Vous êtes sur la page 1sur 6
a relagdo inversa_que ocorren quanto a0 controle da ata: Tidade 'e a psiquiatizacdo das perversOes: neste caso, a in- tervengio era de natureza reguladors, mas devia apoiarse na ‘exigincia de discipinas e adestrameatos individuals, De um modo geral, na jungio eatte 0 “corpo” ea (© sexo tomou-se 0 alvo central de ur da morte, Por muito tempo, 0 sangue consituiu um elemento im- portante nos mecanisios do. poger, em suas manifestagdes f rituals. Para uma sociedade onde’ predominam os sisemas 4e alianga, a forma politica do sobersno, a difereniagéo em fordens casas, o valor das linhagens, para uma sociedade fem que a fome, as epidemias e a$ violéncias tomam a morte Imineote, 0 sangue constital um dos valores etsencais; seu prego se deve, 20 mesmo tempo, a seu papel instrumental (po- er derramar’o sangue), a seu funcionamento na ordem dos signos (ter um certo sangue, ser do mesmo sangue, disporse a arrisear seu proprio singue), a sua precariedade (FSel de Sujelto © extinglo, demasiadamente pronto 2 s ristrar, suscetivel de se corromper rapidamente),Socie- dade de sangue — ia dizer de "sangiinidade”: honra da fuera e medo das fomes, triunfos da morte, soberano com sliio, verdugo e suplicios, o poder falar airavés do sangues fste € wma realidade com: funcdo simbélica. Quanto a 6s, ‘estamos em uma sociedade do “sexo”, ou melhor, “de se- xualidade”: os mecanismos do poder Se dirgem 20 corpo, A vida, a0 que a faz prolferar, ao que relorga a espéce, seu vigor, sua capacidade de dominar, ou sua aptidéo para ser utilizada, Sade, propenitura, raca, futuro da. espécie, vitaidade do corpo’ socal, o poder fala da senualidade © ara a sexualidade; quanto a est, ndo € marca ou simbolo, © objeto e alvo. O que determina sua imporiiacla no é tanto sua raridade ou precaredade quanto sua inssténcia, ua presenga insdiosa, 0 fato de ser, em toda parte, provocade f temida. O poder a esboga, susctaa © dela se serve como tum sentido proiferante de que sempre & preciso fetomar 0 controle para que no escape; ela é um cfeito com valor de sentido. Nao pretendo dizer que uma substituigio do san- ave pelo sexo resum, por si s6, as transformagses que mar- 138 cam 9 limiar de nossa modemidade. © que teato exprimir fio & a alma de duas civilizgSes ou 0 principio organiza- ddor de duas formas culturais; busco as raxies pelas quai a fenuilidade, longe de ter sido reprimida na sociedade con- temporines esté, a0 contrério, sendo permanentemente,sus- citada. Foram 0s novos procedimentot do poder, elabora- dos durante @ época clissica © postos em agio a0 século XIX, que fizeram passar nossas sociedades de uma simbélica do sangue para uma analltica da sexualidade. Nao & dificil ‘er que se hd algo que so encontrado lado da lel, da morte, Ga trantgressio, do fimbolico e da soberania, € 0 sangue; serualidade, quanto a ela, encontrase do lado éa norma, do Suber, da vida, do sentido, das disiplinas e dss regulamen- tages. ‘de © of primeiros eugenistas so contempordineos des- ta passagem da “sanglinidade” para a “sexualidade”. Mas fenquanto 0s primeiros sonhos. de aperfeigoamento da espé- ‘ie deslocam fodo o problema do sangue para Uma gestio bas- tante coerctva do Sexo (arte de determinar os ons c2sa- mentos, de provocar 26 fecundidades desejadas, de_garantic asaide © a longevidade das eriangas), enquanto’ a nova idéia de raga tende 4 esmascer as paricularidades aristocriticas 0 sangue para voltarse apenas para os efeitos controvels do sexo, Sade vincula a andlise exaustiva do sexo 20s meca- nismos exasperados do. antigo poder de soberania 208 ve- thos prestigios interment mantidos do