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Maio/Junho 2007

Director: J. A. Aranda da Silva

Boletim do CIM
c e n t r o d e i n f o r m a ç ã o d o
O R D E M D O S FA R M A C Ê U T I C O S
m e d i c a m e n t o

Doenças infecciosas emergentes


As doenças infecciosas (DI) emergentes são doenças de cilos permanecem viáveis no interior dos granulomas
origem infecciosa, cuja incidência, tem vindo a aumentar, formados durante a resposta imunitária à infecção ini-
ou é previsível que aumente.1 São um problema major de cial.10 No entanto, cerca de 5 a 10% dos indivíduos infec-
Saúde Pública e uma das principais causas de mortalidade tados (mas seronegativos para o VIH) vai desenvolver
e morbilidade a nível mundial.2,3 tuberculose activa, se o seu sistema imunitário estiver
Podem ser consideradas como emergentes (agente infec- deficitário. Nos indivíduos infectados pelo bacilo da tu-
cioso identificado pela primeira vez nas últimas décadas) berculose e, simultaneamente, seropositivos para o VIH,
ou reemergentes.2,4,5 A infecção por VIH é considerada a probabilidade de desenvolver tuberculose activa é mui-
uma DI emergente, tal como os vírus da gripe aviária ou to superior. A co-infecção tuberculose e VIH/SIDA acele-
a síndrome respiratória aguda grave associada a corona- ra a progressão de ambas as doenças.9
vírus (Severe Acute Respiratory Syndrome – SARS). A Foram identificadas estirpes de Mycobacterium tuberculosis
malária, a tuberculose ou o carbúnculo (anthrax) são “multirresistentes” (resistentes em simultâneo à isoniazida
exemplos de doenças infecciosas reemergentes, sendo e rifampicina, terapêuticas de primeira linha) que resultam
esta última considerada “deliberadamente” reemergente, geralmente de um tratamento incompleto (inferior a seis
no âmbito do bioterrorismo.1,2,3,6 meses) ou irregular. Tem sido particularmente preocupante
Uma plêiade de factores permite aos agentes infecciosos a identificação de algumas estirpes que apresentam resis-
alcançar novos nichos ecológicos e adaptar-se a novos tência à grande maioria dos fármacos tuberculostáticos.9,11
hospedeiros. Esses factores incluem mutações genéticas
e recombinação genética viral, alterações nas populações Malária
de hospedeiros, reservatório ou vectores intermediários, A malária é a doença parasitária com maior impacte mun-
alterações ecológicas, demográficas e comportamentais, dial. Estima-se que seja responsável por 2 a 3 milhões
assim como a circulação internacional de indivíduos e bens de mortes anuais, a maioria das quais em crianças com
e a contenção no financiamento de medidas de protecção idade inferior a 5 anos.12,13 Cerca de 40% da população
da Saúde Pública.3,7 mundial vive em áreas de transmissão de malária locali-
zadas em Africa, Ásia, América do Sul e Central. Estima-
Conceitos Importantes sobre Doenças Infecciosas Emergentes8 -se que ocorram anualmente entre 300 e 500 milhões de
(adaptado de Wilson, 1995)
novos casos.14
• A ocorrência de doenças infecciosas (DI) emergentes é um pro- Apesar de ter sido controlada ou erradicada de diversas
cesso dinâmico, que resulta de uma sequência de eventos (por
exemplo, a introdução de um agente potencialmente patogénico zonas do Globo, como nos EUA e Europa Ocidental, após
numa nova área geográfica, através de viajantes ou migração; a a campanha global de erradicação da malária da OMS, em
sua adaptação ao novo ecossistema; a presença de um hospe- 1955, verificou-se o advento da resistência à cloroquina e
deiro susceptível; a presença de um vector competente, etc.). a outros fármacos antimaláricos, assim como a diversos
• A maioria das novas infecções não é causada por agentes genui-
namente desconhecidos. insecticidas.13,15 Mesmo em regiões não endémicas, ocor-
• Os agentes infecciosos associados a estas doenças podem ser rem anualmente algumas dezenas de milhar de casos de
vírus, bactérias, fungos, protozoários, helmintas ou priões. malária importada em viajantes ou emigrantes.16
• O conceito de agente infeccioso como único responsável pela
Quatro espécies do protozoário do género Plasmodium
doença é inadequado e incompleto.
• A situação mundial na actualidade, resultante da interacção de são transmitidas ao homem através da picada do mos-
factores sociais, económicos, políticos, climáticos, tecnológicos quito Anopheles spp.: P. falciparum (que causa a maioria
e ambientais, favorece a ocorrência de DI emergentes. dos casos fatais e formas graves como a malária cere-
• A intervenção humana é o seu principal factor desencadeante.
bral), P. vivax, P. malarie e P. ovale.
• O conhecimento profundo e o planeamento de uma estratégia de
resposta às DI emergentes requer uma abordagem global, em Em Portugal, o paludismo endémico nas bacias hidrográ-
termos conceptuais e geográficos. ficas do Sado, Tejo, Mondego e nas regiões superiores do
Guadiana e Douro, afectou milhares de pessoas até ser
Tuberculose e infecção por VIH/SIDA erradicado em 1958. A erradicação exigiu a redução da
A tuberculose representa um problema grave de Saúde superfície de águas estagnadas, a distribuição de mosqui-
Pública. Em 2005 foi responsável por 1,6 milhões de mor- teiros às populações e a conjugação destas medidas de
tes a nível mundial, de acordo com estimativas da Orga- prevenção com estudos científicos.17 Nos anos 50 foi ini- 77
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nização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que um ter- ciada a utilização do insecticida DDT acompanhada pela
ço da população mundial actualmente esteja infectada monitorização e tratamento dos casos de malária.14,18
pelo bacilo da tuberculose.9 Em 1973, após um período de vigilância epidemiológica,
Em cerca de 90% dos indivíduos infectados (“primo- a erradicação da malária em Portugal foi oficialmente de-
-infecção”), a tuberculose permanece em latência. Os ba- clarada pela OMS.17,18

