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Abstract
The Master thesis in Science Education that the following text, entitled The Civic and
Political Participation of Young People in Educational Context in the Azores, seeks to
develop and deepen some of the most important aspects of civic and political
participation of youth in an educational context in Azores. Our study begins (Chapter I)
with a literature review on the evolution of the concept of citizenship since classical
antiquity to the present day, addressing critically some of the most relevant concepts of
social citizenship and the post-national citizenship. Next (Chapter II) turn our attention
to the Azores, their idiosyncrasies geographical, historical, social and cultural,
describing the whole process of implementation and development of the autonomic
system until we reach the impasse civic problem of the highest rates of voter turnout
that occur in Portuguese territory. The remaining part (Chapter III) refers to the civic
and political participation among young people in the 9th and 11th grade in public
schools in the Azores. Our analysis focused on a range of issues, made with 263 valid
surveys, for which we seek to measure the civic and political knowledge, civic behavior
and the provision for future civic participation, citizenship at school, political attitudes,
and the ideological and partisan alignments of students. After analysis of the data
present some conclusions and recommendations to enhance the citizenship at school
as a means to foster civic and political participation in society, ie, giving opportunity for
participation to students today, active and involved citizens of tomorrow.
2
Résumé
3
Agradecimentos
À minha mãe, Teresa Mateus, que nunca me deixou desistir desta empreitada,
incentivando-me a continuar e prestando-me o apoio necessário para que a
realização deste trabalho fosse possível.
4
Índice Geral
Resumo 1
Abstract 2
Résumé 3
Agradecimentos 4
Índice Geral 5
Índice de Quadros 7
Capítulo I. A Cidadania 12
5
1.1. Antecedentes históricos 32
2. A abstenção eleitoral 45
4. Participação cívica 58
6. A cidadania na escola 72
Considerações finais 95
Bibliografia 101
Anexos 104
6
Índice de Quadros
7
Quadro 6.1 Participação Cívica na Escola 73
8
Apresentação geral do trabalho
9
Apresentação geral do trabalho
11
Capítulo II
A Cidadania
12
1. A evolução do conceito de cidadania
1
Na Grécia antiga durante a época arcaica, clássica ou no helenismo nunca houve uma unidade política a
uma escala que hoje diríamos nacional, ou seja, de acordo com a concepção moderna de Estado-nação.
Neste período, por Grécia entendemos o aglomerado de cidades-estados (Atenas, Esparta, Corinto,
Tebas, etc.) que partilhavam uma cultura e identidade comum num determinado mas vasto território. A
única comunidade política que os gregos antigos conheceram foi a cidade-estado, a polis.
13
população de qualquer espécie de direitos, nomeadamente, civis, políticos e sociais.
Não obstante o facto de o Império Romano ter utilizado a cidadania enquanto função
integradora de assimilação dos homens livres das regiões conquistadas, o que era
realizado outorgando a qualidade de cidadão a um cada vez maior número de pessoas
(Paixão, idem), Conceição Nogueira e Isabel Silva classificam a concepção romana de
cidadania como: “um primeiro exemplo da utilização da cidadania como estratégia de
normatividade para garantir o controlo social” (2001: 18).
Tendo em conta este contexto, tanto a matriz de cidadania grega como a romana não
poderiam deixar de padecer de, embora distintas, exclusões. Assim, e de acordo com
Aristóteles, enquanto na polis grega ficavam excluídos da cidadania as crianças, os
velhos, os escravos, os condenados, os metecos e outros estrangeiros e as mulheres
(F. Amaral, 2007: 30; Paixão, 2000: 4), na Roma republicana havia ainda uma outra
forma de exclusão consubstanciada na distinção social entre patrícios e plebeus que
era o suficiente para inviabilizar qualquer direito político aos segundos, que embora
gozassem do estatuto de cidadãos romanos era-lhes vetada a possibilidade de
participação política exclusiva aos patrícios sobretudo por intermédio do senado
(Fieschi e Varouxakis, cit in Sobral, 2007: 138).
Desde o seu início, a cidadania tem estado intrinsecamente ligada à pertença a uma
entidade política territorial, isto é, a um Estado (ou polis, como lhe chamavam os
gregos). Existe portanto uma irrefutável interdependência histórica entre as
concepções de cidadania e de Estado. Na Grécia: “a cidadania e a polis eram uma e a
mesma coisa” (Nogueira e Silva, 2001: 16). E por cidadania entende-se a situação
política de qualidade ou privilégio perante o Estado de quem é cidadão. (F. Amaral,
2007: 29). Assim ser cidadão significa pertencer na qualidade de membro completo ao
Estado – algo que o distingue do escravo, que tem um dono e funciona como
instrumento deste, ou do súbdito, que depende de um soberano ou patriarca (Maltez,
2009: 1). E intrínsecos à cidadania estavam o dever de participação na vida do Estado
e a possibilidade de ser eleito para cargos públicos. Estes deveres “eram percebidos
pelos cidadãos como oportunidades para serem virtuosos e servirem a sua
comunidade.” (Nogueira e Silva, 2001: 17). Porém, como argumenta Maria Praia
(1999: 10) “esta concepção grega de cidadania fazia a distinção entre o cidadão e o
súbdito, considerando-os desiguais e dando primazia ao cidadão-homem”.
14
participar do exercício concreto do poder político” (C. Amaral, 2007: 163) que podia
assumir uma variedade de facetas, desde a adopção de normas reguladoras ao
planeamento e coordenação política, militar, económica, social e cultural da vida
comunitária, além da execução da justiça. Os gregos entendiam o exercício do poder
político como a mais nobre e prestigiada actividade que alguém poderia efectuar e a
política como o mais importante dos saberes. Deste modo, a vivência política activa
em comunidade assumia um profundo significado para quem possuía o estatuto de
cidadão; além de conferir distinção social (só os cidadão podem exercer a política) era
por este meio que se podia participar na definição dos valores que formam a
comunidade, na sua direcção e no estabelecimento de um nível de qualidade de vida
para os cidadãos e para os não cidadãos, além de definir quem pode e quem não
pode usufruir do estatuto de cidadão.