sangue; este corre 20 longo de todo o prazet — sangue do supliio e do poder abso- Tuto, sangue da casta que se Tespeta em si mesmo e se der- rama, contudo, nos rituas maiores do parrcidio e do incesto, sangue do pove que se verte & vontade, porque o que cor- em suas veias lo € digno nem de ser mencionado. O sexo fem Sade € sem norma, Sem repra intrinseca que possa set formlada a partir de sua propria natureza; mas € subme- tido A Tet imitada de um poder que, quanto a ele, s6 co- nece sua prépria lei se Ihe acontece de impor-se, por puro jogo, & ordem das progressées cuidadosamente disiplinadas fem joradss sucessivas, tal exercicio © conduz a ser s0- mente uma pura questio de soberania nica e mua: direito iimitado da monstruosidade onipotente. © sangue absorveu 19 De fato, a analitca da sexualidade © a simbslica do sangve podem muito bem perience, em principio, a dois re- fimes de poder bem distintes, mas néo se sucederam (nem ampouco ‘esses prdpris poderes) sem justaposies, inte- agbes ou ecos. De diferentes maneiras, a preocupagio com ‘0 fangue ¢ a lei tem obeecado ha quase dois séculos a. ges- {Yo da sexualidade. Duss dessas interferéncias slo notives, tuma devido 8 su importincia histrica, outra pelos proble- ‘mas tedricoe que coloca. corey, a parti da segunda me- {ade do século XIX, que a temética do sangue foi chamada a Vivier ea sustentar, com toda uma profundidade histories, © tipo de poder politico que se exerce através dos dspositivos de sénualidade. O raciemo se forma nesse ponto (facismo em ‘sur forma moderna, extatal, biologiznte): toda uma politica do. povoamento, da familia, do casamento, da edu- ‘agi, da hierarquizagio social, da propriedade, e uma longa série de intervengoes permanentes 20 nivel do corpo, das con- futas, da side, da Vida quotidiana, receberam entio cor © jstificagio em fungio da preocupagdo mitica de proteger 2 pureza do sangue e fazer wiunfer a raga. Sem divids, 0 na- smo foi a combinagio mais ingénua © mals ardilosn — fardilosa porque ingénua — dos fantasmas do sangue com ‘ paroxismos de um poder disciplinar. Uma ordenagio eu- fénica da s0‘iedade, com o que ela podia comportar de ex- fensio e intenifieagio dos micropoderes, a pretexto. de uma ‘estatizagio dimitada, era acompanhada pela exaltagio oniti- fea de um singue superior; esta implicava, a0 mesmo tempo, 10 genccidio sstemético dos eutros ¢ 0 isco de expor a mesmo a um sacriicio total. E a histéria quis que a poll fica hitleriana do sexo tenha-e tornado uma prétiea itri- séria, enguanto o mito do sangve se transformava no maior massacre “de que os homens, por enquanto, teaham lem branga. [No extremo oposto pode-se, a partir deste mesmo fim 44 séeulo XIX, seguir 0 esforgo tebrico para reinscrever a temiica da serualidade no sistema da lei, da ordem simbé Tica e da soberania, B uma hoara politica para a psicandlise "ou pelo menos para o que pode haver nela de mais cocrente’ — ter suspeitado (¢ isto desde 0 seu nascimento, fou seja, a partir de sua linha de roptura com a neuropsquiae 140 tris a degenerescnsa) do que poderahaver de ieparavel mente prlferane nats ecnnismos de poder quo pretcudiam Control e grr 0 qotsano ds sexvaiade dt 0 estore {rewiano (sem divin por reac ao grande cresimento 3 ‘acamo ve ine fot conemporineo) pars Gar & sersaiade & 1s como principio, — ale da alane, da coneanginidae ine ted, do PaSoberano em soma, pars rear em tomo o dssejo' ode sings ondem do poder” A ito pscanlae deve © fao do tt exado'—~ cin algunas excep ©. 