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APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO Nº 595.

896-3, DO FORO DA
COMARCA DE ANDIRÁ - VARA CÍVEL E ANEXOS.
APELANTE 1: ROSANGELA SILVA SIQUEIRA
APELANTE 2: MUNICÍPIO DE ANDIRÁ
APELADOS: OS MESMOS
RELATOR: DES. RUY CUNHA SOBRINHO

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. MORTE DE


MENOR POR ATROPELAMENTO. TRANSPORTE ESCOLAR. VÍTIMA QUE SE
ENCONTRAVA SOB OS CUIDADOS DO MUNICÍPIO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. INEXISTÊNCIA DE CULPA CONCORRENTE. REDUÇÃO DOS DANOS
MORAIS. PRESENÇA DOS DANOS MATERIAIS E DA PENSÃO ALIMENTÍCIA.
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. RECURSO DA AUTORA PARCIALMENTE PROVIDO.
APELAÇÃO DO MUNICÍPIO NÃO CONHECIDA. SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO.

1. A responsabilidade extracontratual do Estado, prevista no § 6º do artigo 37 da Constituição


Federal, é objetiva e baseada na Teoria do Risco Administrativo. O Estado responde
objetivamente pelos danos causados a terceiros por condutas comissivas de seus agentes.

2. Não se pode imputar como imprudente a conduta de uma criança de 10 anos de idade, que
ainda não tem capacidade de reconhecer e evitar situações de perigo e atravessa a rodovia
correndo pela frente do ônibus escolar, razão pela qual, no caso, não há como se reconhecer a
culpa concorrente da vítima.

3. Tendo em vista a ausência de culpa concorrente, as indenizações por danos morais e


materiais e a pensão alimentícia devem ser pagas integralmente pelo réu.

4. A fixação dos danos morais deve, ao mesmo tempo, compensar o sofrimento do lesado e
servir de punição ao ofensor, não podendo configurar fonte de enriquecimento ou apresentar-
se inexpressiva e, por outro lado, mas não menos importante, o processo deve fornecer dados
concretos ao juiz, sob pena de ser a atividade jurisdicional aleatória e dissociada da realidade
fática.
5. Sendo meramente estimativo ou sugestivo o pedido feito pelo autor na ação de indenização
por dano moral e em razão do prudente arbítrio conferido ao juiz na fixação do valor, em regra
não ocorre sucumbência parcial ou recíproca (art. 21, do CPC) se a condenação for inferior
àquele montante, salvo se o autor da ação apela não se conformando com o que foi arbitrado
pelo primeiro grau.

Recurso 1 parcialmente provido; recurso 2 não conhecido; sentença parcialmente reformada


em sede de reexame necessário.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível e Reexame Necessário nº


595.896-3, do Foro da Comarca de Andirá - Vara Cível e Anexos, em que são apelantes
Rosangela Silva Siqueira e Município de Andirá e apelados os mesmos.

Rosangela Silva Siqueira ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais em face
do Município de Andirá e Wesley Bocatto, alegando, em síntese: em 13 de março de 2006,
seu filho Gustavo Silva Siqueira, utilizando-se de transporte escolar fornecido pelo Município
réu, faleceu em um acidente de trânsito, vítima de trauma de cabeça, esmagamento do tórax e
politraumatismo; a culpa pela morte de Gustavo é do motorista do Município, pois ele deveria
deixar os alunos do outro lado da pista e impedir que os mesmos passassem pela frente do
ônibus para atravessá-la; o menor estava sob os cuidados do Município e deveria ter sido
conduzido até o local onde sempre desceu; a responsabilidade do Município é objetiva; o
proprietário da caminhonete que atropelou Gustavo também tem responsabilidade no acidente,
na medida em que o seu veículo não transitava de modo compatível com o local; tendo em
vista a perda sofrida, faz jus a uma pensão vitalícia e à indenização por danos morais e
materiais.
Atendendo a deliberação de fl. 46, a autora emendou a inicial, para o fim de esclarecer que os
danos materiais postulados dizem respeito à ajuda que deixará de receber de seu filho pelo seu
trabalho, se vivo fosse.

