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COMUNICAÇÃO SOCIAL
JORNALISMO
IMPRENSA BRASILEIRA
História e crítica do nosso jornalismo
SÃO PAULO
2006
Presidente da Fundação de Rotarianos de São Paulo
Dr. Eduardo de Barros Pimentel
Diretor Acadêmico
Prof. Dr. Edman Altheman
Orientação
Profa. Clara Corrêa
Co-orientação
Profa. Márcia Mello Costa de Liberal
CDD 302.23
RAFAEL ANTONIO DE OLIVEIRA MEIRELES
IMPRENSA BRASILEIRA
História e crítica do nosso jornalismo
Aprovado em ____/____/______
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof. Clara Corrêa – Orientador
Especialista em Comunicação e Marketing
_________________________________________________________
Prof. Maria Alice Carnevalli
Doutora em Ciências da Comunicação
_________________________________________________________
Prof. Livre-Docente José Coelho Sobrinho
Doutor em Ciências da Comunicação
São Paulo
2006
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[...]
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A Deus, “porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos”.
s
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À Marta Melo, que além de me dar a luz da vida, deu-me a luz do conhecimento;
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atravessando minha voz com toda sabedoria que este ser iluminado acumulou e
continua a acumular.
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Ao meu pai, por permitir minha exclusiva dedicação aos estudos.
ira
A este trabalho, por reformular minha linha de raciocínio tornando-me novamente
ive
uma criança inserida nas revelações para as quais despertei.
Ol
A Clara Corrêa, pelo conhecimento que me emprestou para a execução deste
trabalho.
de
E às Faculdades Integradas Rio Branco, por ter-me aberto as portas para um novo
caminho acadêmico.
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RESUMO
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expandir-se. Para tal, necessitou vender-se a anúncios publicitários. Através da
análise do discurso jornalístico, percebemos que houve uma mudança ideológica no
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percurso do jornal ao longo do tempo; de assujeitada à vontade lusitana, passou a
assujeitada à vontade do mercado. Além disso sofreu dois grandes confrontos. O
M
primeiro, em 1950, quando o rádio e a televisão introduziram a Cultura de Massa no
Brasil. O segundo, em 1990, com a chegada da internet. Em virtude da
ira
instantaneidade da produção de notícias, estas mídias precisaram e precisam do
jornal para se legitimarem, pois este é um veículo historicamente importante, digno
ive
de credibilidade e sustentáculo da democracia, que mesmo assujeitado, ainda exerce
o papel de mediador entre a população, o Estado e o terceiro setor.
Ol
Palavras-chave: imprensa-Brasil; comunicação de massa; publicidade.
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ABSTRACT
The Brazilian press was born in 1808, submitted to the wills of the Portuguese Court.
With the Revolução do Porto (Portuguese Port Revolution) in 1820, it found the
s
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possibility of expand itself. For that, it had to sell itself to the publicitary announcers.
By utilizing the order of things we can realize an ideological chance in the path of
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the press through time; from de the position of submission to the Portuguese will to
the submission to the market will. Besides that, it has suffered two great confronts.
M
The first, in 1950, when the radio e the television introduced the Mass Culture in
Brazil. The second, in 1990, with the arrival of internet. Because of the instantly
ira
news production, these medias needed and need the journal for legitimate
themselves, for this is a vehicle historically important, with credibility and an import
ive
democracy base, that, even though submitted, still had it role as a mediator among
the population, the State and the Third Sector.
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Keywords: Brazilian press; mass communication; publicity.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................ 09
1 O JORNAL IMPRESSO............................................................................. 11
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1.1 AS VÁRIAS FASES DA MESMA HISTÓRIA........................................... 14
1.2 EM MEMÓRIA DOS QUE FORAM CALADOS........................................ 20
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
2 AS VOZES DA IMPRENSA....................................................................... 24
2.1 O DIÁLOGO COM O LEITOR.................................................................... 24
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2.2 UMA BUSCA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO............................... 28
3 JORNAL: UM CATÁLOGO DE PUBLICIDADE.................................. 34
ira
3.1 UM POUCO DE PAPEL............................................................................... 35
3.2 A PUBLICIDADE, E POR TRÁS, A NOTÍCIA.......................................... 38
4
4.1
ive
PARA QUE JORNAL?............................................................................... 45
PODER, LEGITIMAÇÃO E INFORMAÇÃO............................................. 45
Ol
4.1.1 ANÁLISE DE DISCURSO........................................................................... 46
4.2 UM VEÍCULO DE CREDIBILIDADE........................................................ 48
de
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 51
REFERÊNCIAS........................................................................................... 53
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INTRODUÇÃO
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da internet, mídia responsável por um outro tipo de jornalismo, ou seja, pelo
jornalismo interativo, instantâneo e descentralizado.
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Diante disso, podemos inferir dois destinos para o jornal: 1º) o jornalismo
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impresso se extinguirá em duas décadas, mais ou menos, vítima da competição
desestruturada com mídias inovadoras; 2º) as mídias modernas não deterão a mesma
ira
credibilidade do jornal impresso em função do abuso da instantaneidade, sem o
incremento do gênero interpretativo dos fatos.
ive
Ao longo de alguns anos como estudante de jornalismo, mais interessado na
Ol
área acadêmica que envolve o curso, constatamos que há um excesso de publicações
que tratam da morte da imprensa e outras tantas que defendem uma perenidade. Se
formos pensar, cotejando os dois destinos possíveis da imprensa, podemos dizer que
de
o jornal já está legitimado pela própria história e como tal jamais perderá o seu
público, muito menos a própria credibilidade. Quanto à credibilidade das mídias
nio
notícias. E mesmo nos blogs de jornalistas conhecidos, que fazem uso do gênero
interpretativo dos fatos, existe um descompromisso com a verdade.
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Os pressupostos teóricos que sustentam todo o trabalho estão distribuídos em
quatro capítulos.
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O primeiro capítulo, sob o título Jornal impresso, aborda a história do jornal
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no Brasil nas diversas fases atribuídas por Bahia, Marcondes Filho, Novelli e Sodré,
além de refletir sobre a cultura do silêncio, imposta pela ditadura, como exemplo
ira
para lutarmos pela liberdade de expressão.
como tal, enquanto houver quem por ele pague e obtenha lucro.
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A imprensa oficial no Brasil foi instalada na casa de Antônio de Araújo2,
futuro conde da Barca3 (SODRÉ 1999, p. 19), ou seja, nossos periódicos tiveram
de
que houvesse civilização no Brasil. Desejando colocar essa colônia atada ao seu
domínio, não queria arrancá-la das trevas da ignorância”.
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1
Brasil rotário on-line. Disponível em : http://www2.brasil-rotario.com.br/revista/materias/rev922/
e922_p18.html. Acessado em 2 de outubro de 2006.
2
“Um ato do Príncipe Regente inaugura a Impressão Régia, com dois prelos e 28 volumes de material
tipográfico que Antônio de Araújo, [...] Secretário de Estrangeiros e da Guerra, trouxe de Portugal no
navio Medusa. Antecessora da Imprensa Oficial, a gráfica que funcionava na Rua do Passeio, 44, no
Centro do Rio, tinha a finalidade de imprimir com exclusividade os atos normativos e
administrativos” (BARBOSA, 2004, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).
3
“Conde da Barca foi um título criado por D. Maria I, por decreto de 27 de dezembro de 1815 a favor
de António de Araújo e Azevedo, um importante político da época do Reinado de Dom João VI no
Brasil” Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_da_Barca. Acessado em 2 de outubro de
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dogmas católicos. Perante essas restrições, a religião era o único assunto amplamente
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difundido e incontestável.