Contudo, desta ligação entre cidadania e exercício do poder político criava com
naturalidade uma situação de extrema desigualdade. As mais extravagantes exibições
de desmesurada riqueza ocorriam num ambiente de miséria absoluta. Os mais ricos
eram os que exerciam o poder, ou seja, os que rodeavam os soberanos, possuíam
cargos administrativos e faziam parte da oligarquia das grandes cidades. A pujança do
comércio mediterrânico associado à produção de leis que regulam esse mesmo
comércio por parte dos mesmos actores origina uma confusão entre a ideia de poder e
a ideia de riqueza – do que resultava o afastamento de quase toda a população do
poder. (Blázquez, 2006: 200).
Estas antigas e ultrapassadas, mas não de todo obsoletas sobretudo no que respeita
aos deveres cívicos, concepções de cidadania da Grécia antiga e da Roma
republicana cunharam para a posteridade uma inegável influência que perdura até aos
nossos dias, nomeadamente ao nível das constituições dos actuais países e serviram
15
de alicerce à concepção de cidadania do republicanismo cívico (Ferreira, Miranda e
Alexandre, 2002: 2). No nosso entender, alguma desta herança é negativa como o
carácter exclusor e limitado do conceito de cidadania, a ligação conceptual entre
cidadania e Estado, além do facto destas concepções de cidadania incidirem
essencialmente em termos deveres e não tanto de direitos (Kymlicka, 2003: 2;
Nogueira e Silva, 2001: 17). Contudo, também entendemos como justo sublinhar que
parte significativa dos deveres de participação cívica dos cidadãos encontra o seu
berço nas ideias e teorias da antiguidade clássica.
Além da revelação do perigo que pode decorrer da confusão entre poder político e
poder económico, podemos ainda retirar destas matrizes constatações importantes
como a de que o afastamento das populações em relação ao poder e à produção de
leis origina pobreza e desigualdade. Dito de outro modo, aqueles que estão excluídos
do exercício dos direitos e deveres de cidadania estão também excluídos económica e
socialmente. Este ponto em particular encontra-se perfeitamente actualizado se
tivermos presentes as actuais dificuldades para acesso à condição de cidadão que
enfrentam numerosos imigrantes residentes (muitos dos quais durante prolongado
período) em Portugal e nos Açores sem nenhum tipo de direitos cívicos e sociais e,
portanto, vitimas do que esta ausência significa.
16
1.2 A concepção moderna de cidadania
Depois das invasões bárbaras que determinaram a queda de Roma em 476 d. C.,
estas concepções de cidadania desapareceram do pensamento político europeu,
permanecendo ausentes durante todo o feudalismo2 medieval, período durante o qual
a anterior ligação cidadão-Estado fora substituída pela ligação de vassalo-senhor,
sendo esta baseada na fidelidade pessoal e individual do vassalo para com o seu
senhor ou suserano. Algo que significa uma ruptura completa com as concepções
clássicas de cidadania.
A partir do século XVI, o absolutismo monárquico3, um pouco por toda a parte, começa
a suceder ao feudalismo enquanto sistema político dominante, o que acarreta a
substituição da ligação vassalo-senhor pela ligação súbdito-soberano, mais de acordo
com a dominação absoluta do monarca. No entanto, com o renascimento e o
republicanismo que este desencanta, a cidadania volta timidamente a entrar no léxico
político resultado da sua consciencialização por parte dos indivíduos da sua condição
de cidadão – o que muito se deve à doutrina do Humanismo.
2
O sistema feudal de sociedade que teve o seu início após a queda do Império Romano (séc. V) vigorou,
embora de forma distinta consoante as regiões, até ao final do Antigo Regime, em 1789 (séc. XVIII). Este
sistema assentava num contrato de fidelidade entre um vassalo e um senhor com a denominação de
homenagem, no qual o vassalo fazia um juramento, sobre a Bíblia, de fidelidade pessoal total ao senhor
que, por sua vez, concedia ao vassalo um benefício ou feudo, que poderia assumir várias formas como
um domínio, cargo, emprego ou mesmo a simples permanência de residência em propriedade do
suserano. Tudo dependia da importância social do senhor e do vassalo. O acordo ficava selado com um
beijo – o beija-mão. Toda a sociedade se encontrava enredada nestes vínculos de fidelidade que uniam
de forma hierárquica todos os indivíduos sem excepção, desde o servo até chegar ao rei.
3
O absolutismo monárquico consagra uma tendência para a centralização do Estado que já se vinha a
verificar desde o final de idade média. Neste sistema, a autoridade do rei sobre toda a sociedade era total,
e todos os indivíduos, independentemente da sua condição social, eram antes de mais súbditos do rei.
Esta fidelidade sobreponha-se a todas as demais e o monarca só devia responder pelos seus actos
perante Deus.
17
Francesa transformou a cidadania num conceito-chave da mudança revolucionária,
definidor de igualitarismo antifeudal, de estatuto de cidadão com direitos individuais
consagrados pela Declaração do Direitos do Homem e do Cidadão (1789), além da
identificação da soberania popular com a universalidade dos cidadãos.
Assim, por Estado-nação podemos entender uma entidade política que, num
determinado território, representa um povo que constitui uma nação. “O tríptico
Estado-Povo-Território constitui o quadro de possibilidades de expressão da cidadania
moderna. A correspondência espacial e temporal entre os três vértices desse triângulo
foram assumidos como condição de normalidade do exercício da cidadania.” (Pureza,
2007: 75). Construção que, diga-se de passagem, obteve um êxito generalizado e
duradouro: “aquele tipo de Estado que se originou das revoluções francesa e
americana impôs-se mundialmente.” (Habermas, 2001: 80).
Assim, nessa produção de uma identidade nacional pelo Estado implica ter em conta o
papel determinante das ideologias nacionalistas. Estes discursos começam por criar
uma separação entre “nós” (os nacionais) e “eles” (os não nacionais) para depois
associar aos primeiros a adopção de uma única língua, cultura e destino colectivo
comum e, preferencialmente, uma única religião partilhada pelos habitantes de um
território delimitado por fronteiras e administrado por um só Estado. Por outras
palavras, trata-se de dividir a humanidade em diferentes nações, cada qual com a sua
identidade particular (Sobral, 2007: 145).