Wesley Bocatto apresentou a contestação de fls. 60/86. Sustentou, preliminarmente,


ilegitimidade ativa; ilegitimidade passiva; e necessidade de suspensão do feito, conforme
dispõe o artigo 110 do Código de Processo Civil. No mérito, o motorista da caminhonete de
sua propriedade (Ronaldo Ferreira) não cometeu nenhum ato ilícito, pois trafegava
regularmente em sua mão de direção e em baixa velocidade; a culpa pelo acidente repousa na
atitude do motorista do ônibus escolar, que estacionou em lugar impróprio, permitiu que as
crianças descessem pela parte frontal do veículo e tentassem atravessar a pista de rolamento; a
própria vítima também é responsável pelo sinistro, na medida em que tentou atravessar a pista
de rolamento sem tomar os cuidados mínimos necessários; assim, indevidos os pedidos de
indenização; ademais, não houve a comprovação da existência de danos materiais ou de que a
autora dependesse do falecido para a sua sobrevivência; o quantum indenizatório deve ser
estabelecido pelo juiz da causa.

O Município de Andirá, por sua vez, apresentou a contestação de fls. 88/96. Alegou,
preliminarmente, ilegitimidade passiva. No mérito, é indevida a indenização por danos
materiais ou lucros cessantes, porque Gustavo não sustentava ou ajudava no sustento da
família; o valor postulado a título de danos morais é abusivo e representa tentativa de
enriquecimento ilícito; o motorista do ônibus escolar sempre zelou pela segurança das
crianças que transportava; ainda que a legislação estabeleça a responsabilidade objetiva da
Administração Pública, no presente caso encontram-se presentes duas causas excludentes do
dever de indenizar: culpa exclusiva da vítima e ausência do nexo de causalidade; houve
imprudência do motorista que atropelou o menor e a omissão da concessionária que
administra a rodovia, no que se refere à segurança do local.

Réplica às fls. 97/113.

Determinada a especificação de provas (fl. 114), o segundo réu (Wesley Bocatto) e a autora
postularam a produção de prova oral e documental (fls. 115 e 117).

O feito foi saneado em audiência de conciliação, ocasião na qual foram rejeitadas as


preliminares e deferida a produção de prova documental e oral (fls. 121/122).

Em audiência de instrução e julgamento foram inquiridas cinco testemunhas (fls. 146/150) e


concedido às partes o prazo de dez dias para apresentação de suas razões finais (fls. 144).

Memoriais às fls. 152/158, 160/165 e 167/172.

Sobreveio a sentença (fls. 174/193). O juízo a quo julgou improcedentes os pedidos


formulados em face de Wesley Bocatto e parcialmente procedentes em relação ao Município
de Andirá, para o fim de condená-lo ao pagamento de pensão mensal e indenização por danos
morais e materiais à autora, reduzidos pela metade, diante da culpa concorrente da vítima.

Inconformados com o decidido, Rosangela Silva Siqueira e Município de Andirá recorrem a


este Tribunal (fls. 195/204 e 206/211).

Rosangela Silva Siqueira sustenta a responsabilidade total do Município de Andirá pela morte
de seu filho, na medida em que era o seu guardião; o preposto não possuía a mínima condição
de exercer as funções de motorista escolar; era obrigação do apelado não deixar Gustavo do
outro lado da pista para fazer a travessia; tendo deixado, era sua obrigação orientá-lo para a
travessia da via, o que não ocorreu; a pouca idade da vítima não lhe permitia entender que a
travessia lhe ocasionaria a morte; a ausência de zelo do motorista do Município foi
amplamente comprovada e constitui o nexo causal do evento morte; tendo em vista a ausência
de culpa concorrente, os valores das indenizações, bem como os ônus sucumbenciais, devem
ser adimplidos integralmente pelo Município de Andirá; há necessidade de majoração dos
danos morais, nos moldes postulados na petição inicial.

O Município de Andirá defendeu a inexistência de nexo de causalidade entre a conduta do


motorista do ônibus e os fatos que ocasionaram o falecimento do menor; a fatalidade foi
proporcionada pelas duas crianças que não deveriam descer naquele local; a prova
testemunhal produzida nos autos confirmou que não havia qualquer irregularidade do
motorista na condução do veículo; não sendo reconhecida a inexistência de responsabilidade
do apelado, o valor da condenação deve ser reduzido, sob pena de enriquecimento ilícito.