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Boletim do CIM
Gripe aviária Conclusão
Os vírus influenza são normalmente específicos de cada A capacidade de transmissão rápida dos agentes infeccio-
espécie (homem, porco, cavalo, foca e algumas aves), sen- sos, conjugada com factores sociais, tecnológicos e ambien-
do raro atravessar a barreira das espécies. Das centenas de tais determina a ocorrência de DI emergentes, constituindo
vírus influenza A que afectam as aves, apenas se conhecem um importante desafio para a Saúde Pública.
quatro que podem infectar o homem: as formas de gripe Os elementos-chave na definição de estratégias nacionais
resultantes são ligeiras a moderadas, excepto no caso do e internacionais para controlo das DI, incluem a imple-
vírus H5N1, altamente patogénico para o homem.19 mentação de sistemas de vigilância, programas de pre-
A possibilidade de ocorrência de uma pandemia de gripe venção e controlo de surtos, reforço das infra-estruturas
aviária tem sido uma preocupação internacional nos últi- de Saúde Pública e incentivo à investigação na área das
mos anos. O aumento dos casos humanos fatais e sua DI emergentes.4 Nesta perspectiva, é fundamental a to-
dispersão mundial confirmam o potencial pandémico da mada de consciência por parte de decisores políticos, in-
estirpe H5N1 do vírus influenza A, revelado pela primeira vestigadores científicos e população em geral, uma vez
vez num surto em Hong Kong, em 1997. Actualmente to- que é indispensável o contributo de todos para minimizar
dos os pré-requisitos para o início de uma pandemia se a disseminação destas doenças.
encontram cumpridos, à excepção de um que ainda não Cristina Rocha
foi detectado: alterações genéticas do vírus que permitam Bibliografia
uma eficiente transmissão entre humanos.20 A barreira 1. Cockerill FR, Smith T. Response of the clinical microbiology labora-
Maio/Junho 2007