19
igualitário consagrando a centralidade dos direitos dos cidadãos através da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (Nogueira e Silva, 2001: 42).
Como vimos, a cidadania começa, na Grécia antiga e na Roma republicana, por ser
vista em termos de deveres – os cidadãos eram legalmente obrigados a assumir
cargos públicos em detrimento da atenção concedida à sua vida privada. Só com o
advento da modernidade é que a cidadania começa a ser vista em função de direitos –
os cidadãos têm o direito de dar prioridade aos seus compromissos privados em
detrimento da sua participação política (Kymlicka, 2003: 2). Mas se houve coisa que a
nossa época (que vários autores designam como pós-moderna) trouxe de positivo em
termos de cidadania foi o facto de ter finalmente colocado a tónica nos direitos em vez
dos deveres.
Para isso, foi decisiva a influente exposição “Cidadania, Classe Social e Status” (1950)
concebida, no imediato pós-guerra, pelo sociólogo inglês Thomas Humphrey Marshall.
Neste ensaio, que embora nem sempre devidamente reconhecido se tornou referência
incontornável no panorama da sociologia ocidental moderna (Picó, 2002: 10), Marshall
divide os direitos de cidadania em três elementos distintos: direitos civis, direitos
políticos e direitos sociais, aos quais atribui um período temporal correspondente e
instituições sociais pelas quais esses direitos são exercidos.
21
não à realidade mundial. É, por exemplo, patética qualquer tentativa de extrapolação
da tipologia de Marshall aplicada à realidade portuguesa.
“O objectivo dos direitos sociais constitui ainda a redução das diferenças de classe,
mas adquiriu um novo sentido. Não é mais a mera tentativa de eliminar o ónus
evidente que representa a pobreza nos níveis mais baixos da sociedade. Assumiu o
aspecto de acção modificando o padrão total da desigualdade social. Já não se
contenta mais em elevar o nível do piso do porão do edifício social, deixando a
superestrutura como se encontrava antes. Começou a remodelar o edifício inteiro e
poderia até acabar transformando um arranha-céu num bangaló.” (Marshall, 1967:
89).
Todavia, a concretização desta igualdade entre todos os cidadãos por intermédio dos
direitos sociais encontra-se dificultada em virtude de os serviços públicos nas nossas
sociedades sofrerem de uma estigmatização por terem um carácter de assistência
gratuito ou semi-gratuito. E em sociedades capitalistas reguladas pela lógica do
mercado o que é pago é sinónimo de qualidade e o que é gratuito da falta dela.
Chavões como “o que é caro é bom” ou “se fosse bom não era dado” banalizaram-se
completamente entre nós, contando com a nossa conivência ou com a nossa
passividade perante os mesmos – algo que se repercute num comportamento
pernicioso da nossa parte perante serviços públicos essenciais à cidadania como as
escolas ou os hospitais públicos. “No domínio dos serviços sociais a palavra
«público», que o mesmo é dizer, «estatal» tem amiúde um sentido pejorativo” (Fraser
e Gordon, 1995: 28).
Neste aspecto, o que desde logo importa mudar é a mentalidade das populações em
relação ao serviços públicos e de quem deles legitimamente usufrui. Para o efeito, é
indispensável reabilitar a ideia de «serviço público» que tem vindo a sofrer uma
sistemática descredibilização. Muito desse desvalor provém do facto de serem os
cidadãos mais carenciados que fazem uso preferencial desses serviços. E a
necessidade de distinção social das classes sociais mais favorecidas passa pelo
distanciamento e desprezo perante o «público», isto é, perante o que é de todos em
benefício do que é apenas para alguns. Daqui resulta uma hostilidade perante o
Estado-Providência que, sublinhamos, deriva do seu carácter assistencialista,
tendencialmente gratuito e do seu acesso universal.
23
2003: 2). Por isso, a sua existência deve ser entendida como um direito inalienável de
todos os cidadãos e um compromisso com os princípios da liberdade, igualdade e
fraternidade (Picó, 2002: 19). E não como uma qualquer espécie de serviços de
“segunda categoria” para cidadãos também de “segunda categoria” financiados a
contra-gosto pelos cidadãos de “primeira categoria”, como entendem os
conservadores.
24
aceitação social (Kymlicka, 2003: 3). Alegando que as provisões típicas do Estado-
Providência não são dignificantes nem libertadoras para as pessoas sendo, pelo
contrário, “causadoras da sua continua pobreza e de uma dependência doentia que as
incentiva ao ócio, à alienação de si mesmas e à maior degradação da sua condição
humana” (Carvalhais, 2004: 90). Um argumento muito perigoso a nível social,
potencial fonte de ódio e estigmatização social, uma vez que coloca a pobreza e a
exclusão social como uma opção individual e não como uma fatalidade, além de
persuasor da superação da miséria como uma obrigatoriedade (ibid.). Como vemos, a
cidadania social ainda está longe de ser concretizada e já estamos no século XXI.
25
2.2 Cidadania Pós-Nacional
Não entendemos esta disputa pela atenção académica como se de uma guerra entre
cidadania política e a cidadania social se tratasse. Nem é nosso objectivo escolher um
dos lados da barricada para tentar descredibilizar ou desacreditar o outro.
Simplesmente entendemos que a cidadania só pode ser completa se compreender
simultaneamente as dimensões política e social (além da cívica) e não consideramos a
cidadania política como uma dimensão já adquirida da cidadania, porque não o é. E
não são poucos4 os que embora vivendo entre nós não partilham connosco os
mesmos direitos políticos. Refiro-me obviamente aos imigrantes não-nacionais ou
nacionais de outros países para quem a aquisição de direitos políticos semelhantes
aos cidadãos nacionais é a primeira das prioridades, como iremos demonstrar.