Contra-razões às fls. 213/217 e 219/240.

A Procuradoria Geral de Justiça opinou pela desnecessidade de sua intervenção no feito (fls.
264/267).

É o relatório.

VOTO.
1. A controvérsia recursal gira em torno da natureza da responsabilidade do Estado; seu dever
de indenizar a autora, pela morte de seu filho Gustavo Silva Siqueira; existência de culpa
concorrente da vítima; correção dos danos morais, materiais, pensão e honorários advocatícios
arbitrados pelo juízo a quo.

2. Da apelação do Município de Andirá

O recurso de apelação interposto pelo Município de Andirá não pode ser conhecido.

E assim é porque a sentença proferida às fls. 174/193 foi publicada no dia 07 de novembro de
2008; o prazo recursal iniciou-se em 13 de novembro de 2008; e, em 29 de dezembro de 2008,
mais de trinta dias após, o Município apresentou a sua insurgência contra a sentença.

Assim, por ser intempestivo, não pode ser conhecido o recurso apresentado pelo Município de
Andirá.

3. Do Reexame Necessário

Antes de adentrar ao mérito recursal, ressalto, ainda, que o feito está sujeito ao reexame
necessário, na forma do inciso I do artigo 475 do Código de Processo Civil, o qual será
analisado em conjunto com a apelação apresentada pela autora.

4. Da responsabilidade do Estado

4.1. Como é sabido, a responsabilidade civil do Estado encontra guarida na disposição do


artigo 37, § 6°, da Constituição Federal de 1988.

Da análise da norma constitucional, retira-se a matiz objetiva da responsabilidade estatal, com


base na Teoria do Risco Administrativo, em que se dispensa a análise do elemento subjetivo,
qual seja, a culpa lato sensu.

Sendo assim, para que haja a responsabilização do Estado pelos prejuízos causados aos seus
administrados, necessário apenas que sejam identificados o dano, a ação administrativa e a
relação de causa e efeito entre os dois.
Nesta esteira, não resta dúvida acerca da responsabilização estatal pelos atos comissivos,
praticados por seus agentes, sem a necessidade de análise do elemento subjetivo, calcada na
Teoria do Risco Administrativo.

No caso dos autos, restaram devidamente comprovados todos os requisitos exigidos para a
responsabilização do Estado: a morte do filho da autora configura o dano por ela sofrido; a
conduta do motorista em parar o ônibus em local diverso do de costume e em não orientar as
crianças para a travessia da pista caracteriza a ação administrativa; e, por fim, a existência de
nexo causal entre a conduta do motorista do Município e o dano sofrido pela autora é
evidente, na medida em que se ele tivesse parado o ônibus no local de costume ou, ao menos,
orientado as crianças na travessia da pista, por certo que o acidente não teria se desenvolvido.

Com efeito, o próprio motorista afirmou que as crianças não eram acostumadas a descer no
local em que o ônibus parou, pois aquela não era a sua parada de descida (fl. 30);
posteriormente, em audiência de instrução e julgamento, alegou que sequer sabia qual era o
ponto em que a vítima descia; que o Município não fornece uma lista das crianças com
endereços; e que não há controle das crianças que embarcam e desembarcam do ônibus (fl.
149).

As duas testemunhas arroladas pela autora também afirmaram que o ônibus nunca havia
parado naquele local (fls. 146 e 147).

E a primeira testemunha arrolada pelo Município, por sua vez, afirmou que não havia e ainda
não há orientação para que o motorista desça do ônibus e direcione as crianças; que a
Prefeitura nunca fez nenhum estudo ou avaliação para a designação de pontos de ônibus
escolar; que a escolha desses pontos não segue nenhum critério, variando de acordo com os
pedidos realizados junto a Prefeitura; e que as pessoas não tem condições de identificar os
pontos escolares por falta de placas indicativas (fl. 148).