das espécies tem revelado o seu efeito.19 tory to emerging (new) and reemerging infectious diseases. J Clin
Existem quatro antivirais com indicação para as infecções Microbiol, 2004; 42: 2359-65.
2. Fauci AS, Touchette NA, Folkers GK. Emerging Infectious Diseases:
pelo vírus influenza A: os inibidores da proteína M2 (aman-
a 10-Year Perspective from the National Institute of Allergy and
tadina e rimantadina) e os inibidores da neuraminidase Infectious Diseases. Emerg Infect Dis, 2005; 11: 519-25.
(oseltamivir e zanamivir). Com base no conhecimento ac- 3. Morens DM, Folkers GK, Fauci AS. The challenge of emerging and
tual, os antivirais mais adequados, em caso de infecção re-emerging infectious diseases. Nature, 2004; 430: 242-9.
por vírus da gripe de origem aviária A (H5N1), são os ini- 4. Anon. Addressing emerging infectious diseases threats: a preven-
bidores da neuraminidase e, em especial, o oseltamivir.21 tion strategy for the United States. Atlanta: Centers for Disease
Control and Prevention, 1994.
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O optimismo que se seguiu à descoberta dos antimicro- 6. Fauci, AS. Emerging Infectious diseases – A clear and present dan-
bianos no séc. XX tem vindo a diminuir, devido à identificação ger to humanity JAMA, 2004; 292: 1887-8.
de diversos microrganismos resistentes a terapêuticas 7. Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg
Infect Dis, 1995; 1: 7-15.
utilizadas como primeira linha.22,23
8. Wilson ME. Travel and the emergence of infectious diseases Emerg
Dentro das DI emergentes, é mais evidente a ocorrência Infect Dis, 1995; 1: 39-46.
de resistência em infecções bacterianas como diarreias, 9. World Health Organization (online March 2007) Fact sheet no.104:
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xualmente transmissíveis e infecções nosocomiais. Alguns sheets/fs104/en/print.html, (consulta em 15/05/2007).
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exemplos importantes incluem Streptococcus pneumoniae,
opportunistic infections associated with the inhibition of tumor ne-
Enterococci vancomicina-resistente, Staphylococcus au- crosis factor. Nat Clin Pract Reumathol, 2006; 2: 602-9.
reus meticilina-resistente, Salmonella spp. multirresisten- 11. Brosch R, Vincent V. Cutting-edge and the future of tuberculosis
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O desenvolvimento de resistência a outros antimicrobianos 12. Phillips RS. Current status of malaria and potential for control. Clin
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é particularmente importante no caso da cloroquina e ou-
13. Moorthy VS, Good MF, Hill AV. Malaria vaccine developments. Lan-
tros fármacos utilizados no tratamento da malária, assim cet 2004; 363: 150-6.
como dos anti-retrovirais utilizados na infecção VIH.22 14. Shiff C. Integrated approach to malaria control. Clin Microbiol Rev,
2002; 15: 278-93.
Quadro resumo das principais DI emergentes1,5,24,25 15. Loutan L. Malaria: still a threat to travellers. Int J Antimicrob Agents,
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Erlichia chaffeensis, transmitidas pela picada de carraças), etc. challenges and responses Nat Med, 2004; 10: 122-9.
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2
Infecções não complicadas do tracto urinário