A origem deste mal radica num problema de natureza conceptual, isto é, na confusão
entre os conceitos de cidadania e de nacionalidade (Sobral, 2007: 139) que se verifica
desde a época moderna e que continua a se reflectir no plano do direito, embora
conceptualmente sejam conceitos distintos. A título de exemplo, o próprio autor deste
trabalho somente é portador de um Cartão do Cidadão que lhe confere a
nacionalidade/cidadania portuguesa em virtude de reunir um dos dois critérios
fundamentais para a atribuição da nacionalidade: o jus sanguinis (descendente de
nacionais). Isto porque quem nasceu em Joanesburgo (África do Sul) não pode
4
Só nos Açores, estima-se que residam cerca de 5500 imigrantes portadores de 44 nacionalidades
diferentes. A comunidade cabo-verdiana, que conta com a presença mais antiga no arquipélago, é a mais
numerosa com cerca de 961 residentes, seguida da comunidade brasileira que tem registado um
significativo acréscimo nas últimas duas décadas. Também a imigração vinda do Leste da Europa tem
vindo a acentuar-se. De acordo com a Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA) a vinda de cada vez
mais pessoas para o arquipélago deve-se em primeiro lugar a motivações laborais e, em menor número,
de formação académica ou profissional.
26
invocar o critério do jus soli (natural de território nacional) para acesso à
nacionalidade/cidadania portuguesa. Aliás, a Lei de Nacionalidade5 é bem clara sobre
este ponto quando determina na sua alínea a) do artigo nº 1 que: “são portugueses de
origem os filhos de mãe portuguesa ou pai português nascidos no território português”.
Embora seja de certo modo evidente a ligação entre cidadania e democracia – não
obstante o facto das teorias democráticas se centrarem sobretudo nas instituições e
processos políticos ao passo que as teorias da cidadania se centram nos atributos
individuais dos cidadãos (Kymlicka, 2008: 1) – podemos aferir que os critérios do jus
soli e do jus sanguinis de acesso à cidadania nada têm de democrático, uma vez que
ninguém escolhe a sua ascendência nem o seu local de nascimento.
Este paradigma de cidadania foi erigido sob uma lógica de aversão ao “outro”, isto é,
em consequência de uma rejeição face à diferença e ao diferente, face ao estrangeiro.
Um modelo exclusor por natureza e, portanto, antidemocrático e totalmente obsoleto
tendo em conta a diversidade populacional e o consequente grau de exposição ao
“outro” existente nas sociedades contemporâneas. E a resposta aos desafios da
globalização não pode nem deve passar por aquilo a que Habermas (2001: 103)
designa por “Politik des Einigelns” (Política de Porco-Espinho), ou seja uma espécie de
5
A quarta alteração da Lei da Nacionalidade (Lei Orgânica n.º 2/2006, de 17 de Abril) foi elaborada e
aprovada no decurso de um conflito diplomático entre Portugal e o Canadá a propósito da ordem de
deportação de mais de 70 famílias portuguesas (na sua maioria açorianas) daquele país. A iniciativa
legislativa foi tomada com o objectivo de agilizar os processos de aquisição da cidadania portuguesa por
parte de cidadãos não-nacionais após o ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral,
que reclamava contra a “falta de humanidade” da legislação canadiana sobre imigração, ter sido
confrontado com os critérios “bastante mais razoáveis” desta pelos ministros Peter MacKay (Negócios
Estrangeiros) e Monte Solberg (Cidadania e Imigração) quando comparados com os critérios da
legislação portuguesa que estavam em vigor até ao final do primeiro trimestre de 2006.
27
proteccionismo neonacional que procura salvaguardar as identidades nacionais à
custa do fechamento aos cidadãos não-nacionais.
29
questões que acabariam por fazer com que a integração pudesse, efectivamente, ser
uma realidade.” (Paulo Mendes, Expresso das Nove, 30-4-2009)
6
Paulo Mendes, natural de Cabo Verde, é formado em Sociologia pela Universidade dos Açores e
desenvolve a sua actividade profissional na área da economia solidária e das migrações sendo fundador
e presidente da Associação de Imigrantes dos Açores (AIPA) e coordenador da Plataforma das Estruturas
Representativas das Comunidades Imigrantes em Portugal. Autor do estudo "Ponte Insular: a
Comunidade Cabo-Verdiana nos Açores" (2007) recebeu, em 2008, o prémio “Empreendedor Imigrante”
atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian como reconhecimento do trabalho que tem vindo a
desenvolver em prol dos imigrantes a residir no arquipélago e também no resto do país.
30
Capítulo II
31
1. A implantação e desenvolvimento do regime autonómico
32
monárquico constitucional agonizava com o desencanto patriótico decorrente
do episódio do “ultimato inglês” (1890).
34
que atendia às circunstâncias da insularidade, o que foi confirmado pelo
Código Administrativo de 1936 (Reis Leite, 2008: 179). No entanto, o novo
regime inaugura um negro período nas pretensões autonómicas açorianas.
35
1.2. Implantação e desenvolvimento da autonomia açoriana
37
É neste contexto que a 6 de Junho de 1975 ocorre em Ponta Delgada uma
gigantesca manifestação de lavradores a pretexto do descontentamento com a
situação da lavoura insular, que contou com a adesão de vários outros sectores
da população, onde os manifestantes acabaram por derivar para reivindicações
independentistas e pela exigência de demissão do governador civil, António
Borges Coutinho, que aceita demitir-se e transfere as suas competências para
o comandante militar dos Açores, o general Altino de Magalhães, que tinha
conseguido controlar a manifestação servindo de intermediário nas
negociações entre os manifestantes e o governador. José Medeiros Ferreira
(2008: 342) classifica a manifestação de 6 de Junho como “ambivalente nos
seus propósitos”, uma vez que “tanto pretendeu moderar e domesticar a
revolução desencadeada em Lisboa, como desenvolver uma perspectiva
independentista, para se cristalizar no regime de autonomia político-
administrativa regional”.
