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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Centro de Ciências da Saúde

Colégio Municipal de Pescadores de


Macaé: Uma Proposta de Extensão para a
Formação de Cidadãos

Alder Oliva

Rio de Janeiro, 2009

1
Alder Oliva

Colégio Municipal de Pescadores


de Macaé: Uma Proposta de
Extensão para a Formação de
Cidadãos

Monografia apresentada como requisito


parcial à obtenção do grau de licenciado
em Educação Física

Escola de Educação Física e Desportos


Centro de Ciências da Saúde
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Orientador(a): José Jairo.

Rio de Janeiro, 2009.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS

Monografia: Colégio Municipal de Pescadores de Macaé: Uma

Proposta de Extensão para a Formação de Cidadãos

Elaborada por: Alder Oliva

e aprovada pelo professor responsável pelo R.C.S., professor


orientador e professor convidado foi aceita pela Escola de
Educação Física e Desportos como requisito parcial à
obtenção do grau de:

LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

PROFESSORES:

Orientador(a): José Jairo

Convidado(a):

Responsável pelo R.C.S.:

Data: 17 de novembro de 2009

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DEDICATÓRIA

A todos os alunos que passaram, passam e passarão na minha vida,


porque sem vocês essa pesquisa não teria sentido. Aos professores que contribuíram para
construção desse trabalho e todos àqueles que de alguma forma vierem a se utilizar desse
estudo para uma melhor compreensão desse projeto.

4
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Capoeira Angola, que me fez entrar em uma faculdade e

moldar o homem que sou! Axé angoleiros!!!!

Esse trabalho é fruto das oportunidades acadêmicas e dos conhecimentos que adquiri

nas áreas de Extensão durante a graduação. Os responsáveis diretos por esses ensinamentos

foram os professores Fernando Amorin, Eleonora Ziller, Armando Alves, José Maria, Mestres

Cobrinha, Jurandir Nascimento e Rogerinho e o mais recente, amigo e orientador, professor

José Jairo. Mestres, obrigado!

Ao Projeto Calango por ter semeado em nós o esporte de aventura. Carregamos muitos

andaimes, compensados e descobrimos o valor do sorriso de uma criança nos festivais

UFRJmar.

Aos amigos de longas reflexões na La Bombonera,, quantas idéias, quantos sonhos,

quantos... Bia, Paulinha, Mari, Rafa, Nati, Thamy, Ana, Dê, Ju, Bruna (coordenadora!),

Gandra, Sardinha, Osama, Feijó, Flavinho, Gui, Paulinho, Belete, Bandaid...Valeu galera!

Ao Núcleo Interdisciplinar UFRJmar por ter me dado a oportunidade de fazermos

parte de um projeto diferenciado.

Aos meus pais e irmãos, parentes, amigos e todos aqueles que estavam na torcida por

nós. O sonho se tornou realidade!

Por fim, mas não por último minha companheira fiel Vivian Dornellas que me agüenta

e espera um filho, fruto desse nosso amor, te amo!

5
RESUMO

Título: Colégio Municipal de Pescadores de Macaé: Uma Proposta de Extensão


para a Formação de Cidadãos

Autoria: Alder Oliva

Orientador: José Jairo

O presente trabalho descreve o processo de experimentação de uma nova proposta

pedagógica para o sistema público de ensinos fundamental e médio, pensada e

articulada, a partir do Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar ligado à Extensão

Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em conjunto com a Secretaria

Municipal de Educação e a comunidade de Macaé, no norte fluminense. Esta proposta

tem como base ideológica a Educação pelo Trabalho, onde estão contidos os conceitos

de Politecnia, Educação por Projetos, Método Tutorial, Escola sem Muros e

Multisseriada, e vem sendo consolidada a partir de 2003 com a criação da Escola

Municipal de Pescadores de Macaé, atualmente Colégio, além de outras frentes de

trabalho. A elaboração do projeto do Colégio tem início a pedido da Secretaria de

Educação de Macaé, que precisava lidar com demandas antigas e novas do município.

Diante disso, o Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar iniciou trabalhos de Pesquisa-Ação,

tendo como premissa o comprometimento com a comunidade local, levando em

consideração seus interesses e decisões na construção compartilhada de um projeto.

Foi então criada, uma estrutura de ensino constituída por uma equipe de professores e

estagiários ligados às diversas áreas da UFRJ, surgindo a partir daí uma grade

curricular com disciplinas diferentes daquelas oferecidas no sistema educacional

vigente. Disciplinas de caráter interdisciplinar, capazes de envolver diversas áreas de

conhecimento, onde as questões presentes nas diversas atividades propostas aos alunos

são abordadas de forma complexa e contextualizada, trazendo a compreensão dos

fundamentos gerais que envolvem as ciências tecnológicas e humanas. O Colégio de

6
Palavras-chave:

Sociedade Educação Universidade

SUMÁRIO
Página
CAPÍTULO 1

1.1 Introdução............................................................................................................................09

CAPÍTULO 2 - CONHECENDO MACAÉ E O COLÉGIO MUNICIPAL DE

PESCADORES

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2.1 Apresentação da Cidade de Macaé....................................................................................11

2.2 A proposta pedagógica ......................................................................................................12

2.3 O colégio de Pescadores.................................................................................................... 16

CAPÍTULO 3 - Desafios na Educação

3.1 Reflexão e Educação..........................................................................................................18

3.2 De Educação Física à PDAT – Praticas Desportivas Aquáticas e Terrestres:

Um exemplo de mudança..........................................................................................................19

3.3 Alguns resultados................................................................................................................25

CAPÍTULO 4 - CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................27

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................29

CAPÍTULO 1

1. Introdução

O objetivo deste trabalho é descrever o processo de construção de uma proposta

pedagógica alternativa para o sistema público de ensinos fundamental e médio, baseada nos

princípios da Educação pelo Trabalho, tomando como referencial as experiências

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desenvolvidas no Colégio Municipal de Pescadores de Macaé e discutindo as perspectivas de

uma educação que contemple de forma mais ampla as necessidades da sociedade atual.

