulnerability.

Working Group II. TAR: Summary for Policymakers.


http://www.meto.gov.uk/sec5/CR_div/ ipcc/wg1/WG1-
SPM.pdf.

160
PARTE 6
METODOS ESTATISTICOS EM METEOROLOGIA

1. INTRODUÇÃO
Os métodos estatísticos que hoje são utilizados para validação e controles
meteorológicos possuem diversas variantes, tanto probabilísticas como estatísticas, por
isso há necessidade de um levantamento mais amplo de suas aplicações e
funcionalidades. Neste tópico, faremos um “apanhado” geral por diversos métodos
estatísticos e probabilísticos.
2. VERIFICAÇÃO PADRÃO
2.1 VISUAL
Essa verificação tem a característica padrão de visualização versus resultados, ou seja,
através da analise visual de um campo ou gráfico, para isso o mínimo de conhecimento
é utilizado.

Figura 1 – Gráfico temporal da previsão e observação (em cima) e espacial,


respectivamente (em baixo) da temperatura média.
Através da figura 1, o meteorologista ou outra pessoa pode tirar conclusões do
comportamento de uma determinada variável prevista em relação à observação. Esse

161
método é bastante utilizado para um diagnostico rápido e simples do comportamento de
uma determinada variável em relação à observação.

2.2 BIAS OU VIÉS


Em estatística o conceito de Bias/viés está muito associado à teoria da estimação.
Para se assegurarem que produzem estimadores de qualidade para um dado parâmetro
(e.g. média populacional, variância, etc.) os estatísticos calculam habitualmente o viés
associado aos estimadores produzidos.
O Bias/viés é calculado como a diferença entre o verdadeiro valor do parâmetro e o
valor produzido pelo estimador em apreço. Ou seja, é a diferença entre o valor esperado
do estimador e o verdadeiro valor do parâmetro a estimar.
O valor esperado é dado pelo ponto central da distribuição amostral do estimador, sendo
esta obtida mediante a repetição infinita do processo amostral de modo a obter todos os
valores que o estimador possa assumir e a respectiva freqüência.
Quando não existe enviesamento, em média, estas duas grandezas coincidem, e o viés é
nulo.
Quando existe enviesamento, o estimador produz estimativas sistematicamente
desviadas do verdadeiro valor do parâmetro, quer por excesso quer por defeito. Neste
caso os estatísticos procuram usar funções matemáticas para corrigir o viés encontrado.
O viés nas pesquisas na área de saúde também é conhecido como erro sistemático. O
viés pode ser entendido como um erro que conduz a uma conclusão inverídica, ou seja,
tendenciosa. Existem basicamente três tipos principais de vieses que são: o viés de
seleção, o viés de aferição e o viés de confusão também conhecido como de
confundimento. Os testes estatísticos captam a ação do acaso na pesquisa, mas não o
erro sistemático.
O Bias/vies está relacionado ao acerto e erro, por isso é bastante utilizado em
meteorologia, principalmente na avaliação de modelos de tempo e clima. Bias/vies
também é utilizado na correção de previsão por categoria ou não.
O Bias/viés é determinado pela formulação:
1 N 
BIAS = ∑ (F i − Oi ) (1)
N  i =1 
Onde, N representa o número da serie da previsão; Fi representa as enésimas previsões;
e Ni corresponde à observação.

162
Tabela 1 Temperatura média, previsão e observação

Dias: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Previsão: 5 10 9 15 22 13 17 17 19 23
Observação: -1 8 12 13 18 10 16 19 23 24
Fi -Oi: 6 2 -3 2 4 3 1 -2 -4 -1

Bias: 0.8
Tabela 1 – Bias de temperatura.

2.3 ERRO MÉDIO - EM


O erro médio permite identificar se as previsões do modelo tendem a superestimar ou
subestimar determinada variável. Erros médios positivos indicam tendência a
superestimativas, enquanto que erros médios negativos indicam tendência a
subestimativas. É definido como:

1
EM =
N
∑ (F − A ) V (2)

onde F são as previsões, Av são as análise verificadas e n é o número de pontos de grade


na área verificada.

2.4 ERRO MÉDIO QUADRÁTICO - EMQ


O erro médio quadrático é uma das medidas padrões da acurácia das previsões, capaz de
indicar a magnitude média do erro. Esse índice é mais influenciado pelos erros de maior
magnitude, mesmo que sejam poucos, do que quando ocorrem muitos erros pequenos,
pois ao elevar o erro ao quadrado, os piores erros são realçados, favorecendo a
identificação de grandes erros nas previsões dos modelos. É dado por:
1/ 2
1 2
EMQ = 
N
∑ (F − AV )  
(3)

2.5 DESVIO PADRÃO - DP


O desvio padrão é uma medida estatística básica do grau de variação dos dados em
torno da média. É calculado para as anomalias das previsões e das análises
separadamente da seguinte forma:
Desvio padrão da anomalia da análise
1/ 2
1 2
DPA =  ∑ ( AV − C ) − ( AV − C )  (4)
n 