20 esiendal = em oposico tetrica prea fasasmo. Mas un pono de pecanitie etre Gada a una confntra ttc Ao sonal de acondo coms insncia Ga ke sanaie ea toberania — com toa rele tale, com todor os penbores de “sober pera — se aia de’ conan, uma “reto.verio" htc. BVaigostivo de sess eve ser penendo spare dt tenets de poder que lhe so contemporinss * Podem me dizer: isso € entrar num histricismo mais preciitado do. que radical; € esquivar, em favor de fend- ‘nos variéveis, talvez, mas frig’, secundétios © sobretado Superticiais, a existéncla biologicamente sida das fungbes fexuais; é falar da sexualidade como se 0 $830 nfo exstisse. E estariam no direito de me objetar: “V. pretende analisar em detalhe os processos pelos quals 0 compo das mulheres, 4 vida dat criangas, © as TelagSes familiares e foda,uma am- pla rede de telagdes sociais foram sexualizadas.”V. quer ‘esorever esse grande aumento da preocupagio sexual desde © século XVIII ¢ a obstinagio crescente que tivemos em fuspetar 0 sexo em toda parte. Admita-se. E suponhamos ‘que of mecanismos de poder foram, de fato, empregados mais para susctar e “iritar” a sexuslidade do que para repr= mila, Mas, eis que V. permaneceu bem proximo daquilo de que acredit, certamente, terse distancado; ‘no fundo, V. mostra fenémenot de difusio, de instalacio, de fixagio da sexualidade, tenta fazer ver o que se poderia chamar de ‘onganizgio de “zonss erSgenas” no compo socal; pode ser muito bem que V. tenhs apenas transposto, para a escala de mt processot dilusos, mecanismos que a_psicanlise identificow Com previsio 20'nivel do individuo. Mas V. ede © ponto ‘de partda para exta sexualizacio que a piicanslse em si ‘aio desconhece, a saber: 0 sexo. Antes de Freud, procurae varse localizar a sexualidade da’ mancira mais estreita: 00 sexo, em suas fungies de reprodugio, em suas localizacdes fnatboness imeditat; era restingida a um minim biolégico aM Gri, insint, finaidede, V. es, por sua Vez, em ‘osgio sinérica © inversa: 36 Ihe restam efeitos sem apoio, Famifiagies desttuidas de rales, uma sexualidade sem sexo. ‘Aqui, ainda, a “castragio”. Nese ponto, devem-se distinguir duas questdes. Por ‘um lado: & andlie da senualidade como “Zispostvo politico” Implicaria, necesariamente, a eisfo do corpo, da anatomia, do Piolépico, do funcional? A’ essa primeira questio ercio que te pode responder nfo. Em todo caso, 0 objetivo da presen- te investigagio 6, de fato, mostrar de que modo se articulam ‘ispostivos de "poder diretamente 20 corpo a. corpo, a fangies ya processos fisoldgicos, sensagSes, prazeres; Jonge do corpo ter de ser apagudo, tratase de fazi-lo aparecer m= sma andlize em que 0 Eil6qico © 0 histérico ndo conslituam feqltncia, como. no. evolucionismo dos antigos_socilogos, tas se liguem de acordo com uma complexidade crescente A medida em que se desenvolvam as tecnologias moderas de poder que tomem por alvo a vide, Nao uma “histéria das tmentalidades", portanto, «ue 26 leve em conta o& corpos pela ‘ancira como foram persbidos ou Teceberam sentido e va Tot; mas “histéria dot corpos" da mancira como se inves: tiu sobre o que neles hi de mais material, de-mais vivo. ‘Outra questo, dlstnta da primeira: esta. materialida- de a que nos referimos alo € de fato a do sexo, © nlo seria pradoxal querer fazer uma histria da sexualidade no ni- ‘el dos corpor, sem se ttar, por menos que seja, do sex0? Afinal_de contas, 0 poder que se exerce através da sexua- lidade io se dirige expeciicamente a esse elemento do real ‘que 6 0 “sexo” — 0 sexo em geral? Que a serusidade nio feja um dominio exterior 20 poder a0 qual ele so imponhs, ‘que seja, 80 contriro, efeto e instrumento de seus agen lamentos, ainda passa. Mas 0 sexo, em si, mio seria 0 outro” felaivamente ao poder, enquanto para a