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A privatização da cidadania

(*) Adeildo Vila Nova

Introdução

O objetivo deste trabalho é tentar detectar os problemas e ou fenômenos que


influenciam ou prejudicam a atividade pública do cidadão brasileiro. Para isto, foram
analisados alguns artigos e livros de pensadores, filósofos, sociólogos e psicólogos que tratam
da questão dos espaços públicos e dos espaços privados. A intenção desta produção é mostrar
como o conceito de público e privado tem sofrido modificações ao longo dos tempos, através
do processo sócio-histórico e político-econômico, tanto na esfera teórica quanto na esfera
prática e mostrar alguns fatores que contribuíram para estas transformações que levaram ao
declínio da vida pública. São apresentados ainda, dois exemplos tanto de organismos públicos
como de organismos privados, objetivando a ilustração das considerações aqui apresentadas.

Desenvolvimento

A relação entre o público e o privado, considerando a sociedade contemporânea,


difere significativamente da sociedade antiga, especificamente do século VXII e está
diretamente relacionado ao surgimento das cidades. A diferença entre o espaço público e o
espaço privado na sociedade antiga, diferentemente da sociedade contemporânea, era
perfeitamente identificável. O contato com o espaço público não expunha a personalidade e
nem a intimidade do cidadão, esta relação era equilibrada. Enquanto uma estava relacionada à
vida com os amigos e familiares, com afinidades e identificações que lhes proporcionava esta
vida privada, a outra nos remetia à convivência com o outro e suas diferenças. Com o
surgimento das cidades, onde as pessoas do campo começaram a migrar para as áreas urbanas
em busca de novas oportunidades, fenômeno percebido e acentuado com o advento da
revolução industrial que, de acordo com Louis Wirth:

Essa mudança de uma sociedade rural para uma predominantemente urbana que se
verificou no espaço de tempo de uma só geração em áreas industrializadas foi acompanhada
por alterações profundas e em praticamente todas as fases da vida social. (Wirth apud Velho,
1976, p. 91).

A partir de todas estas transformações das relações sociais estabelecidas neste


período, o homem começou a ter contato com estranhos e, automaticamente, com suas
diferenças fazendo com que este homem passasse a exercer um papel social atuando de
acordo com um código que é aceito por todos e definido por meio desta relação estabelecida.
A partir daí, a vida urbana começa a ser enfraquecida, ocasionando o declínio da vida pública
que, segundo Sennet:

“... foram mudanças ocasionadas pelo capitalismo no comércio de produtos, com a


homogeneização dos produtos através da Revolução Industrial, além de uma produção em
massa que transformou significativamente as relações entre o indivíduo que compra e o
indivíduo que vende”. (Sennet apud Souza, 2003).

Esta relação de comércio faz parte do processo de formação das cidades que deveriam
ser funcionais, permitir aos indivíduos o acesso às mercadorias, conforme Weber:

É normal que a cidade tão logo se apresente com uma estrutura d iferente do campo,
seja por ser sede de um senhor, ou de um príncipe, e lugar de mercado, ou possua centros
econômicos de ambas as espécies – oikos e mercado – e também é freqüente que tenham lugar
periodicamente na localidade, além do mercado local regular, feiras de comerciantes em
trânsito. Porém a cidade – no sentido que usamos o vocábulo aqui – é um estabelecimento de
mercado. (Weber apud Velho, 1976, p. 70).

Neste processo, com uma classe burguesa dominante orientando e dirigindo


econômica e politicamente o Estado, surgem as privatizações, processo pelo qual os
organismos antes estatais, públicos passam a ser privados, a ter um dono. São as idéias liberais
e que culminou no neoliberalismo, com a atuação mínima do Estado. O que era público e,
teoricamente, do povo e que o cidadão teria acesso irrestrito passou a ter um proprietário, um
dono que estabelece critérios para a utilização dos serviços, o critério financeiro, ou seja, se
você pode pagar pelo serviço tem acesso ao mesmo. Os serviços públicos que o Estado tem,
por obrigação oferecê-los aos cidadãos, agora passam a ser cobrados pelos seus donos.
Serviços sociais básicos como os de saúde, educação, segurança, moradia, esportes, lazer entre
outros que deveriam ficar na esfera pública agora tendem, cada vez mais, a serem
privatizados.

Destaca-se para análise neste trabalho, os serviços de educação e segurança públicos,


especificamente escolas privadas e serviços de segurança privados. Com a ausência do Estado
ou sua participação mínima, como indica o pensamento neoliberal, orientação político-
econômica vigente no Brasil, é cada vez mais crescente o surgimento de escolas privadas e de
empresas de prestação de serviços de segurança privada. Estes serviços não são acessados
pela maioria da população brasileira que é pobre, ou seja, o acesso só é efetivado através de
uma transação comercial que é estabelecida entre o prestador do serviço, o vendedor do
serviço e o consumidor, aquele que compra, que é o brasileiro pertencente a uma classe
privilegiada, mais abastada financeiramente. A grande massa da população brasileira fica à
margem desta sociedade que pode pagar pelos serviços que deveriam ser, a princípio,
disponibilizados aos cidadãos para que o acesso seja irrestrito e universal, onde todos
pudessem usufruir dos seus direitos e assim exercer de fato a sua cidadania plena que, pelo
quadro apresentado, esta também acaba sendo privatizada, à medida que é preciso pagar para
garantir o acesso aos serviços essenciais básicos.