163
onde C é a climatologia da reanálise do NCEP interpolada para o dia da previsão. A
barra sobre a variável indica média na área.
Desvio padrão da anomalia da previsão

1/ 2
1 2
DPP =  ∑ (( F − C ) − ( F − C ))  (5)
n 
2.6 COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO
O coeficiente de correlação de anomalias é uma medida que complementa o índice
EMQ e é usado para definir o limite de previsão útil (r ≥ 0,6). É calculado através da
expressão:

r=
∑ (F − C )( A − C )
V
(6)
[(∑ (F − C ) (∑ ( A − C ) ))]
2
V
2

2.7 THREAT SCORE


O índice threat score (TS) mede a habilidade do modelo em prever eventos
classificados em categorias. Este índice foi utilizado para avaliar a previsão de
precipitação do modelo e é definido como:

NC
TS = (7)
NP + NO − NC
onde NP é o número de pontos previstos pelo modelo para receber uma quantidade de
precipitação acima de um limiar especificado, NO é o número de pontos em que foi
observado precipitação acima deste limiar e NC é o número de pontos previstos
corretamente para receber a quantidade de precipitação acima do limiar estabelecido. As
categorias de precipitação são classificadas de acordo com a intensidade da precipitação
como: chuva-não chuva, chuva fraca, moderada e forte. Os limiares de precipitação a
que correspondem estas categorias estão indicados na Tabela 2.

164
Classificação da Intensidade das chuvas Limiares de precipitação (mm)
Chuva-não chuva 0.3
Fraca 2.5 – 6.3
Moderada 12.7 – 19.0
Forte 25.4-50.8
Tabela 2 – Classificação das chuvas e limiares. Fonte: Chou e Silva (draft-1999).
Os critérios utilizados para identificar uma boa previsão, para os campos existentes na
análise, são aqueles descritos por Bitencourt (1996), onde considera-se que a previsão é
adequada quando o valor do desvio padrão da anomalia da análise (DPA) está próximo
do valor do desvio padrão da anomalia da previsão (DPP). Esses dois parâmetros não
são considerados próximos quando o valor do desvio padrão de um campo é o dobro ou
mais do valor do desvio padrão do outro campo. Em seguida, é verificado se o erro
quadrático médio da previsão (EMQ) é menor ou próximo do desvio padrão da
anomalia da previsão (DPP) e, por fim, se o coeficiente de correlação entre as anomalias
dos campos analisados e previstos é igual ou superior a 0,6. Para o threat score, o
critério utilizado é baseado em Anthes (1983), quanto mais próximo o TS estiver de 1,0
melhor terá sido a previsão de precipitação.

2.8 APLICAÇÃO METEOROLÓGICA DA ANÁLISE DE ONDELETAS


Desde a década de 90 que a aplicação da Transformada em Ondeletas (TO) vem sendo
utilizada em diversas áreas da ciência e da técnica, desde as ciências médicas às ciências
exatas, da eletrônica à ótica aplicada. Na meteorologia, houve grande quantidade de
trabalhos aplicando a Análise de Ondeleta (AO) ao sinal turbulento (Farge, 1992). No
que se refere à climatologia e à dinâmica atmosférica, poucos estudos utilizaram até o
momento a AO. A grande maioria dos trabalhos desenvolvidos na dinâmica atmosférica
enfoca as escalas climáticas, desde a sua variabilidade interdecadal a intrasazonal. Em
geral, estes trabalhos buscam uma metodologia eficaz na localização de fenômenos
transientes e que atuem simultaneamente em várias escalas de tempo, proporcionando
novas perspectivas e abordagens de análises, impossíveis de se efetuarem através dos
métodos tradicionais.
Na escala de tempo interanual e intrasazonal, Gambis (1992) aplicou a AO a dados
diários da componente zonal do vento e do Índice de Oscilação Sul (IOS) para o período
de 1962 a 1991. Os resultados obtidos mostram características similares na baixa

