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QUINTA-FEIRA, 20 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Internacional
estadão.com.br
Especial. Saiba mais sobre a
guerrilha colombiana Farc
estadão.com.br/internacional

ESFORÇO DIPLOMÁTICO. Campanha por legitimidade

Proposta não deve votada ser antes de junho, quando o Líbano, contrário à retaliação, passa a presidência rotativa do Conselho de
Segurança para o México; até lá, Washington tenta convencer países africanos a reforçar o bloco dos que são favoráveis ao projeto

EUA têm os votos, mas sanção contra

Irã ainda enfrenta obstáculos na ONU
MIKE SEGAR/REUTERS–24/9/2009
Gustavo Chacra complicado. O Conselho de Se-
CORRESPONDENTE / NOVA YORK gurança tem 15 membros. Cinco
deles (EUA, China, Rússia, Fran-
Apesar do acordo entre os cin- ça e Grã-Bretanha) são perma-
co membros permanentes do nentes e têm poder de veto. Por
Conselho de Segurança da isso, ao longo de todo o primeiro
ONU, a aprovação de uma no- semestre, os americanos, ao la-
va resolução com sanções ao dode franceses ebritânicos, ten-
Irã deve ser votada apenas em taram convencer chineses e rus-
junho. Ainda assim não está sos a apoiarem novas sanções
claro se os EUA e seus aliados, contra o Irã, acusado de ter um
que desistiram de buscar a plano para desenvolver armas
unanimidade, conseguirão o nucleares.
número suficiente de votos pa- Mesmo com o apoio de todos
ra aprová-la. osmembrospermanentes,épre-
O governo de Barack Obama ciso que nove países votem a fa-
sabe que existem três obstácu- vordaresolução.OBrasileaTur-
los para levar o texto de uma no- quia, neste momento, são con-
va resolução para votação agora. tra. O Líbano também não apoia,
Primeiro,osdebatessobre arevi- já que o Hezbollah,integrante da
sãodo TratadodeNão-Prolifera- coalizão governamental, é alia-
ção Nuclear (TNP) na ONU, do do Irã.
uma das prioridades dos EUA, se Já México e Japão devem vo-
encerrarão somente no fim do tar com os membros permanen-
mês. Em segundo lugar, a presi- tes. Sobram cinco votos, dos
dência do Conselho de Seguran- quais os EUA precisam de pelo
ça está agora nas mãos do Líba- menos dois. Nigéria, Uganda e Negociação. Reunião da ONU que discutiu programa nuclear iraniano há oito meses; calendário diplomático apertado
no, que determina a agenda. Por Gabão ainda não se posiciona-
questões domésticas, os libane- ram, mas tendem a votar contra
ses não têm interesse em colo- assançõesporserempartedaOr-
car a questão do Irã na pauta de ganizaçãodaConferênciaIslâmi- CONSELHO DA ONU Para analistas, Irã
votação. ca, formada no âmbito da ONU,
Por fim, os americanos e seus que sempre vota em bloco e a fa- l São necessários nove votos e nenhum veto para aprovar sanções
nuclear prejudica
aliados não querem correr o ris- vor de países muçulmanos. A FAVOR DAS SANÇÕES CONTRA
segurança regional
co de perder ou de ter um núme- A Bósnia, mesmo sendo majo-
MEMBR

ro de votos baixo, o que reduzi- ritariamente muçulmana, pre- EUA Nigéria

riao impactoe poderiaser consi- tende integrar a União Europeia ● A posse de armas nucleares
derado uma vitória de Teerã. e deve votar com os americanos. pelo Irã criaria instabilidade no
OS

-
Grã tanha Gab
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Os dois primeiros obstáculos A Áustria, apesar dos laços eco- Bre ão Oriente Médio e afetaria o supri-
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estarão naturalmente supera- nômicosestreitoscomoIrã,tam- mento de petróleo para a China,

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Ug MEMBROS DA
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a NT
dos em junho. O novo TNP já te- bém tende a apoiar sanções. anç an
da afirmaram analistas ouvidos pelo
DEFENDEM Fr ES ORGANIZAÇÃO DA
rá sido implementado e o Méxi- Assim, os EUA teriam os nove SANÇÕES ME
CONFERÊNCIA “Estado” sobre as razões que
ia ISLÂMICA
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co, aliado dos EUA, ocupará a votos necessários, mas a resolu- ss MBR
us