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Tal era a importância da Igreja que o primeiro livro publicado por Gutenberg5
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foi a Bíblia. E no que foi possível à reprodução de obras, ou seja, de conhecimento e
cultura, a Igreja instituiu juntamente com o Estado, em Portugal, “três censuras: a
ira
Episcopal, ou do Ordinário, a da Inquisição, e a Régia, exercida pelo Desembargo do
Paço, desde 1576, cuja superioridade firmava-se nas Ordenações Filipinas, que
ive
proibiam a impressão de qualquer obra ‘sem primeiro ser vista e examinada pelos
desembargadores do Paço, depois de vista e aprovada pelos oficiais do Santo Oficio
Ol
da Inquisição’”. A partir de 1624, os livros dependiam de autoridades reconhecida
pelo Estado para serem impressos, o que incluía a Igreja, e da Cúria romana para
de
[...], apesar de lhe terem dado singular desenvolvimento, na área metropolitana [...],
não se empenharam em trazer ao seu novo domínio americano a arte tipográfica”
lA
que as pessoas deveriam se contentar com o que têm em vida, pois os males só terão
cura no reino do céu.
Ra
4
RIBEIRO, 1995, p.30 – 43
5
Em 1450, Gutenberg se propõe a imprimir a Bíblia com um empréstimo de 800 florins de João Füst
e Pedro Schaeffer. Gutenberg precisou de mais dinheiro emprestado. Como garantia, a penhora da
própria oficina. Em 1455, Füst executa o crédito; Gutenberg sem como saldar a dívida, perde a oficina
sem terminar o serviço. Füst e Schaeffer, em 1456, imprimem a “Bíblia de 42 linhas”. (Fundação
Museu da Tecnologia de São Paulo Disponível, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).
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A Gazeta era noticiosa, sem interesse de conquistar opiniões. Já o Correio era
mais doutrinário que informativo. No entanto, ambos não tinham interesses
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revolucionários. Por mais que o Correio atacasse a administração brasileira, possuía
um caráter moralizador e não modificador. Ainda assim, a entrada do jornal de
M
Hipólito da Costa, no Brasil, fora barrada pela Corte do Rio de Janeiro. “Já a 27 de
março de 1809, o conde de Linhares determinava ao juiz da Alfândega, José Ribeiro
ira
Freire a apreensão do material impresso no exterior” por conter calúnias contra o
governo inglês e material ilusório a gente superficial e ignorante. Ou seja, por conter
ive
assuntos de economia política, tema proibido em Portugal8 (SODRÉ 1999).
Ol
Com a revolução do Porto, em 1820, o Correio Brasiliense passa a circular
normalmente. Neste momento, notícias começaram a ser produzidas no próprio
de
a Gazeta do Rio de Janeiro durou até 1821. Dada a austeridade da Corte, a Gazeta e
a Idade d’Ouro do Brasil – impressa na Bahia ao gozo lusitano de 1811 a 1823 –
lA
“foram os únicos jornais brasileiros num período de seis anos, entre 1814 e 20. Até o
ano de 1821, o Rio de Janeiro não contava com outra tipografia senão a da Imprensa
fae
príncipes da Europa e, de quando em quando, as suas páginas eram ilustradas com alguns documentos
de ofício, notícias dos dias natalícios, odes e panegíricos da família reinante. Não se manchavam estas
páginas com as efervescências da democracia, nem a exposição de agravos. A julgar-se do Brasil pelo
seu único periódico, devia ser considerado um paraíso terrestre, onde nunca se tinha expressado um só
queixume” (ARMITAGE, 1914 apud SODRÉ, 1999).
7
Por ser produzido na Inglaterra, sem proximidade direta com os fatos no Brasil.
8
Portugal queria evitar que os princípios da Revolução Francesa prejudicassem a estabilidade do
poder da corte lusitana. A Revolução Francesa, “deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão
e os direitos feudais na França e proclamou os princípios universais de ‘Liberdade, Igualdade e
Fraternidade’ [...]”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_
Francesa. Acessado em 2 de outubro de 2006.
14
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quando tornou-se Reino Unido a Portugal. “Os governantes portugueses [...]
ele
providenciaram a instalação de prelos e tipografias, ensejando a circulação do
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
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Para Sodré (1999), a imprensa está ligada ao capitalismo e seu atraso no
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Brasil é relacionado com a ausência de burguesia. Somente depois da abertura dos
portos, os jornais se manifestaram. Bahia (1972), apresenta o Diário de
ira
Pernambuco10, inaugurado por Antônio José de Miranda e depois dirigido por
Manuel Figueirôa, como testemunha de três fases do jornalismo brasileiro: “a inicial,
a da consolidação e a moderna”. ive
Ol
A princípio, podemos dividir a imprensa em duas fases. A imprensa
artesanal, de Gutenberg, “que vivia da opinião dos leitores e buscava servi-la”, e a
de
Neste período, os jornais eram mais literários e “os fins econômicos vão para
segundo plano”. Tinham posicionamento político-partidário além de doutrinários.
9
MELO, 2003, p. 29 - 30
10
o Diário de Pernambuco passou pelo desenvolvimento gráfico dos mais rudimentares às linotipos e
rotativas. Participou ativamente de embates políticos e nas lutas liberais do povo pernambucano, no
Império e na República. (BAHIA, 1972, p. 26).
11
MARCONDES FILHO, 2000, p. 11
15
Com as revoluções burguesas, após 1800, “os grandes partidos políticos, inclusive os
operários, reivindicam igualmente o poder da imprensa e meios de comunicação
mais efetivos para a conquista de adeptos”, eis o surgimento da esfera pública
proletária12, inicialmente na Inglaterra. A imprensa se difundia popularmente e “todo
o romantismo da primeira fase será substituído por uma máquina de produção de
s
ele
notícias e de lucros com os jornais populares sensacionalistas” (MARCONDES
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
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O segundo jornal, o jornal como grande empresa capitalista, surge
M
a partir da inovação tecnológica da metade do século 19 nos
processos de produção de jornal. A transformação tecnológica irá
exigir da empresa jornalística a capacidade financeira de auto-
sustentação, pesados pagamentos periódicos para amortizar a
ira
modernização de suas máquinas; irá transformar uma atividade
praticamente livre de pensar e de fazer política em uma operação
que precisará vender muito para se autofinanciar (idem, p. 13).
ive
As tiragens deste momento caracterizado como o da imprensa de massa,
Ol
subiram de 35 para 200 mil. Os jornais se mantêm através da economia da empresa
jornalística e precisam resultar em lucro. “A gradual implantação da imprensa como
de
negócio, iniciada após 1830 na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos, impõe-se
plenamente por volta de 1875” (idem, p. 13-14). O jornalismo se profissionaliza13.
nio
As manchetes aparecem, dentre outras formas de atrativo para o aumento das vendas,
e a notícia cede lugar à publicidade. “A tendência – como se verá até o século 20 – é
nto
12
Novelli resgata o conceito de esfera pública para interpretar o papel da imprensa nas sociedades
contemporâneas por ser importante distingui-la da esfera econômica e do Estado na instituição de uma
política democrática. “A noção de esfera púbica vai se enquadrar nessa perspectiva justamente na base
de sua dupla função: colher e disseminar informações, de um lado e, de outro, fornecer um fórum para
debate.” (Novelli apud MOTTA, 2002, p. 185).
13
“A reforma do estilo da imprensa brasileira começou na década de 1950” com o Diário Carioca que
“foi um dos mais influentes jornais do País e o responsável pela modernização técnica da imprensa
brasileira. Introduziu o lead nas matérias, criou o copidesque e lançou o primeiro manual de redação
jornalística”. “O Diário Carioca foi um jornal tecnicamente revolucionário, que terminou com o lero-
lero das reportagens intermináveis em que a estrela era o repórter, e não o assunto (Paulo Francis)”
(Diário Carioca.com.br, on-line. Acessado em 02 de outubro de 2006).
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os políticos, que já não apostam numa evolução para uma ‘sociedade mais humana’.
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cultura ocidental”.