165
freqüência entre as duas séries temporais do vento zonal e do IOS, com relação aos anos
de El Niño. Além disso, a AO mostra que o IOS na banda de baixa freqüência parece
disparar sinais de alta freqüência. Na atmosfera, as frentes frias representam zonas de
forte transição entre massas de ar com características físicas diferentes, associadas a
ondas baroclínicas de latitudes médias. Gamage e Blumen (1993) utilizaram a TO para
detectar as características das frentes frias. Meyers et al. (1993) demonstraram as
vantagens da TO estudando a dispersão das ondas Yanai no modelo equatorial de
gravidade reduzida.
Weng e Lau (1994) utilizaram duas séries temporais, uma sintética, derivada de mapa
logístico e outra de radiância do satélite meteorológico japonês para ilha de Java,
durante o período de 1987 a 1988. Foi aplicado o método da TO, com as ondeletas de
Haar e de Morlet, e da Transformada de Fourier (TF) para analisar as séries temporais
em múltiplas escalas de tempo. Eles observaram que na série de dados sintéticos
aparecem múltiplas freqüências em seqüência de períodos duplos. O processo de
períodos duplos gera uma multiplicidade de freqüências intermediárias, as quais são
manifestadas pela não uniformidade no tempo, com respeito à fase de oscilações de
freqüências mais baixas. No caso dos dados de radiância, a TO indica a presença de
múltiplas escalas de tempo com 1, 2-3, 4-6, 10-15, 20-30 e 50—60 dias. No verão
(estação úmida) a variação diurna de convecção é mais intensa sobre a ilha de Java.
Quando esta variação está pronunciada, as variações nas escalas semi-diurna e sinótica
ficam mais ativas. O sinal da oscilação intrasazonal de 50-60 dias é o mais destacado,
acompanhado pelas fracas oscilações de 25 e 14-16 dias. A relação de bloqueio das
oscilações nas diferentes escalas de tempo sugere que ambas as variações intrasazonal e
sinótica possam ser oscilações mistas, devido à interação entre oscilações auto-excitadas
na atmosfera tropical e forçantes externas, tal como as variações da radiação solar anual
e diurna. Vários estudos indicam relação significativa entre o ENOS, a monção de verão
na Índia e a Oscilação Sul (OS). Recentes pesquisas mostram que a técnica de TO
contribuiu com informações adicionais, através da localização de freqüências, para um
melhor entendimento da variabilidade temporal do sistema monção-ENOS-OS. Wang e
Wang (1996) aplicaram a TO de Morlet e a transformada de Gabor para analisar a
estrutura temporal da oscilação sul, a partir de dados de TSM no Pacífico central e leste
equatorial (1950-1992), e da pressão ao nível do mar em Darwin (1872-1995).
Os autores observaram a partir da TO que a energia da oscilação sul nas duas primeiras
décadas (1872-1891) foi caracterizada pelas oscilações de 4 anos. No período de 1891-

166
1910 as oscilações com maior energia ocorreram associadas com o período de 3 anos.
Durante as cinco décadas de 1911-1960 as oscilações predominantes foram de 5-7 anos,
embora a amplitude do período de 1921-1938 tenha sido pequena. As duas últimas
décadas (1972-1992) estiveram relacionadas com oscilações de 4-5 anos. As mudanças
abruptas de oscilações ocorreram na metade de 1960 (6 para 2-3 anos) e em torno de
1910 (3 para 7 anos). O espectro médio da transformada de Gabor mostra oscilações na
banda de 2,5 a 7 anos, no qual resulta das bandas de 2,5-3, 3-4 e 5-6 anos. Eles
concluíram que a interação entre o ciclo anual e o ENOS envolve processos dinâmicos
não-lineares complexos, e que possivelmente apresentam profundos impactos na
aperiodicidade e previsibilidade do ENOS. Gu e Philander (1995) aplicaram a TO de
Morlet com dados da velocidade do vento zonal e meridional, e de TSM sobre os
oceanos Índico, Atlântico, Pacífico Leste e Central para o período de 1870 a 1988. Os
resultados indicaram que a amplitude do ENOS foi relativamente maior no período de
1885-1915, menor entre 1915 a 1950 e aumentou rapidamente após 1960. As escalas de
tempo de 2-5 anos do ENOS foram fortemente influenciadas pelo ciclo anual em certas
regiões do Pacífico tropical leste e central. Os autores interpretaram que o aumento do
ciclo anual durante os episódios ENOS estarem associado com a termoclina rasa,
durante a La Niña. No entanto, durante os episódios de El-Niño o ciclo anual diminui e
a termoclina fica profunda. Isto sugere que a amplitude do ciclo sazonal é afetada pelas
variações interanuais, devido à profundidade da termoclina e a intensidade dos ventos
alísios. Por outro lado, Weng e Lau (1996) investigaram os regimes múlti-escalas de
espaço-tempo, associados à atividade convectiva de baixa freqüência sobre o continente
marítimo e Pacífico oeste tropical. Para isso eles aplicaram a TO de Morlet e a Função
Ortogonal Empírica Complexa (FOEC) aos dados de radiância (satélite meteorológico
geoestacionário) mensal, sobre a região de 5°S-9°S e 80°E-160°W para o período de
1980-1993. Eles aplicaram a TO de Morlet as três primeiras componentes principais da
FOEC. Os resultados mostraram que o ENOS é uma mistura de várias escalas de tempo.
Os eventos de El-Niño e La Niña estão associados com escalas de tempo em torno de
4,8 anos e/ou a Oscilação Quase-Bienal (OQB). Os ciclos anômalos anuais e semi-anual
podem ser importantes para a ocorrência dos eventos, mas, pode ser necessária a
oscilação de alta frequência em fase para que os mesmos persistam. O evento de
1982/83 foi dominado pela escala da OQB em torno de 2,4 anos. O evento de 1986/87
esteve associado à escala de 4,8 anos. Os eventos de 1991 e 1993 não foram dominados
nem pela OQB, nem pela escala de 4,8 anos. Estes eventos sofrem influência da