Acalmados os ânimos, ainda nesse mês, numa reunião em Lisboa que contou
com a presença de representantes açorianos, foi elaborada uma proposta de
criação de uma Junta Governativa dos Açores que substituiria os governos
civis e as juntas gerais lançando as bases para a existência de órgãos de
governo únicos no arquipélago. A proposta, embora muito alterada, veio dar
origem ao Decreto-Lei n.º 458-B/75 de 22 de Agosto, publicado pelo V Governo
Provisório de Vasco Gonçalves, que criou a Junta Administrativa e de
Desenvolvimento Regional, que rapidamente ficou conhecida por Junta
Regional dos Açores. A partir daqui as várias ilhas dos Açores configuram-se
politicamente unidas por um só poder.
38
Janeiro de 1976 foi transformada em proposta a qual deu origem ao Estatuto
Provisório de 1976, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 318-B/76 de 30 de Abril.
39
Com a instauração da autonomia política iniciou-se um processo de rápida e
profunda transformação da sociedade açoriana. As primeiras grandes
empreitadas do novo poder regional foram a criação de órgãos e serviços
públicos regionais, ao mesmo tempo que vão sendo construídas infra-
estruturas básicas necessárias ao desenvolvimento do arquipélago como
novas estruturas (portos e aeroportos) de comunicações inter-ilhas e com o
exterior. Reestrutura-se a rede rodoviária e a rede eléctrica e o saneamento
básico chega a todas as zonas. Constroem-se novos hospitais e centros de
saúde. Na educação, que até 1975 apenas a rede básica de escolas primárias
estava completa, processa-se a uma autêntica “revolução” com a criação de
várias escolas básicas, secundárias e profissionais, além do Instituto
Universitário dos Açores, que antecedeu a Universidade dos Açores. Com a
autonomia política o progresso chegou aos Açores. O sucesso das autonomias
regionais é tal modo evidente que mesmo no território continental já se tentou,
em 1998, criar a regionalização administrativa.
Todavia, desde os seus primeiros anos até aos dias de hoje a autonomia
açoriana tem sido marcada por vários conflitos de competências entre os
órgãos nacionais de soberania (especialmente o Tribunal Constitucional) e os
órgãos de poder autonómico. Em causa estão dois entendimentos diferentes
sobre as autonomias regionais, um que defende a “autonomia progressiva” e
outro que argumenta que a “autonomia tem limites” (Ferreira, 2008: 356).
40
alinhar pelo segundo em defesa do Estatuto. A querela assumiu contornos
alarmantes e motivou mesmo uma comunicação ao país, a 31 de Julho de
2008, por parte do Presidente da República alegando que o diploma colocava
em causa as “competências dos órgãos de soberania consagrados na
Constituição”. Cavaco Silva vetou por duas vezes o Estatuto aprovado por
unanimidade de todos os partidos na Assembleia da República e na
Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Mas o diploma seria novamente
aprovado no parlamento (desta vez com a abstenção do PSD) e encontra-se
em vigor. Contudo, o Tribunal Constitucional fiscalizou o documento e deu
razão aos argumentos do Presidente da República considerando
inconstitucionais alguns dos artigos.
Deste modo, a luta dos açorianos por um cada vez maior aprofundamento da
autonomia política continua.
41
1.3. Governos e símbolos da Região Autónoma dos Açores
42
Bandeira do Açores
Na bandeira dos Açores dominam as cores: azul-escuro (do lado da haste, que
ocupa 40% do total) e branca (60%). Ao centro, sobre a linha divisória, figura
um açor brilhante de oiro em forma estilizada naturalista protegido, em
semicírculo, por nove estrelas com cinco raios de cor de oiro que representam
cada uma das ilhas do arquipélago. Junto da haste, no canto superior
esquerdo, encontra-se o escudo nacional português que simboliza a ligação
dos Açores a Portugal. Aprovada pelo Decreto Regional n.º 4/79/A de 10 de
Abril e regulamentada pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 13/79/A de 18
de Maio foi oficialmente hasteada pela primeira vez a 12 de Abril de 1979.
43
Brasão de Armas
44
2. A abstenção eleitoral
“Uma elevada abstenção eleitoral não tem de ser vista necessariamente como algo
de «mau» para a democracia, nem o seu aumento como um sintoma de crise e
deslegitimação das instituições de competição e participação políticas. A abstenção
pode mesmo indicar uma diminuição dos conflitos sociais e políticos, a estabilização
dos regimes e um elevado nível de confiança depositada pelos cidadãos naqueles
que concorrem pela delegação do poder.” (Freire e Magalhães, 2002: 16)
45
Todavia, o aumento da abstenção não é um fenómeno exclusivamente
português. O aumento generalizado da abstenção nos últimos anos nas
democracias industrializadas é objecto de consenso entre os académicos que
se detêm sobre este fenómeno. As suas causas e consequências é que
permanecem em grande medida desconhecidas e objecto de intensa
especulação teórica. (Freire e Magalhães, 2002: 19).
Aliás, a abstenção eleitoral nos Açores já pode ser caracterizada como uma
“imagem de marca” açoriana no sistema eleitoral português, como se confirma
pelo Quadro 1.2. Desde 1976 até 2009, somente nas eleições para a
Assembleia da República, em 1979, e para o Parlamento Europeu, em 1994,
os Açores apresentam valores de abstenção mais baixos do que a média
nacional. E mesmo nessas eleições as diferenças entre a participação eleitoral
nos Açores em relação à média nacional são mínimas.
47
então assistiremos a um declínio geracional da abstenção (Franklin, 2003:
324). No capítulo que se segue vamos verificar se isso pode ser possível.
7
Quadro 1.2 Números da abstenção nos Açores (1975-2009)
7
Fontes: Vice-presidência do Governo Regional dos Açores; Comissão Nacional de Eleições.
48
Capítulo III
49
1. Caracterização Geral do Estudo
50
2. Caracterização geral da amostra
O nosso estudo incidiu sobre um total de 263 inquéritos válidos, dos quais 131
foram efectuados a alunos do 9º ano e outros 132 a alunos do 11º ano de
escolaridade, ou seja obtivemos uma representação praticamente equitativa
entre o total da nossa amostra de acordo com o nosso objectivo inicial.
