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3. O valor arbitrado a título de dano moral deve ser justo e proporcional ao dano moral
sofrido.
RELATÓRIO
Alega o autor que está vinculado a ré mediante contrato de prestação de serviço de telefonia
móvel nº 9975-6033. Em janeiro de 2005, sem motivo algum, o telefone foi bloqueado, como
se o autor estivesse inadimplente. Em contato com a ré foi informado que não constava
pagamento da fatura vencida no dia 7 de novembro de 2004, referente ao mês de outubro. O
autor enviou cópia das faturas pagas, mas sua linha permaneceu com gravação de que o
número chamado estava programado para não receber chamadas.
Em decorrência do evento alega que passou por constrangimentos e deixou de realizar vendas
aos seus clientes, uma vez que o rendimento de sua empresa decaiu no mês de janeiro de
2005. Busca a concessão da tutela antecipada para determinar a ligação imediata da linha, sob
pena de aplicação de multa diária; a inversão do ônus da prova; a condenação ao pagamento
de indenização por danos morais; lucros cessantes; o pagamento em dobro do valor da fatura
indevidamente cobrada; custas e honorários advocatícios.
A liminar foi deferida para determinar o imediato restabelecimento dos serviços, cominando
multa de R$ 500,00 por dia de atraso. Foi desde logo anunciada a inversão do ônus da prova
(fl. 52).
A linha do autor é de tecnologia GSM, mas foi paga em estabelecimento que não havia
convênio para receber este tipo de fatura. Afirma que até a data do ajuizamento desta
demanda aguarda a prova do pagamento da fatura, que não foi enviada pelo cliente. Destaca a
ausência do dever de indenizar em face da inexistência dos requisitos da responsabilidade civil.
Impugna o pedido de repetição do indébito e do dano moral, ressaltando a impossibilidade da
inversão do ônus da prova e do cumprimento da tutela.
Nas contra razões a apelada busca o não conhecimento do recurso por intempestividade. No
mérito pugna pelo não provimento das razões.
VOTO
"Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviço
como destinatário final".
Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada nacional ou estrangeira,
bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem,
criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização
de produtos ou prestação de serviços.
(...)
§ 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista."
No caso, a condição de consumidor final, ficou por demais evidenciada, quando a sentença
recorrida afastou o lucro cessante. Na inicial, alegou o autor que o telefone era utilizado para
fazer contato com os clientes de sua empresa. Na falta do telefone houve a interrupção no
contato com os clientes. O juiz, todavia, entendeu que o telefone não era utilizado na
empresa. Com esse argumento afastou o lucro cessante. Via inversa, ficou patente que o
telefone não tinha finalidade comercial. Daí ser o autor consumidor final.
A apelante não nega o bloqueio da linha celular de FLORI, mas defende-se alegando que o
pagamento foi efetuado em local não autorizado para o recebimento de faturas
correspondente à tecnologia GSM (fl. 69). Também confirma que a Lotérica Interchange, onde
foi efetuado o pagamento, é conveniada e está apta ao recebimento dos valores
correspondentes aos telefones com tecnologia TSMA, mas não os GSM - tecnologia do
aparelho do apelado.
Ocorre que a lotérica aceitou a pagamento, gerando ao cliente a expectativa de que a conta
estava paga. As falhas posteriores na identificação do documento não podem ser imputadas
ao consumidor. A relação entre a TIM e a lotérica - que era devidamente conveniada - são de
responsabilidade da apelante, decorrente da culpa in eligendo.
O art. 932, inciso III, com o art. 933 do Código Civil preceituam:
(...)
A parte mais fraca desta relação de consumo não pode ser prejudicada pela ausência de
quitação de uma fatura que foi paga e aceita em local autorizado pela TIM. Se este local era ou
não autorizado ao recebimento da tecnologia correspondente ao aparelho do apelado era de
responsabilidade de quem o recebeu. Quando aceitou o pagamento presume-se que não
houve a quitação, não remanescendo qualquer responsabilidade ou obrigação ao consumidor.
Também comprova-se que o serviço foi bloqueado totalmente pela falta de pagamento da
fatura de outubro de 2004, conforme correspondência enviada a FLORI OLIVEIRA em 23 de
janeiro de 2005 (fl. 38). A falha decorrente do recebimento da fatura pela lotérica, de
tecnologia diversa do aparelho do autor, não se mostra suficiente para afastar a
responsabilidade da apelante. Tal fato, evidente, que gera o dano moral passível de reparação,
nos termos do art. 927 do Código Civil.
"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo".
Ressalte-se que independe de comprovação de forma efetiva da ofensa ao dano moral, já que
o ato culposo resultou conseqüências evidentes, correspondente ao bloqueio total dos
serviços pela falta de pagamento, quando a fatura reclamada havia sido corretamente paga
pela parte lesada. Para o colendo Superior Tribunal de Justiça, esse fato independe da
demonstração de efetivo prejuízo:
"Dispensa-se a prova de prejuízo para demonstrar a ofensa ao moral humano, já que o dano
moral, tido como lesão à personalidade, ao âmago e à honra da pessoa, por vezes é de difícil
constatação, haja vista os reflexos atingirem parte muito própria do indivíduo - o seu interior".