sexuali- 12 dade ele seria © foco em tomo do qual ele distribu seus efei= tee? Ors, justamente, € esta idéia do sexo em geral que ao se pode receber sem exame prévio. “O sexo” seria, na rea Tidal, o panto de faagio que apie as manifesagSes "da serualidade” ou, a0 contrério, uma idéia complexa histori famente formada no Scio do dispositive de sexualidade? Po- dersela mostrar, em todo caso, de que mancira esta idéia “do sexo” se formou através das diferentes estratégias de poder e que Papel definido desempenhow nisso tudo, ‘Ao longo de todas as grandes linhas em que se desen- volveu'o dispositive de sexualidade, a partir do século XIX, vemos elaborarse essa idéia de que existe algo mais do ‘gue corpos, érpios, localzagies somalicas, fungies, sistemas nitomofisildgicos, sensagOes, prazeres, algo dilerente © ‘mais, algo que possul suas propriedades intrinsecas © suas Tess proprias! 0 "sexo". Assim, no processo de histerizagio dda mulher, 0 “Sex0" foi definido de trés-manciras: como flgo que pertence em comum a0 homem ¢ & mulher; ou fomo 0 que pertence também ao homem por exeeléncia e, ‘portato, faz fala A mulher; mas, ainda, como o que cons: Tui, por si s5, 0 corpo da mulher, ordenando-o interamen- te para as fungbes de teproducio € perturbando-o continua- Iente pelos efeitos desas mesmas fungSes: a histeria & in- terpretads, nessa estratégia, como o jogo do. sexo enquanto “um” e “outro”, tudo ¢ pare, principio e falta, Na sexu Tidade a infincla elabora-se 2 idéia de um sexo que esti presente (em rario da anatomia) © ausente (do ponto de ‘ita da fisiologia), presente também caso se consiere sua sti- Vidade edefciente s& nos referirmos sua finalidade reproduto- 2; ou ainda atual em suas manifestagdes mat escondido em fSeus efeitos, que a6 aparecetio em sua gravidade patol6giea sais tarde; € no adulto, seo sexo da crianga ainda estver pre= fen, serd sob a forma de uma cautalidade secreta que ten- ide a anular 0 sexo ¢o adulto (Foi um dos dogmas da medi tina dos séculos XVII e XIX, supor que a precocidade Sexual provocaria mais tarde a esteridade, a impottncia, a fgider, a incapacidade de sentir prazer, a anestesia dos somtidos), sexualizando-se a inflncia, consituiuse a idéia {de um sexo mareado pelo jogo essencial da presenga eda fausincia, do oculto © do manifesto; a masturbagio com os 143 tos que the atribuem reveari, de mancira prvilesiads, fete jopo da. presenga ¢ da auséncia, do manifesto © do fculto, Na psiguiatszacio das perversdes, o sexo foi rele- fido a fungdes biolégieas ea um sparelho andtomo-fsio- Tico que Ihe dé “sentido”, isto. finalidade; também a tum insinto que, através do’ seu. prdprio desenvel e acordo com os objetos @ que pode se vineular, ‘vel 0 aparecimento das condutas perversas c, sua genes, {ntelighvely com i850 0 "sex0" se define por um entrelaga- mento de fungi0 ¢ instino, de finalidade e sipnficagioy © sob essa forma, manifestise, melhor do que nunca, na per versio. modelo, nesse “Tetichismo” que, pelo menos a partir te 1877, servin de fio condutor A anillse de todos os ov ios desvios, pois nele se lia claramente a fixagio do ins- {into em um objeto a mancira da adertncia Wistorca eda ingdequagio bioldgca, Enfim, na socializagio das condu- tas procriadoras, 0 "sexo" € desrito como estando preso fntre uma lei de realidade (cuja forma imediata e mal Sbrupta sio as necesidades econdmicss) e uma economia de prazer que sempre tenta contoméla, quando io a desc Ieee; a mais célebre das "Traudes", 0 “coftus interruptus representa o ponto em que a instincia do real obriga a pdr termo 20 prarer e em que © prazer ainda conseque se ma- nifestar, apesar