Nas últimas décadas, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, vem fazendo

investimentos estratégicos em alternativas promotoras do desenvolvimento dos municípios

que compõem a planície litorânea do norte do estado do Rio de Janeiro, através da Extensão

Universitária.

Neste sentido foi criado o Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar, a partir de uma idéia do

Professor Carlos Lessa, no Encontro Baías e Ambientes e Ambientes Costeiros do Rio de

Janeiro, realizado em outubro de 2002, com apoio da FUJB, com o objetivo de promover uma

articulação dos pesquisadores e professores que trabalham com o mar como objeto de ensino e

pesquisa. Foram criadas diversas frentes de Pesquisa-Ação relacionadas à cadeia produtiva da

pesca e ao desenvolvimento sustentável de Macaé, cidade localizada ao norte fluminense,

evidenciando diversos problemas na comunidade, entre eles as altas taxas de desemprego, a

falta de mão de obra qualificada e a violência.

Uma das principais demandas colocada pela comunidade e pela Prefeitura de Macaé foi o

alto índice de evasão escolar. Não por acaso, esse alto índice coincide com o período que o

jovem já não tem impedimentos perante a lei em trabalhar e começa a ter que contribuir com a

renda familiar, ou porque são encerrados os projetos de ajuda Federal, através de programas

tipo “Bolsa Família” e “Bolsa Escola.” Por outro lado, a falta de uma formação qualificada

compromete o rendimento esperado no mundo do trabalho, e eleva o índice de desemprego e

violência, aumentando as chances desses jovens buscarem formas marginais de garantirem sua

sobrevivência. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar, NUPEM e SOLTEC, 2007)

Este quadro evidencia a incapacidade do sistema educacional vigente, no que se refere à

formação e qualificação que promovam oportunidades de realização profissional e inclusão

social de jovens do sistema público de ensino. (UFRJ Mar, 2009)

9
Diante dessas demandas, o Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar, sentiu a necessidade de

fazer uma nova abordagem em educação, criando uma escola que oferecesse uma alternativa

de qualificação e de estimulo profissionalizante para os alunos, criando em 2003, a Escola

Municipal de Pescadores de Macaé, sendo transformada em Colégio em 2006, por oferecer

através do EJA turmas de ensino médio.

O Colégio representa os esforços para uma reestruturação do sistema educacional no

sentido de ampliar e reorganizar a rede de ensino público, universalizando o acesso e

construindo competências para além da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) em relação à Base

Nacional Comum, descrita no Art.26 da LDBEN 9394/96. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ

Mar, 2007)

Segundo Freire (1974), essa reorganização se faz necessária, pois cada vez mais temos

uma educação cristalizada, onde o conhecimento é transmitido de forma sistemática e linear,

um sistema bancário, onde o professor deposita suas fichas de conhecimento num

recipiente/aluno inerte ao processo do conhecimento, sendo que os métodos usados pela

educação vigente como a memorização, repetição, sistematização e a super valorização do

resultado, já demonstraram diversas deficiências em atender as demandas da sociedade

brasileira atual (Freire, 1974).

CAPÍTULO 2: CONHECENDO MACAÉ E O COLÉGIO MUNICIPAL DE

PESCADORES

2.1 Apresentação da Cidade de Macaé

O site da prefeitura de Macaé identifica a cidade com os seguintes dados: Território de

1.216 Km² correspondendo a 12,5% da área da região Norte Fluminense; População de

10
169,725 habitantes; PIB per capita de R$120.602; R$ 413.116.830,41 em Royalties e

participações especiais recebidos em 2006. Teve em 2007 um orçamento de R$865 milhões,

3.189 empresas de serviço e R$2.514 empresas de comércio.

(http: //www.macae.rj.gov.br/municipio)

Com uma economia que cresceu 600% nos últimos dez anos – mais do que a da China

– Macaé é uma cidade em ebulição. Por conta do desenvolvimento da indústria do petróleo e

gás, especialmente a partir da quebra do monopólio estatal, em 1997, a cidade hoje é bem

diferente da vila de pescadores dos anos 70.

Apesar desses avanços, não podemos desconsiderar que o esgotamento das reservas

petrolíferas da região é uma realidade cada vez mais próxima, e que as empresas que atuam

nesse setor tendem a deslocar-se para outros pólos de produção, deixando lacuna

consideráveis no panorama econômico das cidades.

Diante disso, para que estejamos preparados para esse momento, será importante contar

com novas alternativas para suprir as demandas de geração de emprego e renda na região,

como a atividade pesqueira, ainda muito relevante para a economia de Macaé.

