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Poesias de Amor
O amor, quando se revela,
No se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas no lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
No sabe o que h de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a esto a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica s, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que no lhe ouso contar,
J no terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que j no
A dor que j me no di
A antiga e errnea f
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
S porque foi, e voou
E hoje j outro dia.
Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que sem ar
De olhar a valer.
E s me no cansa
O que a brisa me traz
De sbita mudana
No que nada me faz.
O poeta um fingidor.
Finge to completamente
Que chega a fingir que dor
A dor que deveras sente.
Escrever esquecer. A literatura a maneira mais
agradvel de ignorar a vida. A msica embala, as
artes visuais animam, as artes vivas (como a dana
e a arte de representar) entretm. A primeira,
porm, afasta-se da vida por fazer dela um sono;
as segundas, contudo, no se afastam da vida umas porque usam de frmulas visveis e portanto
vitais, outras porque vivem da mesma vida
humana.
No o caso da literatura. Essa simula a vida.
Um romance uma histria do que nunca foi e um
drama um romance dado sem narrativa. Um
poema a expresso de ideias ou de sentimentos em
linguagem que ningum emprega, pois que ningum
fala em verso.