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FACULDADES INTEGRADAS RIO BRANCO

COMUNICAÇÃO SOCIAL
JORNALISMO

RAFAEL ANTONIO DE OLIVEIRA MEIRELES

IMPRENSA BRASILEIRA
História e crítica do nosso jornalismo

SÃO PAULO
2006
Presidente da Fundação de Rotarianos de São Paulo
Dr. Eduardo de Barros Pimentel

Direção Geral das Faculdades Integradas Rio Branco


Prof. Dr. Custódio Pereira

Diretor Acadêmico
Prof. Dr. Edman Altheman

Coordenação da Habilitação de Comunicação Social


Profa. Ms. Maria Ursulina de Moura

Orientação
Profa. Clara Corrêa

Co-orientação
Profa. Márcia Mello Costa de Liberal

O48 Oliveira Meireles, Rafael Antonio de


Imprensa brasileira: história e crítica do nosso jornalismo /
Rafael Antonio de Oliveira Meireles.-2006.
57 f. : 30 cm.

Monografia (Conclusão de Curso) – Habilitação em


Jornalismo, Curso de Graduação em Comunicação Social,
Faculdades Integradas Rio Branco, São Paulo, 2006.
Bibliografia: f. 53-7

1. Imprensa - Brasil. 2. Comunicação de massa. 3. Publicidade.


I. Título.

CDD 302.23
RAFAEL ANTONIO DE OLIVEIRA MEIRELES

IMPRENSA BRASILEIRA
História e crítica do nosso jornalismo

Monografia apresentada às Faculdades Integradas


Rio Branco – Fundação de Rotarianos de São
Paulo como parte dos requisitos para a obtenção
do título de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Clara Corrêa


Co-orientador: Márcia Mello Costa de Liberal

Aprovado em ____/____/______

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________
Prof. Clara Corrêa – Orientador
Especialista em Comunicação e Marketing

_________________________________________________________
Prof. Maria Alice Carnevalli
Doutora em Ciências da Comunicação

_________________________________________________________
Prof. Livre-Docente José Coelho Sobrinho
Doutor em Ciências da Comunicação

São Paulo
2006
s
ele
eir
M
ira
ive
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra

A todos os estudantes de jornalismo que ainda


acreditam na possibilidade de fazer a diferença
com a conquista do diploma bem como no
exercício da profissão.
s
ele
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M
ira
ive
Ol
de

[...]
nio

Se trago as mãos distantes do meu peito


É que há distância entre intenção e gesto
nto

E se o meu coração nas mãos estreito


Me assombra a súbita impressão do incesto
lA

Quando me encontro no calor da luta


Ostento a aguda empunhadura à proa
fae

Mas o meu peito se desabotoa


Ra

E se a sentença se anuncia bruta


Mais que depressa a mão cega a executa,
Pois que senão o coração perdoa.
[...]

(Chico Buarque e Ruy Guerra. Fado Tropical. 1972-1973)


AGRADECIMENTOS

A Deus, “porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos”.

s
ele
À Marta Melo, que além de me dar a luz da vida, deu-me a luz do conhecimento;

eir
atravessando minha voz com toda sabedoria que este ser iluminado acumulou e
continua a acumular.

M
Ao meu pai, por permitir minha exclusiva dedicação aos estudos.

ira
A este trabalho, por reformular minha linha de raciocínio tornando-me novamente

ive
uma criança inserida nas revelações para as quais despertei.
Ol
A Clara Corrêa, pelo conhecimento que me emprestou para a execução deste
trabalho.
de

A Maria Ursulina (Suli), por me receber tão carinhosamente nas Faculdades


nio

Integradas Rio Branco.


nto

E às Faculdades Integradas Rio Branco, por ter-me aberto as portas para um novo
caminho acadêmico.
lA
fae
Ra
RESUMO

A imprensa brasileira nasceu em 1808, assujeitada às vontades da Corte


Portuguesa. Com a revolução do Porto, em 1820, encontrou a possibilidade de

s
ele
expandir-se. Para tal, necessitou vender-se a anúncios publicitários. Através da
análise do discurso jornalístico, percebemos que houve uma mudança ideológica no
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eir
percurso do jornal ao longo do tempo; de assujeitada à vontade lusitana, passou a
assujeitada à vontade do mercado. Além disso sofreu dois grandes confrontos. O

M
primeiro, em 1950, quando o rádio e a televisão introduziram a Cultura de Massa no
Brasil. O segundo, em 1990, com a chegada da internet. Em virtude da

ira
instantaneidade da produção de notícias, estas mídias precisaram e precisam do
jornal para se legitimarem, pois este é um veículo historicamente importante, digno

ive
de credibilidade e sustentáculo da democracia, que mesmo assujeitado, ainda exerce
o papel de mediador entre a população, o Estado e o terceiro setor.
Ol
Palavras-chave: imprensa-Brasil; comunicação de massa; publicidade.
de
nio
nto
lA
fae
Ra
ABSTRACT

The Brazilian press was born in 1808, submitted to the wills of the Portuguese Court.
With the Revolução do Porto (Portuguese Port Revolution) in 1820, it found the

s
ele
possibility of expand itself. For that, it had to sell itself to the publicitary announcers.
By utilizing the order of things we can realize an ideological chance in the path of
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eir
the press through time; from de the position of submission to the Portuguese will to
the submission to the market will. Besides that, it has suffered two great confronts.

M
The first, in 1950, when the radio e the television introduced the Mass Culture in
Brazil. The second, in 1990, with the arrival of internet. Because of the instantly

ira
news production, these medias needed and need the journal for legitimate
themselves, for this is a vehicle historically important, with credibility and an import

ive
democracy base, that, even though submitted, still had it role as a mediator among
the population, the State and the Third Sector.
Ol
Keywords: Brazilian press; mass communication; publicity.
de
nio
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lA
fae
Ra
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................ 09
1 O JORNAL IMPRESSO............................................................................. 11

s
ele
1.1 AS VÁRIAS FASES DA MESMA HISTÓRIA........................................... 14
1.2 EM MEMÓRIA DOS QUE FORAM CALADOS........................................ 20
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eir
2 AS VOZES DA IMPRENSA....................................................................... 24
2.1 O DIÁLOGO COM O LEITOR.................................................................... 24

M
2.2 UMA BUSCA PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO............................... 28
3 JORNAL: UM CATÁLOGO DE PUBLICIDADE.................................. 34

ira
3.1 UM POUCO DE PAPEL............................................................................... 35
3.2 A PUBLICIDADE, E POR TRÁS, A NOTÍCIA.......................................... 38
4
4.1
ive
PARA QUE JORNAL?............................................................................... 45
PODER, LEGITIMAÇÃO E INFORMAÇÃO............................................. 45
Ol
4.1.1 ANÁLISE DE DISCURSO........................................................................... 46
4.2 UM VEÍCULO DE CREDIBILIDADE........................................................ 48
de

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 51
REFERÊNCIAS........................................................................................... 53
nio
nto
lA
fae
Ra
9

INTRODUÇÃO

O jornal impresso é o veículo de maior credibilidade no mundo. Porém, é voz


geral que necessita de uma reinvenção econômica e estrutural para fazer frente à era

s
ele
da internet, mídia responsável por um outro tipo de jornalismo, ou seja, pelo
jornalismo interativo, instantâneo e descentralizado.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

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Diante disso, podemos inferir dois destinos para o jornal: 1º) o jornalismo

M
impresso se extinguirá em duas décadas, mais ou menos, vítima da competição
desestruturada com mídias inovadoras; 2º) as mídias modernas não deterão a mesma

ira
credibilidade do jornal impresso em função do abuso da instantaneidade, sem o
incremento do gênero interpretativo dos fatos.

ive
Ao longo de alguns anos como estudante de jornalismo, mais interessado na
Ol
área acadêmica que envolve o curso, constatamos que há um excesso de publicações
que tratam da morte da imprensa e outras tantas que defendem uma perenidade. Se
formos pensar, cotejando os dois destinos possíveis da imprensa, podemos dizer que
de

o jornal já está legitimado pela própria história e como tal jamais perderá o seu
público, muito menos a própria credibilidade. Quanto à credibilidade das mídias
nio

modernas, é possível perceber, através de pesquisa nos jornais da web, a fragilidade


das informações, as invencionices de última hora e a facilidade para tirar do ar as
nto

notícias. E mesmo nos blogs de jornalistas conhecidos, que fazem uso do gênero
interpretativo dos fatos, existe um descompromisso com a verdade.
lA

Dessas observações nasceu o nosso tema, que busca expor a perspectiva da


vulnerabilidade do jornal impresso no Brasil, abordada através do resgate histórico,
fae

da análise lingüística e funcional do jornal, e de fatores sócio-econômicos que


envolvem este meio.
Ra

Mobilizamos procedimentos metodológicos pertinentes ao nosso intento que


resultaram em leituras bibliográficas e eletrônicas, enfim, uma pesquisa de ordem
qualitativa.
10

Desta forma podemos informar os objetivos a que nos propusemos, ou seja,


a) mostrar o papel da imprensa escrita, no Brasil, a partir da perspectiva temporal da
era da informação; b) descrever os principais problemas enfrentados pela imprensa
escrita, no Brasil.

s
ele
Os pressupostos teóricos que sustentam todo o trabalho estão distribuídos em
quatro capítulos.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
O primeiro capítulo, sob o título Jornal impresso, aborda a história do jornal

M
no Brasil nas diversas fases atribuídas por Bahia, Marcondes Filho, Novelli e Sodré,
além de refletir sobre a cultura do silêncio, imposta pela ditadura, como exemplo

ira
para lutarmos pela liberdade de expressão.

No segundo capítulo, As vozes da imprensa, utilizamos as concepções


ive
teóricas da Análise de Discurso de origem francesa para dar respaldo à pretensão de
Ol
denunciar o assujeitamento ideológico do discurso jornalístico.

No terceiro capítulo, Jornal: um catálogo de publicidades, fizemos um


de

levantamento dos fatores que provocaram a crise na imprensa brasileira e qual a


participação das agências de publicidade neste momento em diante.
nio

E, finalmente, no quarto capítulo, Para que jornal?, tentamos mostrar o


nto

jornal como um instrumento de credibilidade capaz de legitimar-se bem como de


legitimar outros meios de comunicação.
lA

Nas considerações finais, a partir do arcabouço teórico que sustentou a


pesquisa tecemos algumas considerações sobre a capacidade do jornal manter-se
fae

como tal, enquanto houver quem por ele pague e obtenha lucro.
Ra
11

CAPÍTULO 1. O JORNAL IMPRESSO

s
ele
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
M
ira
ive 1
Ol
A imprensa oficial no Brasil foi instalada na casa de Antônio de Araújo2,
futuro conde da Barca3 (SODRÉ 1999, p. 19), ou seja, nossos periódicos tiveram
de

início em 10 de setembro de 1808, como resultado de uma confusa fuga de Portugal:


a vinda da corte de D. João VI para o Brasil, na pressa de escapar das tropas
nio

francesas, trouxe o prelo e a tipografia, mas não uma sustentabilidade para o


desenvolvimento do jornal.
nto

Enquanto colônia, o Brasil foi mantido sob a tutela da ignorância. Nas


palavras de Moreira de Azevedo via Sodré (1999, p. 18), “não convinha a Portugal
lA

que houvesse civilização no Brasil. Desejando colocar essa colônia atada ao seu
domínio, não queria arrancá-la das trevas da ignorância”.
fae
Ra

1
Brasil rotário on-line. Disponível em : http://www2.brasil-rotario.com.br/revista/materias/rev922/
e922_p18.html. Acessado em 2 de outubro de 2006.
2
“Um ato do Príncipe Regente inaugura a Impressão Régia, com dois prelos e 28 volumes de material
tipográfico que Antônio de Araújo, [...] Secretário de Estrangeiros e da Guerra, trouxe de Portugal no
navio Medusa. Antecessora da Imprensa Oficial, a gráfica que funcionava na Rua do Passeio, 44, no
Centro do Rio, tinha a finalidade de imprimir com exclusividade os atos normativos e
administrativos” (BARBOSA, 2004, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).
3
“Conde da Barca foi um título criado por D. Maria I, por decreto de 27 de dezembro de 1815 a favor
de António de Araújo e Azevedo, um importante político da época do Reinado de Dom João VI no
Brasil” Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_da_Barca. Acessado em 2 de outubro de
2006.
12

Os primeiros colonizadores lusitanos chegaram como um mal cultural,


afetando tanto a saúde dos índios, nada imunes às doenças dos recém-chegados,
quanto a estrutura sócio-econômica e ético-cultural. Como se a “destruição das bases
da vida social indígena, a negação de todos os seus valores, o despojo, o cativeiro”4
não bastassem, os missionários se incumbiam de doutrinar os índios conforme os

s
ele
dogmas católicos. Perante essas restrições, a religião era o único assunto amplamente
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difundido e incontestável.

eir
Tal era a importância da Igreja que o primeiro livro publicado por Gutenberg5

