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MELHORAMENTO DE Aluízio Borém

Ph.D. Professor,
Departamento de Fitotecnia da UFV,

PLANTAS
36.571-000,Viçosa, MG.
E-mail: borem@mail.ufv.br,
Sandra Cristina Kothe Milach
Ph.D. Professor,
Departamento de Plantas de Lavoura
PESQUISA UFRGS, Cx. Postal 776, 90.001-950,
Porto Alegre, RS.
Fotos cedidas pelos autores

O MELHORAMENTO DE PLANTAS NA VIRADA DO MILÊNIO

RESUMO INTRODUÇÃO da maioria dos programas de melhora-


mento no mundo e a rapidez no processa-
A transição da fase de coleta e caça para O melhoramento de plantas nasceu mento e divulgação de dados. Também os
a agricultura ocorreu há cerca de dez mil com o início da agricultura. Na verdade é conhecimentos de genética, estatística, bi-
anos independentemente e em vários locais difícil precisar se foi a agricultura que oquímica e fisiologia associados às práti-
no mundo. Naquela época iniciou-se a incentivou a prática do melhoramento de cas da genética quantitativa, da mutagêne-
domesticação da maioria das espécies cul- plantas pelos primeiros agricultores ou se, da cultura de células e tecidos e, mais
tivadas, dando início às atividades agríco- vice-versa. Provavelmente, ambos evoluí- recentemente, da biologia molecular, re-
las. Os melhoristas foram responsáveis pelo ram paralelamente na direção de aumen- presentam auxílios para o melhoramento
fenomenal progresso genético de um vasto
tos na qualidade e na produtividade das de plantas. Todos esses avanços no conhe-
número de espécies. Incluem-se os híbri-
culturas domesticadas pelo homem. cimento ocorridos no final deste milênio
dos, a introgressão de genes de ancestrais
Assim, dos primórdios da agricultura geraram grande expectativa a respeito do
silvestres e a própria Revolução Verde ini-
ciada com os cereais na década de 60. As até hoje, o melhoramento passou por que esta por vir no próximo milênio.
novas variedades desenvolvidas pelo me-
lhoramento genético, associadas ao uso de
tecnologia adequada (fertilizantes, preparo
do solo etc.), permitiram que importadores
de alimentos se tornassem exportadores. A
despeito das contribuições do melhora-
mento genético e do ambiente, as perspec-
tivas de contribuição no futuro são ainda
maiores. Na virada do milênio o melhora-
mento no mundo globalizado enfrenta no-
vos desafios, tendo a sua disposição novas
tecnologias. Acredita-se que ele deva con-
tinuar evoluindo em direção a progressos
genéticos mais previsíveis de forma grada-
tiva, com o uso da biotecnologia. A parceira
estabelecida entre melhoristas e biotecno-
logistas resultará em benefícios para a soci-
edade. Atualmente, variedades desenvolvi-
das via biotecnologia estão sendo cultiva-
Figura 1 - Localização dos centros de origem
das em grandes áreas em diversos países.
das espécies cultivadas. Fonte: VAVILOV, (1926)
Todavia, alguns possíveis impactos negati-
vos da biotecnologia tem sido considera-
dos, a exemplo da vulnerabilidade biotec- muitas modificações no exercício da sua Apesar de ser tarefa árdua e na maioria das
nológica interespecífica, passível de ocor- prática, mas poucas mudanças foram ob- vezes impossível, a predição dos os avan-
rer quando, por exemplo, um gene da servadas, nos últimos 50 anos, em seus ços da ciência, cabe analisar os fatos e
resistência a uma praga fosse introduzido princípios fundamentais de geração de refletir sobre o futuro do melhoramento de
em várias espécies simultaneamente, resul- variabilidade. plantas. Neste contexto, o objetivo princi-