Maio/Junho 2007
As infecções do tracto urinário (ITU) encontram-se entre resultado negativo não garante a ausência de infecção
as doenças infecciosas mais prevalentes.1,2 Na Europa não quando na presença de sintomas altamente indicativos.7,9
existem dados fidedignos,1 mas dados provenientes da Em mulheres com ITU não complicadas não são necessá-
América do Norte indicam que metade das mulheres pa- rias uroculturas por rotina, dada a natureza previsível das
decerá de uma infecção urinária ao longo das suas vidas3-6 bactérias causadoras.1,2,3,7 A urocultura pode ser apropria-
e cerca de um quarto destas terá infecções recorrentes.3,5,7 da, contudo, em doentes que falham o tratamento inicial2,3,7
As ITU podem ser classificadas relativamente à sua loca- ou com factores predisponentes para ITU complicadas,7
lização anatómica em baixas – cistite, uretrite, prostatite sendo o único teste capaz de identificar o microrganismo
e epididimite, ou altas – pielonefrite. Podem também ser e estabelecer um diagnóstico definitivo.8,10
designadas como não complicadas ou complicadas.6,8
As primeiras ocorrem em indivíduos sem anomalias fun- TERAPÊUTICA
cionais ou estruturais do tracto urinário (TU). Surgem ca- A selecção do antibiótico deve ter em conta o seu espec-
racteristicamente em mulheres jovens sexualmente tro de actividade,5,6 os padrões locais de resistência4-6,8 e
activas.2-4,6,8 Os factores de risco mais importantes são o historial recente de exposição a antibióticos,8 dado que
historial de episódios prévios, actividade sexual recente,2,7 ensaios clínicos demonstraram que os dados de suscep-
uso de espermicidas,2,4,7,8 diafragmas4,8 ou preservativos.4 tibilidade in vitro se correlacionam com os resultados do
Apesar do envolvimento do TU superior, a pielonefrite pode tratamento4 e que a exposição recente é o factor mais
ser considerada não complicada quando ocorre num indi- associado a resistência na E. coli.2,8 Há que considerar o
víduo saudável.4,6 Pelo contrário, uma infecção complica- seu perfil de segurança,4-6,8 custo4,6,8 e conveniência.
da é uma infecção associada a uma condição que aumen- O antibacteriano escolhido deve, idealmente, ser bem to-
ta o risco de a adquirir1 ou falhar o tratamento,1,4 como lerado,4,8 bem absorvido,8 atingir elevadas concentrações
uma anomalia anatómica ou funcional do TU.1,4-6,8 Vários urinárias5,6,8 e ter um espectro de actividade limitado aos
factores são indicativos de uma ITU potencialmente com- agentes patogénicos conhecidos ou sob suspeita.8
plicada como, por exemplo, sexo masculino, idosos, gra- No passado, a terapêutica consistia em regimes de 7 ou
videz,1,4,6,9 cateterização,1,4,6 obstrução,8,9 uso recente de mais dias.6,8 Actualmente sabe-se que a cistite aguda pode
antimicrobianos,1,4 diabetes mellitus, imunossupressão,1,4,9 ser erradicada com terapêuticas muito mais curtas,1,4-9
défice neurológico que interfira com o fluxo normal de sendo que com o cotrimoxazol (trimetoprim+sulfameto-
urina ou com as defesas do TU,8 como lesões medulares, xazol 1:5) e as fluoroquinolonas não há benefício em re-
4,8
esclerose múltipla,4 etc. gimes superiores a 3 dias.1,2,4,7,9 As vantagens dos regimes
As infecções em homens são geralmente definidas como curtos incluem maior adesão, menos efeitos adversos,
complicadas,4,6,8,9 porque são raras e muitas vezes repre- menores custos 1,4,5,8 e menor potencial para desenvolvi-
sentam uma anomalia estrutural ou neurológica,8 mas tal mento de resistências.4,8 Contudo, a sua eficácia não está
pode não ser o caso em homens jovens e saudáveis.1 adequadamente demonstrada em mulheres pós-menopáu-
Os factores de risco incluem relações sexuais com uma sicas.1,3,5 Os regimes de dose única são geralmente menos
mulher infectada, relações anais e não circuncisão.1,3 eficazes que o mesmo antibiótico administrado por perío-
Por limitações de espaço, este artigo abordará apenas as dos mais longos.1,5-9
ITU tradicionalmente consideradas como não complicadas Os padrões de resistência da E. coli podem variar entre
– cistites em mulheres. países e regiões europeias, com as taxas mais elevadas
em Portugal e Espanha.1 O cotrimoxazol é recomendado
ETIOLOGIA como terapêutica empírica de primeira linha no tratamento
A Escherichia coli é a causa mais comum de ITU não de ITU não complicadas segundo as normas da European
complicadas1-3,8 sendo responsável por cerca de 75 a 95% Association of Urology (EAU)1 e da Infectious Diseases So-
de todas as infecções.1 O Staphylococcus saprophyticus ciety of America (IDSA),4,7,9,10 em comunidades com taxas
é responsável por apenas 5 a 10 % das infecções,1,5 mas de resistência inferiores a 10-20%.1,3,4
estas são mais agressivas.3 Outros causantes ocasionais A taxa de resistência da E. coli aos betalactâmicos, nomea-
são Enterobacteriaceae, como Klebsiella e Proteus.1,3,5,8 damente à ampicilina1,4 e às cefalosporinas de primeira
As bactérias podem atingir o TU por passagem hemato- geração4 tem aumentado progressivamente, situando-se
génica ou linfática, mas a via mais comum é a ascensão actualmente em cerca de 40%.1,4 Assim, devido à sua me-
a partir a uretra, geralmente com origem na flora intesti- nor eficácia, o seu uso não é recomendado.1,3,8,10
nal.1,2,8 Isto explica a maior frequência de ITU em mulhe- As fluoroquinolonas são equivalentes ao cotrimoxazol
res,1,4,8 devido à menor extensão da uretra feminina.4,8 quando administradas em regimes de 3 dias.1,3,5 São mais
dispendiosas1 e existem receios quanto ao desenvolvimen-
SINTOMAS E DIAGNÓSTICO to de resistências, o que faz com que não sejam recomen-
As doentes apresentam geralmente disúria, frequência dadas como terapêutica de primeira linha.1,3 Contudo, as
urinária, urgência,3,7-9 dor suprapúbica3,7,8 e hematúria.7-9 recomendações da EAU1,3 e da IDSA1,3,4,6,9 indicam o seu
Dor nos flancos1,7,8 náuseas, vómitos,1,8 febre ou sensibi- uso em primeira linha em comunidades com taxas de re-
lidade dolorosa no ângulo costovertebral indicam envol- sistência ao cotrimoxazol superiores a 10-20%.
vimento do TU superior.1-3,8 As taxas globais de resistência à ciprofloxacina mantêm- 77
ROF