Da análise da conduta do réu, portanto, e como bem observado pela sentenciante, verifica-se a
total falta de comprometimento do Município para com as crianças que transportava (fls. 178)
e que, assim, estavam sob sua guarda e vigilância.
Deste modo, o Município deve ser responsabilizado pela ocorrência do acidente em comento.

4.2. E a sua responsabilização deve ser integral, na medida em que não há como se reconhecer
a existência de culpa exclusiva ou concorrente da vítima.

Com efeito, não se pode imputar como imprudente a conduta de uma criança de 10 anos de
idade (fls. 13 e 14), que ainda não tem capacidade de reconhecer e evitar situações de perigo,
como a que se submeteu no dia do acidente.

Ademais, tratando-se a alegação de culpa da vítima de fato desconstitutivo do direito da


autora, cabia ao Município a prova de sua ocorrência, nos termos do inciso II do artigo 333 do
Código de Processo Civil. E, desse ônus, ele não se desincumbiu.

Nesse sentido, oportuno trazer à colação trecho do voto proferido pelo Juiz Convocado Xisto
Pereira, no julgamento da APRN 369.519-4, em 05 de maio de 2008: "Somadas todas essas
circunstâncias, sequer culpa concorrente da criança é possível ser admitida, uma vez que não é
razoável e proporcional imputar como imprudente a conduta de quem não está em condições
de reconhecer perigos e de determinar-se conforme esse entendimento.
(...).
(...), a alegação de culpa da vítima é fato desconstitutivo do direito alegado e, portanto, cabia
aos apelantes a prova inequívoca de sua ocorrência (art. 333, II, do CPC), como por exemplo
de que a vítima tinha condições plenas de determinar-se segundo o dever de cuidado exigido
para a média dos homens, (...)"

Destarte, não comprovada a culpa concorrente da vítima, deve o Município de Andirá


indenizar integralmente a autora.

4.3. Analisando casos similares, este Tribunal reconheceu a aplicação da teoria da


responsabilidade objetiva do Estado e a ausência de culpa da vítima, consoante se infere dos
seguintes precedentes: APRN 132.901-1, Quarta Câmara Cível (extinto TA), Rel. Juiz Clayton
Camargo, j. 11.04.2001; APRN 199.314-4, Décima Câmara Cível (extinto TA), Rel. Juiz
Macedo Pacheco, j. 28.08.2003; APRN 244.885-5, Nona Câmara Cível (extinto TA), Rel. Juiz
Antonio Renato Strapasson, j. 20.04.2004; AP 519.249-6, Quarta Câmara Cível, Rel. Des.
Maria Aparecida Blanco de Lima, j. 01.09.2009; APRN 369.519-4, Quarta Câmara Cível, Rel.
Juiz Xisto Pereira, j. 05.05.2008, este último assim ementado: "AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
MORTE DE CRIANÇA POR ATROPELAMENTO EM RODOVIA. TRANSPORTE
ESCOLAR. VÍTIMA SOB CUIDADOS DO MUNICÍPIO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. CONDUTOR DO VEÍCULO QUE NÃO SE
ACAUTELA AO ULTRAPASSAR ÔNIBUS DE ESCOLARES. CULPA CONCORRENTE
DA VÍTIMA. INOCORRÊNCIA. DESARRAZOABILIDADE. DANOS MATERIAIS E
MORAIS. SEGURO PESSOAL QUE ABRANGE OS DANOS MORAIS. JUROS E
CORREÇÃO MANTIDOS. APELOS DESPROVIDOS. SENTENÇA ADEQUADA EM
SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO.
(1) A responsabilidade do Estado é objetiva e somente pode ser afastada em caso de
comprovada culpa da vítima.
(2) É ordinário, natural e bastante previsível que crianças pequenas e sem discernimento do
real perigo possam cruzar repentinamente pista de rolamento, cabendo ao motorista zelar pelo
dever de cuidado ao ultrapassar ônibus escolar parado para desembarque em acostamento de
rodovia.
(3) Não é razoável e proporcional exigir prudência, previsão e dever de cuidado de uma
criança de sete anos de idade. Pela sua condição peculiar e natural, não se pode exigir
comportamento médio equivalente a de um homem diligente.
(4) No seguro de danos pessoais está abrangido o dano moral. Termo inicial de 14 anos,
porque atividade de aprendiz é remunerada (art. 428, § 2.º, da CLT)."