M
foi a Bíblia. E no que foi possível à reprodução de obras, ou seja, de conhecimento e
cultura, a Igreja instituiu juntamente com o Estado, em Portugal, “três censuras: a

ira
Episcopal, ou do Ordinário, a da Inquisição, e a Régia, exercida pelo Desembargo do
Paço, desde 1576, cuja superioridade firmava-se nas Ordenações Filipinas, que

ive
proibiam a impressão de qualquer obra ‘sem primeiro ser vista e examinada pelos
desembargadores do Paço, depois de vista e aprovada pelos oficiais do Santo Oficio
Ol
da Inquisição’”. A partir de 1624, os livros dependiam de autoridades reconhecida
pelo Estado para serem impressos, o que incluía a Igreja, e da Cúria romana para
de

circularem. “Pombal, em 1768, encerrou esse regime, substituindo-o pelo da Real


Mesa Censória, que vigorou até 1787” (SODRÉ ,1999, p. 9-10).
nio

Mesmo os holandeses no nordeste, “parte mais rica da colônia, no séc XVII


nto

[...], apesar de lhe terem dado singular desenvolvimento, na área metropolitana [...],
não se empenharam em trazer ao seu novo domínio americano a arte tipográfica”
lA

(idem, p. 16). Além dos impedimentos oficiais dos portugueses, as condições


econômica e social da colônia, em razão ao escravismo dominante, não geravam as
exigências necessárias à instalação da imprensa. Ignorância justificada pela Igreja em
fae

que as pessoas deveriam se contentar com o que têm em vida, pois os males só terão
cura no reino do céu.
Ra

4
RIBEIRO, 1995, p.30 – 43
5
Em 1450, Gutenberg se propõe a imprimir a Bíblia com um empréstimo de 800 florins de João Füst
e Pedro Schaeffer. Gutenberg precisou de mais dinheiro emprestado. Como garantia, a penhora da
própria oficina. Em 1455, Füst executa o crédito; Gutenberg sem como saldar a dívida, perde a oficina
sem terminar o serviço. Füst e Schaeffer, em 1456, imprimem a “Bíblia de 42 linhas”. (Fundação
Museu da Tecnologia de São Paulo Disponível, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).
13

Quanto aos brasileiros letrados, não tinham interesse algum em assuntos


oficiais que serviam apenas para agradar a Coroa. A Gazeta do Rio de Janeiro era
um diário e agenda da monarquia européia6. Mesmo o Correio Brasiliense fora
criticado por não tratar do Brasil dentro de uma ótica nacionalista7 (SODRÉ, 1999).

s
ele
A Gazeta era noticiosa, sem interesse de conquistar opiniões. Já o Correio era
mais doutrinário que informativo. No entanto, ambos não tinham interesses
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eir
revolucionários. Por mais que o Correio atacasse a administração brasileira, possuía
um caráter moralizador e não modificador. Ainda assim, a entrada do jornal de

M
Hipólito da Costa, no Brasil, fora barrada pela Corte do Rio de Janeiro. “Já a 27 de
março de 1809, o conde de Linhares determinava ao juiz da Alfândega, José Ribeiro

ira
Freire a apreensão do material impresso no exterior” por conter calúnias contra o
governo inglês e material ilusório a gente superficial e ignorante. Ou seja, por conter

ive
assuntos de economia política, tema proibido em Portugal8 (SODRÉ 1999).
Ol
Com a revolução do Porto, em 1820, o Correio Brasiliense passa a circular
normalmente. Neste momento, notícias começaram a ser produzidas no próprio
de

Brasil. Em razão da natureza perecível da informação jornalística e a necessidade de


proximidade com os fatos, Hipólito da Costa já não mais conseguia sustentar um
nio

jornal feito na Inglaterra – sem mencionar a questão financeira.

O Correio Brasiliense publicou a última edição em 1822, enquanto, no Brasil,


nto

a Gazeta do Rio de Janeiro durou até 1821. Dada a austeridade da Corte, a Gazeta e
a Idade d’Ouro do Brasil – impressa na Bahia ao gozo lusitano de 1811 a 1823 –
lA

“foram os únicos jornais brasileiros num período de seis anos, entre 1814 e 20. Até o
ano de 1821, o Rio de Janeiro não contava com outra tipografia senão a da Imprensa
fae

Régia” (BAHIA, 1972, p. 15). .


6
“Por meio dela só se informava ao público, com toda a fidelidade, do estado de saúde de todos os
Ra

príncipes da Europa e, de quando em quando, as suas páginas eram ilustradas com alguns documentos
de ofício, notícias dos dias natalícios, odes e panegíricos da família reinante. Não se manchavam estas
páginas com as efervescências da democracia, nem a exposição de agravos. A julgar-se do Brasil pelo
seu único periódico, devia ser considerado um paraíso terrestre, onde nunca se tinha expressado um só
queixume” (ARMITAGE, 1914 apud SODRÉ, 1999).
7
Por ser produzido na Inglaterra, sem proximidade direta com os fatos no Brasil.
8
Portugal queria evitar que os princípios da Revolução Francesa prejudicassem a estabilidade do
poder da corte lusitana. A Revolução Francesa, “deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão
e os direitos feudais na França e proclamou os princípios universais de ‘Liberdade, Igualdade e
Fraternidade’ [...]”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_
Francesa. Acessado em 2 de outubro de 2006.
14

1.1 As várias fases da mesma história

A imprensa periódica brasileira foi retardatária. Na América Hispânica, o


jornalismo teve início em 1722, enquanto colônia, já no Brasil, só foi possível

s
quando tornou-se Reino Unido a Portugal. “Os governantes portugueses [...]

ele
providenciaram a instalação de prelos e tipografias, ensejando a circulação do
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

primeiro jornal em língua portuguesa na América”9.

eir
Para Sodré (1999), a imprensa está ligada ao capitalismo e seu atraso no

M
Brasil é relacionado com a ausência de burguesia. Somente depois da abertura dos
portos, os jornais se manifestaram. Bahia (1972), apresenta o Diário de

ira
Pernambuco10, inaugurado por Antônio José de Miranda e depois dirigido por
Manuel Figueirôa, como testemunha de três fases do jornalismo brasileiro: “a inicial,
a da consolidação e a moderna”. ive
Ol
A princípio, podemos dividir a imprensa em duas fases. A imprensa
artesanal, de Gutenberg, “que vivia da opinião dos leitores e buscava servi-la”, e a
de

imprensa industrial, em que “o jornal dispensa, no conjunto, a opinião dos leitores e


passa a servir aos anunciantes, predominantemente” (SODRÉ, 1999).
nio

Ao falarmos de jornalismo como um todo, segundo Marcondes Filho (2000)


nto

nossa divisão se estende a quatro fases.

O primeiro jornalismo, de 1789 à metade do século 19, foi, assim,


lA

o da “iluminação”, tanto o sentido de exposição do obscurismo à


luz quanto de esclarecimento político e ideológico. O controle do
saber e da informação funcionava como forma de dominação, de
manutenção da autoridade e do poder, assim como facilitava a
fae

submissão e a servidão [...]. Desmoronado este poder, entra em


colapso igualmente seu monopólio do segredo. A época burguesa
invade o processo: agora tudo deve ser super exposto.11
Ra

Neste período, os jornais eram mais literários e “os fins econômicos vão para
segundo plano”. Tinham posicionamento político-partidário além de doutrinários.

9
MELO, 2003, p. 29 - 30
10
o Diário de Pernambuco passou pelo desenvolvimento gráfico dos mais rudimentares às linotipos e
rotativas. Participou ativamente de embates políticos e nas lutas liberais do povo pernambucano, no
Império e na República. (BAHIA, 1972, p. 26).
11
MARCONDES FILHO, 2000, p. 11
15

Com as revoluções burguesas, após 1800, “os grandes partidos políticos, inclusive os
operários, reivindicam igualmente o poder da imprensa e meios de comunicação
mais efetivos para a conquista de adeptos”, eis o surgimento da esfera pública
proletária12, inicialmente na Inglaterra. A imprensa se difundia popularmente e “todo
o romantismo da primeira fase será substituído por uma máquina de produção de

s
ele
notícias e de lucros com os jornais populares sensacionalistas” (MARCONDES
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

FILHO, 2000, p. 12-13).

eir
O segundo jornal, o jornal como grande empresa capitalista, surge

M
a partir da inovação tecnológica da metade do século 19 nos
processos de produção de jornal. A transformação tecnológica irá
exigir da empresa jornalística a capacidade financeira de auto-
sustentação, pesados pagamentos periódicos para amortizar a

ira
modernização de suas máquinas; irá transformar uma atividade
praticamente livre de pensar e de fazer política em uma operação
que precisará vender muito para se autofinanciar (idem, p. 13).

ive
As tiragens deste momento caracterizado como o da imprensa de massa,
Ol
subiram de 35 para 200 mil. Os jornais se mantêm através da economia da empresa
jornalística e precisam resultar em lucro. “A gradual implantação da imprensa como
de

negócio, iniciada após 1830 na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos, impõe-se
plenamente por volta de 1875” (idem, p. 13-14). O jornalismo se profissionaliza13.
nio

As manchetes aparecem, dentre outras formas de atrativo para o aumento das vendas,
e a notícia cede lugar à publicidade. “A tendência – como se verá até o século 20 – é
nto

a de fazer do jornal progressivamente um amontoado de comunicações publicitárias


permeado de notícias” (ibidem, p. 14). Somente assim para garantir a
lA

sustentabilidade do jornal impresso.

No século 20, o desenvolvimento e o crescimento das empresas


jornalísticas desembocaram na constituição do terceiro jornalismo,
fae

e de monopólios, cuja sobrevivência só será ameaçada pelas


guerras e pelos governos totalitários do período (ibidem).
Ra

12
Novelli resgata o conceito de esfera pública para interpretar o papel da imprensa nas sociedades
contemporâneas por ser importante distingui-la da esfera econômica e do Estado na instituição de uma
política democrática. “A noção de esfera púbica vai se enquadrar nessa perspectiva justamente na base
de sua dupla função: colher e disseminar informações, de um lado e, de outro, fornecer um fórum para
debate.” (Novelli apud MOTTA, 2002, p. 185).
13
“A reforma do estilo da imprensa brasileira começou na década de 1950” com o Diário Carioca que
“foi um dos mais influentes jornais do País e o responsável pela modernização técnica da imprensa
brasileira. Introduziu o lead nas matérias, criou o copidesque e lançou o primeiro manual de redação
jornalística”. “O Diário Carioca foi um jornal tecnicamente revolucionário, que terminou com o lero-
lero das reportagens intermináveis em que a estrela era o repórter, e não o assunto (Paulo Francis)”
(Diário Carioca.com.br, on-line. Acessado em 02 de outubro de 2006).
16

Como reflexo da modernidade e da necessidade de promoção institucional


das empresas, desenvolvem-se a comunicação publicitária e as relações públicas. O
jornalismo entra num “processo de desintegração da atividade, seu enfraquecimento,
sua substituição por processos menos engajados” os quais Marcondes Filho (2000, p.
15) atribui àqueles que “não buscam a ‘verdade’, que já não questionam a política ou

s
ele
os políticos, que já não apostam numa evolução para uma ‘sociedade mais humana’.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

[Tal] transformação ou descaracterização da atividade [...] tem a ver com a crise da

eir
cultura ocidental”.

M
O quanto e último jornalismo, o do fim do século 20, é o
jornalismo da era tecnológica, um processo que tem seu início por
volta dos anos 70. Aqui se acoplam dois processos. Primeiramente,

ira
a expansão da indústria da consciência no plano das estratégias de
comunicação e persuasão dentro do noticiário e da informação. É a
inflação de comunicados e de materiais de imprensa, que passam a

ive
ser fornecidos aos jornais por agentes empresariais e públicos
(assessorias de imprensa) e que se misturam e se confundem com a
informação jornalística (vinda da reportagem principalmente),
Ol
depreciando-a “pela overdose”. Depois, a substituição do agente
humano jornalista pelos sistemas de comunicação eletrônica, pelas
redes, pelas formas interativas de criação, fornecimento e difusão
de informações [...], que recolhem material de todos os lados e
de

produzem notícias (idem, p. 30).