Rú OS ROTATIVOS TENDEM A VOTAR levaram Pequim a apoiar a pro-

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presidência e deve colocar o tex- ção teria pouca legitimidade, CONTRA posta de sanções. “A nucleariza-
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to da resolução em votação. principalmente pela falta de

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ção do Irã pode provocar uma

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Jap
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De acordo com um diplomata apoiodeBrasileTurquia,queon- corrida armamentista e o colap-

Líban
Turqu

México
Br

ão

mexicano ouvido pelo Estado, tem enviaram carta à ONU pe- so da não-proliferação”, diz o ana-
o

ALIADOS DO IRÃ, APESAR DE LAÇOS

seugovernoconcordacomaspo- dindomaisnegociações(maisin- APROVARAM SANÇÕES ECONÔMICOS COM
lista Ma Xiaolin. “O Irã com ar-
sições americanas em relação ao formações na página A17). On- ANTERIORES TEERÃ, DEVE mas nucleares seria uma amea-
VOTAR A FAVOR
Irã e deve apoiar a lista de san- tem, o Irã ironizou a proposta de ça aos países do Golfo, desestabi-
ções, divulgadas na segunda-fei- sanções. Ali Akbar Salehi, dire- lizando a região”, afirmou Wang
CONTRA SANÇÕES, ALIADO DOS EUA, COALIZÃO COM NA CHEFIA DA DEVE SEGUIR
ra pela secretária de Estado dos tor da agência nuclear iraniana DEFENDEM DEVE APOIAR O HEZBOLLAH AIEA, DEVE VOTO DA UE E
Yong, professor da Universidade
EUA, Hillary Clinton. disse que os EUA fracassarão se DIÁLOGO RESTRIÇÕES INDICA VOTO APOIAR APROVAR de Pequim. / CLÁUDIA TREVISAN
CONTRA SANÇÃO MEDIDA
O terceiro ponto seria o mais tentarem aprová-la.
INFOGRÁFICO/AE

nais da Presidência da Repúbli- tou que o objetivo não era obter

Anúncio iraniano pegou Brasil de surpresa
do de surpresa na segunda-feira,
Governo não esperava quando o diretor da Agência Ira-
declaração de Teerã de nianadeEnergiaAtômica,AliAk-
bar Salehi, anunciou que seu
que não abria mão de país manteria o programa de en-
enriquecer urânio riquecimento de urânio em até
20%.
A declaração lançou suspeitas
sobre a eficácia do acordo inter-
mediado por Brasil e Turquia e
● O ESTADO NA serviu como argumento para as
ESPANHA
grandes potências, que acredi-
tam que o compromisso firma-
do é uma manobra do Irã para
Andrei Netto evitar novas sanções.
ENVIADO ESPECIAL / MADRI Segundo confirmou ao Esta-
do um alto assessor da presidên-
O governo brasileiro foi apanha- cia,emboraoacordonãoproibis-
se o país de continuar enrique-
cendourânio,o governobrasilei-
ro não esperava que o país abor-
dasse o tema logo após as reu-
niões de Teerã. “Eles tentaram
agradar a opinião pública inter-
na”, admitiu a fonte.
Outro assessor próximo ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva foi mais claro. “Fomos pe-
gos de surpresa.” O governo bra-
sileiro tentou improvisar uma
reação. Tão logo ficou claro que
o tema seria explorado por EUA,
FrançaeGrã-Bretanhaparadesa-
creditar o acordo, o Brasil ado-
tou uma posição cautelosa, afir-
mando que o compromisso era
apenas um passo e o enriqueci-
mento deveria ser melhor discu-
tidapelo Conselho deSegurança
da ONU.
Silêncio. Diante de novas infor-
mações que surgiram na terça-
feira, Lula optou pelo silêncio.
“Quero deixar maturar as notí-
cias. Quero ver tudo o que sai
paraveroquevaiacontecer”,jus-
tificou, ao ser questionado pelo
Estado durante a Cúpula Amé-
ricaLatina eCaribe-UniãoEuro-
peia, que está sendo realizada
em Madri.
Falando em seu lugar, o asses-
sor para Assuntos Internacio-
ca,MarcoAurélioGarcia.mante-
ve um discurso duro em relação
aos EUA, alertando para o risco
político da adoção de sanções e
cobrando o alargamento do gru-
po de seis potências (EUA, Rús-
sia, França, Grã-Bretanha, Chi-
na e Alemanha) que negocia
com o Irã, com a inclusão do Bra-
sil e da Turquia.
Críticas de Lula. Ontem, de-
pois de receber o apoio público
do ex-chefe de governo da Espa-
nha, o socialista Felipe Gonzá-
lez,Lulaquebrouosilêncioeafir-
mou que o acordo assinado em
Teerã era “exatamente o que os
EUA queriam cinco ou seis me-
ses atrás”.
Opresidentebrasileiro ressal-
um novo acordo sobre o progra-
manuclear,masconseguirapala-
vra do governo iraniano de que
aceitaria a proposta da Agência
Internacional de Energia Atômi-
ca (AIEA), que previa a troca de
urânionão enriquecidopor com-
bustível nuclear .
“A única coisa que queríamos
era convencer o Irã de que ele
deveriaassumir um compromis-
socomagente,Tudoissofoicon-
cordado”, sustentou. Lula co-
brou que a comunidade interna-
cional discuta o tema sem amea-
ças. “Agora, tudo depende de o
Conselho de Segurança da ONU
sentar com disposição de nego-
ciar. Porque se ele sentar sem
querer negociar, tudo voltará à
estaca zero.”