tando na possibilidade de uma suscetibili- No momento que se fazem reflexões, pal deste artigo é o de revisar a trajetória do
dade endêmica na eventualidade de quebra na virada do milênio, surgem muitas inda- melhoramento de plantas até o presente,
desta resistência. A corrida da biotecnologia gações a respeito de como e para onde abordando em perspectiva panorâmica
certamente criará novas perspectivas para o continuará evoluindo o melhoramento de sua evolução em direção à virada do
melhorista mas, eventualmente, poderá es- plantas. O certo é que o século XX presen- milênio.
tabelecer platôs de rendimentos com as ciou grandes avanços na prática do melho-
restrições impostas pela piramidação de ramento, como a automatização de plan- A Revolução Agrícola
genes para as características criadas via tio, a colheita de experimentos com ma-
biotecnologia, resultando no que se deno- quinaria especializada; a informatização A atividade agrícola, conforme docu-
mina de arresto gênico.
mentada pela história e por registros ar- pessoa por ano. A agricultura também vam diferenças
queológicos, tem sido inseparável da evo- modificou a estratificação social, forman- e que podiam
lução e da atividade da sociedade humana do a classe dos proprietários de terra. ser de interesse
(HARLAN, 1992). Acredita-se que o ho- Finalmente, aumentou o impacto do ho- econômico. Nes-
mem tenha surgido há pelo menos dois mem sobre a natureza, pela substituição sa época, o me-
milhões de anos. Pouco é conhecido, dos ecossistemas naturais pela produção lhoramento de
contudo, a respeito da dieta dos primeiros agrícola. plantas era apenas
ancestrais, mas é geralmente aceito que os uma arte.
nossos antepassados mais recentes eram O Melhoramento de Plantas Após a redesco-
caçadores e também coletavam frutas, berta das leis de Men-
nozes, raízes e grãos como fonte de ali- A composição genética atual das diver- del, e com o avanço
mentos. Assim, a atividade agrícola não se sas culturas é o resultado da domesticação de outros ramos científi-
tornou usual, para produção de alimentos, e melhoramento que elas foram submeti- cos, o melhoramento de plan-
até há cerca de 10.000 anos. das durante os séculos. No entanto per- tas passou a possibilitar aos me-
A agricultura se originou da domesti- gunta-se quando o melhoramento de plan- lhoristas a criação de novos tipos de
cação de plantas e animais e começou em tas teve seu início? O milho e outras plantas, pela modificação dirigida dos
vários locais, simultaneamente, promo- culturas mostram detalhes que atestam caracteres hereditários. Hoje, rendimen-
vendo mudança notável na maneira como que ele começou na mais remota antigüi- tos da ordem de 23,9 t/ha de milho (WIT-
o homem obtinha seu alimento. O extrati- dade e, indubitavelmente, não era um TER, 1975) e 7,4 t/ha de soja (CHOU et al.,
vismo passou gradativamente a dar lugar à trabalho cientificamente dirigido. O me- 1977) já foram alcançados. É verdade que
agricultura, transição hoje conhecida tais rendimentos somente foram pos-
como Revolução Agrícola (FLAN- síveis com a ajuda do melhoramento
NERY, 1973). O homem domes- do ambiente para as plantas, por
ticou, na sua existência, somente cer- intermédio de adubação, irrigação,
ca de cem a duzentas, de milhares de controle de pragas, doenças e plan-
espécies vegetais. Destas, menos de tas daninhas e outras práticas agríco-
15 atualmente suprem a maior parte las. É igualmente verdade que so-
da dieta humana (CONWAY & BAR- mente essas práticas, sem o auxílio
BIER, 1990). Estas 15 espécies podem dos progressos no melhoramento de