Destarte, configurada a responsabilidade municipal, resta, ainda, a quantificação dos danos


sofridos pelo administrado.

5. Dos danos morais

Indiscutível, na hipótese em desate, a ocorrência dos danos morais, consistentes na dor que a
autora sofreu ao perder seu filho.

No que tange ao quantum indenizatório, é sabido que não existe critério objetivo a
dimensionar a fixação do dano moral, cabendo ao juiz, ao seu prudente arbítrio, após
balancear as condições dos envolvidos e as circunstâncias e conseqüências do evento danoso,
fixá-lo, de modo que não seja nem inócuo nem absurdo.
A fixação, na verdade, deve, ao mesmo tempo, compensar o sofrimento do lesado e servir de
punição ao ofensor, não podendo configurar fonte de enriquecimento ou apresentar-se
inexpressiva.

Sobre a fixação do dano moral, assim tem entendido a jurisprudência: "No dano moral, o
pretium dolores, por sua própria incomensurabilidade, fica a critério do juiz, que fixa o
respectivo valor, de acordo com o seu prudente arbítrio, o que não configura cerceamento de
defesa do réu. Grande, portanto, é o papel do magistrado na reparação do dano moral,
competindo-lhe examinar cada caso, ponderando os elementos probatórios e medindo as
circunstâncias."1

"A indenização por dano moral é arbitrável, mediante estimativa prudencial que leve em conta
a necessidade de, com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir, de igual e novo
atentado, o autor da ofensa."2

Antonio Carlos de Campos Pedroso adverte que não há excesso de poder na composição dos
danos morais quando estes ficam a critério do magistrado: "Este poder é da própria natureza
do ato de julgar. O Juiz recebe, por delegação normativa, o poder de converter a norma
genérica da lei na norma concreta da sentença. Se o legislador não traça diretrizes, cabe ao
juiz procurar a solução justa, equacionando, prudentemente, os dados que devem compor a
decisão. É o que vem ocorrendo na fixação das sanções correspondentes aos ilícitos que
redundam em danos morais."3

Segundo o Superior Tribunal de Justiça, esta parece ser a melhor orientação: "Na fixação dos
danos morais, o magistrado não está obrigado a utilizar-se de parâmetros. Ao arbitrar o valor
da indenização deve levar em consideração a condição econômica das partes, as circunstâncias
em que ocorreu o evento e outros aspectos do caso concreto."4

"A indenização deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação
venha a constituir-se em enriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros,
devendo o arbitramento operar com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e ao
porte econômico das partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e o bom senso, atento à
realidade da vida e às peculiaridades de cada caso. Ademais, deve ela contribuir para
desestimular o ofensor a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica.
(...)
Em face de manifestos e freqüentes abusos do quantum indenizatório, no campo da
responsabilidade civil, com maior ênfase, em se tratando de danos morais, lícito é ao Superior
Tribunal de Justiça exercer o respectivo controle.
(...)".5

"O dano moral deve ser indenizado mediante a consideração das condições pessoais do
ofendido e do ofensor, da intensidade do dolo ou grau de culpa e da gravidade dos efeitos a
fim de que o resultado não seja insignificante, a estimular a prática do ato ilícito, nem o
enriquecimento indevido da vítima".6

Tenho defendido sempre que para se aquilatar o sofrimento em ações de dano moral é preciso
que o processo traga elementos concretos ao juiz; caso contrário, a fixação será meramente
aleatória e dissociada da realidade fática, enveredando por uma subjetividade perigosa.

A respeito dos parâmetros para fixação do dano moral, veja-se o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça:

"(...)

III - A indenização por danos morais deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando
que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento sem causa, com manifestos abusos e
exageros, devendo o arbitramento operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de
culpa e ao porte econômico das partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela
doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atendo à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso. Ademais, deve ela
contribuir para desestimular o ofensor a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica."7

A indenização por dano moral deve ser fixada de acordo com as peculiaridades do caso
concreto e com os princípios de proporcionalidade e da razoabilidade, comportando redução
quando fixada em montante excessivo, especialmente, como no presente caso, em que não
houve a produção de prova específica no sentido de mensurar o grau efetivo do sofrimento
experimentado pela autora em conseqüência da morte de seu filho.