51
No que respeita à repartição por sexos da nossa amostra verifica-se uma
ligeira predominância de inqueridos do sexo feminino (53,2%) face a inqueridos
do sexo masculino (46,8%).
Local de nascimento
54
muitos se esforçam por fazer passar, de que os cidadãos são passivos e não
procuram informação.
Quanto ao livro, esse suporte de saber que nas palavras de Umberto Eco “é
como a colher, o martelo, a roda ou o cinzel. Uma vez inventados, não se pode
fazer melhor” (2009: 20), a sua presença nas casas da nossa amostra é
igualmente reveladora de alguma busca pelo conhecimento. Apenas 20,5%
possui bibliotecas privadas medievais, isto é, com menos de 10 livros.
Enquanto 39,5% possui até 50 livros e 19,4% até 100. É de frisar que 20,5%
possuem bibliotecas particulares com quantidades de obras bibliográficas
superiores aos 200 exemplares. Pelo que se pode concluir que, com maior ou
menor grau, a presença do livro nas moradias dos inquiridos é uma constante.
Em síntese
A União Europeia foi um dos itens cuja margem de respostas correctas foi
menor. O motivo pelo qual muitos dos alunos (40,7%) não ter conseguido
acertar no número actual de Estados-membros pode estar relacionado com
facto de este número (27) só recentemente estar fixado, em 1 de Janeiro de
2007.
56
Presidente do Governo Regional dos Açores foi João Bosco Mota Amaral. O
facto da Região Autónoma dos Açores ser governada, desde 1996, pelo
Partido Socialista não é do conhecimento de muitos (35,7%) dos alunos
açorianos.
Em síntese
57
português. Em relação aos menores conhecimentos sobre a autonomia
açoriana, especialmente sobre história autonómica, devem ser entendidos pela
pouca oportunidade dos alunos em obterem informações na escola e fora desta
sobre estes temas. Só assim se entende a enorme disparidade entre o
conhecimento do 25 de Abril de 1974 em relação ao 6 de Junho de 1975.
4. Participação Cívica
Confiança em instituições
58
as igrejas e a polícia quando comparada com a mesma relação nos alunos do
11º ano.
59
8
Quadro 4.1 Confiança nas instituições
8
A pergunta do questionário era: “Qual é a confiança que tens nas seguintes instituições, no que diz
respeito ao desempenho das suas funções?”
60
Presidente da República 9º 131 3,40
Presidente da República 11º 132 3,22
Presidente da República Total 263 3,31
ONU 9º 131 3,35
ONU 11º 132 3,14
ONU Total 263 3,24
União Europeia 9º 131 4,40
União Europeia 11º 132 4,50
União Europeia Total 263 4,45
61
Envolvimento cívico continuado
62
9
Quadro 4.2 Envolvimento cívico continuado
9
A pergunta do questionário era: “Estás ou já estiveste alguma vez ligado a…”
63
10
Quadro 4.3 Envolvimento cívico mais significativo
10
A pergunta do questionário era: “das experiências de participação de envolvimento continuado que já
tiveste qual foi a que consideras ter sido a mais significativa na sua vida?”
64
Participação em actividades
11
Quadro 4.4 Avaliação do envolvimento
11
A pergunta do questionário era: “Como avalias o teu envolvimento?”
65
12
Quadro 4.5 Participação em actividades
Frequência de debates
66
discussão e eram analisadas diferentes opiniões que poderiam originar novos
pontos de vista. O que pode ter influência sobre a importância que essa
participação teve nos alunos, francamente positiva.
13
Quadro 4.6 Frequência de debates
Em síntese
13
A pergunta do questionário era: “Enquanto colaboraste, com que frequência sentiste que…”
67
tendência passiva detectada na participação em algumas actividades, como a
procura de informação e a participação em petições, protestos, assembleias e
tomadas públicas de posição, pode estar relacionada com a natureza da
participação que conheceram na sua maioria, ou seja ligada à prática do
desporto.
14
Quadro 5.1 Disposição para a participação cívica futura
14
A pergunta do questionário era: “No futuro achas que vais realizar as seguintes actividades?”
70
Recolher ou oferecer donativos para uma instituição 9º 4,44
131
de solidariedade social?
Recolher ou oferecer donativos para uma instituição 11º 4,66
132
de solidariedade social?
Recolher ou oferecer donativos para uma instituição Total 4,55
263
de solidariedade social?
Entrar em contacto com políticos, expondo assuntos 9º
131 2,28
do teu interesse?
Entrar em contacto com políticos, expondo assuntos 11º
132 2,56
do teu interesse?
Entrar em contacto com políticos, expondo assuntos Total
263 2,42
do teu interesse?
Em síntese
71
6. A cidadania na escola
Podemos concluir que o pouco interesse dos alunos pelos problemas escolares
pode estar relacionado com a pouca ou nenhuma oportunidade que lhes é
concedida para fazerem parte da solução destes problemas. Como confiança
na sua capacidade de persuasão e na solidez da sua opinião não lhes falta,
talvez não fosse má ideia que as escolas os incluíssem ou pelo menos os
ouvissem na resolução dos seus problemas. Não nos esqueçamos que uma
escola democrática é uma escola que se organiza de modo a estimular a
participação de todos os implicados no processo educativo, ou seja, que
reconheça como interlocutores válidos todos os seus membros (Rovira, 2000:
57).
72
15
Quadro 6.1 Participação Cívica na Escola
De acordo com o Quadro 6.2, podemos desde logo deduzir que as aulas são
fracamente politizadas, sem que os alunos tragam assuntos políticos para
serem debatidos nas aulas. Todavia, a culpa da pouca politização nas aulas
não se deve apenas aos alunos, mas também por os professores promoverem
pouco, especialmente com os alunos do 9º ano, o debate político e social nas
aulas, mesmo que se trate de assuntos polémicos. O que em nada favorece a
democracia na escola.
15
A pergunta do questionário era: “Relativamente à tua vida na escola, em que medida concordas com as
seguintes afirmações?”