167
interferência de várias escalas de tempo interanuais em fase, dos ciclos anômalos anual
e semi-anual, e da variabilidade de alta freqüência.
Torrence e Webster (1999) estudaram a mudança interdecadal no sistema monção-
ENOS, aplicando a TO de Morlet e analisando a coerência de ondeleta no que se refere
aos índices da TSM-Niño3, do IOS e da precipitação sobre a Índia, para o período de
1871 a 1998. Os resultados mostram mudanças interdecadais de variância de 2-7 anos
com intervalos de alta (1875-1920 e 1960-1990) e baixa variância (1920-1960). A
variância monção-ENOS também apresenta uma modulação de amplitudes na escala de
tempo de 12-20 anos, entre a monção-ENOS. A coerência entre a TSM Niño3 e a
precipitação na Índia é muito alta na banda de 2-8 anos. Na mesma linha de pesquisa,
Kulkarni (2000) também aplicou a TO com dados de precipitação da Índia e de OS
(1871-1998). Para isso usou a função ondeleta de Haar para o estudo da variabilidade
climática da monção-OS em anos de ENOS. Esse estudo revelou que a contribuição
total dos modos de 2,4 e 8 anos do IOS está relacionado às anomalias de precipitação
em anos de ENOS. A variabilidade temporal dos modos de 2 e 8 anos em precipitação e
IOS mostram modulação através de uma onda de baixa freqüência. Ainda sobre a
aplicação da TO a séries temporais da Índia, Ouergli e Felice (1997) utilizaram dados
diários das componentes zonal e meridional do vento sobre a costa da Somália na África
(51-55E, 10N) para o per íodo de 1954
-1976. Eles analisaram o comportamento
dos modos de 10-20 e 25-50 dias durante a monção de verão da Índia, através da TO de
Morlet. Os resultados mostram que 63% dos casos indicam relação entre a monção de
verão e as bandas de 10-20 e 25-50 dias. Sobre o mar do Japão ocorrem durante o
inverno muitas perturbações atmosféricas que variam desde as escalas de tempo
mesogama à escala sinótica. Takeuchi et al. (1994) aplicaram a TO de Chapéu
Mexicano a dados de pressão atmosférica e velocidade de vento para estudar as
tempestades sobre a costa do mar do Japão. Eles detectaram uma forte correlação entre
os coeficientes de ondeleta da pressão e do vento na escala de segundos.
Torrence e Compo (1998) aplicaram as TO de Morlet e de Chapéu Mexicano com dados
de TSM na região do Niño3 (1871_1996) e do Índice de Oscilação Sul (IOS), obtido da
pressão ao nível do mar (1871-1994) entre o Pacífico leste e oeste. Os resultados
mostraram que a variância do ENOS mais intensa ocorre nas escalas de tempo
interdecadal de 1880-1920 e 1960-1990, com um período de baixa variância entre 1920
a 1960. Estes períodos estiveram relacionados com maior variância nas escalas de
tempo de 2 a 8 anos. Outra aplicação foi realizada por Desrochers e Yee (1999) que

168
aplicaram as ondeletas de Haar e B-spline com dados de radar doppler em Oklahoma,
com o objetivo de extrair das observações de radar os sinais relevantes para
identificação da forma e da localização de mesociclones, e das escalas associadas, que
podem evoluir para a formação de um tornado. A variabilidade climática temporal e
espacial no leste da China foi investigada por Jiang et al. (1997). Eles analisaram seis
regiões no leste da China com 1033 anos de dados de umidade, que foram submetidos à
análise em tempo escala via a TO de Chapéu Mexicano. Os resultados indicaram
variações de diferentes freqüências num tempo particular, anomalias persistentes e
mudanças abruptas entre as anomalias de umidade. Notaram que nas regiões costeiras
ocorreram períodos secos (1120-1220) e úmidos (1280-1390). As variações climáticas
de escalas de tempo de alta freqüência (10 a 20 anos) ocorrem praticamente em todas as
regiões. No entanto, as escalas de tempo de baixa freqüência (80 anos) com flutuações
sincrônicas foram observadas durante poucos anos. Lin et al. (1996) investigaram a
hierarquia do sistema climático a partir da TO Chapéu Mexicano e de dados de
temperatura média global, através da caracterização de períodos úmido-seco. Eles
concluíram que, para diferentes escalas de tempo um sistema climático pode ter vários
períodos de alternância quente-frio e pontos de catástrofes climáticas, que ocorrem em
intervalos de tempo desiguais. Breaker et al. (2001) estudaram as oscilações
intrasazonais de 30-70 dias na costa central da Califórnia. Para isso eles utilizaram
dados diários de TSM, tensão de cisalhamento do vento à superfície e informações do
nível do mar para o período de 1974-1991, submetidos à análise de tempo-escala via a
TO de Morlet. Eles observaram que as oscilações de 30-70 dias estão associadas com
eventos de natureza não-estacionária. Os picos de energia das variáveis utilizadas
caracterizam esses eventos no período de 3 a 4 meses. Para alguns casos o pico de
energia na tensão de cisalhamento coincide com os picos de energia de informações do
nível do mar e/ou de TSM. Além disso, foi aplicada a coerência de ondeleta para indicar
o grau de relação entre as variáveis. Em geral, eles notaram que a correlação entre a
tensão de cisalhamento e a TSM apresenta períodos de alta coerência, mas a fraca
relação entre a tensão de cisalhamento e o nível do mar, pode estar relacionada a uma
contribuição independente do nível do mar, a partir da forçante remota pelo oceano,
originada nos trópicos.
Na América do Sul alguns estudos foram realizados com a TO. Chapa et al. (1998)
aplicaram a TO de Morlet ao índice de nebulosidade convectiva, obtido a partir das
imagens do METEOSAT (Meteorological Satellite), para o período de novembro de

