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TEXTO BASE DO 26º ENCONTRO ARQUIDIOCESANO DE CEBS

1- VER:
Sob o grito “Mãe Terra Precisamos de Ti!” Iniciamos nossa
reflexão sobre a urgência de despertar nossos sentidos para
possibilitar a percepção não apenas dos fenômenos que a cada dia
afloram na nossa Casa Grande, mas acima de tudo desvendar os
mistérios causais que originam tamanho mal estar e partirmos para
uma ação transformadora de nossa vida, da nossa comunidade e
sociedade. Iniciemos dando atenção aos clamores da natureza que
ecoam pelos quatro cantos da terra: São enchentes que alagam e
arrasam grandes cidades como as de Santa Catarina, São Paulo e Rio
de Janeiro. Na Bolívia, em janeiro as enchentes atingiram mais de 22
mil famílias. Em março morreram 35 pessoas nas enchentes no
Afeganistão. Na china, região da Mongolia, foi necessário bombardear
rios congelados para que fossem evitadas inundações por causa das
fortes chuvas de março.
Só esse ano Já teve pelo menos 10 terremotos ao redor do
mundo, sem contar o terremoto ocorrido no Brasil, no Haiti, na
Venezuela e por último no México. Centenas e milhares de pessoas
foram engolidas pelo peso dos escombros e lama. E os tsunamis: Em
setembro de 2009 no sul do pacífico ondas de seis metros
devastaram vilarejos do arquipélago de Samoa, na Oceania. Clamores
da Mãe terra que já não agüenta mais tanta agressão.
Feriadão de Ano-Novo termina com 42 assassinatos no RS. Em
média, uma pessoa foi assassinada a cada cinco horas em 2008 no
Rio Grande do Sul. Foram registrados 1.641 homicídios no Estado,
ultrapassando a marca de 2007 em 4,4%, quando 1.572 vítimas
perderam a vida de forma violenta. Os números fazem parte de um
balanço divulgado no site da Secretaria da Segurança Pública. Dos 10
municípios que concentraram mais ocorrências do tipo, sete estão na
Região Metropolitana. A Capital aparece em primeiro lugar, com 406
homicídios, seguida de Viamão (83) e de Canoas (80). Clamores de
vidas ceifadas. Grande parte delas envolvidas com o sub mundo das
drogas e da violência.
Essas e tantas outras notícias são divulgadas diariamente nos
Meios de Comunicação Social. Já nos acostumamos com elas e, raras
vezes nos fazem parar para pensar na vida. Pensar nas causas disso
tudo. Nos chocamos quando elas nos atingem diretamente. Como é o
caso da heróica e santa morte de Zilda Arns, a fundadora da Pastoral
da Criança. Nos chocou pelo vínculo que nos une: fé, prática social,
prática pastoral...pelo seu exemplo de luta em favor das crianças e
idosos. Mas, talvez até esse fato seja algo do passado. Um passado
próximo, que não nos toca mais. O que dizer das mais de 100
lideranças que tombaram com ela em missão? E os milhares de
haitianos que ainda sofrem as conseqüências do terremoto! Clamores
distantes que quase não chegam até nós. E se chegam pouco nos