ser agrupadas nas seguintes classes: plantas, não permitiriam aqueles ele-
(a) Cereais: arroz, trigo, milho, sorgo vados rendimentos.
e cevada; (b) Raízes e caules: beterra- Para alcançar seus objetivos os
ba, cana-de-açúcar, batata, mandioca melhoristas têm contado com o au-
e inhame; (c) Legumes: feijão, soja e xílio de algumas ferramentas valio-
amendoim; e (d) Frutas: citros e ba- sas. Dois dos principais fatores da
nana. evolução, a recombinação e a sele-
Para identificar os possíveis pontos Figura 2 - Aumento populacional ção, têm sido intensivamente utilizados
geográficos onde a agricultura começou, o durante a transição para a agricul- pelos melhoristas, com o emprego de
engenheiro-agrônomo russo Nicolai Iva- tura. Fonte: FLANNERY (1973) métodos refinados desenvolvidos na pri-
novich Vavilov identificou regiões onde as meira metade deste século. As mutações, o
espécies vegetais localizavam-se com mai- terceiro grande fator da evolução, são
or diversidade e encontrou oito regiões instrumentos adicionais, capazes de auxi-
geograficamente isoladas, que denomi- lhoramento executado pelo homem pri- liar os métodos convencionais de melho-
nou centros de origem: 1. Chinês; 2. Índi- mitivo resultava da simples procura de ramento, mais que substituí-los, para o
ano; 2a. Indo-malaio; 3. Ásiático Central; 4. tipos mais adequados para satisfazer a suas aumento da variabilidade genética das
Oriental Próximo; 5. Mediterrânico; 6. Ábis- necessidades. O milho constitui um caso espécies. A esterilidade masculina tam-
sínio; 7. Mexicano do Sul e Centro-Ameri- típico. Originário do Novo Mundo, onde bém tem sido empregada, pois facilita e
cano; 8. Sul-Americano; 8a. Chiloé; e 8b. foi domesticado pelos índios, há milhares barateia o trabalho de cruzamentos para a
Brasileiro-paraguaio (Figura 1). de anos, espalhou-se pelas Américas, a criação de híbridos de culturas alógamas e,
Como sugerido anteriormente, o ho- partir do México (seu provável centro de no caso de autógamas, abre perspectivas
mem passou de caçador-pescador-extrati- origem), e, quando aqui aportaram, os para o uso prático da heterose, por inter-
vista para criador de animais e agricultor, europeus encontraram centenas e cente- médio de variedades híbridas (DUVICK,
o que caracterizou a Revolução Agrícola. A nas de variedades conservadas pelas vári- 1986). O uso dos sistemas de incompatibi-
emergência da agricultura, que é a funda- as tribos indígenas (GALIANT, 1992). O lidade nas plantas, para a criação de vari-
ção sobre a qual as civilizações atuais se germoplasma legado pelos índios e por edades híbridas, e os cruzamentos interes-
apoiam, teve várias conseqüências impor- outros povos da antigüidade começou a pecíficos, para a aquisição de novos ge-
tantes. Primeiro, ela resultou em aumento passar pelo processo dirigido de melhora- nes, também têm sido efetivos em algumas
da população mundial, provavelmente pela mento, principalmente a partir do século espécies. Já nos últimos anos surgiu nova
facilidade do homem obter seu próprio XIX. Porém, desprovidos dos conheci- e altamente promissora ferramenta, a bio-
alimento, mudando a relação homem- mentos científicos necessários para um logia molecular.
terra. Estimativas sugerem que na pré- trabalho consciente, os melhoristas dessa
história seriam necessários 250 ha de terra época eram apenas pessoas práticas que Os Avanços Durante o Século XX
para alimentar um homem por ano (Figura tinham habilidade de selecionar, dentre
2). Atualmente essa relação é de 1 ha por muitas outras, as plantas que apresenta- O Século XX tem sido marcado por