Para Dines (1986), a mídia internacional sofreu uma crise de identidade


nio

perante os “desafios da tecnologia, da globalização e do perigoso convívio com o


entretenimento”. Esta crise “foi exportada para o Brasil, onde a concentração,
nto

combinada à descapitalização da empresa jornalística, articulam um novo cenário e


uma nova pauta para a discussão da missão da imprensa” (p. 16).
lA

Este autor vê o processo evolutivo do jornal como uma constante cíclica, por
apresenta a primeira fase da impressão como “totalmente plana; depois, quando se
fae

pretendeu alcançar maior velocidade, adotou-se a rotativa, arredondamento, para


efeitos de velocidade, do processo industrial” (p. 44).
Ra

Quanto “a nossa imprensa, no que tinha de específico, não mudou com a


passagem do [...] Império à República. Mudou muito, entretanto, quanto ao
conteúdo, quanto ao papel desempenhado.” Em termos de divisão, Sodré (1999)
apresenta, ainda, como “a única repartição acorde com a realidade seria em imprensa
artesanal e imprensa industrial” – por nos ser recente a fase da imprensa industrial.
17

Retomando às três fases que Bahia (1972) apresenta – além do jornalismo


contemporâneo –, a fase inicial correspondente ao período de 1808 a 1880. Momento
em que o Brasil começava a “usufruir os resultados positivos do espírito
autonomista, das conspirações pela liberdade e pela independência” (p. 33).

s
ele
A consolidação ocorreu “setenta e dois anos passados da instalação do pesado
material com que se imprimia a Gazeta do Rio de Janeiro [...]. Depois de 1880 e no
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
fim do século XIX até princípios do século XX, a imprensa adquire expressão no
campo das atividades industriais” – transição tardia comparada a de outros países. A

M
nossa tipografia, de artesanal, passa a “conquistar a posição de indústria gráfica de
definida capacidade econômica”14.

ira
Nesta fase, muitos jornais efêmeros desapareceram e “uma imprensa mais

ive
participante e consciente é chamada a ocupar lugar fundamental na vida pública do
País” (idem). É entre 1920 e 1930 que surgem alguns dos grandes jornais brasileiros
Ol
– década em que aparece a radiodifusão. A partir de 1928, rotativas15 mais modernas
eram instaladas nos principais Estados16, com resultados próximos ao do offset, e em
de

1930 inicia a fase moderna, “consubstanciando o espírito renovador e a explosão de


sentimentos populares”. Jornais reapareciam “com nova disposição e maior empenho
nio

na defesa dos direitos individuais”17.

Logo nos anos 40, a nossa indústria gráfica já era tão bem aparelhada quanto
nto

a dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Contudo, a nossa imprensa não corresponde à
demanda de informação, dentro das expectativas do jornalismo, perante o público e a
lA

sociedade, atingida por nações mais desenvolvidas. Tal desnível está relacionado ao
nosso passado histórico atrelado ao desenvolvimento do jornalismo – que ainda
fae

enfrenta “sérios problemas, desde a instabilidade política à busca de modelos de


desenvolvimento, para a superação de suas deficiências”18.
Ra

14
BAHIA, 1972, p. 45
15
De exemplo o jornal A TARDE, de Salvador, instalado em 1912 com um impressora plana Marioni
considerada obsoleta na Europa. Um ano depois é incorporada a impressora Koening-Bauer. Em 1920,
A TARDE entra na era dos linotipos. Em quatro anos, passam para a Albert. Em 1930, foi trazida a
rotativa alemã Man. Com ela, uma prensa elétrica, uma fundidora automática e uma fresa elétrica. (A
Tarde, 15 de outubro de 2002, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006).
16
São Paulo; Rio de Janeiro; Minas Gerais; Rio Grande do Sul; Pernambuco (BAHIA, 1972, p. 67).
17
idem, p. 67
18
ibidem, p. 91
18

A imprensa só tentará uma penetração nacional, alcançando às massas,


“muito mais tarde, na fase moderna, já no complexo quadro da comunicação que
comporta os veículos impressos, rádio e a televisão” (BAHIA, 1972, p. 68).

A expansão observada a partir de 1930 se deve a fatores

s
econômicos, políticos e culturais. O jornalismo já entrara numa

ele
faixa de operação industrial, abandonado a projeção boemia,
ativista, idealista da primeira fase. O jornal-mito, identificado com
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

a visão individualista de seu proprietário, não raro o principal

eir
redator e administrador, cede lugar ao jornal-empresa (idem).

A revolução de 30 contribuiu para acabar com a marginalização do processo

M
educacional a qual as correntes populares eram submetidas na República Velha. O
número de interessados por informação aumentava de modo que a imprensa não

ira
conseguia alcançar ou suprir19 até os anos 50.

ive
Para Bahia (1972), o jornalismo contemporâneo, representa a adaptação do
jornalismo às necessidades da sociedade brasileira. Bahia refere-se ao novo
Ol
jornalismo surgido com o “despertar social, com a mobilização popular Constituinte,
a queda da ditadura Vargas, a ascensão das grandes parcelas operárias urbanas, a
de

expansão das indústrias de base” e assim, o tradicional “jornal mais se aproxima do


povo, passando a ser um intérprete mais eloqüente e vigoroso dos anseios populares”
nio

(p. 92).
nto

É na contemporaneidade atribuída ao jornalismo, por Bahia (idem, p. 92) em


sua época, que o Brasil “ingressa na idade da cultura de massa com uma participação
lA

que, dos anos 50 em diante, é cada vez maior”. Isso só foi possível devido a
penetração do rádio e da TV20 na parcela analfabeta da população, que, em 1970,
representava 33% dos 80 milhões de brasileiros.
fae

Não é por outro motivo que, apesar do esforço dos grandes jornais,
nenhum cobre nacionalmente o território e poucos ultrapassam a
Ra

marca dos 150 mil exemplares diários. Várias outras causas

19
em razão das “condições particulares do sistema de comunicação internas - desde os correios e
telégrafos, as ferrovias e demais meios de transportes, ao telefone.” (BAHIA, 1972, p. 68).
20
Nesta fase, o jornal impresso atua em conjunto com as outras mídias. Mas com o surgimento da
internet - no final da década de 80 com o desenvolvimento da ARPANET (Advanced Research
Project Agency Network), que teve início 1969; o Brasil passa a usufruir desta rede mundial já nos
anos 90 -, e seu desenvolvimento no Brasil, mudanças ocorreram no contexto do jornalismo de tal
forma que dedicaremos o quarto capítulo, Para que jornal?, para abordar a relação do jornal impresso
com as outras mídias.
19

dificultam a circulação dos periódicos: deficiência do sistema de


transportes; precariedade de comunicações; excessiva concentração
de jornais diários nas metrópoles; incapacidade econômica; crises
no fornecimento de papel etc.21

Mesmo as dificuldades econômicas não impediram o aumento da circulação

s
deste veículo em todo o mundo. “O público considera-o cada vez mais indispensável,

ele
reiterando em termos de preferência a importância do meio impresso na ação sobre a
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

opinião”.22

eir
Novelli23 apresenta a imprensa como uma “instituição por excelência da

M
esfera pública [que] atua numa área de intersecção24 entre o setor público e o
privado”, portanto, as “fases que representam a evolução da imprensa vão

ira
demonstrar a própria evolução da esfera pública”, apresentada da seguinte forma:

ive
Imprensa da informação - fase inicial: surge no século XIV conseguinte da
necessidade de troca de informações comerciais sobre circulação das
Ol
mercadorias. Desta forma, surge um elo entre indivíduos privados [mercado],
que sustenta a imprensa assim caracterizada por produzir informação perecível
de

de certa realidade, mas sem a acessibilidade - característica da imprensa


moderna.
nio

Imprensa de opinião - fase seguinte: de forma literária, os jornais passam a ser


porta-vozes e condutores da opinião pública. Sendo um mecanismo de
nto

publicidade argumentativa dos próprios donos - partidos políticos e escritores -,


cuja lucratibilidade fica em segundo plano. Movida pelo idealismo, operam na
lA

falência, mas resguardam para suas redações uma espécie de liberdade típica da
comunicação das pessoas privadas caracterizadas com o público.
fae

21
BAHIA, 1972, p. 93
22
idem, p. 153
Ra

23
MOTTA (org.), 2002, p. 184-185.
24
Segundo Novelli, a burguesia buscava ocupar um espaço entre o poder público do Estado e o poder
privado do mercado, organizando-se na forma de sociedade civil. Esta organização deu origem, no
século XVIII, a esfera pública burguesa composta por funcionários do Estado, profissionais
autônomos, grandes proprietários e produtoras de mercadoria. A ideologia contida nesta esfera, que
visava dominar os mecanismo de produção e troca, cai com a ascensão à categoria de classe dos
indivíduos por ela dominados. Assim, o Estado, único legítimo no poder, regula os mecanismos de
troca entre as pessoas privadas originando assim, as privatizações bem como a estatização da
sociedade. Confunde-se aí, o setor público como o setor privado, originado uma nova esfera social
intermediária a qual interpreta-se como setores estatizados da sociedade e setores socializados do
Estado, ambos apartidários.
20

Imprensa comercial - fase atual: surge quando o estabelecimento do Estado


burguês de direito e a legalização da esfera pública politicamente ativa libertam
a imprensa das obrigações críticas dando a ela a oportunidade de assumir o
lucro de uma empresa comercial.

s
Dentro da caracterização atual da imprensa, “como um típico

ele
empreendimento capitalista avançado, que subordina a política empresarial a pontos
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

de vista da economia de mercado [...] o jornal passa a ser influenciado por interesses

eir
estranhos aos seus objetivos primeiros” (MOTTA (org.), 2002, p. 185).

M
A imprensa, segundo Novelli, precisa de uma estrutura pública e autônoma,
separada da função de debate político. Para tal, é preciso ampliar o acesso dos vários

ira
setores da sociedade civil, pois não há como garantir que a imprensa seja dotada de
isenção se é exclusiva a responsabilidade dos jornalistas para decisão do que entra ou
não na agenda pública. ive
Ol
1.2 Em memória dos que foram calados
de
nio

O jornal impresso brasileiro nasceu sufocado pelo Estado e sofreu ao longo


de sua história inúmeras agressões para que permanecesse calado. Foi um processo
nto

de manipulação política por meio da censura.

Os governantes sempre sonharam com uma imprensa submissa, que


lA

funcionasse como um veículo de propaganda institucional. Getúlio Vargas contou


com um jornalista à sua disposição: Samuel Wainer. Este criou um jornal, A Última
fae

Hora, cujo único objetivo era ser favorável a Getúlio.


Ra

O jornal foi criado graças a financiamentos concedidos pelo Banco


do Brasil e à participação de alguns grandes empresários, como
Walter Moreira Salles, Ricardo Jafet e o Conde Matarazzo. A
Última Hora ganhou espaços de mercado graças a qualidade de
seus jornalistas e a uma linguagem mais moderna que adotou. Isso
incomodou duplamente os grandes empresários de comunicação:
pela perda de espaços de mercado e pelas posições políticas que a
linha editorial da Última Hora favorecia.25

25
O legado de Getúlio Vargas, on-line. Acessado em 4 de outubro de 2006.
21

Uma imprensa sem liberdade significa um país sem democracia, mas era isso
que Getúlio desejava. Era isso que o autoritário D. Pedro I queria, conforme atesta a
História.

Todavia muitas vozes e consciências repudiando a cultura do silêncio

s
ele
cumpriram o dever cívico de informar ao povo o que ocorria nos corredores do poder
público, desde a época do Brasil império. Infelizmente, algumas delas foram
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
silenciadas e outras violentadas, conforme podemos observar nos textos 1, 2, 3, e 4.

M
TEXTO 1

ira
24 de outubro de 1975. Sexta-feira à tarde. Vladimir Herzog,

ive
jornalista da TV Cultura, acompanhava a transmissão do telejornal
Hora da Notícia, antevendo um agradável final de semana com a
Ol
esposa e os filhos. Ao sair da redação, encontra dois agentes de
segurança do regime militar. Queriam levá-lo preso.
de

Após intermináveis barganhas, Vlado – como era chamado pelos


colegas de ofício – consegue convencer os homens a não levá-lo
nio

àquela hora, devido a compromissos profissionais. Se compromete


a comparecer no dia seguinte ao DOI-Codi (Destacamento de
nto

Operações e Informações e Centro de Operações de Defesa do II


Exército). “Às 8h”, frisa o policial.
lA

25 de outubro. Oito horas da manhã. Vladimir Herzog se apresenta


no DOI-Codi.
fae

25 de outubro. Final da tarde. Vladimir Herzog está morto. Motivo:


Teria assinado confissão declarando-se militante do Partido
Ra

Comunista Brasileiro. Causa mortis: “Voluntário suicídio por


enforcamento.”26

26
Canal da Imprensa, on-line. Acessado em 4 de outubro de 2006.
22

TEXTO 2

20 de novembro de 1830. Passa das 22h. O médico e jornalista


italiano João Batista Líbero Badaró caminha pelas ruas centrais da

s
capital paulista. Dois pistoleiros encapuzados aguardam-no na

ele
esquina. Ouve-se o som de um revólver. A bala atinge em cheio
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

uma artéria, rompendo-a. Amigos o socorrem. Levam-no para casa,

eir
cogitam uma operação. Em vão. O ferimento é fatal. Líbero morre
no dia seguinte.