Da leitura dos autos, verifica-se que a autora é pessoa humilde e a morte do filho não lhe pode
resultar em lucros mirabolantes (quantia que não conseguiria juntar durante toda uma vida de
trabalho mesmo não tendo nenhuma despesa).

Assim, a despeito de não haver dinheiro que possa compensar a mãe pela dolorosa perda de
seu filho, tem-se que o valor fixado pelo juízo de primeiro grau, apesar de ter atendido ao fim
visado (reparação para o pai e elisão de novos ilícitos), ultrapassou os limites que vem sendo
fixado por este Tribunal de Justiça, especialmente desta Câmara, em casos similares, como na
AP 597.737-1, em que foi relatora a Des. Dulce Maria Cecconi, julgada em 15.12.2009, em
que os danos morais foram fixados em R$ 50.000,00; na AP 553.704-0, que relatei em
15.09.2009 e fiquei vencido na parte relativa ao montante indenizatório, fixado em R$
50.000,00; na AP 298.159-1, em que foi relatora a Juiz Dilmari Helena Kessler, julgada em
21.03.2007; e na AP 408.529-0, em que foi relatora a Des. Regina Afonso Portes, julgada em
18.03.2008.

Deste modo, o montante indenizatório deve ser reduzido de R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil
reais) para R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), valor suficiente para assegurar ao lesado justa
reparação pela dor suportada, sem incorrer em enriquecimento ilícito.

Oportuno ressaltar que a redução da indenização está sendo feita em sede de Reexame
Necessário, na medida em que a apelação do Município não foi conhecida, o que é plenamente
possível porque o juiz, com a devida vênia, se descurou de justificar o valor da indenização
com base em elementos concretos.

6. Dos danos materiais e da pensão

Relativamente aos valores fixados a título de danos materiais e de pensão alimentícia, tenho
que não merecem nenhuma correção, a não ser pelo fato de que devem ser pagos
integralmente à autora, em razão da ausência de culpa concorrente da vítima, como já
discorrido em tópico anterior.
Ressalto que, em sede de reexame necessário, cabe apenas verificar se a decisão de primeiro
grau, na matéria enfrentada, foi ilegal ou manifestamente equivocada, e nada mais.

Além do que, na verdade, a responsabilidade do Município deveria ser repartida com o


motorista atropelador que deveria tomar cuidados redobrados ao passar por um ônibus escolar
(mas isto não pode ser modificado porque a autora não recorreu). Nos Estados Unidos, o
motorista é obrigado a parar quando tem um ônibus escolar estacionado.

Com relação à Remessa Oficial, não custa lembrar a lição do Desembargador Federal
aposentado Vladimir Passos de Freitas, do TRF-4ª, no julgamento dos EDlcAP 97.04.55380-
3-PR, Primeira Turma, j. 15.6.1999: "A obrigação de submeter ao segundo grau de jurisdição
os casos de sentenças proferidas contra a Fazenda Pública tem por meta evitar decisões ilegais
ou manifestamente equivocadas. Não significa, todavia, que no segundo grau de jurisdição
deva ser enfrentado aspecto não alegado em momento algum do processo e não mencionado
no recurso voluntário da vencida. O juiz de segunda instância não pode ser transformado em
um fiscal do poder público quanto aos incalculáveis aspectos da demanda, sob pena de perder
a neutralidade."

Em sentido mais ou menos conforme é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:


"PROCESSUAL CIVIL. REMESSA OFICIAL (ART. 475, II, CPC). 'REFORMATIO IN
PEJUS'. SÚMULA 45 - STJ. A REMESSA OFICIAL, POR SI, NÃO AUTORIZA O
TRIBUNAL AD QUEM A MANIFESTAR-SE SOBRE TODA A MATÉRIA POSTA EM
JUÍZO. CONSIDERAÇÕES DIVERGENTES DO RELATOR. RECURSO PROVIDO."8

Analisando os autos, verifica-se que o arbitramento da indenização por danos materiais e da


pensão alimentícia não foi ilegal ou manifestamente equivocada.