É desta atividade que boa parte da população macaense que não apenas trabalha, mas

também reside, retira seu sustento. O problema é que as atividades relacionadas à pesca vêm

passando por um momento de sérias dificuldades com a falta de qualificação dos pescadores;

a falta de capacitação tecnológica para a captura do pescado; o mau manejo e o processamento

do pescado; a baixa eficiência de conserva do pescado a bordo das embarcações; a sobre pesca

que cria um desequilíbrio ecológico; a falta de organização da atividade produtiva, entre tantas

outras.

Neste sentido tornou-se necessário um projeto preocupado com a pesquisa sobre a melhor

maneira de se orientar uma organização nesta área da economia e, ao mesmo tempo, de se

contribuir com ações de intervenção direta sobre ela, trazendo incentivos à pesca artesanal,

11
pautada numa noção de economia solidária e sustentável, podendo ser uma forma de garantir

uma renda renovável.

É assim que se estabelece no bairro da Barra de Macaé uma Escola Municipal de

Pescadores que vai ao encontro de equacionar o problema da evasão escolar do município e

resgatar a cultura da pesca. Uma escola que tem como objetivos a formação de cidadãos

conscientes de questões ligadas à preservação do meio ambiente, à tecnologia de ponta na

fabricação de embarcações, à dinâmica e à segurança da navegação, à sustentabilidade da

pesca e às relações de trabalho.

Além de proporcionar que alunos de graduação e pós-graduação vivenciem a prática

docente de uma escola, com todos os seus defeitos e qualidades inerentes ao processo.

2.2 A proposta pedagógica

A proposta do Colégio Municipal de Pescadores de Macaé é construir uma

metodologia educacional, que possibilite a formação do cidadão e do trabalhador, através da

estruturação de uma rotina escolar que permita que os alunos entrem em contato,

antecipadamente, com algumas das questões que estarão presentes em seu cotidiano, e diante

das quais eles terão que se posicionar tanto individual quanto coletivamente.

Em seus estudos sobre Marx, Manacorda descreve a educação pelo trabalho como a

vivencia e constatação de um processo real, mas individualizado nas soluções do

desenvolvimento e das suas contradições, o que sugere claramente em juntar realmente a

ciência e o trabalho. Deve-se, esforçasse ao máximo para que o trabalho seja produtivo,

prática dos instrumentos essências de todos os campos de trabalho, entrelaçados à teoria como

estudo dos princípios fundamentais das ciências. Um trabalho que tenta excluir toda e

qualquer oposição entre cultura e profissão.

12
Ainda em seus estudos, mas agora refletindo sobre Gramsci, Manacorda nos chama

atenção que o trabalho é essencialmente um elemento constitutivo do ensino. O trabalho não

deve ser um termo antagônico e complementar do processo educativo, mas sim ao lado do

ensino e em suas variadas formas. Insere-se no ensino pelo conteúdo e pelo método. A escola,

por ter um compromisso igual para com todos e por não ser descriminante, deve educar de

modo que todo cidadão possa torna-se “dirigente”.

O conceito de Politecnia significa a especialização com o domínio dos fundamentos

científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna, concentrando-se nas

modalidades fundamentais que dão base à multiplicidade de processos e técnicas de produção

existentes (Saviani, 2007).

O essencial são as premissas psicológicas da politecnia, que consistem do seguinte.

Todo processo de trabalho humano é duplo, porque o ser humano representa, por um lado, a

fonte direta de energia física e, por outro, é o organizador do processo de trabalho.

Ao mesmo tempo, deve-se compreender que, ao contrário do que estipula o sentido

exato da palavra, essa politécnica não significa a pluralidade de ofícios, a combinação de

muitas especialidades em uma só pessoa, mas o conhecimento dos fundamentos gerais do

trabalho humano, desse alfabeto com o qual são criadas todas as suas formas, como se

tirássemos dos parênteses o fator comum de todas essas formas. (Vigostky, 2003).

Por esse motivo, o trabalho na escola implica a familiarização com a economia

mundial: a elevação às cúspides das técnicas moderna constitui a exigência fundamental da

escola.

São sumamente interessantes as formas de trabalho que podem ser introduzidas na

escolarização, formas do trabalho industrial e tecnicamente superior. Dessa maneira, sem

qualquer esforço de nossa parte, o estudante incorpora-se diretamente aos dois âmbitos entre

13
os quais deve estar dividida a influência educativa: o primeiro é a ciência natural moderna e o

segundo é a vida social contemporânea, que abrange o mundo inteiro.

O Colégio Municipal de Pescadores de Macaé propõe uma metodologia educacional

que relaciona a prática com a teoria, por entender que não há como desassociar uma da outra.

Através da Educação por Projetos, a teoria de uma determinada atividade constitui-se pela

necessidade apresentada no exercício prático dessa atividade, o aluno aprende fazendo e é

estimulado a pensar nas várias áreas de conhecimento que envolvem um objeto numa lógica

de pesquisa. Por exemplo, uma simples maquete sobre a bacia hidrográfica de Macaé,

engloba a participação de professores da área de geografia, para o desenvolvimento de estudos

do solo, de biologia, para o estudo do ambiente local, de artes, para auxílio na modelagem da

maquete e por aí vai. Neste caso, o conhecimento é encarado como uma rede de saberes

interligados, o que estimula a elaboração de projetos de caráter interdisciplinar e

transdisciplinar provocando alguns questionamentos em relação à abstração programática das

disciplinas isoladas. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar, NUPEM e SOLTEC, 2007)

O projeto político pedagógico proposto pela UFRJ tem uma função nítida que é

auxiliar na apreensão dos conteúdos: através de “projetos interdisciplinares” aproximar o

aluno das atividades relacionadas ao mundo do trabalho criando condições de autonomia e

decisão própria, desenvolvendo assim a reflexão e a crítica. Viabilizando ao aluno e se

perceber como um sujeito transformador e ator de suas ações no processo histórico.