M
Fundador do jornal Observador Constitucional, veículo de ataque

ira
ao autoritarismo de dom Pedro I e aos desmandos do ouvidor
Cândido Japiaçu, Líbero tornou-se símbolo da luta pela

ive
nacionalização do império brasileiro. Pouco antes de falecer,
desabafa: “Morre um liberal mas não morre a liberdade”. O boato a
Ol
respeito de sua morte tornou-se verdade absoluta: Líbero foi
assassinado a mando direto do imperador. Um tanto irônico para
alguém que declarou “Independência ou Morte!”.27
de
nio

TEXTO 3
nto

24 de março de 1990. Sábado, 15h30. Seis fiscais da Receita, um


lA

delegado e dois agentes armados e uniformizados da Polícia


Federal invadem a sede da Folha de S. Paulo. Exigem ser levados
fae

à presença de Octavio Frias de Oliveira, dono do grupo Folha. A


penetração forçada encontrava pretexto em eventuais
irregularidades econômicas. [O governo queria averiguar se a
Ra

empresa cobrava as faturas publicitárias em cruzados novos ou


cruzeiros.] Por trás estava a repressão política, um revide às
matérias negativas à candidatura de Fernando Collor.28

27
idem
28
ibidem.
23

TEXTO 4

Recentemente, o jornal O Globo, (julho/2001) e o semanário Carta


Capital (maio/2002) tiveram seu conteúdo censurado previamente

s
– obras do presidenciável Anthony Garotinho. No mesmo maio, a

ele
grande imprensa recebeu ordem judicial, proibindo qualquer
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

referência às denúncias de abuso sexual envolvendo juiz do TRT

eir
paulista. Se veículos como a Folha e Último Segundo não
ousassem se pronunciar, o delato nunca chegaria ao grande

M
público.29

ira
Assim a imprensa sabe que é dela própria a responsabilidade de manter estes
ive
momentos vivos na memória do povo, como uma forma de resistência à ditadura
Ol
imposta aos veículos de informação ou à cultura do silêncio.

O resgate dos valores contidos nas figuras de Líbero Badaró, de Herzog e


de

outros tantos que foram calados, é indispensável para a imprensa mostrar à sociedade
que ela tem um compromisso com a liberdade de expressão. E a nossa imprensa foi
nio

capaz deste gesto e sobreviveu como o símbolo da liberdade e da democracia.


nto
lA
fae
Ra

29
Ibidem.
24

CAPÍTULO 2. AS VOZES DA IMPRENSA

No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra

s
no meio do caminho tinha uma pedra.

ele
Nunca me esquecerei desse acontecimento
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

eir
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
tinha uma pedra

M
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

ira
O menino custou a começar a falar, e a dificuldade que tinha para

ive
pronunciar uma frase inteira provocava risos nos adultos [...] ele já beirava os três
Ol
anos quando os pais entenderam que o menino era gago (MORAIS, 1994, p. 32).
Este menino é Assis Chateaubriand – Chatô. Um grande nome no jornalismo
brasileiro e de reconhecida significância no desenvolvimento das empresas de
de

comunicação. Quando criança, gago como a infância de nossa imprensa, venceu as


barreiras da disfemia e do próprio mundo, de uma forma positiva e revolucionária,
nio

tornando-se grande.
nto

A imprensa brasileira também venceu imensas barreiras, ora contornando as


pedras do caminho, ora tropeçando nas pedras do caminho, ora gaguejando, ora
lA

calando-se porque muitas vezes o silenciamento lhe foi imposto, até chegar aos dias
de hoje, grande, imensa, maior que o próprio Chatô, pois nela falam outras vozes que
também fizeram e ainda fazem a diferença no cotidiano de cada brasileiro.
fae
Ra

2.1 O diálogo com o leitor

Segundo Sodré (1998), “é preciso, desde logo, compreender e aceitar que a


imprensa não é meio de massa, em nosso país”. Compreendendo imprensa, o jornal e
a revista, “é fácil constatar que esses meios não são de uso habitual em parcela
25

numerosa, majoritária mesmo, do nosso povo”30. Assim, de acordo com as


formulações teóricas de Pêcheux, podemos dizer que o jornal impresso é um
discurso31 que fornece legitimidade para as notícias que circulam pelas diversas
mídias. Da legitimidade falaremos com maior profundidade no quarto capítulo, pois
o que nos interessa nesse momento é ver a relação estrutural do jornal com a

s
ele
sociedade, através do sentido polifônico e dialógico constitutivo da linguagem no
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

sentido bakhtiniano.

eir
Entendemos polifonia como um coro de vozes que participam do processo

M
dialógico; e dialogismo um princípio constitutivo da linguagem (BARROS;
FIORIM, 2003) e a condição para o discurso fazer sentido.

ira
O jornal impresso não é uma única voz, mas um diálogo entre as vozes dos

ive
leitores e as vozes dos jornalistas convivendo numa interação social, revelando as
consciências independentes e as consciências eqüipolentes. Assim a notícia impressa
Ol
é polifônica e dialógica e é este princípio que garante a sustentabilidade estrutural do
jornal. Uma garantia de que a notícia é uma análise de um trabalho de um grupo
de

heterogêneo de vozes e consciências.


nio

Dessa forma, o jornal impresso no Brasil pôde e pode influenciar e fazer a


diferença em cada momento histórico da sociedade – informando, noticiando,
debatendo e fiscalizando – preparado em todos os sentidos para atuar conforme os
nto

próprios objetivos, desde a época do Império. Como exemplo de apropriação


ideológica dos jornais como vozes políticas dialogando com a sociedade, o Estado de
lA

São Paulo que, em 1902, tem Júlio de Mesquita como único proprietário e representa
fae

30
(SODRÉ, 1999, p. IX). Foram necessários o rádio e a TV para acessar aos analfabetos, por
exemplo. Mesmo assim, convencionou-se, por mérito, a utilização do termo meios de massa para
veículos de comunicação num todo. Eugênio Bucci defende que “a ética na comunicação de massa
Ra

não pode ser pensada a partir das mesmas balizas que nos guiam para discutir a ética na imprensa”.
Como primazia da imprensa, a busca pela “verdade factual, da objetividade, da transparência, da
independência editorial e do equilíbrio. Já o conceito de ‘meios de comunicação de massa’ traz em si,
desde a origem, o embaralhamento sistêmico entre fato e ficção, entre jornalismo e entretenimento,
entre interesse público, interesses privados e predileções da esfera íntima”. Bucci usa imprensa para
designar “a instituição constituída pelos veículos jornalísticos, seus profissionais e seus laços com o
público” (BUCCI, on-line. Acessado em 5 de outubro de 2006).
31
Discurso, segundo Pêcheux, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr
por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do
discurso observa-se o homem falando. Daí a definição de discurso: o discurso é efeito de sentidos
entre locutores (ORLANDI, 2002).
26

“o grande órgão político na capital do Estado que se desenvolve rapidamente [...]; a


cidade de S. Paulo é, agora, centro industrial de grande desenvolvimento, ‘o maior
parque industrial da América Latina’ [...]” (SODRÉ, 1999, p. 323).

O que aparentemente representa tão somente a voz do único proprietário – a

s
ele
de um grande órgão político –, estava atravessada por outras vozes, assim como
qualquer voz que enuncia, pois “as palavras não são nossas. Elas significam pela
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
história e pela língua. O que é dito em outro lugar também significa nas nossas
palavras” (ORLANDI, 2002, p. 47).

M
Além disso temos que lembrar que o proprietário de um jornal impresso

ira
jamais é um autor passivo no processo polifônico do discurso jornalístico. Ele é um
autor ativo e o seu ativismo tem um caráter dialógico com a sociedade e está

ive
diretamente vinculado à consciência dos leitores-interlocutores.
Ol
Quem dá o tom discursivo da notícia, quem deixa entrever o viés ideológico
ou tendencioso do jornal impresso não é a voz do dono32, mas o som de uma
orquestra polifônica regida pelas formações discursivas33, ideológicas34 e imaginárias
de

que atravessam o discurso jornalístico. Como exemplo, podemos lembrar as vozes


nio

dos pasquins – panfletos que circulavam na época do império – que eram violentas,
chegando ao nível da calúnia e do insulto pessoal – dado o momento histórico
violento, virulento e intranqüilo.
nto

Seu conteúdo refletia o ardor das facções em divergência: direita


lA

conservadora, direita liberal e esquerda liberal (os exaltados) que


publicava os pasquins.

Liberais e conservadores travavam verdadeira guerra de palavras


fae

utilizando os pasquins que, nos próprios títulos, demonstram o que


eram: O Palhaço da Oposição, O Crioulinho, O Burro Magro, o
Caolho, entre outros. Pelos títulos dá para sentir que os pasquins
Ra

32
Em outras palavras, o sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha
consciência disso (e aqui reconhecemos a propriedade do conceito lacaniano de sujeito para a análise
do discurso), a ocupar seu lugar em determinada formação social e enunciar o que lhe é possível a
partir do lugar que ocupa (MUSSALIM, 2004).
33
Formações discursivas são os determinantes do que pode e deve ser dito em um dado lugar sócio-
histórico determinado. Elas mantêm uma relação básica com a formação ideológica predominante: os
textos de uma formação discursiva espelham uma mesma formação ideológica.
34
Formação ideológica, segundo Fiorin (2003), “deve ser entendida como a visão de mundo de uma
determinada classe social, isto é, um conjunto de representações, de idéias que revelam a compreensão
que uma dada classe tem do mundo”.
27

recorriam, com freqüência, ao preconceito de cor e aos apelidos


das pessoas que eram alvo desses panfletos.

O próprio imperador, D. Pedro I, que antes de voltar a Portugal era


criticado constantemente pelos pasquins, respondia com artigos
inflamados contra seus adversários. Para isso, utilizava
pseudônimos, que refletiam o conteúdo dos artigos, como: O

s
Inimigo dos Marotos, o Anglo-Maníaco, O Derrete Chumbo a

ele
Cacete, Piolho Viajante, entre outros.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

A partir da metade do século XIX, o Império se consolida e a

eir
imprensa política, representada principalmente pelos pasquins,
esmorece. É a época da conciliação, com o arrefecimento ou fim
das lutas partidárias.35

M
Outro exemplo de polifonia nos jornais impressos está na imprensa escrita

ira
pelos anarquistas italianos, imigrantes que entraram no Brasil para substituir o
trabalho dos escravos recém-alforriados36. Estes imigrantes tinham uma postura

ive
ideológica heterogênea: uns eram apolíticos e outros anarquistas ou simpatizantes do
Anarquismo37.
Ol
Os anarquistas organizaram sindicatos cuja ferramenta básica ou arma de
combate era a imprensa escrita. Os jornais cumpriam a função de conscientizar os
de

trabalhadores e as suas famílias sobre a doutrina anarquista, incitando-os à liberdade,


nio

bem como sobre fatores fundamentais de mobilização operária e como uma forma de
resistência contra a exploração dos empregadores.
nto

Em síntese, o jornal funcionava como propaganda política e um organizador


social. Era tão integrado ao seu público leitor que não necessitava de repórteres para
lA

buscar notícias. Essas chegavam aos montes na redação clandestina dos jornais: eram
as vozes da sociedade operária imigrante dialogando com o jornal, com a sociedade e
com o governo.
fae

35
LOPES, on-line. Acessado em 2 de outubro de 2006.
Ra

36
“A introdução do trabalho europeu nas fazendas de café foi um processo lento, alcançado pela
pertinácia de cafeicultores empenhados na solução de seu maior problema: a falta de mão-de-obra,
agravada primeiro pela proibição do tráfico e depois pela abolição. As primeiras tentativas [...]
provocaram reclamação consulares e escândalos na imprensa européia, a que os brasileiros são
especialmente sensíveis” (RIBEIRO, 1994, p.399).
37
De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja
livremente aceita, defendendo tipos de organizações horizontais e libertárias [...]. O anarquismo
enquanto teoria política nada tem a ver com o caos ou a bagunça [...]. No início do século XX, o
anarquismo e o anarco-sindicalismo eram tendências majoritárias entre o operariado, culminando com
as grandes greves de 1917, em São Paulo, e 1918-1919, no Rio de Janeiro. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquia. Acessado em 2 de outubro de 2006.
28

Até hoje as vozes da sociedade se entrelaçam com as vozes do jornal


impresso dialogando com o que é de direito, exigindo afastamento legal de
presidentes corruptos, denunciando fraudes contra o povo. É esta orquestra
polifônica que dá sustentabilidade jurídica à nossa condição de cidadão, pois ela não
é um meio de comunicação de massa e sim, a nossa própria voz.

s
ele
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
2.2 Uma busca pela liberdade de expressão

