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UM HOMEM E TRÊS CORES

Por Alexandre Alves de Oliveira, torcedor

Uma história só se torna História depois de toda escrita, do começo ao fim... e às vezes, como
que demonstrando a grande e inescrutável Sabedoria que envolve os homens e conduz suas ações, o
epílogo de uma história reconstrói a sua evolução, para, como numa impressionante metamorfose, a
inserir, indelével, na grande História, para que todos possam admirá-la e de onde jamais poderá ser
levada; eterna, por quanto tempo durar a eternidade...

A Copa de 82 é um marco em minha vida. Tinha quase 8 anos, morava em Minas Gerais, e me
lembro de estar sentado diante da TV, a camisa amarela molhada pelas lágrimas , num sofrimento
solitário e sem fim de quem vê um sonho, talvez o mais desejado por um menino naquele momento,
desmoronando de uma vez... Valdir Peres, Oscar, Serginho: meus heróis, enfim, não eram invencíveis.
A TV e os jornais crucificaram o treinador, culpando-o exatamente por praticar algo que, depois eu
compreendi, era uma corajosa tentativa de provar que a beleza e a técnica valiam mais que a força e o
vigor. Na minha cabeça, uma única pergunta, sem resposta: “... por quê...?!”. A partir daquela distante
tarde nublada de junho, nunca mais vi o futebol da mesma maneira.

... O tempo passou, minha família voltou para São Paulo, para o Interior, e eu comecei a
acompanhar o jogo não mais com os olhos da infância, mas com o detalhamento que a "maturidade"
permite (se não impõe). Passei a acompanhar o São Paulo FC mais de perto, com um amor nutrido
desde a infância pelo fervor paterno, apesar da distância que nos separava do Tricolor Paulista. Vieram
algumas tristezas (como em minha “estréia” no Morumbi, numa fria tarde de Choque-Rei em 1984,
estréia de Casagrande, em que fui do céu ao inferno com uma dolorosa virada de 1x2). Mas também
vieram muitas alegrias, num tempo em que ser campeão estadual era o que mais se almejava (com o
valor que realmente merecia ter), e o título nacional era a glória máxima, longínqua, mas não
inalcançável. Pudemos experimentar essa alegria na final do Brasileiro de 1986, jogado em uma noite
de janeiro de 1987, olhos e corações grudados à TV: uma sofrida vitória ante o Bugre em Campinas,
em dias de Careca, Pita, Müller e Silas, que nos davam o bi campeonato brasileiro.

E os anos foram passando. Certo dia, aquele treinador, que havia sido culpado por me fazer
chorar, a mim e a todo um país, entrou novamente em minha vida. Lembro-me de, em casa, junto a
meu pai e meus irmãos, pular incansavelmente ao apito final de um Bragantino x São Paulo em 1991,
que não teve gols, mas valeu muito pelo título – era o tri brasileiro – e por todas as dificuldades para
chegar àquele momento, o ápice de uma festa que fora amargamente adiada nos dois anos anteriores.
Acima de tudo isso, como foi bom ter compartilhado com os meus um momento tão sublime! Era a
forja dessa “racional irracionalidade” que é a identidade futebolística de cada um. E, no caso do São
Paulo, começava uma era de sucessos que não encontraria limites. Aquele treinador achou por bem
ficar mais um pouco...

Não poderíamos imaginar o que estava a caminho. Ainda em 1991, no final do ano, um
Majestoso decidia o título paulista. Muito calor, depois muita chuva... os gols, uma vez mais, não
vieram, mas a alegria, sim: gritar “é campeão!” no Morumbi lotado, com toda a família presente – a
minha família e a grande família são-paulina -, foi realmente algo inesquecível... Éramos campeões e
estávamos presentes à consagração de um herói que se firmava como divisor de águas no Morumbi:
Raí, que havia aniquilado o adversário no primeiro jogo das finais. E o já vitorioso treinador resolveu
permanecer por mais um tempo...
E aquilo era apenas uma amostra do que essa grande nação tricolor vivenciaria. O resto é
História: 1992, 1993, 1994... 2 Libertadores, 2 Mundiais, os diversos torneios que vencemos aqui e no
exterior. E eu pude viver, junto a meu pai, junto a meus irmãos, e a meus amigos, e a tantos e tantos
conhecidos ou anônimos que formam a massa são-paulina, o grande esplendor tricolor, glória máxima,
digna de contemplação; História maiúscula, sólida, quase palpável, como uma maravilhosa catedral
construída coluna a coluna, vitral a vitral, tijolo a tijolo... anos dourados, indeléveis de tantos corações
e almas que puderam viver para contar. Suplantando a já grandiosa Tradição são-paulina, essas são
glórias que não foram simplesmente recebidas por herança, contadas pelos mais velhos (o que por si só
já seria bom), mas feitos cuja magnitude eu pude presenciar e testemunhar: o som distante do locutor
de TV, lá do outro lado do planeta... a ansiedade, o grito de gol, o temor do contra-ataque adversário...
a reação após o apito final, a festa, o Mundo dando honras ao seu grande Campeão...! Histórias que
poderão ser contadas às futuras gerações, permeadas pelas memórias, pelos sentimentos envolvidos,
como epopéias de heróis mitológicos que, de alguma forma, nos ensinam lições de vida.

Aqueles heróis já se foram (alguns para depois retornar), dando lugar a outros e outros heróis,
talvez menores em dimensão, mas também importantes – há ainda hoje defendendo essas cores um
daqueles antigos titãs, soberano no uso das mãos e dos pés, que assombra o mundo com seus
grandiosos feitos, como que remetendo todos nós àqueles áureos tempos... Nenhum daqueles heróis
jamais será esquecido, apesar de alguns terem se instalado com especial brilho no Panteão são-paulino,
outros com menor fulgor. Mas um deles está no ponto mais alto: aquele que decidiu permanecer mais,
e mais, e mais... e permaneceu para sempre.

É a história de um clube, história que segue cravejada de glórias – 2005, mais uma
Libertadores, e mais um Mundial, o mais difícil de todos... É essa a história do São Paulo Futebol
Clube, incontestavelmente o maior do Brasil, unida para sempre à história de um homem que, de
estigmatizado por uma derrota - aquela terrível derrota de 1982 -, experimentou a redenção, libertou-
se, transformou-se num grande vencedor, um comandante de vitórias e vitórias em tantas batalhas. De
pária, se tornou mestre, “O” Mestre: enfim, sua teoria foi atestada e aclamada e coberta com os louros
e coroas dos vencedores – a beleza e a técnica SÃO, de fato, maiores que a força e o vigor. E esse
homem se tornava, assim, um ícone, amado e às vezes venerado, com um valor quase sacramental; um
homem cuja presença é evocada a cada novo êxito do São Paulo; um homem cujo nome as gerações
que não o viram pessoalmente ainda gritam orgulhosamente nas arquibancadas, como ele felizmente
pôde ver já no final de sua vida; enfim, um homem cujo nome representa o orgulho em três cores:
Vermelho, Preto e Branco, eternizado num simples cântico que tem a dimensão de um verdadeiro hino
de vitória: “OLÊ, OLÊ, OLÊ, OLÊ, TELÊ, TELÊ!!!”.

As coisas passam, mas os valores ficam. TELÊ ETERNO.

Obrigado, Mestre.

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