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O quanto e último jornalismo, o do fim do século 20, é o
jornalismo da era tecnológica, um processo que tem seu início por
volta dos anos 70. Aqui se acoplam dois processos. Primeiramente,
ira
a expansão da indústria da consciência no plano das estratégias de
comunicação e persuasão dentro do noticiário e da informação. É a
inflação de comunicados e de materiais de imprensa, que passam a
ive
ser fornecidos aos jornais por agentes empresariais e públicos
(assessorias de imprensa) e que se misturam e se confundem com a
informação jornalística (vinda da reportagem principalmente),
Ol
depreciando-a “pela overdose”. Depois, a substituição do agente
humano jornalista pelos sistemas de comunicação eletrônica, pelas
redes, pelas formas interativas de criação, fornecimento e difusão
de informações [...], que recolhem material de todos os lados e
de
Este autor vê o processo evolutivo do jornal como uma constante cíclica, por
apresenta a primeira fase da impressão como “totalmente plana; depois, quando se
fae
s
ele
A consolidação ocorreu “setenta e dois anos passados da instalação do pesado
material com que se imprimia a Gazeta do Rio de Janeiro [...]. Depois de 1880 e no
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
fim do século XIX até princípios do século XX, a imprensa adquire expressão no
campo das atividades industriais” – transição tardia comparada a de outros países. A
M
nossa tipografia, de artesanal, passa a “conquistar a posição de indústria gráfica de
definida capacidade econômica”14.
ira
Nesta fase, muitos jornais efêmeros desapareceram e “uma imprensa mais
ive
participante e consciente é chamada a ocupar lugar fundamental na vida pública do
País” (idem). É entre 1920 e 1930 que surgem alguns dos grandes jornais brasileiros
Ol
– década em que aparece a radiodifusão. A partir de 1928, rotativas15 mais modernas
eram instaladas nos principais Estados16, com resultados próximos ao do offset, e em
de
Logo nos anos 40, a nossa indústria gráfica já era tão bem aparelhada quanto
nto
a dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Contudo, a nossa imprensa não corresponde à
demanda de informação, dentro das expectativas do jornalismo, perante o público e a
lA
sociedade, atingida por nações mais desenvolvidas. Tal desnível está relacionado ao
nosso passado histórico atrelado ao desenvolvimento do jornalismo – que ainda
fae
14
BAHIA, 1972, p. 45
15
De exemplo o jornal A TARDE, de Salvador, instalado em 1912 com um impressora plana Marioni
considerada obsoleta na Europa. Um ano depois é incorporada a impressora Koening-Bauer. Em 1920,
A TARDE entra na era dos linotipos. Em quatro anos, passam para a Albert. Em 1930, foi trazida a
rotativa alemã Man. Com ela, uma prensa elétrica, uma fundidora automática e uma fresa elétrica. (A
Tarde, 15 de outubro de 2002, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).
16
São Paulo; Rio de Janeiro; Minas Gerais; Rio Grande do Sul; Pernambuco (BAHIA, 1972, p. 67).
17
idem, p. 67
18
ibidem, p. 91
18
s
econômicos, políticos e culturais. O jornalismo já entrara numa
ele
faixa de operação industrial, abandonado a projeção boemia,
ativista, idealista da primeira fase. O jornal-mito, identificado com
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redator e administrador, cede lugar ao jornal-empresa (idem).
M
educacional a qual as correntes populares eram submetidas na República Velha. O
número de interessados por informação aumentava de modo que a imprensa não
ira
conseguia alcançar ou suprir19 até os anos 50.
ive
Para Bahia (1972), o jornalismo contemporâneo, representa a adaptação do
jornalismo às necessidades da sociedade brasileira. Bahia refere-se ao novo
Ol
jornalismo surgido com o “despertar social, com a mobilização popular Constituinte,
a queda da ditadura Vargas, a ascensão das grandes parcelas operárias urbanas, a
de
(p. 92).
nto
que, dos anos 50 em diante, é cada vez maior”. Isso só foi possível devido a
penetração do rádio e da TV20 na parcela analfabeta da população, que, em 1970,
representava 33% dos 80 milhões de brasileiros.
fae
Não é por outro motivo que, apesar do esforço dos grandes jornais,
nenhum cobre nacionalmente o território e poucos ultrapassam a
Ra
19
em razão das “condições particulares do sistema de comunicação internas - desde os correios e
telégrafos, as ferrovias e demais meios de transportes, ao telefone.” (BAHIA, 1972, p. 68).
20
Nesta fase, o jornal impresso atua em conjunto com as outras mídias. Mas com o surgimento da
internet - no final da década de 80 com o desenvolvimento da ARPANET (Advanced Research
Project Agency Network), que teve início 1969; o Brasil passa a usufruir desta rede mundial já nos
anos 90 -, e seu desenvolvimento no Brasil, mudanças ocorreram no contexto do jornalismo de tal
forma que dedicaremos o quarto capítulo, Para que jornal?, para abordar a relação do jornal impresso
com as outras mídias.
19
s
deste veículo em todo o mundo. “O público considera-o cada vez mais indispensável,
ele
reiterando em termos de preferência a importância do meio impresso na ação sobre a
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
opinião”.22
eir
Novelli23 apresenta a imprensa como uma “instituição por excelência da
M
esfera pública [que] atua numa área de intersecção24 entre o setor público e o
privado”, portanto, as “fases que representam a evolução da imprensa vão
ira
demonstrar a própria evolução da esfera pública”, apresentada da seguinte forma:
ive
Imprensa da informação - fase inicial: surge no século XIV conseguinte da
necessidade de troca de informações comerciais sobre circulação das
Ol
mercadorias. Desta forma, surge um elo entre indivíduos privados [mercado],
que sustenta a imprensa assim caracterizada por produzir informação perecível
de
falência, mas resguardam para suas redações uma espécie de liberdade típica da
comunicação das pessoas privadas caracterizadas com o público.
fae
21
BAHIA, 1972, p. 93
22
idem, p. 153
Ra
23
MOTTA (org.), 2002, p. 184-185.
24
Segundo Novelli, a burguesia buscava ocupar um espaço entre o poder público do Estado e o poder
privado do mercado, organizando-se na forma de sociedade civil. Esta organização deu origem, no
século XVIII, a esfera pública burguesa composta por funcionários do Estado, profissionais
autônomos, grandes proprietários e produtoras de mercadoria. A ideologia contida nesta esfera, que
visava dominar os mecanismo de produção e troca, cai com a ascensão à categoria de classe dos
indivíduos por ela dominados. Assim, o Estado, único legítimo no poder, regula os mecanismos de
troca entre as pessoas privadas originando assim, as privatizações bem como a estatização da
sociedade. Confunde-se aí, o setor público como o setor privado, originado uma nova esfera social
intermediária a qual interpreta-se como setores estatizados da sociedade e setores socializados do
Estado, ambos apartidários.
20
s
Dentro da caracterização atual da imprensa, “como um típico
ele
empreendimento capitalista avançado, que subordina a política empresarial a pontos
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
de vista da economia de mercado [...] o jornal passa a ser influenciado por interesses
eir
estranhos aos seus objetivos primeiros” (MOTTA (org.), 2002, p. 185).
M
A imprensa, segundo Novelli, precisa de uma estrutura pública e autônoma,
separada da função de debate político. Para tal, é preciso ampliar o acesso dos vários
ira
setores da sociedade civil, pois não há como garantir que a imprensa seja dotada de
isenção se é exclusiva a responsabilidade dos jornalistas para decisão do que entra ou
não na agenda pública. ive
Ol
1.2 Em memória dos que foram calados
de
nio
25
O legado de Getúlio Vargas, on-line. Acessado em 4 de outubro de 2006.
21
Uma imprensa sem liberdade significa um país sem democracia, mas era isso
que Getúlio desejava. Era isso que o autoritário D. Pedro I queria, conforme atesta a
História.
s
ele
cumpriram o dever cívico de informar ao povo o que ocorria nos corredores do poder
público, desde a época do Brasil império. Infelizmente, algumas delas foram
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
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silenciadas e outras violentadas, conforme podemos observar nos textos 1, 2, 3, e 4.