Artigo

Essa declaração, despreocupada-

Teerã pode ter superestimado seu poder mente repetida pela chancelaria ira-
niana na segunda-feira, chocou os di-
plomatas reunidos. Ela marcou uma

Para tentar escapar mais uma
vez de novas sanções na ONU,
o regime iraniano apostou no
acordo turco-brasileiro, mas
não contava com a tenacidade
de europeus e americanos
●
✽ próprio poder.
JULIAN
BORGER
THE GUARDIAN
O
acordo firmado na terça-fei-
ra pelas cinco potências do-
minantesdo ConselhodeSe-
gurança da ONU para dar
prosseguimento à aplicação de novas
sançõescontra o Irã veio como uma res-
posta surpreendentemente rápida aos
esforços de última hora do Irã para evi-
tar medidas punitivas. A medida sugere
que Teerã pode ter superestimado seu
Um dia antes, os líderes iraniano, tur-
co e brasileiro se reuniram em Teerã
para declarar que as sanções haviam se
tornado irrelevantes em razão de sua
iniciativa diplomática conjunta. O Irã mado em Teerã. A razão parece ser a agressiva escalada do programa de
aceitaria o acordo de princípios, firma- percepção de que o Irã está oferecendo enriquecimento do Irã e é apenas um
do em outubro passado com as grandes muito pouco e pedindo demais. pretexto civil para alimentar o rea-
potências,masdoqualjá haviase afasta- tor.
do. O pacto envolvia a transferência de Ofensiva diplomática. No dia 6, o As cinco grandes potências conse-
parte de seu estoque de urânio enrique- chanceler iraniano, Manouchehr Mot- guirão aprovar as sanções no Conse-
cido para o exterior em troca de hastes taki, ofereceu um jantar em Nova York lho de Segurança, apesar das obje-
de combustível para o reator de pesqui- para representantes dos países mem- ções de turcos, brasileiros e, prova-
sas iraniano. bros do Conselho de Segurança da velmente de alguns outros membros
A decisão de Rússia e China, na terça- ONU. A suposta ofensiva diplomática nãopermanentes doórgão, oque cer-
feira,deaceitarasnovasmedidaspuniti- saiu pela culatra quando Mottaki insis- tamente deixará um gosto amargo na
vas, junto como EUA, Grã-Bretanha, tiu que o Irã continuaria produzindo ONU. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
França e Alemanha, foi um claro sinal seu próprio urânio enriquecido a 20%,
de que as grandes potências não fica- ainda que o acordo sobre o reator de ✽
ram impressionadas com o acordo fir- pesquisa fosse implementado. É COLUNISTA