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comovem! E se nos comovem ficamos inertes diante da aparente
distância que nos separam.
Chegamos a um estágio tal que pequenas situações não nos
comovem mais. São necessárias grandes catástrofes para que nos
lembremos da fragilidade de nossas vidas. Da fragilidade do nosso
planeta. Que se visto de longe de qualquer outro ponto da galáxia
não passa de um ponto. Como outro ponto qualquer. Mas é nesse
ponto que nós vivemos e nos movemos. É nele que existe seres
humanos capazes de provocar estrondosas catástrofes e destruições.
São necessárias mortes como as de Isabela, estrangulada e jogada
pela janela para que nos demos conta de que crianças são
maltratadas.
De acordo com dados da Sociedade Internacional de Prevenção
ao Abuso e Negligência na Infância (Sipani), 12% das 55,6 milhões de
crianças menores de 14 anos são vítimas de alguma forma de
violência doméstica por ano no Brasil. O número corresponde a uma
média de 18 mil crianças por dia. Onde vivem essas crianças? A
impressão que se tem é de que elas não vivem no nosso Brasil. Pelo
menos não próximo às nossas comunidades, uma vez que, com raras
exceções ficamos sabendo disso através de nossa participação nas
Missas e celebrações dominicais. Tampouco através dos inúmeros
encontros de catequese que são realizados todas as semanas nas
milhares de comunidades católicas do Brasil. Clamores surdos que
não são ouvidos. E quando ouvidos não são escutados, tampouco
acolhidos.
“O Estado de São Paulo” de 23 e 24 de novembro de 1997 sobre
“abuso sexual doméstico”, traz dados e resultados de entrevistas
com pesquisadores e vitimizados. Estudos do IML de São Paulo,
presentes na reportagem, feitos por Carlos Alberto Diêgoli mostram
que das “2.043 queixas de abuso sexual feitas em 1995, 69,77%
envolvem garotas menores de 18 anos. O pesquisador, segundo a
reportagem, avalia que possam existir 17.000 casos de violência
desse tipo em São Paulo, supondo que apenas de 10 a 15% dos casos
sejam revelados.
- Dados estatísticos da Violência no Brasil:
- 70% dos incidentes de violência contra a mulher ocorreram no lar,
praticados por maridos/parceiros. 40% desses casos caracterizam-se por
lesões graves (dados do Banco Mundial).
- Violência conjugal: agressão psicológica (78,3%), abuso físico (34,4%),
sendo 12,9% graves. Inquérito realizado em 15 capitais brasileiras e no
Distrito Federal, 2002/2003. (Cad. Saúde Pública, 2006).
- Maridos e companheiros foram os responsáveis por 87% dos casos de
violência doméstica contra as mulheres no Brasil. Essa violência
começou antes dos 19 anos de idade para 35% dessas mulheres e é uma
prática de repetição para 28%. Pesquisa nacional (DataSenado - Senado
Federal, 2007 ).

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Clamores de mulheres, meninas e mães não ouvidas, tão pouco
refletidas e rezadas nas inúmeras memórias de Jesus morto e
ressuscitado praticadas todos os domingos nas inúmeras casas de
oração espalhadas pelos quatro cantos desse imenso país.
Clamores de tantas pessoas desempregadas, sem terra, sem
casa, sem saúde, sem lazer, sem o direito à educação ao lazer e ao
esporte. Precisamos de Ti Mãe Terra. Precisamos de ti mulher,
criança, homem, menino, irmão e irmã. Precisamos de ti sadia,
harmônica, cheia de vida e esperança. Não degradada, desgraçada,
nem dilacerada. Por isso precisamos fazer uma profunda avaliação de
nossas atitudes. Mudança de paradigma. Mudança de vida. Não só de
aguçar nossa percepção, mas acima de tudo de mudança de prática
humana e Cristã. Mudança de modelos. Modelos de vida. Modelos de
entendimentos e relacionamentos no ambiente intra-familiar, social e
eclesial.
Nesse 26º Intereclesial de Comunidades quem sabe seja o
momento de nos permitir olhar e analisar nossa dimensão eclesial.
Para isso trazemos uma figura que pode ilustrar nossa concepção de
Igreja. Nosso entendimento do que é ser cristão católico. Qual nosso
real compromisso com a Vida. Trata-se da figura de comunidade
construída pelos primeiros cristãos e testemunhada em Atos 2, 42-47.
Nos encontros de formação das CEBs nos anos 80 falávamos muito
das quatro pernas da mesa. A figura que ilustra bem nossa prática
cristã pode ser o “Trevo da Sorte”. Ele trás o número 4 como o
número da perfeição e da harmonia. São as 4 dimensões da Igreja: A
dimensão evangelizadora, a dimensão catequética, a dimensão da
comunhão e a dimensão litúrgica. Podemos comparar essas quatro
dimensões como as quatro folhas do trevo. Ambas tem o mesmo
tamanho. As quatro dimensões de nossa prática cristã também
deveriam ser do mesmo tamanho. As nossas comunidades cristãs
também deveriam apresentar uma forma harmônica entre as quatro
dimensões da Eclésia transmitida pelos primeiros cristãos.
Talvez, sob o ponto de vista da prática religiosa, a ausência dos
clamores da Mãe terra e os clamores de tantas crianças e mulheres
vítimas de violências esteja no modelo de vida eclesial que
aprendemos e praticamos: um modelo de vida cristã voltada para
uma ou duas das dimensões acima e quem sabe um pouco
desfocadas do Centro que as unem: JESUS. O homem de Nazaré que
se revelou o Filho de Deus da Vida, após a experiência da morte e
ressurreição.

