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Miguel Torga

O Homem, o Escritor, o Tempo,


a Terra e a Democracia
Diaporama de Luís Aguilar e Vitália Rodrigues
Concebido a partir do livro Fotobiografias de Clara Rocha.

Consulado-Geral de Portugal

em Montreal 2
Miguel Torga
O Homem

3
Ter um destino
é não caber no berço
onde o corpo nasceu,
é transpor as fronteiras
uma a uma
e morrer sem nenhuma.

Miguel Torga
In Fernão de Magalhães,
Antologia Poética. Lisboa: Dom Quixote, 1999.

4
Miguel Torga
(pseudónimo de Adolfo Correia Rocha)
nasceu em S. Martinho de Anta há cem anos,
a 12.08.1907 e morreu em Coimbra a 17.01.1995.

Nasci como um cabrito ou como um pé de milho


5
6
O destino plantou-me aqui
e arrancou-me daqui.
E nunca mais as raízes
me seguraram bem em nenhuma terra.

7
Os pais, Francisco Correia Rocha e Maria da
Conceição Barros, e a irmã Maria 8
Em 1917, aos dez anos, vai para uma casa
apalaçada do Porto, habitada por parentes da
família.

O pequeno criado ganhava quinze tostões por mês


e dormia num cubículo de campainha à cabeceira.

Fardado de branco servia de porteiro, “moço de


recados”, regava o jardim, “limpava o pó e polia
os metais da escadaria nobre”, “atendia
campainhas”.
Foi despedido um ano depois, devido à constante
insubmissão.
9
Em 1918 vai para o Seminário de
Lamego, onde viveu “um dos anos
cruciais”da sua vida, tendo melhorado
os conhecimentos de português, da
geografia, da história, aprendido o
latim e ganhado familiaridade com os
textos sagrados .
No fim das férias comunicou ao pai
que não seria padre.

10
A grande aventura juvenil
1919

Foi então enviado, aos doze


anos, para o Brasil (Minas
Gerais), a fim de trabalhar
numa fazenda que pertencia
a um tio.

11
Fazenda de Santa Cruz (Minas Gerais)
12
Simples máquina de trabalho era o último a deitar-
-me e o primeiro a erguer-me, sem domingos nem
dias santos para que a engrenagem funcionasse com
perfeição.   

Carregar o moinho, mungir as vacas, tratar dos porcos, ir


buscar os cavalos da cocheira ao pasto, limpá-los e arreá-
los, rachar lenha, varrer o pátio e atender a freguesia que
vinha comprar fumo, cachaça, carne seca, feijão, ou trocar
grão por fubá; ir buscar o correio à povoação; fazer a
escrita da fazenda, verificar à noite se as portas e as janelas
estavam bem fechadas.

13
Quatro anos decorridos o tio matriculou-o
no Ginásio de Leopoldina.

14
Em 1925, na convicção de que ele havia de
vir a ser “doutor em Coimbra”, o tio
propôs-se pagar-lhe os estudos como
recompensa dos cinco anos de serviço.

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Crescera por fora e por dentro. Aprendera a
objectivar a vida, embora sempre tivesse
sentido aquele chão como fabuloso e mágico
e aonde pudera ser selvagem e natural.

16
Um dos seus títulos de glória é ter passado a
adolescência no Brasil” ,
…o Brasil amei-o eu sempre, foi o
meu segundo berço, sinto-o na
memória, trago-o no pensamento.

17
De regresso a Portugal, fez em dois anos, os
cinco do primeiro e segundo ciclo do curso
liceal de sete.

No Liceu José Falcão completou o terceiro


ciclo num só ano, ficando apto a cursar uma
Universidade.

18
1928 - Adolfo Rocha estudante
universitário da Faculdade de
. Medicina da Universidade de
Coimbra

A caneta que escreve e a que prescreve


revezam-se harmoniosamente na mesma mão.
19
Uma pobre colectânea de
sonetos e canções que
mereceu apenas críticas
reprovativas e Torga nunca
reimprimiu.

20
.