73
No entanto, em termos de democracia na sala de aula os resultados são
francamente bons. É relativamente positiva a liberdade que os alunos sentem
para discordar dos professores nas aulas; e é de enaltecer o encorajamento
dos professores para que os alunos tenham e expressem as suas próprias
opiniões no contexto da sala de aula, sobretudo entre os alunos mais velhos do
11º ano, assim como o respeito que os docentes demonstram perante a
opinião dos alunos, que não se revelam adeptos do seguidismo e sentem-se
confortáveis para discordar da opinião da maioria dos colegas. O que é um
importante indicador sobre a liberdade e autonomia de pensamento entre os
jovens.
74
16
Quadro 6.2 Participação Cívica na Escola
16
A pergunta do questionário era: “Em relação às aulas e aos professores, qual é a tua opinião sobre as
seguintes afirmações.”
75
Quanto aos temas que devem merecer abordagem na sala de aula, os
resultados (Quadro 6.3) apresentam diferenças pouco significativas entre os
alunos do 9º ano e do 11º ano. Deste modo, em termos conjuntos os valores
obtidos traduzem-se pela seguinte ordem de prioridades: sexualidade (5,74);
ambiente (5,71); igualdade entre homens e mulheres (5,53); organizações
cívicas e políticas (4,63); orientação sexual (4,62); e imigração (4,21). O
inequívoco destaque concedido à sexualidade como tema de debate aponta
para um ambiente favorável à introdução da disciplina de educação sexual nas
escolas. E a atenção concedida ao ambiente revela uma juventude com cada
vez maiores preocupações ambientais, além de pouco conservadora
relativamente a questões de igualdade de género. De salientar que todos os
restantes temas obtêm igualmente valores positivos junto dos alunos
17
Quadro 6.3 Temas cívicos
17
A pergunta do questionário era: “Quais dos seguintes assuntos deveriam, em tua opinião, ser
abordados na escola para ajudar os jovens a serem cidadãos mais conscientes e participativos?”
76
Em síntese
77
7. Atitudes políticas (informação e debate político)
Informação
18
Quadro 7.1 Confiança na Informação
18
A pergunta do questionário era: “Qual é a confiança que tens na informação emitida pelos seguintes
meios de comunicação?”
79
Exposição a notícias políticas
Começando a nossa análise pelo interesse noticioso (Quadro 7.2) sobre o que
se passa nos Açores, no país e no mundo, a totalidade (alunos do 9º e 11º) da
nossa amostra revela mais interesse sobre o que se passa no país (3,90) do
que pelo que se passa nos Açores (3,77) ou em outros países (3,54).
Separando a nossa amostra, os alunos do 9º ano confirmam um maior
interesse pelo que se passa no país (3,47) do que se passa na região (3,30) e
no mundo (3,21). E entre os alunos do 11º ano, além da sua prioridade
informativa ser o que se passa no país (4,33), o interesse por aquilo que se
passa no mundo (3,87) é superior à atenção noticiosa dispensada aos Açores
(3,77).
80
19
Quadro 7.2 Exposição a notícias políticas
19
A pergunta do questionário era: “Com que frequência…”
81
Os resultados (Quadro 7.3) revelam pouca predisposição para o debate
político. Abordando o total da amostra confirmamos que independentemente da
temática o interesse pela discussão política é sempre negativo: política regional
(2,64); política nacional (2,54); e política internacional (2,43). Entre os alunos
do 9º ano o interesse pela discussão política é muito baixo sobre qualquer das
temáticas o que também se regista, embora com uma ligeira subida da
propensão para o debate, entre os alunos do 11º ano.
82
Em síntese
O interesse noticioso dos alunos sobre o que se passa nos Açores é inferior ao
que se passa no país. O que vem contrariar a expectativa que tínhamos à
partida para a realização deste trabalho. Tendo em conta que a nossa amostra
é maciçamente composta por naturais e descendentes de naturais do
arquipélago e perante a evidência destes resultados vemo-nos obrigados a
conceder alguma razão a José Manuel de Oliveira Mendes (1996) que sustenta
que a construção simbólica do regionalismo açoriano não tem uma efectiva
correspondência por parte população açoriana.
83
De qualquer modo, podemos concluir que existe pouca a propensão dos alunos
para a discussão política. Como escreveu algures Jorge Luís Borges, bem-
aventurados sejam os mansos que não condescendem perante a discórdia.
84
20
Quadro 8.1 Interesse político
Foi também objectivo deste trabalho procurar analisar a forma como os nossos
inquiridos avaliam o funcionamento da autonomia açoriana e do regime
democrático português. Questionados sobre a forma como avaliam o
funcionamento do regime autonómico açoriano, os alunos avançam com
opiniões que tendem a ser positivas, considerando como entendem o seu
actual funcionamento e a expectativa futura que têm sobre este.
20
A pergunta do questionário era: “Em que medida estás interessado em política…”
85
21
Quadro 8.2 Funcionamento político e democrático
21
A pergunta do questionário era: “numa escala de 0 a 10, em que 0 significa muito mal e 10 muito bem,
responde às seguintes questões sobre o funcionamento da autonomia nos Açores e da democracia em
Portugal.”
86
Em síntese
87
9. Alinhamentos ideológicos e partidários, reformas e religião
Alinhamentos ideológicos
Todavia, sublinhamos que estes valores devem ser relativizados, uma vez que
pudemos observar que durante a realização dos questionários vários alunos,
sobretudo do 9º mas também do 11º, expressaram dificuldades em se situarem
ideologicamente devido ao desconhecimento dos significados dos termos
“esquerda” e “direita”. Deste modo, a resposta ao centro pode ter funcionado
como a resposta mais fácil.
22
Quadro 9.1 Alinhamento ideológico
22
A pergunta do questionário era: “Numa escala de 0 a 10 em que 0 é a posição mais à esquerda e 10 a
mais à direita, em que posição te colocas?”
88
23
Quadro 9.2 Importância da ideologia
Alinhamentos partidários
89
Entre as simpatias partidárias, o facto dos dois maiores partidos políticos
portugueses, PS e PSD, serem as forças partidárias que gozam de maior
simpatia entre os jovens deve ser compreendido tendo em conta que o sistema
político português, ao nível da governação e de implantação social, se
estabilizou em torno de destes dois partidos (Jalali, 2007: 340).