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Cevadas cultivadas e silvestres: Biotecnologia: revolução verde Hélice dupla do DNA, descoberta
domesticação do próximo milênio? em 1953

grandes descobertas ou desenvolvimen- da mundial de alimentos (WOLF, 1986). atraídas pelo entusiasmo prevalecente
tos que tiveram profundo impacto na A Revolução Verde certamente foi uma na época e a maioria delas fechou as
maneira de se fazer o melhoramento de das maiores demonstrações do impacto portas (BORÉM, 1998).
plantas. Antes de tudo houve houve a econômico e social que o melhoramento A maioria das previsões na área da
redescoberta das leis de Mendel, no de plantas pode ter no mundo. Nesse biotecnologia não se concretizou den-
início do século. Por volta de 1910 caso, a introdução de genes para baixa tro do cronograma estabelecido e o
aconteceu a descoberta da heterose. A estatura em trigo e, mais adiante, em ceticismo com a área fez muitos coloca-
década de 20 foi marcada pelo desen- outros cereais, como arroz, possibilitou rem os pés no chão. Atualmente, os
volvimento dos métodos clássicos de um incremento significativo na adapta- resultados de muitas das previsões fei-
melhoramento. Na década de 30 a ção e produtividade dessas espécies. tas, inicialmente, já estão comprovada-
euforia foi em função da descoberta da Também possibilitou o uso maior de mente documentadas. Acredita-se que,
mutagênese e da utilização dos méto- fertilizantes nitrogenados, gerando o embora com certo acaso, os benefícios
dos estatísticos. Na década seguinte, de emprego de pacotes tecnológicos, mes- da biotecnologia terão impacto na gran-
40, ocorreram os grandes avanços na mo em países de terceiro mundo, com de maioria dos programas de melhora-
genética quantitativa. Na década de 50 aumento significativo na produção mun- mento. Novas empresas nessa área estão
a fisiologia, na de 60 a bioquímica, na dial de alimentos (BORLAUG, 1968; BOR- abrindo as portas para um mercado
de 70, a cultura de tecidos e na de 80 a LAUG 1969). altamente promissor. Com os pés no
biologia molecular (BORÉM, 1998). To- Os avanços continuaram, pois a ve- chão e com a sociedade manifestando

Da esquerda para direita: picadeira de forrageiras, enxada e sulcador pré-históricos

davia, com base na experiência acumu- locidade da evolução da ciência é enor- certa resistência a alguns dos produtos
lada em 45 anos de melhoramento de me. Por exemplo, a estrutura da hélice obtidos, a partir de processos biotecno-
milho, DUVICK (1986), relata que os dupla do DNA foi elucidada em 1953. lógicos, pode-se dizer que a biotecnolo-
maiores avanços que presenciou no Vinte anos mais tarde, em 1973, a desco- gia está saindo a sua infância.
melhoramento de plantas foram: a im- berta das enzimas de restrição abriu as O primeiro produto transgênico co-
plementação do uso de maquinaria e portas da biologia molecular aos cientis- mercializado no mundo foi o tomate
computadores nos programas de me- tas. A primeira planta transgênica, na Flavr-Savr, lançado em 1996 nos EUA e
lhoramento; a prática de duas ou mais qual um gene de bactéria foi inserido de modificado por técnicas do DNA recom-
gerações ao ano, diminuindo o tempo forma estável no genoma vegetal, foi binante pela Calgene Co., para retardar
para a obtenção de novas variedades; e produzida em 1983. Naquela ocasião, o seu amadurecimento pós-colheita.
o aumento na rapidez da comunicação previsões futurísticas da contribuição da Vários outros exemplos já estão no mer-
entre melhoristas ao redor do mundo, biotecnologia foram ensaiadas na mídia, cado, como a variedade de algodão
por meio de do fax e do correio eletrô- tanto por leigos quanto pelos próprios ‘Ingard’, lançada em outubro de 1996 na
nico. As contribuições do melhora- cientistas, criando alta expectativa de Austrália. ‘Ingard’ é portadora do gene
mento de plantas, fundamentado em suas aplicações. A euforia era a tônica no Bt da bactéria Bacillus thuringienses,
conhecimentos científicos, têm permi- meio científico. Inúmeras empresas, de que confere resistência às lagartas da
tido produções que atendam a deman- grande a pequeno porte, foram criadas, família dos Lepidópteros. Nos EUA exis-