M
TEXTO 1
ira
24 de outubro de 1975. Sexta-feira à tarde. Vladimir Herzog,
ive
jornalista da TV Cultura, acompanhava a transmissão do telejornal
Hora da Notícia, antevendo um agradável final de semana com a
Ol
esposa e os filhos. Ao sair da redação, encontra dois agentes de
segurança do regime militar. Queriam levá-lo preso.
de
26
Canal da Imprensa, on-line. Acessado em 4 de outubro de 2006.
22
TEXTO 2
s
capital paulista. Dois pistoleiros encapuzados aguardam-no na
ele
esquina. Ouve-se o som de um revólver. A bala atinge em cheio
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
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cogitam uma operação. Em vão. O ferimento é fatal. Líbero morre
no dia seguinte.
M
Fundador do jornal Observador Constitucional, veículo de ataque
ira
ao autoritarismo de dom Pedro I e aos desmandos do ouvidor
Cândido Japiaçu, Líbero tornou-se símbolo da luta pela
ive
nacionalização do império brasileiro. Pouco antes de falecer,
desabafa: “Morre um liberal mas não morre a liberdade”. O boato a
Ol
respeito de sua morte tornou-se verdade absoluta: Líbero foi
assassinado a mando direto do imperador. Um tanto irônico para
alguém que declarou “Independência ou Morte!”.27
de
nio
TEXTO 3
nto
27
idem
28
ibidem.
23
TEXTO 4
s
– obras do presidenciável Anthony Garotinho. No mesmo maio, a
ele
grande imprensa recebeu ordem judicial, proibindo qualquer
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eir
paulista. Se veículos como a Folha e Último Segundo não
ousassem se pronunciar, o delato nunca chegaria ao grande
M
público.29
ira
Assim a imprensa sabe que é dela própria a responsabilidade de manter estes
ive
momentos vivos na memória do povo, como uma forma de resistência à ditadura
Ol
imposta aos veículos de informação ou à cultura do silêncio.
outros tantos que foram calados, é indispensável para a imprensa mostrar à sociedade
que ela tem um compromisso com a liberdade de expressão. E a nossa imprensa foi
nio
29
Ibidem.
24
s
no meio do caminho tinha uma pedra.
ele
Nunca me esquecerei desse acontecimento
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
tinha uma pedra
M
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
ira
O menino custou a começar a falar, e a dificuldade que tinha para
ive
pronunciar uma frase inteira provocava risos nos adultos [...] ele já beirava os três
Ol
anos quando os pais entenderam que o menino era gago (MORAIS, 1994, p. 32).
Este menino é Assis Chateaubriand – Chatô. Um grande nome no jornalismo
brasileiro e de reconhecida significância no desenvolvimento das empresas de
de
tornando-se grande.
nto
calando-se porque muitas vezes o silenciamento lhe foi imposto, até chegar aos dias
de hoje, grande, imensa, maior que o próprio Chatô, pois nela falam outras vozes que
também fizeram e ainda fazem a diferença no cotidiano de cada brasileiro.
fae
Ra
s
ele
sociedade, através do sentido polifônico e dialógico constitutivo da linguagem no
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
sentido bakhtiniano.
eir
Entendemos polifonia como um coro de vozes que participam do processo
M
dialógico; e dialogismo um princípio constitutivo da linguagem (BARROS;
FIORIM, 2003) e a condição para o discurso fazer sentido.
ira
O jornal impresso não é uma única voz, mas um diálogo entre as vozes dos
ive
leitores e as vozes dos jornalistas convivendo numa interação social, revelando as
consciências independentes e as consciências eqüipolentes. Assim a notícia impressa
Ol
é polifônica e dialógica e é este princípio que garante a sustentabilidade estrutural do
jornal. Uma garantia de que a notícia é uma análise de um trabalho de um grupo
de
São Paulo que, em 1902, tem Júlio de Mesquita como único proprietário e representa
fae
30
(SODRÉ, 1999, p. IX). Foram necessários o rádio e a TV para acessar aos analfabetos, por
exemplo. Mesmo assim, convencionou-se, por mérito, a utilização do termo meios de massa para
veículos de comunicação num todo. Eugênio Bucci defende que “a ética na comunicação de massa
Ra
não pode ser pensada a partir das mesmas balizas que nos guiam para discutir a ética na imprensa”.
Como primazia da imprensa, a busca pela “verdade factual, da objetividade, da transparência, da
independência editorial e do equilíbrio. Já o conceito de ‘meios de comunicação de massa’ traz em si,
desde a origem, o embaralhamento sistêmico entre fato e ficção, entre jornalismo e entretenimento,
entre interesse público, interesses privados e predileções da esfera íntima”. Bucci usa imprensa para
designar “a instituição constituída pelos veículos jornalísticos, seus profissionais e seus laços com o
público” (BUCCI, on-line. Acessado em 5 de outubro de 2006).
31
Discurso, segundo Pêcheux, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr
por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do
discurso observa-se o homem falando. Daí a definição de discurso: o discurso é efeito de sentidos
entre locutores (ORLANDI, 2002).
26
s
ele
de um grande órgão político –, estava atravessada por outras vozes, assim como
qualquer voz que enuncia, pois “as palavras não são nossas. Elas significam pela
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
história e pela língua. O que é dito em outro lugar também significa nas nossas
palavras” (ORLANDI, 2002, p. 47).
M
Além disso temos que lembrar que o proprietário de um jornal impresso
ira
jamais é um autor passivo no processo polifônico do discurso jornalístico. Ele é um
autor ativo e o seu ativismo tem um caráter dialógico com a sociedade e está
ive
diretamente vinculado à consciência dos leitores-interlocutores.
Ol
Quem dá o tom discursivo da notícia, quem deixa entrever o viés ideológico
ou tendencioso do jornal impresso não é a voz do dono32, mas o som de uma
orquestra polifônica regida pelas formações discursivas33, ideológicas34 e imaginárias
de
dos pasquins – panfletos que circulavam na época do império – que eram violentas,
chegando ao nível da calúnia e do insulto pessoal – dado o momento histórico
violento, virulento e intranqüilo.
nto
32
Em outras palavras, o sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha
consciência disso (e aqui reconhecemos a propriedade do conceito lacaniano de sujeito para a análise
do discurso), a ocupar seu lugar em determinada formação social e enunciar o que lhe é possível a
partir do lugar que ocupa (MUSSALIM, 2004).
33
Formações discursivas são os determinantes do que pode e deve ser dito em um dado lugar sócio-
histórico determinado. Elas mantêm uma relação básica com a formação ideológica predominante: os
textos de uma formação discursiva espelham uma mesma formação ideológica.
34
Formação ideológica, segundo Fiorin (2003), “deve ser entendida como a visão de mundo de uma
determinada classe social, isto é, um conjunto de representações, de idéias que revelam a compreensão
que uma dada classe tem do mundo”.
27
s
Inimigo dos Marotos, o Anglo-Maníaco, O Derrete Chumbo a
ele
Cacete, Piolho Viajante, entre outros.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
imprensa política, representada principalmente pelos pasquins,
esmorece. É a época da conciliação, com o arrefecimento ou fim
das lutas partidárias.35
M
Outro exemplo de polifonia nos jornais impressos está na imprensa escrita
ira
pelos anarquistas italianos, imigrantes que entraram no Brasil para substituir o
trabalho dos escravos recém-alforriados36. Estes imigrantes tinham uma postura
ive
ideológica heterogênea: uns eram apolíticos e outros anarquistas ou simpatizantes do
Anarquismo37.