Grupo da República Estrela do Norte


21
Foi com
Balada da Morgue
que, verdadeiramente
assinei pacto com
Orfeu .

22
Presença, 24, Janeiro 1930
Em 1929, com 22 anos, deu
início à colaboração na revista
Presença, folha de arte e
crítica, com o poema
“Altitudes…”.

A revista, fundada em 1927


pelo “grupo literário avançado”
de José Régio, Gaspar Simões
e Branquinho da Fonseca, era
bandeira “literária do grupo
modernista” e era também,
“bandeira libertária”da
Revolução Modernista.
23
Golpe Militar de 1926

A intervenção literária, já então a


entendia Adolfo Rocha, como o
único modo de combate
numa pátria que é o cemitério da
própria língua.

24
Em 1930 rompe definitivamente com a revista
Presença, por razões de discordância estética e
razões de liberdade humana.

25
Adolfo Rocha e
Branquinho da Fonseca
fundam a revista Sinal,
que saiu em Julho de
1930.

26
Publica o seu segundo livro em Junho de 1930.

27
Em 1931, contista em Pão Ázimo e poeta em
Tributo, Adolfo Rocha já aparecia a público em
edição de autor, como aconteceu com Abismo,
no ano seguinte, e como aconteceria pela vida fora.

28
Conclui o curso universitário de medicina em 1933.

Na hora em que esperava merecer da vida a alegria


íntima do triunfo, sinto o medo do avesso quiçá o
terror fundo que não diz donde vem nem para onde
vai, anotou no dia da formatura. .

29
Regressa a S. Martinho de Anta com fama de
revolucionário.

Perdera definitivamente o lugar


privilegiado no seio da tribo.
Estava sem estar.

Mudou-se, para Vila Nova, a meio do ano de 1934,


concelho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra.

30
Miguel Torga
A Vida Familiar

31
Miguel Torga com a mãe
que falece em 1948.

32
A vida afectiva. A única que vale a pena.
Casa com Andrée Crabbé em 1940, estudante de
nacionalidade belga - aluna de Estudos Portugueses,
ministrados por Vitorino Nemésio em Bruxelas - que viera a
Portugal para frequentar um curso de férias na Universidade
de Coimbra.
33
Vou tentar ser bom marido,
cumpridor. Mas quero que
saibas, enquanto é tempo, que
em todas as circunstâncias te
troco por um verso.
(A Criação do Mundo, V)

34
Miguel Torga e a filha Clara Rocha,
nascida em 3 de Outubro de 1955.

35
36
Diário VII
Apresentação da neta ao avô,
que falece algumas semanas depois em 1955.
37
Em 27 de Julho de 1990 celebra os
cinquenta anos de casado. Os sins de que
eu fui capaz contra os nãos da vida.
38
Miguel Torga
A Obra

39
Adolfo Correia Rocha
aos 27 anos em 1934,
auto-define-se pelo pseudónimo que criou

Miguel e Torga

40
Miguel
Homenagem a dois
grandes vultos da
cultura ibérica:
Miguel de Cervantes
e Miguel de Unamuno

41
João Abel Manta
Torga (Erica lusitanica)

Designação nortenha da urze,


planta brava da montanha,
que deita raízes fortes sob a
aridez da rocha, de flor branca,
arroxeada ou cor de vinho.

42
A Terceira Voz, em 1934 é
publicado por Miguel Torga,
com prefácio de Adolfo
Rocha:
Somos irmãos e temos a
mesma riqueza: despeço-me
de cena e dou a minha
palavra de honra que não
reapareço; …a minha voz
mudou – porque o horizonte é
maior…