2- JULGAR:
Estamos numa época de muita violência contra a natureza e o
ser humano. Sabemos que essa violência é fruto do modelo
econômico e político no qual estamos inseridos. Do ponto de vista
econômico o capital exige cada vez mais lucro. E a corrida
desenfreada pelo lucro não respeita a capacidade reprodutora dos
recursos naturais e nem o direito do ser humano de viver

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dignamente. Por outro lado, o sistema político vigente, nos seus
diversos níveis, não consegue direcionar a economia e a sociedade
na construção do bem comum em nível de ecologia ambiental e de
ecologia humana. A encíclica Solicitudo Rei Socialis denomina essa
postura econômica e política de pecado social e aponta duas
características do mesmo: “por um lado, a avidez exclusiva do
lucro; e, por outro lado, a sede de poder, com o objetivo de impor aos
outros a própria vontade. A cada um destes comportamentos pode
juntar-se, para os caracterizar melhor, a expressão: “a qualquer
preço” (37). Daí que muitas decisões da economia e da política, tem
como pano de fundo, “verdadeiras formas de idolatria: do dinheiro,
da ideologia, da classe e da tecnologia” (SRS 37 3):
Diante da violência contra a natureza e o ser humano promovido pelo
sistema econômico e político as CEBS tem uma missão. Ela está
fundamentada na visão divina da missão da natureza e do ser
humano. E na prática de Jesus que veio instaurar o Reino de Deus na
face da terra.
Deus criou a natureza. Ele é seu dono. E Deus criou tudo para
estar a serviço de todos os seres humanos (Gn 1, 1ss; Sl 94; Gn 9, 3).
Ao ser humano Deus deu a missão de cuidar da natureza. Esse
cuidado exige do ser humano uma relação adequada com todos os
seres criados. Todos saíram das mãos de Deus e fazem parte do
desígnio do Criador. Por isso, tudo o que foi criado carrega consigo os
vestígios do Criador. São Francisco, mais do que ninguém, entendeu
que tudo o que foi criado saiu das mãos de Deus e, por isso, chama
os seres criados de irmãos: irmão sol, irmã lua, irmão lobo, irmã
laranjeira... Nesse sentido, todos os seres que existem na terra
formam a fraternidade universal e cósmica.
Jesus recebeu de seu Pai a missão de proporcionar vida em
abundância para todos (Jo 10, 10). Nela os pobres são privilegiados (Lc
4, 14-21). A vida em abundância tem uma dimensão pessoal que inclui
a fé e a conversão (exige partilha de bens: caso de Zaqueu) ao
Evangelho (Mc 1, 15) e uma dimensão social que liberta da doença, da
fome e da exclusão social (Lc 4, 1ss; 6, 20-26; Mt 25, 41ss). Na
dimensão social está incluída também a denúncia profética de Jesus
contra a lei religiosa que não leva em conta a justiça e a misericórdia
(Mt 23, 23); contra o poder usado para dominar e explorar (Mc 10, 41-
45); contra os ricos que excluem Deus e o próximo de seu projeto de
vida pessoal e social (Mt 19, 23; 13, 22; Lc 16, 19-31).
A mensagem de Jesus sobre os bens materiais, a partir de sua
vida e de sua missão, é bem clara: eles só têm sentido, na medida em
que estiverem a serviço da vida de todos, de modo preferencial, a
serviço da vida dos pobres e excluídos.