A participação mínima do Estado delega a terceiros uma obrigação que deveria ser
exercida pelo mesmo. Quando o Estado deixa de atender às demandas da população abre
espaço para que outros agentes atuem neste espaço. Daí o surgimento de alguns fenômenos
como a violência, bem como de empresas interessadas na obtenção de lucros e acúmulo de
capital que se aproveitam desta situação para suprir estas necessidades ou deficiências do
Estado. É neste espaço que entram as empresas privadas que cobram um preço muito alto da
população: as diversas formas de desigualdades provocadas por este processo e que tendem a
aumentar, cada vez mais.

Conclusão

Percebe-se que as desigualdades no país não estão relacionadas apenas a má


distribuição de renda, mas também as dificuldades de acesso da população aos bens e serviços
que deveriam ser disponibilizados aos cidadãos. É claro que se uma pessoa não tiver acesso a
uma educação de qualidade na sua base de formação e nos anos posteriores, isso se refletirá
na sua vida adulta quando for em busca de um emprego. Sem uma boa formação, o máximo
que conseguirá será um subemprego. Logo seu salário será baixo e sua qualidade de vida será
muito aquém do desejável. Esta situação se prolongará pelas gerações futuras. Da mesma
forma acontece com a questão da segurança pública no nosso país. Sem a atuação ou atuação
mínima do Estado, outros agentes assumem o comando e começam a surgir os poderes
paralelos, que funcionam como uma empresa privada como, por exemplo, as milícias entre
outros, que cobram para garantir a segurança e outros serviços que os moradores de
determinadas regiões quiserem contratar. Surgem principalmente nos locais onde está
concentrada a maior parte da população, nas periferias. Nestes locais a omissão do Estado
acentua cada vez mais a distância dos cidadãos residentes nestes locais. Isso leva insegurança,
descrédito com os poderes constituídos e não colabora, em nada, com o desenvolvimento das
pessoas. Por causa desta situação, as pessoas acabam deixando de fazer as suas atividades,
sua vida social fica limitada ao que determina estes poderes paralelos que mandam e
desmandam, definem as regras de convivência do local além de expor as pessoas a situações
de perigo e constrangimento.

É preciso maiores investimentos na escola e na segurança públicas e em todo s os


serviços que devem ser disponibilizados pelo Estado, para que a população não precise
recorrer aos serviços privados, ou o que é pior, serem vítimas de pessoas desonestas e
criminosas, que se utilizam da situação de fragilidade, descaso e ausência de proteção em que
se encontram estas pessoas para extorquir e explorar esses cidadãos, que já são tão
prejudicados por uma linha político-ideológica que acentua, cada vez mais, as desigualdades
entre os povos e que transformam, de maneira cruel, as relações sociais estabelecidas na
sociedade, fazendo com que as pessoas, cada vez mais, valorizem o individualismo em
detrimento dos valores coletivos. Valores estes tão importantes para a conquista de direitos e
de representatividade política e social. Este é um desafio do Estado, mas que deve ter o
comprometimento de toda sociedade. É claro que isto não é fácil conseguir realizar esta
mudança, não acontece da noite para o dia, mas é preciso ter isto como meta principal, não
abandonar jamais esta idéia, este objetivo. Tem que ser uma via de mão dupla. Onde cada um
seja responsável por uma parte. O Estado disponibiliza os serviços e cria mecanismos e regras
para que o acesso seja irrestrito e universal ao mesmo tempo em que a sociedade se
compromete a zelar pelos serviços e equipamentos, fazer o seu controle e definir as
prioridades, com a consciência de que o serviço é público, ou seja, do povo, e que por isso
deve ser preservado, e não privado, com um proprietário que diz quais as regras que serão
definidas para garantia do acesso aos serviços. Desta forma, a sociedade em conjunto, em
comunidade, criará meios e mecanismos de garantir que seus direitos sejam respeitados.
Assim, a cidadania plena tão sonhada não será apenas uma quimera, um sonho, muito
menos um produto de mercado, mas fará parte da sua vida, da sua realidade. O público será
de fato do e para o povo. E a sociedade será a primeira a beneficiar-se destas ações que ela
mesma definiu como as suas prioridades de atendimento.

Referências bibliográficas

VELHO, Olávio Guilherme (organizador), O fenômeno urbano. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1976, 133.
SENNETT, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988, p. 15-45, p. 381-415.

Bibliografia

ARAÚJO, Ângela Lúcia de. Privado e público: inovação espacial ou social?, Disponivel em: .
Acesso em: 30 Mai. 2008.
DUPAS, Gilberto. Tensões contemporâneas entre público e privado, Disponivel em: . Acesso
em: 30 Mai. 2008.
SOUSA, Emanuel Silva de. Resenha , Sennett, Richard. O declínio do homem público: as
tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe — São Paulo; Companhia das Letras,
1988. Disponivel em: . Acesso em: 5 Jun. 2008.
SOUZA, Mériti de. Leituras sobre o público, o privado e o sujeito da ação configurado pela
identidade individualizada, Disponivel em: . Acesso em: 30 Mai. 2008.

(*)Adeildo Vila Nova é diretor da Associação Cultural dos Afro-Descendentes da Baixada Santista –
AFROSAN e aluno do curso de Serviço Social do Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE

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