Os conteúdos são relacionados com outras disciplinas através de projetos variados que

não só visam à mera memorização de conceitos, mas estimula a curiosidade do aluno e

incentiva o seu senso crítico através de soluções de problemas e desafios que buscam a

recriação do objeto de estudo a partir da sua própria leitura o que contribui para a construção

de sua autonomia como cita o PCN (1998):

14
“A busca da autonomia pauta-se na ampliação do olhar da escola sobre o
objeto de ensino e aprendizagem da cultura corporal de movimento. Essa
ampliação significa a possibilidade de construção, pelo aluno, do seu próprio
discurso conceitual, atitudinal e procedimental. Em vez da reprodução ou
memorização de conhecimentos, a sua recriação pelo sujeito por meio da
construção da autonomia para aprender.”

O Núcleo utiliza também a idéia de Escola Sem Muros e Multisseriada. A primeira

considera que o conhecimento não é só um privilégio daqueles que estão dentro da escola e

busca aproximar cada vez mais a realidade dos alunos, através de atividades que extrapolem

os muros da escola e interfiram na comunidade. A segunda, escola Multisseriada, leva em

conta que o aprendizado é possível acontecer em faixas etárias variadas, visto que hoje em dia

a maioria do ensino público se encontra com altos indicies de reprovação, colocando em uma

mesma turma adolescentes recém saídos do Ensino Infantil e alunos que beiram a maior idade.

O que pode parecer inoperante em um primeiro momento, revelou-se na nossa prática, em

Macaé, um campo rico e cheio de novas descobertas, mostrando que a diferença na idade,

maturidade e ingenuidade, por vezes, mais auxiliam no processo de aprendizagem que

atrapalham, levando os professores a procurarem formas de lidar com as diferenças dos

alunos. Como diria o mestre Paulo Freire respeitando, dimensão individual e a de classes dos

educandos. (Freire, 1996)

E ainda, o método Tutorial também é usado como eixo norteador da prática pedagógica,

por acreditar que esse método estimula o aluno a construir seu conhecimento de uma forma a

partir das suas próprias experiências, onde o primeiro passo é o da criação, fazendo seu trabalho

sozinho. O segundo passo é o de crítica, observando os erros cometidos, sem deixar de defender

os pontos que julga estarem certos. O terceiro passo é a apreciação do conjunto; comparando o

texto primário e depois ele finalizado e revisado. (Silveira; Amorim; Filho; Allende, 2002)

2.3 - O Colégio de Pescadores

15
O Colégio funciona em tempo integral, e atualmente dispõe de 10 turmas de ensino

regular e cinco de Educação de Jovens e Adultos.

Seu caráter interdisciplinar rompe com a prática pedagógica da educação pública atual

em que as aulas são segmentadas, fechadas, e dissociadas umas das outras, o que dificulta uma

compreensão pelos alunos da complexidade do conhecimento e do mundo em que vivem.

Além das disciplinas da grade curricular tradicional, o Colégio introduziu outras

disciplinas, dentre as quais as aulas de Pesca, Aquicultura, Práticas Desportivas Aquáticas e

Terrestres - PDAT (vela, remo, caiaque, natação, corrida de orientação, entre outras),

Construção Naval, Relações Sócio-ambientais, Práticas de Comunicação Social e Arte, além

de oficinas diversas como lutas, danças e folclore, teatro, surf e atividades ligadas à Saúde

Reprodutiva. Essas aulas são ministradas por alunos de graduação, pós-graduação e

extensionistas dos cursos de Belas Artes, Dança, Biologia, Ciências Sociais, Educação Física,

Engenharia de Produção, Engenharia Eletrônica e de Computação, Engenharia Mecânica,

Engenharia Naval, Engenharia Química, Geografia, História, Letras, Matemática, Geografia,

Serviço Social, Psicologia e Enfermagem, coordenados e orientados por professores do quadro

permanente da UFRJ. (UFRJ Mar, 2009)

Vale ressaltar que as disciplinas oferecidas pela UFRJ são obrigatórias para todas as

turmas de todos os anos, estabelecendo projetos diferentes para cada ano letivo e com

autonomia dentro do norte de cada projeto pertinentes à sua execução.

A disciplina denominada Prática em Comunicação Social e Arte (PCSA), está

interessada no desenvolvimento da capacidade dos alunos de trabalho na criação e produção

de produtos científicos e culturais que tenham a perspectiva da comunicação social e da arte

como meios diretos de atuação. Trabalhando com uma diversidade de linguagens e

produzindo coletivamente materiais científicos e culturais, tais como livros, filmes (ficcionais

16
e não ficcionais), jornais e revistas, entre outros materiais que se apresentarem necessários, no

âmbito da linguagem. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar, NUPEM e SOLTEC, 2007)

A proposta da disciplina Relações Sócio-Ambientais (RSA) é trabalhar com temas

como Ecologia, Organização do Trabalho, Aqüicultura e Beneficiamento do Pescado, no

intuito de contribuir para a formação de cidadãos capazes de transformar o meio em que

vivem. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar, NUPEM e SOLTEC, 2007)

A área de Construção Naval e outras Tecnologias (CNTEC) congrega as contribuições

de profissionais de Construção Naval, Desenho Industrial, Matemática, Computação, Química

e Física, dentre eles os quais se incluem especialistas em Desenhos de Projeto, Eletricidade,

Eletrônica e Mecânica. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar, NUPEM e SOLTEC, 2007)

A disciplina de Práticas Desportivas Aquáticas e Terrestres (PDAT) visa estimular a

progressiva consciência do aluno quanto aos seus limites e suas superações, além das

possibilidades do seu corpo, em diversos ambientes, aquático ou terrestre. Problematizando o

desempenho individual das possibilidades de interação coletiva.