(REsp. nº 85.019-RJ, 4ª Turma, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU 18.12.98, p. 358).
Também o Código de Defesa do Consumidor, no artigo 6º, inciso VI, inclui entre os direitos
básicos do consumidor "a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos".
Portanto, verificado o evento danoso, surge a necessidade da reparação, não havendo que se
cogitar da prova do prejuízo, uma vez que se encontram presentes os pressupostos legais para
que haja a responsabilidade civil.
A apreciação do valor devido a título de dano moral tem caráter subjetivo. A sua fixação fica
sujeita ao arbítrio do julgador, que deverá avaliar e sopesar a necessidade de quem os postula,
e a possibilidade de quem os pagará, não devendo ser exagerada, de forma a proporcionar
enriquecimento ilícito.
Analisa-se a repercussão que o fato gerou; a situação econômica das partes e os prejuízos
suportados. Não há critério científico a ser seguido para fixação do valor da indenização por
danos morais, apenas deverá ser arbitrado um valor que repare o autor pelo dano causado,
para que a conversão da ofensa moral ocorra em compensação pecuniária e desestímulo.
A apelante possui condições financeiras para reparar o dano sofrido pela parte lesada. Tal fato,
porém, não deve ser considerado de forma isolada, mas com fundamento nas demais
situações do caso examinado. Deve ser considerado, também, que os serviços foram
totalmente bloqueados depois de o autor já haver comunicado o pagamento da fatura (fl. 18).
RUI STOCO ensina: "tratando-se de dano moral, nas hipóteses em que a lei não estabelece os
critérios de reparação, impõe-se, obediência ao que podemos chamar de "binômio do
equilíbrio", de sorte que a compensação pela ofensa irrogada não deve ser fonte de
enriquecimento para quem recebe, nem causa da ruína para quem dá. Mas também não pode
ser tão apequenada, que não sirva de desestímulo ao ofensor, ou tão insignificante que não
compense e satisfaça o ofendido, nem o console e contribua para a superação do agravo
recebido". (Tratado de Responsabilidade Civil, 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.
1709).
Acrescenta: "Assim, tal paga em dinheiro deve representar para a vítima uma satisfação,
igualmente moral, ou seja, psicológica, capaz de neutralizar ou "anestesiar" em alguma parte o
sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para
proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que tampouco signifique um
enriquecimento sem causa da vítima, mas está também em produzir no causador do mal
impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado". (op. cit. p. 1683).
Assim, analisando os requisitos acima descritos, a quantia fixada na r. sentença foi arbitrada de
com razoabilidade não merecendo redução.
Quanto à fixação do termo inicial dos juros o recurso não merece provimento.
A incidência dos juros justifica-se desde a data do fato que gerou o dano, pois, nas ações de
indenização por ato ilícito extracontratual são devidos a partir da data do evento danoso,
quando se constitui em mora o devedor pelo descumprimento de uma obrigação. Essa
questão está pacificada pela Súmula 54 do Superior Tribunal de Justiça, verbis:
Valendo-se de brilhante síntese de SERPA LOPES, CAIO MÁRIO apresenta rol que determina o
início da fluência dos juros, nos seguintes termos: "... d) se a obrigação provém de um delito,
os juros são devidos desde quando foi perpetrado, porque a lei considera automática a
incidência da mora". (Instituições de Direito Civil. Vol. II. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981,
p. 115).
Quanto à correção monetária o recurso merece provimento para aplicá-la a partir da data da
fixação do valor da indenização por danos morais.
Assim, condeno as partes ao pagamento das custas processuais que fixo na proporção de 70%
ao autor e 40% à ré, ora apelante. Ainda, condeno o autor ao pagamento dos honorários
advocatícios arbitrados no valor de R$ 1.500,00, com fundamento no §4º do art. 20 do Código
de Processo Civil e condeno a ré ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 15%
sobre o valor da condenação, com fundamento no §3º do art. 20 do Código de Processo Civil.
Nesse sentido:
"Cada parte deve suportar a verba advocatícia na proporção de sua derrota, bem como
recebê-la na medida de sua vitória".(...) "Afirmando o julgado que um dos litigantes foi vencido
em parcela menor que a outra, mas não que houvesse decaído em parte mínima, a ele
também deve ser imposta condenação em honorários, proporcionalmente à sua sucumbência,
procedendo-se a compensação" (THEOTONIO NEGRÃO Código de Processo Civil, 34ªed., São
Paulo: Saraiva, 2002, art. 21, nota 21:1a, p. 135).
"(...) II. Quando ocorrer sucumbência parcial na ação, impõem-se a distribuição e compensação
de forma recíproca e proporcional dos honorários advocatícios, nos termos do art. 21, caput,
da lei processual". (STJ - AgRg no REsp 828276 / MS - QUARTA TURMA - Rel. Ministro ALDIR
PASSARINHO JUNIOR - DJ 21.08.2006).
Ante ao exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de Apelação Cível
interposto pela TIM SUL S/A para fixar o termo inicial da correção monetária desde a data do
arbítrio do valor da indenização e distribuir de forma proporcional as verbas de sucumbências,
conforme fundamentação acima consignada.
NILSON MIZUTA
Relator