24
Quadro 9.3 Simpatia partidária
25
Quadro 9.4 Simpatia por partido
24
A pergunta do questionário era: “Consideras-te simpatizante de algum partido político?”
25
A pergunta do questionário era: “Se respondeste Sim, diz qual é o partido com que mais simpatizas.”
90
obstante a resposta mais escolhida ter sido a de que a sociedade pode
“melhorar com pequenas mudanças”. O conjunto destas respostas permite-nos
concluir que existe uma acentuada insatisfação perante o actual funcionamento
da sociedade.
26
Quadro 9.5 Atitudes em relação a reformas políticas
26
A pergunta do questionário era: “Pensando na sociedade em que vives, com qual destas quatro
opiniões te identificas?”
91
27
Quadro 9.6 Atitudes em relação a reformas políticas
Religiosidade
27
A pergunta do questionário era: “Das propostas que se seguem, e numa escala de 0 a 10 em que 0
significa que discordas totalmente e 10 que concordas totalmente, posiciona-te em relação a cada uma
delas.”
92
28
Quadro 9.7 Pertença a religião
29
Quadro 9.8 Culto religioso
30
Quadro 9.9 Religiosidade
Em Síntese
28
A pergunta do questionário era: “Actualmente sentes que pertences a alguma religião?”
29
A pergunta do questionário era: “Se respondeste Sim, diz qual? ”
30
A pergunta do questionário era: “Independentemente de pertenceres a uma religião em particular, numa
escala de 0 a 7, dirias que és uma pessoa...”
93
partidos políticos portugueses: PS e PSD, com vantagem para o Partido
Socialista – a força partidária responsável pela governação regional e nacional.
94
Considerações finais
95
Considerações Finais
Viver e sobretudo crescer nos Açores não é a mesma coisa que viver e crescer
no Minho ou no Alentejo, sem desprimor para estas regiões. Os Açores, a sua
geografia, a sua cultura e as suas gentes, marcam qualquer pessoa que tenha
mantido uma ligação, mesmo que ténue, àquela terra. Ninguém fica indiferente
à singular beleza natural do arquipélago31 que esmaga todos os que a
contemplam. Como disse Vitorino Nemésio, a geografia faz o açoriano, ou seja
o isolamento, o clima caprichoso e as constantes indisposições da natureza
(tempestades, sismos e erupções vulcânicas) formam o carácter dos açorianos,
31
Em 2007, um painel de 522 especialistas da “National Geographic Traveler” classificou o arquipélago
dos Açores como um dos mais atractivos destinos de turismo ambiental do planeta, recolhendo a segunda
melhor pontuação, atrás das Ilhas Faroe (Dinamarca), entre um conjunto de 111 ilhas ou arquipélagos do
mundo. Os itens avaliados foram a qualidade ambiental, a integridade social e cultural, a condição da
arquitectura, a atracão estética e a gestão do turismo, que tem resistido aos estragos resultantes das
adaptações materiais ao turismo de massas. Numa escala de 0 a 100, os Açores obtiveram a
classificação de 84. Desde então, a revista National Geographic tem dedicado uma especial atenção ao
arquipélago promovendo a divulgação da sua qualidade ambiental a nível mundial.
96
que uma vez adquirido fica para sempre. Pode-se tirar um açoriano dos
Açores, mas não se pode tirar os Açores de um açoriano.
É perante esta evidência que todo o conteúdo da nossa tese deve ser
compreendido. Mesmo a componente da Cidadania (Cap. I) também não foi
abordada inocentemente. Embora o nosso objectivo tenha sido demonstrar
como o conceito de cidadania, sempre marcado pela dialéctica inclusão-
exclusão, foi evoluindo ao longo dos tempos começando a ser visto em função
de deveres passando paulatinamente a ser entendido em termos de direitos; a
nossa descrição da evolução conceptual que a cidadania atravessou procurou
colocar ênfase em determinados aspectos que podem ser extrapolados para a
realidade açoriana actual, nomeadamente o zelo que dedicamos à virtude da
participação cívica na Grécia antiga em contraponto com a condição de idiotia
atribuída aos que voluntariamente abdicavam do seu contributo cívico para
com a sua comunidade.
Fazer uma tese sobre um determinado tema “significa presumir que até então
ninguém tivesse dito nada de tão completo nem tão claro sobre o assunto”
(Eco, 2001: 198). Estamos convencidos que o fizemos, embora tivéssemos
“beneficiado” do facto de até ao momento não ter sido realizado nenhum
estudo semelhante sobre a realidade açoriana. Deste modo, foi também nossa
intenção disponibilizar dados sobre a participação cívica e política dos jovens
açorianos que futuramente poderão receber tratamento e análises diferentes
daquelas que efectuamos, sem nunca atribuir um carácter de verdade absoluta
às nossas leituras sobre os resultados, muito nos agradaria que o nosso
trabalho motivasse outras interpretações.
99
escola como a instituição chave para a construção de cidadãos participativos e
politicamente activos. Embora seja de registar a pouca participação nas
associações de estudantes, o associativismo académico é entendido como um
meio bastante positivo para influenciar as decisões tomadas pela escola e
existe uma convicção generalizada entre os alunos de que poderiam contribuir
para resolver os problemas da escola se lhes fosse dada uma oportunidade.
101
Bibliografia
102
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Política”, Sociologia, Problemas e Práticas, 50, 109-130.
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Editorial Presença.
MAIR, Peter (2003), “Os partidos e a democracia”, Análise Social, 167, 277-
293.
104
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Livraria Figueirinhas, vol. 6, 150-151.
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106
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30-3-2006.
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S/A (2009) “Carlos César defende voto obrigatório”, Açoriano Oriental, 28-5-
2009.
Legislação
107
Terceira alteração do ESTATUTO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO DA REGIÃO
AUTÓMOMA DOS AÇORES, Lei n.º 2/2009, de 12 de Janeiro.
Sites institucionais
108
Anexos 1
(Inquéritos)
109