Por fim, as oficinas Culturais buscam a educação integral e tem como objetivo

principal a ampliação cultural dos alunos cuja família, seja por razões econômicas ou sociais,

não é capaz de assegurar o acesso. Elas trabalham com manifestações culturais diversas,

como: literatura, teatro, cinema, vídeo, esporte, dança e música. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ

Mar, 2007)

CAPÍTULO 3: DESAFIOS NA EDUCAÇÃO

3.1- Reflexão & Educação

17
Um dos grandes desafios atuais para a educação brasileira e seus educadores é a relação

entre educação e trabalho, um direito constitucional que na maioria das vezes é abandonado.

A preocupação atual é a de formar o educando para algumas habilidades motoras e o exercício

de algumas funções específicas na produção, valorizando as exigências do mercado

capitalista. Não existe a preocupação de criar um currículo que prepare os jovens efetivamente

para o mundo do trabalho, propiciando um entendimento geral de todo o processo de

produção, a fim de criar um senso crítico e de autonomia. (Núcleo Interdisciplinar UFRJ Mar,

NUPEM e SOLTEC, 2007)

Segundo Gilbert Ryle, todos os professores, todos aqueles que trabalham com educação,

devem compreender que algo terá falhado no ensino ou na aprendizagem do aluno se este não

tiver, mais cedo ou mais tarde, a capacidade de apresentar soluções próprias aos problemas

que enfrenta no seu cotidiano.

Percebe-se que o tratamento individual das disciplinas desenvolve uma visão

fragmentada da realidade. Portanto, é necessário que o conhecimento sistematizado seja

articulado nas diferentes áreas permitindo a visão de totalidade do aluno que passa a constatar,

interpretar, compreender e explicar a realidade social (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

[...] os conteúdos de ensino são organizados e apresentados aos alunos de


maneira simultânea. [...] Nessa perspectiva o que mudaria de uma unidade
para outra seria a amplitude das referências sobre cada dado, isso porque “o
conhecimento não é pensado por etapas. Ele é construído no pensamento de
forma espiralada e vai se ampliando” Varjal (1991 apud COLETIVO DE
AUTORES, 1992).

Dessa forma, para que a educação possa promover a formação integral do aluno e,

sobretudo a formação humana ela deve envolver “situações nas quais o aluno possa vivenciar

os valores humanos, tendo a oportunidade de experimentar a responsabilidade, a cooperação,

o auto-respeito, o respeito pelos outros, a honradez, a solidariedade, a organização, a

18
criatividade, o carinho, enfim, elementos que contribuirão para que o mesmo participe da

organização social em que vive” (MATURANA, DE REZEPKA citados por BARBOSA-

RINALDI, 2005). Salientam ainda a necessidade de ampliar “as possibilidades de fazer e a

reflexão sobre esse fazer, como parte da experiência que se vive e se deseja viver, ou melhor,

conhecimentos que possibilitarão que o aluno viva melhor dentro do seu núcleo social" (p.

76).

3.2 De Educação Física à PDAT - Praticas Desportivas Aquáticas e Terrestres: Um


exemplo de mudança

A experiência da formulação da disciplina Praticas Desportivas Aquáticas e Terrestres

(PDAT) no Colégio de Pescadores de Macaé, trouxe reflexões e mudanças na prática da

Educação Física Escolar e ilustra a forma encontrada para se colocar em prática a proposta

pedagógica do Colégio.

A intenção geral aqui foi oferecer aos alunos a possibilidade de vivenciar e aprender a

atuar autonomamente, através de atividades físicas que não os esportes tradicionais. Isso

significa que os conteúdos não podem ser pensados dentro de uma forma já previamente

decidida. Por isso mesmo, que essa experiência é única e serve apenas como um incentivo a

pensar novas possibilidades.

A Educação Física é uma disciplina que trata pedagogicamente na escola, do

conhecimento de uma área denominada aqui de cultura corporal (p. 61). [...] uma prática

pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como:

jogo, esporte, dança, ginástica... (p. 50) (Coletivo de Autores, 1992).

No modelo de educação física predominante nos anos 60 e 70, a preocupação girava

em torno de uma operacionalização didática considerada pelos seus críticos como tecnicista.

Ainda hoje na maioria das escolas, o esporte é o único conteúdo da Educação Física Escolar ,

19
e há de se lembrar que foram os militares que apoiaram e estreitaram os vínculos entre

esporte e nacionalismo. (BETTI, M., 1991).

Muitos estudos contestam a super valorização do esporte, e do alto rendimento, e

mostram que só os quatro esportes mais divulgados como: voleibol, basquetebol, handbol e

futebol reduzem a capacidade real e integral do aluno de interagir com seu corpo e o meio em

que vive e/ou está, sendo capaz de transformá-lo.