43
Em Janeiro de 1936 funda,
com Albano Nogueira,
Manifesto, Revista de Arte e
Crítica:
Procurávamos um caminho
de liberdade assumida onde
nem o homem fosse traído,
nem o artista negado, uma
arte rebelde enraizada no
circunstancial.
44
Afonso Duarte, Alvaro Salema, Bento de
Jesus Caraça, Branquinho da Fonseca,
Joaquim Namorado, Lopes Graça, Paulo
Quintela, Vitorino Nemésio acompanha-
vam-no nessa intervenção contrária ao
individualismo presencista, alienado do real
(que Eduardo Lourenço identificou, em
1957, no Comércio do Porto, com o artigo
Presença, ou a Contra-Revolução do
Modernismo Português ).
Fernando Pessoa tinha lugar, naquele
primeiro número, com o poema Nevoeiro.
45
Pode considerar-se Miguel Torga
pioneiro e representante por
antonomásia da escrita diarística
portuguesa, por ser, juntamente com
Virgílio Ferreira, com Conta Corrente,
dos que lhe conferiram maior
significância. O Diário torguiano, que o
autor publicou ininterruptamente entre
1941 e 1993, retrata o pulsar do autor
sobre o homem, o mundo e a vida, entre
3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro
de 1993.
46
Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de
ler a notícia no jornal, fechei a porta do
consultório e meti-me pelos montes a cabo.
Fui chorar com os pinheiros e com as
fragas a morte do nosso maior poeta de
hoje, que Portugal viu passar num caixão
para a eternidade, sem ao menos perguntar
quem era.
In Diário I (3 de Dezembro de 1935)

47
No Dia de Camões de 1948, a propósito do artifício da
figura de “escritor oficial” alheio à alma colectiva, havia de
sugerir que Pessoa substituísse Camões, vastíssimo poeta,
mas “cristalizado numa época”:

48
Fernando Pessoa, culturalmente
considerado, não será muito mais poeta
nacional deste século do que Camões?

Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido


emblematicamente a glória do poeta. Glória pura
que, como poucas, merecia a graça desse póstumo
calor materno. Ninguém antes tinha realizado o
milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.

49
Camões fez versos a martelo.

50
Em 1937 começou a imprimir
A Criação do Mundo, génese
progressiva, numa
consciência, da imagem da
realidade circunstancial, visão
de um mundo criado à nossa
medida, original e único,
povoado de seres reais que o
tempo foi transformando em
fantasmas.

51
Em 1937, colabora na Revista
de Portugal , de Vitorino
Nemésio

52
Bichos surge em 1940, reeditado pouco
depois, traduções sucessivas para
variadíssimas línguas. Animais com sentir
humano ou seres humanos vestidos de
animais. Ou uma irmandade de animais e
homens. Tudo numa argamassa de vida. O
cão Nero, o galo Tenório, o jerico Morgado,
o Ladino, o Ramiro. E a Madalena,
caminhando na contra mão da contradição
entre cultura e vida.

53
Ficção
1931 - Pão Ázimo.
1931 - Criação do Mundo.
1934 - A Terceira Voz.
1937 - Os Dois Primeiros Dias.
1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo.
1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo.
1940 - Bichos.
1941 - Contos da Montanha.
1942 - Rua.
1943 - O Senhor Ventura.
1944 - Novos Contos da Montanha.
1945 - Vindima.
1951 - Pedras Lavradas
1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo.
1976 - Fogo Preso.
1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo.
1982 - Fábula de Fábulas.
54
Poesia

1928 - Ansiedade.
1930 - Rampa.
1931 - Tributo.
1932 - Abismo.
1936 - O Outro Livro de Job.
1943 - Lamentação.
1944 - Libertação.
1946 - Odes.
1948 - Nihil Sibi.
1950 - Cântico do Homem.
1952 - Alguns Poemas Ibéricos.
1954 - Penas do Purgatório.
1958 - Orfeu Rebelde.
1962 - Câmara Ardente.
1965 - Poemas Ibéricos.
55
Peças de Teatro

1941 - "Terra Firme" e "Mar".


1947 - Sinfonia.
1949 - O Paraíso.
1950 - Portugal.
1955 - Traço de União.

56
Traduções

Livros seus estão traduzidos para diversas línguas,


algumas vezes publicados com um prefácio seu:
espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês,
croata, romeno, norueguês, sueco, holandês,
búlgaro.

57
Prémios
1969 - Prémio do Diário de Notícias.
1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist.
1980 - Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos
Drummond de Andrade.
1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S.