M
Nas democracias liberais, a imprensa tem sido chamada de quarto
poder, um poder além do Executivo, do Legislativo e do Judiciário,

ira
[...] um poder autônomo exercido em nome do povo. [...] Ela é
tomada, por delegação implícita da sociedade, como instrumento
de defesa popular contra as injustiças, ilegalidades e
ilegitimidades.38
ive
Nas palavras de Melo (2003, p. 144), “a imprensa figura na História da
Ol
Humanidade como a inovação que alterou profundamente a marcha civilizatória”.
Ela consolidou a cidadania e deu condições para a expressão das sociedades
de

democráticas.
nio

A liberdade de expressão, sobretudo sobre política e questões


públicas é o suporte vital de qualquer democracia. Os governos
democráticos não controlam o conteúdo da maior parte dos
nto

discursos escritos ou verbais. Assim, geralmente as democracias


têm muitas vozes exprimindo idéias e opiniões diferentes e até
contrárias.39
lA

E é a liberdade de expressão40, amplamente defendida pelo mass media, que

38
fae

MOTTA (org.), 2002, p. 14


39
Escritório de Programas Internacionais de Informação, on-line, 28 de maio de 2004. Acessado em
16 de outubro de 2006.
40
- DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pela
Ra

resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Artigo
XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de,
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.
- LEI No 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967. CAPÍTULO I - DA LIBERDADE DE
MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E DA INFORMAÇÃO. Art . 1º - É livre a manifestação do
pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem
dependência de censura, respondendo cada um, nos têrmos da lei, pelos abusos que cometer.
- CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) - (Pacto de San José da Costa
Rica). Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão: 1. Toda pessoa tem o direito à liberdade
de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir
29

garante a liberdade de imprensa, ou seja, o poder das mídias. No entanto, o valor


ideológico, expressivo de uma liberdade, foi vendido no mercado neoliberal, assim
como Marshall coloca: “liberdade de imprensa vira um mito”:

A imprensa perde cada vez mais seu papel precípuo na sociedade.

s
As liberdades de imprensa, de informação e de expressão viram

ele
apenas testas-de-ferro para que as empresas midiáticas defendam
seus interesses econômicos. A liberdade de imprensa dá lugar à
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

liberdade de publicidade. As páginas dos jornais caminham para

eir
liberalização total, levando a informação a ser dourada com
persuasão ou entretenimento. Esvazia-se o compromisso da
imprensa com a defesa dos cidadãos, do interesse publico, da

M
verdade, do Estado-nação ou do bem-comum. A nova liberdade
vira uma liberdade econômica, que privilegia apenas o capital. As
empresas midiáticas lutam, inclusive, para liberalização total da

ira
liberdade de imprensa, permitindo contemporânea-mente
licenciosidades capitalistas não condizentes com o papel social
desempenhado pela linguagem na era do liberalismo moderno. A

ive
liberdade, embora mítica, cria o mito da transliberlizacao: tudo
passa a ser livre, menos o que possa afetar ou atingir os interesses
empresariais (MARSHALL, 2003, p. 166).
Ol
Além da liberdade de expressão ser regrada por forças econômicas, a
influência política não difere para com os meios de comunicação. No governo Lula
de

tramitou o anteprojeto para a criação de um Conselho Federal de Jornalismo. Visto


como um artifício de censura, o Jornal da Unicamp41 levanta a seguinte questão, com
nio

as respostas dos professores Roberto Romano e Reginaldo Moraes, do


IFCH/Unicamp:
nto

Jornal da Unicamp: Segundo os críticos dessas medidas, o que


está por trás do “pacote regulador” do governo é um esforço de
lA

apropriação da informação pública. Ou seja, o governo gostaria de


controlar a qualidade da informação que chega à sociedade e, ao
mesmo tempo, ter acesso livre e privilegiado a informações
sigilosas sobre os cidadãos. Como o senhor analisa essa postura? O
fae

senhor vê nisso algum risco ou os críticos estão vendo fantasmas?

Reginaldo Moraes: As palavras não são inocentes. Apropriação da


Ra

informação pública? Quem se apropria? E quem é expropriado? De


quem é, hoje, essa informação que se diz “pública”? Nesse campo,

informações e idéias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por


escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha; 5. Não se pode
restringir o direito de expressão por vias e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou
particulares de papel de imprensa, de freqüências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos
usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação
e a circulação de idéias e opiniões.
41
Jornal da UNICAMP, edição 263, 23 a 29 de agosto de 2004, on-line. Acesso em 4 de out de 2006.
30

como diz o ditado, manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Qualquer jornalista que se aventurou a ter alguma idéia na cabeça –
e que não correspondesse àquela de seu patrão – sabe do que
estamos falando. [...]

Curiosamente, também, sequer notícia breve se registrou sobre o


fato de que o Congresso Nacional de Jornalistas, recém-realizado

s
na Paraíba, apoiou unanimemente o envio do projeto de lei. TVs,

ele
jornalões e rádios não deram essa notícia, nem para dizer que esses
jornalistas são doidos: melhor não dizer, não é mesmo?
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
Os críticos não estão vendo fantasmas, não. Eles estão muito
lúcidos. Estão atirando naquilo que vêem. Mas querem que

M
pensemos que atiram em outra coisa. A “informação que chega à
sociedade” não “chega” – é levada por alguém. Alguém que quer
permanecer na sombra.

ira
Roberto Romano: [...] As investidas do atual chefe da Casa Civil,
do ministro do Trabalho, do ministro encarregado pela
Comunicação e, o mais espantoso, do próprio ministro da Justiça

ive
contra a imprensa ecoam perfeitamente as palavras emitidas em
1985 pelo então candidato à presidência da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, sobre as liberdades: “Acho que a liberdade
Ol
individual está subordinada à liberdade coletiva. Na medida em
que você cria parâmetros aceitos pela coletividade, o
individualismo desaparece. Ou seja, não há razão para a defesa da
liberdade individual. O que você precisa é criar mecanismos para
de

que a grande maioria da comunidade possa participar das decisões”


(Folha de São Paulo, 29/12/1985). As últimas medidas anunciadas
pelo governo são “mecanismos” supostamente para garantir a
nio

palavra à sociedade, mas de fato dirigidas para impor teses


favoráveis aos ocupantes ocasionais do governo. Todo um
programa é agora implantado sine ira et studio42, numa ideologia
nto

que se corporifica em atos normativos e reguladores [...].

Quando Lula submete a liberdade individual à coletiva, joga – dentro de seu


lA

peculiar vocabulário presidencial – a liberdade de expressão para escanteio. Neste


caso, cobra a falta, o Marshall McLuhan43, que aponta três efeitos produzidos pela
cultura tipográfica:
fae

Individualismo – libertando os componentes da tribo e


Ra

convertendo-os em cidadãos capazes de construir comunidades


autônomas.

Nacionalismo – sedimentando as línguas escritas, através da


literatura, e fomentando o sentimento nacional capaz de gerar
Estados independentes

42
sem cólera nem parcialidade [Segundo Tácito, é o modo pelo qual deve ser escrita a história.]
(Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, 2002, CD-ROM).
43
apud Melo (2003, p. 144).
31

Espírito de crítica – estimulando a reflexão privada, através da


leitura silenciosa, capaz de produzir sentidos estereotipados que
convergem para a formação da opinião pública.

A tentativa de cerceamento do atual governo é uma afronta àquilo que é


inerente à imprensa. Vista como um instrumento de poder, dada a representatividade

s
sócio-democrática, a imprensa se resguarda sob direitos adquiridos e conquistados

ele
nas lutas contra a repressão do governo. “Retira-se do Estado o privilégio de fazer
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
censura a priori dos impressos, mas cabe-lhe o dever de coibir a posteriori os abusos
cometidos” (MELO, 2003, p.145).

M
Falamos de censura política a qual funde-se e confunde-se com o próprio
grito de liberdade e autonomia do jornal. Lembramos também, do processo histórico

ira
da imprensa que nos traz a censura presente na dependência econômica44. Deste

ive
modo, a imprensa permanece silenciada à expressão dos interesses político e
econômico, e direcionada ideologicamente a uma parcela mínima representada pelos
Ol
multiplicadores de opinião – o que exclui o “restante da sociedade que, embora não
faça parte do seu grupo de leitores, também têm interesses que devem ser
preservados para o pleno funcionamento da sociedade democrática”.45
de

Como exemplo, a “manipulação feita pela Folha, [própria de uma] imprensa


nio

neoliberal” que, segundo Paixão (on-line), ocorreu em detrimento da candidatura da


oposição nas eleições para a Presidência de 1989, 1994 e 1998, quando ameaçado o
nto

poder das elites; “parte de um processo indicado por Noam Chomski como
‘construção de consenso’, onde a imprensa, por trás de uma ideologia de
lA

imparcialidade, se comporta de modo a manter as estruturas dominantes no poder” 46.


fae

44
A imprensa só pode atingir uma produção industrial por meio de anúncios, financiamentos externos
e concessões políticas - o que a torna dependente destes recursos -. Neste caso, manifestações
contrárias aos interesses econômicos são abafadas, descartdas e coibidas.
Ra

45
Novelli acredita que o jornal nega o papel de quarto poder quando defende o interesse do seu grupo
de leitores. Ao estabelecer o grupo de leitores como base social, a imprensa deixa de privilegiar a
sociedade com notícias pertinentes a todos se estas não tem “eco entre os leitores do jornal” (MOTTA
(org.), 2002, p. 194).
46
“Segundo o jornalista [Bernardo Kucinski], a Folha, ao longo dessas três eleições, teria projetado e
até mesmo criado preconceitos e estigmas contra Lula. Nas eleições de 1989, por exemplo, o jornal
contribuiu para projetar o sentimento de medo contra Lula, ao afirmar, na edição de 15 de dezembro
daquele ano, que as correntes majoritárias do PT tinham a intenção de fazer ‘tudo o que estiver ao seu
alcance para cercear e se possível suprimir a liberdade de expressão’. O objetivo seria mostrar à
população que votar em Lula poderia significar a volta do regime autoritário” (PAIXÃO, artigo, on-
line. Acessado em 4 de outubro de 2006).
32

Sob essa perspectiva, a imprensa só cumpriria fielmente seu papel


social se mantivesse a independência do poder estatal e ajudasse a
resolver os problemas da sociedade por meio da discussão de todas
as suas variáveis, ou seja, se mantivesse um posicionamento
pluralista, com total liberdade de expressão (MARSHALL, 2003,
p. 166).

s
“No entanto, apesar desse veículo orgânico47 com o poder, a imprensa foi, e

ele
ainda é, igualmente, um dos instrumentos principais da oposição e da resistência
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

política em qualquer época” (MOTTA (org.), 2002, p. 14).

eir
Se ela de fato exerce democraticamente esse quarto poder,

M
representando todos os grupos sociais, é uma questão que só o
exame de cada circunstância pode responder.

ira
E aí reside um paradoxo. A imprensa pode ser instrumento do
poder instituído ou um instrumento de resistência e de oposição a
esse poder [que pode pender] para um ou para outro lado,

ive
dependendo da situação histórica. [...] O paradoxo revela assim,
que não existe imprensa sem inserção política [desempenhando]
igualmente funções econômicas, especialmente comerciais, quando
Ol
estimula, por meio dos seus anúncios, o consumo de bens. [...]
(idem, p. 15).

Marcondes Filho48 (1989 p. 11) diz que o “jornalismo é ao mesmo tempo a


de

voz de outros conglomerados econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas
nio

opiniões subjetivas e particulares o foro de objetividade”.

É com este ideal, de publicidade camuflada de notícia, em que “a lógica do


nto

capital e do livre mercado flexibiliza o conceito e o processo do newsmaking e a


informação transforma-se em um campo de negociação e barganha de interesses”
lA

(MARSHALL, 2003, p. 28).

A expressão que percebemos agora, segundo Marshall (2003, p. 24), é de


fae

uma “transformação generalizada dos padrões éticos, estéticos e culturais do


universo da informação, reduzindo aparentemente o jornalismo a uma simples esfera
Ra

de sustentação para interesses eminentemente comerciais”.

Esta liberdade de expressão, que encontramos, nos revela a vulnerabilidade,


ou mesmo uma crise da imprensa, implicando assim, no que o teórico espanhol José
47
Segundo Motta (2002, p. 13) “todo poder é político, precisa de visibilidade, necessita
institucionalizar-se como expressão do todo social e, por isso, precisa da imprensa”.
48
apud Marshall, 2003, p. 24
33

Martínez Albertos49, prevê: o fim do jornal impresso em 2020, além do próprio


jornalismo como linguagem.

E com o jornalismo pode desaparecer também o atual conceito


sobre liberdade de imprensa e o respeito religioso pelo direito dos
cidadãos e uma informação tecnicamente correta, entre outros

s
valores da modernidade.50

ele
Então, qual a saída para a crise da imprensa? A indagação de Sodré (1999, p.
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
428), é respondida pelo porta-voz das agências estrangeiras de publicidade:

M
Mas a não ser que as classes produtoras se compenetrem de que a
imprensa é o quarto poder dos regimes democráticos, e que sua
independência está intimamente ligada à compreensão dos

ira
anunciantes, que possibilitam sua existência, a imprensa latino-
americana irá perdendo sua liberdade de movimento, e, com ela,
seu prestígio perante a opinião pública. Este é o relevante papel

ive
esclarecedor que as Agências de Propaganda precisam
desempenhar junto aos seus clientes, sobretudo perante aqueles que
ainda não se convenceram do sentido subjetivo da propaganda.51
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra

49
Considerado por Marshall como um dos mais severos críticos da imprensa.
50
Martínez Albertos, 1997, p.31 apud MARSHALL, 2003, p. 28
51
SODRÉ, 1999, p. 428
34

CAPÍTULO 3. JORNAL: UM CATÁLOGO DE PUBLICIDADE

Chegamos à crise da imprensa a qual Sodré (1999), ressalta que mesmo


estando o desenvolvimento da imprensa no Brasil vinculado ao desenvolvimento do

s
ele
país, há uma certa e pontual influência estrangeira. A crise do papel, por exemplo,
que repercutiu no alto preço do papel importado e a extinção de subsídios para a
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
produção do papel nacional arrasaram a pequena imprensa, reduziram a circulação
dos jornais nacionais e os entregaram ao “controle das agências estrangeiras de

M
publicidade” (idem, p. 413). A política brasileira, na década de 60, arrasou as ilusões
dos jornais pequenos.

ira
[...] montou-se uma estrutura econômica, social e urbana em
função de petróleo a 50 centavos de dólar o barril, [...] quando o

ive
petróleo passou a 14 dólares o barril (preço médio no primeiro
trimestre de 1974) e o papel de imprensa pula de 171 dólares a
tonelada (preço em 1971) para 320 dólares, em 1974 (187% de
Ol
diferença), toda estrutura desaba. É a crise (DINES, 1986, p. 32).