169
1994 a maio de 1995. Dentre as diversas escalas temporais de variabilidade
apresentadas pela convecção na região tropical da América do Sul, foram observados
sinais de oscilações associadas à freqüência mista ou intermediária (4-30 dias) sobre as
áreas tropical e extratropical. Oscilações de 20 dias foram observadas nas áreas tropicais
(4,5°e 22,5°S) no outono e inverno. Na região sul dos extratrópicos foram observados
ocorrência de eventos em torno de 10 a 20 dias, relacionados com as ondas baroclínicas.
Lucero e Rodríquez (1999) analisaram as flutuações interdecadais da precipitação anual
na região central da Argentina, através da TO Morlet, para o período de 1905-1983.
Eles detectaram uma flutuação que se amplifica a partir da metade de 1930. A escala de
tempo inicial associada a esta flutuação é de 10 anos, e aumenta rapidamente para 20
anos. A estrutura da flutuação de precipitação se apresenta como um trem de centros
positivo e negativo, alternando-se no tempo. No Nordeste brasileiro, Datsenko et al.
(1995) aplicaram a TO Chapéu Mexicano a séries de totais anuais de precipitação para a
cidade de Fortaleza-CE, durante o período de 1850 a 1994. Os resultados indicaram
variações irregulares na precipitação, sugerindo uma diminuição da precipitação média
sobre a região à partir da metade dos anos 90. Recentemente, Obregón (2001) aplicou a
TO Morlet com dados de precipitação diária, observada no Brasil durante o período de
1979 a 1993. Ele analisou o espectro de energia de ondeleta para o sul da Amazônia,
sudeste e sul do Brasil. Segundo o autor, a análise de ondeleta apresenta sinal
significativo nas diferentes escalas de tempo (2 a 64 dias), com características de não
estacionaridade e intermitência, determinando com precisão o início e fim de cada um
dos eventos. Mais recentemente, Cassati e Stephenson (2002) aplicaram a AO de
Chapéu Mexicano para avaliar o erro médio quadrático associado às diferentes escalas
espaciais, no modelo numérico de previsão de tempo. Pode ser notado nesta revisão
bibliográfica que a aplicação da TO ao estudo das oscilações intrasazonais sobre a
América do Sul e regiões vizinhas, ainda é uma prática bastante incipiente. Neste
trabalho serão apresentadas as oscilações intrasazonais, obtidas a partir da análise via
TO de várias variáveis meteorológicas em regiões distintas da América do Sul e regiões
adjacentes.

170
Figura 2 – Transformada de onduletas para a TSM na região do Niño3 ao longo de 100
anos.

2.9 TESTE DE HIPÓTES


Trata-se de uma técnica para se fazer a inferência estatística sobre uma população a
partir de uma amostra.
2.9.1 HIPÓTESE ESTATÍSTICA
Trata-se de uma suposição quanto ao valor de um parâmetro populacional, ou quanto à
natureza da distribuição de probabilidade de uma variável populacional.
2.9.2 TESTE DE HIPÓTESE
É uma regra de decisão para aceitar ou rejeitar uma hipótese estatística com base nos
elementos amostrais.
2.9.2.1 TIPOS DE HIPÓTESES
Designa-se por Ho, chamada hipótese nula, a hipótese estatística a ser testada, e por H1,
a hipótese alternativa.
“A HIPÓTESE NULA É UMA ASSERTIVA DE COMO O MUNDO DEVERIA
SER, SE NOSSA SUPOSIÇÃO ESTIVESSE ERRADA”.
A hipótese nula expressa uma igualdade, enquanto a hipótese alternativa é dada por uma
desigualdade.

171
Ex: Ho - µ = 1,65 m
H1 - µ 1,65 m
“EXISTEM DOIS TIPOS DE ERRO DE HIPÓTESE.”, são elas:
 Erro tipo 1 - rejeição de uma hipótese verdadeira;
 Erro tipo 2 – aceitação de uma hipótese falsa.
 As probabilidades desses dois tipos de erros são designadas α e β.
 A probabilidade α do erro tipo I é denominada “nível de significância”
do teste.
2.9.3 LÓGICA DO TESTE DE SIGNIFICÂNCIA
 Atribuem-se baixos valores para α, geralmente 1-10%;
 Formula-se Ho com a pretensão de rejeitá-la, daí o nome de hipótese nula;
 se o teste indicar a rejeição de Ho tem-se um indicador mais seguro da decisão;
 caso o teste indique a aceitação de Ho, diz-se que, com o nível de significância
α, não se pode rejeitar Ho.
2.9.4 OUTROS TESTES
 As técnicas de estatística não paramétrica são particularmente adaptáveis aos
dados das ciências do comportamento.
 A aplicação dessas técnicas não exige suposições quanto à distribuição da
população da qual se tenha retirado amostras para análises.
 Podem ser aplicadas a dados que se disponham simplesmente em ordem, ou
mesmo para estudo de variáveis nominais. Contrariamente à estatística
paramétrica, onde as variáveis são, na maioria das vezes, intervalares.
 Exigem poucos cálculos e são aplicáveis para análise de pequenas amostras.
 Independe dos parâmetros populacionais e amostrais (média, variância, desvio
padrão).
2.9.4.1 TIPOS DE TESTE
 Qui-Quadrado
 Teste dos sinais
 Teste de Wilcoxon
 Teste de Mann-Whitney
 Teste da Mediana
 Teste de Kruskal-Wallis

