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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

DE CAMPINAS
CENTRO DE LINGUAGEM E
“A internet não significa ameaça, e sim oportunidade”
COMUNICAÇÃO -
excertos Jor
Por Laura Greenhalgh
Greenhalgh, Laura. “A internet não significa ameaça, e sim oportunidade”. O
FACULDADE DE JORNALISMO Estado de S. Paulo, 17/4/2010, p. S4.
Não contem para minha mãe que sou jornalista. Prefiro que ela continue pensando que toco piano
num bordel. Engraçado até que é, mas o ditado popular espanhol tem lá um quê de nostalgia, além de
nos contar sobre o estado de espírito de uma das grandes grifes do jornalismo do século 20. Juan Luis
Cebrián, fundador e primeiro diretor do El País, este que é um dos melhores e mais importantes diários do
mundo, não hesita em apelar para o humor quando se trata de refletir sobre o futuro da imprensa na era
digital. Combina tiradas irônicas com raciocínios minuciosos e previsões realistas, valendo-se da longa
experiência vivida em redações. "Isso aqui? Diga adiós...", brada, esgrimindo no ar um exemplar do jornal
que se transformou no símbolo da transição democrática espanhola e na pá de cal do franquismo.
"Teremos que dizer adiós para este El País."
(...)
Há diferença entre estar mais informado e estar bem informado?
Vejamos, nossos leitores, hoje, são melhores que os do passado. Faço essa observação me guiando
pelo processo histórico da humanidade, que se beneficiou do progresso em diferentes setores. Mas
considere que hoje existem 2 bilhões de internautas no mundo, ou seja, um terço da população planetária
já tem acesso à rede. Há 200 milhões de páginas web à escolha do navegante. Na rede, você diz o que
quer, quando quiser e a quem ouvir, portanto, o acesso à informação aumentou de forma espetacular.
Isso é fato. Só que, paradoxalmente, vamos de encontro a um modelo de concentração: 90% das buscas
estão no Google, 80% dos navegadores de internet são propriedade da Microsoft e 90% dos vídeos
postados moram no YouTube.
Estudiosos se perguntam se o jornalismo online vai preservar os valores do jornalismo
da era moderna, num tempo em que reputações estão sujeitas a virar pó instantaneamente,
num blog qualquer.
Posso lhe dizer que sou uma vítima da difamação online. Na Espanha, a rede está ocupada pela
extrema direita, que é sempre muito cáustica. Os chamados confidenciales, pretensamente noticiosos, são
blogs que mentem, caluniam, sabotam, sem qualquer apuração. Esse fenômeno é típico de um mundo
sem hierarquias, como o da internet. E nós, acostumados ao mundo piramidal, com instituições fortes, o
Estado, a Igreja, os partidos, enfim, com ordem estabelecida, agora temos que nos achar nessa imensa
rede onde todos mandam e ninguém obedece. A sociedade democrática se move pela norma, que nos
conduz à lei. No mundo virtual, a norma não conduz à lei, mas ao software. Ou seja, quem tem software
controla a norma. Isso já se nota no "governo do Google", que não respeita praticamente nenhuma das
legislações internacionais sobre propriedade intelectual, direitos de privacidade, nada disso o afeta.
Esta pergunta já virou um mantra, mas é preciso fazê-la: qual será o futuro dos jornais
impressos, na sua opinião?
Os jornais, tal como os conhecemos, se acabaram. Adiós... (diz em tom teatral, balançando no ar
um exemplar do ‘El País’). Não significa dizer que deixarão de existir. Esse adiós resulta tão somente da
constatação de que os impressos pertencem à sociedade industrial, e não estamos mais nela. Entramos na
sociedade digital. No ano passado, cerca de 600 jornais fecharam as portas nos EUA, alguns deles com
muita tradição. Há cidades americanas que simplesmente ficaram sem o seu jornal local, o que chega a
ser traumático. Em geral, jornais nascem defendendo bandeiras políticas e, ao se manterem à custa das
receitas publicitárias, preservam sua independência. Como esse modelo ficará? Embora a edição digital do
El País venha crescendo bastante, eu não posso lhe dizer que se trata só de uma bem-sucedida
transposição do impresso para o online, porque não é verdade. São veículos diferentes. Gastamos horas e
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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horas de discussão para saber se devemos ou não cobrar por nossos conteúdos na internet ou oferecê-los
de graça. A esta altura do jogo, me parece uma pergunta sem sentido. O que nos cabe perguntar é que
tipo de jornalismo queremos ter na rede. Não está claro.