da economia prescria pelo real. Vemos cl famente: € 0 dispositive de sexualidade que, em suas dife- Fentes esratpias instaura essa iéia "do sexo"; e faz apa- ecer, sob a5 quatro grandes formas — da histeria, do on to, do fetichismo ¢ do coito interrompido — como sendo submetido a0 jogo do todo ¢ da parte, do. principio © da falta, da austncia e da presenca, do excesso e da defcizncia, da fangio e do instint, da finalidade e do sentido, do real fe do prazer. Assim, formou-se pouco a pouco a armasio de ‘uma teoria geral do sexo. (Ora, essa teoria assim engendrada exereeu um certo ni mero de fungdes no dispositive de sexualidade que & tor- haan indispensivel, Sobretudo trés-foram importantes. Pri- mneito, a nogio de “sexo” permitiu agrupar, de scordo com fima unidade artificial, elementos anatimicos, fungoes bio Topieas, condutas, sensagies © prazeres e permitin fazer fun- cionar este unidade fctcin como principio causal, sentido 14 conipresente, segredo a descobrie em toda parte: 0 sexo pide, Portano, funcionar como signficante tnico © como signifi ado universal. Além disso, spresentando-e unitariamente ‘como anatomia ¢ falha, como fungio e laténcia, como ins- finto e sentido, de marcar a linha de contato entre um ‘aber sobre a senualidade humana e as cbncias Diologicas dda reprodugio; desse modo aquele saber, sem nada receber realmente dessas uitimas — salvo’ algumas analogs. in- certas ent povcos conceitos transplantados —~ ganhou, ‘por privilégio de vizinhangs, uma garantia de quase cient ficidade; mas através dessa mesma Vizithanga, certos contea dor de biologia e da fsiologia puderam servir de_ principio e normalidade & sexualidade humana. Enfim, a nogio de exo. garantiu uma reversioessencial, permitiu inverter a Tepresentagao das rclagbes entre 0 poder ea sexualdade, fazendo-a aparecer 89 na sua relagio essencial e_positva ‘com 0 poder, porém como sncorada em uma instincia es pevitiea © iredutivel_que o poder tenta da melhor mancira Sujeitar, assim, a idéia “do sexo" permite esquivar 0 que Consttui 0 “poder” do poder; permite pensi-lo apenss como Tei e imterdiggo, © sexo, esa insthacia que parece dominar- nos, esse segredo que nos parece subjacente a tudo o que £0- mos, esse ponto que nos fascina pelo poder que manifesta entido que ocult, a0 qual pedimos revelar 0 que rarnos 0 que nos define, o sexo nada mais é do que tum ponto ideal tornado necessério pelo dispositive de serualidade e por seu funcionamento. Néo se deve ima- finar uma insténcla autinoma do sexo que produza, secun- ariamente, of efeitos miltiplos da sexualidade 20 longo de toda a sua superficie de comtato com 0 poder. © sexo & ‘to contri, o elemento mas expeculatvo, mais ideal e igual- mente mais interior, num dispositive de sexualidade que 0 poder organiza em suas captagées dos corpos, de sus_ma- fevialdade, de suas forgas, sust enerpas, suas sensagées, seus prazcres Poder-se-ia acrescentar que “o sexo” exerce uma outra fungéo ainda, que atravessa © sustém as primetas, Papal, desta ver, mais pritico do. que tebrco. B pelo sexo eleti- ‘vamente, ponto imagintio fixado pelo dispositive de sexua- lidade, que todot devem passar para ter acesso 2 sua pré- 145 ria inelgibilidade (i que ele 6, a0 mesmo tempo, 0 elemento cult € 0 prineipio produtor de sentido), &totalidade de seu cor- o (pois ele ¢ uma pane real e ameagada deste corpo do qual Constitlsimbolcamentso todo), sua identidade (que ele alia 8 forga de uma puto singulridade de uma histva). Por uma Tnversio que comepou, provavelments, de modo subrepticio hit ‘muito tempo — e na epoca da pastoral rit da carne — che- {gamos ao ponto de procurar