Ol
Os anarquistas organizaram sindicatos cuja ferramenta básica ou arma de
combate era a imprensa escrita. Os jornais cumpriam a função de conscientizar os
de
bem como sobre fatores fundamentais de mobilização operária e como uma forma de
resistência contra a exploração dos empregadores.
nto
buscar notícias. Essas chegavam aos montes na redação clandestina dos jornais: eram
as vozes da sociedade operária imigrante dialogando com o jornal, com a sociedade e
com o governo.
fae
35
LOPES, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006.
Ra
36
“A introdução do trabalho europeu nas fazendas de café foi um processo lento, alcançado pela
pertinácia de cafeicultores empenhados na solução de seu maior problema: a falta de mão-de-obra,
agravada primeiro pela proibição do tráfico e depois pela abolição. As primeiras tentativas [...]
provocaram reclamação consulares e escândalos na imprensa européia, a que os brasileiros são
especialmente sensíveis” (RIBEIRO, 1994, p.399).
37
De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja
livremente aceita, defendendo tipos de organizações horizontais e libertárias [...]. O anarquismo
enquanto teoria política nada tem a ver com o caos ou a bagunça [...]. No início do século XX, o
anarquismo e o anarco-sindicalismo eram tendências majoritárias entre o operariado, culminando com
as grandes greves de 1917, em São Paulo, e 1918-1919, no Rio de Janeiro. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquia. Acessado em 2 de outubro de 2006.
28
s
ele
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
2.2 Uma busca pela liberdade de expressão
M
Nas democracias liberais, a imprensa tem sido chamada de quarto
poder, um poder além do Executivo, do Legislativo e do Judiciário,
ira
[...] um poder autônomo exercido em nome do povo. [...] Ela é
tomada, por delegação implícita da sociedade, como instrumento
de defesa popular contra as injustiças, ilegalidades e
ilegitimidades.38
ive
Nas palavras de Melo (2003, p. 144), “a imprensa figura na História da
Ol
Humanidade como a inovação que alterou profundamente a marcha civilizatória”.
Ela consolidou a cidadania e deu condições para a expressão das sociedades
de
democráticas.
nio
38
fae
resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Artigo
XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de,
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.
- LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967. CAPÍTULO I - DA LIBERDADE DE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E DA INFORMAÇÃO. Art . 1º - É livre a manifestação do
pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem
dependência de censura, respondendo cada um, nos têrmos da lei, pelos abusos que cometer.
- CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) - (Pacto de San José da Costa
Rica). Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão: 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade
de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir
29
s
As liberdades de imprensa, de informação e de expressão viram
ele
apenas testas-de-ferro para que as empresas midiáticas defendam
seus interesses econômicos. A liberdade de imprensa dá lugar à
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
liberalização total, levando a informação a ser dourada com
persuasão ou entretenimento. Esvazia-se o compromisso da
imprensa com a defesa dos cidadãos, do interesse publico, da
M
verdade, do Estado-nação ou do bem-comum. A nova liberdade
vira uma liberdade econômica, que privilegia apenas o capital. As
empresas midiáticas lutam, inclusive, para liberalização total da
ira
liberdade de imprensa, permitindo contemporânea-mente
licenciosidades capitalistas não condizentes com o papel social
desempenhado pela linguagem na era do liberalismo moderno. A
ive
liberdade, embora mítica, cria o mito da transliberlizacao: tudo
passa a ser livre, menos o que possa afetar ou atingir os interesses
empresariais (MARSHALL, 2003, p. 166).
Ol
Além da liberdade de expressão ser regrada por forças econômicas, a
influência política não difere para com os meios de comunicação. No governo Lula
de
como diz o ditado, manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Qualquer jornalista que se aventurou a ter alguma idéia na cabeça –
e que não correspondesse àquela de seu patrão – sabe do que
estamos falando. [...]
s
na Paraíba, apoiou unanimemente o envio do projeto de lei. TVs,
ele
jornalões e rádios não deram essa notícia, nem para dizer que esses
jornalistas são doidos: melhor não dizer, não é mesmo?
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
Os críticos não estão vendo fantasmas, não. Eles estão muito
lúcidos. Estão atirando naquilo que vêem. Mas querem que
M
pensemos que atiram em outra coisa. A “informação que chega à
sociedade” não “chega” – é levada por alguém. Alguém que quer
permanecer na sombra.
ira
Roberto Romano: [...] As investidas do atual chefe da Casa Civil,
do ministro do Trabalho, do ministro encarregado pela
Comunicação e, o mais espantoso, do próprio ministro da Justiça
ive
contra a imprensa ecoam perfeitamente as palavras emitidas em
1985 pelo então candidato à presidência da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, sobre as liberdades: “Acho que a liberdade
Ol
individual está subordinada à liberdade coletiva. Na medida em
que você cria parâmetros aceitos pela coletividade, o
individualismo desaparece. Ou seja, não há razão para a defesa da
liberdade individual. O que você precisa é criar mecanismos para
de
42
sem cólera nem parcialidade [Segundo Tácito, é o modo pelo qual deve ser escrita a história.]
(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, 2002, CD-ROM).
43
apud Melo (2003, p. 144).
31
s
sócio-democrática, a imprensa se resguarda sob direitos adquiridos e conquistados
ele
nas lutas contra a repressão do governo. “Retira-se do Estado o privilégio de fazer
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
censura a priori dos impressos, mas cabe-lhe o dever de coibir a posteriori os abusos
cometidos” (MELO, 2003, p.145).
M
Falamos de censura política a qual funde-se e confunde-se com o próprio
grito de liberdade e autonomia do jornal. Lembramos também, do processo histórico
ira
da imprensa que nos traz a censura presente na dependência econômica44. Deste
ive
modo, a imprensa permanece silenciada à expressão dos interesses político e
econômico, e direcionada ideologicamente a uma parcela mínima representada pelos
Ol
multiplicadores de opinião – o que exclui o “restante da sociedade que, embora não
faça parte do seu grupo de leitores, também têm interesses que devem ser
preservados para o pleno funcionamento da sociedade democrática”.45
de
poder das elites; “parte de um processo indicado por Noam Chomski como
‘construção de consenso’, onde a imprensa, por trás de uma ideologia de
lA
44
A imprensa só pode atingir uma produção industrial por meio de anúncios, financiamentos externos
e concessões políticas - o que a torna dependente destes recursos -. Neste caso, manifestações
contrárias aos interesses econômicos são abafadas, descartdas e coibidas.
Ra
45
Novelli acredita que o jornal nega o papel de quarto poder quando defende o interesse do seu grupo
de leitores. Ao estabelecer o grupo de leitores como base social, a imprensa deixa de privilegiar a
sociedade com notícias pertinentes a todos se estas não tem “eco entre os leitores do jornal” (MOTTA
(org.), 2002, p. 194).
46
“Segundo o jornalista [Bernardo Kucinski], a Folha, ao longo dessas três eleições, teria projetado e
até mesmo criado preconceitos e estigmas contra Lula. Nas eleições de 1989, por exemplo, o jornal
contribuiu para projetar o sentimento de medo contra Lula, ao afirmar, na edição de 15 de dezembro
daquele ano, que as correntes majoritárias do PT tinham a intenção de fazer ‘tudo o que estiver ao seu
alcance para cercear e se possível suprimir a liberdade de expressão’. O objetivo seria mostrar à
população que votar em Lula poderia significar a volta do regime autoritário” (PAIXÃO, artigo, on-
line. Acessado em 4 de outubro de 2006).
32
s
“No entanto, apesar desse veículo orgânico47 com o poder, a imprensa foi, e
ele
ainda é, igualmente, um dos instrumentos principais da oposição e da resistência
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
Se ela de fato exerce democraticamente esse quarto poder,
M
representando todos os grupos sociais, é uma questão que só o
exame de cada circunstância pode responder.
ira
E aí reside um paradoxo. A imprensa pode ser instrumento do
poder instituído ou um instrumento de resistência e de oposição a
esse poder [que pode pender] para um ou para outro lado,
ive
dependendo da situação histórica. [...] O paradoxo revela assim,
que não existe imprensa sem inserção política [desempenhando]
igualmente funções econômicas, especialmente comerciais, quando
Ol
estimula, por meio dos seus anúncios, o consumo de bens. [...]
