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e na igreja
Num sentido mais amplo, o humanismo é uma atitude filosófica que se caracteriza
por considerar os seres humanos e tudo que a eles diz respeito - pensamentos,
aspirações, empreendimentos - de um valor único e especial; e por esta razão,
sublinha também o valor do indivíduo. Existe portanto um humanismo cristão, que
valoriza o ser humano acima de todas as demais criaturas ou objectos, como
criação especial de Deus, feito à Sua imagem e semelhança e designado como
mordomo da Sua criação.
Humanismo secular
Apesar das profundas raízes bíblicas do humanismo europeu, a partir do século XIX
os filósofos e ideólogos do marxismo deturparam o termo "humanismo" ao reservá-
lo para expressar uma perspectiva do valor humano independente de Deus e de
facto hostil a toda a consideração teológica. Com isto se preparou o caminho para o
que hoje se denomina "humanismo secular".
1. Deus não existe. Somente existe o universo material que, de uma ou outra
forma, é eterno, não criado, já que não há tal Criador. A realidade final é a matéria
e a energia.
O humanismo secular propõe respostas para muitas perguntas, mas nem todas elas
são adequadas. No campo científico, onde o naturalismo predominou no último
século, as grandes perguntas sobre a origem do universo e da vida ainda aguardam
uma resposta satisfatória; as numerosas hipóteses propostas, muitas contraditórias
entre si, carecem de consenso mesmo entre os próprios humanistas seculares. Eles
chegaram à triste conclusão que a Verdade, assim com maiúsculas, não existe.
Um problema mais prático é o da base ética das relações humanas. A maioria dos
humanistas seculares, como o professor Kurtz, a quem tive o gosto de conhecer em
1995, são pessoas decentes e rectas. Contudo, a sua ideologia não provê base
alguma para uma moral de aplicação geral. As normas morais são, em sua opinião,
simplesmente o resultado de um consenso social, já que o que está bem ou mal
numa sociedade é um assunto relativo. Não existe tal coisa como o bem e o mal; é
bom o que a sociedade determina como tal, e mau o contrário. Não há uma norma
objectiva.
Em tal caso, cabe perguntar-se que fazer com os que discordam das normas
aceites, já que estes dissidentes são tão humanos como o resto. Até que ponto
pode, em ausência de uma norma objectiva, afirmar-se que o abuso infantil, a
mentira, o roubo ou o assassinato são maus? É lícito, desde o ponto de vista do
humanista secular, castigar os que pensam diferente?
Também não existe uma base real para o valor único de cada existência individual.
A singularidade do homem é qualitativamente similar à de uma bactéria, uma
barata ou um golfinho. Cada ser humano é único, mas não como uma criação
especial de Deus, mas como uma combinação mais ou menos ao azar de
determinada dotação genética e circunstâncias. E esta combinação desaparece com
a morte, sem deixar outro rasto, também transitório, que não seja a lembrança das
suas acções.
Influência na sociedade
O humanismo secular sempre foi uma ideologia minoritária. A maioria das pessoas
não aceita todas as suas crenças tal como foram expostas mais acima. Talvez a
noção mais rejeitada seja que a morte é a terminação definitiva da existência
pessoal. Contudo, embora as crenças centrais do humanismo secular careçam de
popularidade, paradoxalmente algumas dos corolários práticos desta ideologia
acharam eco nos média e exercem grande influência na sociedade.
3. Relativismo moral. "O que é verdade para ti não necessariamente o é para mim".
Em outras palavras, cada um deve determinar por si mesmo o que está bem e o
que está mal; mas além disso podem existir tantas definições do bem e do mal
como pessoas que existem, e sem uma norma objectiva nenhuma destas definições
é melhor do que as outras. Se esta posição se adoptasse até ao seu extremo lógico,
seria impossível a vida em sociedade. No estado actual, esta forma de pensar
justifica inumeráveis acções imorais desde o ponto de vista bíblico.
Penetração na Igreja
Este cancro que corrói a sociedade e a extravia também não deixou intacta a
Igreja. Como a Igreja está inserida na sociedade, é ingénuo esperar que fosse
completamente alheia às influências do naturalismo em geral e do humanismo
secular em particular. Além dos aspectos já assinalados a propósito da sociedade,
convém especificar alguns pontos que afectam especialmente a Igreja.
Um deles é a proliferação de livros e seminários, baseados em duvidosas teorias
psicológicas, para melhorar a auto-estima e promover o bem-estar por meios
principal ou exclusivamente psicológicos. Estas atractivas propostas para o
"desenvolvimento pessoal" rara vez se analisam seriamente à luz das Escrituras,
como faziam os cristãos de Bereia com os ensinamentos dos apóstolos (Actos
17:11). Em vez disso, se as aceita com entusiasmo e se as segue por um tempo,
até que aparecem outras mais novas que por sua vez se põem de moda. Em
contraste com estas técnicas que vão e vêm, a Palavra de Deus permanece para
sempre.
Como cristãos, faremos bem em seguir o conselho do Senhor de ser simples como
pombas, mas prudentes como serpentes. A nossa sociedade moderna é uma fonte
constante de confusão, de "filosofias e vãs subtilezas, segundo a tradição dos
homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo" (Col. 2:8).
Contudo, também é o campo ao qual o Senhor nos mandou ceifar.
Fernando D. Saraví
Bibliografia
Feldmeth, N.P. Humanism. Em S.B. Ferguson, D.F. Wright y J.I. Packer [Eds.], New
Dictionary of Theology (Downers Grove: InterVarsity Press, 1988, p. 322).
Koop, C. Everett; Schaeffer, Francis. ¿Qué le pasó a la raza humana? Miami: Vida,
1989.
Kurtz, Paul: The trascendental temptation. A critique of religion and the paranormal
(Buffalo: Prometheus Books, 1991)
McDowell, Josh: A ready defense (San Bernardino: Here´s Life Publishers, 1992).
Sire, James W. The universe next door . A basic worldview catalog, 2nd Ed.
(Downers Grove: InterVarsity Press, 1988).