Vejamos os estudos de Hildebrandt, onde o autor observa e ressalta algumas das

características dos esportes que podem contribuir negativamente para o desenvolvimento do

aluno, como: “a característica de duas regras básicas (que são superiores) e por determinados

princípios: a regra de sobrepujar (no sentido de vencer), com a regra da comparação objetiva”.

(Hildebrandt, R., 1998). Ainda sobre o assunto ele afirma:

[...] O esporte institucionalizado favorece a funcão comparativa do


movimento. No sentido do sistema, trata-se, principalmente, do aumento de
rendimento do movimento humano. Todos os esforços são dirigidos ao
objetivo de sobrepujar e chegar em primeiro lugar (vencer) no sistema. [...]
(Hildebrandt, R., 1998, p.31-33)

Devemos lembrar ainda que se o rendimento é suficiente, e portanto, satisfatório em

nível do sistema ou não, os alunos vivenciarão como é ser “bem sucedido” ou “não ser bem

sucedido” . No caso do vencedor, ele autoafirma sua capacidade de rendimento, mas o “não

bem sucedido” é denominado de vários adjetivos. Segundo Hildebrandt, “o mau”, por ele

mesmo, ou pelos outros com “fracassado”. Para os “não bem sucedidos”

[...]... fica somente a possibilidade de retirar-se ou retomar o processo de


treinamento no qual eles podem reafirmar sua incapacidade para altos
rendimentos. [...]... Isso quer dizer, portanto, que a necessidade de
diversificação das experiências de movimento ficam reduzidas às normas de
movimentos esportivos. [...] (Hildebrandt, R., 1998, p.33).

Podemos observar que a tendência das aulas de Educação Física, baseadas tão somente

nos esportes “mostram uma separação do problema de movimento em relação ao contexto de

20
vida diária dos seres humanos” (Frankfurter Arbeitsgruppe, 1982, p.62). As limitações de

possibilidades ficam nítidas levando o aluno à uma “mecanização” dos movimentos:

[...] O contexto das regras, que é explicado como válido, exclui que os alunos
articulem imagens subjetivas, como e o que deve ser aprendido, e exclui
também o acordo por consenso. [...] (Hildebrandt, R., 1998, p.53).

Diante disso, os professores e estagiários de Educação Física do projeto do Colégio de

Pescadores se apropriaram de alguns conceitos novos e os colocaram em prática como por

exemplo, a aula aberta, aquela em que o professor admite que os educandos sejam pessoas que

sabem atuar juntas, que devem entender-se conjuntamente quanto ao sentido das suas ações.

Isto significa que os alunos podem apresentar suas opiniões e realizar suas

experiências, que resultam das suas histórias individuais da vida cotidiana. Por isso, os temas

das aulas devem ser ambíguos e complexos, abertos aos interesses e às experiências que os

alunos adquiriram nas suas histórias de vida (CARDOSO, 1991, p. 40).

Neste sentido, os alunos tornam-se participantes de tal maneira no processo de

resolução de problemas que contribuem, sob um modelo apresentado, na co-decisão em

relação a objetivos, conteúdos, formas de transmissão (HILDEBRANDT e LAGING, 1986, In

Seron, 2005, p. 58).

As aulas se mostraram muito mais ricas e complexas quando aproveitamos o que os

alunos trazem, FREIRE (1989) teve o mérito de levantar a importância que tem a escola

considerar o conhecimento que a criança já possui, independentemente da situação

formal de ensino, porque a criança, como ninguém, é uma especialista em

brinquedo. Deve-se, deste modo, resgatar a cultura de jogos e

brincadeiras dos alunos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, aqui

incluídas as brincadeiras de rua, os jogos com regras, as rodas cantadas e outras atividades que

compõem o universo cultural dos alunos.

21
A prática relacionada às embarcações, por exemplo, contribui para o processo

autônomo do aluno exigindo a solução de problemas e a tomada de decisões. Buscamos nas

histórias de família, da comunidade até chegarmos às histórias internacionais e universais,

como se desenvolveu cada tipo de embarcação e suas peculiaridades, como, por exemplo, para

que serve o caiaque, o barco a remo, à vela, à motor... Ao falar da prática educativa, Freire

(1996) exemplifica:

“A prática de velejar coloca a necessidade de saberes fundantes como


o domínio do barco, das partes que o compõem e da função de cada
uma delas, como o conhecimento dos ventos, de sua força, de sua
direção, os ventos e as velas, a posição das velas, o papel do motor e
da combinação entre motor e velas. Na prática de velejar se
confirmam, se modificam ou se ampliam esses saberes.”

De acordo com Oliveira (1997) no enfoque metodológico esta abordagem “exprime-se

pela subjetividade dos participantes. Aqui entram as intenções de professor e os objetivos de

ação dos alunos” (p. 24). Para Oliveira, citado por LARA et alii (2007) “a forma de

intervenção pelo ensino aberto tem viabilidade em quaisquer disciplinas do sistema escolar,

pois, entre outros aspectos, valoriza o conhecimento historicamente produzido e o processo

biológico dos alunos”(p. 161).

Freire (1989) vai além ao perceber que:

[...] a criança é uma especialista em brinquedo, [...] ela chega à escola


provida de um conhecimento inegável. Não vejo procedimento mais sensato
por parte da escola que, de início, levar em conta esse conhecimento como
ponto de partida do programam escolar. [...] Porém, eu não levaria essa
cultura para minha escola para mantê-la tal como ela se apresenta. Eu
tentaria fazer com que ela crescesse, se ampliasse cada vez mais, como uma
espiral (FREIRE, 1989, p. 220).