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tem, até a presente data, cerca de 15 melhoristas, hoje, se entendem mais facil- cultura a riscos?
produtos geneticamente modificados sen- mente. Gradualmente, também os órgãos No caso da Revolução Verde, o risco
do comercializados, como a soja ‘Roun- administrativos e legislativos estão passan- devido a transferência de genes foi peque-
dup Ready’, resistente ao herbicida glifo- do a ter esta mesma perspectiva. no, provavelmente pela natureza da carac-
sate, vários híbridos de milho portadores terística em questão, genes para estatura
do gene Bt, algumas variedades de tomate Os Benefícios e Riscos da planta. A situação com variedades de
resistentes a insetos e herbicidas, clones da Biotecnologia algodão, milho, soja, dentre outras, porta-
de batata resistentes a vírus e variedades doras do gene Bt (Bacillus thuringienses),
de canola com melhor qualidade de óleo Especula-se que haja a necessidade de que confere resistência a alguns Lepidóp-
(KUBICEK, 1997). uma nova Revolução Verde para aumentar teros (JAMES e KRATTIGER, 1996), pode
Em questionário respondido por 32 a produção de alimentos no mundo. Logo ser diferente. A transformação de diferen-
melhoristas do setor público e 23 do setor surge a pergunta: será que a biotecnologia tes espécies vegetais com o mesmo gene
privado, responsáveis por mais de vinte poderá levar o melhoramento de plantas a de resistência, isto é, clonado da mesma
diferentes culturas, em diversos países, a uma nova Revolução Verde? Acredita-se estirpe de Bacillus thuringienses, poderá
importância atual dos marcadores molecu- que já existem algumas evidências que resultar em um risco endêmico, caso o
lares no desenvolvimento de variedades apontam ser esse fato possível. Tudo indi- inseto supere a resistência conferida pelo
foi considerada pequena, mas grande para ca que o número de variedades transgêni- gene Bt, fenômeno denominado de vulne-
o futuro próximo. Neste mesmo levanta- cas de várias espécies, a serem lançadas rabilidade biotecnológica interespecífica.
mento a maioria dos melhoristas informa- comercialmente nos próximos anos, irá Eventualmente, a melhoramento po-
ram acreditar que as principais aplicações aumentar de forma substâncial. Varieda- derá encontrar platôs de rendimentos com
dos marcadores moleculares seriam: intro- as restrições impostas pela piramidação
gressão de fatores monogênicos, assistida (MILACH & CRUZ, 1997) de genes dispo-
por marcadores, transferência de QTLs e nibilizados pela biotecnologia ou existen-
transgenes, assistida por marcadores e tes no germoplasma, resultando no que é
seleção de progenitores (LEE, 1995). Con- denominado de arresto gênico. Por outro
forme também relatado por LEE (1995), as lado, a biotecnologia criará novas pers-
principais limitações atuais para a utiliza- pectivas ainda não imaginadas pelo me-
ção dos marcadores moleculares no de- lhorista, o que possibilitará superar os
senvolvimento de cultivares seriam: o cus- limites hoje existentes. As plantas transgê-
to da tecnologia, a interação genótipo x nicas serão apenas parte da contribuição
marcador e a dificuldade operacional da que a biotecnologia promete dar ao me-
técnica. lhoramento de plantas. Em artigo recente,
Segundo JONES & CASSELLS (1995), TANKSLEY & MCCOUCH (1997) discutem
na década de 90 as pesquisas em genética a importância do uso dos recursos genéti-
nas universidades da Europa e América do cos existentes em bancos de germoplasma
Norte têm sido direcionadas predominan- e presentes, muitas vezes, em espécies
temente para a biologia molecular e a silvestres. Os autores apontam que a pos-
transformação gênica. Em decorrência, o sibilidade de se acessar a variabilidade
número de universidades nos países de- genética no DNA, com o uso de marcado-
senvolvidos que oferecem treinamento res moleculares, irá revolucionar a forma
em níveis de graduação e pós-graduação como esta variabilidade será explorada em
em genética e melhoramento clássicos tem programas de melhoramento de plantas
declinado, com sérias conseqüências para no futuro. Somente o uso correto da bio-
a sociedade. tecnologia como auxiliar ao melhoramen-
Com a marcante redução dos recursos to, permitirá que os riscos sejam minimiza-
públicos disponíveis para patrocínio de Preservação gênica em nitrogênio dos e os benefícios maximizados.
todos os tipos de pesquisas, alocar mais líquido
recursos em biotecnologia pode significar CONCLUSÃO
sacrifício do melhoramento de plantas
convencional. Este é um problema pratica- des resistentes a herbicidas já estão entre o O surgimento de diversas técnicas com-
mente insolúvel, mas espera-se que os grupo de produtos predominantes para a plementares ao melhoramento de plantas
órgãos financiadores de pesquisa encon- maioria das espécies, seguidas de resistên- no Século XX tem trazido várias lições. A
trem o melhor balanço possível de inves- cia a insetos, entre outros. A entrada, em primeira delas foi que nenhuma tecnolo-
timento no melhoramento de plantas atual maior escala, das plantas transgênicas no gia por si só pode substituir a prática do
e no futuro. Seria contraprodutivo sacrifi- mercado gerará, à semelhança da primeira melhoramento de plantas. Isso decorre de
car os profícuos programas de melhora- revolução verde, novos pacotes tecnológi- vários fatores. Novas tecnologias podem
mento em favor da biotecnologia, que é cos (com uso de herbicidas e outros insu- auxiliar na criação de variabilidade e/ou
considerada uma ferramenta de auxílio ao mos) e possibilitará a prática da agricultura seleção de genótipos superiores, mas a
melhoramento. Durante os primeiros anos em grandes extensões. As contribuições avaliação a campo de materiais superiores
da biotecnologia cientistas, em diversos da biotecnologia para a agricultura já se ainda é uma etapa fundamental enquanto,
fóruns, se envolveram em discussões que fazem sentir em vários países onde varie- a agricultura for praticada como tem sido
culminaram com a conclusão de que a dades transgênicas vem ocupando gran- feito até hoje. Outra lição é de que o
biotecnologia não substituiria o melhora- des áreas de plantio com diferentes espé- emprego de qualquer nova tecnologia
mento convencional. Biotecnólogos e cies. Será que tal prática conduzirá a agri- raramente é de uso indiscriminado para

