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O 9 QUe FaLTAV2. ESTa revista no esTaria compreta se nao TIvesse uma Brincabeira. Por Isso, convocamos O proressor EsTevao MarQues, Que apresenta UM JOGO De PaLmas ey ensinaDo Por uma Lavabeira DO vaLe DO JeQuiTmnHonna. Quer aprenber TamBém? Em uma das minhas viagens aprendi uma brincadeira muito legal. Quer aprender? Ento mao na massa! E por falar em mao na massa, esta brincadeira precisa de seis mios. E um jogo no ritmo do coco. Para dar certo, s6 precisa de vocé e mais duas pessoas, Primeiro vamos aprender a musica: Muito boa, nao €? Quem me ensinou foi uma lavadeira lé do Vale do Jequitinhonha, Gosto muito dela porque da para combinar o primeiro verso (Casinha de bambué) com varios versinhos diferentes, conhecidos como 4quadrinhas, Para saber mais, é s6 ler meu vizinho de revista, Braulio Tavares. 2 BrauLio Tavares Da uma verbabeira aulLa SOBre 0S ‘ersInHos Que FernanDO Pessoa CHaMoU De “0 vaso DE FLOFes QUE 0 POVO POE ajaneta De sua aLma”. ECHeGa a concLusao: “UM PrOCeSsO SIMPLES € INTUITIVO PODe Parecer uma enorme comPLicacgao Quanbo Tem gue ser verBaLIzaDo”. A Squadra’, ou “quadrinha’, € nossa forma de poesia mais simples e mais popula. Sfo quatro linhas, todas do mesmo tamanho. A segunda ¢ a quarta linhas rimam entre si. £ uma forma usada nos versinhos andnimos do folclore: por perras pagueta serra passa BOI, Passa BolaDa, pasga cente ruim € BOa passa minHa namoranba. Fernando Pessoa chamou a quadrinha de “o vaso de flores, que 0 povo pie a janeta de sua alma”. O préprio Pessoa fez centenas de quadrinhas, como esta: ge vais De vesTIDO Novo oTeu proprio anpar 0 DIZ, asgar por ensTe OPOVO se mare TeU COrPO € FELIZ. [Em geral, dizemos que a quadrinha tem quatro versos setiss= Tabos — ou sea, cada um tem sete slabas métricas, As silabas métricas nio sio a mesma coisa que as sflabas gramaticais. ‘Sao sflabas que pronunciamos de uma maneira diferente, ajustando-as ao ritmo do verso recitado ~ ou do verso canta- do, quando se trata de uma cango. A recitagio e 0 canto im- dem tuma cadéncia ds palavras, uma cadéncia mais marcada, diferente da cadéncia solta com que falamos, & para ohedecer essa cadéncia que mudamos a acentuacao das palavras, jun- tando duas sflabas para fazer apenas uma, por exemplo, [Na quadrinha de Fernando Pessoa, as palavras “ea0” se trans- formam numa Gnica sflaba, Se estivéssemos falando normal- mente, a divisio seria f-20;basYsar-POr-en-3re-0.ro~vo ty Se (10 SiLaBas) [Num verso, contamos as sflabas até a dltima silaba tonica, que no caso “ajeitadas” para se transformar, no momento da recitagi 86, enquanto a juno do final de “entre” com o artigo“ ‘po” (de “povo"). As nove sflabas restantes precisam ser em sete. As palavras “e ao” transformam-se num “au” dito de uma vez ira uma espécie de “tril. O verso se recita assim: IaU- Pas: Sar- POF: €N- TYIL: PO (vO) (7 SfLaBas) Cantar versos éa maneira mais fcil de acomodar as palavras a uma cadéncia, Havendo miisica, sabemos de imediato como devemos {izer as silabas gramaticais para que elas se transformem em silabas métricas, porque “silabas métricas” ésindnimo de “notas numa melodia". A melodia fornece, com suas notas, o modo de dividir as silabas. Os primeiros versos de A Banda, de Chico Buarque, formam uma quadrinha perfeita ‘roa navipa omeuamor m estava cHamou cg praveraBanba Passar canranpo corsas De amor. Aleitura meétrica dos quatro versos se faz assim, encaixando-os na melodia que, a esta altura, o Brasil inteiro jé conhece: ) E§-Ta-Va-TO-a-Na-Vi(ba ; o-meu-a-mor-me-CHa- Mou’ pra: ae a-Ban- Da- Pas: SaP i" can Tal: DO- COI: sas - Dea mor. ty Altra € tio simples que exige pouquissimo ajuste, Somente na diltima linha € que precisamos juntar numa s6 nota as duas sflabas ‘aramaticais daquele “de-a", que pronunciamos quase como “dha”: Relendo este texto, me dou conta de como um processo simples e intuitive parece uma enorme complicagio quan- do tem que ser verbalizado. Por qué? Acho que € porque estou tentando explicar por escrito um pracesso que é audi tivo, oral. A poesia € oral. Nasceu sendo falada ou cantada. Quando alguém criou o primeiro poema escrito da historia da Humanidade, provavelmente o fez escrevendo em carac- teres cuneiformes em tabuinhas de argila, na antiga Sumé- ria ou na Rabildnia. Foi um momento historico: o prime ppoema que, sem ser dito em vor alta por ninguém, foi cria- do diretamente através de sinais grificos que exprimiam sons. Até ento, durante muitos milhares (talvez dezenas de imilhares) de anos 0s poems longos e complexos de todas as culturas haviam sido criados oralmente, em sociedades ‘onde nio existia allabeto. As pessoas pensavam os versos, ddiziam-nos em vor alta, Outras pessoas esculavam, repe- tiam, decoravam, e os poemas eram passados adiante, 20 “cantando coisas dhamor”. longo dos anos e dos séculos, sem que houvesse necessida- de de uma verséo escrita. Quando essa necessidade surgi, Porque as populagdes cresceram e as sociedades tornaram-se ‘muito complexas, os poemnas passaram a ser escritos, Daf a dificuldade de explicar por escrito um processo aui- tivo e oral. Poetas nao contam silabas, eles encaixam pala vyras numa cadéncia ou numa melodia, Poelas nio contam vogais e consoantes: eles apenas articulam sons. O poema oral ¢ a letra de miisica séo percebidos intuitivamente pelo ‘nosso ouvido. Nossa fala se amolda as cadéncias da recita-

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