No Colégio de Pescadores podemos observar o que Freire diz e aplicar na nossa prática

junto aos alunos, pois em quase todas as aulas de PDAT temos uma proposta feita por nós

professores, uma contra proposta dos alunos, uma breve discussão sobre o que será feito na

22
aula e só depois começamos a trabalhar no que foi decidido por todos. Pois são nesses

momentos que podemos perceber como é rico e vasto o conhecimento dos alunos. Uma

simples aula de natação no mar começa com várias histórias da comunidade local contadas

pelos alunos. Como a quantidade de pessoas que morrem por afogamento no próprio local

onde se desenvolvem as aulas.

Nessa hora, entra em cena o professor com conhecimento e questionando sobre tal

situação. Levando aos alunos a refletirem como isso é possível, se pregressamente Macaé era

uma comunidade pesqueira, com alta intimidade no que diz respeito aos rios e mares. Mas não

paramos por aí, pedimos que os próprios alunos pesquisassem sobre a relação que os

pescadores locais têm com a natação utilitária, e percebemos como é importante essas aulas de

natação não só para os alunos como para a comunidade local.

Por meio das aulas de PDAT na escola, deve-se propiciar aos alunos um envolvimento

tal entre si de respeito e com os valores da vida necessários para a convivência social e uma

possível transformação da sociedade que os leve a entender que é o seu lugar. E é no meio

escolar pela orientação e mediação dos professores/educadores conscientes e comprometidos

com a educação que haverá a possibilidade para essa perspectiva que se dará com a formação

do cidadão crítico, sensível, capaz.

De acordo com OLIVEIRA (1997), “entende ser o conhecimento o elemento de

mediação entre o aluno e o seu apreender (no sentido de construir, de demonstrar, de

compreender e de explicar para poder intervir) da realidade social complexa em que vive.”

Sendo esse um dos objetivos que tentamos arduamente desenvolver com nossos educandos

através de simples jogos, corridas de orientação, dança, brinquedos e brincadeiras, natação,

caiaque, remos, embarcações à vela, stafetas, jogos cooperativos entre tantos outros.

A busca pelas práticas esportivas e corporais em ambientes naturais manifestadas

principalmente no tempo destinado ao lazer nos levou a repensar nas atividades da educação

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física escolar, as quais utilizam a natureza para o seu desenvolvimento e se apresentam, de

alguma forma, como práticas alternativas e criativas da expressão humana. Os exemplos se

estendem desde simples caminhadas a atividades que exigem equipamentos caros, como a

prática do caiaque, remo e vela. Além de uma grande capacidade técnica para execução dos

movimentos. Estas práticas corporais possuem características inovadoras e diferenciadas dos

esportes tradicionais, pois as condições de prática, os objetivos, a própria motivação e os

meios utilizados para o seu desenvolvimento são outros, muito mais próximo com o cotidiano

local.

As práticas realizadas na natureza podem trazer incontáveis benefícios ao praticante, e

também ao meio ambiente, com o objetivo de informar e conscientizar os praticantes destas

atividades, abordando temas expostos na mídia e na sociedade, tais como: impacto ambiental,

desmatamento, ética, segurança e risco. Levando os alunos as suas próprias indagações e

soluções para tais problemas. Por estas razões, tornam-se mais do que necessárias as

discussões sobre a relação homem/natureza dentro do ambiente escolar.

Os projetos de PDAT buscam adaptar os alunos ao meio líquido e terrestre, de modo

que desenvolvam sua autonomia ao assimilar técnicas de natação e de flutuação, bem como as

de salvamento e primeiros socorros no mar. Mas também temos projetos mais relacionados às

embarcações onde os objetivos parecem semelhantes e se entrelaçam aos de natação, ou seja,

a adaptação ao meio líquido. Entretanto, a conquista é buscada no aprendizado do remo, em

caiaques ou em barcos maiores, de seis remadores, e no exercício da navegação a vela, em

pequenos monotipos da classe dingue ― o que favorece discussões a respeito de questões

relativas à legislação marítima, às normas de segurança na condução de embarcações, aos

ventos, às marés, às correntes e aos princípios básicos da localização no mar.

Já na parte terrestre tratamos de forma peculiar as nossas atividades, uma vez que

lançamos mão de diversas atividades ligadas à orientação, esportes de aventura e ao ar livre,

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jogos e brincadeiras trazidas pelos alunos, outras construídas a partir das dificuldades

encontradas por nós e os alunos, corda bamba, elástico, amarelinha, RPG, pipas, dança,

folclore, aulas de capoeira, judô entre tantas outras.

Entretanto, o que podemos perceber ao longo dos anos é a não utilização dos esportes

tradicionais, e mais do que esperado nem a falta deles. Nem tanto uma escolha pré-

determinada, mas sim consciente da equipe, uma vez que nos permitimos ter um olhar mais

atento à educação, o que nos fez perceber a real necessidade local e real.

Lembramos que o que se descreve acima são apenas experiências que deram certo,

mas que não devem ser levadas como uma receita pronta e acabada com a certeza de sucesso.

Sobre isso devemos lembrar do que diz, Caparroz e Bracht (2007):

[...] a condição humana de nossos alunos impõe um caráter irrestritamente singular


às nossas aulas. Isso significa superar a pretensão “pífia” e “falaciosa” de que uma
mesma aula pode ser “aplicada” a várias e diferentes turmas.