172
1) QUI-QUADRADO (χ2)
Testes de Adequação de amostras e Associação entre variáveis.
Restrições ao uso:
Se o número de classes é k=2, a freqüência esperada mínima deve ser ≥5;
Se k >2, o teste não deve ser usado se mais de 20% das freqüências esperadas forem
abaixo de 5 ou se qualquer uma delas for inferior a 1.

3. ADEQUAÇÃO DOS DADOS


PROCEDIMENTO
1. Enunciar as hipóteses (Ho e H1);
2. Fixar α; escolher a variável χ2 com ϕ = (k-1). k é o número de eventos;
3. Com auxílio da tabela de χ2, determinar RA (região de aceitação de Ho) e RC
(região de rejeição de Ho)

Figura 3 – Adequação dos dados.

2) TESTE DE WILCOXON
 É uma extensão do teste de sinais. É mais interessante pois leva em consideração
a magnitude da diferença para cada par.
 Exemplo: um processo de emagrecimento em teste. Cada par no caso é o mesmo
indivíduo com peso antes e depois do processo.
3) TESTE MANN-WHITNEY
 É usado para testar se das amostras independentes foram retiradas de populações
com média iguais.
 Trata-se de uma interessante alternativa ao teste paramétrico para igualdade de
médias, pois o teste não exige considerações sobre a distribuição populacional.
Aplicado às variáveis intervalares e ordinais.
 Exemplo: a média de vendas de dois shoppings são diferentes?

173
4) TESTE DA MEDIANA
 Trata-se de uma alternativa ao teste de Mann-Whitney. Testa as hipótese se dois
grupos independentes possuem mesma mediana. Dados ordinais e intervalares.
5) TESTE KRUSKAL-WALLIS
 Trata-se de um teste para decidir se K amostras (K>2) independentes provêm de
populações co médias iguais.
 Exemplo: testar, no nível de 5% de probabilidade, a hipótese de igualdade das
médias para os três grupos de alunos que foram submetidos a esquemas
diferentes de aulas. Notas para uma mesma prova.

ALGUMAS REFERENCIAS

BROWN, M. B.; FORSYTHE, A. B.Robust tests for the equality of variances. J. Amer.
Statistical Assoc., v.69, n.346, p.364-367. 1974.

Vislocky R.L. and Young G.S., 1989: The use of perfect prog forecasts to improve
model output statistics forecasts of precipitation probability. Wea. Forecasting, 4, 202-
209.

Wilks, D. S., 1995: Statistical Methods in the Atmospheric Sciences. Academic Press,
467 pp.

Wilks, D.S, 1997: Resampling hypothesis tests for autocorrelated fields. J.Climate, 10,
66–82.

174
PARTE 7
MODELAGEM CLIMÁTICA

1. MODELAGEM NÚMERICA
1.1 MODELO NUMÉRICO
O Modelo numérico tanto para a previsão do tempo como do clima é um código
computacional complexo (mais de 100 mil linhas de instrução), com representações
numéricas aproximadas das equações matemáticas que representam as Leis da Física, as
quais governam os movimentos na atmosfera e as interações com a superfície.
Atmosfera é dividida em alguns milhões de volumes discretos (~100 km x 100 km x 0,5
km) e, em cada um desses volumes, computa-se a temperatura e umidade do ar, vento e
pressão para instantes de tempo futuros (previsão).
Os modelos climáticos são extensões dos modelos de previsão de tempo.
Estas equações governam:
 Fluxos de ar e água – ventos na atmosfera, correntes nos oceanos.
 Trocas de calor, água e momentum entre a atmosfera e a superfície
terrestre.
 Liberação de calor latente por condensação durante a formação de
 Nuvens e gotas de chuva.
 Absorção da radiação solar e emissão da radiação térmica
 (infravermelha).
Processos que ocorrem na escala sub-grid são modelados por parametrizações.
Sistema de equações em coordenada η

A equação 1 representa a equação Momento.

A equação 2 representa a equação do movimento vertical.

175
Acima a equação hidrostática.

Onde,

- representam a equação termodinâmica.