1989 - É-lhe imposta a condecoração de Oficial na Ordem


das Artes e Letras da República Francesa.

1989 - Prémio Camões.


Os meus l ei tores mer eciam -no . (Miguel Torga)

1991 - Prémio Personalidade do Ano.


1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de
Escritores.
1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.
58
Prémio Vida Literária da Associação Portugesa de Escritores
1992

59
Se existe alguém que escreve em português e
merece o Nobel é Miguel Torga, não eu.
Jorge Amado

Foi proposto para o Prémio Nobel em 1960.


Sem êxito, possivelmente por interferências do Poder
de então.
Voltará a ser considerado uns anos mais tarde, não lhe
tendo sido atribuído.

60
1º Congresso Internacional de Miguel Torga

É organizado pela Universidade Fernando Pessoa


em 1994

61
Uma literatura que produz, no mesmo século,
dois vultos do calibre de Pessoa e Torga,
pode considerar-se
uma literatura de excelente saúde.
Torrente Ballester
In Entrevista a Miguel Viqueira em 1986

62
Hoje
sei apenas gostar
duma nesga de terra
debruada de mar.

63
Miguel Torga
O Político

64
A política é para eles (os políticos)
uma promoção e,
para mim,
uma aflição.

65
Foi preso várias vezes devido aos seus escritos,
sendo a primeira em 1939, em Aljube.

A PIDE negar-lhe-ia , várias vezes o pedido de visto


para sair do país.

Andrée Rocha é suspensa do seu lugar académico,


passou a fazer traduções e a ajudar o marido na sua
actividade profissional.

66
Na Candidatura do General Humberto Delgado
1958 67
Em 1967, assina um manifesto no qual é pedida a aprovação
de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a
interposição de recurso no caso de apreensão de livros.
68
Revolução de 25 de Abril

Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares.

69
Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem
sempre ardentemente a desejou.

Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da


História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá
decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma
probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa
roleta de loucos, que tanto anda como desanda.
O espectáculo que damos neste momento é o de um
manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e
atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um
electrochoque aberrante e desumano.
20 de Junho de 1975
70
Sobre a descolonização escreveria:

Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos


dele em traineiras.
Afanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a
irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim
sem a grandeza de uma grande aventura.
Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.

71
Primeiras eleições livres em democracia
72
Ramalho Eanes torna-se seu amigo
e Torga dá-lhe um conselho.

Seja sério, mas não se leve a sério.

73
Conheceram-se depois do 25 de Abril,
quando Torga se afirmou como um dos
sustentáculos do Partido Socialista na
zona de Coimbra.

74
Nunca se filiou em partido algum:

É ESCUSADO.
NÃO POSSO TER OUTRO PARTIDO
SENÃO O DA LIBERDADE.

O meu partido é o mapa de Portugal

75
Em Outubro de 1983, Samora Machel,
Presidente de Moçambique, visita
oficialmente Portugal.
Apresentados em Coimbra, Miguel
Torga fez questão de mostrar-lhe a
região duriense percorrida de
helicóptero na companhia do Presidente
português, em conversa fraterna acerca
das duas pátrias e da indissolubilidade
dos seus destinos.
No diário de 20 de Outubro de 1986
lamentaria o fim trágico e prematuro
daquela vida agitada e carismática.
76
Entrada de Portugal em 12 de Junho de 1985
no Mercado Comum

Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia.


Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria.
Insurge-se contra a ideia da subserviência às ordens de uma
Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela
sempre os teve... É o repúdio de um poeta português pela
irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe
alienaram a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa
indelével na memória da Europa.
77
É também contra a regionalização:

O mundo a braços com o drama das diversidades


e nós, que há oitocentos anos temos a unidade
nacional no território, na língua, nos costumes e
na religião, vamos desmioladamente destruí-la?

78
Miguel Torga
As Viagens

79
Viajar, num sentido profundo, é morrer.

Em 1937, Dezembro pardo viaja por


Espanha, França e Itália.