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Seria possível uma investigação jornalística na internet como a de Watergate? Jor
Por que não? O caso de Monica Lewinsky apareceu na internet e quase derrubou um presidente. Há
investigações importantes em curso na web. Como há novas maneiras de informar. Hoje, as melhores
imagens que tenho visto, do ponto de vista jornalístico, estão saindo dos celulares de amadores, e não
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das máquinas dos fotógrafos profissionais. Há um terremoto no Chile e as primeiras imagens que
recebemos vêm de cidadãos anônimos. E o que dizer de reportagens feitas por leitores? Extrapolando esse
raciocínio, um jornal de 300 mil leitores tem potencialmente 300 mil redatores. Quem sabe, se soubermos
lidar bem com esta situação, poderemos garantir a sobrevivência dos nossos diários...
Se a informação pode ser captada e distribuída por qualquer pessoa, o jornalista torna-se
um tipo descartável. É isso?
Ao contrário, teremos de investir em capital humano na rede se quisermos fazer diferença: ter
bons jornalistas, gente com preparo para enfrentar operações globais. Mas é preciso mudar nossa forma
de pensar. Nós continuamos a fazer jornais como se fôssemos o centro do mundo. Obama ganhou as
eleições porque teve dois ou três editoriais favoráveis no New York Times ou porque contou com uma
avassaladora campanha na internet? Creio que já me livrei da dúvida de se a internet é uma ameaça ou
uma oportunidade. Estou convicto de que é uma oportunidade. Mas tenho uma visão europeia, de quem
vem enfrentando muitos problemas e precisa reagir. Os jornais brasileiros vão indo bem. Também há
dados apontando que na Índia e no Japão os jornais estão crescendo, ou seja, ainda não chegamos ao fim
do mundo (ri). Enquanto isso, vamos nos acostumando à ideia de que os impressos são vistos como
produtos que podem levar a danos ecológicos. Se todos os indivíduos no mundo tiverem acesso a jornais
e livros nos patamares dos países desenvolvidos, as florestas da Amazônia somem em dez anos. Eis aí um
aspecto positivo da sociedade digital.
Em seu livro, você ressalta que jornais tradicionais foram marcas que resistiram ao
passar do tempo, preservando anseios e valores até civilizatórios.
São marcas fortes, que resistiram a muita coisa. Mas, do que se fala hoje? De Google, Microsoft,
Yahoo, Facebook, Twitter, marcas que nunca existiram no campo analógico. Elas nem precisaram de
campanha publicitária de lançamento, ou seja, nunca vi um cartaz dizendo "compre Google". Entramos
nele porque as portas estavam abertas. E há um aspecto desconcertante a considerar: nenhuma dessas
marcas nasce de um processo convencional, tendo uma estrutura por trás. Todas foram boladas por
estudantes em quartos, sótãos e garagens das casas paternas, ou em dormitórios de universidades.
Todas. Isso já reflete uma mudança cultural impressionante.
Idiomas socializam, portam legados históricos, firmam identidades culturais. Como eles
sobreviverão no mundo online, onde já reina uma língua web, esquisita, mas compreensível em
escala global?
Se pensarmos em termos de culturas dominantes e dominadas, vamos ter de admitir que a da web
não foi imposta pelo poder das armas, mas pela tecnologia. E está afetando o uso do idioma. Por outro
lado, adotar todos esses neologismos, clic, blog, chat, post, bit, web, internauta e por aí vai, dá a
sensação de pertencer ao ciberespaço. Também é importante. Ainda assim, creio que os espaços
linguísticos, tal como os entendemos, podem ganhar relevância. Fez muito bem o Brasil em estabelecer
um acordo ortográfico que unifica a língua, pois se há 190 milhões de brasileiros, há outros tantos milhões
de falantes do português em lugares como Angola, Moçambique, Macau ou Portugal mesmo, totalizando
um mercado linguístico imenso. Vejo como uma boa oportunidade o Brasil globalizar suas publicações não
só para o mundo que fala português, mas estendendo também ao mundo que fala espanhol. Se temos
alguma dificuldade para entender o que vocês falam, não temos para ler o que vocês escrevem. E há uma
cultura em comum. Sempre digo que Portugal não se separou da Espanha, somente da Galícia. E fez bem
(ri).
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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