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O ponto de partida da Igreja para indicar a correta relação do ser
humano com os bens da terra está fundamentado no princípio da
destinação universal dos bens. Ele tem sua base de sustentação na
Bíblia. Nela a terra é concebida como dom de Deus para todos. Daí
provém o princípio da destinação universal dos bens. A Igreja o
descreve da seguinte forma: “Deus destinou a terra, com tudo o que
ela contém, para o uso de todos os homens e povos, de tal modo que
os bens criados devem bastar a todos, com equidade, sob as regras da
justiça, inseparável da caridade. Por isso, deve-se atender sempre a
esta destinação universal dos bens” (GS, 69).
A partir do Projeto de Deus sobre o ser humano e sobre a natureza
a missão das comunidades ecológica e missionária acontece através
da pratica da solidariedade. Ela não deve ser entendida como "um
sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos
males sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes. Pelo
contrário, é a determinação firme de se empenhar pelo bem comum;
ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos
verdadeiramente responsáveis por todos" (SRS 38, 6). Por isso, a
solidariedade move a pessoa e os grupos a colocarem suas qualidades,
dons e competências a serviço do bem de todos. “Deus, que tem um
cuidado paternal para com todos, quis que todos os homens
formassem uma só família e se tratassem mutuamente com espírito
fraterno” (GS 24 a).
As comunidades ecológicas e missionárias tem a missão de mover
a sociedade a colocar-se a serviço da realização da dignidade humana
de todos os cidadãos. 'Portanto, a ordem social e o seu progresso
devem ordenar-se incessantemente ao bem das pessoas, pois a
organização das coisas deve subordinar-se à ordem das pessoas e não
o contrário. O próprio Senhor o insinua ao dizer que o sábado foi feito
para o homem e não o homem par o sábado'. (GS 26 c).
Por outro lado, a solidariedade impulsiona as comunidades
ecológica e missionária a cuidar e defender o Planeta Terra com tudo o
que ele contém. Todos os seres criados receberam de Deus uma
“missão” no sentido de participar ativamente na manutenção e no
equilíbrio cósmico. Por isso, há uma interdependência vital entre tudo o
que foi criado. Os seres criados cumprem sagradamente sua finalidade
no universo. Infelizmente o ser humano não está cumprindo sua
missão sagrada de cuidar dos outros seres. Agora o ser humano está
numa encruzilhada, ou cuida do Planeta Terra, ou vai perecer com ele.
As exigências práticas da solidariedade podem ser resumidas nas
seguintes ações: a) Partilha dos bens e dos serviços do poder público e
da sociedade civil com os mais fracos (SRS, 39); b) Promoção da
solidariedade entre os pobres." (SRS, 39, 3).; c) A prática da

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solidariedade como meio para alcançar a paz social " (SRS 39, 8); d)
Promoção da solidariedade internacional a serviço dos pobres (SRS,
39,4); c) Solidariedade com todos os seres criados por Deus. Eles são
nossos irmãos e, por isso, merecem toda nossa reverência e cuidado.
3- AGIR:
O trevo da sorte não tem três, nem duas e menos ainda uma só
folha. Assim também é com nossa Comunidade – Eclésia segundo os
Apóstolos (Atos 2). . Ela tem quatro dimensões: No dia de Pentecostes
todos os apóstolos se tornaram Evangelizadores, cada um alando
uma língua para que todos os povos os entendessem de seu modo. É
a dimensão Evangelizadora. Além de evangelizar as multidões, faziam
pequenas comunidades onde aconteciam os ensinamentos dos
apóstolos- dimensão Catequética; a Comunhão fraterna- Dimensão
social e ambiental e a Fração do pão e orações- Dimensão Litúrgica-.
E a nossa comunidade quantas dimensões tem? De onde partimos?
Da Evangelização ou vamos direto para o banquete? Evangelizamos
ou só ficamos ao redor da mesa? Quantas folhas tem nosso trevo -
Eclésia lá onde eu vivo? Sou cristão de quantas dimensões: de uma
só dimensão? A litúrgica. Nos contentamos com as missas dominicais.
De duas dimensões? Quem sabe a dimensão litúrgica e a catequética.
Fiz uma boa catequese e vou à missa aos domingos. E oferecemos
apenas isso aos demais cristãos. Ou quem sabe possamos ter três
dimensões: assumimos também a dimensão de comunhão: a do
compromisso com a sociedade e a natureza. Bom seria sermos
cristãos e termos uma Igreja comunidade de quatro dimensões:
assumirmos também o desafio missionário e evangelizador. Sendo
assim verdadeiros testemunhas da Igreja de Cristo e dos Apóstolos.
Fica o desafio de nosso tema: CEBs: Comunidades Ecológicas e
Missionárias.
Guaíba, pentecostes de 2010
Autores: Egídio Fiorotti e Frei Flávio Guerra

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