(1)

(2)

(3)
As equações 1, 2 e 3 representam a equação da continuidade.
Código computacional (centenas de milhares de linhas de código) que representa
aproximações numéricas de equações matemáticas, equações estas representativas das
Leis Físicas que regem os movimentos da atmosfera e as interações com a superfície; o
cálculo é feito para até 15 dias de previsão.

A formulação acima mostra um exemplo simplificado da estrutura em número de


elementos na vertical e na horizontal.

176
Figura 1 – Representa através deste exemplo o domínio espacial utilizado por alguns
modelos.

Figura 2 – Domínio escalar utilizados por alguns modelos atmosféricos.


A figura 2 simplifica o domínio escalar em pontos de coordenadas utilizados por
modelos numéricos de tempo e clima.

177
Condições de parametrizações físicas nos modelos atmosféricos
Processos que não são explicitamente representados pelas variáveis básicas dinâmicas e
termodinâmicas nas equações básicas (dinâmica, continuidade, termodinâmica, equação
do estado) na grade do modelo precisam ser incluídas por parametrizações.
A figura 3, abaixo representa a esquematização dos elementos atmosféricos envolvidos
na modelagem numérica.
Tais como:
 Parametrização de nuvens;
 Transferência de calor entre o solo e a atmosfera;
 Radiação solar incidente e refletida;
 Turbulência difusa; entre outras.

Figura 3 – Elementos naturais simulados pelos modelos numéricos.


Parametrizações físicas em modelos atmosféricos
Existem três tipos de parametrização:

178
Processos que ocorrem em escalas menores do que a escala da grade, os quais por esta
razão não são explicitamente representados:

Convecção, fricção e turbulência na camada limite, arrasto das ondas de


gravidade;

Todos envolvem o transporte vertical de momentum e muitos também envolvem o


transporte de calor, água e traçadores (ex.: químicos, aerossóis);

Processos que contribuem para o aquecimento interno (não-adiabático)

Transferência radiativa e precipitação;

Ambos requerem a previsão da cobertura de nuvens;

Processos que envolvem variáveis adicionais para as variáveis básicas do modelo. e.g.
processos superficiais, ciclo de carbono, química, aerossóis, etc).

Figura 4 – Classificação por condições iniciais.


A figura 4 representa a previsão por condições iniciais, neste caso apenas utilizado uma
condição.
Processos dinâmicos envolvidos na modelagem numérica
Alguns processos dinâmicos entre a vegetação e a atmosfera são verificados, esses
processos representam uma grande importância para a modelagem, pois delineia a
camada mais baixa da troposfera, tais processos podem ser: Drag, fluxo de calor
sensível e latente, fluxo de momentum e o fluxo radioativo (albedo).

179
Figura 5 – Processos dinâmicos entre a interação vegetação-atmosfera.
Outro processo dinâmico da interação superfície-atmosfera é os processos em solo
(superfície baixa). A figura 6 mostra uma representação simplificada deste processo.

Figura 6 – Processos físicos do solo.

180
Nos últimos anos o processo em baixa superfície (solo) está sendo mais utilizado nos
modelos numéricos, principalmente nos modelos regionais e com finalidades de simular
condições entre a superfície e a baixa atmosfera.

Figura 7 – Esquema dos processos radioativos.


Os processos radioativos são os mais complexos em um modelo de previsão numérica,
pois representam uma “cadeia” de maior complexidade para ser simulada.
Outro fato importante é a topografia inserida nos modelos, a necessidade de se ter uma
malha muito completa, traz nos últimos anos uma melhor simulação, para isso a
topografia hoje utilizada são de poucos minutos em uma escala espacial de quilômetros.
A figura 8 mostra duas grades topográficas diferentes utilizadas, uma de 200 km e outra
de 100 km. A grade de 100 km apresenta uma melhor definição da cadeia topográfica, e
por isso requer uma maior quantidade de carga computacional para ser processada.

181
Figura 8 – Escala topográfica em duas resoluções de 200 x 200 km (esquerda) e de 100
x 100 km (a direita).
A resolução espacial do produto final, ou seja, a previsão através das variáveis pode
variar através de diversas escalas, quanto mais fina a escala melhor a representação da
previsão, por isso alguns modelos de resolução global estão adotando uma resolução
espacial alta, ou seja, com escala espacial de apenas dezenas de quilômetros, ao invés de
centenas de quilômetros, mais para isso há a necessidade de utilizar-se uma “carga”
computacional grande.

Figura 9 – Escala espacial de 200 x 200 km e 75 x 75 km, geralmente utilizada em


modelos de escala regional.

182
Figura 10 – Assim como para a figura 9, mais em uma escala mais “grossa”, geralmente
utilizada em modelos de escala regional.

Modelagem climática e sua evolução: 1950-2004


Abaixo alguns exemplos da evolução dos modelos de circulação geral da atmosfera
criados na metade do século XX.
Modelo de Circulação Geral da Atmosfera (1960-1965)

 Smagorinsky, Manabe, Arakawa and Mintz, Leith, …


 Oceanic General Circulation Models (1963-1967)
 Bryan, Sarkisyan, Bryan and Cox, Takano and Mintz, Semtner, …
 Land Surface Processes Models
 Manabe (1965); Dickinson (1984), Sellers et al. (1986), …
 Coupled Climate Models
 Manabe and Bryan (1969); Gates, Hansen, Hasselmann, Meier-Reimer,
Mitchell, Washington, …
A figura 11 mostra a evolução dos modelos e suas características, tais como, só
atmosfera, atmosfera-oceano, etc.