[...] Entendemos que o tempo e lugar de uma didática da educação física passam a
ter sentido quando o professor se percebe como sujeito autônomo e com autoridade
para desenvolver sua prática pedagógica que é fruto de sua autoria docente (p.29-
30). Caparroz e Bracht (2007).

3.3 - Alguns resultados

Após seis anos de funcionamento do Colégio de Pescadores de Macaé, algumas turmas

já foram formadas dentro da proposta em questão. Progressivamente essa experiência trouxe

frutos e atualmente vem sendo aplicada a outros segmentos e municípios, como o Colégio

Politécnico da UFRJ, em Cabo Frio. Além disso, em 2008 o Colégio aumentou seu Índice de

Desenvolvimento do Ensino Básico (IDEB), ficando com o segundo lugar no Município, fato

atribuído por todos ao novo modelo em desenvolvimento, visto que o Colégio, foi formado em

2003 com alunos rejeitados por outras escolas, seja por problemas comportamentais, seja

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porque nessas escolas não aprendiam ou porque necessitam de uma atenção educativa

especial.

Outras conquistas que consideramos importantes são: o aumento da participação dos pais

e a diminuição da evasão escolar no Colégio, o aumento das aprovações no CEFET, sem

contar o aumento das perspectivas dos alunos em relação à continuidade nos estudos, e a

motivação dos alunos em relação aos projetos do Colégio.

No balanço estatístico do ano passado o Colégio contou com 233 matrículas do 6 o ao 9o no

do Ensino Fundamental e com um índice de evasão escolar de 3,86% o que representa 9

alunos evadidos. Este ano o Colégio conta com três turmas de sexto ano, duas de sétimo e

oitavo e uma de nono ano do Ensino Fundamental. Esses alunos somados aos alunos do curso

noturno (EJA) totalizam aproximadamente 400 alunos.

CAPÍTULO 4: CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Colégio de Pescadores de Macaé funciona como uma via de mão dupla entre o

ensino/aprendizagem e o ensino/pesquisa, tanto dos educandos quanto dos educadores. O

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Colégio tem um caráter experimental, constantemente em transformação e vivo, como um

laboratório em que um novo modelo educacional é desenvolvido.

O projeto de uma escola que oferecesse formação politécnica desde o nível

fundamental, em regime de tempo integral, pareceu ser um incentivo a mais para que os

jovens prosseguissem com a vida escolar. Não se trata, porém, de um ensino médio

profissionalizante nos moldes do sistema atual de educação pública, caso em que a

profissionalização é entendida, segundo Dermeval Saviani (2007) como a reprodução do

conhecimento e um adestramento em uma determinada habilidade, sem o conhecimento total

dos fundamentos desta habilidade e, menos ainda, da articulação desta habilidade com o

processo produtivo como um todo. (Saviani, 2007)

Segundo Vigotsky, o trabalhador moderno necessita de uma formação politécnica, mas

chama a atenção ao fato de que, ao contrário do que estipula o sentido exato da palavra, essa

politécnica não significa a pluralidade de ofícios, a combinação de muitas especialidades em

uma só pessoa, mas o conhecimento dos fundamentos gerais do trabalho humano, “desse

alfabeto com o qual são criadas todas as suas formas, como se tirássemos dos parênteses o

fator comum de todas essas formas.” (Vigotsky, 2001:2)

A sociedade contemporânea se desenvolveu de tal forma que se faz necessário um

acervo mínimo de conhecimentos sistemáticos, sem o que não se pode ser cidadão, isto é, não

se pode participar ativamente da vida em sociedade (Saviani, 2007).

Podemos relacionar a educação tradicional e o modelo que propomos através da

fórmula: “Cada um deve saber algo sobre tudo” significando que as noções mais elementares

e gerais sobre os principais elementos do todo universal devem figurar na base da educação de

cada pessoa, configurando-se assim o que é denominado de Politecnia. E, “tudo sobre algo”

que exige que nossa formação reúna absolutamente todo o saber de uma determinada área que

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esteja diretamente ligada ao nosso trabalho, o que entenderíamos como as exigências do

profissionalismo. (Vigotsky, 2001)

Em 1932 Gramsci, já apontava que “a crise do programa e da organização escolar, isto

é, da orientação geral de uma política de formação dos modernos quadros intelectuais, é em

grande parte um aspecto e uma complexificação da crise orgânica mais ampla e geral.”

(Gramsci, 1932:118)

O modelo que sugerimos aqui no Colégio de Pescadores é para contribuir com que os

alunos possam romper as barreiras que o sistema capitalista impõe, privando-os de direitos

básicos, possibilitando que o aluno reconheça seu papel perante toda a sociedade.

As relações sócio-ambientais, o conhecimento de novas tecnologias na área de

embarcações, a reflexão sobre as formas de organização do trabalho, a valorização do ser

humano, sua cultura e do meio em que vive, oferecem mais possibilidades para o aluno da

Rede Municipal de Ensino familiarizar-se com os princípios de qualificação necessários para

o seu ingresso no mundo do trabalho. O Projeto tem sido foco de avaliação contínua a fim de

valorizar ainda mais a autonomia e a participação dos alunos no processo educacional, pois

consideramos que a autonomia do educando, a solidariedade, a responsabilidade e a

democracia são as bases fundamentais em qualquer projeto pedagógico que venha a ser

proposto.

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