O fascismo em Espanha
completava o cerco à liberdade

80
Em Istambul em 1953
81
Em 1954, No Centro Transmontano de S. Paulo (Brasil)
82
Em 1973, no intuito de sentir pulsar o coração austral, de
contemplar os cenários das nossas grandezas passadas e das nossas
misérias presentes, empreende uma extensa viagem pela África
lusófona no pressentimento de que chegara o fim da epopeia” lusa..

83
Lá, como cá, um quadro não muda um homem. Mas um verso sim.

No México em 1983.

84
Em Abril de 1987, no processo de
“assinatura da transmissão a curto
prazo da soberania de Macau”,
Miguel Torga aceita falar na
celebração do
Dia de Camões naquele
recanto da pátria, últimos confins de
Portugal.
Macau, Gruta de Camões

85
Em Hong-Kong
86
Em busca da presença portuguesa da qual só restam
igrejas e baluartes

Em Goa
87
Em 19 de Novembro de 1986, declama oitenta poemas para
o disco comemorativo dos seus oitenta anos de vida que
saíu a público em 30 de Junho do ano seguinte.
88
Miguel Torga
Para os Outros

89
Miguel Torga
é um poeta em que um país se diz.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Torga podia escrever e publicar sem parar,


mas ia construindo, ao mesmo tempo,
um dos monólogos mais radicais
de toda a poesia portuguesa
Eduardo Lourenço

Reencarnação de um poeta mítico por excelência


- daqueles que vive na intimidade das forças elementares
(a terra, o sol, o vento, a água)
para celebrá-las com o seu canto.
David Mourão Ferreira

90
Foi sempre um homem, socialmente difícil. Pouco
comunicativo, falando com mais convicção do que
razão.
Uma das facetas menos atraentes do carácter de M.T. é
a sua forretice. Chega a comprar livros com
exemplares dos seus. De Leiria a Coimbra viajava
sempre em 3ª classe. Foi ao estrangeiro, por diversas
vezes, percorrendo boa parte da Europa, aproveitando
sempre boleia de dois amigos. Quase não oferece livros
a ninguém, recusa dedicatórias e autógrafos, nunca
confiou o seus livros a nenhuma editora, preferindo
sempre "edições do autor", com pequena tiragem e no
papel mais barato possível.
Antônio Freire, in Lendo M.T..
91
Nem sempre escrevi que sou
intransigente, duro, capaz de uma
lógica que toca a desumanidade.
[...] Nem sempre admiti que estava
irritado com este camarada e
aquele amigo. [...] A desgraça é que
não me deixam estar só, pensar só,
sentir só.

92
O HOMEM é,
por desgraça, uma solidão:
Nascemos sós, vivemos sós e
morremos sós.

93
REQUIEM POR MIM

Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido de corpo
E tolhido da alma…

In Diário XVI, Coimbra, 10 de Dezembro de 1993

94
A Morte

E o Poeta morreu.
A sombra do cipreste pôde enfim
Abraçar o cipreste.
O torrão
Caiu desfeito ao chão
Da aventura celeste.
Nenhum tormento mais, nenhuma imagem
(No caixão, ninguém pode
Fantasiar).
Em 17 de Janeiro de 1995 Pronto para a viagem
morrem o médico Adolfo Rocha De acabar.
e o poeta Miguel Torga. Ambos Só no ouvido dos versos,
repousam, sob uma única lage, Onde a seiva não corre,
em campa rasa no cemitério de Uma rima perdura
S. Martinho de Anta. A dizer com brandura
Que um Poeta não morre.

95
96
Grande parte deste diaporama foi construído a partir do livro Fotobiografias
publicado pela sua filha, Clara Rocha.

97
http://purl.pt/13860/1/

© 2007 Biblioteca Nacional de Portugal , todos os direitos reservados

98
Alguns Sítios na Rede sobre Miguel Torga

Casa-Museu
Miguel
Torga

Vidas Lusófonas
99
Diaporama
Concepção e pesquisa

de

Vitália Rodrigues
e Luís Aguilar

Dezembro de 2007

100

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