(idem, p. 15).
voz de outros conglomerados econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas
nio
s
valores da modernidade.50
ele
Então, qual a saída para a crise da imprensa? A indagação de Sodré (1999, p.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
428), é respondida pelo porta-voz das agências estrangeiras de publicidade:
M
Mas a não ser que as classes produtoras se compenetrem de que a
imprensa é o quarto poder dos regimes democráticos, e que sua
independência está intimamente ligada à compreensão dos
ira
anunciantes, que possibilitam sua existência, a imprensa latino-
americana irá perdendo sua liberdade de movimento, e, com ela,
seu prestígio perante a opinião pública. Este é o relevante papel
ive
esclarecedor que as Agências de Propaganda precisam
desempenhar junto aos seus clientes, sobretudo perante aqueles que
ainda não se convenceram do sentido subjetivo da propaganda.51
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra
49
Considerado por Marshall como um dos mais severos críticos da imprensa.
50
Martínez Albertos, 1997, p.31 apud MARSHALL, 2003, p. 28
51
SODRÉ, 1999, p. 428
34
s
ele
país, há uma certa e pontual influência estrangeira. A crise do papel, por exemplo,
que repercutiu no alto preço do papel importado e a extinção de subsídios para a
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
produção do papel nacional arrasaram a pequena imprensa, reduziram a circulação
dos jornais nacionais e os entregaram ao “controle das agências estrangeiras de
M
publicidade” (idem, p. 413). A política brasileira, na década de 60, arrasou as ilusões
dos jornais pequenos.
ira
[...] montou-se uma estrutura econômica, social e urbana em
função de petróleo a 50 centavos de dólar o barril, [...] quando o
ive
petróleo passou a 14 dólares o barril (preço médio no primeiro
trimestre de 1974) e o papel de imprensa pula de 171 dólares a
tonelada (preço em 1971) para 320 dólares, em 1974 (187% de
Ol
diferença), toda estrutura desaba. É a crise (DINES, 1986, p. 32).
estrangeiras. Além disso, a telegrafia do país não era eficiente. A imprensa brasileira
passou a utilizar o intenso e extenso serviço telegráfico pago pela imprensa norte-
americana. Assim os jornais brasileiros eram influenciados pelos estrangeiros,
fae
52
SODRÉ, 1999, p. 415
35
s
ele
pública e pedir a solidariedade de outros trabalhadores (ibidem, p. 420).
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
No entanto, a imprensa estava – ou está53 – a serviço do capital estrangeiro,
ou melhor, das agências estrangeiras de publicidade; do poder público (no caso de
M
fornecimento de papel, de financiamentos, de isenções de impostos etc.); dos
próprios proprietários; e das agências de notícias estrangeiras.
ira
A imprensa, realmente, torna-se o contrário do que era, e
particularmente do que deveria ser, na medida em que se
ive
desenvolve, na sociedade capitalista. O jornal é menos livre quanto
maior como empresa (SODRÉ, 1999, p. 448-449).
Ol
Enfim, falar da crise de imprensa, significa falar que a imprensa, apesar de ter
nascido da liberdade de expressão, não detêm tal liberdade. Vendeu-se para
de
sobreviver e será muito difícil angariar condições financeiras para voltar a ser a voz
da liberdade.
nio
nto
mais do que em certas fábricas na Europa e até 50% mais do que no Chile”. Somos
praticamente dependentes da matéria prima estrangeira: “o Brasil importa 70% do
seu consumo de países como Canadá, França, Noruega, Holanda e Chile”. 54
Ra
53
Sendo a moral um reflexo cultural, a Constituição Federativa Brasileira abriu, posteriormente, para
empresas de comunicação à possibilidade de terem 30% de participação de capital estrangeiro.
54
Instituto Brasileiro de Logística, on-line. Acessado em 25 de outubro de 2006.
36
s
empregados em embalagem. [...];
ele
c) Rigoroso inverno de 73 no Canadá, impedindo o transporte de
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
que prejudicou o abate de arvores;
M
d) A inflação nos paises desenvolvidos, gerando uma corrida para
o aumento dos estoques. Já que então, com os preços baixos e o
mercado vendedor, poucos se animavam a acumular;
ira
e) Crise do petróleo, provocando uma escassez e conseqüente
valorização dos meios de transporte;
ive
f) Controle do meio ambiente (as usinas de papel são grades
poluidoras de cursos de água) tornando impraticáveis inúmeras
fábricas e obrigando o fechamento de 134 pequenos e médios
Ol
estabelecimentos fabris, nos EUA, além de elevar o custo do papel
em 25 dólares/tonelada;
de
principais jornais [...]”56. Já, em 2005, foram importados 366,5 mil toneladas de
papel imprensa57. O volume foi 4,7% superior ao do ano anterior.58 Mesmo com
subsídios59 nas importações, o custo do produto jornal avulso é alto para boa parte da
fae
55
DINES, 1986, p. 33
56
QUEIROZ,1993 p.16
57
segundo levantamento preliminar da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa)
58
Instituto Brasileiro de Logística, on-line. Acessado em 25 de outubro de 2006.
59
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Art. 150. Sem prejuízo de
outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: III - cobrar tributos: d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
60
Valores obtidos em consulta dos sítios eletrônicos da Folha Online e do Estadao.com.br para a
assinatura dos respectivos jornais impressos. Acessados em 6 de novembro de 2006.
37
1,50 por dia. Valor três vezes superior ao que o público C e D tem com atrativo, ou
cinco vezes mais, se comprado avulso – por R$ 2,50.
O Expresso, no Rio de Janeiro, “vende mais de cem mil exemplares por dia”
a um custo de R$ 0,50. Segundo a Marplan, “as classes C e D [do Rio] têm juntas 5,8
s
ele
milhões de consumidores, dos quais apenas 2,6 milhões são leitores de jornais”. Por
meio deste valor acessível, O Expresso pretende expandir o número de leitores. Em
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
Brasília, com a mesma proposta, o Aqui-DF custa R$ 0,50 e o Agora-DF, R$ 0,25.61
Em São Paulo, o Destak é distribuído gratuitamente62.
M
tabela 1
ira
Custo de papel de imprensa
Ano 2000
ive
(custo médio por tonelada) – Papel Importado63
tabela 2
Exportação 22 14 8 3 1 1
fae
Fonte: Bracelpa
61
Disponível em: http://www.anj.org.br/jornalanj/?q=node/700&PHPSESSID=86c8ffc357c9d5e8b3f
110536a36335d. Acessado em 6 de novembro de 2006.
62
DE – Diário Económico, 26 de junho de 2006, on-line. Acessado em 6 de novembro de 2006.
63
Disponível em http://www.anj.org.br/?q=node/184&PHPSESSID=f534fff761534b9f4c5ab6456
099737e. Acessado em 24 de outubro de 2006.
64
Papel importado (45g/m2): preço base custo e frete para entrega em porto brasileiro, para
pagamento em 180 dias a partir do embarque.
65
Disponível em http://www.anj.org.br/?q=node/184&PHPSESSID=f534fff761534b9f4c5ab6456
099737e. Acessado em 24 de outubro de 2006.
38
s
70% das receitas proveniente de publicidade. Le Fiagro, França, e El País, Espanha,
ele
têm até 50%. As empresas americanas de publicidade gastam, anualmente, cerca de
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
Marshall (2003) lembra que nem sempre a publicidade foi onipresente.