O diagnóstico de cistite pode ser feito apenas com base -se baixas, com algumas excepções, como Espanha (14,7%)
na história da doente.2,7,9 Podem ser adequados os cha- e Portugal (5,8%). Em países com taxas de resistência às
mados testes rápidos,1,7-9 nomeadamente a detecção de fluoroquinolonas superiores a 10%, devem ser conside-
nitritos e esterase leucocitária com tiras teste.2,8,9 Apre- radas alternativas como terapêutica empírica,1 como a
sentam uma boa sensibilidade e especificidade,9 mas um nitrofurantoína, a fosfomicina1,3 ou o pivmecilinam.1

3
Boletim do CIM Tabela. Antibioterapia das ITU não complicadas

PROFILAXIA DE LONGA PROFILAXIA


FÁRMACO ITU NÃO COMPLICADAS OBSERVAÇÕES
DURAÇÃO* PÓS-COITAL

Cotrimoxazol 160/800 mg 2xd 40/200 mg/d1,8 ou 3x sem1 80/400 mg5,6 Efeitos adversos: rash, náuseas e vómitos.6
3 dias1,3,5,6,8 80/400 mg/d ou 3x sem5
Fluoroquinolonas
Ciprofloxacina 250 mg 2xd 250 mg5 Efeitos adversos: tracto GI e SNC,10 como
3 dias1,3,5,6,8 náuseas, diarreia, tonturas, cefaleias e
Norfloxacina 400 mg 2xd 3 dias1,5,6,8 200 mg 3x sem5 200-400 mg5,6 também fotossensibilidade.6
Ofloxacina 200 mg 2xd 3 dias 1,5 A moxifloxacina não é recomendada em
Levofloxacina 2501,5,6,8 – 5005,6 mg 1xd ITU, porque não atinge concentrações uri-
3 dias1,5,6,8 nárias adequadas.6,8,9
Lomefloxacina 400 mg 1xd 3 dias1,8
Nitrofurantoína 100 mg 2xd 505,8 – 1001,8 mg/d 50-100 mg5,6 Baixos níveis de resistência.2,5,10 Efeitos ad-
7 dias1,3,5,6,9 versos sérios – fibrose pulmonar e neuro-
(formulação macrocristalina) patias – têm limitado o seu uso.10
Fosfomicina 3.000 mg 3.000 mg 10-10 dias1 Baixos níveis de resistência.1,9 Efeitos ad-
em dose única1,3,5,6,8,9 versos GI5 como diarreia, náuseas, vómitos
Maio/Junho 2007

e desconforto esofágico.6
Betalactâmicos Já não são recomendados em primeira linha devido às elevadas taxas de resistência.2,5,6
Amoxicilina 2505,6 – 5006,9 3xd Efeitos adversos: rash, náuseas, dor abdo-
36 – 75,10 dias minal, vómitos, cefaleias.6
Cefalexina 2503,5,6 – 5006,9 mg 4xd 250 mg5,6 Amplo espectro aumenta o risco de candi-
36 – 7 dias3,5,10 díase vulvovaginal.3,5
Cefpodoxima 100 mg 2xd 3 dias1,6
Pivmecilinam 200 mg 2xd 7 dias1 Baixos níveis de resistência.1,5
*Deve ser administrada ao deitar 1,5

A ingestão de fluidos tem sido aconselhada para produzir prévios de ITU.5,6 Esta abordagem é adequada em mulhe-
uma diluição rápida das bactérias e remoção da urina in- res com boa informação e adesão.1,6
fectada por aumento da micção.8,9 Contudo, alguns clínicos Em mulheres pós-menopáusicas, a falta de estrogénio
especulam que aumentar a ingestão de fluidos possa ser causa alterações na flora vaginal que resultam em aumen-
prejudicial, por diminuir a concentração urinária dos anti- to da colonização por E. coli;2,8 a administração de estro-
bacterianos,3,9 enquanto outros defendem que a sua con- génio tópico parece reduzir a incidência de infecções nes-
centração urinária é frequentemente tão elevada que a ta população.1,2,7,8 Outros tratamentos profilácticos incluem
diluição tem pouco efeito na sua eficácia. Por outro lado, imunoterapia1,2 e terapia probiótica.1,2,8 Alguns referem que
o aumento da diurese também pode aumentar a suscep- o sumo de arando pode ter alguma utilidade na prevenção
tibilidade à infecção ao diluir as propriedades antibacteria- de infecções recorrentes.1,2,7-9 A profilaxia não parece mo-
nas naturais da urina.8,9 Perante isto, alguns indicam que dificar a história natural das ITU recorrentes, pois, após a
não há evidência científica que sugira que as mulheres com sua descontinuação, mais de 50% das mulheres sofrem
ITU devam aumentar a sua ingestão de líquidos.3 uma recorrência dentro de 3 meses.1,7
Ana Paula Mendes
ITU RECORRENTES
Bibliografia
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