Assim, no que pertine a este tópico, por tudo isto e aderindo inteiramente aos termos da
sentença, aos quais me reporto, proponho que elas sejam mantidas em sede de remessa oficial.

7. Sucumbência recíproca

Finalmente, com relação à sucumbência, em tese, a apelante estaria com a razão ao postular
que fossem de responsabilidade integral do Município, uma vez que foi reconhecida e
inexistência de culpa concorrente da vítima e o valor atribuído pelo autor na petição inicial na
busca pelo ressarcimento moral, via de regra, é considerado meramente estimativo, não se
verificando a caracterização de sucumbência quando decai, mesmo que em grande diferença
na fixação.

No REsp 222.228/SC o Ministro Aldir Passarinho Junior do Superior Tribunal de Justiça


ensina, depois de transcrever lição de Yussef Cahali, ensina: "Pela multiplicidade de hipóteses
em que pode ocorrer a ofensa moral, como se extrai da excelente passagem doutrinária acima
reproduzida, aliada à natural dificuldade em se mensurar o valor do dano, entendo que o
pedido exordial que refere a determinado quantitativo indenizatório é meramente estimativo,
não importando em pretensão específica para fins de parâmetro no que concerne com a
condenação final e a fixação da sucumbência.

Não fosse assim, estar-se-ia criando um elemento inibidor à ação, qual seja o de constranger o
autor a postular valor mais baixo, desproporcional à angústia, dissabor, humilhação
efetivamente suportados, apenas como cautela para evitar uma sucumbência onerosa,
conquanto vencedor na tese fundamental, qual seja a da procedência do pedido reparatório.
Portanto, pelo fundamento acima, tenho que a sucumbência recíproca não se verificou. A
sucumbente é uma só: a ré. E deve ela arcar com os ônus da verba honorária que, inclusive, já
está atendendo ao critério da proporcionalidade, não apenas pelo razoável percentual
estabelecido - 10% - como porque o próprio valor da indenização é reduzido, gerando,
conseqüentemente, sucumbência igualmente diminuta".9

Com relação a este tema, no "III Congresso de Magistrados Paranaenses" realizado nesta
Capital entre 31 de julho e 02 de agosto de 1997, em painel que teve como conferencista o
professor João Casillo e debatedores os magistrados Clayton Reis, Miguel Kfouri Neto e
Valter Ressel, foram aprovadas duas proposições, a saber: "Em razão do arbítrio que lhe é
conferido na fixação do valor da indenização por dano moral, o juiz não está obrigado a acatar
e fixar o quantum pleiteado pela parte lesada na petição inicial (esse quantum é meramente
estimativo ou sugestivo), mesmo não havendo impugnação específica pela parte contrária (art.
302, do CPC)" (Proposição nº 4, aprovada por unanimidade)."
"Em razão do prudente arbítrio conferido ao juiz na fixação do valor da indenização por dano
moral, a condenação em valor inferior ao pedido na inicial não importa, necessariamente, em
sucumbência recíproca (art. 21, do CPC)" (Proposição nº 5, aprovada por maioria)."

Entretanto, o presente feito tem uma particularidade que deve ser levada em consideração: a
autora não se conformou com a fixação feita pelo juiz e apelou pretendendo a sua elevação.
Neste caso, entendo que deve ser aplicada a regra da sucumbência recíproca.

O Tribunal de Justiça do Paraná tem um precedente a respeito do tema que já apliquei:

"APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - SALDO DEVEDOR EM


CONTA CORRENTE GERADO POR DÉBITO DE TAXA SERVIÇO BANCÁRIO
LANÇADO APÓS O PEDIDO DE ENCERRAMENTO DA CONTA - OCORRÊNCIA DE
SURPRESA E QUEBRA DA CONFIANÇA CONTRATUAL - INCLUSÃO DO NOME DO
CORRENTISTA NO SERASA (CENTRALIZAÇÃO DE SERVIÇOS BANCÁRIOS S/A) -
IMPOSSIBILIDADE - OCORRÊNCIA DE CULPA - COMPROVAÇÃO DE DANO
MORAL - DESNECESSIDADE - INDENIZAÇÃO - VALOR PRUDENTEMENTE
ESTABELECIDO - FIXAÇÃO EM SALÁRIOS MÍNIMOS - VEDAÇÃO
CONSTITUCIONAL - CONVERSÃO - CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS - SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - COMPENSAÇÃO - INTELIGÊNCIA
DO ARTIGO 21 DO CPC - APELO E RECURSO ADESIVO DESPROVIDOS. 1. Restando
comprovado que o banco, ora apelante, ao debitar tarifas na conta do cliente, sem a sua prévia
ciência e autorização, causou a este surpresa; e, depois, em razão do saldo devedor, inscreveu
no cadastro do SERASA o CPF do apelado e o CNPJ da Associação Brasileira da Indústria de
Hotéis ABIH/PR, titular da conta, ocasionando, com esta conduta, dano moral ao apelado, em
face do abalo de crédito sofrido, cabível é a pretensão de reparação dos danos morais daí
decorrentes. 2. Consoante pacífica orientação jurisprudencial desta Corte, o "dano moral puro
ou objetivo independe de efetivo reflexo patrimonial, bastando a comprovação do ato ilícito e
do nexo de causalidade, sendo presumidos os efeitos nefastos da honra do ofendido". 3. No
caso presente, a indenização por dano moral foi fixada em 100 (cem) salários mínimos, para
que o valor do salário mínimo a que essa indenização está vinculada atue como fator de
atualização desta, o que é vedado pelo art. 7.º inciso IV da Carta Constitucional, justificando,
portanto, a devida adequação, mesmo de ofício. 4. Desprovido o recurso adesivo que
objetivava a majoração da indenização estabelecida no juízo singular, é de se impor ao
recorrente adesivo, em face o princípio da sucumbência, o pagamento da verba honorária.
Pois, é aceitável o entendimento de ser meramente enunciativo o valor do dano moral
apontado pelo autor na inicial, se este concorda com a quantificação estabelecida pelo juiz na
sentença singular. Mas, se discorda do arbitramento judicial e busca majorá-lo, através de
recurso adesivo, como no caso presente, não há mais como admiti-lo como enunciativo,
passando o recorrente a se submeter ao risco de ver sua pretensão desprovida e,
conseqüentemente, de ser aplicada a regra geral de sucumbência."10

Diante de tais considerações, a autora deverá arcar com 50% da custas e despesas processuais,
restando 50% por conta do Município de Andirá, sendo na mesma proporção distribuída a
verba honorária, com a necessária compensação, lembrando-se que a autora é beneficiária da
assistência judiciária gratuita.

8. Em resumo, o recurso de apelação apresentado pelo Município não pode ser conhecido; a
responsabilidade do Município de Andirá é objetiva; não houve a caracterização de culpa
concorrente; é devida a indenização por danos morais e materiais à autora, bem como pensão
alimentícia; houve sucumbência recíproca; tudo na forma do voto.

Ante o exposto, a Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em


Composição Isolada, por unanimidade de votos, dá parcial provimento ao recurso voluntário
da autora, não conhece do recurso interposto pelo réu e, em sede de reexame necessário,
modifica parcialmente a sentença, relativamente ao quantum fixado a título de danos morais.

A Presidência da Sessão coube a este Relator e do julgamento participaram os Juízes


Substitutos de Segundo Grau Antonio Domingos Ramina Junior e Sérgio Roberto Nóbrega
Rolanski.
Curitiba, 02 de março de 2010.

Des. Ruy Cunha Sobrinho


Relator

1 RT 7330/307.
2 RT 706/67.
3 Em artigo veiculado pela Revista Justitia, São Paulo, out/dez 1995, p. 76, sob o título "A
Reparação do Dano Moral".
4 REsp 208.795/MG, 3° T., rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU de 23.08.1999, p. 123.
5 REsp 215.607/RJ, Quarta Turma, Rrel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU
13.09.1999.
6 REsp 207.926/PR, Quarta Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU 08.03.2000.
7 REsp 265133/RJ, Quarta Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 19.09.2000.
8 REsp 24.268/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, j. 19.08.1992.
9 RT 800/223.

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