M
Segundo Jurgen Habermas, do séc. XVIII ao XIX existia uma repulsa a partir dos
simples anúncios comerciais. “Os reclames eram considerados indecentes”66.
ira
Ressalta também que nos primórdios da imprensa jornalística, não havia uma
distinção clara sobre os limites do que era publicidade e do que era jornalismo.
ive
Os primeiro anúncios tinham principalmente uma função informativa, de
Ol
caráter noticioso, sem representar significativamente uma fonte de rendimento.
Somente nos “últimos 30 anos do séc. XIX os rendimentos da venda de espaço
de
das páginas dos jornais e revistas. Assim, a publicidade torna suportável “os tributos
fiscais impostos aos periódicos e a ela mesma, a publicidade, permitindo a
nto
66
Jurgen Habermas, 1984, p. 223 apud MARSHALL, 2003
67
Eulálio Ferrer, 1997, p. 109 apud MARSHALL, 2003
39
s
ele
admite que as empresas anunciantes são forças econômicas decisivas na
determinação da natureza, da qualidade e do conteúdo do produto jornalístico. Neste
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
caso, o jornal é vendido para as agências de publicidade antes de sê-lo para os
leitores.
M
Neste mundo capitalista, as empresas de comunicação chegam a
acatar determinações de empresas quanto ao conteúdo dos
ira
programas. Tal manipulação serve para cria um ambiente adequado
para os anúncios da empresa “patrocinadora”68
ive
Os maiores anunciantes, bem como os gastos com publicidade por veículo de
comunicação, podem ser verificados nas tabelas 3, 4 e 5. É possível perceber que o
Ol
jornal detém o segundo lugar em investimentos publicitários, perdendo apenas para a
televisão. Segundo Milton Correia Junior, o jornal é o meio mais consultado por
de
tabela 3
nto
2004 16,6 8,3 59,2 2,2 4,3 1,6 2,7 2,9 100
fae
68
Sader apud Halimi, 1998, p. 8 abud MARSHALL, 2003
69
Pesquisa feita pelo instituto Ipsos-Marplan, intitulada Quero comprar - A relevância dos meios de
informação no processo de compra. Jornal é que define compra. Agosto de 2003. Disponível em
http://www.anj.org.br/index.php?q=node/190&PHPSESSID=4ab6aab9b7f410e97df35f8e64d6ff9d.
Acessado em 24 de outubro de 2006.
70
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/185&PHPSESSID=e5ffb7c6b3d8c3dbfe56d26576
b317c1. Acessado em 24 de outubro de 2006.
40
tabela 4
Ano R$ (000)
s
ele
Jornais - 2004 2.315.316
eir
Jornais - 2002 1.918.818
M
Fonte: Projeto Inter-Meios
ira
tabela 5
Setor econômico
ive Investimento
em R$ (000)
Ol
Comercio Varejo 4.518.060
Mídia 577.726
nto
Telecomunicações 270.438
lA
Internet 110.759
71
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/185&PHPSESSID=e5ffb7c6b3d8c3dbfe56d26576
b317c1. Acessado em 24 de outubro de 2006.
72
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/173&PHPSESSID=11087365f21fe267cb72d1a4d8d
3fc25. Acessado em 24 de outubro de 2006.
41
s
ele
O meio Jornal brasileiro vem procurando atender antigas
reivindicações do mercado publicitário, tais como novas fórmulas
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
que permitam a veiculação de anúncios criativos, simplificação da
tabela de preços, reformulação dos classificados e cadernos
dirigidos a públicos específicos.74
M
O resultado pode ser conferido na campanha da Claro – Você vai ter muito
assunto para falar, que participou do “5º Prêmio ANJ de Criação” (figura 1).
ira
Em busca de um sentido para esta peça publicitária, ou discurso, analisaremos
ive
a cenografia através da formação discursiva do anúncio da Claro, que “por atribuir-se
a cena (grifo nosso) que sua enunciação ao mesmo tempo produz e pressupõe para se
Ol
legitimar. [...] A dêixis discursiva75 consiste apenas em um primeiro acesso à
cenografia de uma formação discursiva; esta última possui ainda um segundo ponto
de
73
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/37&PHPSESSID=6edc16eb2fd9a8c120a9e8adbce7
cb20. Acessado em 24 de outubro de 2006.
74
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/13&PHPSESSID=bab3f55200284cf9942d8fb20c1
3efe4. Acessado em 24 de outubro de 2006.
75
A deixis ( palavra importada do grego antigo, com o significado de “ação de mostrar” ) é uma
das formas de conferir ao seu referente a uma seqüência lingüística, situando um enunciado no espaço
e/ou no tempo em relação ao enunciador, ou seja, é um marcador indicativo das pessoas do discurso –
eu, tu, ele –, do tempo do discurso – agira – e do espaço determinado pelo discurso – aqui.
76
MAINGUENEAU, 1997
42
s
ele
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
M
ira
ive
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra
Anunciante: Claro; Agência: F/Nazca (SP); Criativos: Airton Carmignani, Ricardo Jones,
Bruno Prosperi, Eduardo Lima e Fábio Fernandes; Mídias: Fernanda de Lamare e César
Nery; Veiculação: Jornal O Estado de S. Paulo (SP), em 06/10/2005; Vencedor Regional
2005: Região São Paulo.
77
Disponível em http://Pwww.anj.org.br/?q=node/623. Acessado em 24 de outubro de 2006.
43
s
ele
Para analisar esta peça publicitária, faremos uso da Semiótica, teoria das
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
representações, que considera os signos sob todas as formas e manifestações que
assumem (lingüísticas ou não), enfatizando, especificamente, a propriedade de
M
convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram.
ira
Na linguística de F. de Saussure, as relações sintagmáticas opõem-
se às relações associativas (Saussure não fala em relações
paradigmáticas). Os linguistas estruturalistas propuseram a
ive
distinção entre eixo sintagmático (eixo horizontal de relações de
sentido entre as unidades da cadeia falada, que se dão em presença)
e eixo paradigmático (eixo vertical das relações virtuais entre as
Ol
unidades comutáveis, que se dão em ausência). No primeiro eixo,
abrem-se as relações que pertecem ao domínio da fala, por
exemplo, os elementos que constituem o enunciado Estou a ler
estão numa relação sintagmática; a segunda, pertence ao domínio
de
torcida” – alude às notícias ruins do jornal, passando uma idéia de que jornal só
informa mazelas. Então, para a hora perdida no trânsito, o celular estará à disposição,
mas pode-se passar a frente de todos e rir de que quem fica para trás, como mostra a
foto, – basta ter o veículo apropriado. Quanto às torcidas divididas, é uma afronta a
concorrência.
78
Eixo Sintagmático/Eixo Paradigmático, on-line. Acessado em 27 de outubro de 2006.
44
Mas, para cada notícia ruim uma eqüipolente boa. A fim de harmonizar a
leitura, estrategicamente as manchetes são escolhidas valorizando o produto – em
meio a tanto caos, “Indústria do Estado é a que mais cresce”; “Exposição polêmica
chega em novembro em São Paulo”; e “Alimentação e exercício é receita de vida
saudável”.
s
ele
Dentro do eixo paradigmático, em que a palavra se situa em relação às
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
demais em função da similitude, “Estado” pode ser substituído por “Claro”.
M
A partir do eixo sintagmático, em que a palavra se situa na relação com a
seguinte em função da contigüidade, exposição polêmica (de celulares) chega em
ira
novembro.
entediados.
O slogan, “Você vai ter muito assunto para falar” é, no primeiro campo de
fae
s
mais indispensável, reiterando em termos de preferência a
ele
importância do meio impresso na ação sobre a opinião, Este fato
mostra que os outros meios de massa – o rádio, a televisão e o
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
153).