Os grandes jornais continuaram a circular sob a tutela do governo, como por


de

exemplo, o Estado de São Paulo investido no papel de verdadeiro catálogo de


publicidade52 – sem obrigatoriedade quantitativa de informação, o pouco que
nio

informava não tinha qualidade.


nto

Outro problema que afetou a imprensa nacional foi a dificuldade financeira


para criar agências de notícias, o que levou a dependência dos serviços das agências
lA

estrangeiras. Além disso, a telegrafia do país não era eficiente. A imprensa brasileira
passou a utilizar o intenso e extenso serviço telegráfico pago pela imprensa norte-
americana. Assim os jornais brasileiros eram influenciados pelos estrangeiros,
fae

conforme diz Sodré:


Ra

Em agosto de 1962, o colunista da Última Hora, Arapuã, que


mantinha seção em que apareciam críticas humorísticas aos
Estados Unidos, seção de público numeroso, foi intimado a
suprimir tais críticas. Preferiu abandonar o jornal. A carta que
divulgou, então, é triste característica do controle estrangeiro sobre
a imprensa brasileira [...] (SODRÉ, 1999, p. 418).

52
SODRÉ, 1999, p. 415
35

Outras mazelas de ordem econômica desorientaram a imprensa nacional. A


principal: o baixo salário que os jornalistas recebiam, enquanto os proprietários dos
jornais enriqueciam – e as sedes e oficinas eram ampliadas, prédios e máquinas
comprados –, faltava aos jornalistas a própria voz por meio de uma imprensa com
fim de divulgar as suas reivindicações, defender a própria causa, esclarecer a opinião

s
ele
pública e pedir a solidariedade de outros trabalhadores (ibidem, p. 420).
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
No entanto, a imprensa estava – ou está53 – a serviço do capital estrangeiro,
ou melhor, das agências estrangeiras de publicidade; do poder público (no caso de

M
fornecimento de papel, de financiamentos, de isenções de impostos etc.); dos
próprios proprietários; e das agências de notícias estrangeiras.

ira
A imprensa, realmente, torna-se o contrário do que era, e
particularmente do que deveria ser, na medida em que se

ive
desenvolve, na sociedade capitalista. O jornal é menos livre quanto
maior como empresa (SODRÉ, 1999, p. 448-449).
Ol
Enfim, falar da crise de imprensa, significa falar que a imprensa, apesar de ter
nascido da liberdade de expressão, não detêm tal liberdade. Vendeu-se para
de

sobreviver e será muito difícil angariar condições financeiras para voltar a ser a voz
da liberdade.
nio
nto

3.1 Um pouco de papel


lA

Percebemos hoje um preço em alta do papel de imprensa e um acentuado


declínio na produção de papel (tabelas 1 e 2). “Produzir aqui chega a custar 20%
fae

mais do que em certas fábricas na Europa e até 50% mais do que no Chile”. Somos
praticamente dependentes da matéria prima estrangeira: “o Brasil importa 70% do
seu consumo de países como Canadá, França, Noruega, Holanda e Chile”. 54
Ra

Segundo Dines (1986) “os elementos que contribuíram para transformar a


carência latente numa situação de crise” são:

53
Sendo a moral um reflexo cultural, a Constituição Federativa Brasileira abriu, posteriormente, para
empresas de comunicação à possibilidade de terem 30% de participação de capital estrangeiro.
54
Instituto Brasileiro de Logística, on-line. Acessado em 25 de outubro de 2006.
36

a) Aumento do consumo mundial [de papel], que passou de 20.530


milhões de toneladas em 1970 para 23.124 milhões de toneladas
em 1974 (estimado);

b) Preços não compensadores, provocando o desmantelamento de


maquinas de papel de imprensa e o desvio de outras para a
manufatura de tipos de papel mais rentáveis, notadamente aqueles

s
empregados em embalagem. [...];

ele
c) Rigoroso inverno de 73 no Canadá, impedindo o transporte de
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

madeira pelos rios e lagos, seguidos de uma primavera chuvosa

eir
que prejudicou o abate de arvores;

M
d) A inflação nos paises desenvolvidos, gerando uma corrida para
o aumento dos estoques. Já que então, com os preços baixos e o
mercado vendedor, poucos se animavam a acumular;

ira
e) Crise do petróleo, provocando uma escassez e conseqüente
valorização dos meios de transporte;

ive
f) Controle do meio ambiente (as usinas de papel são grades
poluidoras de cursos de água) tornando impraticáveis inúmeras
fábricas e obrigando o fechamento de 134 pequenos e médios
Ol
estabelecimentos fabris, nos EUA, além de elevar o custo do papel
em 25 dólares/tonelada;
de

g) Greve ferroviária no verão de 1973 no Canadá, seguida de


outras no outono, nas próprias fabricas de papel, que até então
trabalhavam com plena capacidade, isto é, 24 horas por dia,
fornecendo terços da produção mundial de papel de imprensa”.55
nio

A crise dos anos 70 não implicou em providências para a auto-suficiência na


nto

produção de papel brasileiro. Havia, contudo, “uma fábrica de papel-imprensa, no


Estado do Paraná, a Papéis Pisa, com capacidade para abastecer de matéria prima os
lA

principais jornais [...]”56. Já, em 2005, foram importados 366,5 mil toneladas de
papel imprensa57. O volume foi 4,7% superior ao do ano anterior.58 Mesmo com
subsídios59 nas importações, o custo do produto jornal avulso é alto para boa parte da
fae

população – em média R$ 70,00 mensais se comprado diariamente. Se assinado,


estes grandes jornais custam em torno de R$ 40,00 mensais60 – aproximadamente R$
Ra

55
DINES, 1986, p. 33
56
QUEIROZ,1993 p.16
57
segundo levantamento preliminar da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa)
58
Instituto Brasileiro de Logística, on-line. Acessado em 25 de outubro de 2006.
59
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Art. 150. Sem prejuízo de
outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: III - cobrar tributos: d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
60
Valores obtidos em consulta dos sítios eletrônicos da Folha Online e do Estadao.com.br para a
assinatura dos respectivos jornais impressos. Acessados em 6 de novembro de 2006.
37

1,50 por dia. Valor três vezes superior ao que o público C e D tem com atrativo, ou
cinco vezes mais, se comprado avulso – por R$ 2,50.

O Expresso, no Rio de Janeiro, “vende mais de cem mil exemplares por dia”
a um custo de R$ 0,50. Segundo a Marplan, “as classes C e D [do Rio] têm juntas 5,8

s
ele
milhões de consumidores, dos quais apenas 2,6 milhões são leitores de jornais”. Por
meio deste valor acessível, O Expresso pretende expandir o número de leitores. Em
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
Brasília, com a mesma proposta, o Aqui-DF custa R$ 0,50 e o Agora-DF, R$ 0,25.61
Em São Paulo, o Destak é distribuído gratuitamente62.

M
tabela 1

ira
Custo de papel de imprensa

Ano 2000
ive
(custo médio por tonelada) – Papel Importado63

2001 2002 2003 2004 2005


Ol
US$/ton 625 580 405 425 520 520
64
de

Fonte:200-2004 Samab – Cia. Ind. e Comércio de Papel.


2005 - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
nio

tabela 2

Papel de Imprensa – em 1000 toneladas65


nto

1999 2000 2001 2002 2003 2004

Produção 243 266 233 248 163 133


lA

Importação 379 398 297 250 281 350

Exportação 22 14 8 3 1 1
fae

Consumo Aparente 600 650 522 495 443 482

Consumo ‘per capita’ (kg) 3.7 3.8 3.0 2.8 2.5 -


Ra

Fonte: Bracelpa

61
Disponível em: http://www.anj.org.br/jornalanj/?q=node/700&PHPSESSID=86c8ffc357c9d5e8b3f
110536a36335d. Acessado em 6 de novembro de 2006.
62
DE – Diário Económico, 26 de junho de 2006, on-line. Acessado em 6 de novembro de 2006.
63
Disponível em http://www.anj.org.br/?q=node/184&PHPSESSID=f534fff761534b9f4c5ab6456
099737e. Acessado em 24 de outubro de 2006.
64
Papel importado (45g/m2): preço base custo e frete para entrega em porto brasileiro, para
pagamento em 180 dias a partir do embarque.
65
Disponível em http://www.anj.org.br/?q=node/184&PHPSESSID=f534fff761534b9f4c5ab6456
099737e. Acessado em 24 de outubro de 2006.
38

3.2 A publicidade, e por trás, a notícia

A publicidade é atuante considerável no sustento dos meios de comunicação.


De exemplo, os jornais de prestígio do mundo. O New York Times, EUA, tem até

s
70% das receitas proveniente de publicidade. Le Fiagro, França, e El País, Espanha,

ele
têm até 50%. As empresas americanas de publicidade gastam, anualmente, cerca de
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

dois mil dólares por família.

eir
Marshall (2003) lembra que nem sempre a publicidade foi onipresente.

M
Segundo Jurgen Habermas, do séc. XVIII ao XIX existia uma repulsa a partir dos
simples anúncios comerciais. “Os reclames eram considerados indecentes”66.

ira
Ressalta também que nos primórdios da imprensa jornalística, não havia uma
distinção clara sobre os limites do que era publicidade e do que era jornalismo.
ive
Os primeiro anúncios tinham principalmente uma função informativa, de
Ol
caráter noticioso, sem representar significativamente uma fonte de rendimento.
Somente nos “últimos 30 anos do séc. XIX os rendimentos da venda de espaço
de

publicitário tornam-se lentamente a base econômica dos jornais” (Marcondes Filho,


1984, p. 63). No séc. XX as propagandas pagas ocupam de 60% a 65%, em média,
nio

das páginas dos jornais e revistas. Assim, a publicidade torna suportável “os tributos
fiscais impostos aos periódicos e a ela mesma, a publicidade, permitindo a
nto

sobrevivência dos mass media”67.


lA

Graças à publicidade, os veículos de comunicação puderam se desenvolver.


Muitos programas surgiam produzidos diretamente por agências de publicidade.
Repórter Esso e Telejornal Pirelli, por exemplo, eram produções integralmente
fae

subsidiadas por empresas anunciantes e formadas por agências de publicidade.


Ra

Marshall (2003) defende a idéia de que não é possível imaginar um jornal


sem publicidade. Além da publicidade bancar o jornal, exerce um contraponto aos
textos noticiosos na forma de boa notícia. O próprio jornal, para sobreviver à pós-
modernidade, depende de satisfazer aos gostos e às opiniões, sobretudo ao do poder

66
Jurgen Habermas, 1984, p. 223 apud MARSHALL, 2003
67
Eulálio Ferrer, 1997, p. 109 apud MARSHALL, 2003
39

econômico, sem ferir, secundariamente, as expectativas dos leitores. Neste caso, o


jornal pós-moderno privilegia os interesses do universo publicitário e a linha editorial
passa a não querer desagradar a ninguém e, de preferência, agradar a todos.

Em função da influência que a publicidade exerce sobre o jornal, Marshall

s
ele
admite que as empresas anunciantes são forças econômicas decisivas na
determinação da natureza, da qualidade e do conteúdo do produto jornalístico. Neste
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
caso, o jornal é vendido para as agências de publicidade antes de sê-lo para os
leitores.