183
Figura 11 – Evolução dos modelos ao longo do século XX.

1.2 MODELOS ACOPLADOS


1.2.1 OCEANO-ATMOSFERA
Faremos uma síntese de alguns modelos, e iniciaremos como o modelo acoplado
OCEANO-ATMOSFERA.
Há uma interação continua entre o oceano e a atmosfera, gerando fluxos de calor e
momentum.

Figura 12 – Interação oceano-atmosfera em baixos níveis.

184
Figura 13 – Absorção da radiação solar de acordo com a profundidade.

185
186
Figura 14 – Esquema da interação do fluxo de carbono entre o oceano e a atmosfera.

Figura 15 – Média anual do fluxo total de calor.

187
Figura 16 – Fluxo meridional de calor anualmente.
O fluxo de calor latente (QL) é taxa de energia necessária para transformar uma parcela
de água líquida em vapor d´água é dado por:
QL = L × E
onde L é o Calor Latente de Vaporização = 2,26 E +06 J/kg e E é a evaporação
(kg/m2s).
Aproximadamente 23% da constante solar é transformada em calor latente no globo.
Então, QL = 23% de 342 W/m2 = 78,7 W/m2
e E = 78,7 / 2,26 E+06E = 3,5 E -05 kg/m2s = 3,0 kg/m2dia
Sabendo que a densidade da água = 1000 kg/m3, E = 3,0 mm/dia
Sabendo que aproximadamente 86% de todo o calor latente (evaporação) provêm dos
oceanos, então, dos 3 mm/dia que a atmosfera recebe, aproximadamente 2,6 mm/dia
provêm dos oceanos.
Os fluxos de calor podem ser estimados através de fórmulas empíricas.

onde ar é a densidade do ar na superfície


 CL é o coeficiente de troca de calor latente;
 L é o calor latente de vaporização;

188
 V10 é a velocidade do vento a 10 m de altura;
 qs é a umidade específica (kg de vapor/kg) do ar à temperatura da superfície
do mar;
 qar é a umidade específica do ar à 10 m.

onde
 CS é o coeficiente de troca de calor sensível;
 Ts é a temperatura da superfície do mar;
 Tar é a temperatura do ar à 10 m.

A figura 17 mostra o campo de previsão da temperatura da superfície do mar (TSM).

189
1.3 CARACTERISTICAS DA MODELAGEM ATMOSFERICA
São necessárias algumas motivações para podermos entender a modelagem e suas
aplicações, tais como:
Calibração:
 Porque é necessário?
 Qual a melhor maneira de se calibrar?
 Como obter estimativas de probabilidade?
 Quem deve fazer?
Combinação:
 Porque é necessário?
 Atribuir pesos ou fazer seleção de previsões?
 Qual a melhor maneira de se combinar?
 Quem deve fazer?
Esquema conceitual para calibração e combinação de previsões

Figura 17 – Esquema conceitual de modelo-espaço e observação.


Assimilação de dados

Assimilação de dados
p( yi | xi ) p ( xi )
p ( xi | yi ) =
p ( yi )

190
“Assimilação de previsões”
p( x f | y f ) p( y f )
p( y f | x f ) =
p( x f )

Figura 18 – Esquema da combinação entre previsão por conjunto e modelagem


atmosférica com uma única condição inicial.

Figura 19 – Como para a figura 18 mais com duas condições iniciais.

191
A esquematização das incertezas e soluções para a modelagem atmosférica é verificada
acima.

192
Em 1818, Laplace propôs a utilização de combinações para associar a estimadores,
através da utilização dos mínimos quadrados e de uma reformulação da equação
proposta por Boscovich, 1757.

Para uma melhor aplicação da previsão através de modelos, é necessária a utilização de


calibração, por isso muitas calibrações são feitas através da combinação de previsões,
para isso é necessário a utilização da média do conjunto, media dos modelos (variável) e
previsão combinada.

O método de calibração e combinação de previsão hoje mais utilizado é o proposto por


Kharin e Zwiers (2002) que utiliza a remoção de viés da média do conjunto dos

193
modelos utilizados e a regressão da média do conjunto também dos modelos utilizados
na previsão.

194
195
O método Bayesiano foi proposto por Thomas Bayer e tem como fundamento a
utilização de combinações probabilísticas entre duas variáveis, ou seja, quando um
conjunto em Y foi atualizado disponibilizando uma nova informação em X.

196
Algumas conclusões:

 Previsões podem ser calibradas e combinadas de várias maneiras;


 Previsões combinadas apresentam melhor desempenho do que previsões
individuais;
 Rall e B apresentaram melhor desempenho para o exemplo do índice Nino-3.4;
 Inclusão de previsões de um modelo com viés alto não prejudicou a previsão
combinada final;

ALGUMAS REFERENCIAS
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