M
Em 1992, Pittsburgh, EUA, entre maio e dezembro, a cidade localizada na
Pensilvânia (370 mil habitantes, capital mundial do alumínio, três universidades, seis
estações de TV, 25 de rádio, um aeroporto internacional moderno), devido a uma
ira
greve de caminhoneiros, perdeu o fornecimento de seus dois jornais diários, O
ive
Pittsburgh Press e o Pittsburgh Post Gazet com circulação diária de 363 mil
exemplares e 556 mil aos domingos.79
Ol
Na primeira semana houve um acentuado declínio na audiência de
cinema, e na freqüência a restaurantes e bares. Mas, em menos de
um mês, a vida da cidade voltou ao habitual. A informação provida
de
pelos jornais passou a ser veiculada por outros meios. [...] Depois
da greve, o Pittsburgh Post Gazet foi obrigado a fechar e a
circulação do Pittsburgh Press diminuiu em 20%. Para boa parte
nio
79
MARSHALL, 2003, p. 30
80
apud MARSHALL, 2003, p. 30-31
81
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, CD-ROM
46
s
ele
tentaremos falar sobre os postulados teóricos que a sustentam de uma forma
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
M
4.1.1 Análise de discurso
ira
Análise de Discurso, doravante AD, é uma disciplina que tem como objeto o
ive
discurso compreendido como efeito de sentido entre locutores, a partir da concepção
da não-transparência da linguagem. Ela procura compreender como a língua faz
Ol
sentido, levando em consideração o homem em função de sua história, ideologia e
das condições de produção da linguagem.
de
s
ele
Na teoria discursiva, ideologia é um sistema ordenado de idéias que faz parte
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
de uma realidade social representado por signos. Tudo que é ideológico é um signo.
E todo signo é ideológico. Um instrumento de produção não possui valor ideológico:
M
desempenha apenas a função de produzir o que lhe compete. O martelo e a foice,
para nós, são tão somente instrumentos de produção. No entanto, na antiga União
ira
Soviética, foram convertidos em signo ideológico.
ive
A ideologia é o processo de constituição do sujeito e dos sentidos, ou seja, ela
interpela o sujeito para que se produza o que dizer. E as palavras recebem seus
Ol
sentidos de formações discursivas em suas relações, como efeito da determinação do
interdiscurso (da memória).
de
sujeito é sujeito à língua e à história, pois se ele não sofrer os efeitos do simbólico
(da língua e da história), ele não produz sentido. Como também , diz Orlandi (2002,
p. 47), “não há sujeito sem ideologia”.
nto
tal não faz parte da AD. O sujeito discursivo é um lugar que ocupa para ser sujeito do
que diz, segundo Foucault (1969). Neste caso, os sujeitos mudam de lugar
(ORLANDI, 2002) conforme a posição que ocupam. Uma pessoa X no papel de pai
fae
constituir sujeito do seu dizer, deve falar como todos os jornalistas o fazem. Só assim
adquire identidade.
(2002, p. 32): “As palavras não são nossas. Elas significam pela história e pela
língua. O que é dito em outro lugar também significa nas nossas palavras”.
s
ele
superfície lingüística, através de enunciados retomados e reformulados em função de
delimitar fronteiras ideológicas para a preservação de sua identidade. Ela sempre é
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
atravessada por outras FDs, chamadas por Foucault de uma dispersão, pois não são
concebidas como elementos ligados entre si por um princípio de unidade.
M
Inclusive, podemos adiantar que cada FD contém aquilo que é possível e
ira
também aquilo que não é possível de ser dito nos discursos dos sujeitos que estão
inseridos nela. As formações discursivas estão submetidas às formações ideológicas,
ive
que são o conjunto de atitudes, valores e preceitos que são regidos pela ideologia, de
acordo com as posições de classe ocupadas.
Ol
de
Queiroz (1993) declara que qualquer poder possui meios eficazes para se
legitimar, apesar de esta legitimação ser em alguns casos processada de uma forma
nto
podemos dizer que ela própria constrói a sua legitimação, de forma a dar um tom de
realidade ao seu discurso, no sentido de fazer a opinião pública aceitá-la como
Ra
s
ele
O fato do discurso jornalístico ser assujeitado ao interdiscurso de uma FD
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
determinada, ou seja, já está pronto antes mesmo de ter sido escrito e a certeza de
que esta FD está atravessada pelas FDs que sustentam o poder no país, garantem ao
M
jornal uma credibilidade convincente e concreta. Ele não trabalha normalmente com
novidades. Às vezes, como no caso das torres gêmeas do Word Trade Center,
ira
lembrando Mariani (1998) quando ela diz “irrupção de um acontecimento”, que
desloca as regularidades e os sentidos, o discurso jornalístico já formatado,
ive
assujeitado, objetivado, é obrigado a investir-se no novo.
Ol
Em nome do poder ideológico que está inscrito na FD a que se assujeita,
apaga dizeres e memórias de outras formações discursivas e o mito da objetividade
de
que sustenta lhe permite esconder a matriz ideológica a que pertence, embora
qualquer pessoa perspicaz possa perceber que um poder maior que outros poderes
nio
está no comando do que pode e deve ser dito. E isso não é uma mera especulação.
Temos Foucault para legitimar a nossa reflexão, quando ele afirma que o discurso
nto
não é neutro nem inocente, ao que completamos, não há, portanto, uma imprensa
neutra e inocente:
lA
82
FOUCAULT, p. 8-9
83
Queiroz declara que qualquer poder possui meios eficazes para se legitimar, apesar de esta
legitimação ser em alguns casos processada de uma forma silenciosa ou subtendida e precária; em
outros, apelando para o caráter racional da dominação pratica uma legitimação mais convincente e
concreta. “Cada tipo de dominação tem como correspondente um tipo de legitimação [...]”
(QUEIROZ, 1993, p. 25).
50
s
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que o discurso jornalístico é um discurso a serviços do poder, é opinativo e
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
que pode e silenciando o que não deve ser dito. Suas opiniões desenham os traços
que formam a tão frágil e duvidosa liberdade de imprensa.
M
Assim definimos os fatores que tornam o jornal um veículo capaz de
ira
legitimar outros veículos de comunicação, seus parceiros de comunicação, através do
processo da interdiscursividade (o discurso da TV ou o do rádio atravessa o discurso
ive
do jornal em muitos noticiários) e da intertextualidade (textos da TV e do rádio são
comentados, citados, noticiados nos jornais)84.
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra
84
QUEIROZ, 1993
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS
s
um órgão legítimo. O que garante essa legitimidade é o fato de ser constituído por
ele
um sistema de paráfrases (FD) que se realiza na superfície lingüística, através de
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
enunciados retomados e reformulados no sentido de preservar ideologicamente a sua
identidade. Uma fomação discursiva só pode legitimar-se de forma válida se utilizar
M
os elementos de uma outra dêixis (dêixis fundadora), cuja história ela usa a seu favor.
Assim o jornal é algo já instalado na memória coletiva brasileira, o que chamamos de
ira
formação discursiva, o que lhe garante a própria legitimidade.
ive
Quando o jornal era o fervor da literatura colonial, carregada de idealismo
percorrendo as páginas de um impresso rudimentar, tínhamos jornalismo. Quando
Ol
havia palavras de revolta dos suicidados pela cultura do silêncio, eram vozes de
jornalistas. Como uma mão bem visível, este meio de expressão moldava o mercado
aos interesses neoliberais, e, como um herói de guerra, fora amputado pela
de
determinação.
nio
jornal; lutem pela causa; se agirem como queremos, ficam ilesos e todos ganham,
mas se quiserem ser heróis e não morrerem, serão conservados – mesmo aleijados –
fae
s
ele
O jornal impresso brasileiro não corre risco e o papel jornal existirá enquanto
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.
eir
houver quem por ele pague e obtenha lucro. No Brasil, o jornal permanece como
herdeiro da luta pela liberdade, mesmo que prisioneiro de seu próprio ideal, e, como
M
bons brasileiros que somos, encontramos uma utilidade lucrativa para isso.
ira
Assim é o nosso jornal; um herói biônico a ser alimentado pela máquina do
mercado, cuja reputação é explorada e mascarada pelo poder das elites.
ive
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra
53
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