M
Neste mundo capitalista, as empresas de comunicação chegam a
acatar determinações de empresas quanto ao conteúdo dos

ira
programas. Tal manipulação serve para cria um ambiente adequado
para os anúncios da empresa “patrocinadora”68

ive
Os maiores anunciantes, bem como os gastos com publicidade por veículo de
comunicação, podem ser verificados nas tabelas 3, 4 e 5. É possível perceber que o
Ol
jornal detém o segundo lugar em investimentos publicitários, perdendo apenas para a
televisão. Segundo Milton Correia Junior, o jornal é o meio mais consultado por
de

pessoas que estão pensando seriamente em efetuar uma compra ou que já se


decidiram a comprar.69
nio

tabela 3
nto

Investimento Publicitário, por meio (%)70

Revist TV por Mídia Outro


lA

Jornal TV Rádio Internet Total


a assinatura exterior s
2005 16,3 8,8 59,6 2,3 4,2 1,7 4,7 2,8 100

2004 16,6 8,3 59,2 2,2 4,3 1,6 2,7 2,9 100
fae

2003 18,1 9,4 59,1 1,7 4,5 1,5 5,7 - 100

2002 19,9 9,7 58,7 1,9 4,5 - 4,8 - 100

2001 21,3 10,5 57,3 1,5 4,7 - 4,3 - 100


Ra

Fonte: Grupo de Mídia São Paulo – Mídia Dados e Projeto Inter-Meios

68
Sader apud Halimi, 1998, p. 8 abud MARSHALL, 2003
69
Pesquisa feita pelo instituto Ipsos-Marplan, intitulada Quero comprar - A relevância dos meios de
informação no processo de compra. Jornal é que define compra. Agosto de 2003. Disponível em
http://www.anj.org.br/index.php?q=node/190&PHPSESSID=4ab6aab9b7f410e97df35f8e64d6ff9d.
Acessado em 24 de outubro de 2006.
70
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/185&PHPSESSID=e5ffb7c6b3d8c3dbfe56d26576
b317c1. Acessado em 24 de outubro de 2006.
40

tabela 4

Investimento Publicitário no Meio Jornal71

Ano R$ (000)

Jornais - 2005 2.601.648

s
ele
Jornais - 2004 2.315.316

Jornais - 2003 2.006.128


OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
Jornais - 2002 1.918.818

Jornais - 2001 1.975.049

M
Fonte: Projeto Inter-Meios

ira
tabela 5

10 maiores setores econômicos – Meio Jornal (2005)72

Setor econômico
ive Investimento
em R$ (000)
Ol
Comercio Varejo 4.518.060

Mercado Imobiliário 1.504.382


de

Serviços ao Consumidor 1.176.189

Cultura, Lazer, Esporte e Turismo 1.052.792


nio

Veículos peças e acessórios 632.710

Mídia 577.726
nto

Mercado Financeiro e Seguros 451.056

Serviços Públicos e Sociais 367.569

Telecomunicações 270.438
lA

Internet 110.759

Total de investimentos 10.661.681


Fonte: Ibope Monitor. Considerando tabela, sem descontos.
fae

A própria ANJ - Associação Nacional de Jornais, cuja missão é de “defender


Ra

a liberdade de expressão, do pensamento e da propaganda, o funcionamento sem


restrições da imprensa, observados os princípios de responsabilidade, e lutar pela
defesa dos direitos humanos, os valores da democracia representativa e a livre

71
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/185&PHPSESSID=e5ffb7c6b3d8c3dbfe56d26576
b317c1. Acessado em 24 de outubro de 2006.
72
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/173&PHPSESSID=11087365f21fe267cb72d1a4d8d
3fc25. Acessado em 24 de outubro de 2006.
41

iniciativa”73, vende o jornal aos anunciantes de todas as formas possíveis.

Com estatísticas atrativas para anunciantes; guias de como produzir anuncio


para impressão em jornal, a militância pela liberdade de expressão e a divulgação da
credibilidade que sustenta o jornal, a ANJ anuncia com satisfação:

s
ele
O meio Jornal brasileiro vem procurando atender antigas
reivindicações do mercado publicitário, tais como novas fórmulas
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
que permitam a veiculação de anúncios criativos, simplificação da
tabela de preços, reformulação dos classificados e cadernos
dirigidos a públicos específicos.74

M
O resultado pode ser conferido na campanha da Claro – Você vai ter muito
assunto para falar, que participou do “5º Prêmio ANJ de Criação” (figura 1).

ira
Em busca de um sentido para esta peça publicitária, ou discurso, analisaremos

ive
a cenografia através da formação discursiva do anúncio da Claro, que “por atribuir-se
a cena (grifo nosso) que sua enunciação ao mesmo tempo produz e pressupõe para se
Ol
legitimar. [...] A dêixis discursiva75 consiste apenas em um primeiro acesso à
cenografia de uma formação discursiva; esta última possui ainda um segundo ponto
de

através do qual é possível alcançá-la; trata-se da dêixis fundadora76. Uma formação


discursiva só pode legitimar-se de forma válida se utilizar de elementos de uma outra
nio

dêixis (dêixis fundadora) , cuja história ela usa a seu favor.


nto

Assim, destacamos os dêiticos indicadores de pessoas no anúncio:

• um locutor – um conselheiro que conhece as necessidades do consumidor;


lA

• um destinatário ou alocutário – o consumidor-alvo do produto marcado pelo


pronome de tratamento você;
fae

• o delocutário – que em relação à pessoalidade é a não-pessoa (ele) em


oposição à pessoa (eu/tu). No texto em questão, o marcador da não-pessoa é o
produto Claro.
Ra

73
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/37&PHPSESSID=6edc16eb2fd9a8c120a9e8adbce7
cb20. Acessado em 24 de outubro de 2006.
74
Disponível em: http://www.anj.org.br/?q=node/13&PHPSESSID=bab3f55200284cf9942d8fb20c1
3efe4. Acessado em 24 de outubro de 2006.
75
A deixis ( palavra importada do grego antigo, com o significado de “ação de mostrar” ) é uma
das formas de conferir ao seu referente a uma seqüência lingüística, situando um enunciado no espaço
e/ou no tempo em relação ao enunciador, ou seja, é um marcador indicativo das pessoas do discurso –
eu, tu, ele –, do tempo do discurso – agira – e do espaço determinado pelo discurso – aqui.
76
MAINGUENEAU, 1997
42

figura 1: “Você vai ter muito assunto para falar”77

s
ele
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
M
ira
ive
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra

Anunciante: Claro; Agência: F/Nazca (SP); Criativos: Airton Carmignani, Ricardo Jones,
Bruno Prosperi, Eduardo Lima e Fábio Fernandes; Mídias: Fernanda de Lamare e César
Nery; Veiculação: Jornal O Estado de S. Paulo (SP), em 06/10/2005; Vencedor Regional
2005: Região São Paulo.

77
Disponível em http://Pwww.anj.org.br/?q=node/623. Acessado em 24 de outubro de 2006.
43

A cenografia deste anúncio apóia-se em uma cena (cena validada) já instalada


na memória coletiva brasileira (formação discursiva) que mostra notícias de jornal
dignas de credibilidade. Nesse sentido, o locutor legitima o anúncio de um celular
usando essa cena validada: se o anúncio do celular está no jornal, junto ou
sobreposto às notícias relevantes, com certeza é um anúncio digno de fé.

s
ele
Para analisar esta peça publicitária, faremos uso da Semiótica, teoria das
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
representações, que considera os signos sob todas as formas e manifestações que
assumem (lingüísticas ou não), enfatizando, especificamente, a propriedade de

M
convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram.

ira
Na linguística de F. de Saussure, as relações sintagmáticas opõem-
se às relações associativas (Saussure não fala em relações
paradigmáticas). Os linguistas estruturalistas propuseram a

ive
distinção entre eixo sintagmático (eixo horizontal de relações de
sentido entre as unidades da cadeia falada, que se dão em presença)
e eixo paradigmático (eixo vertical das relações virtuais entre as
Ol
unidades comutáveis, que se dão em ausência). No primeiro eixo,
abrem-se as relações que pertecem ao domínio da fala, por
exemplo, os elementos que constituem o enunciado Estou a ler
estão numa relação sintagmática; a segunda, pertence ao domínio
de

da língua, por exemplo, leitura está em relação paradigmática com


livro, leitor, ler, livraria, biblioteca, mas apenas um destes
elementos pode ser válido no enunciado produzido. Neste caso,
nio

todas as palavras podem ser comutáveis, dependendo do contexto e


da natureza do enunciado. Assim, no enunciado Estou a ler
podemos comutar os elementos estou a por quero, detesto, vou, sei,
nto

etc.; e o elemento ler pode ser comutado por comer, escrever,


correr, saltar, conduzir, etc. Diz-se que todos estes elementos
substituíveis estão em relação paradigmática. Estas relações
sintagmáticas e paradigmáticas não se limitam ao nível lexical ou
lA

gramatical do signo, mas abrangem também o nível fonológico.78

Graficamente, a publicidade invade a notícia: é o discurso publicitário se


fae

mesclando com o discurso jornalístico. Dessa forma, a escolha das manchetes


principais – “Trânsito da cidade estressa paulistano” e “Anulação de jogos divide
Ra

torcida” – alude às notícias ruins do jornal, passando uma idéia de que jornal só
informa mazelas. Então, para a hora perdida no trânsito, o celular estará à disposição,
mas pode-se passar a frente de todos e rir de que quem fica para trás, como mostra a
foto, – basta ter o veículo apropriado. Quanto às torcidas divididas, é uma afronta a
concorrência.

78
Eixo Sintagmático/Eixo Paradigmático, on-line. Acessado em 27 de outubro de 2006.
44

Mas, para cada notícia ruim uma eqüipolente boa. A fim de harmonizar a
leitura, estrategicamente as manchetes são escolhidas valorizando o produto – em
meio a tanto caos, “Indústria do Estado é a que mais cresce”; “Exposição polêmica
chega em novembro em São Paulo”; e “Alimentação e exercício é receita de vida
saudável”.

s
ele
Dentro do eixo paradigmático, em que a palavra se situa em relação às
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
demais em função da similitude, “Estado” pode ser substituído por “Claro”.

M
A partir do eixo sintagmático, em que a palavra se situa na relação com a
seguinte em função da contigüidade, exposição polêmica (de celulares) chega em

ira
novembro.

A matéria de saúde mostra a preocupação da empresa com o consumidor e


ive
por meio da última reportagem, “Consumidor está mais exigente diz pesquisa”, a
Ol
consciência de que a empresa satisfaz as expectativas de seus clientes.

Esta leitura semiótica da campanha da Claro demonstra sistematicamente


de

como o jornal é vendido aos anúncios de publicidade – e como estes usam da


credibilidade do meio para se validarem. Os “rabiscos de caneta” que atingem toda
nio

página, exceto a parte do anúncio, representam um possível desmerecimento do


conteúdo jornalístico para quem se destina este meio. Tanto por parte dos
nto

anunciantes, que invadem a informação, quanto por ser perecível e permissivo, o


jornal, de tal forma que logo torna-se vítima de rabiscos e anotações de leitores
lA

entediados.

O slogan, “Você vai ter muito assunto para falar” é, no primeiro campo de
fae

percepção, o único dado que reconhece a propriedade de veículo informativo do


jornal. Mas quando se procura a informação na página, encontra-se apenas ruídos,
Ra

pois o único assunto, que interessa, é vender anúncio e o produto anunciado.


45

CAPÍTULO 4. PARA QUE JORNAL?

Apesar das novas técnicas de difusão e do desenvolvimento


extraordinário da informação em todo o mundo, a circulação global
do jornal cresce constantemente. O público considera-o cada vez

s
mais indispensável, reiterando em termos de preferência a

ele
importância do meio impresso na ação sobre a opinião, Este fato
mostra que os outros meios de massa – o rádio, a televisão e o
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

cinema – completam o jornal e não o substituem (BAHIA, 1972, p.

eir
153).

M
Em 1992, Pittsburgh, EUA, entre maio e dezembro, a cidade localizada na
Pensilvânia (370 mil habitantes, capital mundial do alumínio, três universidades, seis
estações de TV, 25 de rádio, um aeroporto internacional moderno), devido a uma

ira
greve de caminhoneiros, perdeu o fornecimento de seus dois jornais diários, O

ive
Pittsburgh Press e o Pittsburgh Post Gazet com circulação diária de 363 mil
exemplares e 556 mil aos domingos.79
Ol
Na primeira semana houve um acentuado declínio na audiência de
cinema, e na freqüência a restaurantes e bares. Mas, em menos de
um mês, a vida da cidade voltou ao habitual. A informação provida
de

pelos jornais passou a ser veiculada por outros meios. [...] Depois
da greve, o Pittsburgh Post Gazet foi obrigado a fechar e a
circulação do Pittsburgh Press diminuiu em 20%. Para boa parte
nio

dos habitantes de Pittsburgh, a existência de jornais se comprovou


dispensável” (Lins da Silva apud DINES, VOGT, MARQUES DE
MELO, 1997, p.30).80
nto
lA

4.1 Poder, legitimação e informação

Antes de falarmos na imprensa como meio de legitimição, cumpre definirmos


fae

legítimo como um termo derivado do latim, que significa “fundado e amparado em


Ra

lei; legal; justificado; autenticidade comprovada; não adulterado; genuíno, lídimo,


verdadeiro; que procede, que tem lógica; fundamentado; autêntico, justificado, justo,
lídimo, válido, verdadeiro”81.