nossa inteligibilidade naquilo que foi, durante tantosséculo, coasiderado como loucura a pleniti- de de nosso corpo naquilo qu, durante muito tempo, foi um es- tigma e como que aferida neste corpo; nossa identidade, naqulo| ‘que se poreebia como cbscuro impulso sem nome. Dai impor- Hncia que Ihe atribuimos,o temor reveente com qu © revesti- ‘mos, a proocupagao que tzmos de conhect-o. Dao ft dese ter tomado, na escala dos séculos, mais importante do que nosss alma, mais importante do que nossa vida; ¢ dai todos os enjgmas {do mundo nos parecerem Uo Keves compandos a esse septedo, ‘minisculo em cada um de nés, mas euja desidade o toma mais rave do que todos. O pacto fhustiano ey tentago 0 dispositive de sesuaidad insereveu em nbs é, dravante,o seguinte: trocar a vida intra plo proprio sx9, pola verdad e a soberania do 2x0, (0 sexo bom vale a mort. E nese sentido, estrtamentshistvico, ‘como se vé, que @ Sexo hoje em dia & de fto tanspassado pelo insinto de more. Quando 0 Ocidene, hi muito tempo, descobri 0 amor, concedetihe bastante valor para tomar a morte acsitvel, €0 Sexo quem aspira, hoc, a essa equivaléacia, a maior de todas. E ‘enquantoo dispostva de semuaidade pemite as tenicas de pod investrem sobre a vida, ponto fcticio do sexo, mareado por esse mesmo dispositive, excres bastante fastinio sobre cada um para ‘ve se aoe escutar nee bramira mort. (Coma eriagio deste elemento imagindsio que é “o sexo", 0 dispositive de sexualidade susctou um de seus prin- cipios intomos de funcionamento mais essenciais: 0 desejo do sexo — desejo de télo, de aceder a ele, de descobri-lo, liberi-lo, aticuli-to em discurso, formulaclo em verdade. Ele constituiu “o sexo” como desejavel.E é essa desirabil dade do sexo que fixa cada um de n6s & injungdo de conhe M6 ‘Elo, de descobrir sua lei © seu poder; 6 essa desrabildade fque nos faz aereditar que afirmames contra todo poder 0s direitos. de nosso sexo quando, de fato, ela nos vincula 20 dispositive de sexualidade que fez surge, do fundo de nés ‘mesmos, como uma miragem onde acreditamos recoahecer- nos, 0 brilho negro do sexo “Tudo & sexo, daia Kate em The plumed serpent, tudo & sexo, Como 0 sexo pode ser belo quando 0 homem © man- tém poderoso © sagrado e quando ele preenche mundo, Ei, @ como o sol gue vos innda, que vor penta com sia Portanto, nfo refer uma histria da sexualidade a insticia do sexo; mostrar, porém, como “o sexo” se en- contra na dependéncia: histriea dh sexualidade. No stuar .o sex0 do lado do real ¢ 8 soxualidade do lado das idéias ‘onfusas e iusbes; a sexuaidade é uma figura histrica mule to real, ¢ foi ela que suscitou, como elemento especulativo fpecesirio a0 seu funcionamento, 2 nogso do sexo, Nao fereditar que dizeadose sim ao’ sexo se sth dizendo mio 420 poder; 20 contririo, se est seguindo a linha do dispesi- tivo geral de sexualidade, Se, por uma inversio titica, dos sivertos mecanismos da sexualidade, quisermos opor 0s cor os, os prazeres, os saberes, em sua muliplicidade e sua Possbilidade de resistncia a5 captagées do poder, serd com Telagio & instincia do sexo que deveremos liberar-nos. Con- ita 0 disposivo de sexualidade, 0 ponto de apoio do con- trecataque fo deve ser 0 sexo-dsejo, mas os corpos © 05 prazeres * “Howe tanta agio no passtdo, dizia D-H. Lawrence, ‘especialmente agio sexual, uma repetisfo to mondtona ¢ fatigante sem nenhum desenvolvimento paralelo no pensa- smenio © na compreensio. Atwalmente, nossa tarefa € com- preender a sexualidade. Hoje em dia, a compreensio ple- Iamente coniciente do instinto sexual importa mais do. que ato sexual”. ‘Talver_um dia cause surpresa, No se_compreenders