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quanto as mutações induzidas, ainda variedades também serão aqueles que Agron., v. 47, p. 203-229, 1992.
hoje, têm grande impacto no melhora- utilizam a hibridação. A mais onerosa GOTSCH, N. and RIEDER, P. Forecasting
mento de espécies vegetativas, como as etapa no desenvolvimento varietal con- future developments in crop protection.
plantas ornamentais, certamente tiveram tinuará a ser a das avaliações de campo Crop Prot., v. 9, p. 83-89, 1990.
um impacto aquém do esperado para os para as características quantitativas e a HARLAN, J.R. Crops & Man, Madison: ASA
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para o uso da biotecnologia no dia-a-dia, multidisciplinar tornar-se-á mais eviden- JACOBITZ, A. The best education. Farm
que poderá ter e já está tendo impacto no te. A biotecnologia será gradativamente futures, Ames, v. 93, p. 12-13, 1993.
melhoramento de diversas espécies, mas incorporada à rotina do melhoramento, JAMES, C. & KRATTIGER, A. F. Global
provavelmente será inviável para outras. como instrumento para desenvolver no- review of the field testing and commer-
Acredita-se que a expectativa gerada em vas variedades, tornando o melhora- cialization of transgenic plants, 1986
torno do uso de novas técnicas e o mento genético mais preciso. Dois dos to 1995: The first decade of crop biote-
impulso de aplicá-las indiscriminadamen- seus objetivos: serão diminuir o tempo chnology. ISAAA Briefs no. 1. ISAAA:
te a qualquer espécie vegetal têm sido os para obtenção de novas variedades e Ithaca, NY, 31p., 1996
fatores principais do desapontamento e expandir o conjunto gênico disponível JONES, P.W. & CASSELLS, A.C. Criteria for
posterior ceticismo dos melhoristas. Tal- para cada programa de melhoramento. decision making in crop improvement pro-
vez uma alternativa para a questão de Em que espécies ela terá maior impacto grammes - technical considerations. Eu-
investir ou não em uma nova tecnologia e como o seu emprego se justificará no phytica, Wageningen, v. 85 p. 465-476,
seja perguntar-se primeiro como esta dia-a-dia do melhoramento serão per- 1995.
pode auxiliar na solução daqueles pro- guntas a serem respondidas com o pró- KUBICEK, Q.B. Panorama da biotecnolo-
blemas enfrentados pelo melhorista e se prio tempo. gia nos EUA. Biotec. Cien. & Desenv.,
o fará diferentemente das metodologias Brasília, v. 1, p. 38-41, 1997.
clássicas do melhoramento. Além disso, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LEE, M. DNA markers and plant breeding
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