79
MARSHALL, 2003, p. 30
80
apud MARSHALL, 2003, p. 30-31
81
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, CD-ROM
46

Como também entendemos ser necessário levantar subsídios para justificar o


fato levantado por Queiroz (1993) que o jornal é um poder que legitima os outros
meios de comunicação como TV, rádio e notícias e publicidades online. Tais
subsídios compreendem uma nova tendência lingüística de análise de textos,
conhecido como Análise de discurso, de origem francesa. Assim, a seguir,

s
ele
tentaremos falar sobre os postulados teóricos que a sustentam de uma forma
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

pertinente aos nossos propósitos em questão.

eir
M
4.1.1 Análise de discurso

ira
Análise de Discurso, doravante AD, é uma disciplina que tem como objeto o

ive
discurso compreendido como efeito de sentido entre locutores, a partir da concepção
da não-transparência da linguagem. Ela procura compreender como a língua faz
Ol
sentido, levando em consideração o homem em função de sua história, ideologia e
das condições de produção da linguagem.
de

Partindo da concepção de que a ideologia se manifesta materialmente no


nio

discurso e este na língua, a AD trabalha a relação língua-discurso-ideologia. É como


diz Pêcheux (1975) citado por Orlandi (2002):
nto

Não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia: o


indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a
língua faz sentido. Conseqüentemente, o discurso é o lugar em que
lA

se pode observar essa relação entre língua e ideologia,


compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para os
sujeitos (p. 47).
fae

Como discurso é o efeito dos sentidos, começaremos pela noção discursiva de


sentido. Diz Mussalim (2004, p. 131): “Os sentidos possíveis de um discurso são
Ra

sentidos demarcados, preestabelecidos pela própria identidade de cada uma das


formações discursivas colocadas em relação no espaço interdiscursivo”.

Mesmo que os sentidos de um discurso estejam demarcados, não significa


para a teoria discursiva que possa existir sentido a priori. O sentido é construído,
produzido no processo da interlocução, por isso deve ser captado das condições de
47

produção do discurso, como contexto histórico-social, pelos interlocutores. As


palavras não possuem um sentido único, mas um dominante. Para a AD, a
enunciação de uma mesma palavra, em condições diversas, pode gerar diversos
efeitos de sentidos. Segundo Pêcheux, o sentido de uma palavra muda de acordo com
a formação discursiva a que pertence.

s
ele
Na teoria discursiva, ideologia é um sistema ordenado de idéias que faz parte
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
de uma realidade social representado por signos. Tudo que é ideológico é um signo.
E todo signo é ideológico. Um instrumento de produção não possui valor ideológico:

M
desempenha apenas a função de produzir o que lhe compete. O martelo e a foice,
para nós, são tão somente instrumentos de produção. No entanto, na antiga União

ira
Soviética, foram convertidos em signo ideológico.

ive
A ideologia é o processo de constituição do sujeito e dos sentidos, ou seja, ela
interpela o sujeito para que se produza o que dizer. E as palavras recebem seus
Ol
sentidos de formações discursivas em suas relações, como efeito da determinação do
interdiscurso (da memória).
de

A noção discursiva de sujeito tem a ver com a ideologia e com os sentidos. O


nio

sujeito é sujeito à língua e à história, pois se ele não sofrer os efeitos do simbólico
(da língua e da história), ele não produz sentido. Como também , diz Orlandi (2002,
p. 47), “não há sujeito sem ideologia”.
nto

Outro ponto a destacar é o fato de que a subjetividade que entendemos como


lA

tal não faz parte da AD. O sujeito discursivo é um lugar que ocupa para ser sujeito do
que diz, segundo Foucault (1969). Neste caso, os sujeitos mudam de lugar
(ORLANDI, 2002) conforme a posição que ocupam. Uma pessoa X no papel de pai
fae

produz sentido como sujeito se falar inscrevendo as suas palavras na formação


discursiva que identifica um pai. Essa mesma pessoa no papel de jornalista, para se
Ra

constituir sujeito do seu dizer, deve falar como todos os jornalistas o fazem. Só assim
adquire identidade.

Na teoria discursiva, interdiscursividade é a relação de um discurso com


outros discursos, ou seja, é a memória discursiva ou interdiscurso presente nos
dizeres atestando que todo discurso nasce de outros discursos. Como diz Orlandi
48

(2002, p. 32): “As palavras não são nossas. Elas significam pela história e pela
língua. O que é dito em outro lugar também significa nas nossas palavras”.

O último conceito que lembramos é a de formação discursiva, para


simplificar, FD, que é constituída por um sistema de paráfrases que se realiza numa

s
ele
superfície lingüística, através de enunciados retomados e reformulados em função de
delimitar fronteiras ideológicas para a preservação de sua identidade. Ela sempre é
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
atravessada por outras FDs, chamadas por Foucault de uma dispersão, pois não são
concebidas como elementos ligados entre si por um princípio de unidade.

M
Inclusive, podemos adiantar que cada FD contém aquilo que é possível e

ira
também aquilo que não é possível de ser dito nos discursos dos sujeitos que estão
inseridos nela. As formações discursivas estão submetidas às formações ideológicas,

ive
que são o conjunto de atitudes, valores e preceitos que são regidos pela ideologia, de
acordo com as posições de classe ocupadas.
Ol
de

4.2 Um veículo de credibilidade


nio

Queiroz (1993) declara que qualquer poder possui meios eficazes para se
legitimar, apesar de esta legitimação ser em alguns casos processada de uma forma
nto

silenciosa ou subtendida e precária; em outros, apelando para o caráter racional da


dominação pratica uma legitimação mais convincente e concreta. “Cada tipo de
lA

dominação tem como correspondente um tipo de legitimação [...]” (p. 25).

Assim entendendo a televisão como um tipo de dominação contemporânea,


fae

podemos dizer que ela própria constrói a sua legitimação, de forma a dar um tom de
realidade ao seu discurso, no sentido de fazer a opinião pública aceitá-la como
Ra

autêntica, verdadeira, justificada. Porém ressaltamos que esta legitimação é precária


ou subtendida.

A TV não é capaz de operar sozinha o seu exercício de poder [...]


daí o seu incessante assédio a um outro tipo de veículo que, por
suas características, por sua presença, e igualmente pela força e
credibilidade que lhe dedica a opinião pública, passa a ser
responsável por uma associação de interesses (QUEIROZ, 1993, p.25).
49

Este veículo que dá credibilidade à TV é o jornal. E é nesse momento que


indagamos: quais são os fatores que tornam o jornal um veículo de legitimação da
televisão? Para responder essa questão temos de utilizar os mecanismos de análise da
AD. Começaremos com os fatores que asseguram ao jornal o poder de legitimar a
televisão.

s
ele
O fato do discurso jornalístico ser assujeitado ao interdiscurso de uma FD
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
determinada, ou seja, já está pronto antes mesmo de ter sido escrito e a certeza de
que esta FD está atravessada pelas FDs que sustentam o poder no país, garantem ao

M
jornal uma credibilidade convincente e concreta. Ele não trabalha normalmente com
novidades. Às vezes, como no caso das torres gêmeas do Word Trade Center,

ira
lembrando Mariani (1998) quando ela diz “irrupção de um acontecimento”, que
desloca as regularidades e os sentidos, o discurso jornalístico já formatado,

ive
assujeitado, objetivado, é obrigado a investir-se no novo.
Ol
Em nome do poder ideológico que está inscrito na FD a que se assujeita,
apaga dizeres e memórias de outras formações discursivas e o mito da objetividade
de

que sustenta lhe permite esconder a matriz ideológica a que pertence, embora
qualquer pessoa perspicaz possa perceber que um poder maior que outros poderes
nio

está no comando do que pode e deve ser dito. E isso não é uma mera especulação.
Temos Foucault para legitimar a nossa reflexão, quando ele afirma que o discurso
nto

não é neutro nem inocente, ao que completamos, não há, portanto, uma imprensa
neutra e inocente:
lA

Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao


mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída
por certo número de procedimentos que têm por função conjurar
fae

seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório,


esquivar sua pesada e temível materialidade82.
Ra

O assujeitamento da imprensa a um poder maior (lembremos aqui o que disse


Queiroz, no início deste subcapítulo83) garante-lhe credibilidade e legitimação

82
FOUCAULT, p. 8-9
83
Queiroz declara que qualquer poder possui meios eficazes para se legitimar, apesar de esta
legitimação ser em alguns casos processada de uma forma silenciosa ou subtendida e precária; em
outros, apelando para o caráter racional da dominação pratica uma legitimação mais convincente e
concreta. “Cada tipo de dominação tem como correspondente um tipo de legitimação [...]”
(QUEIROZ, 1993, p. 25).
50

concreta, visíveis e explícitas, permitindo-lhe legitimar os seus parceiros (rádio,


televisão, jornal online) na área de comunicação. Esta credibilidade do jornal
impresso se manifesta como um compromisso de informar as notícias da sociedade,
isentos de críticas, conflitos de interesses e de manipulações. Acontece que tais
informações estão matizadas pelos inevitáveis vieses do interdiscurso, recontando

s
ele
que o discurso jornalístico é um discurso a serviços do poder, é opinativo e
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

interpretativo, de forma a controlar a história da política que o sustenta, dizendo o

eir
que pode e silenciando o que não deve ser dito. Suas opiniões desenham os traços
que formam a tão frágil e duvidosa liberdade de imprensa.

M
Assim definimos os fatores que tornam o jornal um veículo capaz de

ira
legitimar outros veículos de comunicação, seus parceiros de comunicação, através do
processo da interdiscursividade (o discurso da TV ou o do rádio atravessa o discurso

ive
do jornal em muitos noticiários) e da intertextualidade (textos da TV e do rádio são
comentados, citados, noticiados nos jornais)84.
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra

84
QUEIROZ, 1993
51

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A imprensa não acompanhou com amplitude e altitude as mudanças ocorridas


no processo de comunicação que constitui os meios de massa. Mas firmou-se como

s
um órgão legítimo. O que garante essa legitimidade é o fato de ser constituído por

ele
um sistema de paráfrases (FD) que se realiza na superfície lingüística, através de
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
enunciados retomados e reformulados no sentido de preservar ideologicamente a sua
identidade. Uma fomação discursiva só pode legitimar-se de forma válida se utilizar

M
os elementos de uma outra dêixis (dêixis fundadora), cuja história ela usa a seu favor.
Assim o jornal é algo já instalado na memória coletiva brasileira, o que chamamos de

ira
formação discursiva, o que lhe garante a própria legitimidade.

ive
Quando o jornal era o fervor da literatura colonial, carregada de idealismo
percorrendo as páginas de um impresso rudimentar, tínhamos jornalismo. Quando
Ol
havia palavras de revolta dos suicidados pela cultura do silêncio, eram vozes de
jornalistas. Como uma mão bem visível, este meio de expressão moldava o mercado
aos interesses neoliberais, e, como um herói de guerra, fora amputado pela
de

determinação.
nio

Carrega agora, a medalha concedida por aquele que estava no verdadeiro


comando – o burguês. Tornava-se mais e mais difícil lutar contra a própria razão de
nto

existir. Vítima do poder, o jornal é um ícone agraciado pelo Estado com a


subsistência. Mantido vivo para ser exemplo aos outros meios – façam como o
lA

jornal; lutem pela causa; se agirem como queremos, ficam ilesos e todos ganham,
mas se quiserem ser heróis e não morrerem, serão conservados – mesmo aleijados –
fae

como símbolo da democracia.

Entretanto, como em toda sociedade capitalista, tudo tem um preço. Abertas


Ra

as privatizações, as agências de publicidade logo compraram os sobreviventes para


darem credibilidade a seus anúncios. O jornal deixa de ser a voz de um partido para
se tornar a voz do mercado. Vestiram o nosso herói com uma camiseta promocional;
maquiaram as cicatrizes de guerra e colocaram membros biônicos nos lugares de
indivíduos carnais. Ligado à máquinas, não há como o jornal morrer. Se algum dia
isso acontecer, será por concessão da eutanásia.
52

Ainda precisamos da imprensa. Mesmo sem a destreza dos outros companheiros


de batalha, ela ocupa um importante papel. É por meio da experiência e da lentidão
que o jornal atesta a ação do rádio, da televisão e da internet. Imaturos, ainda,
abusam da instantaneidade, e sem o aprofundamento dos fatos, perdem parte da
credibilidade.

s
ele
O jornal impresso brasileiro não corre risco e o papel jornal existirá enquanto
OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

eir
houver quem por ele pague e obtenha lucro. No Brasil, o jornal permanece como
herdeiro da luta pela liberdade, mesmo que prisioneiro de seu próprio ideal, e, como

M
bons brasileiros que somos, encontramos uma utilidade lucrativa para isso.

ira
Assim é o nosso jornal; um herói biônico a ser alimentado pela máquina do
mercado, cuja reputação é explorada e mascarada pelo poder das elites.

ive
Ol
de
nio
nto
lA
fae
Ra
53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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OLIVEIRA MEIRELES, Rafael Antonio de. Imprensa Brasileira - História e crítica do nosso jornalismo. São Paulo: 2006.

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UNICAMP, 2004.

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(1922-1989). Rio de Janeiro: Revan; Campinas, SP: Ed. Unicamp, 1998.
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