que uma ivilizagio tio volta, por outro lado, pars 0 7 ‘desenvolvimento de imensos aparcthos. de produgio © de estrugdo tenka achado tempo e infnita paciéncia para se interrogar com tanta ansedade sobre o que é do sexo; tak vez haja. quem sorria Tembrando que esses homens, que te emos sido, acreditavam que houvesse desse lado uma ver dade pelo menos to preciosa quanto a que tinham procurado faa terra, nas estrlas © nas formas puras do pensamento: falvez cause surpresa a obstinagdo que tivemos em fingie arrancse de sua obscuridade uma sewalidads que 1080 ~nostos discutsos, nossos habits, nossas institigbes, nos- fos repulamentos, aossos saberes —- trazia 8 plena luz ¢ re- fotia com esirépto. E se. perguntaré por que quisemos tanto suspender a Tei do silincio sobre que era. a mais ruidosa de notsas preocupagies. O ruldo, retrospectvamente, poderé parecer desmesurado, mas, ainda’ mais estranha, nos- 2 obstinagao em descobrir nele somente a recusa do falar © 4 ordem Je calatse. Interrogarse-i sobre 0 que pide {omar-nos tio presungosos; por que os atibuimos o méri- to de termos, primeiro que todos, emprestado 20 sexo, con ‘Wa toda uma moral milenar, a importincia que dizemos ter como pudemos glorifear-tos por nos termos liberado en- fim, no Século XX, de um tempo de longa e dura repres- Slo — 0 tempo de um asceismo cristo prolongado, des- ado, avaramente, impertinentemente utilzado pelos imperat- tos da economia burquess, El, onde hoje vemos a histéria de tuma censura difelmente suprimida, recoahecerse-, a0 con trio, a lenta ascensio, através dos séevlos, de um disposi- vo complexo para nor fazer felar do sexo, para Ihe. dedi carmos massa atengdo e preocupacio, para’ nos fazer acre- Gitar na soberania ‘de sua Tei quando, de foto, somos ating- os pelos mecanismos de poder da sexualidade, Rirseé da acusagio de pansexuasno que em certo momento se opis a Freud e 8 psicanilise. Mas os que pare= cerdo cegor serio, taver, nem tanto 05 que a formolaram, como of que a rejitaram com um simples gesto, come se tla traduzisse somente os temores de uma velha pudiccia.Pois ‘os primeiros, afin de contas, apenas se. surpreenderam ‘com umn procesio que comegara havia muito tempo € que ‘io tinbam percebido que ji o§ cereava de todos os lados; Tinham atribuido exclusvamente a0 genio mau de Freud 0 148 ‘que estava preparado hi muito tempo; tinham-se enganado e data quanto & instauragio, em nossa soriedade, de um ‘ispositvo geral de serualidade. Mas'os outros erraram quan- toa natures do proceso; acreditaram que Freud re {uia enfim, a0 sexo, por uma reversio sibita, a pare que The era devida ¢ que Ihe fora contesteda por tanto tempo: io viram que 0 génio bom de Freud o colocara em um dot pontos decisivos, marcados, desde 0 século XVIII, pe- las estratépias de saber ¢ de poder; © que, com isso, ele relangava com admirivel efidcie, digna dos maiores espi- Fituait diteiores da época clissca, a injungio secular de Conecer 0 sexo e colocilo em discuro, Evocase com fre ‘Uéneia os InGimeros procedimentos. pelos quais 0 cristia nismo antigo nos teria feito detestar 0 corpo; mas, pense- ‘mos tim pouco em todos esses ards pelos quas, hi virios s&- culos, fizeram-nos amar o sexo, tomacam desejvel para nbs onhecé-lo e preciso tudo 0 que se diz a. seu respeito; umbém, inctaram-nos a. desenvolver todas. 3s idades para surpreendélo e nos vincularam_ a0 ever de extrair dele a verdade; pelos quais nos culpabili- atam por té-o desconhecido por tanto. tempo. Sto. esses fardis que mereceriam espanto hoje em dia. E. devemos pen- sar que um dia, talvez, numa outra economia dos corpos

Vous aimerez peut-être aussi